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Sou eu malandragem de corpo fechado! Última alegoria do Salgueiro retrata Zé Pilintra

A Acadêmicos do Salgueiro foi a terceira escola a desfilar na madrugada de segunda para terça na Marquês de Sapucaí, com o enredo “Salgueiro de corpo fechado”. A escola apresentou uma verdadeira viagem pelo mundo das práticas mágico-religiosas do povo brasileiro. O sexto e último carro mergulhou nas ruas da Lapa e na figura espiritual do Zé Pilintra, associado à malandragem e boemia.

“A gente sabia que teria uma Lapa no desfile, mas queria fugir dos Arcos da Lapa como a única representação possível do bairro. A gente pensou em trazer o santuário do Seu Zé Pilintra e a escadaria Selarón, que é um símbolo da Lapa muito bonito. A gente traz a figura do Zé Pelintra meio que espiritualmente no carro, porque é uma figura sem rosto, sem corpo. O que está ali é mais a energia do Zé Pelintra, que é uma escultura dos braços e a cartola dele”, explicou o integrante da equipe de criação Allan Barbosa, de 24 anos.

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“A gente vem no carro da Lapa, representando o povo da rua. É o retorno. O Salgueiro fez toda uma viagem de vários setores, desde o inícios dos rituais, como chegou o ritual no Brasil. Aqui a gente retorna para o Rio de Janeiro, falando sobre a umbanda, sobre o fechamento de corpo no Rio de Janeiro, por isso essa relação com a Lapa. Nós somos as Pombas Giras. Temos também os malandros fazendo parte do nosso carro”, disse a enfermeira Bianca Barbosa, de 32 anos, em seu sexto carnaval pelo Salgueiro.

Bianca

“A alegoria fala sobre o povo da rua, os malandros, as pombas-giras, as damas da noite. Tem até uma escadaria Selarón da Lapa também, que os malandros vão estar ali. A gente vai fechar o desfile com chave de ouro”, afirmou a administradora Carolina Florim, de 25 anos, dos quais 16 foram dedicados à Academia do Samba.

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Para além da atmosfera de liberdade e divertimento, o carro reverenciou o histórico intérprete da escola Quinho, que faleceu em janeiro de 2024.

“Esse desfile todo, na verdade, é uma celebração da própria história do Salgueiro. A gente traz vários símbolos caros à escola nesse desfile e esse último carro é mais um desses símbolos. A alegoria traz uma homenagem ao Quinho. O Quinho, em uma entrevista que ele deu, falou que ele passou por uma doença, onde ele foi no terreiro e ele fez um pedido a uma pomba gira, que era a pomba gira arrepiada. E essa pomba gira devolveu a voz a ele para ele. Como forma de gratidão, essa pomba gira pediu que ele sempre lembrasse dela nos desfiles. A forma que ele teve de lembrar dela todos os desfiles era dando o grito de ‘Arrepia’”, compartilhou Allan.

Animados, os componentes adiantaram detalhes da alegoria minutos antes de entrar na avenida.

“Temos uma performance que vocês vão gostar”, disse Carolina, de forma enigmática.

“Nós vamos fazer uma coreografia em cima de uma escadaria representando a escadaria de Santa Teresa. Vai dar o que falar, com certeza. Vai ter uma grande surpresa também no final desse carro. Desde dezembro, antes do Natal, a gente  começou a ensaiar”, finalizou o professor do Ensino Fundamental João Vitor Silva, de 29 anos, em sua primeira vez na escola.

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As Baianas da Vila Isabel: Guardiãs Espirituais do Carnaval de 2025

No coração do desfile da Unidos de Vila Isabel, a ala das baianas assumiu um papel que vai além da tradição e da beleza das fantasias. Em 2025, com o enredo “Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece”, do carnavalesco Paulo Barros, elas ganharam mais destaque como as guardiãs espirituais da escola, carregando consigo amuletos, rezas e patuás que protegem a agremiação e afastam as energias negativas. A força, a fé e a ancestralidade dessas mulheres guiou a Vila Isabel na Marquês de Sapucaí.

O CARNAVALESCO conversou com as baianas da escola sobre a fantasia que trouxe elementos de proteção contra as assombrações. Verinha, presidente da ala das baianas, explica que os amuletos são a base da proteção espiritual. “Tem figa, tem cruz, tem búzio, tudo o que está presente no ritual da baiana. Estamos benzendo a escola na abertura do desfile com esses símbolos”, disse a veterana. O giro da baiana, segundo ela, é uma forma de espantar o mal. “Se gira para a direita, espanta as coisas ruins. Se gira para a esquerda, traz coragem. Nosso giro está afastando tudo de negativo”, declarou.

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A fantasia das baianas é um retrato dessa força espiritual. Verinha, que está há 21 anos na ala, não esconde a emoção ao falar do trabalho do carnavalesco Paulo Barros. “Ele tem um carinho enorme pelas baianas. Diminuiu o peso das fantasias, e elas estão lindíssimas. É uma honra proteger a escola”, afirmou.

Para Eloá Oliveira Santos, de 37 anos, desfilar na ala das baianas é mais que uma tradição: é um legado familiar. “Desfilo desde pequena, e para mim, ser baiana é uma gratidão. É uma honra e um dever porque meu bisavô, minha avó e minha mãe fizeram parte dessa história. Seguir esse caminho é uma responsabilidade e uma alegria imensa”, declarou. Ela destaca que a fantasia traduz a força dos amuletos e da fé. “Cada detalhe, como o trevo da sorte e a figa, representa proteção e dedicação. É isso que a gente traz para a avenida”, afirmou.

