Entrevistão com o presidente Tê: ‘O que fizeram pelas Escolas de Samba na pandemia? Acho que a gente tem que dar mais valor ao maior espetáculo da terra’
Desde o seu belíssimo desempenho no carnaval de 2013 com o enredo “Negra, Pérola Mulher”, desempenho esse que levou a escola ao Grupo Especial, o Império da Tijuca tem se mostrado um forte candidato aos títulos. Apesar de seu rebaixamento em 2014 com o enredo “Batuk”, a escola não se deixou desanimar e promete brigar por mais um campeonato este ano.

O ótimo desempenho da escola nos últimos anos, muito se deve a excelente escolha de profissionais e a sua ótima administração. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, o presidente da escola, dividiu seus sentimentos e nos disse o quanto o inesperado rebaixamento da agremiação, o qual é repercutido até hoje por boa parte dos sambistas, o afetou.
“Eu assumi a escola no Grupo B, na terça-feira de carnaval, então vim trabalhando e melhorando ano após ano para chegar no nosso objetivo. Em 2013 depois que o Império da Tijuca entrou, não precisava desfilar mais ninguém não, foi um rolo compressor. Eu sou suspeito para falar, mas todos que viram concordaram. Já em 2014, eu não merecia descer, foi a maior injustiça que fizeram com o Império da Tijuca. Abriu o carnaval, e não é porque eu sou presidente, mas eu nunca vi uma abertura levantar tanto o público, naquele ano eu ganhei a maioria dos prêmios de comunicação com o público e não ganhei um dez. Até hoje me pergunto onde eu errei. Vi muitas escolas mais erradas que o Império da Tijuca que ficaram na nossa frente. Se o julgamento fosse à vera, certamente estaríamos entre as seis”, lamentou Tê.
Em 2019, o presidente decidiu apostar no jovem talento chamado Guilherme Estevão. Após a liberação de Marcus Ferreira para a Unidos do Viradouro, Tê comentou a chegada do artista na Verde e Branca da Tijuca.
“O Guilherme é um novo talento. Estávamos com o Marcus Ferreira, liberamos ele para a Viradouro e logo fizemos uma inscrição para a escolha de um novo carnavalesco. O Severo acabou indicando o Guilherme e eu fiquei de ver. Ele veio até nós, mostrou os carnavais que já tinha feito e ficou. Foi como o Juninho Pernambucano, nunca tinha feito o carnaval do Rio, eu trouxe ele de Três Rios e ganhou o título, fez o Especial e virou um talento do carnaval”.
Cidade do samba 2
Diferente da maioria das escolas do Grupo Ouro, o Império da Tijuca hoje, possui seu próprio barracão e na localização dos sonhos de qualquer agremiação, em frente à Praça da Apoteose. Apesar disso, caso a escola suba para o Grupo Especial, o presidente se preocupa quanto ao lugar que o Império ocuparia na Cidade do Samba e aproveitou para dizer a importância de um urgente planejamento para uma Cidade do Samba 2.
“Com certeza temos uma logística muito boa, até porque tiramos os carros do barracão e eles já entram na avenida, e acaba o desfile a gente já volta para o barracão. O Império da Tijuca se prevaleceu muito disso, então no quesito logística é uma grande vantagem nossa. Foi a melhor invasão que eu já fiz”, brinca Tê
Mesmo com a ótima localização de seu barracão, o presidente não deixou de mostrar sua insatisfação com a falta de recursos que as escolas da Série Ouro possuem, seja para permanecer no grupo ou até mesmo se manter no Grupo Especial.
“Todas as melhorias feitas são sempre ao Grupo Especial. A gente aqui é um degrau abaixo do Especial, então precisamos da mesma estrutura para conseguirmos chegar lá em cima. Muitas das vezes é falado que as escolas do acesso não possuem recursos para se manter no especial, mas também não nos ajudam nessa questão”, desabafou.
