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Tradição retorna à Sapucaí com enredo potente, mas enfrenta problemas de evolução e na parte plástica

A Tradição abriu os desfiles da Série Ouro neste sábado. Com um desfile bem colorido, uma comissão bem feita e um casal de mestre-sala e porta-bandeira em sintonia. A escola veio muito grande, o que comprometeu a sua evolução na avenida, além dos problemas com fantasias e acabamento nas alegorias. Terminando o desfile em 55 minutos cravados, as últimas alas precisaram correr para os portões fecharem no tempo limite.

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A escola do Condor levou para a sua volta para a Sapucaí o enredo “Reza”, de autoria e concepção do carnavalesco Leandro Valente, o enredo buscou celebrar as diversas formas de se conectar com o sagrado, seus deuses, seus santos e orixás.

Comissão de Frente

O intitulada “Não Demonize Minha Fé” a comissão apresentada pelo coreógrafo Tony Tara, era composta por 15 homens que representavam seres estereotipados como diabos, que apesar da imagem negativa, os seres orientam um homem “puro” que suplica ajuda aos céus, sendo então essas figuras lidas erroneamente como diabólicas, era uma representação dos Exus.

As fantasias eram bem acabadas, os “demônios” tinham led no tórax, que com a luz cênica causou um efeito visual interessante.

A coreografia consistiu em um homem “puro” e quase nu pedindo salvação aos céus e quem o ajudou foram os diabos, no entanto, para quem não sabia o objetivo da comissão, o entendimento ficou comprometido, uma vez que a apresentação não foi muito explícita e didática no seu objetivo. Mas isso não tira os louros de que foi uma apresentação bem feita, que fez um bom uso do elemento cênico chamado “O Barco da Fé”.

Houve um problema com a capa revestida de leds que o homem puro usou, os leds não estavam funcionando por inteiro e no segundo módulo de jurados, o motor dos leds caiu no chão, ficando a cargo do bailarino pegar diante dos jurados.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal, Jorge Vinícius e Verônica Lima, desfilaram com a fantasia “Encontro da Magia da Noite com a Luz do Dia”, ele com uma fantasia azul cheia de brilhos prateados representou a lua e ela vestindo um figurino laranja e amarelo, também brilhantes, foi a figura do sol. As fantasias eram muito bonitas e bem acabadas, o contraste entre eles ficou agradável.

Representando a lua e o sol, o figurino do casal significava esses dois astros do céu que estão sempre observando as preces e orações do povo, seja noite, seja dia.

O casal apresentou uma dança bem executada, um bailado clássico e vigoroso. Verônica colocou sua experiência em jogo, não se importou com o vento, demonstrando domínio total sobre o pavilhão. Já o Jorge cortejou delicadamente a sua parceira e passou muita confiança em seu desempenho.

Um ponto de atenção foi que ao fazer giros mais fechados, o pavilhão encostava levemente no costeiro do mestre-sala. Mas esse fato não tira o brilho que o casal apresentou diante dos módulos de jurados.

Enredo

O carnavalesco Leandro Valente buscou falar das formas de fé que a humanidade tem nos seres sagrados das religiões. Trazendo a reza como uma força poderosa que une e fortalece as pessoas, mas como a intolerância religiosa também pode afastar.

Dividido em quatro setores, cada um abordando diferentes pontos acerca das rezas e preces, a escola mostrou como a reza é uma força que move a humanidade.

O primeiro setor, chamado “Quem Nos Guia Não Dorme”, explorou a dualidade entre a luz e a sombra, a comissão de frente, o primeiro casal, o abre-alas “Existe uma força maior que nos guia. Está no meio da noite e no clarão do dia” metade azul e metade amarelo, assim como a primeira ala “Reza Para Quem É Da Noite E Reza Para Quem É Do Dia” mostraram a onipresença de um Deus que não abandona quem pede por ele.

O segundo setor, “Reza Para Pedir e Reza Para Agradecer” , trouxe as divindades do ar, do mar e das águas, do fogo e da terra, no qual a reza tanto serve para suplicar ou agradecer por algo.

