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Plástica caprichada, alto rendimento da ala musical e canto forte fazem Mangueira sonhar com voos mais altos

A estreia de Sidnei França no carnaval carioca foi satisfatória e trouxe para a Estação Primeira de Mangueira um frescor na parte estética que a escola vinha precisando. Com soluções criativas, diferentes, de bom gosto e com conceito, conseguiu entregar uma escola com bom acabamento e com muita leitura de enredo. Em consonância com a plástica, a Verde e Rosa entregou uma boa harmonia, não só pelo potente canto da comunidade, mas pelo trabalho de alto nível da ala musical, impulsionada pelo trabalho da bateria que fez com que o samba rendesse bem mais do que se imaginava quando a agremiação escolheu a obra. A evolução teve fluidez, a comissão passou com criatividade o enredo e o casal foi muito bem em pelo menos três dos últimos módulos. Um desfile que pode ajudar a escola a pensar em brigar em cima, dependendo do que ainda vai passar nas próximas noites. Com o enredo “À Flor da Terra, no Rio da Negritude entre Dores e Paixões”, a Mangueira encerrou seu desfile com 79 minutos.

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Comissão de Frente

Em seu segundo ano na Mangueira, Lucas Maciel e Karina Dias levaram para a Sapucaí “À Flor da terra” e mostraram que seguem em uma sequência de ascensão, sempre entregando bons trabalhos. A comissão de frente trouxe um elemento cenográfico que em um primeiro momento apresentava a ancestralidade da região de Benguela, local originário na África dos povos bantos, com uma fornalha na parte de traz e elementos que remetem aos búfalos. A dança começava ainda no chão, com os componentes vestidos de bantos antigos. A comissão sobe no tripé e segue a coreografia, com a iluminação fazendo a diferença e em baixo dos pés dos bailarinos, efeitos de fogo.

* LEIA AQUI: Grupos cênicos da Mangueira dão vida à ancestralidade através da arte

Agora, acompanhados de mais um componente, a condução sagrada Kaiango, energia ardente da dança, que aparece sem ninguém conseguir de onde vem. Eles saem de cena, sobe o cenário que transforma o tripé em favela, com os barraquinhos, e surge um novo elenco. Apenas masculino, de bermudas e sem camisa. Eles dançam passinho de funk até surgirem drones em formato de pipa criando o ambiente de uma favela dos tempo atuais. Esses integrantes simulam soltar pipa e encerram a apresentação. O público reagiu muito bem e a comissão sintetizou bem o enredo e teve interação com o público, e identificação com o DNA de Mangueira, uma grande comunidade, uma das mais históricas do Rio de Janeiro.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Matheus Olivério e Cintya Santos representaram na Sapucaí “Ancestrais Bantos da Negritude Carioca” personificando a imponência dos Ancestrais bantos, antepassados da Negritude carioca. Seus figurinos evocaram padronagens inspirados nos Kuba, grupo étnico originário do Congo. Figurino muito bonito em tons de palha, com pedras preciosas cravadas e tons de roxo na saia da Cintya, de muito bom gosto. Na coreografia, o casal manteve o que já vinha sendo visto nos últimos ensaios, com uma coreografia mais voltada para o bailado clássico retomando como o enredo pede a ancestralidade que também está presente neste bailado, pois a dança destes casais também é originária da herança deixada pelos povos bantos.

* LEIA AQUI: A Influência dos Povos Bantos na Celebração do Ano Novo: ala de Mangueira une religiosidade e cultura popular

Foi visto muito pouco de passos marcados e a intensidade já característica do casal esteve presente, com correção. O único ponto a se destacar, foi no último módulo em que Cintya, quando foi segurar a bandeira para o giro com as duas mãos, mas errou a pegada e o braço esquerdo ficou flutuando, até que ela desistiu. Deve gerar despontuação, mas como nota descartada. E no final, ela deu a sua famosa bandeirada virada para. O jurado, mostrando que o erro não deixou ela abalada. Bom desfile do casal.

* LEIA AQUI: Alas da Mangueira retratam os povos Bantus e sua influência na culinária Carioca

Harmonia

O carro de som comandado por Marquinho Art’Samba e Dowglas Diniz teve um alto rendimento como vinha sendo nos últimos ensaios, aliás muito impulsionado pelo bom trabalho da ala musical da escola e da bateria. As vozes de apoio estavam muito bem entrosadas com os intérpretes permitindo que eles ficassem a vontade no comando do microfone oficial. O que se nota de forma mais latente é a predileção das vozes pela força no grave, muito pelas características de Marquinho e de algumas outras vozes de apoio, caráter que é muito casado com o DNA dos sambas da Mangueira e infligindo a potência que o samba precisava. Os arranjos de cordas foram muito equilibrados também.

