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Mocidade fecha parceria com empresa de tecnologia para o Carnaval 2024

A Caju Benefícios, empresa de tecnologia que oferece benefícios e soluções para RHs, fechou uma parceria inédita com a Mocidade Independente de Padre Miguel para o Carnaval 2024. Esta é a primeira ação da empresa em patrocínio de eventos para além do público B2B. Com a parceria, a Caju visa expandir a presença da marca para todo o Brasil através de uma experiência e narrativa conectada ao propósito da empresa – de levar sabor à vida profissional. Assim, busca se conectar com a audiência de forma leve e fluida e romper os padrões das comunicações de marca B2B.

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Foto: Divulgação

Com o enredo “Pede caju que dou… Pé de caju que dá!”, a escola do carnavalesco Marcus Ferreira irá contar na Sapucaí tudo sobre a fruta do cajueiro, com suas histórias, curiosidades e lendas. O samba-enredo da verde e branco, que tem entre os compositores Marcelo Adnet, é um dos mais ouvidos nos canais oficiais do carnaval carioca e crescendo nas paradas dos streamings musicais – no Spotify, por exemplo, foi número 1 no Rio de Janeiro na última semana do ano e agora está na lista das músicas mais virais do Brasil.

A Caju entende a parceria como uma oportunidade única e autêntica para celebrar o carnaval de 2024 e engajar com os “cajuzetes”, como são chamados as centenas de milhares de usuários da Caju. “Hoje, temos mais de 30 mil empresas de todos os cantos do Brasil utilizando nossos produtos, em especial o cartão de multibenefícios. A brasilidade é muito presente nas nossas comunicações e no tom de voz, e sabemos que muitos dos nossos usuários se identificam com a gente por conta disso. Nada mais justo, então, do que aproveitarmos a maior festa brasileira para nos aproximar deles. O gancho com a Mocidade, que este ano tem como tema do samba-enredo o caju, foi a oportunidade perfeita”, diz Mariana Hatsumura, CMO da Caju.

Para Bryan Clem, diretor de marketing da Mocidade, a parceria casou perfeitamente com o enredo da agremiação. “Estamos muito felizes e satisfeitos com a parceria com a Caju Benefícios. A Mocidade fala sobre o Caju e a marca tem toda identidade aliada a nossa estratégia digital. Tenho a certeza que agregaremos muito mais na campanha deste samba, que virou hit do verão”, destaca.

Ativações da parceria

Para a parceria, os mascotes da Caju e da Mocidade farão uma série de conteúdos que serão publicados nas redes sociais. “É uma maneira de conectar a tradição do Carnaval, festa centenária, com toda a identidade e brasilidade que temos na nossa empresa”, diz Hatsumura. A Caju também estará presente no ensaio técnico da Mocidade que acontece no domingo na Sapucaí.

A Mocidade Independente de Padre Miguel será a primeira a entrar na Sapucaí na segunda-feira, dia 12 de fevereiro de 2024. Saiba mais sobre o desfile de 2024 neste link.

João Bosco visita barracão do Tuiuti e confirma participação no desfile da escola

Um dos maiores cantores e compositores do Brasil confirmou presença no desfile do Paraíso do Tuiuti neste Carnaval. João Bosco, ao lado da filha Julia Bosco e de Moacyr Luz, visitou o barracão da agremiação, na Cidade do Samba, e conferiu detalhes com o carnavalesco Jack Vasconcelos do enredo sobre João Cândido. A canção “O mestre-sala dos mares”, de Bosco e Aldir Blanc, serviu de inspiração para a criação do tema da azul e amarelo.

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Foto: Divulgação

“Ter o João Bosco com a gente é reverenciar a história do João Cândido. Muitos brasileiros só foram apresentados à heróica história de João Cândido quando, em 1974, João Bosco e Aldir Blanc compuseram o clássico ‘O Mestre-Sala dos Mares”, imortalizado na voz da Elis Regina. Nós vamos reverenciar, mais uma vez, a história e o legado de João Cândido na Avenida”, conta Jack.

O artista desfilará ao lado da família de Aldir Blanc na última alegoria do Tuiuti. A escola será a quinta a desfilar na segunda-feira de carnaval com enredo “Glória ao Almirante Negro!”, uma homenagem a João Cândido, marinheiro brasileiro que atuou na liderança da Revolta da Chibata.

Sistema de iluminação do Sambódromo promete revolucionar os desfiles do Grupo Especial no Carnaval 2024

Pela primeira vez, na Marquês de Sapucaí, cada escola de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro, terá o controle total do sistema de iluminação de toda Avenida nos desfiles de 2024. Desde o fim do ano passado, as escolas estão em contato com a equipe que opera o sistema e nos próximos dias vão testar oficialmente, principalmente, em seus tripés e integrantes da comissão de frente. Nos dois últimos anos, a iluminação vem sendo utilizada na Avenida, mas com reclamações dos artistas e do público. Agora, o clima na maioria das escolas de samba é de encantamento com uma possibilidade artística.

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Foto: Divulgação/RioLuz

A iluminação de LED que combina cores e luzes ritmadas com as baterias, alegorias e fantasias, promete ser um destaque em todas as escolas de samba deste ano. Além da comissão de frente, as escolas preparam projetos que vão integrar todo o desfile com o novo sistema de iluminação da Marquês de Sapucaí. Diferentemente do que é especulado nas redes sociais, esse ano nada será “feito de orelhada”, pelo contrário, cada agremiação terá autonomia para realizar o que desejar durante o seu desfile.

