A Unidos da Tijuca realizou, na última quinta-feira, a semifinal de sua eliminatória de sambas-enredo para o Carnaval 2026. Quatro obras se apresentaram em busca de uma vaga na final, que acontecerá no dia 13 de setembro, um sábado. Os três sambas finalistas serão anunciados até segunda-feira. As apresentações mostraram bastante qualidade, mas um samba se destacou com desempenho superior. O CARNAVALESCO analisa o desempenho de cada obra abaixo.
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Parceria de Lico Monteiro: A parceria de Lico Monteiro, Samir Trindade, Leandro Thomaz, Marcelo Adnet, Marcelo Lepiane, Telmo Augusto, Gigi da Estiva e Juca abriu a noite, com Wander Pires à frente do samba no palco. Foi uma apresentação que credenciou a obra como fortíssima candidata ao hino da Tijuca em 2026. O samba manteve sua força do início ao fim, sem queda de rendimento. O refrão de cabeça emociona e mexe com os brios do componente, sem comprometer a poesia, seguido de uma belíssima primeira parte, com versos como: “me chamo Carolina de Jesus, dele herdei também a cruz, olhem em mim, eu tenho as marcas, me impuseram sobreviver, por ser livre nas palavras, condenaram meu saber, fui a caneta que não reproduziu, a sina da mulher preta no Brasil”.
O refrão central traz melancolia lírica em belos versos: “os olhos da fome eram os meus, justiça dos homens não é maior que a de Deus, meu quarto foi despejo de agonia, a palavra é arma contra a tirania”. A segunda parte apresenta variações melódicas de grande beleza, como no trecho “meu barraco é de madeira, barracões são do Borel”. Trata-se de um samba extremamente melódico e sentimental, que também se mostrou funcional e potente em sua excelente exibição na semifinal.
Parceria de Gabriel Machado: Charles Silva e Zé Paulo defenderam o samba de Gabriel Machado, Julio Pagé, Robson Bastos, Miguel Dibo, Serginho Motta, Orlando Ambrósio, Jefferson Oliveira e Lucas Macedo, segunda parceria a se apresentar. A obra manteve o alto nível da noite, com um refrão de cabeça sublime: “é verbo que sangra na carne da rua, clarão da justiça onde a noite é crua, a dor e a glória que a Tijuca traduz, em poesia… Carolina de Jesus”. Na repetição, a melodia do último verso já emenda com os iniciais da cabeça do samba, um recurso de grande efeito. A primeira parte tem menos variações melódicas, mas é extremamente inspirada em seus versos, como no trecho: “hoje a reparação tem minha exclamação, inspiração retinta, Bitita frente aos ecos do açoite, quem assina a autoria é Maria cor da Noite”. O refrão central mantém a qualidade: “em versos eu falei com Deus, ensinei aos filhos meus, o alfabeto da alforria, é o povo quem dita o vocabulário, conduz o meu dicionário, a ‘casa de Alvenaria’”. Nas duas últimas passadas, o samba sofreu leve queda de rendimento e a torcida acompanhou com menor ímpeto, mas, no geral, foi uma bela apresentação de uma obra de grande qualidade.
Parceria de Leandro Gaúcho: O samba de Leandro Gaúcho, Anderson Benson, Maia Cordeiro, Clairton Fonseca, Manoel Alemão, Paulo Marrocos, Davison Jaime e Fogaça Picanço teve Wantuir no comando com Wic Tavares no palco. O intérprete teve desempenho visceral, elevando e sustentando a apresentação de uma obra cujo refrão de cabeça é mais aguerrido, com melodia que projeta o samba para cima: “eu sou a voz dos invisíveis da calçada, no fim dessa praça, à sombra da cruz, se existe samba, existe luta, canta Tijuca, Carolina de Jesus (Carolina Maria de Jesus)”. No geral, a melodia apresenta poucos trechos em tom menor, o que reforçou a pegada do samba. A letra, embora menos marcante, tem versos inspirados, como no refrão central: “um quarto de despejo pra quem é Maria, não está na prateleira de nossas memórias, me diga, quando a gente pode ser artista? A tinta preta é que escreve a história”. O samba não alcançou o pico de rendimento dos dois primeiros, mas manteve firmeza até a última passada, ao contrário da parceria anterior, que oscilou.
Parceria de Arlindinho: Igor Sorriso comandou o samba de Arlindinho, Babi Cruz, Diego Nicolau, Adolfo Konder, Felipe Petrini, Luiz Pavarotti, Michel Portugal e Fred Camacho, última obra da noite. A apresentação contou com forte apoio da torcida, que cantou o refrão de cabeça a plenos pulmões nas duas primeiras passadas, sem o auxílio dos intérpretes, aquecendo a quadra e impulsionando a performance. O refrão teve ótimo funcionamento: “levanta a cabeça, preta!, ergue o punho, rasga o véu, tua luta é exemplo pras mulheres do Borel, no prefácio da história a Tijuca é a luz, assina: Carolina Maria de Jesus”. Embora o rendimento não tenha sido tão impressionante quanto nas primeiras passadas, manteve força e levantou componentes até do camarote. Os últimos versos da segunda parte possuem bonita melodia e preparam bem o retorno ao refrão principal: “daqui pra frente todo o mundo vai saber, que o livro é porta aberta para quem quer vencer, rainha, hoje o Carnaval tem a missão, ninguém solta mais a sua mão, e a gloriosa pretitude vai vencer”. É um samba mais funcional, com menos arroubos poéticos, em linha diferente das duas primeiras obras da noite, mas que obteve excelente desempenho na semifinal.