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Paraíso do Tuiuti Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Maria, Maria… É preciso ter sonho sempre: a força feminina e a ancestralidade na Ala das Baianas da Portela

A Portela trouxe um enredo emocionante, homenageando Milton Nascimento e sua icônica canção Maria, Maria, que celebra a força e a resiliência das mulheres. A ala das baianas, um dos pilares da escola, traduziu essa homenagem em cores, símbolos e histórias que reforçam a ancestralidade, a coletividade e a espiritualidade feminina.

Giane Carla, de 59 anos, presidente da ala há 25 anos, nasceu e cresceu dentro da Portela. Para ela, a ala das baianas é a materialização da força da mulher cantada por Milton. “A fantasia carrega elementos religiosos como véus, ostensórios e estandartes, que representam a fé e a espiritualidade das mulheres. O catolicismo, o espiritismo, a crença em algo maior está presente em cada detalhe”, explicou. As saias das baianas estamparam fotos das mulheres que compõem a ala. “É uma forma de honrar aquelas que vieram antes de nós e mostrar que somos parte de uma grande família”, disse Giane, emocionada ao falar do legado familiar que carrega. Sua madrinha foi cunhada de Paulo da Portela, e sua mãe era passista. “A [ala da] baiana é minha história, minha vida”, completou.

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Luciana Divina, 52 anos, desfila há 40 anos como baiana e há 5 na Portela, compartilha da mesma emoção. Para ela, a música Maria, Maria é um retrato das mulheres da ala. “Somos mães, filhas, tias, sobrinhas, cada uma com sua história de luta e superação. Renascemos todos os dias, nos reinventamos, e isso é o que nos torna fortes”, afirmou. Os elementos religiosos nas fantasias, como os véus e estandartes, simbolizam a fé e a esperança que movem essas mulheres. “Acreditamos que sempre vai melhorar, que o amor vai vencer. Maria, da Bíblia, foi uma mulher simples, mas fez a diferença. Assim somos nós, as Marias da Portela”, disse Luciana.

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A presença das fotos das mulheres nas fantasias é um dos pontos mais marcantes da homenagem. Luciana foi uma das baianas homenageadas na fantasia. “Desfilar com a minha foto na fantasia é uma honra. Minhas colegas também carregam as fotos de outras mulheres da ala. É uma representatividade pura, um reconhecimento da nossa luta e da nossa história”, comentou Luciana. Essa conexão com o enredo de Milton Nascimento é ainda mais profunda pela gestão da ala, que passa de geração em geração. Giane Carla, que herdou o cargo de sua madrinha, já pensa no futuro: “Quando eu não puder mais, minha filha ou neta estará aqui. A Portela é uma escola família, uma escola de mulheres fortes”.

A ala das baianas da Portela é um símbolo de resistência, fé e união. Neste Carnaval, elas mostraram ao mundo que, como na canção de Milton, é preciso ter sonho sempre. E, para as Marias da Portela, o sonho é manter viva a chama da ancestralidade, da coletividade e da força feminina.

Mocidade Independente Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Força, Magia e Santa Maldita Euforia, Ala dos Passistas da Portela retrata a chegada da exuberância negra à romaria em desfile que homenageia Milton Nascimento

A ala dos passistas da Portela, sob a supervisão de Nilce Fran, é um exemplo claro de como a dança vai além do entretenimento. Ela carrega consigo um significado profundo, refletindo a força ancestral dos negros, a resiliência dos passistas e a celebração da cultura afro-brasileira. O trabalho de Nilce Fran é, sem dúvida, fundamental para a construção dessa narrativa que se reflete nas coreografias e nos movimentos dos passistas. A conexão com as origens da cultura negra e a homenagem a artistas que representam esse universo tornam a ala um verdadeiro ato de resistência e afirmação cultural.

‘’Esse enredo de Milton Nascimento, ele  funcionou desde que ele foi apresentado. Nós estamos falando aqui do povo preto, do povo de luta, de um homem próspero, que lutou e que conseguiu. A proposta da Portela em 2025 é realmente fortalecer a nossa fé, fortalecer a nossa luta, mostrar essa trajetória e que como diz o samba, quem acredita na vida, não deixa de amar, só o amor constrói e que nós podemos com força, com energia positiva, espiritualidade, nós podemos’’, declara Nilce.

