Freddy Ferreira analisa a bateria da Imperatriz no Carnaval 2025
Um desfile excelente da bateria “Swing da Leopoldina” (SL) da Imperatriz Leopoldinense, regida por mestre Lolo. Um ritmo potente, equilibrado e com uma conjugação sonora simplesmente fabulosa entre todos os naipes. Isso tudo ainda contou com uma musicalidade preciosa das bossas, bem inseridas no tema africano da Rainha de Ramos.
Na parte de trás do ritmo leopoldinense, uma afinação sublime de surdos deu um peso impactante aos graves, que foi muito bem aproveitado para realçar os diferentes timbres nos arranjos propostos. Marcadores foram firmes e bastante seguros. Surdos de terceira demonstraram excelência plena, com uma condução musical fascinante, seja em ritmo ou em bossas. Um naipe de repiques técnico tocou de forma coesa junto de uma ala de caixas de guerra com ótima ressonância. Foi possível notar também atabaques, que deram uma contribuição luxuosa em meio ao ritmo, junto de agogôs de duas campanas (bocas) em paradinhas.
Na cabeça da bateria “SL”, um naipe de tamborins impecável executou um desenho rítmico com imensa qualidade. Tudo complementado por uma ala de chocalhos fabulosa, que tocou interligada aos tamborins, dando um acrescento sonoro fabuloso nas peças leves com um carreteiro impactante de ambos os naipes. O preenchimento sonoro da parte da frente do ritmo ainda teve uma ala de cuícas com virtude sonora, com um toque musicalmente poderoso.
Bossas que impressionavam pela musicalidade de alto impacto foram executadas de forma cirúrgica. Uma pressão sonora garantida pela potente afinação de surdos garantiu ovação popular pelos módulos. Os arranjos levavam em conta o belo samba da Imperatriz para consolidar o toque pautado pelas variações melódicas, além de estarem plenamente inseridos no enredo de matriz africana da escola. Ataques atuaram de modo precioso, transformando a Sapucaí num grande terreiro de Candomblé. Destaque para a contagiante bossa do refrão do meio com três gritos seguidos de “Hey!” de todos os ritmistas. A paradinha exibida duas vezes no último módulo fez a plateia delirar, aplaudir e gritar junto.
Um desfile exemplar da bateria “SL” da Imperatriz Leopoldinense, comandada por mestre Lolo. Uma bateria da Imperatriz bem encaixada e musicalmente conectada a obra da agremiação. Destaque para a exímia fluência entre todos os naipes, um leque de bossas potentes, que proporcionaram uma apresentação impactante, capaz de garantir pontuação máxima, quiçá concorrer por eventuais premiações.
Comissão de frente e bateria são destaques no desfile da X-9 Paulistana
A X-9 Paulistana desfilou neste domingo pelo Grupo de Acesso 1 de São Paulo no carnaval de 2025. A comissão de frente, que fez uma coreografia bem coordenada e de mensagem tocante, e o bom andamento da bateria foram destaques do desfile encerrado após 58 minutos. A comunidade da Zona Norte foi a sétima a se apresentar com o enredo “Clareou! Um novo dia sempre vai raiar”, assinado pelo carnavalesco Amauri Santos.
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Comissão de Frente
Coreografada por Pedro Vinícius, a comissão de frente da X-9 foi intitulada “‘Clareou’ me levanta e me inspira a recomeçar” e se apresentou ao longo de uma passagem do samba. A história do quesito conta que um homem, abatido por conta dos problemas sofridos na vida, após ouvir a música “Clareou” encontra motivação e coragem para dar a volta por cima e recomeçar.
É uma coreografia que sintetiza de forma simples e clara a proposta do enredo e cumpre com a ideia de abrir o desfile dentro da narrativa da escola. O protagonista, desiludido com as adversidades da vida, se vê diante de um componente atuando como uma fênix e circundado de outros representando povos indígenas e africanos, além de anjos. Percebe-se que ao notar a fênix, o homem procura compreender aquele ser, e em meio ao sofrimento, a ave vai até ele e o ajuda a se reerguer. Em dado momento da coreografia, os grupos dos demais componentes formam uma cruz que gira em 90 graus na Avenida, se virando para frente da pista, em um movimento sincronizado complexo. O quesito foi o principal destaque do desfile da escola.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal da X-9, formado por Igor Sena e Julia Mary, se apresentou representando o “‘Deus é maior!’ – Com as borboletas, redescubro a beleza da Vida”. Em termos de dança, o casal cumpriu as obrigatoriedades do quesito com exatidão pelos módulos os quais passaram.
No primeiro módulo, após a execução de um movimento, o pavilhão da escola enroscou no costeiro da fantasia da porta-bandeira, só se soltando no momento de executar o movimento seguinte.
