A assertividade dos quesitos da Vila Maria, que demonstraram alto nível de preparação prévia, foi o destaque nos trabalhos de registro da obra composta pela parceria formada por Panda, Edmilson Silva, Sandro Neves, Rick Ramos, Wilsinho Medieval, Ferreira de Matos e Renato William. A Mais Famosa será a quarta escola a desfilar pelo Grupo de Acesso 1 com o enredo “O Planeta Terra pede socorro. É tempo de renovar e preservar!”, assinado pelo carnavalesco Eduardo Caetano. Como a proposta do álbum para 2025, com o retorno ao formato ao vivo, foi passar a sensação de estar no Sambódromo ouvindo o samba, a espontaneidade pode ser vista como um diferencial. Nesse aspecto, a Vila Maria impressionou ao cravar todas as etapas do processo de gravação de primeira, sem a necessidade refazer tomadas de gravação. A equipe do CARNAVALESCO conversou com integrantes da escola.

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Foto: Lads (Comunicação/Unidos de Vila Maria)

Conscientização na gravação oficial

Diretor de carnaval da Vila Maria, Júlio César Dias Alves, o Queijo, falou sobre o processo de gravação da faixa oficial da escola.

“É um pedaço do que vai acontecer na Avenida. Nós entregamos alguns mistérios, ficaram guardados outros. Muita alegria e muito swing, você pode ter certeza disso. Está todo mundo entendendo o que está acontecendo com o mundo. O mundo está aí mostrando que o tema nosso hoje é isso, é preservar e cuidar. Nós estamos trazendo as pessoas bem conscientes desse momento que nós estamos precisando viver e trazendo um pouco de amor, que é o amor ao próximo, o amor à natureza. A gente vai trazer uma escola muito feliz e muito leve”, garantiu o diretor.

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Diretor de carnaval da Vila Maria, Júlio César Dias Alves, o Queijo

Tocado pela mensagem que o enredo da Vila Maria quer transmitir no carnaval de 2025, Queijo falou sobre qual parte do samba da escola mais gostou. O diretor fez uma profunda reflexão a respeito da situação que o mundo vive com as consequências das mudanças climáticas.

“A segunda parte eu acho muito especial. Ela conta a parte da mãe natureza cobrando a nós por não ter cuidado dela. Essa parte da mãe natureza cobrar a nós, dizendo ‘você não está cuidando de mim, presta atenção, vai faltar água, vai faltar o pão, falta forças para lutar’, isso mexe muito conosco, que é o que está acontecendo hoje. A gente está vendo aí, tem chuva, o sol vindo de rachar, lá nos Estados Unidos acontecendo o que está acontecendo, com o tornado, com tudo. É o que? A mãe natureza reclamando que nós não cuidamos dela, que a gente só soube judiar dela e ela está sem forças hoje para poder tentar lutar por nós. Nós temos que ter essa força agora, mesmo atrasados, para começar a lutar para a gente tentar mudar essa história para o filho, para o neto, para outras gerações. Essa parte toca muito em mim com certeza”, manifestou.

Elo entre cordas e bateria

Cláudio Pirata, arranjador do samba da Vila Maria e integrante do time de cordas da escola, falou sobre os arranjos elaborados para a gravação da obra. A valorização da bateria “Cadência da Vila” junto aos instrumentos de corda foram a prioridade para o artista.

“A gente fez um arranjo muito conjunto, em parceria com o Mestre Moleza, com a bateria. A gente fez mais de sete, oito arranjos simplesmente para essa gravação, com interação de cordas, vozes e bateria, para todo mundo falar mesmo a língua e parecer que o trabalho está realmente em um CD, mesmo sendo ao vivo. A preocupação foi sempre colocar a identidade da bateria junto com as cordas e nos contrapontos que tiverem as cordas vão sobressair. Ficou um trabalho muito harmônico no conjunto”, revelou.

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Cláudio Pirata, arranjador do samba da Vila Maria

Para a faixa de 2025 da Vila Maria, Cláudio apostou no estilo tradicional de samba-enredo, apenas com instrumentos tradicionais do gênero samba-enredo, valorizando elementos condizentes com o estilo de enredo da escola.

“A gente teve o básico de samba. Cavaco, afinação de bandolim, violão de seis, violão de sete cordas. O samba está em lá menor, tem uma passagenzinha para maior, mas é todo em lá menor que é bem em contexto com o tema do enredo”, explicou.

O arranjador afirmou que a proposta da Vila Maria segue um modelo já tradicional na escola, oriunda de uma comunicação entre cordas e percussão que exige boa sintonia desses segmentos musicais.

“A proposta musical é a mesma que a gente sempre adota. O conjunto sempre com a bateria, que é complexa. É uma bateria com diversos naipes, diversas convenções no decorrer do samba, e a proposta sempre é que haja a conversa entre os dois. Quando a bateria começar uma bossa, as cordas simplesmente não vão parar. A gente vai fazer tudo junto, acompanhar, o que demanda muita atenção e muita ensaio”, concluiu Cláudio.

Para o intérprete Clayton Reis, a proposta de simular uma apresentação de desfile do álbum de 2025 permite ao artista fugir das características tradicionais de uma gravação de estúdio.

“Acho que entra um pouquinho de emoção também. Lembrando que a técnica tem que estar junto também, mas a gente sempre extrapola um pouquinho porque ao vivo é diferente de estúdio. No estúdio você consegue dar aquela arrumada, para, volta, ‘arruma ali’, ‘acerta ali’, aquele negócio mais específico mesmo, mas agora o ao vivo mesmo é a emoção que vai vir na hora. Na hora que arrepiar o braço já era, a gente solta a voz e deixa a emoção falar”, descreveu.

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Intérprete Clayton Reis

Clayton Reis retorna à Vila Maria, mas dessa vez na função de intérprete oficial. O artista relembrou a trajetória desde sua primeira passagem e declarou seu amor pela escola ao falar do sentimento de estar participando da gravação oficial do samba da Mais Famosa.

“É a minha volta. Passei pela Vila em 2017 até 2019, eu saí, fui para a Mooca e estou voltando agora para uma escola que eu sempre gostei. É uma escola que desde quando eu entrei me identifiquei bastante. Depois teve as trocas dos intérpretes, teve a vez que eu segurei nos ensaios porque o intérprete não podia vir e aí começou a ficar mais forte esse amor pela escola. Eu saí, teve essa volta. Eu acho que vai ser uma emoção maravilhosa porque é uma escola que eu gosto pra caramba. Acho que vai ser bem legal, vai ser algo bem diferente”, declarou.

O intérprete revelou também qual é o trecho do samba da Vila Maria que mais tocou seu coração. “Esse samba da Vila tem algumas partes, não é só uma, mas a segunda do samba é bem bonita. A segunda do samba acho que só de falar o braço já arrepia, já dá aquele negócio, aquele sentimento bem bacana mesmo, mas eu acho que o começo dela já é o que pega mais ali”, contou.

Bateria inspirada em diferentes ritmos

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Mestre Rodrigo Moleza

Comandante da bateria “Cadência da Vila”, o mestre Rodrigo Moleza falou sobre o andamento e as bossas elaboradas para a gravação oficial do samba da Vila Maria.

“Mais um ciclo que se inicia e lá na frente a gente vai comemorar, se Deus quiser. O andamento é 142 BPM e colocamos três bossas. Fizemos uma referência de salsa, a gente tem uma referência também de pop rock e a outra é um groove mesmo tradicional, é de samba, é bem legal. Usando o ‘terecoteco’ tradicional dos tamborins, só que dividindo de uma forma diferente”, explicou.