Atual campeã do carnaval carioca, a Acadêmicos do Grande Rio apresentou o enredo que levará para a Marquês de Sapucaí em 2023. A homenagem ao cantor e compositor Zeca Pagodinho recebeu o título de “Ô Zeca, o pagode onde é que é? Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém, pra te ver, pra te abraçar, pra beber e batucar!” A proposta será desenvolvida pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, que comentaram as escolhas temáticas.
De acordo com Bora, trata-se de uma festa, de um ritual de celebração: “Entendemos que a dimensão festiva dos desfiles das escolas de samba, algo que curiosamente às vezes é colocado em segundo plano, é um componente fundante e profundamente político. Iremos celebrar a vitória de 2022, um feito inédito na história da Grande Rio, exaltando o ‘modo de vida’ de Zeca. Não se trata, evidentemente, de uma biografia linear, algo que nunca fizemos. Cantaremos o universo simbólico dele e exaltaremos a sua personalidade de cronista. Entendemos Zeca como um cronista da vida dos subúrbios cariocas, um artista que se comunica de maneira extraordinária com a sua legião de fãs. Justamente por ser muito popular, às vezes é considerado ‘pouco denso’, o que, para nós, não faz sentido. A crônica é profundamente transgressora. Estamos mergulhados na poesia”, declara.
Para Haddad, o “espírito do enredo” já está condensado no cartaz de apresentação, criado, pelo terceiro ano consecutivo, pelo artista Antônio Gonzaga: “Podem esperar um desfile alegre, vibrante, com o espírito das ruas cariocas. Um desfile solar, jocoso, bem-humorado, que irá celebrar a vida cotidiana. O pôster do enredo, criado por Toín Gonzaga, sintetiza esse espírito: é uma espécie de colagem de anúncios, faixas, cartazes de rua. Caquinhos, pipas, engradados, cobogós. Fugimos das visões monumentalizadoras e sóbrias, que não combinam com o ‘Zeca way of life’. A pintura de Guilherme Kid, reinterpretada e inserida na arte de Antônio, é a essência disso. Estamos muito felizes com essa troca e com a permanência da experimentação.”
Pelo quarto ano, o enredo é assinado pelos carnavalescos em parceria com o historiador e antropólogo Vinícius Natal, que destaca a importância da proposta para a compreensão da importância do movimento do pagode: “Falar de Zeca é falar do samba e do pagode em suas múltiplas dimensões. É direcionar as lentes para essas expressões musicais que no mais das vezes são consideradas menores. Além disso, é uma reflexão potente sobre centro e periferia: a partir dos diálogos que estabelecemos com diferentes interlocutores, algo que sempre fazemos, entendemos que os subúrbios têm posição de centralidade. Olhamos o subúrbio como centro, pensando outras geografias e outras formas de se encarar o espaço urbano e as vivências cotidianas. Trata-se de uma celebração do samba, do pagode, das coisas que mais amamos em uma agremiação sambista: as ruas, as barraquinhas, a sociabilidade, o dia a dia.”
A sinopse do enredo será lançada no dia 08 de julho, sexta-feira, às 19 horas, na quadra da Grande Rio, em Duque de Caxias. Durante o evento, os carnavalescos irão apresentar uma visão mais elaborada do enredo para os compositores da tricolor caxiense.
Atual vice-campeã do Carnaval, a Beija-Flor de Nilópolis deu a largada para o seu concurso de samba-enredo nesta terça-feira, 5. A agremiação reuniu os compositores na quadra para apresentar a sinopse e as regras da disputa que elegerá o hino do enredo “Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da Independência”. Mais uma vez, o concurso será aberto a todos os compositores e não terá taxa de inscrição.
Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação
Para inscrever sua obra, a parceria deverá comparecer na quadra da escola, em Nilópolis, no dia 9 de agosto, e entregar 30 cópias da letra. No mesmo dia, ocorrerá a primeira apresentação. Assim que os compositores confirmarem a participação na disputa, cantarão a obra numa roda de samba que estará rolando ao longo do dia na quadra da azul e branca. Durante os intervalos entre as apresentações, os cantores da “Deusa sa Passarela”, acompanhados dos ritmistas de mestres Plínio e Rodney, comandarão a roda ao som de hinos históricos da Beija-Flor. A entrada é franca.