Todos os testes, que vão ser realizados nos próximos dias, sempre no horário da madrugada, será acompanhado pela equipe comandada por Césio Lima, uma das principais referências no país em iluminação. Para isso, foi montado um centro de controle no setor 10 da Marquês de Sapucaí.

Em matéria publicada pelo jornal O Globo e confirmada pelo site CARNAVALESCO é garantido que os setores das arquibanacada não vão ficar totalmente sem iluminação entre um desfile e outro. Ao longo das cabines dos jurados, localizadas nos setores 3, 6 e 10, os carnavalescos e coreógrafos poderão explorar todo sistema, inclusive, luzes coloridas de RGBW. A reportagem cita que vão ser utilizados 510 refletores direcionados para pista dos desfiles.

Agora, o mistério sobre quem vai usar o sistema de iluminação fica no ar. Como nas alegorias e fantasias, as agremiações do Grupo Especial guardam a sete chaves os segredos planejados para os desfiles do Carnaval 2024.

Barracões Acesso 1 SP: Pérola Negra levará ao Anhembi a história das quebradeiras de coco babaçu

A série “Barracões” do site CARNAVALESCO viaja junto com a Pérola Negra ao Maranhão para conhecer as quebradeiras de coco babaçu. Carregando consigo a tradição de explorar o fruto do babaçueiro, árvore típica do Nordeste, essas mulheres guerreiras terão sua história contada no Sambódromo do Anhembi através do enredo “Pérola Negra no encanto do balaio das quebradeiras”, assinado pelo carnavalesco André Marins.

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Fotos: Lucas Sampaio/CARNAVALESCO

A inspiração e o agradecimento das quebradeiras

O momento em que nasce o enredo costuma ter significado especial para os carnavalescos. Quando André Marins foi apresentado à história das quebradeiras de coco, as descobertas e contatos feitos ao longo do processo desenvolveram não apenas a ideia do tema que a Pérola Negra levará ao Anhembi, como também a maneira especial com que a história dessas mulheres será tratada.

“Eu estava procurando um enredo aonde eu tivesse uma cultura brasileira mesmo, alguma coisa que nunca tivesse passado na Avenida. Conversando com um amigo ele falou que tinha um enredo e apresentou a história das quebradeiras. Eu vi um documentário falando sobre elas e me encantei por causa da história, e enquanto fui criando mais conteúdo para o enredo eu fui descobrindo várias coisas. Quando se fala de pessoas que trabalham com esse tipo de material se imagina que é uma coisa sofrida, difícil, mas para elas isso é um prazer. Recebi um áudio em que a Rosalva, uma das quebradeiras de coco babaçu do Maranhão, pede que não coloque nada sofrido porque elas têm prazer no que fazem. Elas não têm vergonha, não têm nenhum tipo de preconceito com isso que elas fazem. Pelo contrário, elas amam fazer o que fazem com o coco babaçu, e o enredo vem pegando por essa tangente. A gente mostra, é claro, a dificuldade de como foi e ainda é porque também não é fácil agora, mas que tenha essa questão de o brasileiro ter a certeza do que está fazendo”, relatou o artista.

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Em áudio encaminhado pelo carnavalesco após a entrevista, a quebradeira de coco babaçu Rosalva expressa alegria pelo enredo escolhido pela Pérola Negra.

“Estou aqui com os olhos cheios de lágrimas porque é essa a nossa escolha de vida enquanto mulheres quebradeiras de coco, com toda a diversidade que nós temos. A mulher quebradeira de coco, com terra, sem-terra, acampada, ribeirinha, branca, preta. As quebradeiras de coco urbanas, que eu sou uma delas, não tenho terra também, então para quebrar coco eu preciso entrar na terra alheia. Isso é uma escolha de vida. Ser quebradeira de coco não é uma profissão, é um modo de vida, é um jeito nosso de viver. Defender o babaçu é a defesa de nós próprias, tem uma significação muito forte isso para nós. Especialmente agora, nesse momento de mudanças extremas climáticas em que o mundo está discutindo sustentabilidade, olhar para os babaçuais, olhar para as populações tradicionais que defendem as florestas de babaçu, a principal população tradicional, as quebradeiras de coco, que a gente dá a vida pra defender as palmeiras de babaçu, é também contribuir para esse socorro que o mundo está pedindo, que a gente precisa atender e que se faz mais urgente do que nunca. Lutar pelas florestas de babaçu, pela vida e a liberdade das quebradeiras de coco também significa lutar pela vida do meio ambiente como um todo. Muitíssimo obrigada pela sensibilidade e vamos juntos”, agradeceu.

A riqueza do coco babaçu

A Pérola Negra iniciará o desfile apresentando para o público as quebradeiras diante de uma floresta de babaçueiros, fazendo uso da comissão de frente e do carro Abre-alas para ilustrar diferentes situações vividas por essas mulheres. André Marins destaca que o desfile será interessante de se observar como um todo, e apontou alguns elementos de destaque existentes em cada segmento.

