Com uma introdução ao som de piano e a força do canto da Vila Pompéia, o Águia de Ouro realizou no dia 8 de outubro, na Fábrica do Samba, sua gravação para o projeto audiovisual da Liga-SP para o álbum oficial dos sambas-enredo para o carnaval de São Paulo de 2025, lançado nesta semana nas principais plataformas digitais. A obra assinada pelos compositores Rapha SP, Marcus Boldrini e Marcelo Nunes fará parte do desfile da Azul e Branco, que será a primeira escola a desfilar no sábado pelo Grupo Especial com o enredo “Em Retalhos de cetim, a Águia de Ouro do jeito que a vida quer”, assinado pelo carnavalesco André Machado. Apostando em um samba carregado de referências a sucessos do sambista Benito Di Paula, que será homenageado pela escola no próximo carnaval, o Águia de Ouro contará com a emoção para conquistar o Sambódromo do Anhembi. A equipe do CARNAVALESCO conversou com diferentes lideranças da escola para conhecer detalhes da preparação para essa gravação.
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Samba de um fã para o ídolo
Celebrando a primeira vitória em um concurso promovido pelo Águia de Ouro e fã de Benito di Paula, o compositor Raphael Sinopoli, o Rapha SP, falou sobre a importância da obra escolhida pela escola da Vila Pompéia para sua carreira.
“Esse samba para mim tem uma importância muito grande não só por ser o primeiro samba que eu componho para o Águia de Ouro, que é uma escola que eu sempre admirei bastante e sempre tive um carinho, mas nunca tive essa oportunidade de compor. Também é por falar de Benito di Paula, que é um artista que eu sou muito fã e eu vivo da música, sou músico, eu trabalho com isso, eu vivo disso. É um artista que desde criança sempre acompanhei o trabalho dele, sempre fui muito fã da música dele, das composições dele, da forma dele conduzir aquilo com o piano, o samba no piano. Poder fazer parte dessa homenagem para mim é uma coisa que vou levar para sempre na minha vida”, declarou.
Rapha SP acredita que as referências a obras que marcam a carreira de Benito di Paula podem ser o diferencial para o bom rendimento do samba do Águia de Ouro, gerando um sentimento de identificação da parte do público.
“Creio eu que ele vai causar um grande impacto não só pelo tamanho do artista que está sendo homenageado, mas também pelas obras que são de conhecimento nacional. As músicas dele são de conhecimento nacional e elas são citadas ali no samba, tem trecho das músicas. Creio que a maioria das pessoas que vão estar ali acompanhando ou que vão estar acompanhando pela televisão conhecem e vão se identificar com aquilo. Tem frase que emociona, tem frase que é para chorar, tem frase que é uma alegria maravilhosa. Ele mescla muito bem tudo isso, todas essas emoções. Ficou um samba muito bom, muito fácil de ser cantado e creio que vai ser muito bem executado pelo Água de Ouro na Avenida”, afirmou.
O samba do Águia de Ouro para 2025 tem no refrão principal seu momento mais chamativo, mas para Rapha SP o começo da primeira parte do samba é o trecho que mais mexe com seu coração.
“O samba tem várias partes que eu gosto. Ele foi muito bem construído, tanto a letra quanto a melodia, foi tudo muito casado e muito bem pensado, mas uma parte que realmente me orgulha de ter feito é a cabeça do samba. O refrão do samba é maravilhoso, é uma explosão maravilhosa, mas a cabeça do samba eu acho que é um negócio que realmente mexe comigo e é uma das partes do samba que eu mais gosto, que é: ‘Retalhos de cetim dão vida e cor à inspiração. Já comprei surdo e tamborim pra me vestir de emoção. Moço, aumenta esse samba que o verso não para. Batuque mais forte, a tristeza se cala’. Essa parte, essa embalada do começo aí para mim é a minha parte preferida”, disse.
Assinatura do homenageado
O arranjador do samba para a faixa oficial do Águia de Ouro, Chanel Rigolon, explicou a estratégia adotada para a gravação. O artista teve uma preocupação especial em destacar a essência dos instrumentos que são assinatura de Benito di Paula em conversas com o músico Cristiano Gibi, que também participou das gravações de maneira especial.
“Como fala do Benito, uma lenda viva do nosso samba, a primeira coisa que a gente pensou foi no piano, em uma introdução que lembrasse alguma música dele. Nessa, conversei com o Gibi e mostrei para ele algumas ideias e teve um pedido: ‘faz junto com o cavaquinho’. Falei: ‘acho que é um especial só, uma homenagem para o Benito’, então no começo da introdução, na largada do samba, só tem o piano. A gente fez a introdução baseada em um trecho do samba que fala da parte do Benito, justamente uma parte menor, bonita, aí sim a gente foi distribuindo. Interessante que no refrão do meio também tem um acordeão, então o próprio Gibi, que gravou o piano, foi no refrão do meio e vai ficar intercalando entre o piano e o acordeão. Normalmente eu já tenho esse hábito de fazer os arranjos e as dobras junto com corda pensando também em batucada, então é como uma conversa. Muitas coisas eu vou fazer junto com o violão, outras coisas eu faço junto com bandolim, então vai virando uma conversa. De repente eu faço uma pergunta e outro instrumento responde, ou a percussão tocou de alguma maneira e eu respondi. Desde 2000, quando comecei a fazer arranjo e entrar no carnaval que eu venho fazendo esse tipo de pensamento diferente. Eu não sou do choro, mas gosto muito do choro e nele acontece muito isso. Você pega os arranjos do Pixinguinha, tem muita coisa que já é obrigação naquela frase. É que nem aqui, nessa parte menor em especial. Tem um trecho que a gente padronizou todo, a gente fez com todas as cordas. Fiz cavaco, bandolim e sete cordas, e o piano fazendo também, pensando em resposta da voz e pensando junto com a harmonia”, disse.
Chanel elogiou a confiança do Águia de Ouro em seu trabalho e citou algumas características que costuma aplicar em seus trabalhos como arranjador.
“Posso falar que, graças a Deus, o Águia tem um respeito enorme e confiança no trabalho. Eles deixam à vontade mesmo, então dificilmente alguma coisa que vou sugerir é cortada. Essa confiança, essa troca, já não é o primeiro ano. Eu já faço há muito tempo no Águia também, então se tem uma coisa pra falar é isso. Esse respeito mesmo, esse carinho, esse cuidado, respeitando cada um. A mesma coisa do Douglinhas, a gente já pensa no grito, ou seja, você vai na introdução pensando no grito de guerra. ‘Essa é aquela parte onde o Douglinhas tem que dar o grito, é a parte em que ele vai brilhar’. ‘Nessa parte aqui a batucada vai’. Tudo é meio pensado. ‘A faixa tem 5 minutos e 35 segundos, então vamos fazer isso de introdução, vamos fazer isso aqui’. Tem essa questão dessa organização, mas sempre perguntando para eles, eu nunca defino nada. Normalmente não mexem, mas eu sempre mostro. Faço questão de mostrar”, declarou.
Comunidade presente de corpo e alma
A diretora de carnaval Jacqueline Meira, que acompanhou a equipe do Águia de Ouro nos trabalhos orgulhosa da apaixonada comunidade da Vila Pompéia, falou sobre o que o mundo do samba pode esperar da faixa da escola para o álbum oficial do carnaval de 2025.
“O pessoal está empenhado em fazer uma belíssima apresentação. O pessoal está muito feliz com o nosso enredo, e o Águia de Ouro é uma escola que canta muito, graças a Deus. A galera vai fazer um lindo show para vocês”, declarou.
São as pessoas que fazem a diferença no sucesso de uma escola de samba, e a comunidade do Águia de Ouro se fez presente na gravação. Jacque celebrou a presença do povo da Vila Pompéia ao falar das pessoas que fizeram parte dos trabalhos da escola.
“Hoje nós estamos com a nossa comunidade na gravação. Temos a nossa rainha, Renata Spallicci, mas hoje é a comunidade. É uma festa, uma celebração da comunidade de ter voltado o audiovisual, todo mundo está feliz. É só a comunidade mesmo”, afirmou.
Mesmo fazendo parte da comunidade da escola desde a infância, para a diretora cada etapa do ciclo carnavalesco sempre é especial. Questionada sobre o sentimento de estar presente no processo de gravação da faixa oficial, Jacque fez uma verdadeira declaração de amor ao Águia de Ouro.
“Falar de Águia de Ouro, mostrar o Águia de Ouro, para mim é uma das coisas mais importantes. Estou muito feliz, amo muito minha escola e sou muito grata aos meus componentes, que são os nossos maiores tesouros. Fico muito honrada sempre que posso mostrar o Águia, vestir o Águia, falar de Águia e cantar Águia”, disse.
Sambas de homenagem tendem a ser emocionantes, e para celebrar Benito di Paula o Águia de Ouro traz uma obra carregada desse sentimento. Para Jacque Meira, definir uma parte que mexe mais com o coração é desafiador.
“Os refrões são muito marcantes, são muito fortes. Mas se tratando de Benito di Paula, trazemos os versos com as obras dele, então fica difícil escolher uma parte do samba. E eu amo o samba demais. O samba é extremamente melódico, é bem bacana. Eu não consigo dizer mesmo qual a melhor parte do samba”, opinou.
Foco no resultado
O presidente do Águia de Ouro, Sidnei Carriuolo, também é o presidente da Liga-SP, e foi o idealizador do retorno das gravações do álbum oficial no formato ao vivo. O dirigente celebrou a realização dos trabalhos, que foram interrompidos em função da pandemia da Covid-19.
“Acho que são resgates que a gente tem que fazer. Tem que lembrar que a pandemia nos tirou muita coisa, a pandemia fez muito mal ao carnaval e ele está retomando. Isso é uma retomada legal, a gente está com bons olhos justamente por causa disso”, comemorou.
O presidente destacou a presença dos instrumentos que são assinatura dos trabalhos de Benito di Paula na composição da faixa oficial nos trabalhos do Águia de Ouro. “O que a gente vai fazendo é introduzir o piano. Vai ser o diferencial. Tem também uma sanfona, que a gente vai estar colocando na gravação. O importante é a gente gravar o samba bem para as pessoas assimilarem e aprenderem o samba, isso que é o mais importante”, disse.
Sidnei tem como característica conhecida o pleno foco em todas as atividades relacionadas ao carnaval. Destacou seu trecho favorito do samba do Águia de Ouro, mas reforçou que a prioridade é obter o melhor resultado para que a comunidade se beneficie dele.
“O refrão porque também tem referência à música do Charlie Brown, que já está acostumada no ouvido das pessoas. O importante é você gravar o samba bem, que as pessoas consigam ouvir legal e possam cantar dentro daquilo que é realmente a obra”, declarou.
Homenagem ao ídolo nas vozes de lendas
Vida e obra do sambista do Rio de Janeiro radicado em São Paulo Benito di Paula terão o clamor na Avenida comandado pelas vozes do paulista Douglinhas Aguiar e do fluminense Serginho do Porto, nomes também históricos do samba brasileiro. Os cantores falaram da preparação que fizeram para realizar a gravação da faixa oficial do Águia de Ouro.
“A gente fez uma preparação espiritual. Normalmente faço uma mentalização grande do que vai acontecer. Eu imagino, mais ou menos, a cena de como a gente vai estar gravando, o que a gente vai falar, o que a gente vai fazer, e a gente tem vibrações positivas para chegar e fazer o melhor trabalho possível”, declarou Douglinhas.
