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Pérola Negra comemora título do Grupo de Acesso II: ‘Missão cumprida com muito êxito’

Agremiação da Zona Oeste fechou a avenida Cardeal Santiago Luís Copello para deixar a comunidade festejar a taça o retorno ao segundo pelotão paulistano

Por Gustavo Lima e Will Ferreira

A temporada visando a folia do Pérola Negra foi coroado com o título do Grupo de Acesso II. Após disputar o terceiro nível do carnaval paulistano pela primeira vez desde 1988, a agremiação da Vila Madalena tinha a missão de retornar imediatamente para o patamar mais acima – e conseguiu. Com o enredo “Exu Mulher”, desenvolvido pelo carnavalesco Rodrigo Meiners, a Joia Rara do Samba conquistou o título da divisão com 270 pontos – em um desfile tecnicamente perfeito, que não foi despontuado pelos jurados no resultado final.

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Foto: Fábio Martins/CARNAVALESCO

Acompanhando as escolas de samba onde quer que elas estejam também em instantes de felicidade, o CARNAVALESCO foi para a avenida Cardeal Santiago Luís Copello, na região da Vila Leopoldina, onde fica a atual quadra da agremiação, para ouvir profissionais importantes da instituição.

Estreias

Uma das tantas características do Pérola em 2025 foi a chance dada a diversos nomes que pediam passagem no universo do carnaval paulistano. Para o papel de intérprete oficial, Bruno Ribas foi mantido – mas ganhou a companhia de Lucas Donato, do carro de som da Mocidade Alegre. Quem também veio da Morada do Samba foi Carlos Augusto Rezende, o Sombrinha, um dos diretores de bateria da “Ritmo Puro”.

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Foto: Fábio Martins/CARNAVALESCO

Sobre a contratação e a aposta em tais nomes, Sheila Mônaco, presidente da agremiação fez elogios: “Na verdade, sobre o Sombrinha, o Fernando Neninho não quis desfilar esse ano por problemas pessoais, e ficamos em dúvida sobre em quem apostar para o cargo. A ideia de chamar o Sombrinha veio do Rodrigo Meiners, nosso carnavalesco. Eu pensei que a presidente Solange não ia liberar, mas o não nós já tínhamos, então fomos tentar. Conversamos com todos e deu certo! Ele veio e o Lucas Donato também. Começamos o trabalho com os dois e ambos foram falando o que estavam sentindo, passando o que estavam achando. Eu tive o Jairo Roizen que me ajudou bastante nesse aspecto, também – sobretudo em relação ao Lucas. Ambos vieram para somar, realmente”, comentou.

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Sheila Mônaco, presidente da agremiação

Lucas Donato esteve presente na festa do título, na frente da quadra da escola, e também publicou nas redes sociais cliques da festa – em uma delas, uma foto com a taça dourado escrito “campeão”, todo sorridente, com outros componentes da agremiação. Ele também utilizou uma rede social para fazer uma publicação comentando o título falando que “Exu Venceu” e agradecendo a Joia Rara do Samba pela oportunidade.

Já Sombrinha apareceu na festa com o filho Marcos, que comia um salgadinho. Enquanto o rebento se alimentava, ele falou com a reportagem do CARNAVALESCO: “O título é especial por vários motivos. A escola passou por um momento muito complicado no carnaval 2025, essa queda para o Grupo de Acesso II – que é um grupo que não é a cara do Pérola, a escola é muito maior que isso. O pessoal da escola estava bem triste no começo da temporada e a escola foi buscar um enredo que fala sobre religião, um tema forte, para buscar impactar de todas as formas. A escola passou por uma reformulação na bateria, em alguns outros setores também. Foram muitas dificuldades, como a obra na quadra o ano todo, impossibilitando a gente de ensaiar lá, a gente tendo que ensaiar na rua – e, se chove, não tem ensaio, o viaduto alaga… vários problemas. O pessoal, para fazer o barracão, também passou por muita dificuldade. A escola literalmente tirou leite de pedra esse ano, juntar os componentes aqui na região da Gastão Vidigal não é fácil, é uma área mais escondida da Vila Leopoldina. Mas deu tudo certo, acredito que a missão foi cumprida com muito êxito. Vamos que vamos rumo ao Carnaval 2026”, destacou Sombrinha.

