O décimo lugar no desfile de 2023, ano do centenário da Portela, parece ter mexido com o orgulho do portelense. No primeiro treino realizado ao ar livre na Estrada do Portela, a participação da comunidade nas alas e segmentos impressionou. Quem olhava a frente do desfile portelense, em direção a Praça Paulo da Portela, pela estrada que leva o nome da Majestade do Samba via um mar de gente, em sua maioria no azul e branco tradicional da agremiação, e uma boa parte no tom pastel da camisa do enredo “Um Defeito de Cor” colorindo a via localizada no tradicional bairro de Madureira, coração da Zona Norte do Rio. Nos rostos se notava claramente o sorriso do portelense, que brincava carnaval e matava a saudade da rua. Não parecia sobrar nada de tensão ou tristeza que pudesse ter vindo em decorrência do difícil carnaval de 2023, ano do centenário, marcado de forma negativa por erros e um amargo décimo lugar. Na ponta da língua, também, o samba, vencedor de uma acirrada disputa na Azul e Branca, nivelada por alto, que deu à escola uma das obras mais elogiadas desse pré-carnaval. Para o presidente da Portela, Fábio Pavão, o bom rendimento do componente portelense não foi uma surpresa para quem tem acompanhado os ensaios de quadra.
“Acho que nós viemos fazendo bons ensaios na quadra, desde que nós começamos às quartas-feiras, e com um contingente muito grande de componentes. Nós fechamos muito cedo as nossas alas de comunidade esse ano. Assim que abriu as inscrições, acabou logo na sequência, uma procura muito grande do portelense que é muito apaixonado pela escola. E no primeiro ensaio de rua esse portelense apareceu, a presença maciça, a escola muito grande, eu estava lá na frente do desfile e via no final a terceira porta-bandeira lá embaixo, bem distante, e ainda tinha um restante de escola depois dela. Um contingente para o primeiro ensaio, para início de novembro muito bom”, analisa o presidente.
O mandatário da Majestade do Samba prometeu muito empenho para que a imagem negativa deixada pelos problemas do desfile e pelo resultado do carnaval passado possa ser completamente esquecida.
“Agora é continuar trabalhando, nós estamos trabalhando muito, desde que terminou o carnaval do ano passado, estamos nos dedicando muito, na quadra, no barracão, e agora estamos começando nosso trabalho na rua. A Portela teve um excelente desempenho hoje, os componentes da comunidade cantaram muito bem o samba que é muito bom. Os componentes já estão com ele na ponta da língua, a ala das baianas, velha guarda, a bateria deu um show hoje, mestre Nilo com as bossas dele que vai apresentar na Avenida, ou seja, foi um primeiro ensaio promissor para essa jornada que só termina na segunda semana de fevereiro”, acredita Pavão.
Vice-presidente da Águia, Júnior Escafura foi facilmente avistado durante o treino na Estrada do Portela cantando bastante o samba, interagindo com os componentes e feliz com a comunidade. Em conversa com o site CARNAVALESCO, Escafura enfatizou, em sua opinião, o acerto da escola em ter decidido ir logo para a rua e prometeu um desfile alegre e com muita emoção da Portela em 2024.
“Acho que era o momento certo de vir pra rua, é só reparar na rua que está lotada, todo mundo muito feliz com a escolha do samba, acho que a escola está cantando muito o samba nos ensaios de quadra às quartas-feiras, e hoje na rua começamos a ver a evolução, trabalhar essa parte. Na quadra, por conta do espaço apertado, já que os componentes da comunidade comparecem em massa, às vezes a quadra fica pequena, o espaço físico é ruim para a gente ver a evolução. A gente vê muito canto, mas hoje na rua o componente teve mais espaço, pode brincar mais, evoluir mais e é isso que a gente quer. A Portela quer fazer um carnaval alegre, emocionante, do jeito que a Portela gosta de fazer e a gente foi abençoado com esse samba maravilhoso, que vai impulsionar a gente a fazer um grande desfile”, entende o dirigente.
Sobre o cronograma de treinos da Portela, Escafura revelou que a escola tem como prioridade as atividades na Estrada do Portela e na Rua Carolina Machado, ambas próximas à quadra da Azul e Branca, mas com a possibilidade, ainda, de englobar outro território bem conhecido do portelense.
“Por enquanto nosso planejamento de rua é a Estrada do Portela e Rua Carolina Machado, eventualmente pode ser que a gente faça no Parque Madureira também”, antecipa Escafura.
