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‘Prime nilopolitano’: 20 anos do tricampeonato da Beija-Flor, o último no Sambódromo

Desfile consagrou o modelo de Carnaval da azul e branca nos anos 2000

Rio de Janeiro, 8 de fevereiro de 2005. Os raios de sol das 7h já castigam os cariocas no severo verão. Na avenida Marquês de Sapucaí, lotada, o público aguarda ansioso pela entrada da Beija-Flor de Nilópolis, a última escola a desfilar naquele ano no Grupo Especial. O desfile está atrasado há mais de uma hora devido ao problema enfrentado pela Portela horas antes, que impediu sua velha-guarda de desfilar e atrasou todas as apresentações seguintes.

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Fotos: Arquivo/Liesa

A expectativa era enorme. Naquele ano, a Beija-Flor almejava seu primeiro tricampeonato na era do Sambódromo e o segundo de sua história. Até então, a Imperatriz Leopoldinense era a única escola a ter conquistado tal feito, quatro anos antes. Vivíamos uma era em que todos diziam: para ser campeão, era preciso derrotar a Beija-Flor. Nos sete desfiles anteriores, a Deusa da Passarela havia conquistado três títulos e quatro vice-campeonatos, um feito que, até hoje, ninguém igualou. Quase dez anos alternando entre o título e o vice-campeonato.

Há 20 anos, a Beija-Flor apresentou o enredo “O vento corta as terras dos Pampas: em nome do pai, do filho e do espírito guarani – sete povos na fé e na dor, sete missões de amor”, uma das muitas temáticas densas que a azul e branca gostava de levar para a avenida naquela época. Em time que está ganhando, para que mexer? A equipe capitaneada por Laíla, jogava por música. Como uma orquestra afinada, cada um desempenhava suas funções com maestria.

Apuro estético e tradicionalismo contra o moderno Paulo Barros

No ano anterior, o carnavalesco Paulo Barros havia chocado positivamente o público com suas alegorias vivas e quase levou a Unidos da Tijuca ao título. A modernidade do carnavalesco encontrava seu antagonismo justamente na Beija-Flor. Se a azul e amarela do Borel apostava em um novo modelo estético, a Deusa da Passarela deixava claro que, em Nilópolis, o samba no pé, o canto e o apuro estético seguiriam dando o tom.

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O que se viu na avenida foi um verdadeiro bálsamo para os olhos dos amantes dos desfiles de escola de samba. Alegorias gigantescas e imponentes eram intercaladas por figurinos volumosos, recheados de materiais ricos, com uma paleta de cores que mesclava tons claros e quentes, apropriados para o horário do desfile. Com a escola toda esticada na avenida, formava-se um imenso tapete colorido. Tudo isso embalado por um verdadeiro recital da bateria, à época comandada por Paulinho Botelho, e por um dos grandes sambas da história da azul e branca, cantado pelo lendário Neguinho da Beija-Flor.

Quando a escola concluiu sua apresentação, já perto das 9h da manhã de terça-feira de Carnaval, a maioria dos especialistas e comentaristas apostava no tricampeonato, apesar de a Unidos da Tijuca e Paulo Barros dobrarem a aposta e realizarem outro desfile transgressor.

Apuração: tensão até o fim

A apuração começou com a Grande Rio na liderança nos dois primeiros quesitos, Harmonia e Bateria. A Beija-Flor vinha logo atrás, com uma diferença de 0,1 ponto, enquanto Imperatriz e Unidos da Tijuca estavam empatadas, ambas 0,4 ponto atrás da tricolor de Caxias.

No terceiro quesito, Samba-Enredo, a azul e branca assumiu a ponta e manteve-se à frente até o final, embora a Tijuca continuasse próxima. Nos quesitos Enredo e Evolução, ambas as escolas perderam 0,1 ponto cada, mantendo a vantagem da Beija-Flor em 0,3. Em Mestre-Sala e Porta-Bandeira e Conjunto, a Beija-Flor sofreu mais uma perda de 0,1, enquanto a Tijuca obteve apenas notas máximas, reduzindo a diferença para um décimo.

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No último quesito, Fantasia, a tensão aumentou. Se a Tijuca conseguisse uma diferença de 0,1 ponto a mais que a Beija-Flor, venceria no critério de desempate. No entanto, ambas as escolas receberam quatro notas dez, garantindo o tricampeonato da Deusa da Passarela.

Ao final da apuração, com o terceiro título seguido garantido, os nilopolitanos adaptaram o refrão do grande samba, que dizia “Em nome do pai, do filho, a Beija-Flor é guarani”, para “Em nome do pai, do filho, a Beija-Flor agora é tri”.

O ano de 2005 representou o auge do modelo de Carnaval que consagrou a Deusa da Passarela como a maior vencedora do Sambódromo. O título foi o nono da história da agremiação, que hoje ostenta 14 conquistas.

Drama de Selminha Sorriso

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Com 36 anos de carreira, 30 deles dedicados à Beija-Flor, a porta-bandeira Selminha Sorriso viveu um drama pessoal horas antes de entrar na avenida para defender o pavilhão da escola pelo décimo ano ao lado do parceiro Claudinho. Sua mãe, Jacira Matos, havia sofrido um AVC e lutava pela vida.

Selminha não revelou seu drama a quase ninguém e cruzou a avenida com sua habitual competência, contribuindo para o tricampeonato da escola.

“Minha mãe ficou em coma induzido. Foi muito difícil. Não pude contar para ninguém, porque eu sabia que causaria um alvoroço. Talvez as pessoas me deixassem ainda mais nervosa do que eu já estava. Contei apenas para Claudinho, Aída e Flavinha. Foram as únicas pessoas que souberam da minha real situação. Eu não queria preocupar a escola, porque era algo meu, e eu precisava administrar essa dor sozinha”, disse Selminha Sorriso em entrevista ao CARNAVALESCO.

Dona Jacira acabou não resistindo e, entre as ligações de felicitações pelo título, Selminha recebeu a triste notícia de que sua mãe havia falecido. Ela recorda que, enquanto sorria e bailava em busca do 10, por dentro sua alma gritava por socorro.

“Eu estava muito cansada, muito preocupada com a minha mãe. O que aconteceu ali foi a força da sambista que prevaleceu, porque a Selma, de verdade, estava só com o corpo presente. Minha alma sambista dizia: ‘Você tem um compromisso, segura o choro, vai passar. Sua mãe vai ficar bem, você vai cuidar dela.’ Era o que eu repetia para mim mesma na concentração. Meu pensamento era: ‘Eu quero que acabe logo para eu cuidar da minha mãe’”.

Último tricampeonato do Sambódromo

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O tricampeonato da Beija-Flor em 2005 jamais se repetiu. A própria azul e branca foi bicampeã novamente em 2007 e 2008, mas no ano seguinte o título do Salgueiro impediu um novo tri.

O tempo passou e, hoje, a outrora poderosa Deusa da Passarela amarga um incômodo jejum de sete anos sem um título, o segundo maior de sua história. O carnaval evoluiu para um alto nível de competitividade e, em 2025, caso a Viradouro não conquiste o título, o Grupo Especial completará 17 anos sem um bicampeonato consecutivo.

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