O Samba Carioca foi convidado para marcar a sua presença no Festival de Gramado, no Rio Grande do Sul. Os artistas se reuniram em Porto Alegre e de lá seguiriam em ônibus de turismo para a terra do cinema nacional. Entre eles estavam o compositor Nei Lopes e o cantor Jamelão, que eram vizinhos em Vila Isabel e, coincidentemente, ocuparam a mesma poltrona.
Na janela, Nei não sabia como tentar iniciar uma conversa com o cantor, sempre caladão, sentado no lado do corredor, brincando com os seus elásticos. Nei imaginou diversos argumentos e apelou para que o lhe pareceu mais prático:
– Mestre! – exclamou, sorridente, tentando ser agradável.
Jamelão continuou olhando para frente:
– Oi. – respondeu, secamente, sem demonstrar o menor entusiasmo.
Nei começou a perder o rebolado:
– O senhor se lembra de mim, né?
Jamelão, mais seco ainda:
– Lembro.
– Sou o Nei Lopes, compositor, seu vizinho, moramos na mesma rua, lá em Vila Isabel.
Jamelão, sempre olhando para a frente:
– Eu sei.
E nada mais foi dito ao longo de 130 quilômetros.