* LEIA AQUI: Do Samba ao Funk: A Corporeidade Negra que Dança e Resiste no Carnaval da Mangueira

Já a comunidade mostrou a força que vinha sendo percebida nos ensaios, com canto potente, correto, em algumas vezes com os intérpretes fazendo o paradão, mesmo por pequenos momentos, mas que davam toda a percepção de como a comunidade estava cantando a obra.

Enredo

Sidnei França pontuou sempre antes do carnaval que a Mangueira faria uma abordagem inédita para dar conta do recorte histórico da trajetória dos bantos no Rio de Janeiro, reinventando o passado aos olhos de hoje. E, mesmo, parecendo um enredo que poderia ter alguma dificuldade de entendimento, a abordagem realizada por Sidnei foi bem didática, bem clara, com fantasia de fácil leitura, mesmo com algumas viradas temáticas dentro da narrativa. Dividido em cinco setores, em um primeiro momento “Kalunga e Cosmovisões”, foi a apresentação do início da história destes povos através do retrato do tráfico negreiro e da chegada de milhares de bantos no Rio de Janeiro, por isso, há o protagonismo para as águas nesse setor, buscando uma abordagem menos negativa dessa chegada, através de um universo lúdico presente no fundo do mar.

No segundo setor “Fés Para Existir” Foi abordada a fé como elemento fundamental desses povos no Rio de Janeiro, apresentando a imposição cristã durante o período colonial. Em seguida em ” Vivências de um Grande Zungu” Sidnei trouxe os Zungus como cenário principal para o convívio dos povos bantos e seus descendentes nascidos no Rio de Janeiro. O quarto setor “O Rio de Janeiro Continua Banto” mostrou a relação dos cariocas com os legados bantos que seguem presentes no Rio contemporâneo, como a culinária, a linguagem, as cerimônias de sepultamento, a religiosidade e a musicalidade.

A escola encerrou o seu desfile em “Por um futuro Mais Banto e Ancestral” quando apresentou a possibilidade de um futuro promissor através dos herdeiros desses povos bantos, como os “crias”, as pessoas originárias das favelas, terminando assim com uma mensagem muito positiva, sintetizada na imageticamente na figura do cria com o punho erguido. Desfile de muita leitura, criativo e que entregou a história prometida pelo carnavalesco na justificativa do enredo.

Evolução

A evolução da escola se deu de forma muito tranquila no geral, sem apresentar buracos, se apresentando com fluidez, sem correrias e com algumas alas como os grupos cênicos do início do desfile que faziam uma bonita coreografia com o giro das saias, com destaque para as alas “Morte e Vida”, e “Sopro que guia a passagem”, estes grupos, inclusive, mantinha o clima da escola lá no alto nas paradas em que eram necessárias para apresentação nas cabines.

A Verde e rosa também cumpriu de forma satisfatória os momentos mais críticos do desfile, tendo fluidez, mesmo com as paradas para apresentações do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira e na entrada e saídas da bateria do recuo. A escola terminou bem o seu desfile sem correria, perto do limite de tempo, mas saindo com muita tranquilidade. O único ponto que pode ser colocado foi, que por algumas fantasias mais pesadas, como a das baianas, algumas pessoas não estavam se sentindo bem, algumas baianas, inclusive não terminaram o desfile.

Samba

A obra foi produzida por Lequinho, Júnior Fionda, Gabriel Machado, Júlio Alves, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim. E, como, tem sido colocado em relação aos ensaios técnicos e de rua, a obra, que, é preciso ser ressaltado, não está entre as pérolas desta leva de sambas, teve um excelente rendimento, muito pelo ótimo trabalha da direção musical da mangueira, do carro de som, principalmente na figura dos intérpretes, e, obviamente pela bateria que conseguiu espremer da música tudo que era possível, com bossas cheio de musicalidade, como a que fazia referência ao tambor de Congo.

É bem possível, ainda, que o samba não gabarite no 10 por algumas questões já colocadas no pré-carnaval como a acentuação tônica no refrão principal no “dona das multidões”, no “dona”, que destoa daquilo que a palavra é em sua fonética. Mas, é o único ponto. O restante passou muito bem, com a segunda parte da obra mais destacada pela força do seu caráter mais melodioso e o destaque maior para o “é de arerê”e o tom colocado ate antes mais voltado para a exaltação do povo de Mangueira.