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“Existem desde a comissão de frente no primeiro setor, que são as quebradeiras indo para a Avenida catar o coco. Elas vão simular essa catação, que é um ponto bem interessante. A gente tem uma história bem legal nela que tem quatro personagens, que virão bem lúdicos e bem coreografados pelo Ale, que é um grande coreógrafo. No Abre-alas a gente traz como se as quebradeiras estivessem indo para a floresta, com a liberação dos encantados e de Oxóssi para uma boa colheita. A gente vai ter uma brincadeira no Abre-alas que é como se as mulheres estivessem indo catar o coco babaçu na Avenida. Nós teremos um elemento na frente do carro que vai fazer essa performance. O coco babaçu é rico, rico mesmo. A gente traz nossa floresta em ouro por causa que ele é rico e a maioria na questão do ouro porque é para mostrar que ele realmente é uma fonte de renda preciosa. Do caule se faz carvão, das folhas se faz artesanato e a palha para colocar em cima das casas. Do coco surge o óleo, a farinha, o leite de babaçu. Tudo se aproveita dessa grande árvore e desse grande fruto, e a gente estará mostrando no nosso desfile toda essa parte que do que se pode fazer com o babaçu hoje”, detalhou.

Da cultura maranhense ao futuro do babaçu

A apresentação da Pérola Negra será dividida em quatro setores. Após abordar as tradições das quebradeiras, a escola explorará a cultura maranhense e o artesanato desenvolvido com as diferentes partes da planta. André Marins falou a respeito das nuances desses segmentos.

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“Já que a gente fala das quebradeiras do Maranhão, a gente passa pela cultura do Maranhão. A gente traz na nossa segunda alegoria um casarão maranhense com a questão do ofício do azulejo português. A gente traz essa cultura do Maranhão até mesmo para ter mais uma brincadeira que a gente faz com o Rei Sebastião, em que o babaçu se torna o grande Rei dessa cultura maranhense. As fantasias são de uma sobriedade em termos de estilo que é nobre. É uma roupa bem artesanal, toda voltada para a cultura maranhense. Foi elaborada a questão de estamparia de cores que trazem essa riqueza da cultura brasileira. Por exemplo, foi difícil a gente achar algumas coisas relacionadas aos azulejos, mas conseguimos construir como se fosse um cenário do casarão. Dentro desse ambiente todo há uma brincadeira muito grande não só com a ala das crianças, mas também uma performance em cima da segunda alegoria”, explicou.

O futuro das quebradeiras e do coco babaçu terá destaque especial no desfile através do último setor, passando pela Lei do Babaçu Livre e finalizando com uma alegoria carregada de referências tecnológicas.

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“Passamos pela Lei que foi sancionada para as quebradeiras poderem usufruir do coco e entrarem dentro das fazendas para poder colher o babaçu, e trazemos no final essa questão do futuro, o que será do futuro delas e do futuro do babaçu. São várias pesquisas, não só no Brasil como no mundo inteiro. Em vários lugares do mundo fazem pesquisas sobre o coco babaçu, até no biodiesel. A gente traz esse futuro numa questão meio guerreira, com essas mulheres negras, indígenas, e brancas que são hoje está tudo misturado com essa brasilidade toda, para que o babaçu se torne cada vez mais conhecido”, explicou André.

Escola leve e alegre para desfilar no Anhembi

O trabalho de desenvolvimento do carnaval da Pérola Negra para 2024 envolveu aprendizados e a satisfação de levar uma história de luta carregada de muita alegria. Não é difícil traçar um paralelo entre a determinação das quebradeiras com a garra da comunidade da Vila Madalena. André Marins encerra a entrevista falando sobre o sentimento dos componentes ao verem o projeto em desenvolvimento e seu empenho de desenvolver um desfile agradável de se assistir e agregador a nível cultural.

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“Desde o momento da apresentação do enredo até o desenvolvimento é o encanto que eles estão tendo com tudo que está acontecendo. Todos estão gostando da plástica, todos estão gostando da forma que está sendo dividido o enredo. É engrandecedor você ver que os componentes estão gostando daquilo que estão vendo, mesmo que não esteja tudo pronto. Ainda falta detalhezinhos para a gente terminar, mas é bom ver que eles estão bem animados, graças a Deus. A sensação que eu tenho é que a escola está leve, com uma proposta que vai desde a leveza e a alegria até para o futuro das crianças. Eu tentei usar de artifícios que eu sempre uso dentro do carnaval, que é trazer ambientes diferentes. O que você vai ver no Abre-alas você não vê na segunda alegoria, e na segunda alegoria você não vai ver a terceira alegoria. A questão que eu queria era trazer como se fosse um grande documentário, então cada um fala sobre si por exemplo”, concluiu.

O pedido de Rosalva, a quebradeira de coco

O pedido informado por André Marins feito pela quebradeira de coco Rosalva ocorreu em outro trecho do áudio encaminhado pelo carnavalesco. Ela relata o motivo de fazer tal pedido, falando um pouco sobre a realidade vivida por essas mulheres entre os estados do Maranhão, Piauí e Tocantins.