Preocupado com o rumo das coisas e com o destino das escolas, concluiu: “Eu acho que para maior organização, devido ao Especial ter a Cidade do samba, a Série Ouro deveria ter uma também, até porque, você me diz ai para onde vai uma escola rebaixada da cidade do samba se ninguém tem barracão? Então a gente precisa ter. Quando foi feito o projeto da Cidade do Samba 1, automaticamente já deveriam ter pensado na Cidade do Samba 2. Será que ninguém ia descer? Não teria disputa? Se o Império da Tijuca sobe hoje, que lugar ela ocuparia na Cidade do Samba? Aqui a gente pretende fazer a nossa quadra, pois não liberamos barracão, então a engenharia que montou a Cidade do Samba 1, teria que ter o projeto da Cidade do Samba 2. O carnaval muitos dizem que é a maior festa cultural brasileira, mas não é, pois não tem valor nenhum, tiro isso pela pandemia. O que fizeram pelas escolas de samba na pandemia? Acho que a gente tem que ter mais valor e relevância ao maior espetáculo da terra”.
Enredo e samba
Mesmo com todos os empecilhos, a escola promete não só para a comunidade do Morro da Formiga, e sim para todo o público um ótimo espetáculo. A escola conta com 1500 componentes, 20 alas, 3 carros e 2 tripés, sendo um da comissão de frente.
O Império da Tijuca é sempre reconhecido por seus ótimos sambas, que ocorrem por consequência de enredos muito bons. Quando questionado sobre o assunto, o presidente fez questão de declarar: “O Império da Tijuca devido ao enredo vem fazendo grandes sambas, e a importância do samba é fazer 80% da escola na avenida. A facilidade do povo em cantar, a empolgação, tudo isso é muito importante. Não temos um samba arrastado, é um samba para frente, então faz muita diferença na busca pelo sucesso. Já tivemos sambas muito bons como: Negra Pérola, Batuk vai tremer e por aí vai. Eu acho que o Império da Tijuca está de parabéns não só pela minha administração, mas pelo grande samba que temos. 21 de abril, queria dar esse presente para a minha filha por ser aniversário dela. Mas certamente o Império da Tijuca está pronto, se pormos o desfile à vera, a escola briga pelo título”.
COMEÇOU O CARNAVAL 2022! REI MOMO JÁ ESTÁ COM A CHAVE DO RIO
Por Lucas Santos e Walter Farias
Rei Momo declara aberto o Carnaval 2022 no Rio de Janeiro. #carnavalesco pic.twitter.com/w8a9Y6Tr4D
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Após cinco anos, o Rei Momo do Rio de Janeiro volta a receber a chave da cidade do Rio de Janeiro das mãos do prefeito do município. A cerimônia aconteceu no início da tarde desta quarta-feira, no Palácio da Cidade, na Zona Sul. Em seu discurso, o prefeito Eduardo Paes exaltou a força do carnaval e das escolas de samba.

“Saudar essa dupla fantástica da Beija-Flor, Claudinho e Selminha, a nossa dupla do Rio, Isa e Raul, o nosso Rei Momo, a Daniela Maia, que acabou de nos deixar na Riotur, mas organizou tudo do carnaval, e também a nossa Banda da Guarda Municipal. Passaram, infelizmente, alguns anos sem que essa cerimônia pudesse acontecer. O carnaval é a maior manifestação cultural da nossa gente. O maior símbolo do nosso país. Tem relação com nossa ancestralidade e a formação do Brasil. Lamentavelmente, essa cerimônia deixou de acontecer nos últimos, mas o carnaval e o samba resistiram. É muito importante viver esse momento. É uma honra entregar a chave da cidade para o Rei Momo. Vocês não sabem o quanto esperei por esse momento. Nos próximos dias vamos celebrar a vida e nossa cultura, apesar de todos os pesares, passamos por muitas dificuldades na pandemia. É uma honra transferir todos os poderes e responsabilidades da prefeitura para o Rei Momo. Ele assume o comando da nossa cidade”, disse o prefeito Eduardo Paes.
Rei Momo recebe a chave da cidade do Rio de Janeiro. #carnavalesco pic.twitter.com/Rbqdlw726h
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Entrevistão com Fernando Horta: ‘estou altamente tranquilo, sabendo que levo um carnaval para disputar’
Presente na vida da Unidos da Tijuca desde os anos 80, José Fernando Horta de Sousa Vieira, o presidente Fernando Horta, tirou a escola de uma fila de mais de 70 anos. A escola só havia sido campeã uma vez antes do dirigente, em 1936. Português de nascimento, mas carioca de coração, Fernando Horta deu a primeira chance ao carnavalesco Paulo Barros no Grupo Especial em 2004, sendo vice-campeão neste ano e no ano seguinte revolucionando o carnaval. Essa parceria que teve muitas idas e vindas levou a escola aos títulos em 2010, 2012 e 2014, mudando o patamar da Amarela e Azul do morro do Borel. Próximo dos 70 anos, o presidente da Tijuca vai completar 21 anos seguidos no cargo, e teve ainda outras duas passagens que somadas completam 30 anos só como presidente, fora a marcante presença em outros mandatos de 1987 para cá.
