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Beija-Flor de Nilópolis revive “Ratos e Urubus” em um dos momentos mais emocionantes do Carnaval 2025

A Beija-Flor de Nilópolis preparou um dos momentos mais aguardados do Carnaval 2025, a recriação do lendário desfile Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia, originalmente apresentado pela escola em 1989, sob a assinatura do carnavalesco Joãosinho Trinta e do mestre Laíla. A homenagem no terceiro setor da escola com ala coreografada e alegoria, não apenas resgata um dos maiores marcos da história do carnaval brasileiro, mas também reafirma a capacidade da festa de provocar e emocionar.

‘’Para gente que já está na escola há muito tempo, é muito lindo ver esse cenário. Essa representatividade que eles estão fazendo e essa grande homenagem ao mestre Laíla que é muito merecedor’’, declara Elisa, de 42 anos, componente da ala.

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O desfile de 1989 foi um divisor de águas na forma como o carnaval era percebido. A Beija-Flor levou para a avenida um enredo que abordava a marginalização e a miséria, trazendo uma estética inovadora ao transformar o lixo e a decadência em luxo e grandiosidade. O grande símbolo desse enredo foi a alegoria de um Cristo mendigo, que precisou ser coberto com um plástico preto após ser censurado pela Igreja Católica. A cena se tornou um dos momentos mais icônicos do Carnaval carioca, acompanhada da célebre frase de Joãosinho Trinta: “Quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta é de luxo.”

As gerações mais jovens da escola que não viram a história sendo feita nos anos 80, absorveram esse legado através de estudo sobre o enredo e contação de histórias dos familiares. ‘’Eu já tinha ouvido falar antes do desfile, porém nunca tinha visto. Então, quando eu assisti, minha família, mesmo que todo mundo torce pela Beija Flor há anos, foi comentando comigo, falando quanto impactante é está representando, está vindo de Ratos Urubus. Eu gostei bastante, apesar da fantasia ser uma fantasia que nós não esperávamos, porque como é ala coreografada, porém eu gostei e fiquei muito surpresa’’, relata Julia Manhães, de 19 anos, componente da ala e estreante no desfile da Beija-flor.

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A proposta do desfile, que misturava crítica social e arte com impacto visual, conquistou o público e entrou para a história, apesar de a Beija-Flor não ter levado o título naquele ano. Mais de três décadas depois, a escola revisita essa narrativa em um momento de celebração ao legado de Laíla e sua parceria com Joãosinho Trinta.

‘’Em 1989 foi muito emocionante porque pega justamente numa parte bem uma memória afetiva minha, acabei de conversar aqui com a colega da ala que o meu irmão saiu, né, nessa ala em 89 e por ser um desfile muito emblemático, político, me toca muito. Eu fiquei muito emocionada e fiquei com mais vontade ainda de sair, porque eu só fiquei sabendo que era essa ala no dia da audição que eu participei’’, declara Eliza, de 42 anos, componente da ala.

 

A preparação para essa revisitação no carnaval de 2025 foi intensa e no formato que Laíla exigia. ‘’A gente está 4 meses ensaiando, se dedicando, a Beija-Flor ela é escola que o canto é impecável, o Laíla implantou isso também e a gente continua, a gente sai com o legado dele e continua fazendo, a gente que foi aluna dele, porque a gente aprendeu muito com ele, a gente continua fazendo o que ele nos ensinou. Tem que cantar o samba mesmo todinho, não pode errar a letra, nenhuma, nada, nenhuma letra, nenhuma vogal, nada’’, afirma Edilene, de 40 anos, contadora que desfila na escola há 15 anos.

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A escola apostou na emoção e na memória afetiva para conquistar o público e os jurados, reafirmando sua posição como uma das grandes potências do samba.

‘’Eu acho importante, até mesmo por conta do Cristo e a mensagem que a gente vai passar, eu acho que faz uma mensagem importante e que, infelizmente, naquele ano não ganhamos, mas esse ano eu acho que a gente tá vindo muito mais forte, não só a nossa aula, mas como outras também.

Acredito que a emoção vai ser até maior, porque vai relembrar de como aconteceu antigamente e vendo hoje tanto para mim quanto para outras pessoas aí Então vai ser muito maior’’, finaliza Julia Manhães.

 

O desfile, sem dúvida, é um tributo à genialidade de Joãosinho Trinta e à capacidade do Carnaval de contar histórias que transcendem a festa, emocionando e fazendo refletir. Seja pela nostalgia ou pela força da mensagem que ainda ressoa nos dias de hoje, Ratos e Urubus tem tudo para marcar a avenida mais uma vez.