O setor “Reza Para Curar” veio logo em seguida, abordando a cura obtida através de feitiços, bruxarias e práticas esotéricas, colocando o sagrado como um lugar de cura, com seus banhos de ervas, entre outras práticas.

E, por fim, o último e quarto setor “Reza Por Um Mundo Melhor”, que trouxe as rezas por um mundo antirracista, não homofóbico, que luta pela preservação da fauna e flora e pelo direito à vida.

Harmonia

O carro de som passou muito bem pela avenida, mas não é possível dizer o mesmo sobre o canto da escola, que passou desequilibrado pelas alas. Mesmo com o bom desempenho do intérprete Tuninho Jr. a escola apresentou questões com um canto irregular.

Alegorias e Adereços

As alegorias da Tradição apresentaram problemas de acabamento. Como a cabeça da escultura do abre-alas estava com problemas no pescoço, um boto na terceira alegoria estava com uma perfuração bem evidente. No entanto, mesmo com esses problemas, é preciso dizer que os projetos eram ambiciosos e bonitos. Um ponto a ser relevado é que não houve soluções pobres ou preguiçosas de acabamento, os carros vieram bem revestidos.

Fantasias

A escola apostou em fantasias vibrantes e conceitualmente interessantes, mas a execução deixou a desejar. Já na primeira ala, muitos componentes precisaram segurar suas saias, e em outros setores, faltou padronização nos figurinos, pois haviam elementos faltando em fantasias da mesma ala.

Mas o problema mais notório do quesito foi a questão do tamanho das fantasias, muitos componentes desfilaram segurando suas fantasias, pois eram muito maiores que os seus tamanhos.

Ao contrário das alegorias, a escola apresentou soluções bem simplórias para a execução de suas fantasias.

Samba 

Com a autoria de Pretinho da Serrinha, Fred Camacho e Diego Nicolau, passou de forma correta na avenida, o público comprou o samba e mesmo com o canto irregular, algumas alas o cantaram bem. O samba foi muito apropriado para celebrar a volta da Tradição para a Sapucaí, além de ir de encontro com tudo que o enredo propôs.

Evolução

A escola veio bem grande, o que contribuiu para a evolução arrastada da Tradição na avenida. Além disso, faltou uma direção de harmonia mais precisa para garantir um melhor fluxo pela Sapucaí. Momentos de pausa, como a musa parando para fotos, causaram espaçamentos que impactaram o andamento do desfile. A última ala, dedicada aos compositores, também estava muito grande, obrigando a escola a literalmente correr no final da avenida para cumprir o tempo limite.

Outros destaques

O carro de som e a bateria garantiram a energia do desfile, sustentando a escola mesmo diante dos desafios enfrentados. Apesar dos problemas de evolução e acabamento, a Tradição mostrou força e emoção no seu retorno à Sapucaí.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Vigário Geral no desfile do Carnaval 2025

Um desfile muito bom da bateria “Swing Puro” da Acadêmicos de Vigário Geral de mestre Luygui. Um ritmo com uma profunda pressão sonora e com potência musical foi exibido. Uma musicalidade bem integrada ao samba-enredo da agremiação foi apresentada.
Na parte da frente do ritmo, um bom naipe de tamborins tocou interligado a um exímio naipe de chocalhos. Uma boa ala de agogôs tocou com segurança. Assim como cuícas sólidas também complementaram o preenchimento sonoro das peças leves.

Na cozinha da bateria da Vigário, uma afinação bastante pesada foi notada, ajudando a proporcionar impacto sonoro principalmente em bossas, além da tradicional virada para subida do samba, com pancadas consecutivas da primeira. Marcadores de primeira e segunda foram firmes, mas com precisão. Surdos de terceira deram bom balanço à parte de trás do ritmo da “Swing Puro”, inclusive com participação luxuosa em bossas.

Bossas altamente potentes foram realizadas. Um leque que primou por dar ênfase ao impacto sonoro envolvendo a afinação mais pesada do Acesso, garantindo assim uma nítida pressão dentro dos arranjos. O trabalho diferenciado de terceiras e caixas nas paradinhas merece menção musical positiva.