Enredo
O enredo da X-9 Paulistana é inspirado na música “Clareou”, composição de Serginho Meriti e Rodrigo Leite eternizada nas vozes de grandes cantores como Diogo Nogueira, Paula Lima e Xande de Pilares. A narrativa é protagonizada por um brasileiro comum, que pode ser a representação da situação de vida de muitas pessoas. Abatido pelas adversidades impostas pela vida, esse cidadão ouve a música “Clareou” e, inspirado por sua letra, vai atrás de meios para inspirar a superação de suas dificuldades. A pessoa busca nos ensinamentos dos povos originários e nos povos africanos a sabedoria necessária para conseguir vencer os obstáculos enfrentados. O final do desfile mostra que esse homem conseguiu alcançar a necessária superação, festejando a nova fase da vida em meio à celebração dos 50 anos da escola.
O começo do desfile da escola teve uma leitura fácil, sendo possível compreender os elementos do samba conforme as fantasias e o Abre-alas passaram. Mas a partir do segundo setor, as fantasias passaram a ter interpretações muito difíceis, com uma leitura comprometida pela nomenclatura que cada fantasia recebeu. Apenas os carros alegóricos seguiram com uma leitura clara, mas o conjunto visual do desfile não favoreceu a ampla compreensão do enredo.
Alegorias
A X-9 apresentou um conjunto alegórico formado por três carros. O Abre alas foi intitulado “Cuidar da raiz é saber dar valor ao tempo”, e representou os ensinamentos propagados pelos povos originários para superar os desafios impostos pela vida. O segundo carro, chamado “Resistência e atitude”, buscou ensinamentos através dos povos africanos. O último carro, chamado “O dia já clareou!”, representando o momento de redenção do protagonista do enredo.
As alegorias foram de fácil leitura e cumpriram seu papel na narrativa do tema proposto, mas o Abre-alas passou completamente apagado, além de uma falha de iluminação em canhões de luz posicionados à frente da terceira alegoria e problemas de acabamento por todos os três carros. Situações adversas preocupantes para a escola no quesito.
Fantasias
As fantasias da X-9 procuraram, em meio aos setores, se aproveitar da temática de busca por ensinamentos e caminhar da redenção para transmitir diversas mensagens motivacionais. No primeiro setor a leitura do enredo teve facilidade de compreensão, mas conforme as alas foram passando, interpretar o significado das fantasias foi se tornando gradualmente difícil. Sem a referência da nomenclatura das fantasias contida no roteiro, é questionável afirmar se o público foi capaz de entender as mensagens do enredo.
Harmonia
O canto pelas alas da X-9 Paulistana foi aquém do esperado, chamando atenção de forma preocupante por componentes em diferentes alas serem vistos sequer cantando o samba. A ala 11 foi um destaque positivo, cantando mais do que a média geral da escola. O desempenho do quesito requer atenção no momento da apuração das notas por conta da irregularidade.
Samba-enredo
A obra que conduziu o desfile da X-9 é assinada por Diogo Nogueira, Arlindinho Cruz, Inácio Rios, Igor Leal e André Diniz, e na Avenida o samba foi defendido pelos intérpretes Daniel Collete, Helber Medeiros e Royce do Cavaco.
A obra cumpriu sua parte no desfile narrando a proposta do enredo com fácil referência dentro da leitura das alegorias. A ala musical conduziu o samba bem, embalada pela vasta experiência de seus comandantes.
Evolução
A evolução pela Avenida foi constante em parte do cortejo, com a escola executando um bom recuo de bateria. Foram observadas, porém, algumas oscilações de andamento e problemas de compactação entre as alas, mas nada que comprometesse o fechar dos portões, ocorrido após 58 minutos de desfile. Entre as alas, porém, alguns componentes não evoluíram conforme o esperado, apenas caminhando pela pista e demonstrando falta de empolgação.
Outros destaques
A bateria “Pulsação Nota 1000” foi outro destaque positivo do desfile da escola. Os ritmistas cumpriram bem o papel de ditar o ritmo do samba com bossas criativas e bem-executadas. Chamou atenção também a presença do presidente e mestre Adamastor junto de mestre Keel à frente do quesito. A madrinha Valéria de Paula cumpriu a missão de levantar o público com entusiasmo e samba no pé.
Estética deslumbrante e perfeição nos demais quesitos são trunfos para Imperatriz brigar pelo título
Foi um desbunde. A Imperatriz pisou na Sapucaí com a qualidade alta dos quesitos de chão quente nos acostumamos a ver nos últimos anos. Mas, neste domingo, havia aquilo que faltava para nao gerar nenhuma dúvida, se a escola faria um grande desfile, a plástica impecável de Leandro Vieira. Se no ano passado, o carnavalesco recebeu algumas críticas pelo trabalho, dessa vez ele acertou a mão e mostrou algumas novas facetas como a utilização da iluminação cênica e predileção para a utilização de mais movimento nos carros. A estreia de Patrick Carvalho confirmou o acerto na escolha do profissional pela escola e o entendimento que o coreógrafo tem para fazer produções para a temática afro. O samba na voz de Pitty de Menezes teve alto rendimento, e o casal de mestre-sala e porta-bandeira Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro foram perfeitos, confirmando o melhor momento da carreira dos dois. Já o canto da comunidade foi intenso e potente, e a evolução muito correra e sem sustos. Um desfile que mais uma vez coloca a Imperatriz na briga pelo título. Com o enredo “Ómi Tútú ao Olúfon – Água Fresca para o Senhor de Ifón”, a Imperatriz encerrou o seu desfile com 78 minutos.