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“Eu estava falando das companheiras fazendo a encenação da coleta do coco e estou aqui imaginando já a escola entrando. Eu só gostaria de pedir uma coisa, não sei se seria abuso meu, mas é um pedido muito especial porque é uma coisa que mexe muito com nós quebradeiras de coco. Que tudo que for pensado, discutido, apresentado construído junto com a gente sobre nós, sobre a nossa luta que a gente leve a nossa alegria, a nossa felicidade de ser mulher quebradeira de coco. Por que eu estou dizendo isso? Porque a mídia no geral, não é o caso da escola, mas a maioria das mídias quando vão falar trazem aquele senso da penosidade da lenda de que o coco é algo penoso, uma vida desgraçada, desprovida de tudo. O que traz a penosidade da nossa vida é a negação do Estado em não regularizar os nossos territórios, principalmente os territórios que estão em retomada e que estão em processo de titulação, que são os territórios quilombolas. Quando a gente tem o território livre, tem o babaçu livre, tem a água livre, tem a terra livre para se plantar e se colher, a gente tem fartura para vender, para comer, para ter uma alimentação saudável, para sermos pessoas com um nexo fundo com as suas águas, com as suas terras, com as suas mães d’águas, com os nossos encantados que estão nos rios, que estão nas nossas florestas. Dos meus maiores orgulhos o primeiro é de ser uma mulher preta e segundo de ser uma mulher preta, quebradeira de coco e filha de quem eu sou. Nós temos a Lei Babaçu Livre nas comunidades, mas eu tenho que roubar o coco em alguns municípios no Tocantins. Nós já temos a nível estadual no Piauí, mas a Lei não é cumprida, não é obedecida, e a gente precisa ter acesso a esse babaçu para a gente poder ter o alimento ou o complemento do nosso alimento. Para algumas famílias é o complemento, mas para muitas famílias o alimento total é o babaçu”, relatou Rosalva.

Ficha técnica
Enredo: “Pérola Negra no encanto do balaio das quebradeiras”
Diretor de barracão: João Ricardo Alexandre
Diretor de ateliê: Antônio Fernandes da Silva
1600 componentes
15 alas
3 alegorias + 1 tripé
Ordem de desfile: Quarta escola a desfilar no dia 11 de fevereiro pelo Grupo de Acesso 1

Lançamento de livro sobre casais de mestre-sala e porta-bandeira gera debate sobre rumo do quesito e preocupação com excesso de coreografia

O lançamento do livro “Mestre-Sala e Porta-Bandeira, uma arte essencialmente nossa”, de Bruno Chateaubriand, foi realizado na última terça-feira, no hotel Fairmont, em Copacabana. O evento reuniu casais de mestre-sala e porta-bandeira de diversas escolas do Grupo Especial e da Série Ouro, que estiveram presentes para serem homenageados.

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Fotos: Maria Clara/CARNAVALESCO

O livro aborda a importância da arte do mestre-sala e da porta-bandeira e como essa dança se destaca pelo seu alto grau de complexidade técnica, além de carregar um enorme poder simbólico. Cada passo, gesto, e até mesmo o posicionamento do pavilhão, são carregados de significados profundos que remetem a rica história e tradição do carnaval brasileiro.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, Bruno conta sobre como essa história começou, também comenta sobre o conteúdo do livro e o que podemos esperar dessa obra.

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“A história do livro, ela começou de uma matéria minha na Veja Rio em 2022, e aí veio aquela coisa que jornalisticamente a gente fala, a gente vai abrindo novas camadas, a pesquisando e fui vendo que tem trabalho sim, mas tem trabalho muito mais de universitários, tem TCC, mas assim, obras publicadas tinha do Aydano André Motta das porta-bandeiras, ele falando de grandes nomes aí dessa arte, mas só porta-bandeira, e aqui a gente dá o lugar de fala também para os mestres-salas. A gente fala, por exemplo, dos casais que já têm mais de 50 anos e estão na ativa: Selminha, Claudinho, Julinho, Rute. Os quatro têm mais de 50 e representam grandes pavilhões: Beija-Flor e Viradouro. Fala da artesania, dos talabartes, como surgiu o talabarte, fala um pouquinho desse lugar também das ponteiras, dos mastros, dos sapatos, que os sapatos são super importantes para os meninos, para os homens. Tem todo esse cuidado, mas esse livro, ele é, como eu disse, é a primeira camada de um estudo, para abrir um debate e para a gente começar a democratizar ainda mais esse poder de fala deles, que eles não tenham medo de falar. E eu sou um canal, sou simplesmente um canal para eles”, citou Bruno.

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O livro conta com algumas entrevistas de personagens fundamentais que contribuíram para a construção da rica história da dança do mestre-sala e da porta-bandeira, entre os entrevistados destacados, temos alguns nomes notáveis como Helena Theodoro, Manoel Dionísio, Vilma Nascimento, o pesquisador Felipe Ferreira e a carnavalesca Maria Augusta.

Manoel Dionísio comentou sobre as danças dos mestres-salas e porta-bandeiras, abordando a relação entre esses profissionais e os coreógrafos, além de expor a sua visão sobre essa situação e como ela pode ser aprimorada.

