O Paraíso do Tuiuti já tem hino para a próxima temporada. A agremiação de São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, vai retratar na Avenida a história de Xica Manicongo, considerada a primeira travesti não indígena do Brasil. O samba-enredo é assinado pelos compositores Claudio Russo e Gustavo Clarão. A obra, que está sendo finalizada em estúdio, chama atenção por versos que colocam o dedo na ferida ao lembrar o assassinato da população trans.
“Eu travesti / Estou no cruzo da esquina / Pra enfrentar a chacina / Que assim se faça”
O lançamento do samba-enredo vai ocorrer em uma grande festa no próximo dia 9 de agosto, na Cidade do Samba. Os ingressos já estão à venda, através da plataforma Guichê Web. Confira a letra do samba-enredo:
Só não venha me julgar Ô Ô
Pela boca que eu beijo
Pela cor da minha blusa
E a fé que eu professar
Não venha me julgar
Eu conheço o meu desejo
Este dedo que acusa
Não vai me fazer parar
Faz tempo que eu digo não
Ao velho discurso cristão
Sou Manicongo
Há duas cabeças em um coração
São tantas e uma só
Eu sou a transição
Carrego dois mundos no ombro
Vim Da África Mãe Eh Oh
Mas se a vida é vã Eh Oh
Mumunha
Jimbanda me fiz
N Ganga é raiz
Eu pego o touro na unha
A bicha, invertida e vulgar
A voz que calou o “Cis tema”
A bruxa do conservador
O prazer e a dor
Fui pombogirar na Jurema
Chama a Navalha, a da Praia e a Padilha
As perseguidas na parada popular
E a Mavambo reza na mesma cartilha
Pra quem tem medo o meu povo vai gritar
Eu travesti
Estou no cruzo da esquina
Pra enfrentar a chacina
Que assim se faça
Meu Tuiuti
Que o Brasil da terra plana,
Tenha consciência humana
Chica vive na fumaça
Eh! Pajubá!
Acuendá sem xoxá pra fazer fuzuê
É Mojubá
Põe marafo, fubá e dendê (Pra Exu)