O site CARNAVALESCO inicia hoje a série de reportagens “Por Onde Anda?”, que tem o intuito de trazer para os leitores o que andam fazendo alguns dos nomes que marcaram a história do carnaval carioca, mas que nos últimos anos estão afastados da festa. E o primeiro a conversar com a reportagem é o cantor e compositor Paulinho Mocidade.
No bate-papo, o sambista falou como tem sido o período da pandemia para ele. “Todo cuidado é muito pouco com um vírus invisível, tremendamente perigoso e que já causou milhares e milhares de mortes pelo mundo. Estou me cuidando neste aspecto e escrevendo algumas músicas, formatando alguns projetos muito legais, que assim que essa pandemia der um tempo, a gente vem com tudo”, relatou.
Nascido e criado na Zona Oeste do Rio, Paulo Costa Alves despontou no mundo samba como compositor da Mocidade Independente de Padre Miguel, agremiação esta que carrega em seu nome artístico até hoje. Participou da criação de obras que embalaram desfiles clássicos da Verde e Branca, mas se consagrou de fato na folia ao assumir o microfone oficial da escola, em substituição ao lendário Ney Vianna. Logo na estreia, em 1990, sagrou-se campeão na Avenida ao entoar o “Vira, virou: a Mocidade Chegou”.
Ao longo dos anos, construiu uma carreira vitoriosa, com passagens aínda por agremiações como Unidos da Tijuca, Império da Tijuca e Imperatriz Leopoldinense no Rio, além da Águia de Ouro na folia paulistana. No entanto, desde 2014, está afastado da Marquês de Sapucaí, depois de comandar, por dois anos consecutivos, o carro de som da Acadêmicos de Santa Cruz, na Série A.
“Na época em que saí da Acadêmicos de Santa Cruz, o presidente queria renovar. Agradeci, mas recusei. Estava com alguns projetos, fazendo em estúdio um novo disco, que foi o sétimo da minha carreira, chamado ‘Como é bom’, e eu queria dar um tempo em escola de samba. Minha vida toda foi dentro de escola de samba”, pontuou.
Na sequência, Paulinho Mocidade seguiu explicando a decisão de se afastar da festa. “Carnaval eu já fiz o que tinha de fazer. Fui tetra campeão na Sapucaí, sendo bi-campeão na Mocidade e bi-campeão na Imperatriz Leopoldinense. Tive alguns sambas antológicos na carreira, na Mocidade, como ‘Elis, um trem de emoções’ de 1989 e ‘Como era verde o meu Xingu’ de 1983, além de ‘Sonhar não custa nada, ou quase nada’ de 1992 que a imprensa considera o maior samba da história da Mocidade e um dos 20 maiores sambas-enredo de todos os tempos. Me sinto muito honrado e orgulhoso por isso”, prosseguiu.
Porém, mesmo focado na carreira fora do carnaval e afirmando que já “fez o que tinha de fazer” ao longa da sua trajetória na folia, Paulinho Mocidade não descarta um retorno. De acordo com o intérprete, algumas conversas para uma possível volta chegaram até mesmo a acontecer recentemente. “Tive até um namorico agora, logo após o Carnaval e antes de começar a pandemia, ali no período de fevereiro março, aqui no Rio e também São Paulo. Mas não sei, eu acho que já fiz tudo que poderia fazer na Sapucaí. Sinto falta sim, até por causa do público que cobra minha presença, e agradeço a todos que torcem, que gostam do meu trabalho”, declarou.
Paulinho Mocidade ainda opinou acerca de algumas tendências que tomaram conta da festa nos últimos anos. “O samba de enredo está muito complicado, muito encomendado… Isso é muito ruim para história das escolas de samba, para história da alas de compositores, onde tem muita gente competente e talentosa, que a cada carnaval perde espaço para um outro segmento de pessoas, para denominadas firmas. Tem um lado positivo nisto tudo que até aplaudo, mas por outro eu não aplaudo não”, avaliou. “Uma escola de samba é composta, basicamente, pelo canto, pelo ritmo e pela dança. Essa é a espinha dorsal e ela não pode ser ignorada. Esses três segmentos tem que ser valorizados e muito”, finalizou.