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Terreiro Viradouro: Rute e Julinho personificam o Orixá da Justiça na avenida
Em alta na avenida este ano, Xangô e a sede de justiça também estiveram presentes no desfile da Viradouro. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Rute Alves e Julinho Nascimento, personalizou um elo muito forte da Viradouro com o enredo. Com a fantasia “Terreiro Viradouro” e sob as bênçãos do orixá do fogo, Xangô, que é padrinho da escola e está assentado pela agremiação, o casal representou o fogo da justiça na avenida.
Unindo a energia forte e justiceira de Xangô e a força e vigor do bailado elegante, altivo e clássico do casal da atual campeã do carnaval, as fantasias todas trabalhadas em vermelho e pedrarias, que segundo a coreógrafa do casal, Juliana Meziat, eram as camisas mais pesadas do Grupo Especial, o casal levou o pavilhão na cabeça da escola abrindo o terreiro Viradouro na avenida para a consagração de Malunguinho.
O experiente mestre-sala, Julinho Fonseca Nascimento contou ao CARNAVALESCO como ele recebeu a fantasia que representa tanto a espiritualidade da escola.
“É um grande presente que eu e Rute recebemos, desfilar representando a falange de Xangô, que é tudo que a Viradouro representa, aí vem toda a ancestralidade da Viradouro, todos aqueles que fizeram um dia pela Viradouro e ainda fazem todo mundo representado na gente e no nosso pavilhão. Quando a gente defende o pavilhão de uma escola, a gente representa tudo isso, e a fantasia por si só está representando. E é uma grande homenagem a Malunguinho, que a gente está fazendo através da falange de Xangô”, contou o Julinho.
Rute, que é uma mulher de axé, candomblecista que não esconde e sempre se emociona ao falar de sua fé, também se sentiu presenteada ao representar uma divindade tão importante para a Viradouro e para a sua vida também.
“Eu sou uma mulher de muita fé e eu sou muito grata, eu sempre me emociono quando eu falo da minha mãe Iansã. Então, eu vir representando o orixá, que não é minha mãe diretamente, mas é Xangô, o orixá da justiça, que reina com Iansã, estamos no ano deles. Então, eu fico emocionada, fico grata ao Tarcísio por pensar nesse carinho. No ensaio técnico, eu pedi para vir de Iansã, e que não tem muita ligação com o enredo. E ele foi lá, pesquisou, estudou e me liberou para vir. Então, foram dois presentes que o Tarcísio me deu, vir de Iansã no ensaio técnico e hoje representando o cara da justiça num ano de tanta intolerância, de tantas adversidades, mas eu tenho certeza de que vai ser lindo nosso desfile”, disse Rute emocionada.
Com a missão de traduzir em dança a essência do enredo, Rute e Julinho entraram na avenida com a responsabilidade de levar a força de Xangô em cada movimento. O bailado preciso e imponente do casal levará o pavilhão como um verdadeiro estandarte da justiça, unindo fé, tradição e arte em um espetáculo de devoção e resistência. Agora, eles compartilham a emoção de interpretar essa poderosa simbologia e os desafios de representar a energia do orixá no maior palco do samba.
“Neste nosso desfile, somos todos por essa reparação histórica na figura do Malunguinho. Hoje viemos com um bailado forte e potente. No sentido da energia que a gente passa, principalmente da minha porta-bandeira, e a gente poder vir com toda essa representatividade de Xangô, que tanto representa para a nossa escola, e a gente poder traduzir isso em dança, óbvio, com toda a leveza, com toda a harmonia, com todo o glamour, com toda a elegância que o mestre-sala e a porta-bandeira tem que apresentar, mas conservando principalmente as características de Julinho e Rute, que é muita energia e hoje a energia é concentrada em Xangô, nessa entidade maravilhosa que apadrinha a escola”, disse o mestre-sala.
Com cada passo cuidadosamente pensado, Rute e Julinho representam a força e a justiça de Xangô em sua dança. A simbologia do orixá se manifesta no bailado, na fantasia e na energia que conduz pelo sambódromo.
“Xangô estará no nosso bailado através da energia, nós vamos entrar com a energia de Xangô e com o seu axé, com a força da minha mãe Iansã. O Julinho faz um passo, tipo um xaxado, e de maneira sutil fazemos uma dança relacionada às religiões de matrizes africanas, mas a representatividade maior está na nossa fantasia e está na nossa dança”, declarou a porta-bandeira.
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Com duas águias, Nenê tem ótima noite do casal de mestre-sala e porta-bandeira
Buscando a correção nos quesitos, a Nenê de Vila Matilde desfilou neste domingo (02 de março) no Sambódromo do Anhembi, sendo a sexta a se apresentar no Grupo de Acesso I. Com excelente apresentação de Edgar Carobina e Graci Araújo, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira do Quartel General de Bamba. A águia, símbolo da agremiação, também teve destaque por vir em dois momentos cruciais da apresentação: no abre-alas (em um azul que a destacou bastante) e no último carro (neste, em tons terrosos). A apresentação inteira teve 58 minutos.
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Sempre presente em tudo que envolve escolas de samba, o CARNAVALESCO traz a análise do desfile da onze vezes campeã do carnaval paulistano:
Comissão de Frente
Com o nome “O Encontro da Arte”, os componentes cumpriram muito bem o papel de apresentar o enredo da escola. Com um personagem vestido de trovador (segurando um alaúde), um de bufão (popularmente conhecido bobo da corte) e os demais de artistas mambembes. Coreografados pelo diretor artístico da Comissão de Frente, Fernando Lee, os componentes executaram uma coreografia animada e que tinha como objetivo mostrar um pouco do desfile que estava se iniciando. Vale destacar que o tripé, intitulado “Carroça Medieval”, tinha pouca participação no resultado do segmento.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Primeiro casal da agremiação, Edgar Carobina e Graci Araújo desfilaram com uma fantasia chamada “Rei e Rainha Medieval” – que também já deixa claro qual era o papel desempenhado por eles na exibição.
Inteiros nas cores azul e branco e com uma indumentária com brilhantes estrategicamente posicionados que tornavam a roupa de muito bom gosto. A dupla, formada por profissionais bastante experientes e de alto gabarito, não surpreendeu: dançou muito bem, com Graci executando os giros com maestria e Edgar a cortejando muito bem – além do cada vez mais afiado samba no pé.
Enredo
De maneira bastante resumida, a Nenê de Vila Matilde falou sobre festejos populares brasileiros e a raiz comum de todos eles- tradições da Idade Média. Nessa linha cronológica bastante ampla, existem alguns fatos bastante relevantes que permeiam a temática: o clássico livro “Os Doze Pares da França” que falava sobre a guarda pessoal de Carlos Magno; e o Movimento Armorial, criado por Ariano Suassuna, para valorizar a cultura brasileira – e já reconhecendo o medievalismo em cada uma delas.
Dividido em três setores, o primeiro tem o nome de “Um Quê de Poesia” e fala sobre a era medieval e o trovadorismo. Depois, é a hora do setor “Um Tanto de Magia”, que mostra a influência do medievalismo em representações folclóricas brasileiras. Por fim, aparece o segmento “A Arte de Encantar o Imaginário Popular”, fincando raízes no país.
Alegorias
O abre-alas, “Era do Trovadorismo”, obviamente foi inteiro inspirado na Idade Média e possuía esculturas e itens que remetiam ao período em questão – além, é claro, da indefectível águia, símbolo da agremiação. Quase que inteiramente azul (incluindo a mascote), o carro trouxe boas soluções plásticas. O segundo, “Trupe de Artistas”, enquanto começa a mescla entre festejos brasileiros e inspirações medievais, tem uma estética bem mais colorida. Por fim, a última alegoria, “Relicário Armorial”, deixa explícita a retomada da cultura brasileira proposta pelo movimento criado por Ariano Suassuna. A surpresa no último carro é a presença de outra águia: se a primeira inicia a viagem, a segunda conclui – na tonalidade marrom, tal qual a alegoria, com temática nordestina.
Fantasias
Majoritariamente exaltando movimentos medievais (como guardiões, nobres da corte e damas da Idade Média) e brasileiros (tal qual a cavalhada e as congadas), o grande mérito do conjunto de fantasias foi a simples assimilação para quem conhece cada uma das manifestações. Outra mescla muito bem pensada pela escola foi a altura de costeiros – algumas eram mais altas, enquanto outras tinham um teto menor. O que não falhava era o volume: todas tinham alguma representação e muitas tinham adornos – o que também ajudava no quesito Evolução. É importante destacar, porém, a lindíssima indumentária da Ala das Baianas: chamada de “Damas da Idade Média”, elas traziam o tradicional azul da Vila Matilde para o desfile da Nenê.
Harmonia
Historicamente, escolas de samba da Zona Leste de São Paulo são conhecidas pela força do chão das comunidades. A Nenê, terceira maior campeã do carnaval paulistano e grande vencedora do “Lado Leste”, novamente não decepcionou em tal aspecto. Mesmo com o potente sistema de som do Anhembi, era possível ouvir o samba ressoando no Anhembi.
Evolução
Com boa presença de fantasias volumosas, a movimentação dos componentes da escola criou uma dinâmica interessante na avenida – e a comunidade em geral se mostrava satisfeita com o que estava sendo apresentado. Houve, entretanto, um momento que pode ser mal interpretado pelos julgadores: enquanto o casal de mestre-sala e porta-bandeira se apresentava no segundo módulo, a ala à frente não parou de evoluir – criando um espaço próximo das seis grades, limite para não ser considerado passível de penalização.
Samba-Enredo
Dividindo opiniões entre quem acompanha o carnaval paulistano, a canção optou por mesclar alguns versos mais poéticos com outros mais objetivos. Vale destacar que, tal qual o enredo, a canção é escrita na visão da Águia, mascote da agremiação, que percorre locais e eras diferentes para contar a própria visão de tudo que viu e aprendeu. Como é de praxe, a obra teve excelente interpretação por parte de Agnaldo Amaral e foi muito bem sustentado pela Bateria de Bamba, sob o comando de Matheus Machado.
Outros Destaques
Reinando absoluta na frente da Bateria de Bamba, a rainha Gabriela Ribeiro.
Componentes da Mocidade Unida da Mooca vibram com desfile da escola e reforçam sonho de chegar ao Grupo Especial
A Mocidade Unida da Mooca desfilou no Anhembi com o enredo “Krenak – O presente ancestral”, desenvolvido pelo carnavalesco Renan Ribeiro. O desfile trouxe uma mensagem potente sobre a visão indígena de mundo, encantando o público e mostrando a força da escola, que luta pelo acesso ao Grupo Especial. Ao CARNAVALESCO, quesitos exaltaram o desempenho da agremiação.
O mestre-sala Jefferson celebrou o desfile e destacou os desafios enfrentados durante a preparação.

“Muito feliz com a missão cumprida. Só de nós termos cruzado a avenida já foi uma vitória. Passamos por vários percalços até chegar aqui, a preparação foi interrompida umas duas, três vezes, mas conseguimos montar uma coreografia bem legal, bem dinâmica. Nós conseguimos nos apresentar para o jurado dentro da proposta, dentro do andamento da escola, e eu acredito que fomos bem felizes nas cabines julgadoras e durante a pista. Muito calor, roupa esquenta um pouquinho mais que o comum, mas eu saio da avenida com a sensação de missão cumprida”, relatou.
E porta-bandeira Karina também se emocionou com a apresentação.
“Hoje eu falo que fiquei o dia todo emocionada e continuo emocionada. Passar aqui, nós chegarmos até aqui, por tudo que passamos na nossa vida pessoal, é uma vitória independente de qualquer coisa, de resultados. Estamos aqui juntos e conseguimos fazer toda a nossa coreografia para o jurado. Eu saio com meu coração feliz, satisfeito, e eu nem sei o que dizer, porque é uma emoção muito grande. Eu estou desde manhã assim e só de ter cruzado essa avenida tudo bem, em pé, firme, nós ficamos felizes”, contou.

O carro de som da MUM também teve uma atuação destacada, com os intérpretes Emerson Dias e Gui Cruz comandando o samba com muita energia.
“Primeiramente, vamos nos sentir com a sensação de campeões. Se vai ser ou não é outra história, mas o desfile da forma que foi, a energia que a escola depositou aqui no Anhembi hoje, esse cara aqui jogando tudo para cima, botando a galera para cantar, a ‘Chapa Quente’ em uma pegada incrível. É esperar muito pelas notas 10 e esperar muito pelo campeonato”, afirmou Emerson Dias.

Já Gui Cruz, reforçou o sentimento de missão cumprida.
“Energia lá em cima, galera feliz. Eu acho que não tem coisa melhor do que nós encerrarmos o desfile no clima que encerramos. Acho que o sambista merece isso, fechar o portão e se sentir campeão. Terça-feira não depende de nós, mas a nossa parte fizemos muito bem-feita”, concluiu.
Para o carnavalesco Renan Ribeiro, o desfile foi a conclusão de um processo intenso e enriquecedor.

“Foi um carnaval longo, um processo longo. Saímos de um carnaval de fevereiro para um carnaval de março, foram 12 meses de trabalho, um ano, uma semana e um dia a partir da minha contratação. Foi absurdamente prazeroso entender Ailton Krenak, entender essa ótica indígena e essa relação com o planeta, essa relação entre a humanidade. Ter contato com Ailton Krenak é modificador, é transformador e foi prazeroso. Foi um carnaval absurdamente tranquilo, calmo, para mim como carnavalesco, para toda a equipe. Chegamos no final do projeto, apesar do cansaço de um ano, muito unidos, muito felizes, todos os responsáveis, quesitos, todos os contratados da escola, todos muito felizes, muito satisfeitos, muito confiantes. Eu acho que isso se refletiu na avenida, mas que é uma escola alegre, colorida, bonita e com uma mensagem que é, acima de tudo, forte, importante, para que consigamos olhar para o futuro e tentar pisar nesse futuro com segurança”, explicou.
A coreógrafa Sabrina, da comissão de frente, celebrou a parceria com seus bailarinos.

“Eles são meus amores, a gente virou uma família, e faz tempo que estamos nesse processo muito intenso. Foi dessa forma que passamos aqui, de uma forma muito intensa, dando a vida, entregando tudo o que poderíamos entregar. Eu acredito que o resultado disso é até a galera ter chegado na dispersão passando um pouco mal, porque é muita energia, é muita vibração, é muita coisa, é muito intenso. Graças a Deus, não tivemos nenhuma falha grave e agora é esperar os jurados e aguardar a apuração, mas estou muito feliz com o que vi na avenida”.
Os diretores de harmonia Yves e Neto comentaram sobre a organização do desfile e os desafios superados.
“Não vou te dizer que foi tudo conforme o planejado, porque tivemos um probleminha na concentração no acoplamento dos carros, mas conseguimos remediar 100% sem deixar impactar na avenida. O que fizemos na avenida, de fato, planejamos dessa maneira mesmo: uma escola solta, uma escola alegre, uma escola ‘tirando onda’, como a gente diz, e trazendo o espírito da Mooca”, afirma Yves.

Neto complementa, destacando a superação da equipe.
“Seria um prazer reviver tudo isso de novo, desde o início do processo até a conclusão dele. Fomos muito felizes até nos percalços, portanto, 12 por 8, conseguimos controlar todas as ansiedades possíveis, até dos nossos componentes, que sentiram em um determinado momento: ‘será que a escola vai ou não vai?’. E, graças a Deus, eles confiaram no processo e tiramos de letra toda a situação que tivemos, infelizmente, mas fluiu”, explicou.
O presidente da escola, Rafael Falanga, reforçou a felicidade com o trabalho realizado.

“É um sentimento de muita felicidade pelo trabalho que foi feito durante o ano, pela entrega da comunidade, dos setores, dos quesitos, da diretoria, o empenho de todo mundo, o incansável trabalho para conseguirmos corrigir as nossas questões internas. Foi contemplado hoje um desfile perfeito, um desfile de muita garra, de muita raça, e de muita humildade de uma comunidade que quer muito estar no Grupo Especial em 2026”, declarou.
Denny, mestre de bateria da MUM finalizou falando sobre o planejamento de 8 meses.

“Nós fizemos um planejamento de oito meses junto com o samba, e desde o começo a ideia foi esse andamento. Nós participamos pela primeira vez da construção do samba, portanto a gente estava sabendo de todas as melodias, de todas as intervenções do samba, onde o samba respirava, e conseguimos nos apresentar bem em todos os jurados, com todas as bossas. Estou muito feliz com o resultado”, comemorou.
Com um desfile forte, repleto de simbolismo a Mocidade Unida da Mooca enfatizou seu desejo de estar no Grupo Especial.
Baianas da Imperatriz levam à Sapucaí a força e a ancestralidade das ialorixás
As ialorixás, também conhecidas popularmente como mães de santo, desempenham um papel fundamental nas religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda. Muito além de líderes espirituais, elas são guardiãs da tradição e responsáveis por transmitir conhecimentos ancestrais, preservando rituais e mantendo a conexão com os orixás, voduns e inquices. Sua importância transcende o campo religioso, alcançando esferas sociais e culturais que moldam a identidade afro-brasileira.
A ala das baianas da Imperatriz Leopoldinense trouxe uma homenagem às ialorixás e ao que elas representam.
“O importante das ialorixás é aquela representação da mãe de santo. Todas elas, com a sua representatividade, têm a função de mãe baiana também, aquelas que abençoam. Elas têm uma representatividade muito forte. Eu acredito que elas têm aquela força, aquele axé, aquela magnitude de representação. A ala das baianas da Imperatriz representa a ancestralidade”, declara Henrique Bianchi, de 38 anos, responsável e coordenador técnico da ala desde 2024.
A ancestralidade ficou perceptível nos mínimos detalhes da fantasia, como a saia, o pano da costa e o da cabeça.
“Olha, é maravilhosa! É uma representação muito boa, satisfatória, feliz. A roupa está uma delícia, porque não está pesada. Vou rasgar a avenida!”, diz Jaciara, conhecida como Neném, de 45 anos, desfilante da escola há 31 anos.
