Fotos: Rebeca Schumacker
Rosas de Ouro 2025: galeria de fotos do desfile
Fotos: Rebeca Schumacker
Apesar dos erros, Barroca Zona Sul tem saldo positivo no desfile
A Barroca Zona Sul foi a segunda escola a pisar no Anhembi nesta sexta-fera de carnaval. Apesr dos problema que a verde e rosa enfrentou, o presidente Everton Cebolinha conversou com o site CARNAVALESCO e declarou que foi o maior desfile da história da agremiação.
“Acho que a Barroca fez o maior Carnaval da história. Coisa maravilhosa, escola cantando muito. Teve a situação com o segundo carro, um problema. O Carnaval é na pista, sempre falo isso. Mas acho que isso aí não deve prejudicar muito. Terá algo, mas não acho que vai prejudicar”.
Para Chris Brasil, coreógrafo da comissão de frente, a escola teve uma garra incrível apesar do ocorrido.
“Nossa comunidade veio junto conosco. É um trabalho de muito tempo, muito estudo, muita dedicação e estamos muito felizes com o resultado. Conseguimos sair no tempo, então agora é comemorar, foi lindo”, declarou Chris.
O mestre-sala Marquinhos Costa conversou em conversa com nossa equipe que alguns problemas aconteceram na dança do casal durante a avenida.
“Até o terceiro jurado conseguimos fazer a nossa dança. Fazer o que tínhamos ensaiado. No segundo jurado ficamos muito tempo parado na frente dele, não sabíamos o que
estava acontecendo. Só sei dizer que olhava para frente pensando que a escola ia andar e não andava e voltava. No último jurado a Lenita sentiu o ombro e não conseguia segurar o pavilhão e não conseguimos fazer a apresentação corretamente. Até tentei sair para o ponto cego e se Deus quiser será nossa nota de descarte. Fizemos o máximo possível para ajudar a escola.
Já Fernando Negão, mestre de bateria, elogiou os ritmistas da ‘Tudo Nosso’ e os diretores. Afirmou que o trabalho foi bem feito e explicou a ideia de não entrar no recuo.
“Gostei bastante da nossa apresentação. Tivemos um pequeno erro mas nada que vá comprometer nosso desfile. Felizmente tivemos que agir de outro modo, com uma estratégia diferente. Optamos por não entrar no recuo para não acabar com o trabalho inteiro da escola. Se Deus quiser vai dar tudo certo. Nunca havia passado pela experiência de não entrar no recuo, hoje foi a primeira vez. Mesmo assim conseguimos manter a bateria tocando legal.
Para o carnavalesco Pedro Magoo, o trabalho foi entregue pela escola.
“Se uma escola de samba tem um problema, tem um propósito, que precisa ser corrigido na pista. É preciso resolver esse problema e terminar bem. Conseguimos corrigir na pista o problema utilizando algumas estratégias. A direção de harmonia pensou rapido e deu certo. Eu gostei bastante do desfile.
Demais diretores da escola não quiseram falar com a equipe do CARNAVALESCO.
Unidos da Ponte mostra força e garra na Avenida
A Unidos da Ponte realizou um desfile baseado na emoção. Isso porque a escola foi uma das mais afetadas pelo incêndio na fábrica Maximus Confecções, em Ramos, perdendo grande parte de suas fantasias. Para entrar na Avenida com o enredo “Antropoceno”, que fala sobre a relação do homem com o planeta Terra, a agremiação contou com uma comunidade empenhada, que ajudou a reconstruir as fantasias com base no que foi recuperado da tragédia.
“São João de Meriti tem uma comunidade muito aguerrida, que foi para dentro da quadra e para os espaços de ateliês e ajudaram com força braçal para fazer com que a escola hoje viesse digna. Com a força deles conseguimos vestir todos os componentes para passar aqui na avenida. Estamos olhando aqui e vendo a comunidade feliz e digna, vestida, completinha, com malha. Isso é legal, porque eles não imaginavam isso”, comenta o carnavalesco Guilherme Diniz, um dos responsáveis por desenvolver o enredo da escola.
“Todo mundo foi dando um pouquinho de si para reconstruir tudo. Uma baiana ajudava com uma costura, a outra a colar os adereços, e acredito que foi assim em todas as alas. Foi a organização e a união que fizeram a força”, relata a baiana Silvinha Ramos, de 52 anos, moradora de Petrópolis, que, apesar de não ser conterrânea, tem um carinho especial pela Ponte, escola que já desfila há anos.