De volta à escola para o desenvolvimento do desfile de 2024, o diretor Júnior Schall foi outro entusiasmado com o ensaio de rua. O dirigente espera potencializar os ensaios ao ar livre para que a escola tenha um grande rendimento no canto e na evolução, até pela obra que definiu para o próximo carnaval.
“É muito importante a Portela ir para a rua realizar o seu treino ao ar livre, abrir essa temporada diante do samba que tem , um dos sambas mais potentes do carnaval 2024, e não digo por nós, mas digo pelo que tem sido expressado pela crítica especializada, por aqueles que entendem de carnaval, já está sendo muito cantado pela escola em seus ensaios de canto, quartas-feiras, agora vamos aplicar a dinâmica de evolução da escola no ensaio de rua. É mais uma etapa de um processo de construção de valor, de potencialização da escola em sua comunidade, de todos os seus segmentos e componentes, e núcleos, visando o próximo desfile. É um passo além que vai dar aquele primeiro lugar de canto, de força de canto e de evolução”, espera o diretor.
Sobre o que sentiu ao chegar na escola após um carnaval difícil em 2023, Junior Schall enxerga uma Portela muito tranquila com o que tem que mudar para 2024 e empenhada em voltar a brigar pelas primeiras posições.
“O clima da escola está muito bom porque a escola já se engajou em entender que a Portela sempre é uma postulante a vitória, com respeito a todas as coirmãs, pela natureza da Portela, a maior campeã do carnaval carioca, é sua natureza. Entendendo isso e fazendo um processo coletivo de trabalho, em etapas e processos, sempre friso isso, que é muito importante, essa coletividade, a união, a força conjunta, e aí eu entendo, como alguém que está na direção de carnaval da Portela , e o Julinho Fonseca na direção de harmonia da Portela, todos aqueles que estão em seu núcleo, são ferramentas em prol dessa força de conjunto portelense “, conclui Schall.
Samba vai para teste ao ar livre e bateria já apresenta seus artifícios
Depois de algumas semanas sendo trabalhado na quadra da Portela nos ensaios de canto às quartas-feiras e em outras atividades, o samba de autoria de Rafael Gigante, Wanderley Monteiro e Cia, foi para o seu primeiro grande teste no ensaio na Estrada do Portela. E convenhamos, samba-enredo, mais cedo, ou mais tarde precisa ser levado para a rua, para simular como vai render em local aberto, como assim será também na Sapucaí. Para o intérprete Gilsinho, a Portela acertou em ir logo para a rua para adiantar processos.
“O ensaio de rua é muito necessário. A gente começou cedo esse ano, ainda em novembro, geralmente a gente começa no final de dezembro para janeiro, mas é um adianto já visando um bom desfile. A gente está super feliz, o resultado foi bom, deu para perceber que o samba só cresce, e vamos em frente, vamos fazer carnaval”, promete o cantor.
Com tempo para assimilar a obra a partir da disputa de samba, em que teve que vencer outras composições também bem avaliadas, a comunidade portelense deu o recado neste primeiro ensaio. O canto da escola foi bastante elogiado pelo intérprete da Majestade do Samba.
“Desde as eliminatórias percebemos esse canto do componente, a comunidade está cantando bem, com energia, cantando feliz, que é o mais importante, e a gente está aí fazendo o nosso trabalho, vamos ver se até o carnaval conseguimos melhorar gradativamente, e cada vez mais ir melhorando o samba. Agora é ensaio de rua, ensaio de quadra, tudo, ensaio agora é primordial para tudo, tanto para a gente quanto para os segmentos todos”, entende Gilsinho.
Quem também pode testar o rendimento de seu trabalho foi mestre Nilo Sérgio, comandante da Tabajara do samba. Também satisfeito com a produtividade do samba, Nilo já colocou bossas e convenções neste primeiro treino, inclusive uma fazendo referência maior a ancestralidade, aludindo aos toques de religiões de matriz africana, dando ênfase no agogô, ao suprir os demais instrumentos.