Assim como no ano passado, quando o concurso chegar a 10 sambas classificados, a escola gravará os concorrentes na voz do intérprete Neguinho da Beija-Flor. Qualquer outra gravação feita pelos compositores, mesmo que de forma caseira, está proibida.
“Foi um modelo que fizemos ano passado e deu muito certo. Quando a gente deixa a gravação para os compositores, cada um grava dentro das particularidades dos intérpretes que defenderão suas obras na quadra. E assim a gente fica quatro meses ouvindo o samba na voz de um outro intérprete que não é da Beija-Flor. Preferimos esperar um mês a mais para gravarmos os 10 sambas na maior voz da nossa festa, que é o Neguinho”, explicou Dudu Azevedo, diretor de Carnaval da Beija-Flor.
Antes da inscrição, os compositores ainda terão duas datas para tirar dúvidas com os carnavalescos Alexandre Louzada e André Rodrigues e o pesquisador Mauro Cordeiro. O trio estará no barracão da escola, na Cidade do Samba, nos dias 12 e 19 de julho, das 15h às 19h. O início do concurso na quadra acontece 18 de agosto, com a final prevista para 13 de outubro.
Confira o calendário da disputa:
12/07: Tira-dúvidas no barracão – 15h às 19h
19/07: Tira-dúvidas no barracão – 15h às 19h
09/08: Entrega dos sambas concorrentes e primeira apresentação
18/08: Início da disputa na quadra
01/09 – 15/09: Período de gravação dos 10 sambas classificados com Neguinho da Beija-Flor
13/10: Final do concurso (previsão)
Nada de férias! O último mês foi de muito trabalho para a rainha de bateria do Paraíso do Tuiuti. Mayara Lima passou o período na Europa dando aula de samba no pé para estrangeiros. A majestade da azul e amarelo de São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, esteve na Inglaterra, Suécia, Polônia, França, Suíça, Espanha e Portugal. Por lá, ela ensinou um pouco do seu sincronismo característico.
Foto: Divulgação
“Não deu nem tempo de passear direito, todo dia tinha uma aula diferente. Eu amo esse contato com pessoas de outra cultura e que amam a nossa arte. Sempre foi meu sonho viver trabalhando com o samba”, disse Mayara, que, antes de estourar nas redes sociais, já tinha feito turnês de samba no pé na França, Suécia e Finlândia.
Depois da atual temporada no Velho Continente, a jovem não escondeu a emoção ao voltar para casa e reencontrar o filho, Arthur, de 3 anos. Agora, Mayara vai começar a se preparar para o retorno da temporada pré-carnavalesca. É que os ensaios com público do Tuiuti retornam no próximo dia 22 de julho.
“Literalmente, não tive férias mesmo. Vou começar a olhar roupas para os ensaios, tenho que me preparar para esse retorno dos ensaios. Vai começar a maratona toda de novo. Mas nem reclamo. Eu amo muito tudo isso!”, afirmou.
Mayara Lima foi anunciada como nova rainha de bateria do Tuiuti no dia 13 de maio. A soberana ganhou fama no último Carnaval, quando um vídeo sambando na frente da bateria SuperSom do Tuiuti ultrapassou a marca de um milhão de views em menos de 24 horas.
Para 2023, o Paraíso do Tuiuti vai levar o enredo “Mogangueiro da Cara Preta”, dos carnavalescos João Vitor Araújo e Rosa Magalhães, para a Avenida.
Na noite desta quarta-feira, 06 de julho, a Unidos de Padre Miguel, divulgou o enredo que levará para a Marquês de Sapucaí em 2023. Trata-se de “Ave Maria Olorum – A Corte da Boa Morte”. De autoria dos carnavalescos Edson Pereira e Wagner Gonçalves, o enredo do boi vermelho contará a história da Irmandade da Boa Morte, festa secular que acontece há mais de 200 anos em Cachoeira, cidade histórica do recôncavo da Bahia.