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Comissão de Frente
Patrick Carvalho fez a sua estreia na Rainha de Ramos repetindo uma dobradinha que já deu certo no passado, e que inclusive aconteceu nesse ano na Série Ouro, a partir da Maricá, ao trabalhar com Leandro Vieira. A comissão se utilizou de dois elencos e inicialmente mostrou o velho rei, senhor de Ifón, Oxalá, protagonista da comissão a partir de 15 componentes, que caminhavam apoiado no cajado ritualístico do orixá, apresentando sua dança característica, ainda fora do elemento cenográfico. Este elemento da comissão era enorme fazendo referência a uma localidade da África, com uma, também enorme, cabeça de elefante na frente, que se mexia. Casas de Ancestrais adornavam a estrutura e também alguns ossos. A segunda parte da coreografia se deu na parte de cima onde havia uma espécie de espelho d’água em que se passava a narrativa, sintetizando o enredo. O segundo elenco, com Oxalá já mais enfraquecido dança até receber a cura no clímax da apresentação que terminava com o orixá levitando debaixo de fumaça e sendo aclamado pelo publico. A comissão também fez bom uso da iluminação cênica para dar destaque aos seus atos. No geral, sintetizou bem o enredo e mostrou boa sincronia. O elemento cenográfico também foi destaque pela beleza e pelos efeitos.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Indo para o terceiro ano juntos, desde que retomaram a parceria, Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro se apresentaram com a fantasia “Axé Funfum”, predominantemente na cor branca associada a Oxalá. Localizados no setor batizado de “O cortejo funfum”, eles se inseriram conceitualmente em uma abertura que fazia tributo a Oxalá, “o senhor da cor branca”. Cobertos por signos associados à deidade funfum celebrada pelos nagôs como o “pai da criação”, o figurino que vestiu o casal se valeu de adornos estéticos de contornos africanizados. Muito bonita a fantasia.
Na coreografia, a dupla mais uma vez confirmou seu melhor momento, com um bailado mesclando a característica que lhes chama mais atenção que é o bailado clássico com danças para os orixás. O início vem com a dança mais tradicional, com perfeição, com a dupla sempre se buscando, ele riscando o chao com perfeição e intensidade, ela maravilhosa nos giros e rodopios, sublime e sempre com um lindo sorriso no rosto e com a bandeira aberta o tempo todo. Mas, o que trouxe para a apresentação maior emoção e fez a dupla ser aclamada, aconteceu em dois pontos do samba, na verdade. Primeiro, mais com Phelipe no “Justiça maior é de meu pai Xangô “, em que o mestre-sala faz movimentos para o Orixá, com o mestre-sala muito leve na coreografia e com perfeição. Já no refrão de baixo no “Oní sáà wúre”, com a dupla fazendo a dança com o corpo inclinado, saudando o protagonista do enredo. Excelentes apresentações nos módulos.
Harmonia
O carro de som comandado mais uma vez pelo intérprete Pitty de Menezes foi um ponto alto do desfile. Pitty vive um momento sublime e tem muita qualidade. Junto com ele se destacaram tanto o time de cordas quanto as vozes de apoio. O cantor cantou com correção, fez seus já costumeiros cacos chamando o componente ao canto e arriscou até um caco imitando a gargalhada de Exú no refrão do meio que fala sobre esta parte da narrativa, de forma equilibrada e sem atraplhar o canto sustentado pela equipe. E a comunidade abraçou o samba com um canto potente, correto, e pelo tempo todo de desfile, sem deixar cair. Fez o que sempre foi visto nos ensaios e eventos da escola em geral. É uma comunidade que gosta de ensaiar e que canta hoje com o sorriso no rosto, já não parece ser mais uma obrigação, é natural.Um momento para se destacar foi o samba começando com a corda do caranguejo, com todo mundo abraçado no ” “vai começar “, algo que ficou tradicional nos ensaios na Sapucaí e em Ramos, e que foi levado para o desfile oficial, ainda que não conte ponto, ajudou a começar quente.
Enredo
A comunidade de Ramos há muito tempo pedia por um enredo que abordasse um orixá, a última vez foi em 1979 com “Oxumaré, a lenda do arco-íris”. Por isso, esse enredo despertou muita expectativa, não só do sambista amante de carnaval, mas especificamente do gresiliense. Basicamente, a proposta de Leandro Vieira era contar a jornada de Oxalá ao reino de Oyó, para visitar Xangô, ressaltando valores como humildade e respeito, e festejando uma grande cerimônia religiosa no Candomblé que é “As águas de Oxalá”.