Baianas da Tijuca levam o cuidado matriarcal para a Sapucaí

A Unidos da Tijuca se apresentou na noite dessa segunda-feira, na Marquês de Sapucaí, com o enredo “Logun-Edé – Santo Menino que Velha Respeita”, sobre o orixá do candomblé. Um dos segmentos mais marcantes de qualquer escola, a ala das baianas representou as matriarcas que alimentam a entidade de acordo com a dieta que potencializa seu equilíbrio energético, na crença sagrada.

O CARNAVALESCO entrevistou algumas componentes da ala pouco antes do começo do desfile, na concentração.

“Eu gosto de cozinhar de tudo, porque eu trabalho em restaurante, em hotel. É todo um apanhado da cozinha brasileira. Comecei como ajudante de cozinheiro. Eu era doméstica e minha patroa me explorava muito, até que vi o anúncio no jornal para o restaurante. Nisso, já estou há 20 anos”, disse Sônia Pereira, de 67 anos, há 5 desfilando pela Tijuca.

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“Fui cozinheira muitos anos, hoje em dia eu não sou mais. Sou cozinheira só da minha casa e do meu marido. Cozinhei muitos anos para uma família americana. Muitos anos mesmo. Eles gostavam de comer cozido, feijoada. Eles lá fora não tem nada disso, então, quando eles vêm aqui para o Brasil, eles gostam. Eu sou pernambucana. Eu vim para o Rio de Janeiro com essa família quando tinha 15 anos. Eles praticamente me criaram. Até hoje, essa família me liga para saber como é que eu estou, como é que eu não estou. Eles me ajudaram a comprar meu apartamento aqui na Glória”, compartilhou a atual dona de casa Maria José da Silva, de 64 anos, que desfila como baiana da Tijuca há mais de 30 anos.

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As baianas falaram ainda sobre suas experiências de liderança familiar, destacando a particularidade do cuidado e do toque feminino.

“Tenho três filhos e dois netos. Cuido deles no dia a dia, porque eu trabalho, não tenho tempo para ficar em casa, mas, quando estou, é muito carinho. Já estou começando a introduzir eles no samba”, dividiu Sônia.

“Tenho uma filha. Morro por ela. Já está com 22 anos. Uma moça. Deus foi muito generoso comigo porque me deu uma filha muito generosa, que gosta de estudar, corre atrás. Para mim, para o pai dela, é um orgulho muito grande. Ela faz faculdade de biologia, está até fazendo estágio como professora”, enalteceu Cristina Lima, de 60 anos, em seu primeiro carnaval pela Tijuca.

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“Eu não tenho filhos, mas eu tenho uma mãe que eu gosto de cuidar dela. Moro eu, ela e mais um irmão. Converso com ela, procuro saber das necessidades dela, saber se ela precisa de algo que eu não esteja vendo para que ela possa ser bem cuidada. A gente acaba se tornando os pais dos nossos pais. É uma retribuição de todo cuidado, carinho e amor que eu recebi desde a infância”, explicou a arquivista Luciane Ferreira, de 50 anos, que estreia não só na Tijuca, como na posição de baiana.

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De fato, a entrega e o poder feminino são inegáveis. Para Maria José, trata-se de uma consciência acerca da estreita relação entre o individual e o coletivo.

“Às vezes, as pessoas pensam que é só você que tem que estar bem, mas para você estar bem, os seus amigos também precisam estar bem, seu marido precisa estar bem, sua família precisa estar bem. Isso é muito importante. Eu não sou mãe, mas tem uma sobrinha que eu criei que já tem dois filhos. Vamos dizer que tenho dois netinhos. Eu já não cuido mais dela porque ela já é casada, vive na sua casa, mas de vez em quando precisa da vó, da mãezinha aqui para os netinhos. Os filhos saem de casa, mas não saem. Estão sempre lá junto e isso é muito importante”, finalizou a ex-cozinheira.

A Revolução na Harmonia: O Método Laíla e Seu Impacto no Carnaval de 2025

A Beija-Flor de Nilópolis desfilou na Marquês de Sapucaí com um enredo emocionante e cheio de significado: uma homenagem a Laíla, figura central na história da agremiação e do carnaval carioca. Conhecido por sua exigência e pelo método revolucionário que transformou a harmonia em um espetáculo à parte, Laíla deixou um legado que continua vivo na escola, mesmo após sua partida.

Em entrevista ao CARNAVALESCO os integrantes da Beija-Flor, desde veteranos até novos componentes, falaram que o método Laíla não é apenas uma técnica, mas uma filosofia que permeia todos os aspectos do desfile. Para Maria da Silva, 75 anos, 54 de Beija-Flor e membro da Velha Guarda, a saudade de Laíla é um sentimento que se mistura com a responsabilidade de manter o alto padrão que ele sempre exigiu. “A responsabilidade, a emoção, as pessoas cantam chorando, porque a saudade dele é muito grande”, disse Maria, destacando que o canto da comunidade será fundamental para reverenciar o mestre.

