Após o título em 2025, a Pérola Negra volta a desfilar no domingo de carnaval (15 de fevereiro), no Grupo de Acesso I do carnaval paulistano de 2026. Neste sábado (13 de setembro), a agremiação organizou um evento para revelar, de uma vez, os pilotos de fantasias e o samba-enredo da Joia Rara do Samba para o próximo desfile. Sexta escola a desfilar, com o enredo “Valei-me cangaceira arretada, Maria que abala é gira valente e Bonita que vence demanda”, assinado pelo carnavalesco André Machado, a obra foi composta por Lucas Donato, Aquiles da Vila, Fabiano Sorriso, Marcos Vinícius, Chico Maia, Mateus Pranto, Fabian Juarez, Biel e Salgado Luz. O CARNAVALESCO entrevistou importantes nomes da Pérola Negra para saber a respeito do samba-enredo da agremiação para 2026.

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Fotos: Will Ferreira/CARNAVALESCO

Lado a lado com a escola

Os compositores entrevistados pela reportagem foram unânimes ao fazer elogios à escola e a uma pessoa em especial: o carnavalesco da Pérola Negra. Biel começou: “Primeiro, o André entregou a sinopse para a gente. Ele sempre deu muita liberdade para a gente criar. Embora tenha a sinopse, tenham os setores a serem falados, a escola sempre deu uma liberdade para a gente criar, não ficar preso em determinados pontos”, destacou.

Falando sobre a dinâmica da composição em si, Fabian Juarez explicou: “A gente, primeiro, criou uma estrutura: nos encontramos presencialmente duas vezes para fazer o samba. Estava no meio de outras eliminatórias também, mas o enredo ajudou e a gente conseguiu criar muito rápido. Fizemos esses dois encontros, produzimos a letra inteira e levamos para a escola ver se faltava alguma coisa, entender melhor se tudo tinha sido abordado. O André fez pontuações, a gente mudou algumas coisas por sugestão dele e, na nossa opinião, essa ação só engrandeceu ainda mais a obra”, elogiou.

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Salgado Luz destacou que o samba-enredo já nasceu com uma cara mais boêmia, tal qual a Vila Madalena – bairro em que a agremiação está sediada: “Foram dois encontros. Durante uma noite a gente se encontrou, bateu papo, comeu uma pizza primeiro e teve muita resenha. Depois, a gente começa a compor. Mas foi super rápido, de fato o enredo ajudou. É um tema regional que proporciona uma riqueza melódica, também. Acaba sendo fácil criar. Foram dois encontros das dez da noite às duas da manhã. Resenha, pizza… duas madrugadas. Super rápido”, relembrou.

Refrãos como queridinhos

Quando perguntados sobre as partes favoritas dos sambas, todos os entrevistados destacaram as partes que se repetem na composição. Salgado Luz foi direto: “Pra mim é o refrão principal, quando a gente canta ‘Valei-me Maria Bonita’”, destacou.

Biel citou dois: “Gosto muito do refrão do meio, ele tem um balanço muito legal. Mas o refrão principal, para mim, é o ponto alto do samba. Acho que o samba é linear, mas o refrão principal é muito musical e ele tem contratempos bacanas”, comentou.

Já Fabian focou em um aspecto em específico da canção: “O refrão principal é a parte, para mim, mais rica. Tirando a parte regional do samba, é a parte mais rica melodicamente”, comentou.

Lucas Donato, que além de intérprete é compositor da obra, destacou a complexidade da canção: “Eu acho esse samba tão diferente! Ele começa num repente, aí depois volta para o samba-enredo, aí no refrão de meio a gente vai meio que para um samba de roda. A segunda do samba a gente já vai para o forró. E o final para o refrão a gente já vai mais com um samba-enredo”, refletiu.

O cantor, entretanto, não fugiu da pergunta: “A parte que eu mais gosto é o refrão de meio. Eu sou apaixonado pelo ‘Olê mulher grandeira’. Vai ser a parte que vai mais pegar, que é fácil. Acho que é uma parte que vai ser para cima, que a arquibancada vai corresponder. Acredito que a grande maioria que você perguntar vai falar isso também”, vislumbrou.

Dupla jornada

Apesar de ter muito mais trabalho, o fato de ser compositor e intérprete do Pérola Negra traz muitos benefícios para a escola e para o próprio Lucas: “Ser o intérprete e também um dos compositores ajuda bastante. A gente já fica com o samba na veia. Até quando a gente está fazendo samba, a gente já começa a imaginar o que a gente vai fazer na avenida, para passar para a ala musical e para toda a rapaziada”, comentou.