Fantasias

A qualidade de acabamento das fantasias da Mangueira foi outro ponto da plástica que impressionou. Figurinos muito bem desenvolvidos tanto em concepção quanto em realização, criativos, desenvolvidos e com a utilização de matéria de ótima qualidade. Sidinei apostou no rosa para iniciar o desfile, mas depois foi apresentado aos poucos novos tons, principalmente no segundo setor quando há a predileção pelo verde, pelo terroso e pela palha. O desfile inclusive tem uma virada estética a partir dos últimos setores e mantém a qualidade, inclusive na criatividade.

Figurinos de muita leitura também, fácil entendimento. Muito bom gosto em tudo, inclusive nas fantasias das baianas e da bateria. Destaque para alas como “Conexões por um chamego”, com os girassóis, “Palavra Plantada”, “Um banquete de angu”, “uma quitanda urbana”, que era uma ala com diferentes figurinos, concedendo a escola um bonito colorido, e claro, as baianas “Pembelê, Kaiango”. Com certeza o mangueirense ficou muito satisfeito com o que viu e o que vestiu.

Alegorias e adereços

A Mangueira levou para a Avenida um conjunto alegorico formado por cinco alegorias, dois tripés e um “Pede Passagem”. Com carros de muito bom acabamento e soluções estéticas bem resolvidas, a Mangueira teve um conjunto alegórico bem melhor do que nos ultimos anos. Sidnei conseguiu aplicar na Mangueira um trabalho conceitual que não se assemelha ao que já produziu para São Paulo, mostrando que conseguiu se adaptar as características do Rio, com a sua cara, tendo carros bem desenvolvidos, de bom gosto e de fácil leitura.

O Abre-alas “Mistérios das Kalungas Ancestrais”, todo trabalhado no rosa, trouxe a chegada dos povos bantos ao Rio que foi pela água.Essa atmosfera aquática permeou toda a alegoria, com vegetações, criaturas marinhas e seres abstratos que se relacionam com os sentidos ocultos das Kalungas. O Pede Passagem logo a frente manteve a estetica que vinha logo depois no primeiro e conseguiu trabalhar bem com o Led. Mas, alguns pequenos problemas nesse início aconteceu no Abre-Alas, quando no segundo módulo um pedaço da alegoria se desprendeu. A iluminação que tinha muita qualidade na parte debaixo poderia ter se repetindo na parte cima. Ainda assim uma alegoria única, com identidade única.

No segundo carro “A Fé que guia meu Camutuê” apresentou a expressão da fé dos povos bantos no Rio através de uma mosaico mais complexo, através da estrutura de uma igreja, mesclados com anjos, frequentemente usados nas imagéticas católicas, sendo negros, seguram instrumentos de inquices e entidades afro-brasileiras. Essa alegoria mesclava os vários tipos de religiosidade. A terceira alegoria “Zungus” mostravam os espaços de reinvenção da experiência banta na cidade. O carro apresente estas localidades através dos diferentes exemplos de comércios local do entorno dessas casas compondo o cenário que é também um casarão. Era criativa e muito bom gosto.Na quarta alegoria “Tomou a cidade de assalto”, encerrando o legado da presença banta, através de uma cenário urbano que chegou ao século XXI, a frente com um palco, tambores trazem a herança dos toques de percussão. Na parte posterior grandes amplificadores, além de prédios e edificações trazendo a ocupação urbana. Esta alegoria, era, claramente a que destoava na qualidade dos demais casos. Não no acabamento, mas nas soluções estéticas.

Mas, o último carro “Quilombo das Multidões” representou o futuro ancestral na concepção de um quilombo com a juventude, apresentado pela escultura de um cria, trazendo uma mensagem voltada para as futuras gerações. Nisto, a favela é exaltada como grande ponto macro dessa futura ancestral. Imagem muito bonita para terminar o desfile. Conjunto alegórico que deve ter mexido com os mangueirenses.

Outros destaques

A rainha Evelyn, toda de rosa, veio com a fantasia “Joia da Ascenção ” representando as joias, a riqueza, a prosperidade material que os negros bantos e seus descendentes desejavam e buscavam almejar por meio da ascenção social. A bateria, comandada por mestre Rodrigo Explosão e Taranta Neto, veio de “Ascenção negra” representando a Negritude carioca descendente dos bantos, que, nesse momento do enredo buscava a liberdade e perpassava pela ideia de prosperar financeiramente. No esquenta, a escola cantou os sambas de 2023 e 2024, além do exaltação e a versão de “Da-lhe Dá-lhe” para a Mangueira. A cantora Leci Brandão veio em destaque na terceira alegoria sendo aclamada pelas pessoas.

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