O uso de colares e as comidas de Oxalá têm uma simbologia bastante significativa para as ialorixás com o sagrado. A fantasia destaca essas características marcantes, com a roupa na cor branca, estampa em um tom de azul bem suave que remete às águas, colares com miçangas, búzios e cordas trançadas. Já na cabeça, estampas, rendas, pérolas, flores claras e uma pomba branca, símbolo do orixá.
No contexto da diáspora africana, as ialorixás foram essenciais para a manutenção dos laços espirituais entre os povos escravizados e suas origens. Durante períodos de perseguição, muitas dessas mulheres utilizaram estratégias de sincretismo religioso e camuflagem cultural para garantir que os rituais sagrados continuassem vivos.
Verdadeiras guardiãs da ancestralidade, as baianas da verde e branco de Ramos carregam as cores azul e branco de Oxalá, simbolizando a cerimônia das águas. “Elas representam esse banho novo, esse novo axé, e esse banho é para purificar, aquela purificação para que todos possam ter as águas de Oxalá, representando toda magnitude e fé dentro da religião”, destaca o coordenador da ala.
A baiana da escola Juciara Nascimento, de 70 anos, que desfila na escola há 31 anos, declarou estar bastante emocionada em representar uma ala sobre o enredo que conta sobre sua nação religiosa e carrega toda sua ancestralidade. “É uma emoção muito grande, porque eu nunca imaginei que uma escola de samba fosse falar da minha nação, fosse falar desse Oxalá, que é o rei, é o dono da minha nação. São dois reis: Oxalá e Iruco, que é o dono da nação Efon. Meu avô, Cristóvão do Ogum, baixei a Pantanal, foi quem trouxe o Efon aqui para o Rio de Janeiro.”
Em uma conexão sagrada entre o humano e a divindade, Maria de Fátima, de 67 anos, desfila na escola desde 1995 e finaliza dizendo: “Representar essa conexão sagrada com esse orixá é muito importante. É uma apresentação muito bonita que estamos fazendo ao nosso pai Oxalá.”
Sexta ala da Viradouro retrata guardiões espirituais do quilombo de Malunguinho
A Unidos do Viradouro foi a terceira escola a se apresentar nesta primeira noite de desfiles do Grupo Especial de 2025, no Sambódromo carioca. A escola de Niteroi levou à avenida o enredo “Malunguinho: o Mensageiro de Três Mundos”, sobre o líder quilombola pernambucano que viveu durante o século XIX e tornou-se cultuado como entidade afro-indígena. A sexta ala do desfile, denominada “Sentinelas da Mata”, homenageou os pajés e encantados que protegiam o quilombo.
“Nós somos os guardiões da mata. Quando o carnavalesco nos explicou o que significava, foi muito encantador o estudo que ele fez e me senti honrada por estar desfilando nessa ala. Destaco o colorido da fantasia. Esse verde da mata explica bem o que é que a gente está significando, dentro do enredo”, disse a aposentada Sandra Tancredo, de 65 anos, em seu oitavo ano pela Viradouro.
“Representar um guardião espiritual do quilombo de Malunguinho é uma responsabilidade. Eu espero que o público reaja de uma maneira positiva. E que a quarta estrelinha brilhe pra gente. Estou mega ansiosa”, afirmou a dona de casa Isabel Cristina Caxeiro, de 56 anos, que desfila na Viradouro desde 2018.
A escolha do enredo despertou nos desfilantes a consciência acerca da importância da função pedagógica da escola de samba, que, ao dar visibilidade a questões sensíveis da sociedade em que está inserida, convida o público à reflexão e ao aprendizado.
“Poderiam mostrar mais isso nas escolas para as crianças aprenderem, contar a história, porque muita coisa fica escondida. Eu não sabia da história. Fiquei sabendo agora, por causa da Viradouro”, confessou Isabel.
“Muita gente depois de hoje vai conhecer realmente quem é Malunguinho. Não sabe ainda, mas vai conhecer e vai ver a importância dele no folclore, no espiritual”, apontou Sandra.
“A importância de levar Malunguinho para a avenida é a gente nunca esquecer da raiz, da onde a gente veio. A cada ano que passa, a Viradouro vem mostrar pra gente da onde a gente veio, porque o povo brasileiro é misto, ele é misturado. Você vem, você desfila e você mostra o seu sangue ancestral”, finalizou a doméstica Sheyla de Santos, de 54 anos, que já ultrapassou 20 carnavais pela vermelho e branco de Niteroi.
Tom Maior executa grande apresentação e confirma favoritismo no Grupo de Acesso








