Por Carolina Freitas e Juliana Henrik

Passava das 6h30 deste sábado quando a Unidos da Ponte anunciou a junção das obras das parcerias de Serginho Aguiar e de Chacal do Sax como vencedoras para o Carnaval 2026. Assim, assinam o samba-enredo Serginho Aguiar, Naval, Alexandre Reis, Renne Barbosa, Leozinho Nunes, Jhonatan Tenório, Léo Freire, Gigi da Estiva, Chacal do Sax, Gustavinho Olibeira, Marquinhos Beija-Flor, Gabriel Simões, Raphael Gravino, Brayan Sá, Valtinho Botafogo e Mateus Pranto. O evento também teve a coração da rainha de bateria, Thalita Zampirolli. Para o Carnaval 2026, a Unidos da Ponte transporta para a avenida o enredo “Tamborzão – O Rio é baile! O poder é black!”, desenvolvido pelo carnavalesco Nícolas Gonçalves. Vale lembrar que a escola será a última a desfilar pela Série Ouro no sábado de Carnaval, dia 14 de fevereiro de 2026.

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Foto: Juliana Henrik/CARNAVALESCO

“Fui presidente aqui por dois anos. Era um processo de resgate da escola, que ainda estava na Intendente. A gente tinha um grande refrão, e eles tinham um grande segundo samba. A escola não tem que se prender a quem juntou A ou B para favorecer. Eu ganhei em 2025 na Beija-Flor, fiz o ‘Laíla’ e agora ganhei aqui. A Ponte é uma história da minha vida: meus pais, meus tios… A gente sempre teve ligação. Eu não imaginava ganhar um samba na Ponte, que é uma escola de grandes sambas. Mas estou aí, mais uma vez, escrevendo mais uma parte da minha história aqui”, celebrou o compositor Serginho Aguiar.

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Compositor Serginho Aguiar

“A Ponte é uma escola de grandes sambas. Vem com um enredo que fala muito sobre a gente, que é periférico. Tentamos usar os nossos dialetos, a linguagem do nosso povo, para chegar nesse samba. Eu acho que o outro samba tem um refrão muito bom. Mas o nosso refrão do meio sintetiza bastante do que acreditamos sobre o enredo. A gente acredita muito nisso, nesse lance de pertencimento, de dar voz às periferias. E é isso: acreditamos que vai ser um grande desfile da Ponte. Se Deus quiser, vamos chegar ao Especial. Na Ponte, é a primeira vez que ganho samba. É a primeira vez. Estou muito feliz com os meus parceiros”, comemorou o compositor Faustino.

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O presidente Tião Pinheiro, ao CARNAVALESCO, falou que a escola passa por uma nova fase e que após o incêndio, antes do Carnaval 2025, o pensamento é de um voo ousado no desfile do ano que vem.

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“A Unidos da Ponte passou por uma ampla reestruturação. A gente precisava desse momento de reformulação completa das ações: tirar a Ponte de uma posição em que brigava apenas pela permanência para, agora, disputar a primeira metade do grupo e fazer um voo cada vez mais ousado, mais alto. A Ponte merece isso. É uma escola que ficou 10 anos no Grupo Especial e eu acredito que, com o enredo que temos hoje e os valores que contratamos, estamos capacitados para buscar uma posição histórica. Quem assistiu o desfile de 2025 pode até imaginar que o impacto não foi tão grande, mas só nós sabemos a reengenharia que tivemos que fazer: tirar fantasias do chão, colocar no carro, ir preenchendo a escola de tal forma que tivéssemos uma plástica bonita”.

Gestor da escola, Gustavo Barros, falou do planejamento para o desfile de 2026. Ele elogiou a chegada do carnavalesco Nicolas Gonçalves e chamou o artista de “camisa 10”.