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Ieti Lima Soares Senra, diretora de harmonia, 22 anos de Beija-Flor, reforçou a importância do legado de Laíla. “Ele sempre foi muito exigente com o canto, a evolução e o desenvolvimento. Toda vez que escutamos o samba, lembramos dele e de como ele nos cobrava”, afirmou. Para Ieti, o fato do enredo deste ano ser uma homenagem a Laíla aumentou ainda mais a exigência. “O rolo compressor voltou com mais garra”, brinca, referindo-se ao apelido carinhoso dado por Laíla a agremiação, que garantia que a escola desfilasse com uma harmonia impecável, como um “rolo compressor” na avenida.

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Serginho Aguiar, compositor do samba-enredo e responsável por representar Laíla no desfile, destaca a emoção que envolve a preparação deste ano. “É inimaginável representar Laíla e ao mesmo tempo trazer um samba de qualidade para a Beija-Flor”, disse ele. Serginho ressaltou que, embora seja impossível reproduzir a genialidade de Laíla, a escola se esforça para honrar seu legado. “A emoção vai fazer a diferença neste carnaval”, afirmou confiante de que a Beija-Flor está pronta para conquistar o título após 7 anos sem vencer.

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Para os novos integrantes, como Alana Santos, aderecista de 22 anos, o método Laíla é uma lição que vai além do carnaval. “Aprendemos que a Beija-Flor não é só uma escola de samba, é uma escola de vida. Aqui criamos família, vínculos e levamos experiências para a vida”, diz Alana. Ela destaca que, mesmo não tendo convivido diretamente com Laíla, sente o peso de sua presença em cada ensaio e em cada detalhe do desfile.

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O método Laíla, que revolucionou a harmonia no carnaval, continua a inspirar gerações. Sua exigência por canto impecável, evolução sincronizada e dedicação total tornou-se um padrão para a Beija-Flor. Com emoção e garra, a comunidade de Nilópolis honrou o legado de canto deixado por Laíla.

Entre o Borel e a Avenida: Logun-Edé na Alma Tijucana

Após anos de pedidos, a Tijuca trouxe Logun-Edé como enredo e teve a aprovação unânime de seus componentes. Além das cores da escola serem as mesmas que identificam o orixá, o pavão, que é símbolo da agremiação, também é um signo da divindade.

O enredo relaciona a jovialidade de Logun-Edé com a juventude do Morro do Borel, comunidade onde a escola nasceu, mas que, para muitos, parecia distante nos últimos anos. Celebrar o orixá na avenida é motivo de emoção para muitos componentes e até para não torcedores da escola.

O CARNAVALESCO ouviu componentes da ala 16, as ‘Guerreiras de Abeokutá’, que representaram as guerreiras de Ilexá, reino liderado por Logun-Edé, e conheceu histórias emocionantes sobre a relação do orixá e do candomblé com a narrativa da Tijuca.

A professora de educação infantil, Neusa Rodrigues, se emocionou ao falar de sua fé e do motivo que a trouxe para o desfile da Tijuca, seu filho representando Logun-Edé em uma alegoria.

“Estou desfilando por conta do meu filho que foi convidado para representar o Logun-Edé. Fui a um ensaio na quadra e achei interessante o samba, perguntei se ainda tinha vaga, me inscrevi e estou amando. É de uma felicidade imensa estar aqui com minha família, meu filho e minha irmã. Nós somos do Candomblé, meu filho é de Ogum, eu sou de Oxóssi, pai de Logun, que é tão importante e representativo para a escola. Particularmente, todo desfile que fala sobre a cultura africana, afro-brasileira e principalmente das religiões de matriz africana, eu acho extremamente interessante. Porque a gente vive muita intolerância, agora que as coisas estão mudando, pois nós temos nossos heróis, nós não somos descendentes de escravizados, nós somos descendentes de reis e rainhas, guerreiros e guerreiras. Isso aí é um fato, uma pessoa não pode ser considerada apenas escravizada para sempre. Ela foi um período, e a gente deu a volta por cima. Mas é um começo, eu fico muito feliz de ver as escolas de samba esse ano falando desses enredos. Além disso, achei o samba enredo muito lindo. E ter uma pessoa como a Anitta, que é de Logun-Edé, compondo, eu imagino a energia que ela não colocou”, disse a professora de 73 anos.

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Tijucana fiel, Renise afirma que a escolha de Logun-Edé pela Tijuca combina com os enredos das demais escolas e que é um estreitamento de laços da agremiação com sua comunidade do Borel.

“Esse enredo tem a cara e as cores da escola. O amarelo-ouro e o azul pavão. Sendo assim, é um tema ótimo, até porque é um tema que está combinando com as demais co-irmãs. As demais co-irmãs, quase todas, com exceção de duas, vêm apresentando enredos afros. E o Logun-Edé é sensacional dentro dessa conjuntura. Fazia tempo que a Tijuca não falava de um enredo afro, e é um enredo afro que, além de homenagear o padrinho dela, aproxima a Tijuca do Morro Borel, de sua comunidade. Ela sempre exaltou o Borel, mas a proximidade com a população, com a comunidade, óbvio que é sensacional e muito importante. O samba é ótimo, esse refrão é lindo, “Logun-Edé, Logun Arô” é um refrão que exalta tudo o que Logun-Edé é”, declarou Renise Caetano, aposentada de 71 anos.

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Em um tripé da escola, chamado “Ologun-Edé” que representou o orixá como um bravo guerreiro que defende a soberania de seu povo e o conduz à glória, a Tijuca busca o reencontro com a sua identidade. Após mais de 20 anos sem levar um enredo afro para a avenida, a Tijuca resgata uma parte essencial de sua trajetória.

“Para mim, é tudo nota dez, o samba, o enredo, esse tripé lindo com o pavão e com Logun-Edé. A Tijuca estava precisando pintar essa avenida de amarelo e azul. Não tenho o que falar. Tudo que está no enredo, nas fantasias, encaixa em tudo, nas letras do samba e era tudo que o Tijucano do Borel queria, se ver representado pela escola. Eu espero que esse enredo seja dela para a comunidade”, contou a técnica de enfermagem Fátima Silva, de 56 anos e estreante na Tijuca.

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Com Logun-Edé à frente, a Tijuca não apenas brilhou na avenida, mas reafirmou seu compromisso com suas raízes e sua comunidade.

Emocionada, a comunidade da Beija-flor de Nilópolis em redenção no desfile que homenageia Laíla

O Carnaval de 2025 promete ser marcado por um tributo emocionante e repleto de significados para a Beija-Flor de Nilópolis. O desfile deste ano é, sem dúvida, uma grande homenagem a Laíla, um dos maiores ícones da história da escola e uma figura fundamental para o desenvolvimento e a identidade do samba. Mais do que um simples diretor de Carnaval, Laíla foi um símbolo da comunidade, da disciplina, da técnica e da paixão que permeiam a trajetória da azul e branca de Nilópolis.

Laíla não era apenas uma figura técnica, ele era um pilar da comunidade da Beija-Flor que tinha a capacidade de dialogar com todos os membros da escola e isso faz com que o desfile de 2025 tendo ele como enredo, seja ainda mais especial por ser uma figura conhecida e emblemática.

‘’Os enredos, eles vêm sendo apresentados com muita antecedência antes do carnaval, então as pessoas, os componentes estudam aquilo e esse ano não foi diferente, a gente não deixou de estudar, mas era uma pessoa que todo mundo tinha contato diário, não importa, né? De um componente da aula ao presidente da escola, é uma pessoa que todo mundo tinha contato efetivo, eu acho que é um diferencial, é realmente uma coisa muito diferente exclusiva deste ano’’, relata Marcella, advogada de 23 anos que desfila na escola desde 2015.

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Laila faleceu em 2023, mas deixou um grande legado na Beija-Flor, uma escola que, sob sua direção, se tornou uma das mais prestigiadas e premiadas do Carnaval carioca. Ao longo de sua carreira, Laíla transformou a Beija-Flor em um verdadeiro sinônimo de excelência técnica, de perfeição nos detalhes e de um amor imensurável pelo samba. Nos ensaios, a presença de Laíla continuou a ser sentida, como um eco no canto forte dos componentes, nos passos das baianas, nas batidas da bateria e na energia dos cantores.

‘’A maior manifestação da presença dele é exatamente a garra que a comunidade está mostrando. Você vai no ensaio, você vê que todo mundo está chorando, está todo mundo muito emotivo, porque a gente tá fazendo isso também por ele,  a gente está querendo prestigiar a escola, a gente está querendo também mostrar que é aquilo tudo que ele passou, que ele sempre foi muito forte, ele sempre foi muito detalhista em tudo, está todo mundo se dedicando ao máximo nesse carnaval’’, declara Rosana, de 52 anos, moradora de Nilópolis e componente da ala de baianas da Beija-flor.

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No desfile de 2025, a Beija-Flor vai além de uma simples reverência a Laíla. Mais do que evocar sua memória, a escola busca trazer à tona sua essência, seu caráter e sua paixão. Sua obsessão por detalhes, sua busca incessante pela perfeição e sua habilidade em dar voz à comunidade estar de maneira grandiosa na Avenida.

Nos ensaios, a presença de Laíla continua a ser sentida, como um eco nos movimentos dos componentes, nos passos das baianas, nos acordes da bateria e na energia dos cantores. O espírito dele está vivo na organização meticulosa da escola e na maneira como tudo é coordenado para que o desfile seja mais do que uma simples apresentação, mas sim uma celebração da cultura, da história e da alma da Beija-Flor.

‘’A gente precisa mostrar tudo aquilo que ele nos ensinou, então a gente vai estar botando em prática tudo isso hoje na Avenida’’, diz Valdésia, dona de casa de 52 anos, componente da escola há 10 anos. Essa grande homenagem em forma de desfile tem emocionado e envolvido intensamente todos os desfilantes e apaixonados pela azul e branco de Nilópolis. ‘’Para mim é um prazer muito grande, é uma alegria, uma felicidade estar aqui podendo estar homenageando essa pessoa tão importante no mundo do samba. A escola está muito mais envolvida. O sentimento é outro, o clima é outro, a energia muito boa, a energia está diferente’’, declara a dona de casa.

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Em 2025, o Carnaval da Beija-Flor não será apenas uma apresentação, será uma verdadeira celebração da vida e da obra de Laíla. O desfile será um tributo à sua memória, mas também uma prova de que, mesmo após sua partida, seu legado continua presente de forma vibrante. A Beija-Flor de Nilópolis é, hoje, um reflexo de tudo o que Laíla representava e ajudou a construir a marca de rolo compressor da escola. ‘’Todos estão muito envolvidos, você vê o sentimento,  as pessoas chorando, bem emotivo. Hoje é dia de cantar e chorar na avenida’’,

A Beija-Flor de Nilópolis, em 2025, entra  Avenida com uma performance que remete ao rigor técnico e à visão estratégica de Laíla. A escola vai seguir o padrão de excelência que ele tanto prezava: fantasias elaboradas, alegorias imponentes e um samba-enredo que promete emocionar tanto os jurados quanto o público.

‘’O próprio Marino que é o nosso diretor de Carnaval, ele mandou uma mensagem para todo mundo que tá desfilando e  ele falou que isso aqui é a nossa vida. A gente tem determinação, a gente tem, a gente pode esse ano conquistar o título, a gente tem que trazer dentro de cada um de nós essa essa garra que vivia no Laíla. Então é por isso que a gente tá demandando tanto de vocês esse ano mais do que nunca. Eu acho que é isso mesmo que mostra o que ele era’’, finaliza Marcella, componente da escola.

Selminha Sorriso e Claudinho se emocionam ao homenagear Laíla em desfile da Beija-Flor de Nilópolis

Há quase 30 anos dançando juntos como primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Beija-Flor de Nilópolis, Claudinho e Selminha Sorriso protagonizaram um dos momentos mais emocionantes do desfile da agremiação na Marquês de Sapucaí. O casal prestou uma tocante homenagem a Luiz Fernando do Carmo, o Laíla, figura icônica da escola e do carnaval carioca, que faleceu em 2021.

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Antes de entrarem na Avenida, Selminha e Claudinho conversaram com o CARNAVALESCO e compartilharam a emoção de celebrar a memória de quem foi um dos pilares da Beija-Flor. “Feliz demais. Desde que anunciamos que a escola faria esse enredo, a comunidade vibrou. Missão dada é missão cumprida: fazer um grande desfile em homenagem ao Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o nosso Laíla, o meu Lalá, como eu chamava carinhosamente”, revelou Selminha.

Claudinho destacou a importância de Laíla para a história da escola e para sua vida pessoal. “A emoção é grande ao homenagear uma pessoa que tanto fez pela nossa Beija-Flor. É um momento em que relembramos e colocamos em prática todos os ensinamentos que ele nos deixou, tanto no carnaval quanto na vida”, afirmou o mestre-sala, ressaltando que o sentimento nilopolitano por Laíla foi o elemento central que guiou a dança do casal na Avenida.

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Laíla foi o responsável por levar Claudinho e Selminha para a Beija-Flor em 1996, marcando o início de uma trajetória de sucesso e dedicação à escola. Claudinho não esconde a admiração que sente por Laíla, a quem considera um pai e um exemplo de vida. “Ele é exemplo tanto no trabalho quanto na família. Era um cara alegre, que sempre fazia festas em casa e gostava da perfeição. Não gostava de perder nada, nem jogo nenhum, assim como no carnaval. Laíla era predestinado, nasceu para vencer e queria vencer a todo momento”, declarou.

Selminha, por sua vez, destacou o papel fundamental de Laíla em transformar a Beija-Flor em uma escola competitiva e respeitada no mundo do samba. “Ele nos ensinou a ser fortes, a entrar na Avenida como verdadeiros artistas. Ele nos ensinou a existir, a encantar. E ensinou a Beija-Flor a ser uma escola competitiva, que entra para brigar pelo título”, afirmou a porta-bandeira, emocionada.

No desfile da escola de Nilópolis, o casal representou uma parte importante da trajetória de Laíla na Beija-Flor e no carnaval: a espiritualidade. Para Selminha, Laíla compreendia que a escola de samba é um espaço de resistência. “Comprometido com a história do samba, Laíla foi um homem que brigou pela religião de matriz africana e pelos enredos de temática afro-brasileira. Um homem que ostentava suas guias quando muitos de nós tínhamos receio de passar por preconceito”, afirmou.

Selminha e Claudinho pisaram na Marquês de Sapucaí carregando muito afeto e gratidão com o objetivo de transmitir gratidão e o carinho que a comunidade sambista nutre por Laíla, perpetuando seu legado na história do carnaval. O casal mostrou que, além de talento, carrega no coração o amor pela Beija-Flor e por Laíla, que dedicou sua vida ao samba.

A juventude do Borel desce o morro pra cantar esse louvor! Quarto carro da Tijuca celebra a cultura dos jovens periféricos do Rio de Janeiro

A Unidos da Tijuca foi a primeira escola a se apresentar na noite de segunda-feira, na Marquês de Sapucaí, inaugurando o segundo dia de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro. A escola do Morro do Borel homenageou o orixá menino Logun Edé. Sua quarta alegoria se debruçou sobre a musicalidade da juventude carioca, em referência direta aos versos do samba-enredo que falam sobre as novas gerações da favela carioca onde a agremiação nasceu.

“A juventude vem para trazer inovação, para perpetuar aquilo que os nossos ancestrais criaram. A Tijuca vai representar muito bem essa juventude do Borel. O Borel é uma comunidade muito boa, muito representativa. Espero que a nossa ala consiga representar bastante essa juventude, a representação de Logun Edé em forma de juventude do Borel”, disse a assistente social Beatriz Domingos, de 25 anos, em seu quarto desfile pela Tijuca.

Beatriz Domingos

“A juventude é o nosso futuro. A juventude tem que ser valorizada, tem que ser incentivada, tem que ser investido no futuro dela”, concordou o médico Igor Fraga, de 36 anos, que estreia como desfilante no Carnaval carioca.

Igor Fraga

Surgido na primeira metade do século XX, a partir de ritmos afro-brasileiros como o lundu e o jongo, o samba é histórico e faz parte da identidade cultural da nação. Tamanha importância, no entanto, requer uma atualização constante para que, sendo adotado pelas novas gerações, o samba se mantenho vivo e pulsante.

“Os sambas de todas as escolas dessa nova geração do carnaval vem se renovando muito bem. O samba, o carnaval, ele precisa se renovar. Nós somos a maior festa do mundo. Tradições são muito boas, mas precisamos sim nos renovar, porque senão a gente pode deixar o nosso samba morrer. A renovação nunca é demais e nunca é ruim. Ela é sempre boa, se feita de uma forma correta”, pontuou Beatriz.

‘A juventude vem expressar novas culturas, novos gestos, uma nova linguagem. Não só a Sapucaí, mas o Brasil precisa muitas das vezes se atualizar. A gente é uma cultura que se atualiza a cada momento. A última vez que a Tijuca foi campeã foi em 2014. Há 11 anos atrás, era uma outra linguagem. Esse ano, a gente tem uma nova juventude e a gente veio representar os jovens do Borel, que é onde foi iniciada a Tijuca’, acrescentou o estudante de educação física Felipe Bueno, de 25 anos, que, em 2025, estreou como desfilante na Sapucaí.

Felipe Bueno

“Se eles dessem mais atenção às escolas Mirim, estaria garantido o futuro da Tijuca. O samba vem dos nossos ancestrais, aqueles que vieram antes de nós. A história, o legado e a cultura têm que permanecer”, finalizou a mediadora Alice Pietra, de 21 anos. Este ano, Alice completou quatro anos desfilando pela Unidos da Tijuca.

Alice Pietra

Com Oxum de ponta a ponta, Oyá também traz a força feminina na história de Logun-Edé da Tijuca

Embora o enredo “Logun-Edé – Santo menino que velho respeita” homenageie um orixá masculino, a Unidos da Tijuca valorizou a essência feminina por meio das grandes mães do axé. A presença de Oxum, mãe de Logun Edé, permeia todo o desfile. Mas também há a presença de Oyá, a mãe guerreira, que ensinou a Logun-Edé, desde cedo, a ser imponente como ela durante uma guerra.

Na África, antes dos colonos pisarem, as sociedades eram matriarcais, ou seja, lideradas por mulheres que eram centrais na passagem de ensinamentos aos seus filhos. Nessas sociedades, as mulheres eram heroínas, chefiando as famílias, enquanto os homens saíam às caçadas e às guerras.

Oyá ou Iansã é uma dessas mulheres africanas que chefiava sua família, guerreava e ajudava outras mulheres nessas funções. Inclusive auxiliou Oxum na criação de Logun-Edé, tornando-o, assim como ela, um grande guerreiro valente e destemido. Representada na ala 9, majoritariamente composta por mulheres, Oyá é a personificação do matriarcado que enfrenta o machismo histórico em nossa sociedade.

Ao relacionar a figura forte de Oyá e a presença das mulheres no samba, o  CARNAVALESCO ouviu as mulheres que compõe a ala 9 sobre o tema.

“Minha fantasia vem falando de Oyá, para abraçar esse tema maravilhoso que é de Logun-Edé. É uma fantasia que está falando de uma mulher muito forte que era Oyá. Eu acredito que as escolas de samba têm que dar mais oportunidade para as mulheres. Aqui na Tijuca, na ala 9, tem bastante mulher no comando, inclusive a assistente coreografa e toda a equipe dela é feminina, mas ainda é pouco. Eu espero que as escolas tenham mais sensibilidade de olhar e dê oportunidade para as mulheres, porque a gente está aí, sempre dispostas a brigar pelo carnaval com todo o nosso carinho. Eu gostaria de ver mais mulheres puxando sambas, tendo oportunidade de estar como intérprete de samba-enredo, à frente de direções de carnaval, ali mesmo ajudando lá nas cabeças, no alto escalão da escola, acho isso fundamental. Uma mulher do samba que eu admiro muito e tem muita importância para a área é a Leci Brandão”, disse a contadora Márcia Campos, de 48, torcedora da Tijuca, mas estreante na avenida.

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A patologista Cristiane Freitas, que é mangueirense, mas está estreando na Sapucaí pela escola do Borel, acredita que a presença feminina no mundo do samba está crescendo, mas ainda é muito pouco.

“Nós mulheres precisamos aparecer mais, precisamos estar mais à frente, não só no lado direito, nem no lado esquerdo, nós temos que estar à frente. Temos que estar direcionando, temos que estar como presidente, diretora, enfim. A mulher tem que ser a cabeça, porque nós temos o poder também. Assim como Oyá, que estamos representando, tinha. Acho que temos mulheres divinas como exemplo no samba, Alcione, lembro muito da Beth Carvalho. Mas acredito que há muita falta de oportunidade para nós mulheres. Às vezes o homem não dá a oportunidade de uma Maria presidir uma escola de samba, acaba sempre ficando entre eles”, declarou Cristiane.

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Essa herança de liderança feminina ainda ecoa no samba, onde mulheres batalham por mais reconhecimento e espaço dentro das escolas de samba

A advogada Ana Cláudia se emocionou ao falar da representação de Oyá como a força da mulher, ela que é iniciada para Oxum, mãe de Logún-Edé, desfila há 5 anos pela Amarelo e Azul da Tijuca.

“Tenho uma mãe que sempre amou samba e carnaval, sou filha de uma mulher preta guerreira que me colocou desde criança em contato com o carnaval e desde sempre acredito que precisamos ocupar mais espaços, temos que ocupar mais espaços. Estão faltando mais carnavalescas mulheres. Eu, inclusive, acho que vou fazer até Belas Artes, para começar a desenhar carnaval. Eu gostaria muito de mais mulheres ocupando os espaços das presidências das escolas, das diretorias, nos carros de som, ou seja, todos os espaços possíveis, onde ela puder celebrar e exaltar o seu empoderamento, a sua força, entregando sua criatividade, onde ela puder ser livre e expressar o melhor de si. Assim como Oyá, eu, como uma mulher iniciada para Oxum, para mim é uma grande responsabilidade. A gente fala de brincadeira, carnaval e tudo mais, mas eu levo muito a sério essa questão quando o enredo é afro, quando o enredo está falando de uma religiosidade. Eu tento o máximo, faço meus pedidos, meus agradecimentos antes de entrar no palco sagrado, que é o palco da Sapucaí, que a nossa avenida é maior”, declarou Ana Cláudia, de 50 anos.

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A força feminina segue ecoando no carnaval, rompendo barreiras e reafirmando seu espaço. Assim como Oyá e Oxum moldaram Logun-Edé, as mulheres do samba continuam a transformar a festa em resistência e representatividade.

TV Globo registra maior audiência do Oscar em 20 anos e os Desfiles na Sapucaí registram crescimento de 50% de audiência

Ontem, foi dia de festas pelo Brasil e a TV Globo levou as imagens para todo país. Teve Oscar em todas as praças, com exceção do Rio de Janeiro, e teve desfile das escolas de samba para o Rio. Em São Paulo, a transmissão do Oscar registrou 14 pontos e foi a maior audiência em 20 anos. O índice também representou +27% a mais de audiência na comparação com a soma dos streamings e outros conteúdos de vídeo na TV.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

No Rio, o domingo foi marcado pelo primeiro dia dos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial (21h53 às 04h18). A audiência registrada foi de 15 pontos, que representou um crescimento de +50% na média da faixa dos 4 domingos anteriores. Foi recorde dessa faixa desde 4 de maio do ano passado, e recorde da faixa da madrugada (24h00 às 5h59), desde 14 de abril de 2024. Em São Paulo, os desfiles foram exibidos pós Oscar, entre 01h00 e 6h00, e igualou a audiência na comparação com a média das 4 semanas anteriores.

Na sexta-feira (28 de fevereiro) e no sábado (01 de março) foram dias de desfiles das Escolas de Samba do Grupo Especial de São Paulo. Na sexta (22h52 às 07h01), a audiência (7 pontos) registrou +17% de crescimento em relação às 4 sextas anteriores, em São Paulo. No sábado (22h18 às 06h51), a audiência registrou 8 pontos, um crescimento de +33% em relação às 4 semanas anteriores, na mesma praça.

Sereno de Campo Grande canta forte e entra na briga no Carnaval 2025

Por Julia Fernandes

O Sereno de Campo Grande desfilou na Intendente Magalhães no último domingo com o enredo “No sertão, se onde tem Sereno, têm corujas… Onde existem profetas… têm chuvas!!!”, desenvolvido pelo carnavalesco Marcello Portella.

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Fotos: S1 Comunicação/CARNAVALESCO

Comissão de Frente

Coreografada por Carlos Bolacha, a comissão de frente apresentou uma performance que sintetizou a essência do enredo, destacando a importância dos profetas da chuva no sertão nordestino. Esses homens e mulheres, observando sinais da natureza, fauna, flora e astros, conseguiam prever a chegada das chuvas e orientar agricultores e pecuaristas sobre o melhor momento para o plantio e o cuidado com os animais. O grupo representou esses personagens e as formigas, que são um dos sinais mais observados pelos profetas para indicar mudanças climáticas. A encenação foi marcada por uma coreografia muito bem ensaiada e sincronizada, incluindo pegadas elaboradas.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Alessandro Silva e Layne Ribeiro, foi responsável por coreografar sua própria apresentação. Eles estrearam com elegância e sintonia, executando uma coreografia simples, mas bem feita. Suas fantasias, vibrantes e bem trabalhadas, refletiram as cores azul e branco da escola, e o casal demonstrou harmonia em sua apresentação.

Harmonia

A harmonia da escola foi um dos pontos altos do desfile. Os componentes cantaram o samba-enredo com entusiasmo, destacando a forte conexão entre a comunidade e a agremiação. A bateria “Swing da Coruja”, sob a liderança do mestre Brício Silveira, manteve uma cadência envolvente, contribuindo para a harmonia musical do desfile.

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Evolução

A evolução do Sereno transcorreu de forma fluida e organizada. As alas avançaram sem interrupções, e não houve registros de buracos ou descompassos. A escola demonstrou preparação e disciplina, refletindo o comprometimento de seus integrantes.

Outros Destaques

A rainha de bateria, Katarina Harmony, esbanjou carisma e samba no pé, encantando o público com sua energia contagiante. Sua fantasia estava deslumbrante, chamando atenção pela beleza e riqueza de detalhes. As alegorias e fantasias apresentaram bom acabamento e criatividade, reforçando a narrativa proposta pelo enredo. Os carros alegóricos também se destacaram, sendo bem trabalhados e coerentes com a proposta visual do desfile.

As musas Adryele Araújo, Cintia Amanda, Giulia Pacoal, Ju Braga, Rosi Freire, Sol e Rodrogo Franco brilharam na Avenida, acrescentando ainda mais charme e animação ao desfile. A musa da comunidade, Selma Rocha, representou com garra e emoção o amor pela agremiação.