Um dos temas abordados no enredo da Azul e Branca é a relação do capitalismo com a destruição do meio ambiente. Para fazer essa comparação, a bateria veio representando os trabalhadores da extração de petróleo, que é uma das principais fontes da exploração desenfreada de recursos naturais no mundo atual.
“Eu acho que dá para interligar muito a temática da nossa ala com a questão do incêndio, que aconteceu em decorrência de uma negligência. As duas situações são negligências do governo, do Estado, tanto para o carnaval, quanto para o país em si, porque o desmatamento e a exploração fazem mal para a sociedade. É um problema cultural e geológico” explica a chocalheira Linda Inês Garcia, de 26 anos.
A auxiliar administrativo Bárbara Arthur Moura, que desfilou pela primeira vez pela Ponte, falou sobre o sentimento de passar pela Avenida sem competir, neste carnaval.
“A situação é muito delicada, pois foi um ano inteiro dedicado a estre projeto. Todo mundo se esforçou, para chegar 15 dias antes e perder todo o trabalho feito, que combinariam tanto com os carros que estão tão bonitos. É bem triste, não só para a ponte, mas para a Bangu e para a Império Serrano também. Mas, ao mesmo tempo, é bonito, porque mesmo com a escola vindo sem competir, os componentes estão querendo desfilar com garra. Eu, pelo menos, estou vindo bem animada. É triste saber que mesmo vindo magnífica, a escola não vai ganhar ponto, mas estamos aqui, resistindo nesse momento difícil”, diz com orgulho Bárbara de 26 anos, moradora de Magalhães Bastos que desfilou na ala 14.
O compositor Théo de Meriti acredita que a adversidade sofrida pela agremiação, dias antes do desfile oficial, serviu para unir ainda mais a agremiação.
“Nós viemos para conquistar o campeonato, mesmo sem estarmos na corrida por ele esse ano. Podem ter certeza que ano que vem a gente vem muito mais forte”, garante o compositor do samba-enredo, Théo de Meriti, que acredita que a adversidade serviu para fortalecer a escola.
Comissão energética e ‘casal foguinho’ dão o tom do desfile dos Acadêmicos do Tatuapé
Os Acadêmicos do Tatuapé desfilaram nesta sexta-feira pelo Grupo Especial de São Paulo no carnaval de 2025. A expressiva comissão de frente junto da brilhante atuação do “casal foguinho” formado por Diego e Jussara abrilhantaram o profundo enredo apresentado pela agremiação, que encerrou seu desfile após 62 minutos. A Azul e Branco da Zona Leste foi a quinta escola se apresentar com o enredo “Justiça – A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo lugar”, assinado pelo carnavalesco Wagner Santos.
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Comissão de Frente
Coreografada por Leonardo Helmer, a comissão de frente do Tatuapé foi intitulada “Deus do Caos e seus filhos – A dor inclemente” e se apresentou ao longo de duas passagens do samba. Fazendo uso de um grande elemento alegórico com uma escultura que lembrou uma espécie de demônio, o quesito encenou o começo da existência de acordo com a mitologia grega. O deus Caos envia seus filhos à Terra para causar desordem e espalhar o medo e a morte. Liderados pelo filho mais velho, Nix, as trevas propagadas entre os mortais levaram ao rancor que levou ao surgimento da expressão “Olho por olho, dente por dente”, uma definição do desejo de vingança causado em meio à escuridão e a confusão.
O quesito abre a narrativa do enredo centrado em si, servindo como fio condutor para o que os elementos posteriores do desfile sigam contando a história proposta. O primeiro ato da coreografia é todo executado no chão. Os atores estavam com roupas negras e maquiagens bem-feitas, e a coreografia é rica em expressividade, representando bem o conceito de caos da proposta da comissão. O segundo ato é todo em cima da alegoria, mais lento, mas sem perder a chamativa expressão nos rostos dos componentes, sendo essa uma forma atrativa de abrir o desfile da escola. A única observação fica para as duas labaredas na base da alegoria, na qual o efeito de fogo só foi observado em um dos lados enquanto o outro só soltava fumaça.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal do Tatuapé, formado por Diego Silva e Jussara Souza, se apresentou representando a “Justiça no Egito Antigo – Deusa Maat e o Faraó”. Em mais uma brilhante atuação do “casal foguinho”, a dupla não apenas cumpriu com maestria todas as obrigações do quesito como enriqueceu a coreografia com uma atuação dentro da temática das suas fantasias. A elegância e energia da dança de Diego e Jussara segue vívida e justifica a fama do casal que há muitos anos consegue trazer a esperada nota do quesito para a escola.
Enredo
O enredo do Tatuapé utiliza de elementos mitológicos, religiosos e históricos para narrar evolução dos conceitos de justiça pela humanidade. Desde os primeiros registros reconhecidos no mundo de um tipo de legislação até passar por momentos marcantes da história em que a justiça se moldou, muitas vezes se manifestando de forma oposta ao que deveria ser. A escola mostra vários exemplos de injustiças cometidas desde os tempos antigos na segunda parte do desfile, mostrando a partir do terceiro setor as lutas travadas em busca de um mundo mais justo para todos. A temática ficou clara dentro do conjunto de alegorias e fantasias, permitindo a condução da narrativa de acordo com a proposta sem dar chances para interpretações dúbias.
Alegorias
O Tatuapé apresentou um conjunto de quatro carros alegóricos com diferentes momentos representações dentro da narrativa do enredo. O Abre-alas foi chamado de “Justiça greco-romana”, representando aqueles que são vistos até hoje como os pilares das legislações que existem nos tempos atuais. O segundo carro representou a “Justiça de Xangô e a intolerância em nome de Deus”, exaltando o Orixá da justiça, mas representando também os crimes cometidos na humanidade sob pretexto de uma suposta “justiça divina” estimulada por religiões. O terceiro carro, a “(In)Justiça Social” foi uma alegoria dividida em duas metades, sendo a primeira escura, repleta de lixo das mazelas sociais e a outra dourada, com o luxo e a riqueza das elites, e tendo uma representação marcante da escultura “A Justiça”, que fica em frente ao prédio do STF, só que carregando o corpo de uma criança ao invés da espada contida na original. A última alegoria, chamada “Protegidos por Arcanjo Miguel, Luther King e Mandela são a inspiração para um mundo melhor” trouxe aqueles que ao longo da história se tornaram símbolos da luta política por justiça e liberdade.
As alegorias do Tatuapé conseguiram cumprir seu papel dentro da proposta do enredo explorando várias nuances da narrativa em cada um dos carros. Na parte de trás da última alegoria, um grande pergaminho com um manifesto de orgulho e resistência foi apresentado pela escola, encerrando o desfile de maneira marcante.
Fantasias
As fantasias do Tatuapé foram bem condizentes com os diferentes momentos da narrativa do enredo. As fantasias antes do Abre-alas representaram o surgimento do conceito de justiça e a primeira legislação reconhecida arqueologicamente. O segundo setor da escola contou com roupas que representaram religiões e o período medieval, onde a “Lei de Deus”, regida pelo homem, era usada como argumento para causar as mais diversas atrocidades. Do terceiro ao quarto setor, as fantasias passam a retratar a luta por uma sociedade democrática e os mecanismos desenvolvidos para tal, destacando na parte final do desfile a luta de diferentes minorias por justiça.
O conjunto de fantasias cumpriu com maestria a proposta de narrar um enredo tão denso como o escolhido pelo Tatuapé. A ala das baianas, simbolizando os Dez Mandamentos da Bíblia, simbolizou a abertura do Mar Vermelho de forma criativa com peregrinos ao centro e Moisés liderando a travessia. Em cima de um pequeno tripé. A ala dos “Guerreiros da Diversidade” também chamou atenção com um conjunto de fantasias dividido em fileiras que variavam dentro das cores do arco-íris.
Harmonia
A comunidade do Tatuapé é conhecida por ter um canto forte e presente, e novamente essa característica se fez presente no desfile. Com destaque para as alas dos setores mais ao fim do desfile, o coral da escola se destacou especialmente nos momentos dos apagões que a bateria praticou na parte final da letra do samba. Cabe a observação, porém, que alguns componentes aparentaram dificuldades para cantar por conta do volume das fantasias que usavam.
Samba-enredo
A obra que conduziu o desfile do Tatuapé é assinada por Turko, Zé Paulo Sierra, Silas Augusto, Rafa do Cavaco, Fabio Souza e Luiz Jorge, e na Avenida o samba foi defendido pelo intérprete Celsinho Mody. A letra tem uma construção complexa, mas conseguiu narrar em versos a proposta do enredo na sua totalidade. É intrigante, mas os momentos mais fortes da obra não estão em seus refrões, por mais que eles tenham permitido que a bateria trabalhasse bossas criativas. A riqueza poética da primeira e da segunda do samba, quando combinadas com a representação visual, fazem da música a trilha ideal para conduzir o desfile da escola como importante manifestação das demandas do desfile.