Para isto, a Imperatriz trouxe no primeiro setor ” O Cortejo Funfum” um ambiente de contorno estético africanizado. Na abertura, a cor branca e os artigos decorativos em prata e marfim evidenciaram a celebração da figura de Oxalá, o senhor de Ifón. Logo em seguida em “Na consulta ao Ifá, presságio “a escola se debruçou nos “antecedentes” da viagem contada no enredo da Rainha de Ramos. No terceiro setor ” O fardo de dever”, a Imperatriz focou na figura de Exú, que ao não receber o agrado de Oxalá, passa a ser “travessura da travessia”. No quarto setor “Depois da tristeza, Justiça maior”, o carnavalesco abordou o tempo em que Oxalá esteve encarcerado e a maneira como Xangô realizou a “justiça maior” que põe fim ao drama narrado pelo itã. No último setor “preceito Nagô a purificar”, a Imperatriz encerrou seu desfile com as águas de tempos imemoriais que encerram o setor anterior e seguem sendo derramadas sobre o orixá. O enredo passou de forma muito didática pela Sapucaí, com a narrativa bem clara desde o início com Oxalá se preparando para começar sua jornada, passando pela parte dos conflitos com Exú até o momento da redenção. As fantasias, por mais que tivesse uma temática mais afro, que para quem não é tão iniciado nesta cultura poderia gerar dúvidas, em seu desenvolvimento estético e até na palheta de cores ajudaram na visualização da narrativa. História bem contada.
Evolução
A escola passou de forma muito correta, com aquilo que te se destacado nesta transformação da Imperatriz nos últimos anos, muito mais quente, muito mais alegre, sentindo e aproveitando suas passagens na Sapucaí. Ainda que no ensaio técnico tenha sido ainda melhor, é fácil de explicar que o público era totalmente diferente de hoje. A escola passou bem, correta, sem deixar grandes espaçamentos, em um ritmo cadenciado, alegre e realizando com excelência todos os momentos mais críticos de um desfile, seja nas apresentações da comissão de frente e do casal, além de entrada e saídas da bateria do recuo. Em relação a alas coreografadas, a escola não apostou de forma tão latente o que manteve os componentes com espontaneidade.
Samba-enredo
O samba tem autoria de Me Leva, Thiago Meiners, Miguel da Imperatriz, Jorge Arthur, Daniel Paixão e Wilson Mineiro. A parceria assina a obra pelo terceiro ano consecutivo, com o asterisco de que em 2024 foi uma junção, e, talvez dos três este seja o que melhor sintetiza o enredo, ainda que o de 2024 tenha conseguido uma maior interação com o público. Mas, como obra para este carnaval, mais uma vez permitiu que a bateria de mestre Lolo abusasse da musicalidade do enredo com bossas, utilizando atabaques e agogôs, tocando para o orixá. Como em 2023, ano do Lampião, a escola apostou em um bis na cabeça do samba com o ” Vai começar ” que desagua no “Orinxalá ” com uma transição melódica que dá um charme a obra e a partir daí ganha ritmo e leva obra. É um samba para frente, que possui dois bons refrãos como ” Oní sáà wúre” no de baixo e “Ofereça pra exu” que mesclam potência com melodia, além do excelente falso bis na parte de baixo em “Justiça Maior é de meu Pai Xangô “. Como colocado acima, ainda que a obra de 2024 tenha interagido um pouco mais com a Sapucaí, a de 2025 fez um bom trabalho e conseguiu vencer a barreira de se apresentar ainda na segunda escola do domingo.
Fantasias
O conjunto de fantasias elaborado por Leandro Vieira foi muito pertinente para a transmissão do enredo. O primeiro desfile totalmente afro de Leandro Vieira trouxe um cuidado de seguir mais a risca ao vestuário e a indumentária utilizada nas religiões de matriz africana. O carnavalesco procurou não inventar muito e apostar no bom acabamento, na utilização de materiais de muito bom gosto, além da fidelidade, como retratado acima, aquilo que estava sendo retratado. Por isso, talvez as fantasias tenham impressionado menos que as alegorias, onde o carnavalesco se permitiu ser mais criativo e fugir um pouco mais de caminhos óbveis. O artista, aliás, se utilizou da palheta de cores para dar o clima de cada momento do desfile. No início abusando do branco de Oxalá, para sujar o orixá a partir do segundo setor, se utilizando mais do vermelho e dos tons alaranjados para colocar Exú na jogada. Depois, há uma maior utilização dos tons escuros quando o orixa vai para a prisão e o mal chega para o povo. No final do desfile, as fantasias retomam o branco original após o banho em Oxalá, quando o enredo encerra com a cerimônia das águas de Oxalá. O único ponto negativo foi o problema apresentado na saia de algumas baianas que passaram arriadas pela Sapucaí.
Alegorias e adereços
A Imperatriz levou para a Sapucaí cinco carros e mais dois elementos alegóricos e aí, talvez, tenha sido o grande destaque do trabalho de Leandro. O carnavalesco colocou na sua caixinha de ferramentas mais alguns recursos que a gente não via com tanta rotina, como a iluminação cênica, que o profissional se rendeu neste desfile e a utilização de maior movimento, mas, tudo isso, sem perder o bom gosto, o bom acabamento, o traço fino e a qualidade visual, inclusive na reprodução das esculturas que faz o artista ser um dos mais bem conceituados. Conjunto alegórico deslumbrante.
O Abre-alas “O senhor de Ifón” se apresentou como um tributo a Oxalá – e esta é a razão para que a cor atribuída fosse o branco. Composto por dois módulos, a alegoria tinha no primeiro, Oxalá em seu trono, ladeado por sua corte e nas laterais do segundo módulo a presença de elefantes tingidos por grafismos tribais brancos, marfins e adornos de estética africanizada no chumbo e na prata. Na segunda alegoria “Ofereça pra Exú ” veio a face zombeteira de Exu, apresentada em múltiplas esculturas que sugerem a sua gargalhada. Em linhas gerais, o conjunto cenográfico se desdobra como um grande alguidar de barro e a alegoria ganha uma outra qualidade quando é colocada em contraste com a iluminação cênica. Os galos presentes também se mexiam.
O terceiro carro “O reino do quarto Alafin de Oyó” trouxe em sua cartela cromática a combinação de tons vermelhos e matizes alaranjadas fazendo valer as cores rituais daquele que é considerado a divindade do fogo que arde. Também a representação do machado que corta para os dois lados e lhe serve de paramenta, ocupava o mais alto lugar do elemento. Já a quarta alegoria “A justiça verdadeira” , reproduziu em seu conjunto escultórico os súditos de Xangô que carregavam os jarros que serviram para o armazenamento das águas, depois derramadas sobre o senhor de Ifón, excelente trabalho de escultura e na tonalidade do verde e dourado da Imperatriz.
A última alegoria da Rainha de Ramos “Axé de Ibá” retomou o branco do início do desfile, a partir da interpretação do Ibá de Oxalá limpo e purificado após a cerimônia que recria a lavagem do corpo do rei, agora vertido em contorno sagrado. Desse modo, a coroa, símbolo da escola, apresenta-se como um ADÊ (coroa) de Oxalá depositado sobre uma espécie de altar cenográfico. Ainda que um pouco abaixo na concepção em relação ao demais carros, a alegoria também cresceu bastante quando contrastada com a iluminação do sambodromo. Mas, é preciso falar do elemento cenográfico “dor, tristeza e solidão” é uma das melhores coisas que passaram por aqui nos últimos anos. Representando a prisão que Oxalá ficou, o carro tinha seres do mal que saíam em tons de roxo escuro, uma espécie de serpentes com movimentos, muito bem acabadas de traços únicos, impressionaram o público.
Outros destaques
A bateria Swing da Leopoldina de mestre Lolo veio de “Orinxalá e o Sal” representando a figura de Oxalá carregando um fardo amarrado nas costas. Com isso, o visual geral dá conta da passagem narrada pelo itã em que Exu esperou que o soberano adormecesse para amarrar um fardo de sal em suas costas e acrescentar ainda mais desgaste em sua caminhada. E a rainha Maria Mariá era ” sal”, desfilando todo o seu samba no pé em seu terceiro ano a frente dos ritmistas da Rainha de Ramos. Mestre Lolo veio também de Oxalá, mas com uma face diferente do orixá em relação aos ritmistas. No esquenta, Pitty de Menezes cantou algumas obras do tradicional Cacique de Ramos como “Vou festejar (Chorão, não vou ligar)” e já emendou no ponto “Barraca Velha” para puxar a Cigana Esmeralda de 2024. Em seu discurso, o agora vice-presidente da escola, João Drumond falou sobre uma Imperatriz pronta para ganhar campeonato.
Freddy Ferreira analisa a bateria da Unidos de Padre Miguel no desfile
Bom desfile da bateria “Guerreiros” da Unidos de Padre Miguel, sob o comando do estreante no grupo especial, mestre Dinho. Mesmo consolidado no mundo das baterias e sendo o responsável pela musicalidade já identitária da bateria da UPM, somente agora o carismático mestre recebeu essa oportunidade. Um ritmo com pressão sonora de surdos e com bossas bem conectadas ao belo samba-enredo de vertente africana da agremiação da Vila Vintém.
Na cozinha da bateria do Boi Vermelho, uma afinação poderosa de surdos foi notada, sendo responsável pela pressão sonora na execução e nas retomadas de bossas. Marcadores de primeira e segunda se exibiram com firmeza e segurança. Surdos de terceira deram um balanço bastante envolvente a bateria “Guerreiros” em ritmo e em bossas. Repiques coesos se apresentaram junto de um naipe de guerras sólido e ressonante. Atabaques vieram na parte de trás do ritmo, sendo utilizado com brilho sonoro em paradinhas junto de agogô com uma campana (boca).