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Uma outra característica que tem muito menos a ver com a obra em si que com a divulgação da mesma também foi elogiada pelo intérprete: “Hoje foi a primeira vez que o samba foi pro mundo, e a gente até brincou que é difícil um samba não vazar. E, graças a Deus, a gente conseguiu guardar o samba a sete chaves”, destacou.

O intérprete também colocou fé no quanto o universo do carnaval nacional vai gostar da obra: “Acredito que a repercussão da mídia, do carnaval de São Paulo e do Brasil, vai ser tão boa quanto no último ano. A gente vai trabalhar bastante, vamos ajustar algumas coisas com a ala musical, com a bateria, para fazer um grande desfile com uma grande parte musical. Plasticamente a escola está muito bonita – seja de fantasias, seja de alegorias, já que eu vi uns desenhos muito legais. Estou confiante e muito feliz. Vamos, se Deus quiser, ir rumo ao nosso objetivo maior”, comemorou.

Ajustes mínimos

Sheila Monaco, presidente da Pérola Negra, destacou que o samba-enredo foi produzido já pensando nas características que a agremiação quer ter em 2026: “Esse foi um tema que o André falou e brilhou os meus olhos na hora. Assim que eles me apresentaram o samba, eu gostei, gostei muito. Na verdade, a gente fez algumas mudanças no dia mesmo em que ele foi apresentado, mudamos algumas palavras que a gente achou que não se encaixava e que ficaria difícil pra comunidade cantar. Mas foi muito pouca coisa, e a gente logo pensou que é isso que a gente precisa esse ano: o samba pequenininho, que as pessoas vão pegar fácil”, prometeu.

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Para falar da obra em si, André Machado destacou o sempre concorrido Grupo de Acesso I: “Gostei muito do samba. É um samba que é valente, um samba que é para frente. A gente estava precisando de um samba como esse. Estava comentando agora há pouco que a gente está num grupo que está muito forte, com escolas de sambas grandiosas (inclusive escolas pelas quais eu já passei) e que vem com temas bacanas. A gente precisava de um samba que levantasse a comunidade e desse força para que ela tenha vontade de cantar nos ensaios. Os compositores foram muito felizes!”, comemorou o carnavalesco.

O profissional não se fez de rogado para os compositores, pedindo algumas alterações: “Passei algumas coisas que eu achava que era legal em relação ao samba e que eu achei que a música tinha que trazer sobre Maria Bonita: esquecer a parte trágica da história, trazer essa história de uma forma bem alegre, contar de uma forma bem bacana, para que não criem dúvida na cabeça das pessoas do que a gente está falando. A gente conseguiu isso”, comemorou.

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Por fim, André destacou a reação que teve ao ouvir a música pela primeira vez ao vivo para toda a comunidade ouvir: “O samba foi muito feliz, os compositores foram muito felizes quando colocaram esse samba para a gente ouvir. E, no dia que eu ouvi, eu fiquei todo arrepiado, eu falei que tinha que ser esse samba. Apesar de ser um samba-enredo, ele pega algumas melodias do xaxado, do xote e do baião que acho muito legal. Vai funcionar bastante”, finalizou.

Dia cheio

Na conhecidíssima rua Fidalga, no coração da Vila Madalena, a Pérola Negra fez um evento bastante extenso para reunir a comunidade. A partir das 13h30, a agremiação serviu a tradicional feijoada – disponível até cerca de 17h. Pouco a pouco, o espaço foi preparado para os eventos mais ligados ao desfile de 2026 de agremiação.

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Após o aquecimento da Swing da Madá, bateria da agremiação, Maylli e Pedrinho foram empossados como casal mirim da agremiação. Toda a corte que virá à frente dos ritmistas também foi empossada: Joyce Rocha se mantém como rainha da bateria, com Ana Paula França como madrinha e Isa Moreira como rainha mirim. Também foi apresentada Tácia Gonçalves, nova musa da ala musical da Joia Rara do Samba.

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Segmentos da agremiação (como a comissão de frente, casais de mestre-sala e porta-bandeira e as passistas e malandros) se apresentaram ao som de grandes sambas da escola, e uma encenação teatral ligada à vida de Maria Bonita também teve vez. Logo depois, um dos grandes momentos da noite: a apresentação dos pilotos da agremiação, com diversas fantasias sendo muito apupadas pelo público presente no evento. Só depois de tal momento a Joia Rara do Samba se despediu do marcante “Exu Mulher”, campeão do Grupo de Acesso II em 2025, para, enfim, apresentar a canção de 2026.