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Cléo Alves, de 50 anos, está em seu terceiro ano como baiana na Vila Isabel. Para ela, a fantasia é uma representação da ancestralidade e da espiritualidade. “Tem o olho grego, a figa, a estrela… Cada símbolo traz uma energia de proteção e fé”, explicou. Cleo acredita que o giro da baiana é uma forma de espantar as energias ruins. “É a força da mulher baiana, guerreira e cheia de fé. Isso não tem como duvidar”, afirmou.

A emoção de desfilar na avenida, para Cléo, vai além do carnaval. “É um momento de gratidão. Minha mãe está comigo após um princípio de AVC e minha irmã se recupera de uma depressão. Hoje, só tenho a agradecer e mandar as energias ruins para longe”, disse emocionada.

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Em 2025, a ala das baianas da Vila Isabel guiou a escola com sua energia protetora. Cada giro, cada amuleto e cada detalhe da fantasia carregam a força de uma tradição que une fé, ancestralidade e amor pela agremiação.

Maculelê e Caxambu: O Salgueiro Exalta a Cultura Negra na Avenida

A tradicional ala do Maculelê veio na cabeça da escola, afirmando as manifestações populares de cunho religioso afro brasileiro. Representando o Caxambu, também conhecido como Jongo, a ala performática relembra uma dança da comunidade negra que surgiu durante o período colonial, especialmente entre os escravizados nas lavouras de café. O Caxambu reflete a resistência e a preservação das tradições africanas no solo brasileiro.

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Os caxambuzeiros antigos seguiam rituais que começavam com a oferenda dos tambores às almas ancestrais. Logo atrás da ala, veio o tripé “Vem No Tambor da Academia” que, além de relembrar o último enredo campeão do Salgueiro, tinha a professora e ilustre salgueirense Helena Theodoro, representando o “Matriarcado Salgueirense”.

Em entrevista ao CARNAVALESCO a professora Helena contou suas percepções sobre o que uma escola de samba representa para a história de um povo, a importância de se falar de ancestralidade na avenida e o impacto das escolas de samba fora do Brasil.

“Para mim, escola de samba é o maior tesouro que a comunidade negra criou para poder contar nossa história, falar da nossa cultura, falar das nossas origens, coisa que a gente não aprende na escola normal. Agora que a gente está lutando, eu na universidade, trabalhando com filosofias africanas, e eu fui a primeira filósofa negra a falar disso. O carnaval é você transformar tudo o que o seu povo está falando, de sua ancestralidade, de suas tradições, de sua cultura e agregando as pessoas daquela comunidade. Isso tudo você tem na escola de samba. Hoje é a culminância de um ano inteiro de integração e de colaboração de pessoas em diferentes áreas. É na pintura, é na concepção do enredo, é costurando, bordando, dançando, cantando, compondo. Isso dá um sentido de alegria à vida, mostrando que o centro da cidade é lá no subúrbio, a Zona Sul, que é a periferia, porque somos nós que criamos cultura e a escola de samba é um dos maiores fenômenos do mundo. Todas as pessoas querem copiar o que acontece com a escola de samba. Eu estive na Inglaterra e eu vi em Notting Hill a escola de samba que foi criada pela Estácio de Sá. Essas escolas de samba internacionais são todas de imigrantes, pessoas sozinhas e que durante um ano inteiro se aglutinam com a escola de samba, formam uma família extensiva e foi isso que a comunidade negra inventou no Brasil, retomar as suas origens, as suas tradições e usar sua memória ancestral que sempre foi negada pela Europa, que via a gente como um balde vazio, mas a gente não é, cada criança que nasce traz as suas memórias ancestrais. É um ancestral que volta. Então, a ancestralidade é muito importante.

Os componentes da ala do Maculelê, liderados pelo Carlinhos do Salgueiro, explicaram como a dança do Caxambu está refletida na performance deles na avenida.

“O Caxambu tem muita expressão, muita força. Conta, retrata uma história e conta justamente a história que o Salgueiro vem representando. Temos muitos movimentos grandes e fortes. A nossa força está toda demonstrada e o maculelê sempre foi uma ala coreografada que expressa isso, integridade, paixão pela dança, primeiramente”, disse a artista Eduarda Eloise, de 25 anos, que desfila há 8 na ala.

“A gente vem falando de uma manifestação cultural, que é o Caxambu do Salgueiro, e automaticamente isso traz muito para a questão do nosso enredo. Que está falando de ancestralidade, de fechamento de corpo, tudo isso que vem representado na nossa ala. A gente vem puxando a escola com toda a ancestralidade, então a memória de baianas, nossos avós, então quando a gente fala de ancestralidade, já puxa muito a nossa emoção, família. E nada mais justo do que esses tripés de Xangô na nossa frente, protegendo a escola e segurando a nossa força”, contou Márcio Daniel, vendedor de 27 anos, que desfila na ala do maculelê há 4.