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No contexto da Portela, a ala é mais do que um espetáculo visual, é uma forma de exaltar a ancestralidade negra, resgatar suas origens e, ao mesmo tempo, celebrar a modernidade do samba com movimento que faz referência a uma luta contínua e transformadora.

‘’Os negros eles dançavam para expressar alegria e a dança do samba é isso. A dança do samba é um ato de amor, de expressão, de energia e força. É muito importante. Eu sou passista e coordeno há 25 anos a ala de passista da Portela, mas sempre fui passista, sambista, mulata e a energia do samba fortalece a nossa alma. E o orgulho da cultura negra nessa folia, o carnaval, os desfiles de escola de samba, nesse cenário grandioso no maior espetáculo a céu aberto do Planeta, nós somos o que queremos’’, diz a coordenadora da ala de passistas da Portela.

Nilce Fran, que é responsável pela coordenação da ala, tem se dedicado a transmitir aos passistas a importância dessa conexão com a cultura negra. Para ela, a dança vai muito além da técnica: é um resgate de uma memória histórica e um compromisso com a preservação da herança cultural dos negros no Brasil.

‘’A ala de passista na Portela se conecta com o enredo o ano todo, a gente tem uma coordenadora que faz a gente estudar sobre o enredo, faz a gente cantar o samba porque é muito bom. Nós, não só sambamos, mas também sabemos aquilo que a escola está falando e eu acho que essa conexão da escola com o enredo, do passista com o enredo vai ser muito bom para trazer o nosso título para a Madureira e o Oswaldo Cruz’’ diz João, mais conhecido como João Sorriso, passista da Portela há 6 anos

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‘’O segmento passista é de resistência que até hoje a gente luta por tanta coisa e raça também porque a gente luta bastante, a gente ensaia muitos compromissos com a Portela e eu acho que se junta mesmo, a raça com a resistência e cabe muito com o que nós viemos representar hoje com a nossa fantasia. E quando a emoção de desfilar levando a euforia, o orgulho da cultura negra na Sapucaí. A emoção é muito grande, falar de Milton tem sido muito importante e muito significativo, vai ser um desfile belíssimo, a gente vai chegar trazendo a euforia, trazendo a raça, trazendo a samba no pé e trazer esse título’’, afirma Juliana Antunes, de 32 anos, auxiliar administrativo passista da ala da Portela há 7 anos.

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A ala dos passistas prestou uma homenagem emocionante a dois ícones da cultura negra brasileira: Clementina de Jesus e Grande Otelo. Clementina, com sua voz inconfundível, é uma referência do samba e da música popular brasileira, e sua história é um exemplo de resistência no cenário musical, dominado por homens e brancos. Grande Otelo, foi um dos maiores artistas do cinema nacional, um negro talentoso que quebrou barreiras e se fez presente no imaginário popular, trazendo um protagonismo muitas vezes negado aos negros na história do Brasil.

‘’Nós estamos aqui para isso, para através de Milton Nascimento, esse gênio, esse mago da arte e da cultura. Através dele, nós estamos mostrando ao mundo essa força e como não trazer nomes como Grande Otelo, Clementina, Ivone Lara e tantos outros nomes? Eu que sou dessa geração, cresci e vi as coisas acontecerem e tenho certeza de que quando se trouxe todos esses nomes, foi para dizer que, estamos de mãos dadas, construímos essa história e vamos sempre fazer parte dela de sermos reverenciados’’, relata a coordenadora Nilce.

Os passistas, com seus passos marcantes, não apenas recriaram os ritmos e a energia do samba, mas também trouxeram para o sambódromo o espírito e a luta desses artistas. Clementina e Grande Otelo, através da homenagem na dança, se tornaram símbolos da resistência negra no palco da Portela, sendo lembrados por sua contribuição para o fortalecimento da cultura afro-brasileira.

A passista Mara Oliveira,  que desfila na escola há 6 anos e também é professora de samba, diz que ‘’é mais um grande nome, mais um ano que a gente está levando uma grande história e sempre parece que é o primeiro desfile, é sempre a mesma emoção. Eu costumo dizer que eu estou vivendo meu sonho, ainda nos tempos de hoje, apesar de ter bastante tempo de ala, eu ainda estou vivendo o meu sonho e  parece sempre que é a primeira vez’’.

