A deputada federal Erika Hilton (PSOL) esteve presente na apresentação do samba enredo do Paraíso do Tuiuti na última sexta-feira, na Cidade do Samba. Animadíssima e radiante, a parlamentar caiu no samba ao som da bateria “Supersom”, do mestre Marcão, e de mãos dadas com a rainha da bateria Mayara Lima. Além de samba no pé e simpatia, Erika discursou e falou ao CARNAVALESCO, sobre a importância de se ter uma travesti negra como enredo de uma escola de samba no maior palco do Brasil, o país que mais mata pessoas trans e travesti no mundo. * OUÇA AQUI O SAMBA DO TUIUTI
“Eu ainda estou sentindo esse enredo, eu já sabia disso, mas estar aqui hoje, ouvir o samba e celebrar esse momento, eu sinto que nós estamos construindo cada vez mais um lugar de dignidade, de respeito as pessoas trans e travestis nesse país. Mesmo ainda sendo o primeiro país do mundo que mais nos mata, mesmo ainda enfrentando estatísticas de horrores como fome, pobreza, desemprego, violência, etc”.
O samba composto por Claudio Russo e parceria, sob encomenda da agremiação, caiu nas graças da deputada, que não encontra palavras para descrever seus sentimentos após se esbaldar com o samba no palco da Cidade do Samba.
“Esse samba coloca na avenida, na maior festa brasileira, a memória, a vida e a história daquela que primeiramente teve seu corpo tombado, violentado e agredido pelo ódio e pelo preconceito. Eu não sei descrever em palavras o que eu estou sentindo. Eu estou sentindo alegria, eu estou sentindo euforia, eu estou sentindo amor, eu estou sentindo que nós estamos levando uma história potente e transformadora para a avenida no Carnaval de 2025”.
Xica Manicongo, tida como a primeira travesti da história do Brasil, era uma escravizada africana que foi trazida para o Brasil e, assim como muitas pessoas trans e travestis no Brasil até hoje, Xica foi morta por apenas ser quem era. Condenada à morte pelo Tribunal do Santo Ofício, ela foi queimada viva em praça pública. Mesmo em um momento de alegria e celebração, Erika Hilton não deixa de citar o lado violento que a história de Xica e de mulheres trans e travestis no Brasil tem.
“Eu descobri a história da Xica há muito tempo. Eu acho que nós que somos pessoas trans, que pesquisamos, que buscamos as nossas referências, que são tão esquecidas e apagadas. A gente conhece um pouco dessa história e quando eu descobri eu fiquei muito triste, porque saber que a primeira travesti, não indígena do Brasil, foi morta da maneira como ela foi. Mas trouxe para mim a responsabilidade de levar adiante o legado da minha ancestral, de seguir lutando pela memória dela e de tantas outras que morreram por ser quem é. A história de Xica Manicongo é uma história triste, mas é uma história que nos dá força, é uma história que nos empondera, é uma história que nos aponta o caminho que deve ser percorrido para enfrentar toda a violência racista, transfóbica e misógina que ainda atinge a população negra, LGBT e as pessoas trans travestis”.
Muito empolgada para o desfile, a deputada não sabe e nem pensa qual vai ser o lugar que ela vem na escola, mas sim no impacto e importância que esse desfile e samba vai ter no Brasil e no mundo.
“Onde eu estiver no desfile eu vou estar muito honrada, muito feliz, muito alegre, porque só de estar aqui na festa da apresentação do samba hoje, por exemplo, eu já me senti muito agraciada e honrada de poder fazer parte dessa noite. Então para mim não importa. Se eu só estivesse assistido da minha casa, eu já estaria honrada de saber que a memória e a história de Xica Manicongo vão atravessar a Sapucaí e as pessoas falarão no samba do Brasil, no carnaval brasileiro, a palavra travesti de boca cheia”.