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Trabalho longo

Sheila também destacou como foi todo o processo para a escola ser campeã: “O trabalho foi bem difícil e intenso, porque são poucos componentes no Grupo de Acesso II e é pouco dinheiro. Com o dinheiro, não dá para fazer o carnaval. A gente teve que trabalhar muito para conseguir colocar um carnaval digno na avenida”, resumiu, enquanto cantarolava o samba-enredo da agremiação de 2025.

Quem também teve trabalho foi Sombrinha. Assumindo um trabalho que estava sob o comando de Fernando Neninho desde o desfile de 2018, o mestre de bateria falou sobre tudo que foi feito: “Cada mestre de bateria tem uma galera que o cerca. Todos os mestres têm pessoas de confiança que vêm junto da outra escola quando tem uma mudança, que acompanham um trabalho independente de ser da escola que o mestre era ou não, e essa galera acaba se juntando com as pessoas que são da própria escola. Aí a gente acaba formulando esse trabalho. A gente tem que mostrar para a galera que vale a pena vir até aqui ensaiar, que vale a pena pegar trem ou dois ônibus, atravessar a cidade toda semana, a conversa toda hora nos grupos de bateria dizendo que precisa de todo mundo. A gente sabe que esse ano foi mais uma temporada assim. A gente sabe que, quando a escola está no Grupo de Acesso II, as coisas são muito mais difíceis. Os ritmistas acabam, tem ritmistas que acabam não dando muita importância para os ensaios. Mas, graças a Deus, aqui no Pérola a gente não teve nenhum problema com isso. O pessoal abraçou esse trabalho desde o inicio. A galera também ficou muito contente desde a minha chegada. O Fernando Neninho também deixou um legado muito grande na bateria do Pérola, deixou um legado importantíssimo. A bateria do Pérola sempre foi reconhecida e o Fernando também deixou a marca dele. A bateria é reconhecida Brasil afora. Foi um ano bem desafiador, mas não deixamos de lutar. Chegamos nesse titulo junto com todos os setores, ninguém faz nada sozinho”, refletiu.

Gabriel Ferreira dos Santos, o Gabiru, diretor de Harmonia da agremiação, também comentou sobre as dinâmicas desenvolvidas: “Depois que aconteceu tudo ano passado, colocamos a bola no chão e trabalhamos muito, muito. A gente fez um carnaval muito seguro, muito técnico e, graças a Deus, deu tudo certo. No final deu tudo certo. A presidente acreditou no trabalho e trabalhamos os departamentos – inclusive a Harmonia, quesito no qual a gente perdeu nota. Trabalhamos em cima dos erros do ano passado e deu tudo certo. O desfile foi muito técnico. Eu falei para a presidente que a gente tem que fazer o que o manual do julgador pede. A gente não tem que fazer nada mais e nada menos”, pontuou.

Dando alguns detalhes do segmento cuidado por ele, Alê Batista, coreografo da comissão de frente da Joia Rara do Samba, também falou: “É uma sensação totalmente atípica. É indescritível! Eu sempre costumo trabalhar com a comissão a partir de agosto, com trabalhos mais a todo vapor entre setembro e novembro. Eu ainda não tinha o elenco no final do ano. Eu consegui formar o elenco, mas eu tive perdas. Em janeiro, eu precisei tirar algumas pessoas e colocar outras. Fora isso, eu tinha feito a coreografia de um samba só, mas eu não estava feliz. Tinham coisas que não estavam me agradando e eu resolvi mudar e colocar mais uma coreografia. Fiz isso em uma semana, foi um ano totalmente atípico. Foi sofrimento demais. Acho que esse titulo veio para falar que Deus está olhando para a escola. Foi para lavar a alma. A gente estava precisando”, comemorou.

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Retorno em cima da hora

Quem também pode falar de trabalho é o casal de mestre-sala e porta-bandeira. O ciclo começou com Kadu Andrade, que está desde 2023 na agremiação ao lado de Camila Moreira. A temporada, entretanto, começou com Bia Dias como defensor do pavilhão azul e vermelho. No dia 28 de janeiro, entretanto, para priorizar a saúde, ela se afastou do cargo. A escolhida para ser a sucessora foi a própria Camila. Ambos falaram sobre tudo que foi feito: “Como todos sabem, a Camila voltou faltando 26 dias para o Carnaval. A gente já dançava junto e, quando a Bia resolveu sair, a gente se perguntou quem chegaria. Todo mundo já pensou na Camila. Quando ela deu a palavra positiva para nós, nós ficamos muito felizes. Eu falei que seria mais fácil a gente correr atras desse resultado faltando 26 dias para o carnaval se fosse com ela. Foi um intensivão grande demais! A gente, no começo, saía todos os dias, todos os dias sem descanso, porque não tinha tempo. Graças a Deus a gente conseguiu gabaritar, trazer os 40 pontos para a escola e ajudar a escola a ser campeã”, destacou Kadu.