Na parte da frente do ritmo da UPM, uma boa ala de cuícas se uniu a um naipe de agogôs que tocou com eficiência. Uma ala de chocalhos de imensa qualidade e virtude sonora se exibiu interligada a um naipe de tamborins com talento técnico. Desenhos rítmicos de chocalhos e tamborins foram um dos pontos altos das peças leves. O trecho “Toca o Adarrum” merece a menção musical pela nítida integração, que também conta com um movimento bem swingado dos surdos de terceira, demostrando uma conjugação sonora de alto valor musical.
Um leque de bossas com boa musicalidade e dinamismo foi exibido. Arranjos entrosados com as variações melódicas da obra da escola, se aproveitavam da pressão de surdos para dar impacto sonoro às bossas. Um conjunto de paradinhas muito bem integrado ao tema de matriz africana da agremiação, plenamente conectado ao enredo. Na última cabine julgadora, demonstrando estar com a bateria na mão, mestre Dinho lançou até sua carta na manga energética, que foi largar a segunda passada do estribilho para o público e encerrar com a bossa 7.
Uma boa apresentação da bateria “Guerreiros” da UPM, dirigida por mestre Dinho. Um ritmo com impacto sonoro, equilíbrio e boa musicalidade em bossas, que recebeu certa ovação popular na última cabine de julgamento, comprovando o bom trabalho realizado pela bateria da Unidos abrindo os desfiles do grupo especial. O único fato a ser lamentado ficou por conta do som da Avenida que acabou sendo inconstante em alguns trechos do cortejo, além do carro de som estar com a voz do cantor principal bastante elevada no último julgador.
Grupos cênicos da Mangueira dão vida à ancestralidade através da arte
Com o enredo sobre a ancestralidade e o legado dos povos bantus que chegaram ao Rio de Janeiro, a Estação Primeira de Mangueira levou à Marquês de Sapucaí três alas de grupos cênicos com muita dança e historicidade na cabeça da escola durante o desfile, transformando a avenida em um verdadeiro teatro a céu aberto com muita identidade e resistência.
Diferente das alas tradicionais, os grupos cênicos desempenham um papel fundamental na apresentação da narrativa do desfile. A Mangueira que historicamente traz mensagens sociais e encenações que causam bastante impacto. O primeiro grupo cênico da escola, chamado de ‘’Os guardiões da ancestralidade’’, retrata a ancestralidade bantu que cruzaram a Kalunga, protegendo os valores, histórias e tradições desse povo. Com máscaras sagradas e um figurino adornados com conchas, corais, cores lilás e rosa, detalhes em palha e cabeça que remetem à madeira.
Posicionada nas laterais e na parte de trás, o grupo funcionou como guardião da ala das baianas que estavam no meio. Com movimentos para um lado e para o outro e alguns giros durante trechos do samba.
‘’É a primeira vez que eu tô desfilando pela mangueira e a primeira vez que eu tô entrando na Sapucaí como componente de escola. É uma emoção muito grande, porque é a primeira vez que eu tô desfilando e já desfilando em uma ala grande. A gente está representando as Inquices e os Egunguns, que são como orixás da cultura Bantu’’, comenta Thais, confeiteira e componente da ala, de 38 anos.
O segundo grupo cênico intitulado de ‘’O sopro que guia a passagem’’ transformou a avenida em uma verdadeira Kaiango, uma inquice que controla o trânsito dividido pela Kalunga no Cosmograma Bakongo, governado entre os caminhos entre o mundo físico e espiritual. ‘’Toda uma ancestralidade porque a gente vai representar os ventos de Matamba e eu por ser feita de Matamba, de Angola, do povo de Congo. Para mim é muita representação, estou representando aqui principalmente o meu pai que era um mangueirense doente’’, declara a técnica de segurança do trabalho, Sandra Lucia, de 46 anos. A fantasia evoca de forma poética o movimento dos ventos e dos sopros, que saem dentro de uma máscara banta, roupas com estampas em tons de rosa.
Já o terceiro grupo, ‘’Morte e vida’’ encerra a transição entre a morte e a vida para contar as histórias dos povos bantus já habitantes do Rio de Janeiro, se dividindo em dois através das cores branco e preto, extremidades da horizontais do Cosmograma Bakongo unidos pela Kalunga. ‘’Uma ala que para mim tá sendo muito especial porque é coreografada, é de uma coreógrafa, que vem contando a história de morte e vida, é uma relação com matamba e o enredo todo da mangueira também. Estou achando muito especial falar do povo bantu, enquanto a gente tem várias outras apresentações, neste ano é legal a Mangueira trazendo outras vertentes de outras populações africanas’’, diz Camila, de 36 anos, sou assistente de produção e primeira vez saindo pela mangueira.