A Irmandade da Nossa Senhora da Boa Morte é uma confraria religiosa afro-católica e que foi por muito tempo responsável pela alforria de inúmeros escravos. A escolha por Nossa Senhora deve-se a uma promessa feita pelas irmãs mais antigas da confraria. Elas prometeram que se todos os escravos fossem libertos, elas iriam cultuar Maria na vida e na morte. Atualmente, a irmandade segue como forma de resistência, com sua missão social, dedicada principalmente à educação. Considerada Patrimônio Imaterial da Bahia desde 2010, a celebração acontece no mês de agosto, mês dedicado à Nossa Senhora e atrai milhares de pessoas de diversos lugares do mundo.
Na próxima semana, a agremiação irá divulgar a sinopse e como será a disputa de samba.
O diretor de carnaval da Unidos de Padre Miguel, Cícero Costa, analisou a posição de desfile da escola no Carnaval 2023. A agremiação da Vintém será a quinta a desfilar no sábado de carnaval.
“Fiquei muito satisfeito no sorteio. Apesar de todos gostarem de desfilar no sábado, mas uma escola que almeja o título, como a Unidos de Padre Miguel, desfilar sexta ou sábado não tem que fazer diferença. Vamos trabalhar para isso, independente de dia. Estamos numa colocação boa e em horário bom. Acredito que a Sapucaí terá um público bem significativo. Vamos trabalhar para fazer mais um belo espetáculo”.
São Clemente (Diretor de carnaval Thiago Monteiro) – Sétima escola a desfilar na sexta
“Gostei da nossa colocação de desfile, é pelos Correios e volta por dentro na dispersão, está ótimo. Se Deus quiser vai ser o primeiro título de sexta-feira. Isso de que sexta-feira atrapalha já ficou no passado, ainda mais sendo a última. Não tem problema nenhum, estamos bem satisfeitos”.
Porto da Pedra (Presidente Fábio Montibello) – Quinta escola a desfilar no sábado
“Muito satisfeito, quinta a desfilar, já pega a Avenida quente, a Porto da Pedra é uma escola que traz torcida. Com certeza, a gente vem para a briga de novo. O dia é maravilhoso e até para a gente vir de São Gonçalo para o Rio é difícil, por isso, o sábado é melhor. Também ganha um dia a mais no barracão, tudo é melhor para gente”.
Estácio de Sá (Presidente Leziário)
“A ordem de desfile para mim está ótima. Está dentro do planejamento porque o negócio é fazer o trabalho e passar bem, não importa o dia. O dia que caísse para gente já tínhamos boas perspectivas. Por enquanto ainda não temos o enredo, mas daqui há uma semana eu digo. Está na pesquisa, já tem uma diretriz”.
União de Jacarepaguá (Presidente Reinaldo Bandeira) – abre o sábado
“A responsabilidade de abrir o segundo dia é grande, mas com certeza a União de Jacarepaguá junto com sua comunidade está preparada para isso. Tenho certeza que todos vão se surpreender com a União de Jacarepaguá. Estamos trabalhando desde a data da vitória para criar um grande carnaval. Já estamos com bastante coisa já pronta, definindo, mudando algumas coisas, mas tenho certeza que faremos um belíssimo carnaval. A emoção da volta ao Sambódromo será muito grande. Essa volta é maravilhosa para gente, dá uma força, garra, vontade de criar mais, fazer melhor, respeitando a todas as coirmãs”.
Arranco (Presidente Tatiana) – abre a sexta-feira
“Abrir o carnaval pra mim é o maior orgulho, quase dez anos sem pisar na Marquês de Sapucaí com o Arranco, e voltar pra Marquês de Sapucaí com esse enredo é mais orgulho ainda. Primeiro, porque a gente está contando a história do primeiro desfile que teve de escola de samba. Para o povo arranquista, pra família arranquista é uma emoção muito grande abrir o carnaval contando o início de tudo. A gente pretende fazer um belíssimo carnaval, um carnaval memorável pra história do Arranco. Hoje, o formato da Série Ouro é um formato brilhante. É um formato que a gente nunca passou, a gente nunca imaginou estar, né? O Arranco está em festa até o momento, a ficha parece que não cai a todo momento, mas a gente tá com uma expectativa muito grande, trabalhando dia e noite pra isso acontecer, desde o título a gente não parou um minuto tentando chegar perto daquilo que todo mundo está esperando, um Arranco bonito na avenida”.