Uma apresentação muito boa da “Swing Puro” de mestre Luygui. Apelidada informalmente de “Tropa do Amassa”, os ritmistas da Vigário Geral fizeram jus ao nome, numa passagem explosiva e impactante de sua bateria.

Águia de Ouro 2025: galeria de fotos do desfile

Fotos: Rebeca Schumacker

Hoje o sol nasceu mais cedo pra te ver! Baterilha homenageia maestro e executa bossa inovadora na Sapucaí

A União da Ilha foi a oitava e última escola a se apresentar no primeiro dia de desfiles da Série Ouro na Marquês de Sapucaí, já na manhã de sábado. O enredo, “BA-DER-NA! Maria do povo”, se debruçou sobre a história da bailarina italiana Marietta Baderna, que viveu grande parte da vida no Brasil e, ao ficar associada às lutas populares, vinculou seu sobrenome injustamente à balbúrdia e confusão. Coração pulsante da escola, a Baterilha encarnou a Orquestra Nacional Brasileira.

“A bateria da Ilha vai homenagear o maestro Giannini, fundador da primeira Orquestra Brasileira, a Orquestra Nacional Brasileira, e marido da nossa homenageada Marietta Baderna A bateria vem fantasiada de orquestra, de banda. Eu vi na apresentação do enredo que, além de estar homenageando o maestro, a bateria referencia também a festa popular, que a Marietta saía com o povo fazendo uma banda fanfarra”, disse o mestre de bateria da escola, Marcelo Santos.

Um dos pontos altos do desfile foi a realização, pelos ritmistas, de uma marcante bossa na Sapucaí, que misturou instrumentos de orquestra, como lira, prato e bumbo, à clássica cadência do samba.

“A bateria hoje vai se tornar uma grande orquestra na Sapucaí. Vai ser uma grande orquestra de 240 ritmistas. Vamos fazer uma bossa justamente que vai lembrar bem uma apresentação de uma orquestra em toda cabine de jurado. A gente vai fazer essa junção. Ela vai começar com a bateria tocando, do nada a bateria para, a banda entra e depois as duas vão tocar junto, fazendo uma grande confraternização de ritmos para fazer essa grande homenagem ao samba e também à banda fanfarra em homenagem ao maestro Giannini”, prometeu Marcelo, pouco antes de entrar na avenida.

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O artifício agradou não só ao público, como aos próprios ritmistas, em suas diversas origens e perspectivas.

“A bossa é de bandinha. O nosso mestre misturou todas as etapas de instrumentos que correspondem à banda. Eu não vou contar direito, porque vai ser surpresa para vocês. Vocês vão ver na realidade lá na frente e vão ficar emocionados”, garantiu a professora do Ensino Fundamental Fátima Tavares, a Fafá do Chocalho, de 67 anos. Com longa trajetória carnavalesca, Fafá já foi coreógrafa de ala da comunidade e caiu na bateria, em suas palavras, por um descuido, ao experimentar de forma despretensiosa tocar um instrumento.

“Fui pra escolinha para curtir. Eles acharam que eu tinha ritmo, fui fazendo teste e consegui entrar para bateria. Eu sou ritmista da Baterilha há exatamente 8 anos”, relembrou.

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“Esse ano a gente vai fazer uma bossa misturando instrumentos de orquestra que quem esteve aqui no ensaio técnico viu que saiu pegando todo mundo”, afirmou o jovem Erick da Paixão, de 22 anos, há 7 anos na Ilha. Erick é insulano e trabalha em uma pizzaria com atendimento ao cliente.

“A sensação de tocar em uma bateria é incrível. É um sonho para todo mundo, ainda mais para as pessoas que olham a bateria passando e pensam ’um dia eu quero estar lá, um dia eu quero desfilar’. Eu comecei a assistir uma final do samba-enredo em 2018, 2018 para 2019. De lá, gostei. Comecei a procurar informações sobre as escolinhas de bateria da ilha. Comecei a fazer a escolinha, depois eu subi. Estou aqui até hoje. É uma bateria que tem muita história e muita tradição. A ilha para mim é tudo”, contou Erick.