Com roupa preta, detalhes em búzios, moicano de plumas na cabeça e pinturas no corpo com giros e danças afro.
Os ensaios das alas coreografadas começam com bastante antecedência e são bastante intensos. A componente Camila finaliza dizendo que ‘’‘A nossa ala está ensaiando desde dezembro, duas vezes por semana, além do ensaio de rua e os ensaios técnicos. Tem sido que teve algum ensaio separado, assim, Sim. A gente teve desde dezembro dois ensaios duas vezes por semana, terça e quinta, só da nossa ala, para pegar a coreografia, limpar e tudo mais.”
A Influência dos Povos Bantos na Celebração do Ano Novo: ala de Mangueira une religiosidade e cultura popular
Os bantos, povos originários da África Central, trouxeram consigo práticas religiosas e culturais que se fundiram com outras tradições no Brasil, dando origem a manifestações como a Umbanda. Um dos principais nomes dessa herança é Tata Tancredo, pai de santo que popularizou as celebrações de Ano Novo nas praias cariocas. Vestidos de branco, cor associada à paz e à espiritualidade nos terreiros, os praticantes dos Omolocôs (cultos bantos) realizavam rituais de transição, marcando a passagem para um novo ciclo. Essa prática, inicialmente religiosa, foi se popularizando e hoje é adotada por milhões de pessoas, muitas vezes sem que saibam sua origem.
André Pretz, 30 anos, vendedor e integrante da Mangueira, conta que não sabia da relação entre a celebração do Ano Novo e a cultura banto. “A gente descobre agora, através do enredo. É uma coisa que a gente faz automaticamente, mas não sabe de onde veio”, diz ele. André revela que, em alguns anos, passa a virada na praia, seguindo rituais como pular ondas e vestir branco. “Isso é primordial para todo mundo aqui no Rio. A gente sabe que vem de uma prática religiosa, mas nem todo mundo entende o significado”, reflete.
O uso do branco, símbolo de pureza e renovação, é um dos elementos mais marcantes da celebração do Ano Novo no Rio. Essa prática, que tem origem nos terreiros, foi incorporada pela população em geral, independentemente de sua religião. Além disso, rituais como pular ondas, oferecer flores ao mar e comer uvas têm significados profundos na cultura banto, relacionados à purificação e à busca de boas energias para o novo ciclo.
A celebração do Ano Novo na praia é um exemplo de como práticas religiosas podem transcender seus contextos originais e se tornar parte da cultura popular. No entanto, essa apropriação também levanta questões sobre o respeito e o entendimento das origens dessas tradições. Para muitos integrantes da Mangueira, o enredo deste ano é uma oportunidade de promover o diálogo interreligioso e valorizar a diversidade cultural.
A celebração do Ano Novo no Rio de Janeiro é muito mais que uma festa: é um momento de conexão com as raízes africanas que moldaram a cultura brasileira. O enredo da Mangueira, ao resgatar essa história, nos convida a refletir sobre o valor do diálogo interreligioso e a importância de conhecer e respeitar as tradições que formam a identidade carioca.
Grupos cênicos da Mangueira dão vida à ancestralidade através da arte
Com o enredo sobre a ancestralidade e o legado dos povos bantus que chegaram ao Rio de Janeiro, a Estação Primeira de Mangueira levou à Marquês de Sapucaí três alas de grupos cênicos com muita dança e historicidade na cabeça da escola durante o desfile, transformando a avenida em um verdadeiro teatro a céu aberto com muita identidade e resistência.
Diferente das alas tradicionais, os grupos cênicos desempenham um papel fundamental na apresentação da narrativa do desfile. A Mangueira que historicamente traz mensagens sociais e encenações que causam bastante impacto. O primeiro grupo cênico da escola, chamado de ‘’Os guardiões da ancestralidade’’, retrata a ancestralidade bantu que cruzaram a Kalunga, protegendo os valores, histórias e tradições desse povo. Com máscaras sagradas e um figurino adornados com conchas, corais, cores lilás e rosa, detalhes em palha e cabeça que remetem à madeira.
Posicionada nas laterais e na parte de trás, o grupo funcionou como guardião da ala das baianas que estavam no meio. Com movimentos para um lado e para o outro e alguns giros durante trechos do samba.
‘’É a primeira vez que eu tô desfilando pela mangueira e a primeira vez que eu tô entrando na Sapucaí como componente de escola. É uma emoção muito grande, porque é a primeira vez que eu tô desfilando e já desfilando em uma ala grande. A gente está representando as Inquices e os Egunguns, que são como orixás da cultura Bantu’’, comenta Thais, confeiteira e componente da ala, de 38 anos.