Inocentes de Belford Roxo (Presidente Reginaldo Gomes) – Oitava escola a desfilar no sábado
“Primeiro desfilar no sábado sempre é um dia melhor. Você tem mais de um dia. Também é uma questão de transporte, você não não sai na na quinta-feira em dia que ainda tem uma movimentação muito grande e encerrar pra gente é a primeira vez. Nós nunca tivemos essa oportunidade de encerrar. Vamos fazer uma grande festa e abrilhantar o final do carnaval da Série Ouro”.
União da Ilha (Presidente Ney Filardi) – Sexta escola a desfilar no sábado
“Sábado acho que é o que todo mundo queria. É claro, não tenha dúvida, estou satisfeito porque a gente sabe que é concorrido. Mas acho que o mais importante excluindo a ordem, é que nós e as outras escolas façam um excelente carnaval. E o dia e a posição, isso é consequência. Mas estou muito satisfeito, com certeza”.
Vigário Geral (presidente Betinha) – Terceira escola a desfilar na sexta
“Eu gostei, gostei desse sorteio. Queria ser da terceira em diante. Presidente da Estácio que me convidou pra trocar, eu ia trocar, mas sabe o que que aconteceu? Eu me lembrei que o par é no Balança, aí não quis mais não. E nos Correios é bem melhor. Eu me esqueci desse detalhe”.
Em Cima da Hora (Presidente Wallace Costa) – Quarta escola a desfilar no sábado
“A troca foi estratégica para o nosso planejamento, a gente já vinha com o intuito de querer ser a terceira ou a quarta. Já que a gente caiu na sétima, o nosso amigo Tê (presidente do Império da Tijuca) quis ajudar a gente a trocar também, foi um grande favor. Vamos lançar o enredo dia 7 de agosto e por enquanto é surpresa”.
Lins Imperial (Presidente Flávio) – Segunda escola a desfilar na sexta
“É um desafio do primeiro dia, óbvio, porém a Lins Imperial sabe o papel e a responsabilidade que tem, independente do dia e da colocação. É preparar e fazer um grande carnaval. O enredo já sai na próxima semana”.
A Beija-Flor de Nilópolis divulgou, nesta terça-feira, na sua quadra, a sinopse do enredo “Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da Independência”. O texto foi apresentado aos compositores pelos carnavalescos Alexandre Louzada e André Rodrigues e pelo pesquisador Mauro Cordeiro. Fugindo do formato tradicional de sinopse, a proposta é dividida em “Convocação”, “Justificativa” e “Fala Mais”, onde a escola dá detalhes do desenvolvimento do tema. Confira abaixo:
Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação
CONVOCAÇÃO
Por uma questão de desordem no que se diz respeito às memórias que este país constrói:
VAMOS NOS UNIR, BRAVA GENTE!
Esta é uma convocação aos sobreviventes deste país que não nos reconhece.
Um país que ignora nossas existências.
Um país que comemora 200 anos da marginalização da sua própria gente.
Seremos a voz do desejo de uma nação inteira: independência e vida!
O Estado brasileiro foi erguido sobre um conjunto de mitos e símbolos que justificam as violências que ainda hoje são implementadas contra nós. Não é por acaso o apagamento do verdadeiro protagonista da história nacional: o povo brasileiro. Esta é a brava gente que está ausente dos atos cívicos que celebram nossos mitos fundadores. Excluídos.
Se as pautas fundamentais para uma nação soberana, independente e justa são trabalho digno, moradia, alimentação, participação popular, igualdade de direitos e liberdade plena, a grande pergunta é: este é o Brasil em que vivemos?
Propomos, então, um novo marco para a Independência Nacional: O dia em que o povo venceu, o 2 de Julho. O triunfo popular de 1823 é muito mais sobre nós e sobre nossas disputas. O Dia da Independência que queremos é comemorado ao som dos batuques de caboclo, cantando que até o sol é brasileiro. Precisamos festejar os marcos populares em festas que tenham cheiro, cor e sabor de brasilidade, reconhecendo o protagonismo feminino e afro-ameríndio. Somos aqueles e aquelas que, excluídos dos espaços de poder, ousam ter esperança no amanhã. O Brasil precisa reconhecer os muitos Brasis e suas verdadeiras batalhas.
