A Colorado do Brás promoveu um grande evento para a sua comunidade neste último domingo. Uma festa junina na Rua Itaquí, começou pela tarde e durou até a noite com brincadeiras e comidas típicas, além de shows e outras diversões. Porém, a atração principal foi o encerramento, onde o carnavalesco Anselmo Brito discursou sobre o tema para a comunidade e o segundo pavilhão de enredo foi apresentado com show da ala musical da escola. O desfile irá homenagear o bloco Afoxé dos Filhos de Gandhi e já havia sido divulgado pelas redes sociais. Contudo, vale destacar que a alegria resume o sentimento da Colorado do Brás. Nitidamente a comunidade está bastante feliz com o retorno para o Grupo Especial e com o enredo que será apresentado na avenida em 2025.

Fotos: Gustavo Lima/CARNAVALESCO

Samba quase pronto

O presidente Antônio Ka, revelou que o enredo partiu do enredista da agremiação. A princípio a escola tinha outro tema inteiramente pronto, mas não deu certo e, devido a isso, a entidade do Brás preparou tudo para homenagear o afoxé. “Na verdade, esse enredo a gente trouxe para nós foi o Thiago Morganti, que é nosso enredista e mora em Salvador. A gente tinha uma outra opção de tema que não deu não deu certo, estava até desenhado, algumas coisas já tinham feito tudo certinho, mas não deu certo e eu acho que não era para ser. A gente conseguiu ir para esse caminho que o Thiago tinha na manga, ele fez um primeiro contato com o presidente dos Filhos de Gandhi, ele aceitou, porque não é fácil, tem mais de 70 anos de tradição. Conseguiu falar com o pai maior de lá também. Foi um marco, porque a gente gosta do afoxé e segundo que não é uma coisa robotizada”, contou.

Uma novidade na Colorado do Brás é que para 2025 a escola não irá fazer eliminatórias para escolher o samba-enredo. De acordo com Ka, isso se deve ao fato de que ouviu muitas coisas desnecessárias e quer poupar desgaste. Com isso, uma obra encomendada está sendo providenciada e quase pronta.

“Eu estou indo para o 11º ano como presidente e sempre foi eliminatória, só que você vai cansando de ouvir algumas piadas. Coisas como ‘já imaginava’, ‘já esperava’. Isso foi me atrofiando e também a gente tem hoje compositores preciosos na escola, como o próprio Léo do Cavaco, mestre Acerola, se precisar opinar ele opina, porque ele é de bateria. Você pega o próprio Jairo, diretor de carnaval, que faz samba. Então a gente tem pessoas na escola que são capacitadas para fazer grandes sambas. Por isso, já temos um samba 99% pronto. Também foi mais por falta de paciência para ser sincero. A gente escutou muita coisa nesse ano. A Colorado é mais uma das escolas de São Paulo que recebe mais sambas, sempre foi assim, e aí quem conhece a gente sabe. A gente escolhe junto com a comunidade, junto com a bateria e com todos os diretores”, declarou.

Pedido de paz, felicidade e amor

Com muita empolgação, o carnavalesco Anselmo Brito disse que a principal característica do enredo é a paz. A tônica do desfile da Colorado é o amor e felicidade que Gandhi pregava. “A Colorado do Brás, eu digo que ela não propõe um enredo, mas sim um tributo a um dos maiores blocos afoxés do mundo, que é os Filhos de Gandhi. Eu falo para a minha comunidade o seguinte: Não existe o acaso. Nós vamos abrir o carnaval em uma sexta-feira, que é dia de Oxalá. O bloco Filhos de Gandhi abre o Carnaval da Bahia, e ele tem como patrono Oxalá, porque ele traz a bandeira da paz. E aí, para este ano, qual é o propósito da Colorado nesse tributo? No momento onde todo mundo fala de guerra e de tantas coisas ruins, nós vamos levantar a bandeira de Gandhi e do Afoxé Filhos de Gandhi. Todos os anos o seu tema, que é escolhido para as aberturas do carnaval da Bahia, é sempre pedindo amor, paz e alegria. Nós vamos fazer isso daí, entrar no carnaval de São Paulo abrindo o desfile pedindo paz”, contou.