O segundo grupo cênico intitulado de ‘’O sopro que guia a passagem’’ transformou a avenida em uma verdadeira Kaiango, uma inquice que controla o trânsito dividido pela Kalunga no Cosmograma Bakongo, governado entre os caminhos entre o mundo físico e espiritual. ‘’Toda uma ancestralidade porque a gente vai representar os ventos de Matamba e eu por ser feita de Matamba, de Angola, do povo de Congo. Para mim é muita representação, estou representando aqui principalmente o meu pai que era um mangueirense doente’’, declara a técnica de segurança do trabalho, Sandra Lucia, de 46 anos. A fantasia evoca de forma poética o movimento dos ventos e dos sopros, que saem dentro de uma máscara banta, roupas com estampas em tons de rosa.
Já o terceiro grupo, ‘’Morte e vida’’ encerra a transição entre a morte e a vida para contar as histórias dos povos bantus já habitantes do Rio de Janeiro, se dividindo em dois através das cores branco e preto, extremidades da horizontais do Cosmograma Bakongo unidos pela Kalunga. ‘’Uma ala que para mim tá sendo muito especial porque é coreografada, é de uma coreógrafa, que vem contando a história de morte e vida, é uma relação com matamba e o enredo todo da mangueira também. Estou achando muito especial falar do povo bantu, enquanto a gente tem várias outras apresentações, neste ano é legal a Mangueira trazendo outras vertentes de outras populações africanas’’, diz Camila, de 36 anos, sou assistente de produção e primeira vez saindo pela mangueira.
Com roupa preta, detalhes em búzios, moicano de plumas na cabeça e pinturas no corpo com giros e danças afro.
Os ensaios das alas coreografadas começam com bastante antecedência e são bastante intensos. A componente Camila finaliza dizendo que ‘’‘A nossa ala está ensaiando desde dezembro, duas vezes por semana, além do ensaio de rua e os ensaios técnicos. Tem sido que teve algum ensaio separado, assim, Sim. A gente teve desde dezembro dois ensaios duas vezes por semana, terça e quinta, só da nossa ala, para pegar a coreografia, limpar e tudo mais’’.
Imperatriz Leopoldinense resgata enredo afro e retrata a resistência de Oxalá no Carnaval 2025
No ano em que a intolerância religiosa e o racismo estrutural ainda desafiam a sociedade brasileira, a Imperatriz Leopoldinense decidiu usar o Carnaval como palco de resistência e celebração da cultura afro-brasileira. Com o enredo “Ómi Tútu ao Olúfon – Água fresca para o senhor de Ifón” que retrata a jornada de Oxalá, uma das principais divindades do panteão iorubá, a escola de samba trouxe para a avenida uma narrativa que mistura fé, tradição e luta, emocionando o público e reafirmando a importância da representatividade religiosa e cultural.
José Carlos, 46 anos, vendedor e veterano da Imperatriz há 30 anos, desfilou com orgulho na ala que representava o momento difícil de Oxalá, quando a divindade ficou suja de carvão durante sua jornada ao reino de Xangô. “A gente veio pra brigar, com raça e muito samba no pé. Essa ala representa a dificuldade de Oxalá, mas também a superação. As fantasias estão no nível mais alto, e estamos aqui para brigar pelo primeiro lugar”, afirmou. O figurino, inspirado nas vestes tradicionais de Oxalá, foi cuidadosamente elaborado para manter as referências ao orixá, mesmo sujo com o carvão que simboliza suas provações.
Ana Carolina Aquino, 37 anos, Yalorixá e estreante na Imperatriz, destacou a riqueza simbólica do enredo. “Nossa ala traz o imagético de Oxalá sujo de carvão, mas também elementos como o sal, que são kizilas (proibições) de Oxalá. Usamos o Opaxorô, o cajado de Oxalá, que aqui está sujo de preto, representando o carvão. Mesmo na cor que não é tradicionalmente dele, reconhecemos o orixá”, explicou. O Opaxorô, instrumento sagrado que simboliza a força e a sabedoria de Oxalá, foi um dos elementos centrais da ala, reforçando a conexão entre o enredo e a espiritualidade.
Para Ana Carolina, desfilar pela Imperatriz foi uma experiência emocionante e cheia de significado. “Eu sempre fui torcedora da Imperatriz. Meu pai era um homem de Xangô e Oxalá, e ele torcia por essa escola. Estar aqui realizando esse sonho, pensando nele, é maravilhoso”, compartilhou. A Yalorixá também ressaltou a importância da Imperatriz trazer um enredo afro em um momento de tantos desafios. “Em 2025, com tanta intolerância religiosa e discursos de ódio, a Imperatriz trazer isso é resistência, resiliência e força. É uma luta contra o racismo religioso que ainda precisamos enfrentar”, afirmou.
O enredo da Imperatriz Leopoldinense não apenas celebrou a cultura afro-brasileira, mas também reforçou o papel do Carnaval como espaço de resistência e afirmação identitária. Em um ano marcado por polêmicas e ataques às religiões de matriz africana, a escola mostrou que a arte e a cultura podem ser poderosas ferramentas de afirmação dos saberes ancestrais de sua comunidade.