Em entrevista ao site CARNAVALESCO, a carnavalesca Rosa Magalhães relembrou histórias sobre carnavais da época de ouro de Pamplona, Arlindo e do próprio Joãosinho Trinta. Em 1971, o Salgueiro teve a honra de reunir na produção de um carnaval, Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues, Joãosinho Trinta e Maria Augusta. Rosa, também ajudou na produção, trabalhando no barracão junto com Lícia Lacerda. A carnavalesca cita as diferenças entre Arlindo, Pamplona e Joãosinho.
“Pamplona era mais conceitual e também era de resolver logo, não tem, não tem, tem, troca aqui e põe para lá. Essa velocidade de raciocínio, de tomar decisão. O João era diferente, uma hora ele achava que tinha muito vermelho, outra hora ele achava que estava muito branco. Ainda bem que eram só duas cores, se fossem três, seria um inferno na minha vida (risos). O Arlindo tinha menos envolvimento porque na época estava com uma novela que estava pegando lá na Globo. Ele estava mais envolvido nessa novela que eu não lembro qual era e ele ia muito pouco lá. Mas, encontrava com o Pamplona pois eles trabalhavam na mesma televisão. A gente não sabia tudo, mas você volta um pouco no tempo”.
Em relação aquele carnaval de 1971 no Salgueiro, Rosa lembra que o carnaval ainda era um universo muito machista, tanto que, na época, a então assistente, não frequentava a quadra da agremiação ainda no alto do morro.
“Era tudo muito diferente, naquela época o resultado era no quartel, e só iam duas pessoas de cada escola. Foi o Pamplona e o presidente. E eu disse , vou para porta do quartel? Não! Eu vou ficar na minha casa e fiquei sabendo do resultado pelo rádio, pois naquela época não tinha televisão, era no rádio que dava. E mulher não ia na quadra não. Não tinha esse negócio não. Eu nem sabia onde era a quadra para te dizer a verdade pois eu não ia. Hoje pode. Não é que as mulheres não fossem, tinha baiana e tudo, mas a gente, as moças que faziam os desenhos, não iam, não éramos nem convidadas”.
Com João, Rosa teve uma relação mais próxima de trabalho e explica como era a rotina.
“O João já era diferente a relação, porque o João era um bailarino, mas pela altura dele, nem sei se a técnica era boa porque nunca vi ele dançar, mas era difícil ele fazer um ‘padede’, porque uma bailarina para subir ficava maior que ele, ficava estranho. Ele fazia papéis de bruxo, de rato, povo. Ele dançava esses papéis que não precisavam ter um físico mais definido e tal. Mas ele tinha muita habilidade manual e começou a ajudar na confecção de roupas, detalhes do cenário, e fazer alguns objetos. E tinham outros no Theatro Municipal que também eram muito bons. Teve uma leva muito grande de profissionais que vieram do teatro para o carnaval, aderecistas, ‘peruqueiras’, maquiagem para comissão de frente. E o João se destacou, não só pela habilidade de fazer, mas pela habilidade de criar”, explica a carnavalesca.
Rosa também lembra de noites de muito trabalho e de como Joãosinho Trinta criava fantasias com materiais alternativos.
“Quando eu conheci ele, foi na época do Salgueiro, e ele ia lá em casa e a gente fica desenhando e ele me contando as histórias. E eu nunca tinha visto escola de samba e ele me contava aquilo e eu não entendia nada. Eu ficava as vezes a noite inteira conversando e desenhando porque tinha que fazer as coisas todas. Foi o início do isopor, ele comprava prancha de surf e virava escudo africano. Essas coisas de reaproveitar, balde de gelo virava chapéu de africano. Ele andava pela rua da Alfândega igual um cão farejador, procurando alguma coisa que servisse. O barracão era muito ridículo, porque era uma costureira, dois ajudantes do Joãozinho, eu, ele e a Lícia (Lacerda), seis pessoas. E ali a gente fazia os carros, os adereços dos carros. E quando ficava pronto, do lado tinha uma casa de uma salgueirense, que emprestava a casa, e de noite eu guardava os adereços todos prontos lá. Algumas coisas o Pamplona mandava fazer na rua, e assim a gente foi”, lembra Rosa.
Já com Pamplona a relação era de aluna e professor. No Salgueiro, por exemplo, Pamplona era quem se relacionava com presidência, diretoria, e tinha uma relação mais forte com Arlindo.
“Eles eram muito grudados, raramente, no carnaval, o Arlindo se separava dele. Só depois que o Arlindo saiu do Salgueiro, e o Pamplona não saía. O Pamplona ia umas duas ou três vezes por semana para ver se estava precisando de alguma coisa. A gente trabalhava na casa de um salgueirense que era arquiteto e que ele emprestava o quintal da casa dele que eu pintei com todas as cores e ele ficou ‘P da vida. Falei que ia voltar lá para pintar de volta, nunca fui(risos)’.
Sobre Arlindo, a carnavalesca disse que nunca descobriu foi a cor da escola do coração do artista que trabalhou no Salgueiro, na Mocidade, União da Ilha e Imperatriz.
“O Arlindo era muito opulento. Ele que inventou esse negócio de usar espelho no carnaval. Ele inventou várias coisas de solução plástica. Antes, botavam luzinhas, mas não serviam para nada, agora tem LED, você vê, mas uma luzinha, uma aqui, outra lá, não fazia efeito. As mudanças plásticas, que vieram antes do João (Joãosinho Trinta), de uma visão mais centralizada das coisas, vem do Arlindo. Ele era cenógrafo e figurinista e eu acho que fora de escola de samba, ele só dirigiu uma coisa que foi um espetáculo sobre o descobrimento do Brasil no teatro. Acho que ele ficou tão impressionado com isso que ele fez o descobrimento na Mocidade e ganhou, fez o descobrimento na Imperatriz e ganhou, o descobrimento cada vez ele fez diferente , mas era aquela visão daquela música com aquele espetáculo, com as danças que levaram ele a fazer tantos descobrimentos. O último carnaval do Arlindo ele fez foi na Imperatriz. E aí acabou morrendo no meio do ano. Agora, o coração do Arlindo para que lado batia eu não sei”.