Em entrevista ao site CARNAVALESCO, o empresário português do ramo da vidraçaria, natural de Felgueiras, comentou o tão esperado tombamento da quadra da escola, explicou sua relação com o carnavalesco Paulo Barros, expôs seu pensamento sobre a sucessão a frente da Unidos da Tijuca, revelou os bastidores da decisão de colocar Wic Tavares como microfone principal da agremiação ao lado do pai Wantuir, e por fim, se disse totalmente confiante em um grande desfile da Unidos da Tijuca no Carnaval 2022.
Após tanto sufoco o que representou para você e para a Tijuca o tombamento da quadra?
“Representou muito, isso nós estamos lutando desde 1992. Agora a escola ficou com uma situação mais tranquila, temos que resolver o resto, mas acho que foi bom para mim, até porque eu queria quando acabar o meu ciclo na Unidos da Tijuca deixar a escola mais bem estruturada. Foi importante para mim pessoalmente e mais para a escola. Acho que foi uma coisa justa até porque aquilo ali praticamente é terra de ninguém. A Tijuca está implantada ali desde 1992. A Tijuca não invadiu, pagava um aluguel anos e anos, era do Clube dos portuários, depois passou para administração das docas, depois venderam para o Porto Novo, e depois venderam para o fundo da Caixa, uma confusão danada, e a Tijuca tinha um contrato feito com a União, com as Docas, e a Tijuca estava se propondo a adquirir aquele espaço que ocupava, 2800 metros quadrados, com um contrato separado, com todas as instalações separadas. E nós tentamos fazer um acordo que foi aquilo que eu sempre lutei, e agradeço pela votação na Câmara de Vereadores, praticamente unânime, e agora a luta continua porque agora a gente tem muito mais segurança para fazer uma adaptação melhor, de reforma, de melhores instalações. A Tijuca gastou ali uma fortuna, mas sempre fazendo puxadinho, nada em condições daquilo que eu sonho em deixar para a Unidos da Tijuca”.
Qual é seu desfile inesquecível na Tijuca? E por qual motivo?
“É o mesmo carinho sempre, quando eu começo a fazer um carnaval, para mim o carinho é sempre igual. Até porque a hora que eu perder esse ânimo, eu estou fora. Agora logicamente tem uns que acontecem mais do que os outros, isso é natural. Agora o meu carinho é sempre igual para cada desfile”.
Era possível imaginar que um português se tornaria um dos maiores dirigentes de uma escola de samba do Rio de Janeiro?
“Não, primeiro que eu assumi a escola sem querer. Não tinha pretensões nenhuma. Não tenho agora. A escola faz eleições. Dessa época que eu milito na escola já teve três ou quatro presidentes. Claro, eu sempre junto. Eu mesmo não sei explicar. Eu era jovem, me empolguei. Logicamente que a Tijuca era uma escola de médio porte e eu sempre na vida, tudo aquilo meu, de pequeno se tornou grande, então a Tijuca hoje é uma escola grande. Grande que eu digo, não quer dizer financeiramente, a gente luta todo ano para fazer carnaval. Agora, eu sonhar que eu queria ser grande, eu não queria não. Eu entrei por acaso, entrei porque estava envolvido, a escola teve um fracasso, me achei um pouco responsável, houve um pedido muito grande da comunidade para eu assumir a escola, e a gente está aí. E eu me considero tão carioca quanto você ou qualquer um. Eu vim para cá jovem, tinha 11 anos, eu amo esse povo e essa cidade. Muitas pessoas que estão aqui no Brasil estão por que tem que estar, eu teria outras opções de vida graças a Deus, talvez mais confortável e com mais tranquilidade, e continuo aqui. Eu sempre andei envolvido na arte do carnaval e foi acontecendo”.