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Camila completou: “A gente fez um intensivão na melhor acepção da palavra. Aconteceu tudo da maneira que tinha que ser. Eu não queria mais saber de carnaval -o pessoal do Pérola, inclusive, achou que ia me chamar e que eu recusaria, que eu não queria saber mais deles. Mas, aí, entra a amizade que eu e o Kadu temos, as amizades que eu criei dentro do Pérola Negra, uma escola que me fez muito bem nos dois carnavais, uma comunidade que me acolheu muito bem a comunidade. Eu não tinha como deixar eles desamparados nesse momento. Ensaiamos todo dia que nós pudemos ensaiar e buscamos excelência com a ajuda da Ana Reis, que sempre tem que ser citada. Fomos felizes, fizemos o nosso melhor e deu certo”, comemorou.

A dupla, que gabaritou o quesito, comentou que estava ciente que passou muito bem pela avenida: “Nossa autocrítica foi boa. A gente entende que o mais importante ali é que nós saímos felizes, leves e contentes. Foram só 26 dias, mas foi muito intenso pra nós estar todo dia ali junto – quando não era ensaiando, era no ateliê para resolver a fantasia. Muita gente não sabe, mas a fantasia já estava pronta e eu tenho um biotipo de corpo totalmente diferente do da Bia. A gente correu atrás de fantasia, a gente também correu atrás de preparação física, mesmo que em pouco tempo. Foi um trabalho completão, a gente saiu feliz – e, para nós, isso importa muito. A nota é uma consequência. Se viesse esses 40 ou não viesse, a gente sabia que a gente deu o nosso melhor e estaríamos com a consciência tranquila. A gente saiu muito feliz, ainda mais com a nota 40”, comentou.

Kadu também falou sobre a sensação que teve ao cruzar a linha: “Eu já fiquei feliz porque eu consegui completar o trabalho desde o primeiro jurado até o último; Como a gente vinha ensaiando… vocês não sabem, mas a Camilan pegou a coreografia de jurado, que já estava pronta, e nós modificamos algumas coisas, óbvio, mas em uma hora que a gente ensaiou. Eu juro pelo meu filho, em uma hora ela estava com a coreografia pronta. Eu falei que, por conta da rapidez dela, não iria ser tão difícil. Isso já tranquiliza a gente. O trabalho fluiu mais rápido e nós fomos buscar, porque nós estávamos atrás de todo mundo, todo mundo começou antes. Mas deu certo! E, quando a gente saiu, a gente ficou feliz pelo resultado que a gente conseguiu criar. A gente só falou que trabalhamos e entregamos. O que vir é consequência. E, graças a Deus, a consequência foi maravilhosa. É especial”, afirmou.

Pouco depois, o mestre-sala falou sobre a relação que possui com Camila e deu um recado importante para a agremiação: “Eu e a Camila moramos no mesmo bairro. A gente mora a cinco minutos um do outro. Quando começamos como mestre-sala e porta-bandeira, começamos na mesma escola. Eu comecei em 2006, ela entrou em 2009, mas ela já era da escola antes de mim. Ela começou primeiro no carnaval e a gente foi do mesmo quadro. A gente já tem essa amizade, a gente já estudou junto, a gente já tem essa afinidade há muito . E estar aqui no Pérola Negra, novamente com essa retomada de parceria, é incrível. Ela saiu por conta de trabalho, disse que não conseguiria me doar 100%. A gente super entendeu e eu fiquei muito triste, porque ela é minha parceira de vida, amiga e tal, Entendi, fui parceiro. A gente entende como é que funciona a vida, tem a parte profissional; mas, graças a Deus, no final, ela retornou para a escola, retomou a parceria comigo e eu fico muito feliz. Conseguimos voltar à escola para o Grupo de Acesso I e, se Deus quiser, vamos trabalhar com os pés no chão novamente para retomar a escola para o Grupo Especial”, vislumbrou.