“Este ano a gente resgata a nossa ancestralidade na época do Brasil colônia, até do próprio Morro do Salgueiro, que teve uma relação muito grande com o Caxambu, com a história negra, até mesmo com a religiosidade no Rio de Janeiro. Viemos de vermelho também, que é a cor de Xangô, o nosso padroeiro. Xangô é o nosso rei maior e é a ele que a gente deve todo nosso carinho, nosso respeito e a nossa proteção, é ele que nos protege e também fecha o nosso corpo. E vamos ter muito Caxambu na nossa dança, temos movimentos joelho com joelho, casais e tudo mais. As saias também são muito características, vai ser bem visível. Não foi fácil aprender, foram 8 meses de ensaio, mas valeu a pena”, contou Yuri Vieira, de 22 anos, que trabalha com marketing digital e desfila há 6 anos pelo Torrão.

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Sobre a sua presença no tripé, Helena Theodoro contou como recebeu o convite para vir no meio da ala do maculelê, a sua relação ancestral com o Salgueiro e como a escola lhe concedeu mais senso de identidade.

“E representar matriarcas, as mais velhas e a ancestralidade africana, para mim, é algo muito gratificante. Nos meus 81 anos, eu me sinto muito feliz com isso. O Salgueiro me procurou perguntando se eu aceitava. Eu digo, “é lógico que sim!”. A minha família era toda salgueirense, as minhas lembranças de infância são todas com o meu primo Daron do Salgueiro, com o Dondon que jogava no Andaraí, com toda uma família sempre ligada ao samba, eram negros urbanos e que tinham muito orgulho da sua história, e que gostavam de fazer festa, como dizia o Beto Sem Braço. A melhor coisa, quando a gente não tem dinheiro, é fazer festa. E a escola de samba é a festa de gente que não tem dinheiro, mas tem muita alegria, tem muita criatividade e, principalmente, tem muita alegria de estar junto com outra pessoa e aprender com aquele que é diferente. Seja ele mais velho, seja ele branco, amarelo ou azul. A gente gosta de coletivo, de aglutinar. São as diferentes alas que compõem uma comunidade. E preserva o território. Cada Escola de Samba representa um lugar. E como se vive nesse lugar? Quais as cores desse lugar? E como se canta nesse lugar? Cada samba enredo fala de um lugar. Eu, quando fui à África pela primeira vez, eles perguntaram qual era a minha tribo. Aí eu disse que não tinha tribo no Brasil. Eles falaram que todo mundo tem tribo. A tribo é o lugar onde você mora. Que caracteriza a sua vida e as coisas que você diz que te representam. Aí eu parei para pensar e eu digo, não, eu tenho tribo, sim. Eu sou da tribo carioca, tijucana, salgueirense. E foi um dos dias mais felizes da minha vida. E eu nunca mais deixei de me situar como carioca, tijucana, salgueirense”.

A ancestralidade, representada nos ritmos, cores e danças, reafirmou a força da comunidade negra e sua história. No compasso do Caxambu e sob a proteção de Xangô, a escola mostrou que tradição e inovação caminham juntas. Foi um tributo à memória, à fé e ao poder do povo salgueirense.

No abre-alas, a força do passado: Salgueiro celebra sua herança afro

Um enredo afro religioso é a cara do Salgueiro, isso é inegável. A dúvida que sempre fica no ar é como ele será retratado na avenida e quais signos a escola irá apresentar. Um símbolo mais que representativo sobre o tema é a ancestralidade negra do Salgueiro. Ela, que foi a pioneira em enredos afros, com o Quilombo dos Palmares, em 1960, levou em 2025, a sua velha guarda no abre-alas “Firma ponto ao sentinela, pede a bênção pra vovô”.

Todo trabalhado no vermelho e branco e adornado com pimentas e vários outros elementos de proteção religiosa, a alegoria não saudou sua ancestralidade apenas com sua velha guarda em cima do carro, mas no centro estava uma escultura de um preto velho com um pilão, que saúda e relembra o desfile de 1992, “O Negro Que Virou Ouro Nas Terras do Salgueiro”, quando a escola apresentou uma representação semelhante em seu abre-alas.

A presidente da velha guarda e fundadora do Salgueiro contou ao CARNAVALESCO que a presença da velha guarda no abre-alas é a tradução fiel da essência do Salgueiro.

“Eu, como presidente, achei muito bom a velha guarda vir no carro, ainda mais no abre-alas, é uma coisa que nunca aconteceu na Velha Guarda. Mas eu, particularmente, gosto de riscar o chão, mas para a ala é bom. Ainda mais do lado do nosso Preto Velho, que marcou a nossa história há um tempo e voltou para somar, sendo esse tema de enredo, ele não podia ficar por fora. Hoje estamos abrindo o desfile, mas se eu estiver com a minha comunidade do Morro de Salgueiro, posso abrir ou fechar o desfile, mas melhor ainda é abrir. Ainda mais nesse carro que tem Preto Velho, está cheio de pimenta, cheio de coisa para fechar o corpo, vamos levar proteção, alegria e tudo que a gente tem direito”, contou Maria Albano, de 85 anos, mais conhecida como Caboclinha.

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Alicerces da escola, as pretas velhas do Salgueiro vieram em cima do carro representando a herança ancestral do Morro do Salgueiro.

“Eu tenho quase 50 anos de Salgueiro, estive aqui com a escola quando esse preto velho desfilou pela primeira vez e agora venho do ladinho dele. Essa escola tem muita história. Nós estamos aqui representando as pretas e pretos velhos protegendo o Salgueiro. É a primeira vez que eu venho no abre-alas, estou achando tudo maravilhoso, vamos com muita fé, muita sorte para sairmos desse jejum”, falou Marli dos Santos, aposentada, de 77 anos.

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“Eu estou muito feliz e emocionada por estar aqui nesse carro, a nossa velha guarda é quase toda preta, então representar essa entidade de proteção é sensacional. O carro é a cara do Salgueiro, todo lindo, cheio de mandinga para a gente fechar o corpo na avenida e ser campeão”, declarou Maria do Carmo Moura, aposentada de 78 anos.

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Ao lado do carro, veio um grupo performático, as ‘Erveiras do Salgueiro’, representando uma série de conhecedoras dos mistérios sobre plantas comestíveis e ervas medicinais. Evocando também o conhecimento ancestral da natureza, as entidades protetivas, defumando e limpando as energias para chamar espiritualmente a proteção.

“O carro está maravilhoso, incrível. E a gente vem aqui abençoando no chão, ao lado do carro, mas abrindo o desfile também como as erveiras, abençoando o carro, o caminho da escola ao lado dessa grande equipe aí que é a velha guarda. Dentro do enredo e da proposta do carro, a gente retrata a defumação, o abrir das energias por meio das ervas. Quando você chega no terreiro, eu não sou da religião, mas eu sei que as ervas são muito importantes para os ritos de fechamento de corpo em todos os rituais da religião afro-brasileira. E ter a presença da velha guarda abrindo a escola como guardiã dessa memória, dessa ancestralidade salgueirense, não é nada mais do que providencial. A gente sabe que o Salgueiro é uma escola bem macumbeira e abri o desfile com essa ancestralidade, é muita energia”, disse Alessandra, tecnóloga em estética que é salgueirense desde criança, mas está desfilando pela escola pela primeira vez.

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Mais do que uma alegoria, o Salgueiro fez da avenida um terreiro de celebração, onde cada detalhe exalava força, fé e ancestralidade. No abre-alas, a velha guarda não apenas desfilou, mas reafirmou a história de um povo que segue firme, de cabeça erguida, fazendo do samba um ato de resistência.

Beija-Flor de Nilópolis revive “Ratos e Urubus” em um dos momentos mais emocionantes do Carnaval 2025

A Beija-Flor de Nilópolis preparou um dos momentos mais aguardados do Carnaval 2025, a recriação do lendário desfile Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia, originalmente apresentado pela escola em 1989, sob a assinatura do carnavalesco Joãosinho Trinta e do mestre Laíla. A homenagem no terceiro setor da escola com ala coreografada e alegoria, não apenas resgata um dos maiores marcos da história do carnaval brasileiro, mas também reafirma a capacidade da festa de provocar e emocionar.

‘’Para gente que já está na escola há muito tempo, é muito lindo ver esse cenário. Essa representatividade que eles estão fazendo e essa grande homenagem ao mestre Laíla que é muito merecedor’’, declara Elisa, de 42 anos, componente da ala.

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O desfile de 1989 foi um divisor de águas na forma como o carnaval era percebido. A Beija-Flor levou para a avenida um enredo que abordava a marginalização e a miséria, trazendo uma estética inovadora ao transformar o lixo e a decadência em luxo e grandiosidade. O grande símbolo desse enredo foi a alegoria de um Cristo mendigo, que precisou ser coberto com um plástico preto após ser censurado pela Igreja Católica. A cena se tornou um dos momentos mais icônicos do Carnaval carioca, acompanhada da célebre frase de Joãosinho Trinta: “Quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta é de luxo.”

As gerações mais jovens da escola que não viram a história sendo feita nos anos 80, absorveram esse legado através de estudo sobre o enredo e contação de histórias dos familiares. ‘’Eu já tinha ouvido falar antes do desfile, porém nunca tinha visto. Então, quando eu assisti, minha família, mesmo que todo mundo torce pela Beija Flor há anos, foi comentando comigo, falando quanto impactante é está representando, está vindo de Ratos Urubus. Eu gostei bastante, apesar da fantasia ser uma fantasia que nós não esperávamos, porque como é ala coreografada, porém eu gostei e fiquei muito surpresa’’, relata Julia Manhães, de 19 anos, componente da ala e estreante no desfile da Beija-flor.

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A proposta do desfile, que misturava crítica social e arte com impacto visual, conquistou o público e entrou para a história, apesar de a Beija-Flor não ter levado o título naquele ano. Mais de três décadas depois, a escola revisita essa narrativa em um momento de celebração ao legado de Laíla e sua parceria com Joãosinho Trinta.

‘’Em 1989 foi muito emocionante porque pega justamente numa parte bem uma memória afetiva minha, acabei de conversar aqui com a colega da ala que o meu irmão saiu, né, nessa ala em 89 e por ser um desfile muito emblemático, político, me toca muito. Eu fiquei muito emocionada e fiquei com mais vontade ainda de sair, porque eu só fiquei sabendo que era essa ala no dia da audição que eu participei’’, declara Eliza, de 42 anos, componente da ala.

 

A preparação para essa revisitação no carnaval de 2025 foi intensa e no formato que Laíla exigia. ‘’A gente está 4 meses ensaiando, se dedicando, a Beija-Flor ela é escola que o canto é impecável, o Laíla implantou isso também e a gente continua, a gente sai com o legado dele e continua fazendo, a gente que foi aluna dele, porque a gente aprendeu muito com ele, a gente continua fazendo o que ele nos ensinou. Tem que cantar o samba mesmo todinho, não pode errar a letra, nenhuma, nada, nenhuma letra, nenhuma vogal, nada’’, afirma Edilene, de 40 anos, contadora que desfila na escola há 15 anos.

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A escola apostou na emoção e na memória afetiva para conquistar o público e os jurados, reafirmando sua posição como uma das grandes potências do samba.

‘’Eu acho importante, até mesmo por conta do Cristo e a mensagem que a gente vai passar, eu acho que faz uma mensagem importante e que, infelizmente, naquele ano não ganhamos, mas esse ano eu acho que a gente tá vindo muito mais forte, não só a nossa aula, mas como outras também.

Acredito que a emoção vai ser até maior, porque vai relembrar de como aconteceu antigamente e vendo hoje tanto para mim quanto para outras pessoas aí Então vai ser muito maior’’, finaliza Julia Manhães.

 

O desfile, sem dúvida, é um tributo à genialidade de Joãosinho Trinta e à capacidade do Carnaval de contar histórias que transcendem a festa, emocionando e fazendo refletir. Seja pela nostalgia ou pela força da mensagem que ainda ressoa nos dias de hoje, Ratos e Urubus tem tudo para marcar a avenida mais uma vez.

Baianas da Tijuca levam o cuidado matriarcal para a Sapucaí

A Unidos da Tijuca se apresentou na noite dessa segunda-feira, na Marquês de Sapucaí, com o enredo “Logun-Edé – Santo Menino que Velha Respeita”, sobre o orixá do candomblé. Um dos segmentos mais marcantes de qualquer escola, a ala das baianas representou as matriarcas que alimentam a entidade de acordo com a dieta que potencializa seu equilíbrio energético, na crença sagrada.

O CARNAVALESCO entrevistou algumas componentes da ala pouco antes do começo do desfile, na concentração.

“Eu gosto de cozinhar de tudo, porque eu trabalho em restaurante, em hotel. É todo um apanhado da cozinha brasileira. Comecei como ajudante de cozinheiro. Eu era doméstica e minha patroa me explorava muito, até que vi o anúncio no jornal para o restaurante. Nisso, já estou há 20 anos”, disse Sônia Pereira, de 67 anos, há 5 desfilando pela Tijuca.

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“Fui cozinheira muitos anos, hoje em dia eu não sou mais. Sou cozinheira só da minha casa e do meu marido. Cozinhei muitos anos para uma família americana. Muitos anos mesmo. Eles gostavam de comer cozido, feijoada. Eles lá fora não tem nada disso, então, quando eles vêm aqui para o Brasil, eles gostam. Eu sou pernambucana. Eu vim para o Rio de Janeiro com essa família quando tinha 15 anos. Eles praticamente me criaram. Até hoje, essa família me liga para saber como é que eu estou, como é que eu não estou. Eles me ajudaram a comprar meu apartamento aqui na Glória”, compartilhou a atual dona de casa Maria José da Silva, de 64 anos, que desfila como baiana da Tijuca há mais de 30 anos.

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As baianas falaram ainda sobre suas experiências de liderança familiar, destacando a particularidade do cuidado e do toque feminino.

“Tenho três filhos e dois netos. Cuido deles no dia a dia, porque eu trabalho, não tenho tempo para ficar em casa, mas, quando estou, é muito carinho. Já estou começando a introduzir eles no samba”, dividiu Sônia.

“Tenho uma filha. Morro por ela. Já está com 22 anos. Uma moça. Deus foi muito generoso comigo porque me deu uma filha muito generosa, que gosta de estudar, corre atrás. Para mim, para o pai dela, é um orgulho muito grande. Ela faz faculdade de biologia, está até fazendo estágio como professora”, enalteceu Cristina Lima, de 60 anos, em seu primeiro carnaval pela Tijuca.

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“Eu não tenho filhos, mas eu tenho uma mãe que eu gosto de cuidar dela. Moro eu, ela e mais um irmão. Converso com ela, procuro saber das necessidades dela, saber se ela precisa de algo que eu não esteja vendo para que ela possa ser bem cuidada. A gente acaba se tornando os pais dos nossos pais. É uma retribuição de todo cuidado, carinho e amor que eu recebi desde a infância”, explicou a arquivista Luciane Ferreira, de 50 anos, que estreia não só na Tijuca, como na posição de baiana.

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De fato, a entrega e o poder feminino são inegáveis. Para Maria José, trata-se de uma consciência acerca da estreita relação entre o individual e o coletivo.

“Às vezes, as pessoas pensam que é só você que tem que estar bem, mas para você estar bem, os seus amigos também precisam estar bem, seu marido precisa estar bem, sua família precisa estar bem. Isso é muito importante. Eu não sou mãe, mas tem uma sobrinha que eu criei que já tem dois filhos. Vamos dizer que tenho dois netinhos. Eu já não cuido mais dela porque ela já é casada, vive na sua casa, mas de vez em quando precisa da vó, da mãezinha aqui para os netinhos. Os filhos saem de casa, mas não saem. Estão sempre lá junto e isso é muito importante”, finalizou a ex-cozinheira.

A Revolução na Harmonia: O Método Laíla e Seu Impacto no Carnaval de 2025

A Beija-Flor de Nilópolis desfilou na Marquês de Sapucaí com um enredo emocionante e cheio de significado: uma homenagem a Laíla, figura central na história da agremiação e do carnaval carioca. Conhecido por sua exigência e pelo método revolucionário que transformou a harmonia em um espetáculo à parte, Laíla deixou um legado que continua vivo na escola, mesmo após sua partida.

Em entrevista ao CARNAVALESCO os integrantes da Beija-Flor, desde veteranos até novos componentes, falaram que o método Laíla não é apenas uma técnica, mas uma filosofia que permeia todos os aspectos do desfile. Para Maria da Silva, 75 anos, 54 de Beija-Flor e membro da Velha Guarda, a saudade de Laíla é um sentimento que se mistura com a responsabilidade de manter o alto padrão que ele sempre exigiu. “A responsabilidade, a emoção, as pessoas cantam chorando, porque a saudade dele é muito grande”, disse Maria, destacando que o canto da comunidade será fundamental para reverenciar o mestre.

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Ieti Lima Soares Senra, diretora de harmonia, 22 anos de Beija-Flor, reforçou a importância do legado de Laíla. “Ele sempre foi muito exigente com o canto, a evolução e o desenvolvimento. Toda vez que escutamos o samba, lembramos dele e de como ele nos cobrava”, afirmou. Para Ieti, o fato do enredo deste ano ser uma homenagem a Laíla aumentou ainda mais a exigência. “O rolo compressor voltou com mais garra”, brinca, referindo-se ao apelido carinhoso dado por Laíla a agremiação, que garantia que a escola desfilasse com uma harmonia impecável, como um “rolo compressor” na avenida.

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Serginho Aguiar, compositor do samba-enredo e responsável por representar Laíla no desfile, destaca a emoção que envolve a preparação deste ano. “É inimaginável representar Laíla e ao mesmo tempo trazer um samba de qualidade para a Beija-Flor”, disse ele. Serginho ressaltou que, embora seja impossível reproduzir a genialidade de Laíla, a escola se esforça para honrar seu legado. “A emoção vai fazer a diferença neste carnaval”, afirmou confiante de que a Beija-Flor está pronta para conquistar o título após 7 anos sem vencer.

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Para os novos integrantes, como Alana Santos, aderecista de 22 anos, o método Laíla é uma lição que vai além do carnaval. “Aprendemos que a Beija-Flor não é só uma escola de samba, é uma escola de vida. Aqui criamos família, vínculos e levamos experiências para a vida”, diz Alana. Ela destaca que, mesmo não tendo convivido diretamente com Laíla, sente o peso de sua presença em cada ensaio e em cada detalhe do desfile.

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O método Laíla, que revolucionou a harmonia no carnaval, continua a inspirar gerações. Sua exigência por canto impecável, evolução sincronizada e dedicação total tornou-se um padrão para a Beija-Flor. Com emoção e garra, a comunidade de Nilópolis honrou o legado de canto deixado por Laíla.

Entre o Borel e a Avenida: Logun-Edé na Alma Tijucana

Após anos de pedidos, a Tijuca trouxe Logun-Edé como enredo e teve a aprovação unânime de seus componentes. Além das cores da escola serem as mesmas que identificam o orixá, o pavão, que é símbolo da agremiação, também é um signo da divindade.

O enredo relaciona a jovialidade de Logun-Edé com a juventude do Morro do Borel, comunidade onde a escola nasceu, mas que, para muitos, parecia distante nos últimos anos. Celebrar o orixá na avenida é motivo de emoção para muitos componentes e até para não torcedores da escola.

O CARNAVALESCO ouviu componentes da ala 16, as ‘Guerreiras de Abeokutá’, que representaram as guerreiras de Ilexá, reino liderado por Logun-Edé, e conheceu histórias emocionantes sobre a relação do orixá e do candomblé com a narrativa da Tijuca.

A professora de educação infantil, Neusa Rodrigues, se emocionou ao falar de sua fé e do motivo que a trouxe para o desfile da Tijuca, seu filho representando Logun-Edé em uma alegoria.

“Estou desfilando por conta do meu filho que foi convidado para representar o Logun-Edé. Fui a um ensaio na quadra e achei interessante o samba, perguntei se ainda tinha vaga, me inscrevi e estou amando. É de uma felicidade imensa estar aqui com minha família, meu filho e minha irmã. Nós somos do Candomblé, meu filho é de Ogum, eu sou de Oxóssi, pai de Logun, que é tão importante e representativo para a escola. Particularmente, todo desfile que fala sobre a cultura africana, afro-brasileira e principalmente das religiões de matriz africana, eu acho extremamente interessante. Porque a gente vive muita intolerância, agora que as coisas estão mudando, pois nós temos nossos heróis, nós não somos descendentes de escravizados, nós somos descendentes de reis e rainhas, guerreiros e guerreiras. Isso aí é um fato, uma pessoa não pode ser considerada apenas escravizada para sempre. Ela foi um período, e a gente deu a volta por cima. Mas é um começo, eu fico muito feliz de ver as escolas de samba esse ano falando desses enredos. Além disso, achei o samba enredo muito lindo. E ter uma pessoa como a Anitta, que é de Logun-Edé, compondo, eu imagino a energia que ela não colocou”, disse a professora de 73 anos.

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Tijucana fiel, Renise afirma que a escolha de Logun-Edé pela Tijuca combina com os enredos das demais escolas e que é um estreitamento de laços da agremiação com sua comunidade do Borel.

“Esse enredo tem a cara e as cores da escola. O amarelo-ouro e o azul pavão. Sendo assim, é um tema ótimo, até porque é um tema que está combinando com as demais co-irmãs. As demais co-irmãs, quase todas, com exceção de duas, vêm apresentando enredos afros. E o Logun-Edé é sensacional dentro dessa conjuntura. Fazia tempo que a Tijuca não falava de um enredo afro, e é um enredo afro que, além de homenagear o padrinho dela, aproxima a Tijuca do Morro Borel, de sua comunidade. Ela sempre exaltou o Borel, mas a proximidade com a população, com a comunidade, óbvio que é sensacional e muito importante. O samba é ótimo, esse refrão é lindo, “Logun-Edé, Logun Arô” é um refrão que exalta tudo o que Logun-Edé é”, declarou Renise Caetano, aposentada de 71 anos.

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Em um tripé da escola, chamado “Ologun-Edé” que representou o orixá como um bravo guerreiro que defende a soberania de seu povo e o conduz à glória, a Tijuca busca o reencontro com a sua identidade. Após mais de 20 anos sem levar um enredo afro para a avenida, a Tijuca resgata uma parte essencial de sua trajetória.

“Para mim, é tudo nota dez, o samba, o enredo, esse tripé lindo com o pavão e com Logun-Edé. A Tijuca estava precisando pintar essa avenida de amarelo e azul. Não tenho o que falar. Tudo que está no enredo, nas fantasias, encaixa em tudo, nas letras do samba e era tudo que o Tijucano do Borel queria, se ver representado pela escola. Eu espero que esse enredo seja dela para a comunidade”, contou a técnica de enfermagem Fátima Silva, de 56 anos e estreante na Tijuca.

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Com Logun-Edé à frente, a Tijuca não apenas brilhou na avenida, mas reafirmou seu compromisso com suas raízes e sua comunidade.

Emocionada, a comunidade da Beija-flor de Nilópolis em redenção no desfile que homenageia Laíla

O Carnaval de 2025 promete ser marcado por um tributo emocionante e repleto de significados para a Beija-Flor de Nilópolis. O desfile deste ano é, sem dúvida, uma grande homenagem a Laíla, um dos maiores ícones da história da escola e uma figura fundamental para o desenvolvimento e a identidade do samba. Mais do que um simples diretor de Carnaval, Laíla foi um símbolo da comunidade, da disciplina, da técnica e da paixão que permeiam a trajetória da azul e branca de Nilópolis.

Laíla não era apenas uma figura técnica, ele era um pilar da comunidade da Beija-Flor que tinha a capacidade de dialogar com todos os membros da escola e isso faz com que o desfile de 2025 tendo ele como enredo, seja ainda mais especial por ser uma figura conhecida e emblemática.

‘’Os enredos, eles vêm sendo apresentados com muita antecedência antes do carnaval, então as pessoas, os componentes estudam aquilo e esse ano não foi diferente, a gente não deixou de estudar, mas era uma pessoa que todo mundo tinha contato diário, não importa, né? De um componente da aula ao presidente da escola, é uma pessoa que todo mundo tinha contato efetivo, eu acho que é um diferencial, é realmente uma coisa muito diferente exclusiva deste ano’’, relata Marcella, advogada de 23 anos que desfila na escola desde 2015.

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Laila faleceu em 2023, mas deixou um grande legado na Beija-Flor, uma escola que, sob sua direção, se tornou uma das mais prestigiadas e premiadas do Carnaval carioca. Ao longo de sua carreira, Laíla transformou a Beija-Flor em um verdadeiro sinônimo de excelência técnica, de perfeição nos detalhes e de um amor imensurável pelo samba. Nos ensaios, a presença de Laíla continuou a ser sentida, como um eco no canto forte dos componentes, nos passos das baianas, nas batidas da bateria e na energia dos cantores.

‘’A maior manifestação da presença dele é exatamente a garra que a comunidade está mostrando. Você vai no ensaio, você vê que todo mundo está chorando, está todo mundo muito emotivo, porque a gente tá fazendo isso também por ele,  a gente está querendo prestigiar a escola, a gente está querendo também mostrar que é aquilo tudo que ele passou, que ele sempre foi muito forte, ele sempre foi muito detalhista em tudo, está todo mundo se dedicando ao máximo nesse carnaval’’, declara Rosana, de 52 anos, moradora de Nilópolis e componente da ala de baianas da Beija-flor.

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No desfile de 2025, a Beija-Flor vai além de uma simples reverência a Laíla. Mais do que evocar sua memória, a escola busca trazer à tona sua essência, seu caráter e sua paixão. Sua obsessão por detalhes, sua busca incessante pela perfeição e sua habilidade em dar voz à comunidade estar de maneira grandiosa na Avenida.

Nos ensaios, a presença de Laíla continua a ser sentida, como um eco nos movimentos dos componentes, nos passos das baianas, nos acordes da bateria e na energia dos cantores. O espírito dele está vivo na organização meticulosa da escola e na maneira como tudo é coordenado para que o desfile seja mais do que uma simples apresentação, mas sim uma celebração da cultura, da história e da alma da Beija-Flor.

‘’A gente precisa mostrar tudo aquilo que ele nos ensinou, então a gente vai estar botando em prática tudo isso hoje na Avenida’’, diz Valdésia, dona de casa de 52 anos, componente da escola há 10 anos. Essa grande homenagem em forma de desfile tem emocionado e envolvido intensamente todos os desfilantes e apaixonados pela azul e branco de Nilópolis. ‘’Para mim é um prazer muito grande, é uma alegria, uma felicidade estar aqui podendo estar homenageando essa pessoa tão importante no mundo do samba. A escola está muito mais envolvida. O sentimento é outro, o clima é outro, a energia muito boa, a energia está diferente’’, declara a dona de casa.

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Em 2025, o Carnaval da Beija-Flor não será apenas uma apresentação, será uma verdadeira celebração da vida e da obra de Laíla. O desfile será um tributo à sua memória, mas também uma prova de que, mesmo após sua partida, seu legado continua presente de forma vibrante. A Beija-Flor de Nilópolis é, hoje, um reflexo de tudo o que Laíla representava e ajudou a construir a marca de rolo compressor da escola. ‘’Todos estão muito envolvidos, você vê o sentimento,  as pessoas chorando, bem emotivo. Hoje é dia de cantar e chorar na avenida’’,

A Beija-Flor de Nilópolis, em 2025, entra  Avenida com uma performance que remete ao rigor técnico e à visão estratégica de Laíla. A escola vai seguir o padrão de excelência que ele tanto prezava: fantasias elaboradas, alegorias imponentes e um samba-enredo que promete emocionar tanto os jurados quanto o público.

‘’O próprio Marino que é o nosso diretor de Carnaval, ele mandou uma mensagem para todo mundo que tá desfilando e  ele falou que isso aqui é a nossa vida. A gente tem determinação, a gente tem, a gente pode esse ano conquistar o título, a gente tem que trazer dentro de cada um de nós essa essa garra que vivia no Laíla. Então é por isso que a gente tá demandando tanto de vocês esse ano mais do que nunca. Eu acho que é isso mesmo que mostra o que ele era’’, finaliza Marcella, componente da escola.

Selminha Sorriso e Claudinho se emocionam ao homenagear Laíla em desfile da Beija-Flor de Nilópolis

Há quase 30 anos dançando juntos como primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Beija-Flor de Nilópolis, Claudinho e Selminha Sorriso protagonizaram um dos momentos mais emocionantes do desfile da agremiação na Marquês de Sapucaí. O casal prestou uma tocante homenagem a Luiz Fernando do Carmo, o Laíla, figura icônica da escola e do carnaval carioca, que faleceu em 2021.

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Antes de entrarem na Avenida, Selminha e Claudinho conversaram com o CARNAVALESCO e compartilharam a emoção de celebrar a memória de quem foi um dos pilares da Beija-Flor. “Feliz demais. Desde que anunciamos que a escola faria esse enredo, a comunidade vibrou. Missão dada é missão cumprida: fazer um grande desfile em homenagem ao Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o nosso Laíla, o meu Lalá, como eu chamava carinhosamente”, revelou Selminha.

Claudinho destacou a importância de Laíla para a história da escola e para sua vida pessoal. “A emoção é grande ao homenagear uma pessoa que tanto fez pela nossa Beija-Flor. É um momento em que relembramos e colocamos em prática todos os ensinamentos que ele nos deixou, tanto no carnaval quanto na vida”, afirmou o mestre-sala, ressaltando que o sentimento nilopolitano por Laíla foi o elemento central que guiou a dança do casal na Avenida.

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Laíla foi o responsável por levar Claudinho e Selminha para a Beija-Flor em 1996, marcando o início de uma trajetória de sucesso e dedicação à escola. Claudinho não esconde a admiração que sente por Laíla, a quem considera um pai e um exemplo de vida. “Ele é exemplo tanto no trabalho quanto na família. Era um cara alegre, que sempre fazia festas em casa e gostava da perfeição. Não gostava de perder nada, nem jogo nenhum, assim como no carnaval. Laíla era predestinado, nasceu para vencer e queria vencer a todo momento”, declarou.

Selminha, por sua vez, destacou o papel fundamental de Laíla em transformar a Beija-Flor em uma escola competitiva e respeitada no mundo do samba. “Ele nos ensinou a ser fortes, a entrar na Avenida como verdadeiros artistas. Ele nos ensinou a existir, a encantar. E ensinou a Beija-Flor a ser uma escola competitiva, que entra para brigar pelo título”, afirmou a porta-bandeira, emocionada.

No desfile da escola de Nilópolis, o casal representou uma parte importante da trajetória de Laíla na Beija-Flor e no carnaval: a espiritualidade. Para Selminha, Laíla compreendia que a escola de samba é um espaço de resistência. “Comprometido com a história do samba, Laíla foi um homem que brigou pela religião de matriz africana e pelos enredos de temática afro-brasileira. Um homem que ostentava suas guias quando muitos de nós tínhamos receio de passar por preconceito”, afirmou.

Selminha e Claudinho pisaram na Marquês de Sapucaí carregando muito afeto e gratidão com o objetivo de transmitir gratidão e o carinho que a comunidade sambista nutre por Laíla, perpetuando seu legado na história do carnaval. O casal mostrou que, além de talento, carrega no coração o amor pela Beija-Flor e por Laíla, que dedicou sua vida ao samba.