Vamos voltar lá atrás em 2004. Em algum momento, você ficou preocupado com o que seria o desfile quando olhava o trabalho do Paulo Barros no barracão? Aliás, você fala sempre do carinho pelo Paulo Barros e ele, por você. É o maior artista da história da escola?
“Não, a Unidos da Tijuca tem e teve grandes artistas. Eu acho que a única que não passou por aqui ainda foi a Rosa. Já passou o Renato, passou o Paulo Barros, acho que eu tenho mais carinho pelo Paulo Barros do que ele tem por mim, mas tudo bem. Mas eu tive um grande artista aqui que foi uma pena ele ter falecido, que foi o Oswaldo Jardim, que começou a modificar a cara da Unidos da Tijuca. Foi o maior carnavalesco que a Tijuca teve, na minha concepção. Agora, o Paulo Barros foi muito importante na vida da Unidos da Tijuca, até porque foi uma aposta minha. Paulo Barros só tinha feito um ano ou dois de escola do Grupo de Acesso. Foi uma aposta que na minha cabeça eu pensava que o carnaval estava muito igual. Era cada um apresentando mais luxo do que o outro. E eu via a dificuldade de competir pelo financeiro. Então apostei em fazer alguma coisa diferente. Ninguém apostava e achava que a escola ia para o buraco em 2004 quando viram aquele carro do DNA, mas antes em 2000 a escola fez um grande carnaval que tirou o quinto lugar, ela vinha fazendo grandes carnavais. Para mim, o carnaval de 2004 , 2005, 2006 a escola merecia ter ganhado o campeonato. Foi uma coisa nova que o julgador que era mais conservador não entenderam muito bem o recado da Tijuca”.
Uma vez na premiação do Estandarte de Ouro, no antigo Canecão, você desabafou e disse que não deixariam um vidraceiro português ser campeão do carnaval. E você foi campeão. Foi complicado colocar a Tijuca nesse patamar em que esteve de 2004 até 2016?
“Foi uma grande luta porque quando a partir dos anos 2000 que as condições financeiras começaram a ser melhores para as escolas, logicamente que a Tijuca deu o pulo do gato. Tivemos alguns anos de sufoco tremendo, então a Tijuca foi campeã em 2010, 2012 e 2014, mas já merecia ter sido campeã antes. Nos anos 2000, a Tijuca fez grandes carnavais, e não ganhou por questão de décimos. Eu perdi dois campeonatos por muito pouco. Acontece. Mas de 2000 para cá a Tijuca sempre faz carnaval para disputar. A nossa mentalidade é essa”.
O desfile de 2020 não foi o esperado. O que houve?
“Embora seja um grande artista, eu não vou culpar A, B, ou C, houve algumas falhas de alguns quesitos e também da concepção do enredo no geral. Mas, a culpa é sempre minha e aconteceu o que tinha que acontecer”.
Muita gente questiona o resultado de 2019 na Tijuca. Você ficou chateado com a colocação? Merecia voltar nas campeãs?
“Não merecia tirar a colocação que tirou. Em 2019 por exemplo, como era um enredo religioso, eles entenderam de outra maneira, jamais eu poderia perder ponto em alegorias ou perder em samba-enredo, mas faz parte”.
O que você sentiu quando houve o acidente em 2017? Foi seu momento mais difícil na escola?
“Aquilo foi uma das grandes decepções porque a Tijuca vinha com um carnaval para ganhar títulos. A Tijuca brigaria ali na ponta. E eu afirmo, depois de estudos feitos, sem ser de cabeça quente, nós fomos sabotados ali. Alguém sabotou o carnaval da Unidos da Tijuca. Lógico que foi internamente, mas profissionais externos. Alguém fez alguma coisa porque não tinha como acontecer aquele acidente e realmente atrapalhou a disputa do carnaval. A Tijuca vinha bem, a Tijuca vinha forte. Mas, em outras escolas já aconteceram acidentes e perderam carnaval assim dessa maneira. Acontece. Ninguém pode dizer hoje que vai ganhar, porque o carnaval é disputado dentro da pista. Ninguém está livre de um acidente”.
Tivemos vários anos que a Tijuca era apontada como rival da Beija-Flor no canto da comunidade. Hoje, as pessoas dizem que a escola precisa resgatar isso. Concorda?
“Eu acho que as escolas têm resgatado isso. Até porque a primeira escola que começou com isso não foi a Beija-Flor, foi a Unidos da Tijuca. A Unidos da Tijuca começou lá atrás com as alas de comunidade financiando 100 por cento. E depois a Beija-Flor veio muito bem, logo em seguida, fez um trabalho muito legal. E hoje, todas as escolas estão fazendo esse tipo de trabalho. Até porque quando eu entrei no carnaval, as escolas tinham compromisso de fazer baianas, passistas, velha guarda, alguns segmentos, o resto era tudo ala comercial. Embora tenha ainda algumas escolas com alas comerciais, elas começaram a investir muito nas de comunidade. Quando eu falo em comunidade, não falo só do Borel, são comunidades, pessoas, o cara pode até morar na Vieira Souto, mas ele participa da ala de comunidade. Tem muitos casos desses, as pessoas que se dedicam a vir aos ensaios, a fazer treinamento. Quando o cara compra uma fantasia, sabe que o cara fica sem compromisso nenhum. E tinha muito estrangeiro também. Eu acho até que a Liga deveria deixar participar, de repente com uma ala no fim da escola sem ser avaliada”.
A Wic, filha do Wantuir, é cotada como uma das maiores revelações do carnaval. Quando surgiu na sua cabeça que ela assumiria o microfone principal ao lado do pai?
“A Wic já havia saído no ano passado na escola, ela também saía na São Clemente, e esse ano, eu já vinha prestando atenção nela. Logicamente que é muito difícil você colocar uma mulher como voz principal. Desde que eu estou no samba só aconteceu uma vez e mesmo assim não deu muito certo. Ela foi contratada pelo samba vencedor, e eu conversando com o pai dela eu falei ‘que tal colocar a tua filha junto com você? ’. Porque geralmente nenhum cantor quer. Geralmente o cantor pensa ‘eu sou o número um e acabou’. Outras escolas que tentaram fazer, saiu faísca. Como foi até um pedido dele também, ficou numa boa. No fundo ele abriu uma janela para mim também. E foi por méritos dela, ela não está lá por favor nenhum. A escola não faz isso, todo mundo que está é por méritos. E a Wic está lá porque ela tem capacidade para estar. Agora dizer que ela vai ser a voz 100 por cento da Unidos da Tijuca é uma coisa a se pensar, se ver, porque as experiências que foram feitas lá atrás não deram muito certo. E o pai dela também já está com idade, eu gosto muito dele, é um bom profissional, ele estava aqui com uma carreira muito boa, cismou de ter saído, depois queria logo voltar mas ficou de castigo. Agora está aí, é um cara fácil de lidar, dedicado, mas todo mundo tem um fim. É que Jamelão só teve um, cantou até o final. E o Neguinho que está aí, e ele ainda está longe dessa idade. E na vida existe renovação. E vai ter comigo. Fernando Horta só tem um. Amanhã e depois eu vou assistir o desfile lá na frisa ou arquibancada”.
Você tem um dos melhores mestres de bateria do carnaval. É fácil manter o Casão na escola ou o assédio de outras agremiações é complicado?
“Casão não vai. Já não é novinho, mas é cria minha. O Casão não pensava nem em ser diretor de bateria. Ele vivia na bateria, sempre foi lá da comunidade, embora já não mora mais lá há muito tempo, mas ele além de tudo era meu funcionário, era vidraceiro. É um mestre de bateria que tem méritos para isso. A maioria da rapaziada que está na bateria são meus amigos, conheço a maioria desde criança. O Casagrande teve uma vez que lá atrás, uns 4 anos ou 5, ele foi assediado por uma escola, ele veio falar comigo e eu falei ‘oh, meu filho, tu é que sabes ‘. Mas ele mesmo recuou, falou que não é dele, o Casagrande vai se aposentar na Unidos da Tijuca. Igual a mim. Logicamente também deve ter passado necessidade porque pegou essa situação toda, pouco show, pouco trabalho, mas com ele eu fico absolutamente tranquilo. É muito mais fácil, eu largar a escola do que ele sair. Se ele chegou ao que é, é justamente por ser um cara muito trabalhador. Ele tem a bateria totalmente controlada, ele briga demais pela bateria. Além de ser meu diretor de bateria ele é meu amigo”.
O que o Horta pensa dos rumos/futuro dos desfiles das escolas de samba, após quatro anos de Crivella e dois anos de pandemia?
“O carnaval vinha muito bem, eu me recuso falar esse nome (Crivella). Foram três anos praticamente, porque o outro ainda estava sendo administrado pela administração passada. Sufoco, uma má vontade, um cara que era completamente contrário ao carnaval. Além de não ajudar, ele incentivava para ninguém ajudar. Foram uns anos muito difíceis. A mim, ele não enganou. Tanto que alguns presidentes de escolas de samba optaram em apoiar ele, eu não. Chamei ele de mentiroso em uma reunião que ele marcou 7h da manhã que ele achou que a gente era vagabundo e não ia comparecer. Ele falou que não ia mexer em nada no modelo de carnaval e que se não pudesse fazer melhor ele ia igualar pelo menos o que estava. Nesta reunião, ele perguntou ‘Horta, você não fala nada?’. E eu falei ‘ não vou falar nada porque você é mentiroso’. É para esquecer. E depois logicamente que a pandemia veio derrubando muito mais. Não foi a questão de a gente não fazer carnaval, ficar um ano sem ter carnaval, não tem recurso, mas também não faz o desfile, mas no caso da Unidos da Tijuca e outras, nesta pandemia ela deixou de trabalhar, ela deixou de fazer apresentações, ela deixou de fazer situações que ela faz na quadra, empresas que alugam. Porque o dinheiro que vem para o carnaval, eu aplico no carnaval, para fazer carnaval, mas a escola para sobreviver ela vive destes eventos que ajudam muito. Nós estávamos esperançosos com esse carnaval, infelizmente teve que ser adiado, quando se colocou os produtos à venda houve uma alavancada, e depois do adiamento houve um recuo muito grande. A gente não sabe se pode contar com a receita que nós estávamos contando para fazer um carnaval melhor e você pagar o staff. Você gasta um dinheiro grande com a logística, leva mais de 150 profissionais para a Avenida. Você não gasta menos de 300, 400 mil reais para fazer essa brincadeira”.
E sobre seu sucessor. Pensa em formar alguém e como ficará a Tijuca no dia que você não estiver mais presente?
“Eu não sou muito de ‘vamos criar fulano’. Até porque eu já participei de outra diretoria em clube de futebol. Você tem um grupo de pessoas que ajudam, que apoiam, não estou nem falando financeiramente, que ajudam dentro da elaboração do carnaval. Mas, a liderança, ela nasce. Dentro daquele grupo que existe, tem que surgir. Aqui não é uma escola que o sucessor vai ser preparado, um parente meu, não. Ele tem que surgir dentro do nosso grupo, eu penso dessa maneira. Não se prepara, cada um nasce com liderança, capacidade administrativa. Tem uma turma que está aqui na escola há muito tempo e na hora certa a gente vai avaliar qual o que eu sinto que tem mais capacidade para eu indicar. E indicar, porque aqui é uma escola democrática, tem eleições. A Tijuca não é falada em época de eleições, ninguém sabe, até eu mesmo às vezes me esqueço, mas a gente abre de três em três anos, bota edital, coloca lá na comunidade, e infelizmente nunca apareceu nenhum candidato. Só apareceu uma vez, aí a votação começou 9h, quando era 10h ele quis desistir. O cara ficou com vergonha e eu falei ‘agora você vai ficar até o final’. E eu já fiquei três ou quatro mandatos sem ser presidente. E para ser presidente o cara tem que querer também, tem gente que se arrepia todo se você perguntar, tem medo de assumir, são bons, mas tem medo da responsabilidade “.
O que falta para a Unidos da Tijuca voltar ao sábado das campeãs?
“Falta boa vontade de alguns e é assim mesmo, você tem que saber que você está em uma disputa que tem 12 escolas, e 12 escolas muito fortes. Tem que ser realista, vem ali 8 ou 10 que querem ganhar. Então aquilo é um jogo só. Você perde um décimo, perde dois décimos, ganha ou perde com essa diferença. O carnaval é muito equilibrado. Até os anos 2000 era feito com aquelas escolas que tinham um poder financeiro muito maior, depois que começou a equilibrar as verbas, aí começou a ter mais escolas fortes. Aquilo que a Tijuca quer, todas querem. Aquele negócio de o cara achar que vai ganhar todo ano, já era. Pode até ganhar, mas é uma coisa difícil. A grande maioria corre atrás do mesmo objetivo. Não tem campeão antecipado, carnaval é lá na Avenida”.