A narrativa do enredo esteve de acordo com a leitura da letra do samba conforme o desfile passou pela Avenida. A primeira parte da apresentação estava mais solta no entorno da obra, mas a segunda foi notada de forma bem linear. A obra contém momentos que permitiram variações de bossas e até mesmo um apagão fora do habitual, na parte final da segunda obra a partir do verso “Tatuapé, poder do povo preto está presente em nós”. A atuação da ala musical comandada por Celsinho Mody foi um espetáculo à parte, mostrando que em seu décimo desfile pela escola o intérprete segue em excelente forma.
Evolução
A escola conseguiu fechar seu desfile dentro do tempo regulamentar sem precisar acelerar o andamento, mas ao longo da Avenida algumas irregularidades foram notadas na compactação entre as alas da Revolução Francesa e da Constituição, e entre o terceiro carro e a ala logo à frente. Durante o recuo da bateria, a ala das baianas que veio logo à frente demonstrou dificuldade de manter sua organização, com algumas desfilantes abrindo espaços entre elas.
Outros destaques
A bateria “Qualidade Especial” comandada pelo mestre Léo Cupim fez uma grande apresentação ao aplicar bossas criativas por diferentes partes do samba, em especial no início da primeira parte da letra, no refrão do meio e no decorrer da segunda metade da obra. O apagão na parte final foi o grande destaque, contribuindo para elevar o astral dos desfilantes na Avenida.
A corte da bateria foi um espetáculo à parte. A rainha Muriel Quixaba, com uma fantasia dotada de asas, a balança da justiça e até uma máscara iluminada, levantou o público junto do rei Daniel Manzioni. A musa da ala musical, Simone Oliveira, chegou a dançar junto com o intérprete Celsinho Mody durante a Avenida, sendo também um destaque que também animou as arquibancadas.
Mancha Verde 2025: galeria de fotos do desfile
Fotos: Rebeca Schumacker
Com visual deslumbrante, União de Maricá faz desfile grandioso e deixa sua marca na Série Ouro
A União de Maricá foi a sexta escola a desfilar no primeiro dia da Série Ouro. Como diz a letra do samba, “Maricá chegou pra vencer”, e, pelo que apresentou na avenida, as chances dessa profecia se concretizar são grandes. A novata correspondeu às expectativas com um desfile que ressaltou todo o apuro estético do carnavalesco Leandro Vieira, entregando um espetáculo visual imediato, tanto em alegorias quanto em fantasias. Além do impacto estético, a escola se destacou pela narrativa bem construída do enredo, que foi contada de forma clara e envolvente ao longo do desfile.
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A agremiação levou para a avenida o enredo “O Cavalo de Santíssimo e a Coroa do Seu Sete”, que abordou a figura de Seu Sete, um Exu da umbanda carioca, em um desenvolvimento primoroso de Leandro Vieira. Outro ponto alto foi a comissão de frente, assinada por Patrick Carvalho, que impressionou com um conceito cênico impactante e uma execução de alto nível. A União de Maricá encerrou sua apresentação dentro do tempo regulamentar, com 54 minutos de desfile, consolidando-se como uma forte candidata ao título.
Comissão de Frente
O coreógrafo Patrick Carvalho foi o responsável pela comissão de frente. Em uma dupla jornada no Carnaval deste ano, também assinando o trabalho da Imperatriz Leopoldinense, ele entregou mais uma coreografia de excelência. A comissão, composta exclusivamente por homens, celebrou os dois personagens principais do enredo: Seu Sete da Lira e Mãe Cacilda. Para isso, utilizou um truque cênico semelhante a fantoches, em que os bailarinos representavam Seu Sete da Lira enquanto seguravam bonecas fielmente inspiradas na imagem de Mãe Cacilda. A coreografia foi intensa e marcada por constante interação com o público. No grandioso desfecho da apresentação, alguns componentes subiam no tripé que exibia uma grande escultura de Mãe Cacilda, enquanto velas vermelhas surgiam, reforçando o impacto visual do número.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Fabrício Pires e Giovanna Justo representaram Exu Sete Encruzilhadas e a Pombagira Audara Maria. Ele trajou capa e cartola com contorno carnavalesco, remetendo à indumentária característica da entidade que incorporou. Já a fantasia dela foi adornada com rosas vermelhas. Ambos vestiram vermelho e preto, e a beleza das roupas impressionou. A dança foi clássica e leve, mas, em alguns momentos, a coreografia se destacou, como no trecho do samba que dizia “o homem baixou pra te ver”, em que Fabrício simulava uma incorporação. Foram apresentações limpas, marcadas por sintonia e beleza.
