Mestre Fafá comandou durante anos a bateria da escola mirim Pimpolhos da Grande Rio. Durante essa trajetória acompanhou o trabalho de muitos mestres na agremiação. Sempre cultivando a vontade de vencer o carnaval, como torcedor fervoroso da escola de Caxias. O sonho de comandar a bateria da Grande Rio veio junto com três anos de notas dez, premiações, além do tão almejado e desejado primeiro campeonato. A conquista tem sabor especial em meio a uma diretoria jovem, que assumiu de forma desacreditada, mas hoje colhe os louros de um processo bem sucedido e vitorioso. A chegada do pai, Du Gás (ex diretor de confiança e braço direito de mestre Odilon), foi seguida da abertura de um clarão na quadra no dia da comemoração do título. O respeito, o carinho e a catarse de um momento inesquecível seguem vivas nas memórias de Fafá. O peso das expectativas é encarado com um misto de pressão e alívio. O título inédito tira certa carga, deixando o ambiente mais leve, ao mesmo tempo em que a briga por um bicampeonato também carrega uma responsabilidade extra no que será apresentado para o próximo carnaval.

Junto do diretor social Mozart da Lua, mestre Fafá foi idealizador do “Festival Guardiões da Favela”, que recebeu todas as baterias do Grupo Especial, além de União da Ilha do Governador, Mancha Verde e Mocidade Alegre. Em sua avaliação existe a plena ciência que houve muitas falhas. O atraso além do previsto também alongou muito a duração do evento. Mas o feedback no geral foi positivo. Um evento de sambista para sambista. Sabendo dos erros ocorridos, o intuito é corrigir para fortalecer progressivamente os vínculos entre ritmistas e agremiações. A segunda edição está garantida e o mestre promete surpresas, a serem anunciadas semanas após os desfiles oficiais.

A identidade musical da bateria da Grande Rio, resgatada por mestre Fafá, foi consolidada durante a passagem de mestre Odilon. Seus pilares fundamentais são cadência, educação musical e boa equalização. Esse conjunto também recebe o impacto de um naipe de caixas consistente (tocando mais leve na primeira do samba e com volume maior durante a segunda), além de surdos de terceira que se aproveitam das nuances melódicas para fazer desenhos. O lema “É proibido correr” já estampou até blusa, deixando clara a preferência pelo andamento cadenciado. A preocupação com educação musical é tanta que o mestre ao fim do ensaio vai se despedindo naipe a naipe até só sobrarem os surdos, que ouvem cobranças para que os marcadores sempre cantem o samba. Fafá é o único mestre de bateria do Grupo Especial que no momento possui um mapa de desfile, indicando o lugar exato onde cada ritmista irá desfilar. A organização musical considerável contribui na equalização de todo o ritmo, influenciando de forma positiva na sonoridade.

Uma característica bem específica que mostra sua marca, seguindo uma linha distinta de mestre Odilon são os agogôs, tanto desenhando o samba, como contribuindo na musicalidade das paradinhas. Todos os agogôs são padronizados, comprados no mesmo fornecedor, o que facilita na unidade sonora, dando um notório impacto musical à bateria da Grande Rio. Mestre Fafá revela certo incômodo com o apelido “Invocada”, por não achar que representa de forma orgânica as peculiaridades musicais de sua bateria. Não chega a corrigir quem chama desse jeito, mas confessa não curtir e a tendência é cair em desuso. Há a preferência pelo nome puro e simples, bateria da Grande Rio.

Através da filosofia do “menos é mais” as paradinhas são concebidas. Sempre com respeito à métrica do samba, sem serem longas e se aproveitando da funcionalidade. Para o Carnaval 2023, pretende levar quatro bossas para a Avenida. No momento a bateria já está ensaiando duas, inclusive antes do ensaio começar, Fafá comandou o exercício de repetição com microfone passando as coordenadas e buscando correções. O grau de complexidade superior ao do carnaval passado comprova a evolução do ritmo em Caxias. Para homenagear Zeca Pagodinho (enredo do próximo carnaval) algo está sendo pensado para realçar os “Realejos”, tão presentes principalmente nas introduções de suas canções. Na gravação da escola no álbum oficial, a presença de um belo arranjo com gaita fez essa alusão musical com muito bom gosto. Existe uma busca, portanto, de alternativas musicais que driblem o regulamento, que impede instrumentos de sopro.

Mestre Fafá credita 50% do sucesso da bateria da Grande Rio ao intérprete oficial Evandro Malandro. Evandro comprou e bancou a ideia da filosofia musical baseada em cadência. A relação de sintonia fina entre mestre de bateria e intérprete fica evidente a cada treino, à medida que ambos vão se comunicando e alinhando em prol da melhor musicalidade possível para a escola. Evandro e Fabrício se mostraram verdadeiros trunfos musicais depois de uma atuação durante o ensaio que explicita o entrosamento de ambos na condução do samba enredo. Major é o apelido que Evandro colocou em Fafá e já está enraizado dentro da cultura da agremiação. Diz respeito ao aspecto praticamente onipresente do Major Fafá conferindo, incentivando e dando opiniões nos trabalhos dos mais diversos segmentos. Um autêntico torcedor da Grande Rio que não só comanda a bateria, como ajuda onde pode.