“É muito bom a gente voltar aos ensaios de rua porque a gente só estava tocando dentro da quadra, as bossas foram passadas lá dentro, e eu queria saber o que poderia limpar, e muita coisa já limpamos dentro da quadra, mas eu queria limpar fora, para escutar no aberto e avaliar melhor como a bateria está rendendo. Já limpamos, estava conversando com o Sidclei do Agogô, falei com o pessoal da cuíca, olhamos os momentos em que ela entra, só deixa o agogô, para depois entrar o resto da bateria, todo mundo junto, hoje nós estávamos limpando. Temos ainda uma bossa para colocar e uma nuance na cabeça do samba, então é bom a gente está limpando, ter esse contato com o público, e o samba funcionando, isso é muito importante para gente, também o andamento, poder saber que o andamento que escolhemos na quadra se suporta fora da quadra, isso é muito importante. E tem o contato com o público, é esse público que traz essa energia maravilhosa, o sangue genuinamente preto do enredo, esse contato com o público e principalmente essa resposta do público, do componente, é uma troca que ajuda muito no trabalho e na vibração da escola”, avalia o diretor da Tabajara do Samba.
Casal celebra interação com o público
Iniciando uma parceria na dança desde abril de 2024, o mestre-sala, Marlon Lamar, e a porta-bandeira, Squel Jorgea, já mostraram muita sintonia e boa interação com a comunidade neste ensaio. Tendo o privilégio e a responsabilidade de abrir o desfile da Majestade do samba neste domingo em Madureira, pois a comissão de frente comandada por Léo Senna e Kelly Siqueira, ainda não participou neste primeiro ensaio, o primeiro casal da Portela revela que preferiu dar ênfase, neste primeiro treino, aos passos tradicionais da dança, ainda sem muito foco em coreografia para júri. O casal também expressou sua felicidade por voltar a viver essa troca com o público.
O ensaio de rua além de ser um ótimo treino físico, de resistência, um ótimo treino para canto, um ótimo momento de união, de estarmos juntos com a escola, de dividirmos essa energia e ela nos contagiar, é uma grande celebração para mim o ensaio de rua, em que a gente pode testar movimentos. Fizemos uma apresentação mais básica , com os passos essenciais de mestre-sala e porta-bandeira. Hoje é para celebrar, nosso primeiro encontro, é para a energia fluir e dar o pontapé inicial. Para mim que estou chegando agora é importante sentir a energia da comunidade, não só a que bem a quadra , mas o bairro que se faz presente , Oswaldo Cruz e Madureira, e para mim é ótimo poder receber esse carinho, ser acolhida dessa forma, é uma grande celebração de amor, alegria, é o afeto transbordando “, acredita Squel.
“Eu e a Squel já estamos trabalho desde abril quando ela foi anunciada, e essa parceria está sendo extremamente gostosa, a gente já tem a coreografia do carnaval 2024, já montamos ela, hoje a gente não apresentou porque é o primeiro ensaio, é um momento mais de sentir a comunidade, a Portela voltando para as ruas, acho extremamente importante começar os trabalhos na rua cedo, a Portela tem um ensaio técnico no início do ano praticamente, acho que o ensaio de rua na Portela é quente, não só o dia está quente, mas o ensaio é quente e pude sentir que o samba foi bastante aceito pela comunidade, é uma obra aguerrida, gostosa, foi tudo muito bom”, aponta Marlon.
Com o carnaval 2024 já batendo a porta, a dupla também explicou em que fase do processo de preparação para o desfile, o trabalho do casal se encontra.
“Nós estamos no processo de montagem da coreografia para jurado, que é um processo que leva um tempinho, leva alguns dias, estamos nesse momento, a coreografia já está pronta e agora é a fase do ‘ é isso mesmo?’ Vai por esse caminho, não vai. A ideia já está criada. Não testamos hoje porque ainda não fechamos a ideia, ainda não está tudo batido”, explica a porta-bandeira.
Marlon reforça, porém, que o cronograma do casal está adiantado e que logo tudo vai estar pronto para que a dupla possa ajudar a Portela a ter um grande resultado através da excelência na apresentação e por conseguinte nas notas.
“A gente passou pelo processo de criação coreográfica, depois passamos pelo processo de limpeza, começamos a acrescentar e tirar algumas coisas que achamos pertinente, que façam parte do enredo e que possam nos beneficiar em frente ao módulo de julgamento, e a partir daí exercitar a coreografia para que ela fique mais natural e óbvio, gravada possível”, esclarece o mestre-sala.
No ano que vem, a Azul e Branca de Oswaldo Cruz e Madureira será a segunda escola a desfilar no Sambódromo da Marquês de Sapucaí na segunda-feira de Carnaval, dia 12 de fevereiro, pelo Grupo Especial. A agremiação irá em busca do seu vigésimo terceiro título de campeã da folia carioca.