Enredo
O carnavalesco Leandro Vieira mergulhou no universo da umbanda para celebrar duas personalidades que, pela relação construída, embora fossem dois, tornaram-se apenas um. Primeiro, Cacilda de Assis, a mais famosa mãe-de-santo brasileira entre os anos sessenta e oitenta. Junto dela, a figura de Seu Sete Lira.
Para contar essa história, o carnavalesco optou dividir o desfile em três setores, sendo eles: “Pode chegar no terreiro”, o desfile foi inaugurado com a proteção dos guardiões da porteira. Na sequência, o setor “Cavalo de muitos guias e cavalo de Seu Sete da Lira” apresentou os principais guias espirituais de Cacilda de Assis. Para finalizar, no setor “Na folia, recordar é viver” o desfile se encerrou de forma festiva abordando a íntima relação de Seu Sete, Rei da Lira, com a folia.
Leandro Vieira é craque em suas narrativas e não foi diferente dessa vez, o enredo, apesar de pouco conhecido do grande público, passou de forma clara pela avenida, com signos bem definidos e elementos que contribuíram para a fácil assimilação e leitura.
Alegorias e Adereços
O carnavalesco Leandro Vieira imprimiu sua identidade nas alegorias da Maricá, evidenciando sua assinatura em cada um dos três carros apresentados. O uso marcante das cores, o acabamento primoroso e a leitura imediata foram destaques. Em vez de apostar em alegorias gigantescas, o artista priorizou um cuidado minucioso nos detalhes.
O abre-alas, A Tronqueira, predominantemente vermelho, impressionou pelo esmero nas esculturas representando os povos de rua, além de uma iluminação bem trabalhada. Na mesma linha, o segundo carro, No Palco do Chacrinha, também se destacou pelo uso criativo da luz, trazendo uma concepção distinta do primeiro. Já a última alegoria, A Coroa do Rei, apostou em soluções simples, mas de extremo bom gosto, encerrando o desfile com chave de ouro.
Fantasias
Assim como nas alegorias, Leandro Vieira também derramou todo o seu talento no conjunto de fantasias da União de Maricá, proporcionando um espetáculo de cores, volumes e materiais de extremo bom gosto. A assinatura visual do carnavalesco esteve evidente em cada figurino, com composições sofisticadas e uma paleta cromática vibrante, reforçando a identidade do enredo.
O cuidado milimétrico nos acabamentos chamou atenção, com fantasias ricas em texturas e elementos cenográficos bem trabalhados. Muitas alas desfilaram com adereços de mão que complementavam a narrativa, ampliando o impacto estético. Entre elas, a ala 6, “Dor sem Remédio”, a ala 13, “Chacrinha”, e a ala 14, “Rei e Folião da Canjira”, que também se destacou pela maquiagem impecável, contribuindo para o requinte visual do desfile.
O primor no desenvolvimento das fantasias garantiu uma identidade coesa ao conjunto, equilibrando imponência e leveza na medida certa.
Harmonia
O trio de intérpretes Nino do Milênio, Matheus Gaúcho e Bico Doce foi responsável por conduzir o samba da Maricá e desempenhou bem a função. O ritmo começou acelerado, mas se ajustou ao longo do desfile. A comunidade, mesmo sendo de uma escola novata, mostrou um canto satisfatório, embora inconstante em alguns momentos, com alas que faziam pausas longas antes de retomar o samba. No entanto, de maneira geral, a harmonia musical transcorreu sem grandes problemas e contribuiu para impulsionar o grande desfile da agremiação.
Samba-Enredo
A obra de Wanderley Monteiro, Rafael Gigante, João Vidal, Vinicius Ferreira, Jefferson Oliveira, Miguel Dibo, Hélio Porto e André do Posto 7 teve uma passagem positiva pela avenida. Embora não tenha causado uma grande explosão na arquibancada, o samba foi bem executado e contribuiu para a fluidez do desfile. Alguns versos se destacaram ao longo da apresentação, como “No palco do Chacrinha tem fumaça”, que dialogou bem com o visual do carro alegórico correspondente, reforçando a conexão entre o enredo e o samba. O refrão principal também teve momentos de impacto, especialmente em sua parte mais envolvente, onde o canto da comunidade ganhou força.
Evolução
Apesar de manter a coesão durante boa parte do desfile, a evolução foi o quesito mais inconstante da escola. Tendo seu início extremamente acelerado. Na primeira cabine de jurados, após a apresentação da comissão de frente e do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, a escola arrancou com força, mas a ala que vinha atrás não conseguiu acompanhar, gerando um grande espaçamento. O problema, no entanto, foi corrigido nas cabines seguintes. Ao longo do desfile, a evolução transcorreu de maneira correta, com leveza, fluidez e sem atropelos, culminando em um encerramento tranquilo.
Outros Destaques
O desfile também foi marcado por momentos especiais, dentre eles a grande queima de fogos realizada pela escola no início. O prefeito de Maricá Washington Quaquá marcou presença e desfilou à frente da escola. A comunicação com o público também foi uma constante da apresentação e ao final, alguns gritos de “é campeã” foram entoados.
Samba e canto da comunidade se destacam em desfile da Estácio, mas escola peca em evolução
O início do desfile da Estácio de Sá foi animador com boas apresentações da comissão de frente e do casal de mestre-sala e porta-bandeira, aliados a um alto rendimento do samba e do canto dos componentes. Mas, do meio do desfile para o final, a Estácio que tinha uma evolução com fluidez, errou um pouco antes da entrada da bateria do segundo recuo, quando a ala de passistas abriram espaço dentro da própria ala, gerando um buraco em frente ao último módulo de julgamento, e, a partir daí, a escola não se encontrou mais na evolução correndo demais até a bateria sair do recuo. Já na parte plástica, o Leão trouxe um bom conjunto visual em termos de cores e soluções estéticas, mas problemas no acabamento dos carros pode custar alguns décimos da agremiação. Com o enredo “O Leão se Engerou em Encantado Amazônico”, a Estácio de Sá encerrou seu desfile com 54 minutos.
Comissão de Frente
Estreante na Estácio de Sá, Júnior Barbosa levou para a Sapucaí o ritual da Pajelança. Para isto, os componentes se utilizaram de um elemento alegórico que trazia a semente de tucumã que é envolta em lendas para os habitantes da mata, posicionada no topo da estrutura cenográfica de onde saía o pajé e descia para a pista junto com os seres encantados que iniciavam a apresentação em cima do tripé. No chão, os indígenas iniciavam o ritual e se misturavam a estes seres.
Nesta representação há uma visão onírica da diversidade amazônica e seus encantos, seres mágicos flutuam entre fantasia e realidade. Já os figurinos dos componentes homenagearam a ritualística dos povos originários, sob a liderança do pajé. No final, o leão estaciano, transvestido de verde amazônico surge mediado pelo pajé em uma das grandes surpresas da comissão para se tornar um encantado. A apresentação terminou com os seres encantados na pista. Apresentação muito boa em dança, sincronia, surpresas e figurinos. Único ponto negativo a se destacar era que o Leão estaciano que surgiu poderia ter sido produzido com um pouco mais de capricho.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Juntos nesse carnaval para defender o pavilhão da Estácio de Sá, Feliciano Junior e Raphaela Caboclo, se apresentaram na Sapucaí com a fantasia “Coaraci e Yaci: O Brilho da Vida e as Cores da floresta” que representou na figura do mestre-sala, através da bonita roupa dourada, todo o significado lendário de Coaraci, o sol, figura da mitologia tupi-guarani, responsável por dirigir o reino animal e garantir a manutenção da vida na floresta tropical. Já a porta-bandeira, em um azul cravejado de brilhantes e o colorido das matas na saia, encarna Yaci, a lua, engerada em sua versão carioca como guardiã das cores e da diversidade da vegetação na floresta tropical. O bailado da experiente dupla buscou pelo mais tradicional para o casal de mestre-sala e porta-bandeira.
Os dois optaram por não incorporar passos mais engessados de coreografia fora do bailado, porém, mostraram muita sincronia na dança sempre mantendo próximo as circunstâncias de movimentos, com os giros da porta-bandeira sempre na mesma intensidade do riscado do mestre-sala. Nos módulos pares o vento esteve bem forte, mas Raphaela, com toda a sua experiência, foi firme, não deixando que a bandeira não estivesse desfraldada e mantendo seus movimentos como se nada estivesse acontecendo, muito controle do pavilhão. Apenas no terceiro módulo, quando a porta-bandeira foi dar a bandeirada, o movimento acabou não saindo tão completo. No geral, o casal se procurou bastante e soube fazer bom uso do espaço para dançar, aproveitando o máximo, desfile quase perfeito.
Harmonia
Para esse desfile, quem comandou o carro de som da escola foi uma nova dupla, mas com velhos conhecidos da agremiação. Tiganá fez o seu terceiro desfile consecutivo e, desta vez, teve a companhia de Serginho do Porto, que voltou à comunidade do morro de São Carlos, instituição pela qual ajudou a subir para o Especial em um passado recente. A dupla mostrou entrosamento e solidariedade um com o outro, não havendo momentos de “disputa” de quem canta mais alto ou faz mais cacos, cada um respeitando o espaço do outro e fazendo uma boa apresentação. O carro de som, no geral, esteve muito sóbrio, mas focado em cantar o samba, sem poluir muito a obra, já que, inclusive, o ótimo samba da Estácio não precisava de muita pirotecnia. Os componentes também fizeram a sua parte e o canto foi uniforme, com correção e alto por toda a pista. Destaque para algumas alas como as baianas, “pajelança”, “Leão Guarini” e “Yará”. O canto contagiou inclusive quem assistia nas frisas.
Enredo
Pelo terceiro ano consecutivo à frente do carnaval da Estácio, e já renovado para o carnaval de 2026, o carnavalesco Marcus Paulo tentou fugir um pouco daquilo que passou nos últimos anos na Sapucaí sobre os povos originários e a Amazônia, com maior destaque com o Salgueiro em 2024 e Porto da Pedra em 2023. Por isso, o artista trouxe para a passarela do samba a história dos encantados amazônicos e como eles representam cada elemento, como defendem a floresta e como traduzem a cultura da região, tudo isso dividido em três setores e mais uma abertura.
Na abertura, inclusive, a escola trouxe a fusão do real e imaginário sintetizado na figura do Leão da Estácio de Sá, como Leão Guarani, iniciado em ritual para percorrer a mata amazônica. Logo em seguida, no primeiro Setor, a Estácio mostrou o Leão descobrindo a harmonia entre seres humanos, animais e encantados, se transformando entre si para proteger a floresta, sendo apresentado às lendas da Yara, boiúna e Naiá. No segundo setor, começou a apresentação de um conflito entre os seres que protegem a floresta, sintetizados na figura do curupira, contra a ganância e a destruição, presentes no homem branco, apresentando alguns desses defensores da mata que existiram como Chico Mendes e Dorothy Stang.
No último setor, a Estácio celebrou os festivais culturais da Amazônia e a riqueza do folclore regional, com maior destaque para Parintins e os bois-bumbás Caprichoso e Garantido. Ainda que, inicialmente alguns aspectos não fossem de tanto conhecimento do publico leigo, a ideia por traz do enredo foi passada de forma simples e com muita leitura, principalmente nos carros que dividiram muito bem os setores, com a Pajelança no abre-alas, os seres encantados e os defensores da mata na segunda alegoria e os festivais culturais na última. As fantasias de ala faziam o complemento da mensagem. Além disso, tudo que foi proposto pelo carnavalesco foi apresentado de forma lúdica, mas com muitas representações imagéticas.
Evolução
A Estácio de Sá começou o desfile bem neste quesito, com o samba valente levando a evolução um pouco mais pra frente, com a comissão chegando rápido nos módulos, mas sem correria e fluidez, não fazendo com que o desfile tivesse grandes momentos de parada, ainda que houvesse os quatro módulos. Porém, depois da última apresentação de comissão de frente e casal, a agremiação apressou demais o passo e não se preparou como devia para a entrada da bateria no segundo box. A ala de passistas a frente foi o motivo do problema. Uma parte dos componentes se apressou e a outra ficou no caminho ainda para aguardar o momento dos ritmistas iniciarem a manobra. O que gerou um buraco dentro própria ala bem em frente do último módulo de julgamento. Alguns passistas chegaram a retornar para o ponto inicial. Após essa situação, a bateria entrou até bem no recuo, mas a escola passou a acelerar o passo ainda mais até passar os setores todos e a bateria voltar para a pista. O final do desfile com a bateria se apresentando foi satisfatória, mas já com o quesito um pouco mais comprometido.
Samba-enredo
A obra de 2025 da Estácio de Sá que passou na Sapucaí é de autoria dos compositores Júlio Alves, Claudio Russo, Magrão do Estácio, Thiago Daniel, Filipe Medrado, HB, Serginho do Porto, Diego Nicolau, Tinga, Adolfo Konder, Dilson Marimba e Marquinhos Beija-Flor. O samba tem um refrão principal forte “Eu vou, eu vou” e a obra, ainda que no seu caráter inicial não era tão para frente como outras obras que a Estácio já levou para Sapucaí, foi bem preparada para este desfile ficou bem a caráter, inclusive da Bateria Medalha de Ouro, com valentia mas sem comprometer a sua ótima linha melódica.