Erick

“Fazer parte de uma bateria é muito mágico. As pessoas que veem de fora não entendem o sentimento. Só quem está dentro sabe como é a emoção de ver tanta gente assim vendo o trabalho de tanto tempo sendo realizado. Ser uma menina em meio a tantos homens crescidos é bem desafiador, não é o comum de se ver, mas tem que ser normalizado. Todo mundo pode fazer o que quiser e todo mundo deve experimentar coisas novas. Eu, principalmente, adorei vir para a escola de samba. É um lugar muito acolhedor para mim”, finalizou a estudante de 16 anos Laura de Andrade, cuja primeira experiência como ritmista se deu em 2022, pela Lins Imperial.

Laura

Freddy Ferreira analisa a bateria da União do Parque Acari no desfile do Carnaval 2025

Um ótimo desfile da bateria “Fora de Série” da União do Parque Acari, comandada pelos mestres Erik Castro e Daniel Silva. Um ritmo com uma sonoridade simplesmente ímpar e uma equalização de destaque foi exibido. Impressionante que no segundo ano no grupo de acesso esses mestres já tenham colocado a bateria da Acari entre as melhores da Liga RJ. O grande desfile de hoje culminou para ajudar a chancelar esse pensamento.

Na cabeça da bateria, um naipe de tamborins técnico tocou interligado a uma boa ala de chocalhos. Cuícas ressonantes também auxiliaram no trabalho das peças leves.

Na parte de trás do ritmo, uma afinação extremamente privilegiada de surdos foi percebida, com marcadores de primeira e segunda tocando de modo firme e seguro. Surdos de terceira deram um balanço bastante envolvente ao ritmo acariense. Repiques coesos tocaram junto de um belo naipe de caixas de guerra. É possível dizer, inclusive, que a ressonância dos caixeiros fizeram o instrumento servir como base de amparo musical às demais peças.

Bossas bem conectadas a melodia do samba-enredo foram notadas. A bateria da Acari aproveitou muito bem as nuances melódicas para consolidar o ritmo dos arranjos através das variações, fazendo um trabalho musical intuitivo, além de orgânico. Participação de todos os naipes nas bossas impressionam, pelo conjunto sonoro de raro valor, aliado a boas execuções nos dois últimos módulos.

Uma grande apresentação da bateria da União do Parque Acari, dirigida pelos mestres Erik Castro e Daniel Silva. Uma conjugação sonora de destaque dos mais diversos naipes foi exibida. Um ritmo condizente ao apelido “Fora de Série” foi exibido. Sempre pautado pela classe musical, equilíbrio sonoro, além de uma brilhante equalização de timbres. Um desfile que coloca o ritmo da “Fora de Série” da Acari em nítida evidência, após mais um grande trabalho.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Tradição no desfile do Carnaval 2025

Um bom desfile da bateria “Explosão de Elite” da Tradição, na estreia do mestre Thiago Praxedes na Sapucaí. Um ritmo com uma afinação de surdos potente, bossas intuitivas, simples, mas eficazes foi exibido.

Na parte da frente do ritmo do Condor, um naipe de cuícas se exibiu de modo ressonante. Tamborins funcionais deram bom volume às peças leves. Assim como um bom naipe de chocalhos contribuiu no preenchimento da sonoridade da cabeça da bateria da Tradição, junto de agogôs de bom nível, que ajudaram também em bossas.

Na cozinha da bateria “Explosão de Elite”, uma boa e tradicionalmente mais pesada afinação de surdos foi o ponto alto. Marcadores foram seguros, assim como os surdos de terceira fizeram um bom trabalho, inclusive em bossas. Caixas de guerra retas tocadas embaixo foram ressonantes, junto de repiques coesos e um naipe de taróis correto, auxiliando na sonoridade dos médios. Na parte de trás do ritmo também haviam frigideiras, dando um tilintar metálico que casou bem com uma bateria mais pesada.

Bossas baseadas em simplicidade e funcionalidade foram exibidas. Sempre seguindo o que solicitava a obra da azul e branco do Campinho. As bossas também foram bem impactadas pela pressão sonora envolvendo a boa afinação de surdos.