É a partir desta data que provocamos uma nova comemoração da independência do Brasil. A independência do povo para o povo. Faremos, então, um grande ato cívico em louvação aos 200 anos de luta dos brasileiros, herança dos heróis e heroínas que forjam dia a dia, através de suas batalhas, uma nação verdadeiramente livre e soberana.
Reivindicamos e nos orgulhamos das lutas históricas e sociais daqueles que nos precederam nesta incansável batalha pela cidadania.
Juntem-se e vistam suas fantasias, pois será um grande carnaval quando em praça pública declararmos nossa própria independência. NÓS, O POVO! Juntando tudo e todes. O novo Brasil ditará as ordens a partir da folia. Alegria e manifestação! Nossa bandeira será um grande mosaico do que somos de verdade, feita a partir do retalho do que cada um tem a oferecer daquilo que lhe representa.
A cultura é o nosso poder, e, é através dela que lutamos pela transformação social, colocando o povo no pedestal que lhe é de direito. Por isso fazemos carnaval, é a nossa missão, sempre construindo o país que acreditamos, e lutando para que ele seja um dia, realidade.
O grito será por justiça e liberdade, igualdade sem neurose e sem caô.
Nilópolis, 02/07/23.
Dia dos 199 anos da Independência do nosso Brasil
JUSTIFICATIVA
O G. R. E. S. Beija-Flor de Nilópolis irá apresentar no carnaval de 2023 o enredo “BRAVA GENTE! O GRITO DOS EXCLUÍDOS NO BICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA”.
O bicentenário da Independência é um momento propício para um debate profundo acerca dos rumos e do próprio sentido do país. O carnaval carioca, alegria e manifestação, não poderia ficar de fora desta ampla discussão. A festa consolidou-se como um espaço privilegiado para reflexão e a disputa de questões de importância fundamental em um espetáculo artístico de inegável dimensão política e caráter pedagógico.
Através do seu desfile, um ato cívico, nós propomos que a independência é um processo, defendemos um novo marco para a emancipação política brasileira, destacando o protagonismo popular enquanto denunciamos o caráter autoritário, tutelar, excludente e desigual do Estado, desde sua gênese até a atualidade.
Ao invés de celebrar ritualísticamente o mito fundador da pátria – o grito do Ipiranga no 7 de setembro, argumentamos em favor de um novo marco, capaz de oferecer um sentido que consideramos mais próximo da verdade histórica de uma independência que foi conquistada; não proclamada. Este marco é o 2 de julho de 1823, data da vitória das tropas brasileiras na conflagração instalada na Bahia.
Ao mesmo tempo, iremos rememorar esses duzentos anos a partir da perspectiva das camadas populares apontando as mazelas, contradições e limites da construção nacional.
Heroico é o povo que constrói a sua própria autonomia através da luta. Esta é a nossa história: nada nos foi dado; cada um dos nossos avanços foi obtido pelos nossos próprios esforços.
Se o Estado brasileiro se ergueu como um instrumento para conservação de uma ordem patriarcal, escravocrata e latifundiária, o povo brasileiro, mesmo alijado dos espaços institucionais, insiste em disputar no Brasil sem temer nem a luta, nem a morte.
Este enredo é um grito que ecoa do Brasil profundo e se faz ouvir aos quatro cantos. Das aldeias, guetos, terreiros e favelas um brado em uníssono se faz clamor: independência e vida!
Este é o nosso grito…
FALA MAIS
O dia em que o povo ganhou: vitória patriótica de dois de julho
No processo de elaboração da memória nacional, o dia 7 de setembro de 1822 foi forjado como o grande marco da nossa independência. O grito do Ipiranga seria o decisivo ato heroico do príncipe regente para a emancipação política do Brasil. A invenção do sete de setembro cumpriu o papel de mito fundador do Estado brasileiro. Este mito celebra uma ideia de independência pacífica, fruto do heroísmo do futuro imperador e de arranjos da elite. O que ele esconde é que houve guerra e muito sangue foi derramado neste processo.