Camila aproveitou para se referir a um fato que aconteceu minutos antes da entrevista: “Ser no Pérola Negra é diferente para nós, tem um gostinho especial. A gente sempre foi bem recebido aqui. Quando eu voltei, as pessoas me receberam bem. Quando a gente desceu do carro, há pouco, a gente só veio trazer o pavilhão e a recepção da comunidade para a gente, explica tudo. O que era para acontecer, era para ser assim. Tem um gosto muito especial, porque, querendo ou não, a gente finalizou o carnaval do ano passado bem chateado. A escola acabou descendo e ninguém gosta desse resultado. Agora, voltar e ser com a gente de novo é tudo de bom”, comentou.

Grandeza

Tido como um dos grandes nomes do título, o carnavalesco Rodrigo Meiners também falou com a reportagem. Além de falar da satisfação com a apresentação e com o resultado, ele também falou sobre o que sente com relação à comunidade do Pérola: “Dever cumprido. Eu vim para o Pérola com essa missão de colocar a escola de volta no Grupo de Acesso I. Estou muito feliz – não só por mim, mas por todo mundo que subiu no palco para pegar o troféu. O tamanho do nosso desfile mostrou a dificuldade que a gente enfrentou para fazer esse desfile. A escola desceu, tivemos algumas dívidas e perdemos alguma parte da verba. O nosso carnaval foi 80% feito por voluntários. Todo mundo que subiu no palco virou a noite no barracão para decorar carro, forrar peças e terminar a fantasia. Me sinto muito feliz de artisticamente estar à frente deles nos quesitos plásticos. Fico contente também pelo êxito na pasta. Se eu não me engano, é o único enredo nota 40 do Grupo de Acesso II. Mas, de verdade, eu estou muito mais feliz por eles. Eu sei o quão magoados eles ficaram com o rebaixamento e o tamanho do esforço que eles fizeram. Abdicaram de suas vidas e de seus trabalhos”, observou.

Construção da poesia

Um dos compositores do exaltado samba-enredo do Pérola Negra foi Aquiles da Vila, que também esteve presente na festa do título. Ele contou como surgiu a oportunidade de escrever a obra: “Foi uma oportunidade que apareceu nos 45 do segundo tempo. O Jairo Roizen ligou para a gente e mandou esse desafio. A gente aceitou, foi pós-eliminatória e a gente achou que tinha acabado toda a jornada de 2024 para 2025 e não tinha, tinha mais essa demanda. Tivemos três ou quatro dias para fazer o samba e gravar. Foi uma história muito interessante que eu posso detalhar um pouco mais: a gente assumiu e sabíamos que seria um desafio muito grande – especialmente pelo enredo, que é uma responsabilidade absurda, é um negócio muito sério. Assumimos, fizemos, batemos no peito em relação à gravação como se a gente fosse fazer uma eliminatória, a gente que assumiu a gravação e fomos até o fim, como a gente costuma fazer. Nosso time reúne um tipo de compositores que gostam de participar sempre que a gente está envolvido no processo. Eu costumo dizer que a gente vai até o isopor das baias: a gente gosta de participar. No fim, a gente escolheu, a escola a escola escolheu e para a gente foi maravilhoso. Foi um grande momento. Estou muito feliz por isso, estou muito feliz mesmo”, comentou.

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Aquiles também aproveitou para elogiar o trabalho desenvolvido por Rodrigo Meiners: “Até para não falar só do nosso quesito e ficar exaltando a gente mesmo, eu acho que um grande carnaval começa com um grande enredo. E o Pérola teve um grande enredo. É um grande tema, muito bem desenvolvido, que acaba gerando um grande samba. Fomos felizes e, de novo, o grande enredo, o grande samba, proporciona um grande desfile. É natural. Pode acontecer uma fatalidade no desfile, mas a chance de vitória e de sucesso é muito grande. Tanto que o carnaval foi decidido a partir dos últimos dois quesitos lidos – e enredo foi o que decidiu o carnaval de maneira definitiva. A grande temática, um grande samba-enredo, traz uma boa evolução, traz uma série de coisas. A escola se firma, como a gente colocou no próprio samba, como o lugar de fala para esse tipo de assunto. O Pérola também trouxe toda a força de uma comunidade que estava com o resultado engasgado. Foi muito bonito”, orgulhou-se.

​Já pensando em 2026

Como uma gestora campeã, Sheila já está bem ciente do que espera da escola em 2026, quando volta a disputar o Grupo de Acesso I: ” A gente pode esperar sempre o melhor. Eu sou guerreira, minha comunidade é guerreira. O próximo passo, aos poucos, com humildade, é a gente conseguir ir para o Grupo Especial novamente”, finalizou a presidente.

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