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“Olha, esse livro do Bruno, ele tem muito a ver com o carnaval em respeito a mestre-sala e porta-bandeira do nosso carnaval, mas eu espero que também esse livro incentive aos casais para dialogarem com os coreógrafos, porque eu não sei se são os coreógrafos ou se são eles mesmo que estão querendo mudar a história, porque do jeito que está não pode ficar. Esse livro dá um incentivo para que esses dançarinos do samba se conscientizem em dois momentos: Se posicionar mediante o seu coreógrafo, não é brigar com o coreógrafo, mas dialogar com ele, porque tem coisa que o coreógrafo manda fazer e que eles sabem que não devem fazer, mas porque que eles fazem? Porque se eles não fizerem o que o coreógrafo mandou, dependendo de como chegar no presidente ‘ah ele não quis me obedecer’, ele vai perder a escola dele. A coisa hoje está no comodismo. O mestre-sala está fazendo a coisa, mesmo errada que o coreógrafo manda fazer, mesmo errada eles fazem para não perder o espaço na sua escola de samba. Acho que esse quesito vai ser extinto, porque já tentaram tirar três vezes, eu participei das três, eu não sei se eu vou ter a oportunidade de participar da quarta vez”, comentou Manoel Dionísio.

Bruno também destacou sua preocupação com o formato atual das coreografias para mestre-sala e porta-bandeira, tanto no Grupo Especial quanto na Série Ouro. Ele também pontua sobre a diferença entre o que vem da quadra e o que é apresentado na passarela do samba, sugere que há uma necessidade de repensar e reavaliar essa abordagem, indicando que a metodologia de julgamento pode estar impondo um modelo específico aos casais.

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“O formato, ele está muito engessado nos dois lugares, tanto no Grupo Especial quanto na Série Ouro. Você repara que hoje a metodologia de julgamento ela vem engessando a arte dos casais e isso a gente repara no desfile, porque quando você vai em uma quadra você vê uma porta-bandeira e um mestre-sala dançando de forma livre, respeitando a energia corporal individual deles, e quando você vai para a passarela do samba, aí já tem um ensaiador, já tem um coreógrafo e uma série de questões limitadores para aquele movimento. Vejo que existe aí hoje um movimento, inclusive, isso é um capítulo que na adaptação desse livro vai entrar: ‘o que vem da quadra e o que vem da passarela do samba, e está muito diferente’. Eu acho que isso precisa ser repensado no momento que você tem uma banca julgadora que vem toda de uma escola de um Theatro Municipal, não que isso não seja importante, as culturas se fundem, existe essa questão de você meio que se apropriar culturalmente de outros movimentos planetários, mas quando você fala de arte, a gente tem que tomar muito cuidado quando você se torna impositivo num lugar só, e isso que é a preocupação, quando você vê uma banca toda de julgadores de uma escola de um Theatro Municipal. Você está meio que impondo que os casais se engessem para aquele modelo e aquele movimento, mas isso é uma opinião muito individual minha. Eu acho que inclusive isso precisa ser repensado, precisa ser reavaliado e isso não é crítica, não estou fazendo jamais crítica a nada, eu acho que as coisas acontecem e a gente precisa repensar: ‘É por esse caminho? Qual o caminho?’, isso aqui tem uma importância tão grande, os casais são contratados para Europa, Estados Unidos, Canadá, para Ásia, pelo Brasil todo, então para onde vamos? Isso é muito importante”, abordou Bruno.

Entre os grandes nomes que estiveram presentes no lançamento, Selminha Sorriso foi um deles e suas palavras expressaram a alegria e a importância que ela atribui a esse projeto para a história do carnaval. Também enfatiza a relevância de tantas mulheres que passaram por esse caminho, deixando um legado muito importante de porta-bandeira.

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“Eu me sinto lisonjeada não só em meu nome, mas em nome de todos os casais de todos os tempos. Imagina que quantas mulheres maravilhosas passaram por essa história e deixaram esse legado para que nós estivéssemos hoje elevando cada vez mais a arte do bailado da porta-bandeira. É um personagem tão importante, tão digno, tão maravilhoso ter recebido essa missão porque é uma missão você conduzir uma história de vida contida num pavilhão de uma escola de samba. Então, a minha mensagem para ele foi de gratidão em nome de todas e de todos nós, as mulheres que sofreram, as mulheres que lutaram, que sofreram perseguição, que foram discriminadas, porque eram sambistas, né? Porque eram mulheres, eram a maioria pretas e sambistas. Elas deixaram para nós muita coisa. Então, estar nesse livro eternizando a história delas, assim como as nossas, é uma razão de agradecimento, de emoção”, disse Selminha.

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da atual campeã do carnaval, Imperatriz Leopoldinense, Phelipe Lemos e Rafaela Teodoro, abordaram a importância do livro para o futuro de quem deseja se tornar mestre-sala e porta-bandeira.

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“Eu acredito que enriquece muito a nossa dança, não só para gente que está atuando, mas para inspirar jovens talentos, crianças, adolescentes. Eu já olhei rápido, com curiosidade, que a gente está doida para ler, né? Mas eu já estou aqui olhando os tópicos e eu vi que tem bastante coisa interessante sobre realmente a arte, porque às vezes a gente fica muito órfão das informações de o que é uma dança de mestre-sala e porta-bandeira, que muitos acham que é um giro, um rodopio, e vai muito mais além disso. E o Bruno foi muito feliz com tudo que os tópicos que eu já vi aqui, que ele colocou no seu livro para essa nova geração, para gente, para enriquecer cada vez mais a nossa arte, e é muito gratificante ter alguém que ama e que cuida do casal de mestre-sala e porta-bandeira, porque o Bruno é apaixonado pelos casais de mestre-sala e porta-bandeira e ter alguém que luta ao nosso favor, que briga, é muito legal”, revelou Rafaela Theodoro.