As guerras da independência evidenciam a diversidade de ideias, concepções e projetos, os conflitos e tensões sociais e políticas constitutivos daquele cenário histórico. O esquecimento sobre estas guerras não é gratuito; muito pelo contrário, é o resultado de uma construção da história que considera a emancipação política do Brasil um “desquite amigável” em relação a Portugal.
Em províncias como Ceará, Cisplatina, Maranhão, Pará e Piauí houveram confrontos bélicos em episódios decisivos para que a causa nacional triunfasse. Porém foi na província da Bahia que se instalou a guerra que tomaremos como marco. Durante um ano e quatro meses, o destino da nação brasileira teve este território como palco privilegiado. O confronto na província foi central no processo de ruptura que garantiu a soberania nacional.
Até que em 2 de julho de 1823 até o sol foi brasileiro. O dia em que o povo ganhou. Esta data marca a vitória libertadora com a expulsão dos portugueses e, desde então, é celebrada com uma grande festa que tem cheiro, cor e sabor de brasilidade. Uma algazarra pública, que tem nas figuras do caboclo e da cabocla símbolos da liberdade. Esta festividade celebra e louva a ampla participação popular, sobretudo de indígenas e negros, na luta pela emancipação ante a tirania e o julgo colonial. O papel de destaque de muitas mulheres, como Joana Angélica, Maria Quitéria e Maria Filipa, verdadeiras heroínas da pátria, acentua o protagonismo feminino que se contrapõe a uma escrita da história centrada no paradigma da masculinidade.
É este marco que celebramos como data da nossa independência: a vitória patriótica do 2 de julho e o protagonismo popular, notadamente afro-ameríndio e feminino.
A conservação da ordem e a permanência das lutas populares
Após a independência oficial, não tardou para que o povo brasileiro percebesse que o projeto de construção nacional não pretendia alterar a organização social: a escravidão, o latifúndio e a monarquia seriam os pilares do Império. O grande temor das oligarquias era de que os ventos revolucionários do Haiti provocassem uma onda emancipatória e inspirasse negros e negras brasileiros em uma insurreição. O medo branco de uma grande rebelião negra era o principal fator de agregação dos diversos setores de uma elite fortemente dividida entre oligarquias regionais.
O Império nasce como um Estado forte e centralizador. A dissolução da Assembleia Constituinte e a repressão brutal a dissidências como a Confederação do Equador, que defendia um modelo federalista, não deixavam dúvidas sobre este caráter. A unidade territorial foi mantida através da forte repressão aos movimentos emancipatórios e separatistas. O sentido do Estado é a conservação.
Por sua vez, o povo brasileiro permaneceu em luta. Construiu redes de proteção comunitária e fortalecimento coletivo, organizou um conjunto de movimentos contestatórios que almejam a conquista de direitos como os malês, cabanos e balaios. Se a independência não alterou a estrutura social e não promoveu mudanças para aqueles que dispuseram de suas vidas para conquistá-la, eclodiram movimentos, revoltas, rebeliões, motins e insurreições por toda extensão do Império. Se a ordem é injusta, a desobediência civil é a resposta.
Em cada um destes levantes e movimentos populares, havia um acúmulo de forças e crescia a consciência crítica e histórica. É impossível desvincular o movimento abolicionista que construiu e solidificou a liberdade, das muitas revoltas de escravizados que se proliferaram de norte a sul. Assim como as nações indígenas, originárias e verdadeiras donas desta terra, que seguiram mobilizadas nos enfrentamentos necessários para a manutenção da sua própria existência, a conservação dos seus saberes e práticas.
As fantasias republicanas e as batalhas pela cidadania
Provando que no Brasil as ideias estão sempre fora de lugar, a República já nasceu velha. Da espada, oligárquica, dos coronéis e barões, do café com leite, dos ideais eugenistas e com um lema que poderia estampar nossa bandeira: autoritarismo e desigualdade. Restringindo a cidadania a pouquíssimos, discriminando por raça, credo, gênero e orientação sexual.
Brutalmente violento, o Brasil é descrito por seus intérpretes/inventores como um país pacífico e harmônico, destinado à glória no porvir enquanto, no presente, seus filhos e filhas morrem de fome. Excluídos, à margem. O tal “país do futuro” foi eficaz em construir uma imagem de si que mascara sua verdadeira face.