O artista celebrou o fato de ter conseguido o acesso com a escola e aproveitou para dar mais detalhes do enredo. “É muita felicidade e gratidão aos deuses indianos e aos deuses africanos. Eu vivencio junto com a nossa comunidade, um momento muito especial. E poder contar a história desse afoxé desde o seu início… porque todos sempre me perguntam: Por que filhos de Gandhi? O que tem a ver Gandhi? Tudo a ver. Porque eu venho retratando no meu primeiro setor como foi constituído o bloco. Um grupo formado por estipadores que trabalhavam no Porto de Santos, eles resolvem formar um bloco, e o primeiro nome era o Bloco do Coentro, que logo depois, um dos seus líderes, presidente, percebeu que eles queriam algo a mais, um nome muito mais forte, e aí, assistindo um dos filmes de Gandhi, eles viram que Gandhi era um personagem que tinha tudo a ver com aquele bloco, porque emitia e transmitia a paz”, explicou.

Em discurso de explanação do enredo para a comunidade, Anselmo soltou o grito de ‘Ajayô’ dizendo que seria a força da escola. De acordo com o carnavalesco, é um pedido de tudo o que há de bom. “Esse grito já é específico. Hoje ele é conhecido pelo poeta Carlinhos Brown, que também faz parte do desfile. Ele desfila há muitos anos com o Afoxé Filhos de Gandhi. Esse grito é de Gandhi, ‘Ajayô’ é o pedido de amor, de paz, de igualdade, de felicidade, tudo que é bom é a ‘Ajayô’. É isso que a nossa Colorado vai fazer, nós vamos dar o nosso grito de guerra lá dizendo ‘Ajayô’, mas é pedindo licença, amor, paz”, concluiu.

Preservar as características da escola

O intérprete Léo do Cavaco concorda com o projeto da escola e projeta bom resultado. O cantor diz que o desafio é se manter no Grupo Especial. “Eu acho que a escola acertou muito. É um enredo popular, que mistura ali a religião afro com o axé da Bahia. Pelo pouco que eu vi do projeto, vocês podem esperar que a Colorado vai fazer um grande espetáculo. O samba também, esse ano a escola optou por fazer a encomenda, já está encaminhado e a expectativa é a melhor possível. Se Deus quiser, conseguir um bom resultado, manter a escola mais um ano no Especial, que é o nosso principal desafio”, disse.

Léo está fazendo parte da composição do samba e diz que a obra encomendada ajuda na parte de ter a cara da escola. “Eu gosto da eliminatória, porém eu acho que a encomenda ajuda muito na questão de fazer sem pressão. A gente consegue acertar um samba melhor dentro das características da escola e do que ela precisa. Às vezes na eliminatória o compositor faz o samba pensando em ganhar, e não muito pensando no estilo da escola, no desfile. Acho que com a encomenda a gente tem essa vantagem. Podemos fazer um samba com a cara da Colorado. Eu sou um dos parceiros junto com o Thiago Meiners, Claudio Matos, Rafael Tubino e o Sukata também, que são compositores que já ganharam samba na escola, vêm ganhando em escolas do Rio e aqui em São Paulo também. Nós apostamos nessa parceria e tenho certeza que o resultado vai ser muito bom”, comentou.

Tema feliz

João Daniel, diretor de harmonia, comparou o enredo para 2025 com o “Hakuna Matata” de 2019. Desfile esse no qual a agremiação se apega bastante para abrir uma sexta-feira de carnaval. “Esse enredo, a gente veio buscando a mesma base do que fizemos quando voltamos três ou quatro anos atrás para o Especial. É um tema alegre que vai trazer com certeza o povo junto para a gente, e é o que estamos buscando. A escola é isso. É alegria, é felicidade e a gente tem buscado sempre isso em cima disso”, afirmou.

Dando a sua visão de um samba encomendado, o diretor exaltou os compositores dentro da escola e mostrou-se aberto ao novo. “Buscar algo novo também, porque a gente sempre vai no caminho da eliminatória, que é muito bom. Sempre temos muitos concorrentes. Sempre vem muita coisa boa e a gente fica com a cabeça cheia porque é um trabalho enorme fazer isso. A gente tem pessoas boas e compositores dentro da casa, inclusive o nosso cantor Léo e outras pessoas. Nós demos esse problema para eles resolverem e vai vir algo muito bom, com certeza”, disse.

Daniel elogiou a festa junina e disse que o caminho é levar atrações, pois a comunidade está gostando. “Eu estou indo para o meu sexto ano. A gente sempre fazia umas festas pequenas. De três anos para cá a gente resolveu trazer atrações, fazer algo diferente e é o que a gente tem feito com outros eventos, trazendo shows e artistas. Dessa vez tivemos algo um pouquinho menor de atração e de artistas, mas é algo que a comunidade pede. Deu acima de 500 pessoas aqui ou mais de 1000 no rotativo durante o dia, que a gente começou às 14 horas”, celebrou.