A Portela realizou, no último domingo, mais uma eliminatória de sambas-enredo para o Carnaval 2026, agora com todos os concorrentes em uma única chave. Quinze obras se apresentaram na quadra da azul e branco, defendendo o enredo “O Mistério do Príncipe de Bará: A Oração do Negrinho e a Ressurreição de sua Coroa sob o Céu Aberto do Rio Grande”. Os sambas classificados serão anunciados na segunda-feira. O CARNAVALESCO apresenta a seguir a análise das apresentações.

* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

portela1409

Parceria de Hebinho: O samba de Hebinho, Sheila Marques, Luizinho Du Kavaco, Matheus, Marcelo Vai Vai e Regina Silva teve Leonardo Bessa como intérprete principal. A obra apresentou um desempenho regular, bem conduzido por Bessa. O refrão de cabeça se destacou com os versos “voa, Negrinho, farol do meu caminho, rei Neguinho, você não está sozinho, Portela, pastoriando a minha história, voa alto, minha águia, faz a ronda da vitória”. A missão de abrir a disputa foi cumprida com correção.

Parceria de Nei Brito: A parceria de Nei Brito, Gadelha da Portela, Ricardo Pinto, Robertinho Sorriso, Valtemir Brandão, Le Gaúcho e Douglas Chocolate apresentou um samba de rendimento irregular. O refrão de cabeça “batuqueiro, no cruzeiro do Bará, vou cantar Alupagema, pra saudar meu orixá, no embalo do Ylu, o manto azul revela, abre os caminhos pro desfile da Portela” passou sem grande impacto. No entanto, outros trechos tiveram melhor sustentação, como o refrão central “amor a Lalumpaô, agô mojubá, hoje é dia de xirê, tem batuque pra Bará, tocam tambores até de manhã, Kaô, Xangô, Abau, Xapanã”.

Parceria de Valtinho Botafogo: O samba de Valtinho Botafogo, Raphael Gravino, Gabriel Simões, Braga, Cacau Oliveira, Miguel Cunha e Dona Madalena foi defendido por Zé Paulo e Pitty de Menezes. A apresentação mostrou força e qualidade musical. O refrão de cabeça “Aê oni Bará, aê babá Lodê, a Portela reunida carregada no dendê, sob o céu do Rio Grande tem reza pra abençoar, o príncipe herdeiro da coroa de Bará” pulsou forte na quadra. A melodia bem conectada em todas as partes manteve consistência, apesar de poucas variações. A parte final, com os versos “enquanto houver um pastoreio, a chama não apagará, não há demanda que o povo preto não possa enfrentar”, também se destacou.

Parceria de Luiz Carlos Máximo: O samba da parceria de Luiz Carlos Máximo, Manu da Cuíca, Buchecha, Belle Lopes, Ximeninho, Regis e Heitor César teve Marquinho Art Samba como intérprete. A obra trouxe trechos gingados, característicos da parceria, principalmente na primeira parte. A segunda, mais dolente, apresentou bons versos como “foi aí que o Bará, entre as quinas do quintal, apontou pro piá a coroa ancestral, tua hora chegou, Negrinho, de ser coroado”. O refrão central teve alguma dificuldade de sustentação, mas o de cabeça funcionou bem: “chegou minha águia batuqueira, gaúcha, sim, senhor, negritude não tem fronteira, é nação de mil bandeiras que a Portela incorporou”. No geral, foi uma boa apresentação.

Parceria de Luis Caffé: A obra de Luis Caffé, Guilherme Baptista, Flavinho Bento, Rayni Agatha, Vinicius Santos, Ornellas Junior e Rafael Santos contou com Daniel Silva no microfone principal, contribuindo para uma apresentação competente. O samba, de boa melodia, foi valorizado pelo excelente desempenho do intérprete. O refrão central “a chave erguida, raiz assentada, as torres indicam a encruzilhada, Porto Alegre a ser fundamentado, Laroyê, Babá, Alupo, Bará do mercado” se destacou, assim como a parte final “coroa seu menino em cavalgada, no toque das nações em axé, ecoam os ilus na madrugada, pro nosso povo então louvar de pé”.