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O figurino dos passistas é em referência a elementos africanos para simbolizar os corpos negros que começavam a se juntar à procissão. Palhas, búzios, contas e outros materiais fazem parte da fantasia.

A ala dos passistas da Portela, sob a liderança de Nilce Fran, segue firmemente com a missão de transmitir, através da dança, a força e a beleza da cultura negra. Eles são, em sua essência, a personificação da resistência e da celebração da negritude, honrando suas raízes e mantendo viva a chama da ancestralidade.

 

Segundo carro da Grande Rio explora a fertilidade e a potência criadora dos igapós

A Grande Rio foi a terceira escola a se apresentar na última noite de desfiles do Grupo Especial carioca, na Marquês de Sapucaí, na madrugada de terça para quarta. Parte do enredo “Pororocas Parawaras – as Águas dos meus Encantos nas Contas dos Curimbós”, a segunda alegoria, denominada “Quem é de Barro, no Igapó, é Caruana”, representou as áreas alagadas da Floresta Amazônica. O carro reverenciou a pajelança paraense, na qual o manguezal é cultuado como símbolo de vida e fertilidade, ao mesmo tempo que explorou o barro enquanto matéria-prima da cerâmica local.

“Eu sou candomblecista, então para mim essa questão da origem do barro já começa do princípio, porque minha religião acredita que nós fomos também feitos do barro. Várias culturas têm essa questão da vida através do barro, de sermos moldados, de ganharmos o sopro da vida. Para mim, é uma honra. É maravilhoso vir num carro como esse”, compartilhou o cabeleireiro Rafael Henrique Mesquita, de 40 anos, dos quais 24 desfilou na Grande Rio.

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“É um simbolismo que faz sentido, a vida vindo do barro, da água, do igapó. É uma coisa boa resgatar isso aí para o resto do país”, disse o engenheiro Charlie Souza, de 50 anos. O Carnaval de 2025 foi o décimo-quinto de Charlie na Grande Rio.

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“Nos ensaios quando eu estava entrando e eu vi subirem as bandeiras do Pará, é uma emoção que eu não sei te descrever. É algo realmente que ultrapassa a nossa consciência. É algo fantástico. Esse segundo carro também fala da cerâmica marajoara. Eu fui nascida e criada no lugar chamado Icoaraci, que tem a Feira do Paracuri, um dos maiores centros de cerâmica marajoara, artesanato marajoara do Pará. Para mim, tem um gostinho ainda mais especial”, dividiu a cirurgiã plástica Jaqueline Rodrigues, de 36 anos, em seu segundo desfile na Grande Rio.

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Em 2025, a Grande Rio contou a história de três princesas turcas que naufragaram em um rio paraense e viraram entidades cultuadas atualmente no tambor de mina, religião afro-indígena praticada no Norte. O enredo foi patrocinado pelo governo do estado do Pará no maior acordo financeiro da história do Carnaval carioca (15 milhões de reais). O governador Helder Barbalho esteve presente.

“O enredo é ótimo. É um enredo muito rico, com muita história para contar, muita riqueza, encantamento. É um enredo que dá muita liberdade para criar, imaginar. É o mais rico que tem entre as escolas aqui presentes”, afirmou Charlie.

“É um enredo que traz muito desse sincretismo religioso, essa miscigenação que a Amazônia tem. A Amazônia não é só a cultura indígena, ela é o caboclo, ela é a mistura do branco com negro, ela é a mistura do branco com o índio. O enredo traz muito disso. Essa lenda das três turcas que são encantadas por vodum e abraçadas nas águas do Pará é o sincretismo. Quem vem do Pará sabe que o Pará é cultura, Pará é riqueza, Pará é uma mistura, é uma coisa linda. O Pará dá tema de samba-enredo para o resto da vida”, enalteceu Jaqueline.

“É um enredo bem inteligente. A escola soube fazer a manipulação desse enredo, soube trazer a riqueza do enredo de uma forma bem simples e de uma forma forte. A gente está aí para ganhar, para competir realmente. A escola tá linda, tá bem explicativa”, pontuou Rafael.

Com um enredo didático e criativo, com alegorias e fantasias bem acabadas, os foliões projetaram um grande desfile, mirando na vitória.