Em complemento, o mestre-sala, Phelipe, citou: “Eu acho que esse tipo de conteúdo é importante para que as novas gerações que estão vindo por aí possam ter base e conhecimento do que vão estar fazendo, não vão fazer por osmose ou simplesmente por paixão. Acho que a gente pode unir a paixão e o conhecimento na mesma intensidade. Então, parabéns para o Bruno por ter conseguido colher tanto conhecimento e colocar isso no livro para que a gente possa passar para as futuras gerações”.

O casal de mestre-sala e porta-bandeira da Portela, Marlon e Squel, compartilharam a relevância do lugar de fala que o Bruno está disponibilizando para as pessoas envolvidas nessa expressão artística tão única e que na maioria das vezes é muito desvalorizada.

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“Eu sou muito grata por toda a possibilidade que existe quando a pessoa nos dá o direito de falar, quando a gente tem o poder da fala, esse lugar de fala que é nosso, quando tem alguém interessado pela nossa arte, toda vez que isso acontece é para a gente celebrar, é para a gente agradecer que alguém se interessou pela nossa arte, pela nossa cultura, é uma arte tão desvalorizada, as pessoas não nos reconhecem enquanto artistas, enquanto trabalhadores, então quando uma pessoa chega com essa disposição em nos mostrar, em nos enaltecer, falar da nossa história, é sempre um dia de celebração e eu sou muito grata ao Bruno por esse momento”, compartilhou Squel.

O mestre-sala também expressou sua gratidão ao Bruno por registrar essa história em um livro, facilitando para todos que desejam conhecer mais sobre o trabalho de ser mestre-sala e porta-bandeira.

“É um registro extremamente importante, como a minha porta-bandeira colocou, a gente luta muito, é um trabalho árduo, é um trabalho onde duas pessoas trazem 40, 50 pontos para uma escola de samba, um exército de milhares e milhares de torcedores e quando a gente tem pessoas como o Bruno que nos enaltece, registra essa história em livro para ficar eternamente para todos que queiram, para todos que possam conhecer um pouquinho e ver o tanto como é trabalhoso ser mestre-sala e porta-bandeira, isso para a gente é de um prazer inestimável. Então eu estou extremamente feliz, nós estamos muito felizes e a gente tem certeza e espera que isso só seja o primeiro de muitos”, abordou Marlon.

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Estreando em 2024 na Série Ouro, Laye Ribeiro, porta-bandeira da escola União do Parque Acari, comentou sobre a sua felicidade de fazer parte de um evento que lança um livro que luta pelos casais de mestre-sala e porta-bandeira. Ela também revelou um pouquinho sobre a sua preparação para o desfile desse ano.

“Foi como eu falei para o Bruno ainda pouco, é maravilhoso ter alguém que luta por nós casais, sabe? O evento é maravilhoso, eu estou mega feliz de estar participando, é o primeiro ano do União do Parque Acari na Série Ouro. Estou muito feliz por estar aqui. Saindo daqui, por exemplo, hoje saindo daqui eu estou indo direto para a Sapucaí para ensaiar. Eu e o Vinícius a gente tem se dedicado muito, a gente tem batalhado bastante, a gente tem o apoio da nossa coreógrafa Vânia Reis e assim, a gente está lutando muito para alcançar o almejado em trazer as notas máximas para a escola”, comentou Layne.

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O casal da Mocidade, Diogo Jesus e Bruna Santos, expressaram a importância do livro na preservação e resgate da tradição do mestre-sala e porta-bandeira, garantindo que a dança desses casais seja sempre lembrada e documentada para as futuras gerações.

“A dança do casal de mestre-sala e porta-bandeira já vem de uma tradição. Então ele está falando no livro sobre essa tradição, de quando começou, falando agora da nova roupagem do casal de mestre-sala e porta-bandeira, mesmo que continue com a mesma tradição, mas que tem tido a sua inovação, então é muito importante ele estar fazendo esse livro para a gente sempre ser lembrado e é sempre bom ter registrado essa nossa história”, revelou Bruna Santos.

“Para a gente é uma importância enorme, porque é um resgate de uma história, uma continuação também de uma história. O Bruno está vindo com a edição desse livro, espero que não acabe por aí, espero que venham outras edições, venham novos escritores e novas contações de história, e que nunca acabe. E é isso, a nossa dança é essa”, comentou Diogo Jesus.

Marcinho Siqueira, mestre-sala da Vila Isabel, compartilhou sua perspectiva sobre o momento atual, destacando a necessidade de retomar aspectos importantes e relevantes da arte do mestre-sala e porta-bandeira que ao longo do tempo foram um pouco esquecidos.

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“A gente se vê num momento em que a gente precisa retomar certas, como é que eu vou dizer, partes importantes e relevantes da nossa arte que foram com o passar do tempo um pouco deixadas de lado, né? Deixadas de lado. Então eu acho que o livro serve muito para poder ensinar quem está chegando agora e relembrar quem já está fazendo a arte de muita coisa que a gente deixou de lado com o passar do tempo e a gente retomar isso acho que é importante”, compartilhou Marcinho Siqueira.

A porta-bandeira da Inocentes de Belford Roxo, Jaçanã Ribeiro, expressou a sua emoção em finalmente ter um livro para contar a história de mestre-sala e porta-bandeira, porque sempre foi muito grande a carência de literatura e informações sobre esse tema, o que torna o trabalho do Bruno importante para preencher essa lacuna e preservar a memória dessa tradição.

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“Bem, eu acho que está sendo uma suma importância para gente ter essa literatura salvaguardada, né, pelo Bruno Chateaubriand, contando um pouco da importância do casal de mestre-sala e porta-bandeira, e que pouca gente já sabe, né, porque carnaval é aquela coisa mista de N coisas, são passistas, musas, bateria, baianas, que são as mães do carnaval, e para as pessoas entenderem um pouquinho da nossa história, o que significa mestre-sala e porta-bandeira, o que é realmente mestre-sala e porta-bandeira numa escola de samba, e está sendo muito grandioso para gente. Hoje está sendo um momento, assim, pra guardar na memória, porque é bem emocionante a gente ter uma coisa para contar e que realmente, porque não tem muitas coisas que são referentes a mestre-sala e porta-bandeira, quase não se tem literatura”, citou Jaçanã.

Bruno compartilhou com o CARNAVALESCO o que podemos esperar na continuação do livro em 2025. Ele planeja lançar a segunda parte que incluirá fotos e mais dez capítulos. Também mencionou que já tem esses capítulos prontos, mas que não será um livro muito extenso, sua intenção é proporcionar uma leitura que seja rápida e que permita aos leitores concordar, discordar, questionar e buscar compreensão sobre os temas abordados.

“Em 2025 vem a segunda parte com fotos e mais dez capítulos. Eu estou com esses capítulos prontos, mas eu não queria um livro grosso, eu não queria um livro gigantesco, eu queria um livro que fosse acessível, que não fosse passando aquela mensagem: ‘ah é um livro intelectualizado demais, pretensioso demais’. Não, é um livro para que eles possam olhar aquilo ali rapidamente, fazer aquela leitura rápida e com aquilo falar assim: ‘Mas eu concordo com isso? Eu discordo disso, isso aqui não é assim, qual é a nomenclatura disso?’. Não existe nomenclatura para muita coisa ainda, né? Então, inclusive, ano passado na transmissão da Série Ouro na Band, eu citei uma coisa, falei assim: ‘ah a pegada de segurança’, ninguém tinha falado de pegada de segurança ainda. Aí depois tiveram porta-bandeiras que vieram falar comigo: ‘Não, mas aquilo não era pegada de segurança, a pegada de segurança é assim’. É estimular exatamente esse lugar, porque eu perguntava; ‘Qual é o nome disso?’ no simpósio que a gente fez ano passado aqui e eu falava: ‘eu chamo de pegada de segurança’, aí as porta-bandeiras falavam: ‘ah não, tá certo, é pegada de segurança’, mas esse ano eu venho com uma nova nomenclatura, pegada de mão invertida, exatamente para estimular, para que eles ajudem a colocar no papel uma nomenclatura. Já existe um sindicato, acho que pouca gente sabe disso. Existe um sindicato que protege a dança dos casais de mestre-sala e porta-bandeira. Tem todo o movimento que existe uma associação também dos casais de mestre-sala e porta-bandeira. Tem todo o movimento já acontecendo, mas eu acho que a gente precisa sair um pouco da cadeira e falar: ‘Vamos contribuir um pouco mais com isso aqui? Vamos fazer mais isso?’ E o objetivo é esse”, afirmou Bruno.

A maior campeã! Portela exibe sua constelação de estrelas em show repleto de portelenses ilustres

A Portela voltou a comemorar, na noite da última terça-feira, seu aniversário de 100 anos. Mostrando a sua potência e com um show repleto de estrelas no palco, o evento “O Céu de Madureira é Mais Bonito” transbordou emoção e fez todos os presentes no Vivo Rio aplaudirem a escola em pé. O evento, encabeçado pela cantora Teresa Cristina, reuniu artistas e portelenses ilustres, como Orlando Morais e suas filhas Aná e Anttónia, as cantoras Simone e Fernanda Abreu, Marquinhos Oswaldo Cruz, Moacyr Luz, Wanderley Monteiro, Mauro Diniz, além da Velha Guarda da Portela e o elenco show da agremiação. Toda a diretoria estava presente no evento e não pouparam palavras para descrever a emoção de compor a Portela no seu centenário e realizar um evento inédito e tão simbólico.

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Fotos: Guibsom Romão/CARNAVALESCO

“A gente tem a ideia de fazer esse show numa grande casa do Rio de Janeiro, com os artistas da Portela cantando a produção musical da escola há um tempo, e a gente conseguiu viabilizar com o nosso departamento de eventos, a Teresa Cristina adorou a ideia e resolveu capitanear o evento e fazer convite para os demais participantes, os demais artistas da Portela e eu acho que o resultado foi o melhor possível. Foi um show emocionante, de muita alegria, recordando clássicos da escola e os compositores de Oswaldo Cruz. A nossa ideia é que esse show entre no calendário de eventos da escola e que nos próximos anos esse show só tem a crescer”, conta o presidente da Portela, Fábio Pavão.

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Realizar um show com artistas ilustres que torcem para a escola não é uma iniciativa inédita da Portela. A Mangueira já realiza anualmente o “Show de Verão da Mangueira”, um evento tradicional que busca arrecadar fundos para a escola.