Por fim, o que esperar do desfile de 2022 da Tijuca? O que você responde quando colocam a escola brigando para ficar no Grupo Especial?
“Algumas pessoas que não entraram no barracão ficam falando besteira. Mas eu sei aquilo que a escola tem e o que vai fazer. E a concepção do carnaval que eram 10 quesitos, eu brigo para voltar esse último que tiraram, que é o conjunto. Eu acho que o conjunto é necessário. Mas uma escola para se ganhar o carnaval tem que defender nove quesitos, então quem faz esse tipo de análise, tem que começar a analisar quesito por quesito. Alegoria é importante, empolga, mas é um quesito. Eu estou altamente tranquilo, sabendo que levo um carnaval respeitando as coirmãs, mas para disputar. E pode ter certeza que a Tijuca vai fazer um carnaval diferenciado e para agradar”.
Atenção, Sapucaí! Vanderlei Borges afirma: ‘Não sei se será o melhor carnaval, mas um dos melhores de todos os tempos com certeza’
Após dois anos sem carnaval em razão da pandemia ocasionada pelo Covid-19, as Escolas de Samba se reuniram nesse último domingo (10) para celebrarem a tão famosa e esperada lavagem da Sapucaí. Acompanhada do teste de luz e som e do encerramento dos ensaios técnicos com a atual campeã Unidos do Viradouro, a lavagem contou com a presença de todo o povo do samba que tanto esperava a volta desse evento.

Diante dessas ilustres presenças, a voz oficial do carnaval não poderia ficar de fora. Com 16 anos de Sapucaí, Vanderlei Borges, locutor do Carnaval e dono do bordão favorito dos sambistas, não escondeu sua emoção e gratidão por estar de volta depois de tanto tempo.
“É uma emoção muito grande estar de volta, mas ainda é um momento de incerteza, já que nem tudo passou. Mas acreditamos que depois dessa nuvem negra que durante dois anos nos afetou, a gente vai fazer um carnaval do sentimento, da alegria, do crédito que Deus está acima de tudo e que nós estaremos aqui por mais algum tempo de Deus quiser”.
Com o isolamento devido a pandemia, e consequentemente com a suspensão de diversos eventos, Vanderlei em entrevista ao CARNAVALESCO, nos contou sobre as dificuldades dos profissionais da área nesse período e o quanto percebeu sobre a significância do carnaval na sua vida.
“O carnaval tem toda importância para mim. São 60 anos de carnaval, criei meus filhos fazendo carnaval, vivo do carnaval. Na Sapucaí já são 16 anos e pretendo se Deus quiser caminhar por bastante tempo ainda. Na realidade não teve quase nada nesses dois anos. A gente que vive de eventos, nesse tempo foi evidente que a gente não fez nada ou quase nada. Algumas vezes tinham algumas gravações e coisas além, mas esse tempo serviu muito para a gente fazer uma reflexão. Muita gente não acredita, mas nós todos somos menos do que aquilo que achávamos que seríamos. Muitas pessoas se foram e não tiveram a chance de ao menos se despedir”, lamentou o locutor.
Sendo a voz oficial do carnaval, é de extrema importância uma série de cuidados para as cordas vocais. “Minha voz está sempre legal, é a mesma”, brincou Vanderlei. Apesar de acreditar na segurança de sua voz, o locutor afirmou já estar cuidando da mesma e se preparando para os dias mais “pesados” que estão por vir.
Quanto à sua rotina no dia dos desfiles, respondeu: “Eu faço a locução, então chego aqui as 20:00 horas e fico até as 5:00 e depois tento dormir um pouco para acordar e recomeçar”.
Visivelmente emocionado durante toda a entrevista, Vanderlei fez questão de ressaltar o tempo todo o tamanho de sua gratidão juntamente com felicidade e emoção de estar mais um ano vivenciando a passarela do samba. Foram tempos difíceis para os sambistas, o clima predominante é de total sensibilidade e comoção. Veterano de Sapucaí, Vanderlei declarou estar mais emocionado do que o de costume.