“Todo ano é a mesma emoção: eu choro, não adianta. É minha escola de coração. É uma sensação diferente. A gente vem para dar o nome mesmo, para fazer acontecer. Por amor mesmo a escola”, declarou-se Rafael.

“A expectativa, em primeiro lugar, é que dê tudo certo; que Nossa Senhora de Nazaré abençoe Caxias, abençoe a Grande Rio; que o desfile seja maravilhoso, que ocorra tudo como tem que ocorrer; e que a Grande Rio possa trazer o campeonato para gente”, encerrou Jaqueline.

A águia da Portela: símbolo de fé, paixão e identidade no Carnaval Carioca

A Águia não é apenas o símbolo da Portela, mas uma entidade que guia, protege e inspira a comunidade portelense. Em 2025, a maior campeã do carnaval carioca homenageou o cantor e compositor Milton Nascimento, em uma procissão que celebrou a travessia da vida e a conexão entre a música e a identidade portelense. A Águia, como sempre, abriu o cortejo, levando consigo a fé, a paixão e os sonhos de milhares de componentes rumo ao “altar do sol”.

A Águia como guia espiritual

Para Carla Guedes, de 50 anos, componente da Portela, a Águia é mais do que um símbolo: é a alma portelense materializada. “A Águia mexe com o coração, com a mente, alimenta o nosso amor pela Portela. Quando a vejo, sinto esperança. Ela tem alma. O som que ela emana parece entrar pela minha boca e chegar direto ao coração”, disse ela, emocionada. Carla descreve a Águia como uma “estrela guia”, que conduz os portelenses em sua jornada rumo ao sol, representado por Milton Nascimento. “Ela nos protege, nos orienta e nos leva ao encontro do sol, que é o Milton”, concluiu.

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A força da tradição

Lucks Matheus, de 26 anos, passista da Portela há 18 anos, vê na Águia a força e a identidade da escola. “A Águia é o nosso símbolo maior. Cada detalhe dela representa a nossa força”, afirmou. Para ele, desfilar ao lado da Águia é carregar os anseios do povo portelense até o altar do sol. “É um sentimento fora do normal. Este ano, homenageamos uma pessoa viva, o que torna tudo ainda mais especial. Você sente a emoção de quem está sendo homenageado, e isso é mágico”, declarou.

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A conexão com a identidade portelense

Iaraci Gomes Bastos, de 60 anos, integrante da ala 3, reforça a ideia de que a Águia é o coração da Portela. “A Águia é tudo. É o símbolo que nos une, que nos faz vibrar”, disse ela. Iaraci destaca a conexão entre o cortejo em homenagem a Milton Nascimento e a identidade da escola. “Milton é a cara da Portela. Ele é maravilhoso, excepcional. Quem não gosta dele? Ele representa a nossa fé, a nossa criatividade”, declarou.

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A emoção de desfilar com a Águia

Roberta Sá, cantora e portelense, define a Águia como um símbolo de liberdade e garra. “O povo portelense é um povo de muita paixão, e a Águia representa isso perfeitamente”, afirmou. Para ela, homenagear Milton Nascimento em um desfile da Portela é unir duas paixões da música brasileira. “Milton é um patrimônio cultural, assim como a Portela. Juntar essas duas forças é algo histórico, que representa a fé e a criatividade do povo brasileiro”, afirmou.

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A jornada rumo ao Sol

O desfile da Portela em 2025 foi uma celebração da vida, da música e da identidade portelense. A Águia, como sempre, lidera o cortejo, guiando os componentes em sua travessia rumo ao sol. Para os portelenses, a Águia não é apenas um símbolo, mas uma presença viva que inspira, protege e conduz.

A emoção foi unânime. “É vontade de chorar, de sorrir, de gritar ‘Milton, a gente tá chegando!'”, disse Carla Guedes. “Madureira está chegando para colocar Milton no trono, para dizer que ele é o sol”, concluiu. E, enquanto a Águia sobrevoou a avenida, o coração de cada portelense bateu mais forte, celebrando a fé, a paixão e a identidade que os une.

Ala de Passistas do Paraíso do Tuiuti adota figurino agênero e celebra a inclusão no Carnaval

No Carnaval de 2025, uma das grandes inovações da escola de samba foi a criação de figurinos agêneros para sua ala de passistas. A ideia foi ousada e desafiou as normas tradicionais, ao apresentar um figurino único e sem distinções entre passistas masculinos e femininos. O conceito por trás dessa escolha não é apenas estético, mas também uma poderosa mensagem de inclusão e igualdade de gênero.

‘’Eu gostei da ideia, entra também dentro do enredo da história, creio que para te  todas as pessoas terem a consciência e mesmo não fazendo parte da bandeira, é importante apoiar e dar força a essa bandeira e as situações que infelizmente as pessoas trans passam, sobre essa parte triste, mas a gente vai estar entrando aqui na avenida com toda força de Xica Manicongo, esse encanto’’, diz o ator e passista da agremiação, Vitor Marcelo, de 21 anos.

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Para os passistas, a experiência de vestir um figurino sem gênero foi uma verdadeira quebra de paradigmas. Diversos membros da ala destacaram como a roupa trouxe não só conforto, mas também uma sensação de empoderamento, já que não havia mais a expectativa de se alinhar a um modelo de beleza ou comportamento preestabelecido.

“Me surpreendeu! É bem colorida trazendo muita diversidade, achei leve e a gente vem mostrando um colorido, mostrando o quanto Xica é colorida’’, declara Marcela, de 16 anos e componente do Paraíso do Tuiuti há 5 anos.

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Já a passista veterana, considera que o figurino agênero representa uma mudança necessária. “Eu achei ela maravilhosa, super confortável. Adorei muito as cores, estão belíssimas. Está muito linda e não tem que distinguir as coisas, está muito bonita, é o que a gente pediu’’, afirma Soraia, de 40 anos, e está de volta como passista da escola há 2 anos.

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O figurino das passistas intitulado de ‘’Caboclada’’, remete à Xica enjuremada, quando conheceu a ancestralidade indígenas e conheceu com os caboclos e caboclas a ciência das folhas sagradas, sendo idealizado para ser agênero. Em tons vibrantes de azul, amarelo, laranja e verde, é revestido de penas nos braços, miçangas no pescoço e a cabeça com flores azuis nas laterais.

O enredo da escola de samba deste ano, que aborda a liberdade de expressão, o respeito às diferenças e a luta contra os preconceitos, se encaixa perfeitamente com a ideia de um figurino agênero. O carnavalesco da escola, Marcos Souza, explica que a escolha do traje reflete o momento atual da sociedade e a necessidade de transformar a festa popular em um espaço mais inclusivo.

A escolha de um figurino agênero, sem dúvida, marca um novo capítulo na história do Carnaval. Em um momento em que questões relacionadas à identidade de gênero ganham cada vez mais relevância, a escola de samba está mostrando que é possível abraçar a diversidade e fazer com que todos se sintam parte da grande festa popular.

‘’Achei uma ideia super legal do carnavalesco. Foi uma criatividade boa dele, a qual o sexo masculino e feminino pudesse estar bem representado e ninguém se sentir menosprezado porque hoje em dia no mundo que a gente vive, a gente LGBT, a gente enfrenta muito o preconceito. Por isso eu achei uma ideia bem bacana. Eu fiquei muito feliz com o enredo porque a gente hoje em dia vive em um mundo em que muitas pessoas, na verdade se sentem discriminadas e enfrentam muitas coisas, então foi uma inovação, porque acredito que nenhuma outra escola pudesse estar fazendo nesse enredo e eu tô feliz por isso’’, finaliza Jonathan Silva, de 27 anos, passista da escola.

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Ala Rainha das Rainhas – representatividade e resistência trans no desfile da Paraíso do Tuiuti

O Paraíso do Tuiuti trouxe para a Sapucaí um desfile que dá voz e visibilidade à comunidade trans, homenageando figuras históricas como Xica Manicongo e Eloína dos Leopardos. A ala batizada de “Rainha das Rainhas” se destacou como um símbolo de resistência, representatividade e inclusão.

Composta por mulheres trans e travestis, participantes do projeto Transcidadania no Samba, iniciativa da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) em parceria com o Paraíso do Tuiuti. O grupo homenageia Eloína dos Leopardos, a primeira rainha de bateria da história das escolas de samba, que desfilou à frente dos ritmistas da Beija-Flor de Nilópolis em 1976. Eloína, uma figura icônica, foi uma das primeiras a quebrar barreiras e abrir caminho para a presença de mulheres trans em posições de destaque no Carnaval.

A ala é formada por passistas, bailarinas e artistas que, além de representar a comunidade trans, carregam consigo histórias de luta, superação e orgulho. Para muitas delas, desfilar na Sapucaí é mais do que uma realização pessoal; é um ato político de visibilidade e resistência.

Vozes da Ala: experiências e significados

Mykaella Nazário, de 28 anos, artista e estudante de administração, compartilhou sua emoção ao desfilar pela primeira vez no Carnaval do Rio: “É uma honra representar a comunidade trans em um enredo que fala sobre nossa resistência e história. O Tuiuti está mostrando ao mundo que somos mais do que estereótipos, somos potência e parte fundamental da sociedade”.

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Rebeca Souza, de  34 anos, destacou a importância da homenagem a Chica Manicongo, uma figura histórica da resistência trans no Brasil: “A escola está trazendo à tona uma história que muitos desconhecem. Xica Manicongo viveu no século XVI e é um símbolo de luta. Ver isso no Carnaval é um passo enorme para a visibilidade da nossa comunidade”.

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Larissa Duarte, 36 anos, bailarina, refletiu sobre o impacto do projeto Transcidadania no Samba em sua vida: “Esse projeto mudou tudo para mim. Além de me dar a oportunidade de desfilar, me ajudou financeiramente e profissionalmente. Agora, sou uma Larissa mais confiante e preparada para ocupar outros espaços na sociedade”.

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Já Serena da Silva, de 44 anos, cabeleireira, falou sobre a evolução do reconhecimento da comunidade trans no Carnaval: “Ainda há muito a melhorar, mas vejo avanços. A Tuiuti está dando um exemplo ao abrir espaço para nós. Precisamos que outras escolas sigam esse caminho e nos permitam ocupar todos os lugares, seja na comissão de frente, nas alas ou como musas”.

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O Projeto Transcidadania no Samba: transformando vidas

O projeto Transcidadania no Samba, criado pela ANTRA em parceria com o Paraíso do Tuiuti, teve como objetivo oferecer formação em samba e dança mulheres trans e travestis, além de proporcionar bolsas de estudo e apoio financeiro. Para muitas participantes, o projeto representou uma mudança radical em suas vidas, não apenas no aspecto profissional, mas também na autoestima e no reconhecimento social.

Mykaella, Rebeca, Larissa e Serena são exemplos de como o projeto tem impactado positivamente a vida de suas participantes. Além de aprenderem técnicas de samba e dança, elas ganharam confiança para ocupar espaços que antes pareciam distantes. “O projeto me ajudou tanto profissionalmente quanto financeiramente, agora tenho essa experiência no samba, o que foi uma mudança para mim. Era uma Larissa e agora sou outra”, declarou.

 

Resistência e luta contra a opressão

A luta contra a opressão ressoa profundamente com as histórias das integrantes da Ala 28. Ao homenagear Chica Manicongo e Eloína dos Leopardos, a escola não apenas celebra o passado, mas também reforça a importância de continuar lutando por direitos e visibilidade no presente.

“O Carnaval é um espaço de alegria, mas também de denúncia e conscientização”, disse Rebeca. “Ao trazer a história das mulheres trans para a avenida, estamos mostrando que nossa luta é antiga e que merecemos respeito e igualdade”, concluiu.

O futuro da representatividade trans no carnaval

Apesar dos avanços, as integrantes da Ala  concordam que ainda há muito a ser feito para garantir a inclusão e o respeito à comunidade trans no carnaval e na sociedade como um todo. “Precisamos que mais escolas abram espaços para nós, não apenas como passistas, mas em todos os cargos e alas”, afirma Serena.

Para Larissa, as escola precisam abrir mais espaços para que as pessoas trans ocupem espaços no mundo do samba. “E se as mulheres trans e travestis ocuparem os espaços que elas quiserem? E se ela quiserem estar na ala das Baianas, na Comissão de Frente, num carro como destaque, como musa, como passista? As escolas precisam abrir mais espaços para nós”, declarou.

O Paraíso do Tuiuti, com sua Ala “Rainha das Rainhas”, está dando um passo importante nessa direção. Ao celebrar a história e a resistência trans, a escola não apenas faz história, mas também inspira outras agremiações a seguir o mesmo caminho.

A Ala “Rainha das Rainhas” do Paraíso do Tuiuti é mais do que um grupo de passistas; é um símbolo de resistência, orgulho e representatividade. Ao desfilar na Sapucaí, Mykaella, Rebeca, Larissa, Serena e tantas outras mulheres trans estão mostrando ao mundo que suas vidas importam, que suas histórias merecem ser contadas e que o Carnaval pode ser um espaço de transformação e inclusão. Como diz Mykaella: “Nós somos muito mais do que aquilo que pensam de nós. Somos parte da sociedade e estamos aqui para transicionar o mundo”.

O legado de Eloína dos Leopardos e Chica Manicongo vive na Sapucaí, e a Ala Rainha das Rainhas é a prova de que a luta por visibilidade e respeito continua, com samba no pé e muita resistência.

A Magia da Pororoca: baianas da Grande Rio celebram o encontro das águas

Compondo o segundo setor “Barreira do Mar, Raízes da Encantaria”, a Grande Rio trouxe as suas baianas com a fantasia “Jóias d’Água”, simbolizando aquelas que guardam a sabedoria ancestral do Samba e os fundamentos maiores dessa festa mítica. Segundo o professor, Cláudio Didimano, entrevistado no início da pesquisa do enredo, em março de 2024, na cidade de Belém, as entidades turcas que chegaram às praias do Grão-Pará, seguiram pela floresta amazônica adentro e se ajuremaram, em busca da cura.

Unindo as mães-baianas, guardiãs da sabedoria ancestral do samba, à simbologia da cura ajuremada, a Tricolor de Caxias apresentou uma fantasia em tons de verde-água, que se misturam ao azul-turquesa do início do enredo, representando as “águas claras”. Os adornos remetem ao enredo e à tradição das baianas, com romãs prateadas penduradas: os frutos, que simbolizam o imaginário turco, também são balangandãs na tradição da ourivesaria negra brasileira (as chamadas “joias de crioula”).

O carnavalesco Gabriel Haddad explicou que a fantasia das baianas, nada mais é do que a simbologia da pororoca.

“As baianas são as joias da água, elas vêm atrás do abre-alas, elas fazem essa transição entre Turquia, as águas salgadas e as águas doces”, disse o carnavalesco.

As baianas ficaram encantadas com a fantasia, toda cheia de brilhos e simbolizando a cura da jurema sagrada.

“Desfilar como baiana pela primeira vez é uma emoção indescritível! Estou muito feliz por representar a Grande Rio em uma fantasia tão deslumbrante, que nos transforma em verdadeiras ‘Joias d’Água’. Nossa saia, com seus tons e movimentos, parece dançar como as águas encantadas, refletindo a beleza e a ancestralidade dessa história mágica”, disse Maristela Oliveira, caxiense, motorista de ônibus de 57 anos.

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Desfilando pela Grande Rio desde a escola mirim, a estudante Beatriz do Carmo, está pela primeira vez na ala de baianas ao lado de sua avó.

“É a minha primeira vez desfilando como baiana, e a sensação é mágica! Vestir essa fantasia tão rica em detalhes me faz sentir parte desse encanto que atravessou mares e chegou até aqui. Quando giramos, parece que as águas dançam junto conosco, refletindo a história das Princesas Turcas. É uma honra representar essa tradição e viver esse momento inesquecível na Avenida”, declarou a estudante de 22 anos.

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“Este é meu primeiro ano desfilando como baiana, mas já faço parte da comunidade há três anos e sempre tive um carinho enorme pela escola. Estar aqui hoje, vestindo essa fantasia deslumbrante, é um momento muito especial para mim. A fantasia ‘Joia d’Água’ representa as três princesas turcas encantadas, que atravessaram o ‘Espelho do Encante’ e se tornaram parte das águas brasileiras. Assim como elas, nós, baianas, giramos a história, representando o mar que encontra o rio, como na Pororoca. A mistura do azul-turquesa e do verde das nossas saias reflete essa fusão mágica entre culturas e elementos da natureza. Cada detalhe da fantasia, das romãs prateadas aos bordados, carrega um significado poderoso. É emocionante sentir que estamos dando vida a essa lenda com nossa dança, trazendo a força e a beleza das águas para a avenida. Me sinto parte dessa magia, dessa joia encantada que é o mar”, disse a professora Vanessa Costa, de 44 anos.

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Na harmonia entre história, e encantaria, as baianas da Grande Rio transformaram a avenida em um verdadeiro oceano de memórias e devoção. Como guardiãs das águas e da tradição, fizeram de cada giro um elo entre passado e presente, unindo culturas e celebrando a beleza da ancestralidade.

Segundo carro da Mocidade traz a grandiosidade da galáxia para a Sapucaí

A Mocidade apresentou na noite de terça-feira o enredo “Voltando para o Futuro – Não Há Limite para Sonhar”, em um desfile futurista e reflexivo. A segunda alegoria da escola levou para a avenida o tema da exploração espacial.

“Esse carro simboliza o espaço, a lua, a primeira vez que o homem pousou na lua e tudo mais. Está muito especial. A gente vai fazer uma performance com o circo. Vai ter acrobacia, vai ter uma magia que vocês vão conferir na Sapucaí. Tem um ponto de gravidade zero, simulando a gravidade do espaço real. É um carro diferente, é uma inovação da escola trazer o circo, uma prática milenar e super tradicional, dentro desse tema de tecnologia. Esse carro promete”, disse o artista circense Jodson Brito, de 30 anos, em sua primeira vez na Mocidade.

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“Eu gostei muito da iluminação. É porque agora tá apagado, não dá para ver, mas a iluminação é linda e os detalhes, são bem acabados em todos os detalhes. Você vê a camurça e não consegue ver a conexão entre uma e outra. As crateras estão bem pintadas, as fantasias estão muito bem feitas e tem várias surpresas nele. É um carro muito bem feito e que é visualmente impactante, que mesmo quem não conhece o enredo, quando olhar vai reconhecer, vai saber o que é. É de fácil identificação. É muito interessante”, comentou a médica Ketlen Cheab, 29 anos. Sou médica. É a terceira vez que Ketlen desfila pela Mocidade.

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“Aqui é o céu, os planetas. É muito interessante porque o trabalho do Renato é muito limpo. O carro é aberto, você visualiza todo ele. É um trabalho primoroso”, elogiou Elisângela, de 54 anos, componente da Mocidade há pouco menos de 30 anos.

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O enredo da verde e branco de Padre Miguel resgatou o estilo do carnavalesco Renato Lage, que se destacou nos anos 90 com desfiles high-techs e recursos luminosos. Renato volta à escola após 23 anos afastado.

“O enredo retrata a evolução e o que se o que vem a partir dela, o bem e o mal. Se não a tecnologia for bem usada, ela pode destruir também. Esse enredo é mais em função da volta do Renato: reviver os tempos em que ele esteve na Mocidade, agora retornando e mostrando que, com a evolução do tempo, muita coisa foi destruída”, explicou Elisângela.

“O enredo nos convida a parar, olhar para si mesmo e pensar que nós estamos todos conectados, porque vem dessa ideia de que todos nós surgimos do Big Bang, da primeira estrela. Todos nós temos a mesma composição de matéria. Isso faz a gente ter uma um senso de união, que é muito presente, inclusive, na comunidade. Foi muito legal essa sacada de interligar uma coisa com a outra. Ele traz a ideia de que o universo é gigante, mas que não é infinito, no sentido de que as nossas atitudes aqui na Terra, tudo que a gente faz, influenciam”, afirmou Ketlen.

Questionada para onde iria caso tivesse a oportunidade de visitar o espaço, a médica se mostrou pensativa.

“Ai, difícil, muito difícil… Se eu pudesse escolher um lugar no espaço para ir, é engraçado, eu iria para Saturno, porque tem uns aneis lindos, tem as nebulosas. É muito bonito e é um dos maiores planetas que a gente tem no nosso sistema solar”, respondeu.

Já Jodson e Elisângela optaram por uma viagem mais curta, com menor fuso-horário.

“Eu gostaria muito de conhecer a lua. porque é o corpo celeste que a gente mais tem acesso, tem contato. Por estar próxima à Terra, por ter grandes mistérios, por ser ainda pouco explorada, a gente tem essa curiosidade”, pontuou o artista circense.

“Eu tenho muita conexão com a lua. As fases da lua me atraem, me dizem muita coisa. Eu sou muito esotérica, gosto muito de lidar com esses conhecimentos. Ela me energiza. Eu gosto da lua”, finalizou Elisângela.