A democracia, entre nós, sempre foi um terrível mal-entendido. E é curioso constatar que foi pretensamente com a intenção de defendê-la que corriqueiramente a golpearam.
Os grandes agentes civilizatórios deste país são os brasileiros e brasileiras que, em movimentos organizados, são os mais fiéis defensores da democracia. Se a intenção manifesta era conferir uma cidadania limitada, inconclusa e tutelar, nós não aceitamos e conquistamos mais espaços de participação através de diferentes táticas e estratégias.
Denunciando o genocídio da juventude negra, o feminicídio, a violência contra a população LGBTQIA+ e o racismo religioso, a brava gente brasileira segue ocupando as ruas afirmando sua existência, pleiteando reconhecimento e disputando o hoje. Nós não admitimos a tese absurda de um marco que limite no tempo a posse da terra de quem é seu único e verdadeiro dono.
Manifestamos nossos desejos e expressamos nossas necessidades em pautas, causas e questões incontornáveis como a reforma agrária, os direitos trabalhistas e a urgente promoção da igualdade racial.
Em um país majoritariamente negro e feminino, as mulheres negras são a base de sustentação material e, somente a partir delas, poderemos, efetivamente, se constituir em um país outro, uma mátria de muitos Brasis. Plural, diversa, inclusiva e igualitária.
Alegria e manifestação
O desfile da Beija-Flor de Nilópolis será um grande ato cívico pela construção de um Brasil livre, soberano e verdadeiramente independente. Este Brasil livre, soberano e independente ainda é um sonho, mas, por este sonho, a brava gente brasileira segue derramando sangue e suor em busca de dignidade e autonomia.
Nosso ato será festivo e multicolorido.
Nossa singularidade é produto da pluralidade das muitas nações brasileiras. Esta pluralidade manifesta compreensões e conhecimentos, formas de ser, sentir e pensar que alargam as possibilidades de existência. Os muitos anseios e desejos de um Brasil melhor se exprimem justamente na riqueza da nossa arte e cultura. São expressões de uma brasilidade que emana desta gente que, permanentemente em luta, também produz beleza e encantamento.
Cultuamos e preservamos nossa ancestralidade e os saberes tradicionais resistindo a toda sanha de domesticação dos corpos e aniquilação da diversidade de práticas, costumes e experiências.
Fazemos festa porque esta é, também, manifestação política e na festa carnavalesca gritamos que outros Brasis são possíveis.
Autores do Enredo: André Rodrigues e Mauro Cordeiro
Desenvolvimento: André Rodrigues, Mauro Cordeiro e Alexandre Louzada
Convocação: André Rodrigues, Beatriz Chaves, João Vitor Silveira e Jader Moraes.
Pesquisa e Justificativa: Mauro Cordeiro
A Liga-RJ sorteou na noite desta terça-feira na Barra da Tijuca a ordem de desfiles da Série Ouro para os desfiles de 2023 na sexta e sábado de carnaval do ano que vem na Marquês de Sapucaí. A São Clemente, rebaixada do Grupo Especial neste ano, vai encerrar a primeira noite de apresentações. Caberá à Inocentes de Belford Roxo fechar a noite de sábado da Série Ouro.
Além da São Clemente outras duas escolas sempre cotadas ao título tiraram bolinhas inferiores em relação a seus pares no sorteio e desfilam na sexta-feira. A Estácio de Sá será a quarta e a Unidos de Padre Miguel, a quinta a desfilar. Após a conclusão da primeira noite não houve trocas de posição entre as agremiações.
A noite de sábado promete um encerramento apoteótico dos desfiles da Série Ouro. Isso porque as 4 últimas a desfilarem também são cotadas ao acesso. A Porto da Pedra escolheu ser a quinta a desfilar, direito adquirido pelo vice-campeonato de 2022. O Império da Tijuca trocou de posição com a Em Cima da Hora e será a penúltima a desfilar. A União da Ilha será a sexta escola da segunda noite.
Confira a ordem de desfiles da Série Ouro para o Carnaval 2023: