No retorno de Leandro Vieira à Imperatriz, a Rainha de Ramos levou para Sapucaí um desfile primoroso na questão estética, com fácil e divertida leitura do enredo e com o samba funcionando muito bem em um excelente estreia também do intérprete Pitty de Menezes. No mais foi bonito ver o resgate que vem acontecendo por esta diretoria com a comunidade que respondeu na Avenida cantando com muita garra e se divertindo no trajeto até a Praça da Apoteose. A comissão de frente retratou o enredo de forma divertida e delirante e o samba também teve uma boa resposta do público. Quarta escola a desfilar na segunda noite do Grupo Especial com o enredo “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida”, a Imperatriz Leopoldinense encerrou seu desfile com 68 minutos. * VEJA FOTOS DO DESFILE
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Comissão de Frente
A comissão “Pelos cantos do sertão ” coreografada por Marcelo Misailidis sintetizou o enredo com humor e picardia através de uma espécie de teatro mambembe que dançava ambientado em uma paisagem que remeteu a um pedaço de terra localizado no sertão nordestino. A comissão fez bom uso do elemento cênico, apresentando surpresas que eram pertinentes a apresentação.Era uma casa em meio a um varal de lençóis.Nela, Lampião e seu bando fugiam em uma perseguição.
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Segundo carro da Imperatriz, “Rebuliço no olho do mamulengo”, representou a morte do bando de Lampião
‘Espero poder fazer história’, diz Pitty de Menezes após estreia arrebatadora na Imperatriz
Cangaceiras e leopoldinenses, as baianas da Imperatriz vieram com a força de Maria Bonita na busca pelo título
“Virgulino no comando!”: Abre-alas da Imperatriz representou a invasão de Lampião ao sertão nordestino
Coordenado por um típico morador do sertão, a comissão trazia no teatro hora a ideia de o cangaceiro ir ao inferno buscar guarida, quando um grande rosto demoníaco surgia por debaixo do lençóis engolindo o apresentador da comissão e depois surgia no alto da casa, uma espécie de campanário em que Parte Ciço não permitia a entrada do cangaceiro, jogando o chapéu dele inclusive para a plateia.E no final todos dançavam xaxado, o Lampião com o apresentado inclusive.a comissão misturou muita dança com toque certos de humor, acima de tudo divertiu o público. Um apêndice da apresentação era um integrante fantasiado daqueles cachorros caramelos, magro, que ia sumindo e aparecendo pela casinha.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro, vestiam o figurino “Lampião e Maria Bonita” representando o rei do cangaço e sua rainha, eterna companheira e parceira enamorada do líder dos bandoleiros. O traje em tons alaranjados apresentou os contornos estilísticos da roupa de um cangaceiro principalmente no chapéu e na parte de cima.
Na saia da roupa de Rafaela uma bonita e rica plumagem completou o modelito. Fantasia primorosa. Rafaela se adequou bem ao ritmo mais explosivo de Phelipe que procura passos mais intensos. A porta-bandeira foi intensa nos rodopios. O vento forte atrapalhou um pouco em todos os módulos, mas a Rafaela manteve o pavilhão desfraldado, ainda que em alguns poucos momentos ele não ficasse tão aberto. Uma apresentação com dificuldades por conta do vento, mas sem apresentar falhas aparentes.
Harmonia
A comunidade leopoldinense teve um alto rendimento no canto do samba, mantendo a regularidade e intensidade de canto em todos os módulos, de forma homogênea entre as alas, com alegria e em alguns momentos transbordando garra. Importante destacar o trabalho dos diretores de harmonia da escola que a todo momento incentivavam seus componentes, assim como os diretores de ala. Nem o fato de algumas fantasias serem um pouco mais pesadas atrapalhou o canto da escola.
É possível citar diversas alas que tiveram destaque no canto. No segundo setor, ala “cordelistas”, “carpideiras”. No terceiro setor “O cordel de José Pacheco” e “tropa de expulsão” , e no final “ala vagueia na poesia”. Fazendo sua estreia pela Verde e Branca de Ramos, Pitty de Menezes também teve um excelente desempenho no comando do carro de som. O intérprete não deixou cair o canto em nenhum momento, fazendo o bom samba da Imperatriz crescer ainda mais e incentivando os componentes sem exagerar nos cacos, todos dentro da música.
Enredo
O enredo se baseou na literatura de cordel para mesclar fatos históricos com uma pesquisa iconográfica baseada na estética regional sertaneja. A partir do conteúdo lúdico presente nos cordéis que vislumbravam o destino pós-morte de Lampião, o desfile mergulhou nas múltiplas possibilidades narrativas e visuais características da cultura nordestina e brasilidade. O carnaval da Imperatriz se debruçou sobre a poesia épica para contar esta história mesclando fatos históricos com eventos imaginários e fantásticos. Durante o desfile, a aparição de Lampião acontece o tempo todo.
O místico cangaceiro foi visto em todos os setores em uma trajetória que percorreu a história de sua morte, a tentativa de entrar no inferno e no céu, assim como seu renascimento no imaginário popular brasileiro. A ideia de um enredo que trouxesse picardia e delírio para o desfile foi realizada de forma satisfatória. As alegorias e fantasias tinham leitura, e a sequência narrativa estava bastante clara no visual, além do samba ser bastante eficiente neste papel de contar a história.
Evolução
A Imperatriz passou pela Sapucaí de uma forma quase perfeita, a não ser por um pequena dificuldade de deslocamento do abre-alas já na saída da pista, que gerou um pequeno buraco até a ala, rapidamente consertado. A evolução dos componentes no geral se deu de forma espontânea, com alegria, mesmo com algumas fantasias pesadas, demonstrado no cansaço de alguns desfilantes já no final da Marquês de Sapucaí.
A garra dos componentes e o apuro para não prejudicar a escola de forma alguma, presente também nos diretores, foi louvável. Algumas alas eram coreografadas de forma pertinente ao enredo como “tropa de expulsão” que brincava com a fantasia que dava a ideia de chamas. A evolução foi cadenciada, mas de maneira nenhuma lenta, com fluência, apresentando o desfile com a atenção que o público merece. A bateria entrou no recuo com 47 minutos e saiu com uma hora de desfile de forma tranquila e com fluência, sem gerar problemas.
Samba-Enredo
A obra de Me Leva e companhia tem uma letra que expressou com bastante eficiência o enredo desenvolvido pela Imperatriz. Se você fechar os olhos e ouvir o samba, a letra te traz as imagens de todos os setores da história narrada sobre Lampião, na forma pensada pelo carnavalesco Leandro Vieira. Em termos de melodia o samba apresentou uma musicalidade muito voltada para a região nordeste seguindo uma linha de canções típicas do xote e do forró, sem perder suas características de samba-enredo.
A presença da sanfona no carro de som ajudou bastante essa musicalidade nordestina que ajuda a caracterizar o enredo. Um dos pontos altos, o refrão principal é um exemplo desta musicalidade sem perder a força de ataque do samba que impulsiona o componente explodindo no “Leopoldinense, cangaceira minha escola”. A solução utilizada de colocar um bis logo no início funcionou e o bis antes do refrão principal” pelos cantos do sertão”, em termos de melodia, foi um dos ponto altos da obra, assim como “o jagunço implorou um lugar no céu/ toda santaria se fez de Bedel”.
Fantasias
Inicialmente a escola apostou em figurinos que vieram trazendo um pouco do sertão para a Sapucaí. Baianas em tom pastel e coloração de palha já caracterizavam o enredo até a chegada do abre-alas. Primeiros setores fizeram uso de uma estética mais rústica, do sertão , porém bem trabalhada e de bom acabamento. Cores de palha em contraste de detalhes em cores mais fortes e muitos acessórios de mão até entrar no segundo setor. A paleta de cores encontra tons mais quentes e rubros a partir do terceiro setor que fala do submundo.Destaque para as maquiagens de rosto mais desenvolvidas em todo o desfile, mas principalmente neste setor.
A partir do quarto setor nova mudança nas cores e figurinos, tons mais claros e prateados em contraste com azul ajudam a contar o momento que retrata a chegada do cangaceiro ao céu. Dourado também compõe o quarto setor. No último setor que vai valorizar o sertão, o homem sertanejo, os tons voltam para cores quentes. Outro fato a se destacar, foi que Leandro apostou em óculos estilizados com lentes coloridas para compor algumas fantasias como a da bateria, um efeito excelente. No geral, as fantasias foram de um apuro espetacular, volumosas, criativas e a paleta de cores esteve bem casada tanto esteticamente quanto com cada setorização do enredo.
Alegorias e Adereços
Pode-se dizer que este foi o maior conjunto alegórico de Leandro Vieira em tamanho. Carros grandes, mas com o já conhecido traço do artista, esculturas bem detalhadas, ótimo trabalho de cores, e excelente acabamento. Hora o trabalho mais rústico que a temática pedia, hora a criatividade, mas sempre com beleza e excelência de materiais.O conjunto alegórico da Imperatriz para este desfile se constituiu de cinco alegorias e dois elementos cenográficos, sem contar o elemento da comissão de frente.
O carro abre-alas “Virgulino no Comando” que materializou em seu visual uma invasão praticada pelo bando de Lampião em meio a uma paisagem sertaneja. Dividido em dois chassis e ambientado no semiárido, a alegoria apresentou o verde da caatinga nos adereços que representam a vegetação do mandacaru, enquanto o tom alaranjado do sertão se contratava com esculturas em artigos dourados. Já a segunda alegoria “Dia 28: rebuliço no olhar do mamulengo” retratou a morte do rei do cangaço e como essa notícia se espalhou pelo nordeste.
O terceiro carro “nos confins do submundo” , uma das melhores que passou nas duas noites e desse conjunto específico, com soluções criativas e bem fidedignas visualmente, apresentou a epopeia de Lampião ao reino das trevas. A quarta alegoria deste carnaval “Um lugar do céu “, apresentando muita da assinatura do carnavalesco Leandro Vieira, com balões coloridos presos ao elemento, e um monomotor retratando o céu, morada dos santos, e a tentativa de impedir o cangaceiro de entrar na morada do santíssimo. Por fim, a última alegoria “o destino do valente” em tons dourados trouxe a coroa da Imperatriz e o rosto do cangaceiro, também enraizado na aparência e vestimenta de Luiz Gonzaga , finalizando o desfile através de signos que celebram Lampião como entidade que habita no imaginário de brasilidades. Nesta alegoria há referências a arte de mestre Vitalino, a musicalidade de Luiz Gonzaga e a literatura de cordel.
Outros destaques
As baianas pisaram na Sapucaí vestidas como típicas cangaceiras. Já a ala de passistas “malícia fogosa” representou a visão do capitão aos confins do submundo, simbolizando o inferno com paródia, algazarra e festividade. A Swing da Leopoldina de mestre Lolo “um diabinho nordestino” apresentou em sua fantasia toda a fama de temido por seus feitos sanguinários que Lampião carregava, em uma fantasia vermelha e espalhafatosa como se caracteriza a moda do cangaço.
A bateria trouxe uma ala de zabumba e triângulo. Essa ala, junto com a sanfona do carro de som, mestre Lolo e o intérprete Pitty ficaram à frente da bateria junto na bossa de xote e xaxado, nos módulos de julgamento, se destacando na apresentação . A rainha Maria Mariá , em sua estreia à frente dos ritmistas, vestiu o figurino “a diaba quem me dera”. Antes do desfile, João Drumond falou aos componentes que é o melhor carnaval da escola dos últimos 20 anos. Já a presidente Cátia Drummond se esbaldou na frente da escola dançando e cantando muito o samba da escola. O carnavalesco Leandro Vieira, após coordenar a operação de entrada da agremiação na concentração, veio à frente do quarto carro.