Um bom desfile de estreia de mestre Thiago Praxedes na bateria “Explosão de Elite” da Tradição. Um ritmo mais tradicional, com bossas funcionais e bom trabalho com as terceiras foi apresentado. Mesmo com um tempo apertado no último módulo, a exibição ocorreu sem problema em frente a quarta e derradeira cabine de jurado.

União do Parque Acari Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Abre-alas da Em Cima da Hora celebra raízes africanas na cultura brasileira com imponência e sutileza

No primeiro dia de desfiles da Série Ouro no carnaval 2025, a Em Cima da Hora trouxe para a avenida o enredo “Ópera dos Terreiros – O Canto do Encanto da Alma Brasileira”, que busca promover o respeito pela diversidade religiosa e cultural do Brasil, por meio do olhar em que a cultura africana foi trazida para terras brasileiras no período da colonização e fincou raízes que perduram até hoje.

Para ilustrar essa mensagem, a escola construiu um abre-alas imponente, mas sutil, chamado “Sob a Proteção de Olodumarê, O Santuário Ancestral”.

“O carro abre-alas representa a travessia de um grande palácio africano em terras brasileiras, para onde Olodumarê (divindade suprema presente em religiões iorubá e afrodescendentes) conduziu seus filhos. Eles foram raptados, mas chegaram aqui com pompa na nossa ideia, e é por isso que o carro não traz tons terrosos. Em vez disso, ele traz o espelho e o luxo, para refletir a ideia de contemporaneidade da cultura negra se enraizando pelo Brasil”, explica o carnavalesco Rodrigo Almeida, em conversa com o CARNAVALESCO.

O artista acredita que o conceito transcendental foi traduzido na cenografia do carro por meio da abstratividade.

“Mostramos esse lugar como um palácio, com guardas o protegendo com espadas. Esse lado transcendental está no místico, no lúdico. Não é um carro perfeitamente descritivo. Ele transmite uma mensagem por meio de uma aura, que as pessoas vão sentir e identificar no desfile”.

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A sutileza citada acima pode ser notada nas cores escolhidas para compor a estética da alegoria, que são azul, branco e prata.

“Essas cores transmitem a ideia de leveza, paz e riqueza, sem perder o tom de imponência que o primeiro carro pede, além de não serem tão habituais para um carnaval afro, trazendo um diferencial para a escola”, pontua o carnavalesco, que afirma que os elementos das culturas africanas trazidos para o Brasil podem ser vistos nas saias e nas esculturas do carro.

O enredo tem como base a obra Ópera dos Terreiros, do Núcleo de Ópera da Bahia, instituição que promove a representação da cultura negra em sua total ancestralidade.

“Salvador é conhecida como a Roma Negra. É o local que tem mais negros no mundo, fora da África. Essa homenagem representa isso. Todo esse palácio transcendental que atravessou o Atlântico e fincou raízes na Bahia está eternizado na nossa cultura”.

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Ao ser questionado sobre a emoção de ver essa grandiosa celebração da ancestralidade tomando conta da Avenida, Almeida revela:

“O carnaval é uma festa preta, ancestral, que vem do batuque, vem da senzala, vem da África. É isso que faz essa celebração ser emocionante, porque aqui na Em Cima da Hora o carnaval do Rio se encontra com o carnaval de Salvador, que são dois dos maiores expoentes da cultura negra brasileira. Poder juntar essas duas vertentes é grandioso”.

“Eu saio há 26 anos na escola e essa é uma das fantasias mais bonitas que a gente já teve”, diz componente da União da Ilha

A União da Ilha do Governador foi a oitava e última escola a se apresentar da Série Ouro na manhã deste sábado. O desfile homenageou a bailarina Marietta Baderna. Em tons de azul escuro, roxo, prata e branco, remetendo à noite estrelada, a décima quarta ala relembrou o costume da artista de banhar-se à noite, à luz do luar, no Rio de Janeiro do século XIX. O tema da fantasia provocou reações diversas dos componentes da ala.

“É até uma questão atual, porque a Baía de Guanabara está começando a apresentar resultados da despoluição e está retomando os passeios. É algo bem atual, que pode fazer com que o Rio de Janeiro comece a melhorar nesse sentido”, disse o árbitro de futebol Alexandre Cardoso, de 35 anos, que desfilou pela primeira vez na Sapucaí neste carnaval.

“Os banhos noturnos na Baía de Guanabara, provavelmente, naquela época, não tinham a violência que temos hoje. Porque, hoje, até de dia é difícil ir à praia, com arrastão, imagina à noite. Naquela época, era outra situação”, surpreendeu-se o militar aposentado Luiz Gil da Silva, de 70 anos.

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Morador de Santa Catarina, Luiz Gil desfila há 26 anos pela agremiação da Zona Norte carioca. Nascido na Ilha do Governador, o ex-integrante do exército mudou-se para outro estado devido ao trabalho, mas nunca deixou de prestigiar a escola do coração.

Em 2025, a União da Ilha se debruçou sobre o legado de Marietta Baderna, artista italiana contratada, no século XIX, pelo governo imperial para dançar para a elite, mas que, ao se deparar com as desigualdades sociais, liderou lutas políticas e tornou-se aclamada pela juventude militante de sua época.

“Pelo que eu entendi, ela era uma dançarina, uma bailarina, se não me engano, da Itália ou de algum país da Europa. Ela era discriminada lá, veio para o Brasil, a princípio para o Rio de Janeiro. Como no Rio ela não conseguia receber, porque era o trabalho dela, ela foi para Pernambuco. ‘Se o Rio não paga, partiu Pernambuco’. E ela foi para Pernambuco. Depois, voltou para o Rio de Janeiro e aqui desenvolveu o trabalho dela. Basicamente, é isso aí”, resumiu Luiz Gil.

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“Ela se revoltou com aquela coisa de bailarina tradicional e foi ficar junto com o povo. É interessante esse tema”, comentou Márcia Teresa Carrocino, de 63 anos, cirurgiã-dentista.

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“Eu não conhecia a Baderna. Conheci através da escola. Esse é um enredo muito político. Ele faz muito sentido e, hoje, inclusive, eu falava nas minhas redes sociais sobre a origem do camarote, criado por uma elite para outra elite. A Marietta Baderna vem justamente na contramão disso tudo. Ela vem mostrar uma forma de resistência para que a gente não deixe que essa festa popular, que essa festa que é nossa, vá para as mãos da elite”, declarou o médico Luís Carlos Rodrigues, de 29 anos, que, após 4 anos de desfile na Sapucaí, estreou como componente da Ilha.

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Aprovado o tema, vestida a fantasia, os desfilantes compartilharam suas expectativas para o grande evento.

Márcia projetou uma passagem alegre e leve pela Passarela do Samba: “A Ilha sempre foi uma escola muito alegre, muito divertida. Todo mundo sabe o samba. É uma característica da Ilha ser uma escola bem alegre”.

Os demais, no entanto, só pensaram naquilo…

“A Ilha há tempos não vinha preparada para voltar para o Especial. A escola está extremamente bem acabada. O Marcus, enquanto carnavalesco, conseguiu desenvolver o enredo de uma forma muito alegre, de fácil leitura. A Ilha está pronta para retornar para um lugar que é dela. É uma grande oportunidade de voltar para um lugar que, quem é amante do Carnaval, sabe que é pertencente a ela”, afirmou Luís Carlos.

“A expectativa é alta, porque é uma escola bem tradicional, logo, merece voltar para o Grupo Especial. Ano passado bateu na trave e agora é hora de tentar conquistar a vaga, a sonhada vaga aí pro pessoal”, torceu Alexandre.

“Eu saio há 26 anos na Ilha e essa é uma das fantasias mais bonitas que a gente já teve. A escola inteira você olha e não tem uma fantasia feia. A escola tem muitas possibilidades esse ano para conseguir subir. De 16, só sobe uma. Tem que ter cuidado com os detalhes mínimos, que é dali que vai sair o campeão. E nós temos esperança, com certeza”, encerrou Luiz Gil.

Tradição Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile