Fechando a segunda-feira de Carnaval, a Unidos da Tijuca levará para a Sapucaí como tema do seu enredo a maior escritora negra do Brasil: Carolina Maria de Jesus. Resgatar o passado, recuperar uma identidade e construir para o futuro uma nova perspectiva. Esse será o lema da Unidos da Tijuca para 2026. O enredo será uma homenagem a escritora, memorialista, compositora e multi-artista mineira, autora do best-seller “Quarto de Despejo – O Diário de uma favelada”, considerado uma das mais revolucionárias e impactantes obras da literatura brasileira.
Ante o apagamento histórico da homenageada e dos rótulos que recaíram sobre sua figura por mais de meio século, será a missão da escola contar a história de sua vida através de suas próprias produções, colocando-a como espelho de um Brasil que ainda pouco se conhece, e que muito precisa aprender sobre os seus.
“O título – o próprio nome da autora, ‘Carolina Maria de Jesus’ ainda alvo de dúvidas e confusões – foi escolhido em virtude da necessidade de afirmarmos sua identidade, de colocarmos em lugar de direito a “escritora que foi favelada” ao invés da “favelada que escrevia”. A agremiação desfraldará, feito pavilhão engalando, o lenço que foi a prisão imagética de Carolina, coroando-a de livros, recortes e poesias, num reencontro sensível e emocionante com a sua literatura visceral, verdadeira e comovente”, explica o carnavalesco Edson Pereira.
Em 2025 o Rio de Janeiro é a capital mundial do livro, e a Unidos da Tijuca será, até aqui, a única escola com enredo literário do carnaval. A última vez que a agremiação trouxe uma biografia literária como enredo, foi em 1982 com Lima Barreto, também negro e fundamental na construção do ideário brasileiro.
A entrega e explanação da sinopse aos compositores acontece nesta terça-feira, 3 de junho, às 19h no barracão da escola na Cidade do Samba. A Unidos da Tijuca desfilará na Marquês de Sapucaí dia 16 de fevereiro de 2026. O enredo será desenvolvido pelo carnavalesco Edson Pereira.
“Eu sou um corpo. Um ser. Um corpo só. Tem cor, tem corte e a história do meu lugar. Eu sou a minha própria embarcação. Sou minha própria sorte”.
(Trecho de “Um Corpo No Mundo” de Luedji Luna)
É com muita alegria que damos início a essa etapa tão importante para a criação do desfile de uma escola de samba. Para o ano de 2026 vocês terão a nobre missão de transformar o texto do enredo “Das Mais Antigas do Mundo, o Doce e Amargo Beijo da Noite” no samba que irá ilustrar o desfile do G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra.
Ratificamos nosso entusiasmo em mais uma vez poder doar ao carnaval a possibilidade de todos os sambistas e expectadores deste espetáculo serembrindados com um enredo que transforma a Porto da Pedra em ponte para toda sociedade conhecer detalhes preciosos de personagens que sempre foram marginalizadas pela hipocrisia que dita regras sociais. Nossa intenção não é realizar uma ode a prostituição, ou como diz Lourdes Barreto: “normalizar a causa”. Buscamos na história dessas mulheres o doce e o amargo das suas vivências, como elas foram retratas pela arte, e por fim, a luta por valorização de quem atua no que popularmente é chamado de “vida”.
Nas páginas seguintes vocês encontrarão os textos que fazem parte da construção teórica deste carnaval. Este é o primeiro contato entre o enredo e a criação musical. Recomendamos a leitura completa, com atenção, deixando claro que a narrativa textual abrange todos os pontos importantes da história que será transformada em desfile.
Observação importante: De forma alguma limitaremos a criatividade das parcerias, ideias sempre serão bem-vindas, desde que, não fujam ao tema. Buscamos um samba forte, aguerrido, que cada componente e sambista cante alegria. Pensem neles! Confiamos no potencial poético de cada um de vocês que acreditou na escola, no enredo e no concurso. Qualquer dúvida estamos à disposição.
Boa sorte na disputa!
Mauro Quintaes
Carnavalesco
Diego Araújo
Enredista
Justificativa
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Porto da Pedra, com imensa satisfação, apresenta aos sambistas e aos admiradores do carnaval carioca, seu enredo para o Carnaval 2026.
O tigre de São Gonçalo historicamente sempre se permitiu a coragem de levar para a Avenida Marquês de Sapucaí enredos que abordassem temáticas com figuras que foram colocadas à margem da história pela sociedade. Foi assim com as pessoas com transtorno mental, os ladrões e o povo da rua, por exemplo. Está em nossa veia carnavalesca a ousadia!
Neste ano nos reencontramos com um enredo que ficou guardado por muito tempo. Tempo este que foi necessário para que ele não fosse considerado um símbolo de vulgaridade reforçando estereótipos enraizados na sociedade. Encaramos esse desafio com a certeza de que nossa missão enquanto escola de samba sempre será ser a voz do povo, sem amarras ou preconceitos.
Pedimos licença às donas da magia. Todas as Marias! Que guardem e abram os caminhos para nós e as personagens exaltadas neste cortejo carnavalesco. Do sagrado e do profano. Do luxo e da pobreza. As faces retratadas em todas as artes. Seremos a voz da luta de quem está na “vida” por tantos motivos que não nos cabem julgamento, mas, o abraço que acolhe.
Elas estão vindo feito mariposas da noite! Enluaradas, enfeitiçadas, aguerridas e empoderadas. E antes de amanhecer, elas deixarão na alma e nos corações de cada um de vocês a marca do inesquecível. Elas são os amores proibidos e…
Preparem-se para o prazer de receber,
“Das Mais Antigas da Vida, o Doce e Amargo Beijo da Noite”
Sinopse
“Boa noite, pra quem vem de longe
Boa noite, pra quem tá chegando
Boa noite, pra moça bonita
É pra ela que eu tô cantando
7 rosas vermelhas, lá na encruzilhada
É lá que essa moça mora, é lá que ela dá risada…”
Mulher. Palavra que emana poder. Meu corpo é a encruzilhada que veste o preto mistério sobre a luz das estrelas. Meus traços são faíscas incandescentes de desejos. Rubro ardor de loucura. Nos meus lábios, a vermelha tentação que beija a alma dos que ousam provar o deleite destas carícias.
Mulher. Atiço a poeira da magia. O ferro em brasa. O fervor do dendê. O perfume que exala pelas ruas. Boa noite para elas! Donas da magia que comandam essa avenida. Dama das rosas. Ponteira de aço firme nessa esquina da resistência feminina.
“À minha Senhora hei de cantar
Poesias escritas para além-mar.
Dourada, de doce sorriso
Além da compreensão humana, o divino sentido…”
Sagrado? Ora, tenho dons celestiais! A beleza que desnuda os pudores humanos. Dancei com sátiros nos bosques, me banhei no cálice dos prazeres divinos dos rituais, sou face feminina dos sonhos deíficos que acalentam os corações humanos que buscavam carinho.
Profano? Ora, visto-me de realidade! Os seios banhados com champanhe são as taças do desejo que cortejam as vontades da realeza. E tempos depois, por estas terras de onde não haveria temores, minha estrela se apagou e renegada de minha pátria, polaca perdição do cais. Estava aqui, no manguezal da labuta meretrícia, degradada entre o luxo e a pobreza. O bem e o mal de tantos!
“…E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos…”
Sou dona dos amores não correspondidos e do amargo da solidão. Forjada para lida das mãos que tocam meu corpo. Meu colo é teu carinho, afago da perdição das almas. Vivo a vida entre a lâmina fria da realidade e o perfume das flores que despetalam promessas neste velho cabaret.
Arreda, homem! Sou a feiticeira sedutora de Araxá que a sociedade conservadora não pode calar. Sou as asas da imaginação de um escritor, um anjo entre a pureza e a perdição. Sou a voz que não se cala, a baiana fervorosa, sou o suspiro que ecoa nos corredores do velho cortiço. Sou mulher- dama, o machado forte, os lábios da doçura do cacau.
Sou eu! Encontrei proteção no fio da navalha do desordeiro herdeiro das sete coroas que me acolheu. Satã das bonecas e da malandragem que travestiu o “balacochê” na Lapa boemia. Sou eu, sim! Maria que homem nenhum tomba! Do agreste fui expulsa e enfrentei o julgamento da perpétua moralidade. Sou um furacão de liberdade e rebeldia, o amor proibido, riscado por Deus e que ninguém rabisca.
“Baby!
Dê-me seu dinheiro que eu quero viver
Dê-me seu relógio que eu quero saber
Quanto tempo falta para lhe esquecer
Quanto vale um homem para amar você…”
Mulher da vida, é preciso falar! É preciso que vocês me ouçam. Nós somos mais que corpos a serem tocados. Sou mulher do lar, por que não? Sou feita de sonhos e esperanças que um dia partiram para o mundo, e nas voltas desse mundo, algumas não retornaram.
Entenda que sou profissional! Não sou objeto, sou cidadã com meus direitos e deveres. Eu luto pelo que você discrimina. Meu corpo não é objeto de exploração, abuso e violência. Minha voz não é do medo que cala, é da luta que persiste, e nem mesmo abominada, desiste!
Sou chique! Desatei os nós do preconceito costurando a verdade de tantas que ditaram elegância no cenário da moda. Vidas em retalhos que vestiram arte. Estou aqui! Por mais que esteja à margem da história, não irão mais nos invisibilizar, eu sou a íris multicolorida de igualdade e liberdade.
A ciência é parceira na prevenção e o cuidado. Minha proteção é a sua satisfação! Conecto suas fantasias aos meus segredos mais delirantes, te enlouqueço, você me deseja, eu obedeço. A tecnologia nos aproxima, o mundo e o prazer ao toque de uma tela.
Sou fascinante mariposa noturna. Só voo à noite, pois dela sou de todos os tempos, rainha! A luz da lua me guia por esses caminhos da vida. Quenga, rameira, meretriz, messalina, acompanhante. O amargo e o doce. Gabriela, Lourdes, Cleide, Rachel, Vivi, Indianarae, Monique e todas as outras que são da luta. E antes que finde esta madrugada, sairei voando por aí…
Sou a liberdade imoral rechaçada pela hipocrisia,
O proibido que habita os seus sonhos,
O pesadelo que assombra sua mente,
O desvario, a luxúria e a provocação.
Sou um corpo na multidão observada,
Mulher que você julga a conduta,
E tentas vezes put…ah, puta mesmo!
Sou eu sua fantasia liberta nesse carnaval,
De garras afiadas num delírio sensual,
O beijo da noite que te enlouquece,
Nos meus braços você adormece,
Mas te deixo quando dia amanhece.
Você promete me tirar desse lugar,
Sou a flor do sereno,
Sou o veneno e a cura,
A fatal que não se esquece.
Créditos / Enredo
“Das Mais Antigas da Vida, o Doce e Amargo Beijo da Noite”
Carnavalesco: Mauro Quintaes
Enredista: Diego Araújo
Referências Musicais
Ponto de Pomba-gira – Domínio Popular
Trecho de “Poema à Afrodite” de Lykaios
Trecho de “Resposta ao Tempo” de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc
Trecho de “Garoto de Aluguel” de Zé Ramalho
“Boate Azul” de Benedito Seviero e Tomaz
“Eu Vou Tirar Você Desse Lugar” de Odair José
Referências Bibliográficas
ALENCAR, José de. As Asas de um Anjo: comédia em um prólogo, quatro atos
e um epilogo. Rio de Janeiro: Editores Soares e Irmão, 1860.
AMADO, Jorge. Gabriela, Cravo e Canela. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
AMADO, Jorge. Tieta do Agreste. Rio de Janeiro: Record, 1977.
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. São Paulo: Ateliê Editorial, 2012.
BARRETO, Lourdes. Puta autobiografia. São Paulo: Claraboia, 2023.
LEITE, G. Filha, Mãe, Avó e Puta: a história de uma mulher que decidiu ser prostituta. Rio de Janeiro: Objetiva. 2009.
PRADO, Monique. Putafeminista. Edição Português. 2018.
Referências Audiovisuais
Hilda Furacão [minissérie]. Direção: Glória Perez. Produção: Globo, 1998.
Na tarde desta segunda-feira, a Liga RJ assinou a renovação do contrato com a Band TV para a transmissão dos desfiles da Série Ouro pelos próximos três anos. O ato aconteceu na sede da emissora, em Botafogo, Zona Sul do Rio, com a presença do presidente Hugo Junior e de André Marini, diretor-geral da Band Rio.
Hugo Junior celebrou a continuidade da parceria, destacando o papel fundamental da Band na valorização e visibilidade dos desfiles da Série Ouro. Segundo ele, a emissora tem se mostrado uma aliada importante na promoção do carnaval e no fortalecimento do trabalho das escolas.
“A Band tem sido uma grande parceira da Liga RJ e das escolas da Série Ouro. A cobertura e a transmissão são sempre muito elogiadas, e isso tem contribuído para dar ao nosso grupo o destaque que ela merece. Essa renovação é motivo de comemoração para todos nós”, afirmou.
Hugo também ressaltou os avanços conquistados ao longo da parceria, como a transmissão em rede para todo o Brasil e o Prêmio Band Folia, que reconhece talentos e destaques dos desfiles. Para ele, essa continuidade permite ampliar ainda mais os horizontes do espetáculo.
“Estamos muito felizes em seguir com a Band por mais três anos. É uma emissora que acredita no nosso projeto, investe em qualidade e entende a importância do nosso carnaval. O Prêmio Band Folia, por exemplo, é um símbolo desse comprometimento e tem se consolidado como um momento especial para celebrar a arte e o esforço das agremiações, além de todas as matérias especiais, a transmissão para o país, dentre diversas ações”, completou Hugo Junior.
Durante o encontro, André Marini reforçou o compromisso da Band com o carnaval carioca e enalteceu o papel das escolas como protagonistas culturais da cidade:
“As escolas de samba são pilares da identidade cultural do Rio de Janeiro, verdadeiras guardiãs da memória, da criatividade popular e da alma vibrante da cidade. Por isso, a Band agradece a confiança dos presidentes das escolas de samba da Série Ouro”, afirmou o diretor-geral da Band Rio.
A Band já transmite os desfiles da Série Ouro há três carnavais. Com a renovação, a emissora passa a ter os direitos de exibição até 2028. No próximo ano, as 15 escolas do grupo desfilarão nos dias 13 e 14 de fevereiro, na Marquês de Sapucaí, sendo sete na primeira noite e oito na segunda.
A Superliga Carnavalesca do Brasil informa que, em Assembleia Geral realizada nesta segunda-feira, com a presença dos presidentes das agremiações filiadas, foram definidas importantes diretrizes para o planejamento do Carnaval nos próximos quatro anos. As escolas da Série Prata vão desfilar no Domingo e Segunda-feira de carnaval em 2026. Os desfiles da Série Bronze vão acontecer na Sexta-feira e Sábado após a data do carnaval oficial. O Grupo de Avaliação será na Terça-feira de carnaval.
Foi também decidido que, para o Carnaval de 2026, não haverá filiação de novas escolas para o Grupo de Avaliação. O referido grupo será composto exclusivamente pelas agremiações rebaixadas da Série Bronze no Carnaval de 2025.
Com o objetivo de fortalecer e valorizar os desfiles realizados na Intendente Magalhães, atendendo também às demandas da opinião pública quanto à qualidade do espetáculo, ficou deliberado que haverá uma reestruturação gradual da Série Prata, conforme segue: Carnaval 2027: a Série Prata contará com 24 agremiações; Carnaval 2028: a Série Prata será composta por 20 agremiações; e Carnaval 2029: a Série Prata terá 16 agremiações.
Segundo a Superliga, essa redução progressiva visa oferecer melhores condições estruturais às agremiações e elevar o nível artístico e técnico dos desfiles.
Durante a leitura da sinopse do enredo da Unidos de Padre Miguel para o Carnaval de 2026, o diretor da escola, Cícero Costa, falou sobre a escolha da nova homenagem, os desafios que a agremiação enfrentará com a saída da Cidade do Samba e o momento de transição na presidência, com sua filha Lara Costa assumindo o comando da vermelho e branco da Zona Oeste do Rio.
A escola, que em 2025 homenageou Iyá Nassô e agora se prepara para retratar a história de Clara Camarão, guerreira indígena pouco conhecida, aposta novamente na força de narrativas femininas. “Esse enredo já veio com a ideia de ser mais uma homenagem a uma mulher”, contou Cícero. “Quando me apresentaram as propostas de enredo, eu já falei com a Lara: ‘É esse, tem que ser esse, entendeu?’, porque já gostamos de fazer isso. Estamos saindo da Iyá Nassô e agora vamos homenagear a Clara Camarão, pois acho que nada melhor do que contar uma história que poucos conhecem, por não estar nos livros”.
A leitura da sinopse também marcou um momento de despedida simbólica do Boi Vermelho da Cidade do Samba, onde esteve desde sua estreia no Grupo Especial. “Está programado para sairmos no dia 7 de junho”, informou o diretor, que admitiu um misto de frustração e resiliência com a mudança. “Para mim, é um pouco frustrante, mas faz parte. Vamos sair de lá com a cabeça erguida e a certeza de que entregamos o nosso melhor, e continuaremos trabalhando para voltar e nunca mais sair de lá”.
A volta ao antigo barracão, mais modesto, exige adaptações. “Muda tudo”, destacou ele. “Quando cheguei à Cidade do Samba e vi toda aquela estrutura física, tive que aumentar o número de chassis e as estruturas de largura, enquanto no Grupo de Acesso é tudo menor. A gente vai ter que se adaptar novamente ao nosso antigo barracão, que é, de fato, nosso”.
Com a presidência da escola agora sob o comando de sua filha, Lara Costa, Cícero vê o momento como simbólico e pertinente à proposta do novo enredo. “Se pararmos para analisar bem, estamos saindo de uma homenagem a uma mulher para outra, enquanto uma mulher assume a escola. O projeto está bem legal e alinhado, o pessoal vai gostar”.
Como pai e figura experiente no mundo do carnaval, ele compartilhou conselhos com a nova presidente. “Eu converso muito com ela para que tenha calma, muita sabedoria e ouça mais do que fale. Com o tempo, a gente vai aprendendo. Eu sei que ela é uma menina e que, quando se trata da Unidos, passa um filme na cabeça dela, e as frustrações chegam mais fortes, mas fazem parte. Eu acredito também que o melhor da Unidos ainda está por vir.”
Apesar do rebaixamento, a agremiação da Vila Vintém colheu frutos inesperados com o samba-enredo do último carnaval, “Egbé Iyá Nassô”, que segue sendo exaltado em eventos por todo o Rio. “Eu até comentei com o Bruno Ribas (intérprete), e falei: ‘Caramba, o samba explodiu para além do carnaval, olha que loucura’. Eu sabia que era um sambasso, muito bom, ele é maravilhoso, mas parece que as coisas aconteceram ainda mais depois do nosso rebaixamento”.
Sobre o que esperar da UPM no Carnaval 2026, Cícero Costa foi enfático: “Manter o padrão de alto nível já é um perfil nosso, que eu sei que o mundo do samba espera da gente, e não vai ser um rebaixamento que vai mudar isso. Já viramos a chave, mas, infelizmente, as coisas ainda estão recentes. Para nós, internamente, já passou. As frustrações se vão com o tempo. Já estamos trabalhando no carnaval de 2026. Vamos levantar a cabeça e prosseguir. Só queremos trabalhar. Deixa a gente trabalhar”.
Branco começou sua história no Carnaval de 2006 na Escola Mirim Filhos da Águia. Em 2008 tornou-se ritmista da bateria da Portela, atuou como ritmista e diretor de bateria em diversas agremiações. Passou como mestre no Embalo do Engenho Novo, Em cima da Hora, Vila Santa Tereza, Unidos da Ponte e no último carnaval esteve no comando da bateria da Botafogo Samba Clube.
“Só tenho de agradecer ao Presidente Wallace Palhares e toda sua diretoria pela confiança em meu trabalho. Chego na Niterói com sede de vitória e vamos buscar esses 40 pontos. Junto a bateria queremos conquistar altos voos com a agremiação nesta estreia no Grupo Especial. O trabalho já começou”, revela Branco.
A expectativa tomava conta do universo do carnaval paulistano neste sábado (31 de maio): a Dom Bosco, atualmente no Grupo de Acesso I da cidade, revelou o enredo com o qual desfilará em 2026 durante uma feijoada realizada especificamente para esse fim. Intitulado “Mariama, Mãe de todas as Raças, de todas as cores, Mãe de todos os cantos da terra” e desenvolvido pelo carnavalesco Fábio Gouveia, a agremiação contará uma história comum a todas as mães – sobretudo às de grandes personagens religiosos.
Se Mariama é uma figura que tocará o coração de muitos graças ao enredo da Dom Bosco, a ideia para conta-la na avenida veio graças a outro nome bastante marcante na vida da agremiação: Rosalvino Morán Vinãyo, padre que preside a agremiação e a Obra Social. Por coincidência, a temática já era estudada por Fábio em outros projetos: “Por conta do coletivo de cultura popular que eu participo, o Kizomba Pra Preto, nós estudamos todos os temas negros do Brasil para colocar nos nossos trabalhos. Mariama já era algo que eu vinha estudando há algum tempo porque nós vamos entrar com uma montagem que retrata exatamente isso. Quando eu retornei para a Dom Bosco e conversei com o padre Rosalvino, na sala dele eu sei que tem a imagem de Maria. No dia dessa conversa, eu vi essa imagem e ele falou que a escola é cuidada por Maria e que Maria é quem tudo fez”, revelou o carnavalesco.
O próprio profissional, a partir de tal sensação, seguiu com a ideia: “Eu sou muito de sentir as coisas para entender o caminho a seguir. Foi o que aconteceu. Para quem não conhece, Mariama é um título que se dá a todas as Marias. No Brasil, Dom Hélder Câmara construiu, em 1981, uma missa para celebrar Mariama e aproximar o povo negro da igreja. A pastoral afro precisava aproximar todos os povos negros, todos os povos da terra, da igreja. Ele transforma, com a sua poesia, esse manifesto da igreja num novo quilombo, uma nova Palmares. É a partir disso que a gente começa a contar o nosso enredo. Mariama vai ser a guia, quem vai nos guiar para essa missa. Nós vamos celebrar essa missa dos quilombos, que mais tarde se tornou musical e foi composto por Milton Nascimento. Nós temos uma carga emocional histórica muito grande dentro desse enredo. O enredo tem que ser popular, forte e com chão negro para a gente poder ir bem”, detalhou, contando um pouco de algumas referências que também o inspiraram.
Caminho distinto…
Ao contrário do que acontece em outras coirmãs, o enredo sobre Mariama chegou antes ao presidente do que à diretoria de carnaval. Quem conta a história é Carlos Shakila, diretor de carnaval da instituição: “O carnavalesco que falou com o presidente, eu fiquei sabendo quando o enredo já estava fechado. Está tudo certo em relação a isso. O presidente toda a nossa equipe e falou que tinham essa ideia de enredo. Nós olhamos para o nosso presidente, o padre Rosalvino, e ele disse que tinha adorado a ideia. Então a gente só foi embora. Se ele adorou, vamos embora”, relativizou.
… aprovação imediata
O próprio Shakila fez elogios rasgados à temática escolhida: “Esse enredo é lindo! Esse enredo de Mariama retrata a nossa religiosidade e também retrata aquilo que nós mais sonhamos dentro da nossa casa: ter uma mãe que nos abraça, que nos acolhe. Eu fico muito contente com esse enredo, fico muito feliz. Espero que a nossa comunidade não só compre a ideia, mas vibre, cante e seja muito feliz com esse enredo que vai fazer sucesso, não tenho dúvida”, comemorou.
Quem também gostou do que viu foi Aramis Francisco Biaggi, padre que atua como vice-presidente da escola de samba e diretor tesoureiro da Obra Social: “Sem dúvida, é um enredo muito feliz para uma escola de samba que nasceu de uma obra social. Nós percebemos que temos esse carnavalesco de outras religiões e há um respeito muito grande da obra para a cidade de Aparecida, que conta muito sobre a mãe de Jesus. Jesus, para os cristãos, tem um significado muito grande. Sejam católicos, evangélicos ou protestantes, quem acredita em Jesus como Filho de Deus, tem essa devoção especial. Nós temos essa parte cultural: vamos conhecer a devoção à Maria, os milagres que foram acontecidos em Aparecida, pessoas que voltaram à religião católica e tornaram-se católicos por intercessão de Maria. Isso traz uma cultura popular de Mariama. Para quem é católico, a fundamentação da fé católica na avenida é a alegria do povo, é isso que a gente espera aqui. Como Dom Hélder Câmara falava: ‘Pulem, dancem, sejam felizes. É a felicidade do povo que enche o coração de Deus’”, disse, revelando um pouco das referências culturais que serão utilizadas.
Acerto na mosca
A primeira reação de todos os ouvidos pela reportagem ao saber do enredo foi de satisfação. Padre Aramis sintetizou: “Sem dúvida, é um enredo muito feliz para uma escola de samba que nasceu de uma obra social. Nós percebemos que temos esse carnavalesco de outras religiões e há um respeito muito grande da obra para a cidade de Aparecida, que conta muito sobre a mãe de Jesus. Jesus, para os cristãos, tem um significado muito grande. Sejam católicos, evangélicos ou protestantes, quem acredita em Jesus como Filho de Deus, tem essa devoção especial. Nós temos essa parte cultural: vamos conhecer a devoção à Maria, os milagres que foram acontecidos em Aparecida, pessoas que voltaram à religião católica e tornaram-se católicos por intercessão de Maria. Isso traz uma cultura popular de Mariama. Para quem é católico, a fundamentação da fé católica na avenida é a alegria do povo, é isso que a gente espera aqui. Como Dom Hélder Câmara falava: ‘Pulem, dancem, sejam felizes. É a felicidade do povo que enche o coração de Deus’”, comentou.
Da parte de quem propõe o enredo, e não avalia ou sente de maneira receptora, a sensação positiva foi semelhante: “A primeira reação do pessoal assim que eu falei do enredo foi a chancela para mostrar que eu estava no caminho certo. O ano passado eu fiz um enredo lúdico porque eu precisava buscar algo diferente do que eu vinha fazendo nos últimos anos. A escola não me proibiu em momento algum de fazer qualquer tipo de enredo que eu quisesse, mas eu preferi ir pelo lúdico. E hoje, quando eu entendo que eu apresento para o padre Rosalvino um enredo e ele aclama o enredo, é sinônimo de que eu estou no caminho certo. É sentir. Realmente o enredo atravessou o coração da direção, alcançou o coração da obra – e, principalmente, das lideranças que se formaram para conduzir esse projeto. Hoje, a escola formou uma grande comissão para conduzir o carnaval dela, e isso me deixa muito confortável para tudo. Nessa coisa de entender Mariama dentro da escola, entendo que eu também estou pisando num chão que eu sei fazer muito bem: falar do meu povo, da minha gente, da minha luta. Da luta de todos os negros e de todos os povos indígenas. Um enredo que fala dos povos da terra desse Brasil”, destacou Fábio, aproveitando para relembrar o enredo de 2024 da Dom Bosco – primeiro feito por ele na agremiação.
Como foi o evento?
Enquanto todos se deliciavam com a feijoada preparada pelas baianas da Dom Bosco, uma série de apresentações aconteceram. A primeira delas foi a roda de samba da Velha Guarda da agremiação; depois, uma roda de samba da ala dos compositores animou os presentes.
Convidados externos também se fizeram presentes. O primeiro deles foi a Congada de Santa Efigênia, que veio antes do início do show da escola em si. O Grupo Abayomi e o coletivo Kizomba Pra Preto também fizeram apresentações antes da revelação do enredo, com um vídeo introdutório. Para encerrar a festividade, o Rosas de Ouro, grande campeão do Grupo Especial em 2025, se fez presente – com grande elenco, contando com a presença da presidente Angelina Basílio, do intérprete oficial Carlos Jr. e de mestre Rafa, comandante da Bateria com Identidade.
Fotos: Will Ferreira/CARNAVALESCO
Próximos passos
Os próximos quarenta dias serão intensos na Dom Bosco. Carlos Shakila detalha o calendário da agremiação: “Nós temos uma festa junina no dia 14 de junho, aqui mesmo no Circo Social. Depois nós temos, no primeiro sábado de julho, o lançamento do nosso samba-enredo. Vamos fazer uma megafesta aqui de novo. Com samba maravilhoso, samba forte. Se Deus quiser vai dar tudo certo”, comentou.
Ele próprio detalhou como será feito o processo de escolha do samba-enredo: “Nós vamos fazer uma eliminatória com base no CD. O compositor vai mostrar o que ele tem de melhor. Sem muito alarde. Depois nós, a comunidade, vamos cantar os sambas. Nós gostamos disso. Escolhemos ali alguns sambas e deixamos para a nossa comunidade vibrar e cantar. Cabendo dentro do enredo, sendo técnico, sendo inteligente, sendo lindo e motivante (tem que ser contagiante e motivante), é o que vai para a pista. O que vale é o coração da galera. Estando dentro da proposta do carnavalesco, para nós, está tudo certo”, comentou.
A reportagem também perguntou para Fábio Gouveia se já é possível imaginar a Dom Bosco visualmente na avenida. De acordo com o carnavalesco, o projeto já está em andamento: “Quando a gente fechou o enredo e bateu o martelo, eu automaticamente já comecei a desenhar. Eu contava com outras pessoas me ajudando, eu me fechei na minha casa por 20 dias e eu fiz todos os meus projetos, todos os meus desenhos. Eu resolvi que esse ano vai ser a minha mão para tudo. Eu comecei a criar e foi muito natural, foi muito pleno. O projeto já foi entregue para a escola, nós já estamos construindo o projeto dando uma vertente para ele, para um caminho bem bonito. Estamos engajados nisso”, finalizou.
A Nenê de Vila Matilde apresentou oficialmente, no último sábado, o enredo com o qual disputará o Carnaval 2026. Em um evento na quadra da escola, com direito a feijoada, roda de samba e a estreia do novo intérprete Tiganá, a agremiação lançou “Encruzas – Nenê de corpo e alma no coração de São Paulo”, tema assinado pelo carnavalesco Danilo Dantas.
Logo do enredo da Nenê de Vila Matilde para o Carnaval 2026
O ponto de partida do enredo será a mais célebre esquina do país: o cruzamento entre as avenidas Ipiranga e São João, eternizado na canção “Sampa”, de Caetano Veloso. A proposta da escola é usar o simbolismo das encruzilhadas para celebrar a relação histórica da Nenê com a cidade de São Paulo.
“O enredo é muito São Paulo e muito Nenê de Vila Matilde. Vai ser um grande presente que a escola oferecerá ao carnaval paulistano, ao abordar essa relação da Nenê com a cidade, falando dessa encruza que é a Ipiranga com a São João — a mais famosa do Brasil”, afirmou o carnavalesco Danilo Dantas.
Fotos: Gustavo Lima/CARNAVALESCO
Estreia de Tiganá no microfone principal
Antes da apresentação do enredo, a noite foi marcada pela estreia de Tiganá como novo intérprete oficial. O cantor substitui Agnaldo Amaral, que esteve à frente do carro de som da Nenê por onze carnavais. Em sua primeira apresentação, Tiganá cantou sambas históricos da escola, acompanhado de ex-intérpretes como Santaninha, Rubens Gordinho, Afonsinho e Baby.
“É uma honra dar continuidade a esse legado. A Nenê tem uma história linda, e estou aqui para somar”, declarou o novo intérprete durante o evento.
Enredo une religiosidade e identidade paulistana
O vídeo de lançamento do enredo exibiu imagens simbólicas das ruas de São Paulo e contou com a trilha da música “Sampa”. De acordo com Dantas, a canção será parte essencial da narrativa.
“Não tem como falar de Ipiranga e São João sem falar de ‘Sampa’. Ela está presente no enredo. O pessoal do Bar Brahma e do Camarote Brahma está oferecendo todo o respaldo cultural e artístico para que a Nenê possa se apresentar com grandeza. Vai ser lindo”, afirmou.
Carnavalesco Danilo Dantas
O carnavalesco detalhou ainda como será a divisão temática do desfile: “O primeiro setor abre os caminhos, pedindo licença às entidades que regem a rua e a noite paulistana. Depois, mostramos a relação da Nenê com o tricampeonato de 1968, 1969 e 1970, conquistado na Avenida São João. A partir daí, celebramos o centro da cidade, até desembocar no Anhembi, que será um grande camarote popular”, explicou Dantas.
Parceria reforça ligação com o enredo
Localizado na própria esquina da Ipiranga com a São João, o Bar Brahma será parceiro da escola na concepção do enredo. O espaço é conhecido por ser reduto boêmio e ponto de encontro de artistas como Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini.
“O Bar Brahma está na esquina mais emblemática da cidade. Nessa encruza, nos alinhamos para trabalhar em conjunto. Eles já participam do carnaval há muito tempo, mas nunca estiveram tão envolvidos. Agora, queremos que estejam conosco também na gestão do desfile”, destacou o presidente Mantega.
Presidente Mantega
Diretoria aposta no enredo para buscar o título
A diretora de carnaval Bruna Moreira também comemorou o lançamento e revelou que o desejo do presidente foi determinante para a escolha do tema.
“É um enredo que o presidente quis muito. Vamos fazer um resgate da Nenê com a Avenida São João. A nossa escola e a São João se cruzam. A agremiação foi tricampeã lá em 1968, 1969 e 1970. Começamos falando de Exu, senhor das ruas, e passeamos pelas conquistas até os dias atuais”, detalhou Bruna.
Diretora de carnaval Bruna Moreira
O presidente Mantega finalizou o evento reforçando as expectativas da escola para o próximo desfile:
“Queremos dar ênfase às encruzas. Aprovamos a mais famosa de São Paulo, Ipiranga com São João, já cantada em prosa e verso. A ideia é falar do povo da rua. Estamos confiantes em fazer um carnaval competitivo e buscar o retorno ao Grupo Especial”, declarou.
“Rainha e cria do nosso chão! 👑
Mais do que uma rainha, Bianca é um símbolo da força da mulher sambista, demonstrando que o samba vai muito além de um ritmo ou uma dança, é se fazer presente e representar socialmente por cada passo que se dá.
Desde que assumiu o posto, Bianca vem representando e evoluindo sua performance à frente da Tabajara do Samba, cativando a todos com sua energia e paixão ao pavilhão.
Irreverente, única e imponente, Bianca Monteiro segue sendo um ícone da nossa história e inspirando gerações.
Seguimos juntos, rumo a mais um carnaval, com a certeza de que teremos uma verdadeira Rainha brilhando e sendo o orgulho de todo portelense!”
A Portela anunciou na noite deste sábado a contratação de mestre Vitinho para o comando da bateria. Ele estava no Império Serrano e tinha sido anunciado pela Niterói, mas agora ficará somente na Majestade do Samba. Veja abaixo o comunicado da escola.
“De volta ao ninho!
Cria da casa, ele retorna com a missão de manter o ritmo e a força da Tabajara do Samba.
Vitor Cezar, mais conhecido no mundo do samba como Mestre Vitinho, é o nosso novo Mestre de Bateria!
“Voei, mas voltei para o meu ninho. Quem ama a Portela nunca deixa de amar!”, declara Mestre Vitinho.