O samba teve passagens com destaque de canto forte como o refrão de baixo, como “Pelo amor de Deus Tupã/ Pelo canto da Yara”, “Eu sou o dom de resistir, eu sou Estácio”, e “Verde pra viver, ver de ser humano/ Neste coração Estaciano”. Nas bossas, um toque de marujada que davam um charme ainda maior para o samba. No geral, um samba valente como o estaciano gosta, mas com passagens muito ricas melodicamente, que contagiou inclusive o público, muitas pessoas cantando e curtindo nas frisas.
Fantasias
Esteticamente a Estácio mostrou um bom conjunto de fantasias, que produziam no desfile uma boa paleta de cores, bem relacionada, inclusive com a temática que estava sendo retratada no setor. No início uma maior predileção pelo verde como visto na fantasia das baianas que representavam “Iamandacy a mãe da mata”, nos tons mais clarinhos, para destacar a mãe da mata e encantada responsável por conceder a permissão para adentrar a floresta. Depois, no segundo setor, a escola procura um colorido maior ao falar de forma mais intensa dos homenageados no enredo, os encantados amazônicos como a ala 10 “Curupira: a força da natureza engerada”, a ala 11 “Guajara: lança feitiços” e Yara, da número 8. No final, a paleta de cores segue um colorido do setor do meio. Destaque para fantasias que falam sobre os festivais como “Adana Encantada do Festribal” e Peixe-boi Engerado”. No geral uma ótima utilização das cores, das formas, como bonitos costeiros, mas, ainda assim, com a qualidade um pouco menos esperada no aprumo dos materiais utilizados nas fantasias. É de fato difícil muitas vezes a realidade da Série Ouro, mas a Estácio poderia caprichar um pouco mais na finalização dos matérias que foram levados para a Sapucaí.
Alegorias e adereços
Além da evolução, alegorias e adereços foi um quesito problemático para a Estácio. Não pelo visual em si que esteve muito bonito, mas principalmente no acabamento. O Abre-Alas “O Rei Do Samba Engerado e os Encantos da Floresta Amazônica” fugiu um pouco do tradicional vermelho da escola, possuindo o forte verde amazônico, de acordo com o enredo, inclusive na figura emblemática do leão. Nele, uma floresta Xamânica e algumas esculturas muito grandes. A alegoria aludiu artisticamente ao universo da Amazônia com o Leão estaciano emergindo a partir do ritual da pajelança. Na composição dessa alegoria, encontram-se também árvores majestosas e aves de algumas espécies que tomaram forma como a diversidade vegetal. Apesar da beleza, houve falhas no forro da alegoria.
Em seguida, a escola trouxe a alegoria “Encantados Eternos: Guardiões da Floresta” representando o encontro do Leão com o universo dos encantados, seres que incorporam os elementos e riquezas da floresta. Carro muito colorido, porém, com rasgo perto do cocar do índio que vinha a frente do carro. O último carro “Festas e Festivais da Floresta No Templo Dos Sambistas” encerrou o desfile celebrando o encontro entre os festivais culturais da Amazônia e o samba carioca. A cenografia traduziu as festas amazônicas, que misturam elementos da natureza e da cultura local e ribeirinhos, entrelaçados com os símbolos do samba carioca, reforçando a conexão entre os guardiões da cultura amazônica. Uma alegoria muito colorida, ainda com o verde bastante presente em todo o desfile da Estácio de Sá e um grande arco com cerca de 16 metros de altura, representando a Apoteose no final, mas com a divisão de cores, no azul e vermelho do Caprichoso e Garantido. A alegoria também apresentou problema de acabamento na sua parte de trás. Conjunto alegórico bonito, mas problemático.
Outros destaques
A Bateria “Medalha de Ouro”, de mestre Chuvisco, veio como “invasores: cobiça” representando os primeiros vindo do continente europeu que deslumbram-se com as belezas amazônicas. A rainha Tati Minerato, estreando no posto na Estácio, depois de alguns anos na Porto da Pedra, veio com o figurino “encantando o olhar dos invasores” fazendo alusão às riquezas e biodiversidade da Amazônia.
Os passistas vieram com a fantasia ” Ganhabora: Trança Pés” que representou um dos sete espíritos protetores, “Ganhabora”, o obstáculo intransponível para os gananciosos e desmatadores da floresta. No final do desfile, o carnavalesco Marcus Paulo estava em êxtase e muito feliz, encontrou próximo do setor 10 a carnavalesca Annik Salmon com que trabalhou na Tijuca e lhe deu um grande abraço. A musa Alessandra Mattos também roubou a cena com samba no pé e beleza.