“Acho que a nossa energia positiva transforma tudo isso, e a maior preparação para que a gente faça esse desenvolvimento maravilhoso é descansar. É a gente estar com a mente bem positiva, sabendo que o nosso samba é maravilhoso, que a escola tem um carnaval para 2025 maravilhoso para pôr na Avenida, então, isso tudo mexe com a gente”, afirmou Serginho.
Para Douglinhas, técnica e emoção se fazem necessário pelo fato de o samba-enredo ser um gênero musical diferenciado.
“Não, é tudo junto. Samba-enredo é uma modalidade muito difícil, acho que é a modalidade mais difícil de ser cantada, de verdade. Sempre falo o seguinte: samba enredo é uma maratona corrida na velocidade de 100 metros rasos, ou seja, é extenso e toda a passagem é ali, é no gás. O sambista é um maratonista rápido.”
Douglinhas e Serginho exaltam o fato de Benito di Paula poder receber tamanha celebração em vida. Os veteranos intérpretes demonstraram grande admiração pelo homenageado ao falarem do sentimento de darem voz ao samba do Águia de Ouro na gravação oficial.
“A emoção grande porque o Benito está vivo. Todas as homenagens que as pessoas fazem, normalmente a pessoa já não está mais aqui e o Benito não. Ele vai estar aqui, vai estar desfilando com a gente, e o samba foi feito na primeira pessoa, é como se o Benito estivesse cantando. É uma emoção muito grande”, afirmou Douglinhas.
“São flores em vida, e essa é uma homenagem inédita. É a primeira vez que o Benito di Paula é enredo, tanto no Rio quanto São Paulo ou em qualquer outra parte do Brasil. Essa homenagem em vida para ele está sendo maravilhosa para todos nós do Águia de Ouro. Meu ídolo, como é ídolo também do Douglinhas. A gente cresceu ouvindo o Benito di Paula juntamente com todos os nossos familiares. Vai ser emocionante não só para o Benito como para toda a escola”, disse Serginho.
Entre o refrão e a cabeça do samba, os intérpretes apontaram diferentes partes da obra do Águia de Ouro para 2025 como as que mais mexem com seus corações.
“Para mim esse samba é maravilhoso, mas eu acho que todas as partes são muito boas. Mas o refrão, acho que já está na boca de todo mundo. É muito fácil, é bonito”, afirmou Douglinhas.
“Eu gosto muito da abertura do samba porque descreve um pouco do Benito. Aquele Benito que desceu a serra e foi para a Tijuca, para o Morro da Formiga e depois veio para a terra da garoa e tomou esse caminho todo grande. ‘Retalhos de cetim, dão vida e cor à inspiração. Já comprei surdo e tamborim para me vestir de emoção’. É muito forte”, opinou Serginho.
Estratégias da bateria de mestre Juca
Comandante de longa data da “Batucada da Pompeia”, mestre Juca falou sobre o plano elaborado para andamento e bossas no samba do Águia de Ouro para a gravação oficial.
“O andamento foi um 146 BPM. Acho que para a gravação, com essa levada de caixa, é o ideal. Todos os diretores, ritmistas, todos nós elaboramos as bossas. A gente fez lá um apagão no começo, na cabeça do samba, e a gente tem também, que a gente vai levar para a avenida, um forró na parte do samba que fala do Luiz Gonzaga”, disse.
Mestre Juca é quase que sinônimo de Águia de Ouro. É um dos integrantes mais longevos da história da escola, sendo mestre de bateria há mais de 30 anos. Para o artista, a confiança em seus ritmistas o permite realizar seu trabalho com tranquilidade.
“São muitos anos já à frente da bateria do Águia de Ouro, então eu me sinto tranquilo. A rapaziada sabe o que tem que fazer, então venho para cá tranquilo que eu sei que vai dar bom”, afirmou.