Parceria de César Antunes: O samba de César Antunes, Miguelzinho PQD, Artur Mangia, Ruan Lucena, Renan Siqueira, Krys Show e Norma Portela foi defendido por Rodrigo Tinoco. A apresentação se apoiou nos dois refrãos da obra, ambos bem recebidos, especialmente o de cabeça: “eu sou Portela, deixa clarear, a luz da realeza resplandece em meu gongá, leve as amarras do racismo pra longe de mim, o recomeço não terá fim”. O refrão central “ajudá guerreiro, negro curandeiro, neste sul afro-brasileiro, bendito seja alupô, ori coroado, assentei meu terreiro no chão sagrado” também obteve bom rendimento, garantindo à obra um desempenho sólido.

Parceria de Mattos: O samba da parceria de Mattos, Wagner Alves, Naldo, Paulo Formigão, Anna Moura, Rogério Lobo e Araguaci teve Tem Tem Jr. como intérprete. A apresentação foi muito consistente, destacando-se já no refrão de cabeça, de melodia dolente: “sou batuqueiro, avenida é terreiro, o meu samba é oração, canta forte, Portela, a coroar a resistência que emana desse chão”. A obra, em tom maior, apresentou variações bonitas, como no refrão central “Alupô Bará, Alupô ao grande mensageiro, pra trazer à luz quem devemos exaltar, faz galopar, Neguinho do Pastoreio”. Outro bom momento foi o início da segunda parte: “hoje vai ter xirê, pra agradecer, em sua lembrança, povo gaúcho mais forte com a negritude, herança”.

Parceria de Toninho Geraes: O samba de Toninho Geraes, Eli Penteado, Paulo César Feital, Alexandre Fernandes, Victor do Chapéu, Juca e Juninho Luang foi interpretado por Tinga. Com sua força e vibração habituais, o cantor potencializou a obra, especialmente no refrão de cabeça “acende a vela pro pedido acontecer, acende a chama no olhar de um erê, na luta por igualdade reencontrar a história, avante portelense pra vitória”. O refrão central, mais melodioso, também manteve firmeza: “Caô, salve os herdeiros de Xangô, dos oprimidos e bastardos, bastião da fé do povo que o branco negou”. Foi uma apresentação muito boa, que reforçou as credenciais do samba.

Parceria de Rafael Gigante: A obra de Rafael Gigante, Wanderley Monteiro, Vinicius Ferreira, Jefferson Oliveira, Bira, Hélio Porto e Neyzinho do Cavaco teve Wander Pires como voz principal. O intérprete, como de costume, brilhou no palco e valorizou os pontos fortes do samba, em especial o refrão de cabeça “Sou Portela de Bará, águia de Exú, meu samba é raiz, batuque do sul, a história de Custódio nos ensina, o Brasil é mais preto que se imagina”. A primeira parte também teve impacto, com os versos “agô n’ilê n’ilê madagô (oi agô), gira na roda do tempo, gira, dissipa a névoa branca da maldade, Negrinho do Pastoreio, hoje é sua a majestade”. No entanto, houve queda de sustentação em alguns trechos, principalmente na transição melódica da segunda parte para o refrão principal. Apesar disso, foi uma boa apresentação.

Parceria de Daiane Molet: O samba de Daiane Molet, Anderson Xilico, Chico Professor, Fagner Presidente, Fred Feijó, Maninho Veiga e Marcele Salles teve Renan Ludwig como intérprete e realizou uma boa apresentação. A segunda parte, muito bem construída, guiou o desempenho da obra com versos como “no pago onde o minuano assovia, troveja o couro no afago da mão preta”. O refrão de cabeça “majestade da minha vida, traz axé e vai na ginga, façanha com seu manto branco e azul, batuqueira bota a cara na avenida, é gente preta do Rio Grande do Sul” também foi destaque.