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“Eu acho que hoje essa final de samba só vai coroar essa nova Ponte que eu acho que estamos conseguindo trazer. Vai ser um grandioso carnaval, eu tenho certeza. O enredo é maravilhoso. Estamos conseguindo trazer celebridades, artistas e além disso a gente tem o Nicolas, que eu considero que é o camisa 10 do nosso time, que está preparando um excelente carnaval para poder fechar o desfile da Série Ouro. Já começamos o barracão e as fantasias, temos um planejamento bem adiantado para conseguir de fato fazer um carnaval que a gente possa competir com as escolas com poder financeiro maior que o da Ponte. Porque a Ponte é uma escola que tem 10 anos de Especial, logo é uma escola também que não fica atrás de outras escolas tradicionais do nosso grupo. Mas trabalhamos muito para conseguir, de fato, fazer a Ponte chegar no Especial, mesmo tendo um poder financeiro menor que algumas outras agremiações”.

Novo casal de mestre-sala e porta-bandeira da Ponte para o Carnaval 2026, Thiaguinho e Jéssica, conversaram com o CARNAVALESCO sobre a parceria e o trabalho para o desfile do ano que vem.

“Eu já dancei com o Thiago na Jacarepaguá, e estar na Ponte, uma escola tão maravilhosa como essa, os dois juntos novamente, foi um prazer enorme. Aceitamos o convite com muita alegria. E vamos defender o pavilhão da Ponte com muito amor. A expectativa é a melhor possível. O Thiago é muito disciplinado. Ele tem um riscado muito bonito e postura muito bonita também. É um excelente mestre-sala. O desenho da nossa fantasia está lindo, maravilhoso. Foi o presente que o carnavalesco nos deu. Eu fiquei empolgada e muito feliz. Superou as nossas expectativas. Com o samba escolhido nós já começamos a ensaiar para o desfile oficial. Começamos a fazer a montagem da coreografia e analisar também o tema da nossa roupa, o que viremos representando, para podermos encaixar e vermos qual é a melhor forma de trabalho: se vai ser em cima do som, se vai ser o tema da nossa roupa. Assim, se abre um leque de opções para nós”, comentou a porta-bandeira.

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“Após a minha saída da Viradouro, eu recebi algumas propostas e convites. Houve a oportunidade de dançar com a Jéssica. Quando me perguntaram ‘o que você acha?’, eu falei ‘opa, uma parceria que me interessa, que me agrada’. Eu já tive um contato com ela, quando trabalhamos juntos em 2012. Tentamos ouvir, na verdade, algumas outras escolas, e no final das contas resolvemos fechar a Ponte. A Jéssica tem uma dança muito expressiva, forte e aguerrida. Ela tem um estilo de dançar que traz com ela um pouco mais da ancestralidade e da tradição da porta-bandeira, e isso eu acho que o ponto alto dela. Ela ganha velocidade sem perder o eixo e a elegância, com uma postura exemplar. Eu acho que nós vamos fazer um grande baile. Eu senti que o baile vai ser lindo. O anoitecer e o amanhecer vão ser lindos”, completou o mestre-sala.

Camarão Netto, diretor de carnaval da Unidos da Ponte, contou como surgiu o convite para trabalhar na escola e revelou o andamento das atividades na agremiação.

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“Eu já esperava uma escola da Série Ouro no carnaval de 2026 para assumir esse projeto lindo e maravilhoso. Como vocês estão vendo aqui nessa festa, totalmente ligado ao nosso enredo. Eu aceitei a proposta, gostei do projeto e topei abraçar a ideia do presidente Tião Pinheiro e do gestor Gustavo Barros. Encontrei a raiz, a essência de uma escola tradicional. A Unidos da Ponte é uma escola que já passou 10 anos pelo Grupo Especial, e encontrei essa essência de uma escola grande, com nome e com raiz. As mudanças apareceram logo no início: assim que assumimos a direção de carnaval, mudamos todo o quadro da direção, inclusive, os casais. Começamos a trazer um ar de grandiosidade e renovação para a Ponte, sem desfazer do trabalho dos segmentos anteriores, mas dando esse novo fôlego. Eu considero que 90% do nosso carnaval vem do samba. É ele que dá o andamento da escola, o termômetro, a defesa do enredo. Antecipar a escolha facilita todo o processo: o trabalho com a comunidade, a reprodução das fantasias, das alegorias. É um avanço enorme para a Unidos da Ponte já ter o samba definido em agosto. Agoram, faremos um cadastramento e recadastramento das alas de comunidade. O trabalho será feito como em uma escola grande, que é o que a Unidos da Ponte representa, inclusive, pensamos em fazer ensaios de rua”, explicou.

De volta ao Rio de Janeiro, o carnavalesco Nicolas Gonçalves disse como surgiu a ideia do enredo da Ponte para 2026 e falou do trabalho na escola.

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“Estou pura alegria de estar de volta ao Rio. Estou lá (São Paulo) e cá e está sendo um desafio gigante, mas que está me dando muitas alegrias. Estou contente tanto lá quanto cá. O enredo é muito profundo, mas também é celebrativo. Busquei trazer pautas importantes, e com ele temos todas as narrativas fortes, que conseguem ser trazidas de forma celebrada, o que é melhor ainda. Vamos trazer isso sambando e rebolando. A Ponte vai ser a última a desfilar, e não à toa o enredo também começa no anoitecer, na madrugada, e termina no amanhecer. Eu tive a sorte de pegar uma escola que se deu uma bela renovada. Temos essa nova administração com o Tião e com o Gustavo, e eu fiquei muito feliz que eles já estão começando. Eu vim de um carnaval no Rio que é difícil, começamos tardiamente e isso prejudica um pouco. Só de eu já estar subindo alegoria e fazendo as fantasias, para mim já está sendo incrível. É muito motivador e o principal é logística. Começando agora vamos conseguir colocar o que planejamos em prática. E eu tenho certeza que a Ponte vai surpreender muito, tanto visualmente, quanto com samba. Eu acho que temos tudo paraformar um casamento e ser um grande desfile, e isso porque as coisas já estão rolando, o que me deixa bem mais seguro”.

Com uma dupla no comando da bateria, a escola terá os mestres Alex e Juninho.

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Mestre Juninho

“Eu e o Alex somos como irmãos, até porque ele é meu cunhado. A afinidade é máxima, a compreensão também. Nós seguimos a teoria de que ‘em time que está ganhando, não se mexe’. Temos que chegar respeitando a casa, a bateria e suas tradições. Até o momento, não vimos necessidade de mudanças. Estamos tentando manter o máximo possível do ritmo meritiense. Mas, se for para mudar algo, será sempre para melhor. O enredo nos permite algumas coisas, mas preferimos trabalhar mais com os instrumentos que fazem parte de fato do samba como surdo, caixa, repique e transformá-los como se fossem utilizados no funk e no charme”, disse mestre Juninho.

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Mestre Alex

“Essa parceria já vem de muito tempo. Quando o Juninho foi mestre na Inocentes, eu fui diretor dele. Além disso, ele é meu cunhado, irmão da minha esposa, então sempre tivemos convivência próxima, já moramos até na mesma casa. Por isso, fica muito mais fácil trabalhar juntos, porque já existe uma relação de confiança e afinidade de longa data. Temos pessoas que nos acompanham desde a época da Inocentes e de outros lugares, sempre somando no trabalho, e graças a Deus tudo tem fluído muito bem”, afirmou mestre Alex.

A Ponte terá os intérpretes Thiago Brito e Matheus Gaúcho em 2026. Ao CARNAVALESCO, eles trocaram elogios. “O Matheus é um cara sensacional, humilde e agrega ao trabalho. Nós não temos vaidade, aqui passamos o melhor para a escola. Ele é um cara com um coração gigante. Nossa parceria tem tudo para dar certo, e já deu certo. Sobre a bateria, eu já trabalho com o Juninho desde garoto. Quando eu era cantor da Inocentes, campeão do carnaval em 2012, 2013, o Juninho estava começando a bateria da Inocentes, e o Alex eu já conhecia da própria Inocentes também, como da Alegria do Vilar, pois defendo o samba lá, sou compositor da escola. Termos uma amizade bastante longa, duradoura, não teve muito mistério”, disse Thiago.

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“O Thiago já é um amigo de longa data, já defendemos bastante sambas por aí. Agora estamos tendo o prazer de cantar junto aqui na Ponte, e se Deus quiser, vamos fazer um grande trabalho pela escola. Estamos fazendo uma parceria, eu e o Thiago, para montar um carro de som de qualidade, com cavaco, escritores. Assim que fomos contratados, nos reunimos e escolhemos os cantores e cordas para nos entrosarmos e ensaiarmos, e daqui para frente nos prepararmos para o nosso desfile”, explicou Matheus Gaúcho.

Saiba como passaram os sambas na final

A parceria de Serginho Aguiar abriu a apresentação da noite da final de sambas da Unidos da Ponte. Com boa condução dos intérpretes Leozinho Nunes, Gabriell Salles e James Bernardes, o samba animou e se manteve constante. O trecho “Paredão já tá formado // Quem quiser pode chegar // Todo mundo convidado a ‘funkear’ // 150 bpm acelerado // No tamborzão da Ponte, ninguém fica parado” é o principal e mais forte, mas encontrou concorrência no que diz respeito ao canto do público, que também se empolgou com a parte “Toca DJ, um som diferente, melodia envolvente // Faz o corpo balançar // Canta MC, sua rima é o legado // Esse ‘dom’ é um ‘tornado’ // Vem pro baile dançar”. A torcida começou pouco animada, mas, nas últimas passadas, virou o jogo e se empolgou até demais, soltando fogos com fumaça dentro da quadra, o que atrapalhou os cantores e incomodou o público, que inalou fumaça. Após o episódio, o uso de fogos foi proibido nas demais apresentações.

A parceria de Robinho da Portela, segunda a se apresentar na noite, contou com uma torcida bastante animada e organizada. O samba empolgou e se mostrou um forte candidato ao título, tendo como ponto alto o trecho “Nosso canto é suor, é raiz // Eu só quero é ser feliz // No baile da Ponte tem charme e tornado // É som de preto, de favelado”, cantado pela maioria das pessoas na quadra. A escolha foi uma ótima sacada, já que faz referência a funks clássicos dos anos 1990 e 2000, que caíram na boca do povo e permanecem conhecidos. O intérprete Serginho do Porto conduziu com muita animação. Torcida e público seguiram cantando com força, mesmo após o fim da apresentação.

A parceria de Toni Bach se apresentou sem torcida, o que dificultou a empolgação do público presente. O trecho mais marcante foi “É a Ponte na avenida // Levanta bandeira // No tamborzão a luta é verdadeira // O som que resiste, da nossa raiz // Eu só quero é ser feliz”, com destaque para a última frase, puxada com garra pelos intérpretes Felipe Lima, Felipão Lima, Toni Bach, Adriano Amaral e Leo 30, que conseguiram animar a quadra, já que a música carece de explosão. A letra também trouxe referências a funks clássicos, como “Já é sensação”, “Nosso sonho não vai terminar”, “Liberta DJ” e “É som de preto”, mas usadas fora dos momentos de maior impacto.

A parceria de Chacal do Sax foi um dos grandes destaques da noite. Empolgante e consistente, apresentou em uma melodia chiclete boas referências aos funks clássicos, como a icônica frase “Tenha a consciência que o pobre tem seu lugar”, do famoso Rap da Felicidade, bem posicionada em um dos pontos altos da obra. Além disso, o uso de gírias e expressões ligadas à comunidade funkeira foi um ponto positivo, como “nevou”, “corte na régua” e “liberta DJ, a favela venceu”. A composição não apenas homenageou o gênero musical e seus criadores, mas também a própria Unidos da Ponte, com destaque para o trecho “Não sou de mandar recado, sou cria de Meriti // Aqui é som de preto! Com orgulho, favelado! É o baile da Ponte na Sapucaí!”. O intérprete Tinguinha brilhou ao levantar o público com sua condução, acompanhado por uma torcida animada desde o início, além do canto forte da bateria e da participação calorosa da plateia, que dançou muito.

A penúltima parceria da noite, de Alexandre Valle, começou com um ritmo que remetia ao Rap da Felicidade e seguiu trazendo referências a funks consagrados, como “Glamurosa”, de MC Marcinho. Com narrativa guiada pelo personagem MC Meriti, a melodia mostrou consistência, mas sem explosão. A tentativa de homenagear o maior número possível de referências ao funk, incluindo “Furacão 2000”, “Tamborzão”, “Não para não” e “Esquece”, acabou tornando o samba um tanto confuso. A ausência de torcida atrapalhou ainda mais a empolgação da quadra. O intérprete Paulo Bispo conduziu com competência ao lado de seus parceiros.