“Hoje a emoção é maior sem dúvidas. Eu vi na minha frente a possibilidade de não estar mais aqui, portanto estou muito mais feliz e emocionado esse ano”.
Quando questionado sobre a saudade, não escondeu suas altas expectativas para os desfiles desse ano. Torcedor declarado da Unidos do Viradouro, aproveitou para comparar o sentimento que a falta dos desfiles causou nos sambistas, com o lirismo necessário para uma vida feliz, como diz o samba enredo da escola.
“Estou com as melhores expectativas possíveis! As pessoas estão necessitadas de carnaval, de diversão. Nós já vivemos uma vida tão difícil, acredito que esse seja o caminho que a gente tem de chegar ao viver do lirismo, como diz o samba da Viradouro”.
Presente em diversos desfiles históricos, fica difícil escolher um favorito. Apesar disso, Vanderlei defende a ideia de que depois de toda essa tensão e espera, o carnaval de 2022 tem tudo para ser surpreendente e emocionar todos que estiverem ali presentes, seja componente, imprensa, julgador ou até mesmo o telespectador ao vivo e o de casa.
“Não sei se será o melhor, mas um dos melhores de todos os tempos com certeza será”.
Segmentos da Unidos de Padre Miguel recebem atendimento especial antes do desfile oficial
Com o objetivo de conquistar as notas máximas, segmentos da Unidos de Padre Miguel estão sendo acompanhados e avaliados por profissionais de diversas áreas. É o caso da Comissão de Frente da escola que, além da assistência oferecida pelo coreógrafo, os 15 integrantes da comissão de frente também estão recebendo atendimento da nutricionista Erika Carvalho.

“Queremos entregar um trabalho de excelência na Sapucaí e este ano estamos nos preocupando com todos os detalhes, inclusive com a alimentação dos bailarinos. Temos a Erika, uma excelente profissional que vem acompanhando o cardápio dos meninos e no dia do desfile estará com a gente durante toda a concentração” disse o coreógrafo, David Lima.
Segundo a nutricionista, um cardápio foi elaborado de acordo com a necessidade do elenco da comissão.
“É importante ressalvar que uma alimentação saudável e equilibrada é importante para que o organismo possa funcionar e trazer respostas positivas no bom desempenho, nos ensaios e apresentações. O bailarino em si precisa de força, energia, disposição e recuperação muscular e através dos alimentos que irá suprir essas necessidades. Elaborei uma dieta rica em carboidratos que são fonte de energia, cereais como arroz, quinoa, milho, aveia além de muitas frutas, compõem o cardápio dos rapazes. As proteínas que fortalecem e agem na recuperação muscular também fazem parte do cardápio,” explica a médica.
Além da alimentação, a escola fechou parceria com um profissional de massoterapia que está realizando massagens desportivas nos bailarinos.
“Estamos fazendo um trabalho de liberação muscular, para dar mais mobilidade, mais amplitude no movimento, soltar a musculatura e a envergadura deles aumenta. É uma massagem diferente da relaxante, ela é um pouco mais ritmada, para poder deixar a musculatura mais aquecida. Ela não substitui o alongamento e o aquecimento, porém ela leva uma nutrição maior ao musculo, evitando cãibras e qualquer desgaste prematuro,” explica o Massoterapeuta, Glauco Campos.

Outro segmento que ganhou uma atenção especial foi o casal de Mestre-sala e Porta-bandeira da agremiação. o 1º Casal formado por Vinicius Antunes e Jéssica Ferreira e o 2º por Emerson Faustino e Joana Falcão, as duplas recebem atenção especial da psicóloga, Isabel Monteiro.
“A Dra. Isabel veio com esse projeto e aceitamos na hora. É uma pressão muito grande, uma responsabilidade muito grande de um quesito para apenas duas pessoas, ela está nos ajudando muito e estamos conseguindo levar toda essa pressão com pouco mais de leveza”, disse Jéssica Ferreira.
“Pensamos muito no emocional como uma prioridade. E essa leveza vem muito do equilíbrio emocional, através do projeto mente saudável, e entendo que a psicologia está para tudo e para todos.”
A Unidos de Padre Miguel será a quinta escola a se apresentar, na quinta-feira, dia 21 de abril e levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “IROKO – é tempo de Xirê”, que contará a história da Árvore-Orixá, de autoria do carnavalesco Edson Pereira.