Parceria de Cecília Cruz: A parceria de Cecília Cruz, Claudio Cruz, Luciano Fogaça, Fabinho Gomes, Gêmeos, Osmar Fernandes e Julio Pagé teve Pixulé na defesa do samba. Com uma melodia ousada e arranjos pouco convencionais, a obra rendeu muito bem na quadra, sendo agradável de ouvir. O refrão de cabeça “meu batuque tem xirê pro santo rodar, do Rio Grande a Madureira, Portela, pisa forte e tira o véu, o axé que vem do sul vai de azul até o céu” funcionou com qualidade. O samba manteve consistência, com belas variações melódicas, como no início da segunda parte: “Cabinda, ijexá, Oyó, Jeje e Nagô, no Guaíba o sopapo ecoou”. Outra excelente apresentação.

Parceria de Mariene de Castro: A obra de Mariene de Castro, Lico Monteiro, Leandro Thomaz, Laura Romero, Binho Teixeira e Salgado foi conduzida por Freddy Vianna. O samba apresentou grande fluidez, rendendo com facilidade. O refrão central “canta nação ijexá, toque de Jejê Nagô, Bará adê, Bará adê, na encruza do tambor, herança de Oyó e Cabinda, onde assentei meu axé, Exú janala fun malé” teve ótimo rendimento, assim como o refrão de cabeça “Exú me guia pra que eu possa caminhar, Bará me guia pra que eu possa caminhar, é dia de coroação, Portela, Laroyê menino de Sakpatá”. Uma melodia de fácil assimilação sustentou a excelente apresentação.

Parceria de Noca da Portela: A parceria de Noca da Portela, Samir Trindade, Brian Ramos, JP Figueira, Leandro Custódio, Marcão da Gráfica e Ricardo Castanheira trouxe Wantuir como voz principal. A apresentação foi vibrante, destacada pela sequência do refrão de cabeça “nosso príncipe é negro, e sua gente macumbeira, guia meu povo, luz de Madureira, rezo pra voltar, Babá sentinela, Oranian ensinou o que é Portela (sou Portela)” e pelo bis “Onibará ê seja nossa voz, Lalupo Bará Exú”, que deu explosão ao samba. A letra também merece elogios, com versos como “Palha que dança, sol de África, o herói, sua herança é mandinga dos pampas, rei dos pobres e feitiços, tinha o olhar da caridade, entre damas e vadios, lutou por dignidade, a voz da liberdade”. Mais uma das grandes apresentações da noite.

Parceria de Claudinho DVD: O samba de Claudinho DVD, Nei Negrone, Farid da Portela, Dinho PQD, Marcelo Tricolor, Rodrigo França e Marcelo Vieira foi defendido por Clóvis Pê. A melodia bem estruturada teve trechos swingados, como no bis “adague adague aê Exú bi Lanã”. O refrão de cabeça “Sakpatá ajudá a curar o mundo, das mazelas dos escuros, a negra coroação, Sakpatá ajudá a curar o mundo, em Madureira todo negro é irmão” teve bom rendimento, garantindo uma apresentação de bom nível.

Parceria de Marcello Luz: A obra de Marcello Luz, Fred Lima, Chicão do Cavaco, Robinho da Portela, Márcio Lopes, Fagundinho e Licio Pádua foi interpretada por Evandro Malandro. Encerrando a noite, a parceria apresentou um samba de rendimento irregular, alternando momentos de queda e de maior sustentação. O refrão de cabeça “negro é raiz e faz história, é resistência, luta, força e fé, Rio Grande do Sul, o Pampa volta a brilhar, com a Portela e os mistérios do Pará” foi um dos pontos altos. Já a segunda parte teve desempenho inferior.