As decisões da Mocidade Independente de Padre Miguel, Estação Primeira de Mangueira e São Clemente de cancelarem seus ensaios no mês de dezembro caiu com uma bomba no mundo do carnaval. As escolas alegam que a incerteza sobre o pagamento da verba da Prefeitura do Rio impede a realização das atividades e coloca em risco os trabalhos na Cidade do Samba. Escolas como Salgueiro, Viradouro, Vila Isabel, Portela e demais seguem com seus ensaios de preparação para os desfiles do ano que vem. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, o presidente da Portela, Luis Carlos Magalhães, explicou que a escola não pode nem ousar pensar em paralisar seus eventos.
“Temos uma agenda completa até o carnaval. Os eventos na quadra correspondem a 23.5% do nosso custo do desfile. É suicídio pensar em cancelar os eventos, mas cada escola tem sua realidade. A partir de janeiro, nós faremos os nossos ensaios de rua e agora fazemos na quadra. Vamos para cima”, citou o dirigente.
Luis Carlos Magalhães informa que é necessário ter uma expectativa de solução para o pagamento da subvenção. Segundo ele, o funcionário que recebe seu salário tem compreensão até um determinado momento. “A decisão de cancelar ensaios precisa ser conjunta na Liesa. A Portela vai continuar discutindo na plenária para buscar soluções e vai seguir o caminho determinado pelo conjunto de todas escolas. A medida de cancelar ensaios não atinge a prefeitura, mas o consumidor do carnaval. O prefeito não está nem aí para isso. O que acontece é que frusta os sambistas de outros estados”.
Perguntado como se sente sendo sambista e vendo de perto a profunda crise do carnaval, Luis Carlos Magalhães confessa que está preocupado. “Como sambista sei que estamos em uma encruzilhada. Não fazer carnaval seria um impacto na prefeitura, mas quebraria a tradição e resistência das escolas. O prefeito está criando uma desigualdade na disputa. Quando a falta de recursos submete as escolas a essa defasagem toda, ele fortalece as escolas que possuem recursos próprios, que levam vantagem em relação a quem que vive só com as verbas oficiais”.
Sobre o futuro a curto e longo prazo do carnaval, o presidente portelense pede uma mudança radical. “Temos dois lados. O primeiro é que se não houvesse crise econômica e no Rio ninguém falaria do carnaval. Temos também o conceito de compliance, que agora caiu sobre nós e já vinha caindo ano passado, e como vamos nos defender disso, senão, ficaremos sem ajuda de empresa nenhuma. O outro lado é o formato. É o mesmo desde a década de 1980 e o mundo mudou muito. Não é possível que continue vigoroso com o mesmo modelo. Temos que recuperar a capacidade de captação pública e partir também para nova captação no mercado com alguém ou empresa especializada. Precisamos trazer o público de samba para a Sapucaí. E combater o desvios do carnaval e que depende muito de todas escolas, dando força para a ala dos compositores, fortalecimento dos sites de carnaval, parceria para que todas festas da Liesa sejam transmitidas com qualidade para o público do mundo inteiro, e reforçando o convívio interno. É preciso ter unidade entre todas escolas de samba. Sem uma medida unificada o resultado pode enfraquecer o grupo e a própria escola. Importante é aproveitar a crise para irmos em cima dos problemas e resolvermos”.