“A Mangueira já faz esse show há bastante tempo e a gente buscava também realizar o show. A questão de que a Mangueira conseguiu viabilizar o show dela há mais tempo, e demorou bastante para a gente viabilizar, mas agora o nosso departamento de eventos conseguiu, e a gente realizou esse grande evento”, ressalta o presidente que revela que o objetivo do evento também é levantar recursos para o desfile da Portela.

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“A gente pretende arrecadar recursos para ajudar na produção do carnaval, com certeza. A receita da Portela depende bastante dos eventos que a escola organiza, na quadra e fora da quadra, e aqui também vai ser um reforço importante para o nosso orçamento.”, afirma Fábio Pavão, que demonstrou muita emoção em estar presidindo a Portela no seu centenário.

“Acredito que é um momento marcante na história de qualquer instituição, e a Portela não é diferente. Então, muitos vieram antes de mim, construíram a Portela para que chegássemos até aqui, e quem está aqui hoje vai passar para as gerações futuras, porque essa instituição aqui é imortal, é eterna. As próximas gerações vão vibrar, vão se emocionar, com os mesmos sambas que nós ouvimos aqui hoje” enfatiza o presidente.

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Teresa Cristina, sambista e portelense que capitaneou e produziu todo o show, não conteve a emoção e a satisfação ao contar como foi o processo de concepção do evento. Ela, que pensou em desistir, diz ter visto na essência da Portela que o importante está dentro da agremiação.

“Eu tive essa ideia de tentar fazer. Eu falei, a Mangueira faz show com Chico Buarque, Alcione, com uma porrada de artistas, até eu já cantei no ‘Show de Verão’. Por que a Portela não pode vir para o Vivo Rio, encher o Vivo Rio e cantar a Portela? A Portela, cheia de sambas lindos, tem tanto repertório maravilhoso e aí fui atrás, né? Enfim, fui atrás de todo mundo, todos esses nomes que você pode imaginar e não consegui. Aí foi me dando um principiozinho de tristeza, aí eu falei, poxa, e aí? Não vou fazer? Mas aí pensei, a Portela tem grandes artistas, nós temos grandes referências. Mas o coração da Portela é a Velha-Guarda, a Velha-Guarda pode estar? Pode. O elenco show pode estar? Pode. O puxador? Pode. A bateria? Pode. Dali eu fui, comecei a convidar pessoas que a princípio eu não imaginaria que pudesse aceitar, mas as pessoas foram aceitando. Eu consegui fazer o elenco, é a primeira vez que eu produzo um show, cara e eu não sou herdeira, eu sou moradora da Vila da Penha, saca? Não tenho dinheiro guardado em poupança, não sou rica, estou lutando aí, estou com 25 anos de carreira lutando. A primeira vez que eu produzo um show é para minha escola. Eu estou feliz pra caramba, ainda não caiu a ficha de que a gente conseguiu fazer isso. A gente conseguiu cantar o que a Portela tem de bonito. Eu não vou nem falar tudo não, porque ainda tinha mais samba para cantar, porque se fosse tudo hoje as pessoas não iam aguentar” explica a cantora orgulhosa de tudo o que realizou.

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Demonstrando um imenso sentimento de felicidade, Teresa Cristina afirmou ter aprendido muito produzindo o show para a Portela e deseja que a escola leve a sua força ancestral para a Sapucaí:

“Eu acho que a Portela tem um axé do cacete, porque a gente conseguiu lotar uma casa dessa sem os grandes nomes óbvios que poderiam estar aqui, mas a gente fez e deu certo pra caramba. Eu estou felizona e acho que eu posso realizar coisas maiores também para a minha carreira, sabe? Isso me ensinou muito. Hoje eu aprendi coisa pra caramba. Eu aprendi que o coração da Portela é Velha-Guarda mesmo de verdade e é a partir dela que tudo que vai se organizando, entendeu? Porque ela, que puxa os ancestrais, falar no nome das pessoas, estão fazendo um show e gritar os nomes dos ancestrais portelenses. Chamar esse povo para ajudar a gente a ganhar de novo. A gente já foi muito vitorioso e esse povo deve estar na maior gana. Tem que gritar o nome dessa galera e a gente gritou, cantou repertório maneiro, astral bom, dancei para caramba e espero que esse axé, que essa energia vá para a escola, vá para o desfile. Todo mundo aqui cantou de graça. Isso aqui é para dar dinheiro para a escola, é para a escola conseguir botar um bom carnaval e eu espero que a gente entenda que a gente tem essa coragem e que a gente faça outro show desse ano que vem”, ressalta Teresa Cristina.

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A cantora conta que não tem boas lembranças do carnaval do ano de 2023 da Portela, carnaval que tinha como enredo a comemoração dos cem anos da escola, mas na avenida não agradou e terminou na 10ª colocação e gerando um sentimento de frustração para muitos portelenses, inclusive para Teresa Cristina:

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“Esse ano é o verdadeiro centenário da Portela, o centenário festejado no ano passado, o meu cérebro já apagou. Aquele Saci sem pé, entendeu? A gente tem carnavalescos espetaculares, o André e o Gonzaga, a gente tem um samba, a gente tem um bom intérprete, a gente tem um enredo que é a cara da história do Brasil”, disse Teresa.

Para diversos participantes do show, a Portela merece uma comemoração como a que aconteceu no Vivo Rio. A relevância cultural e história da escola para o carnaval e para a cultura do Brasil é uma unanimidade inquestionável para todos os presentes no evento.

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“A gente acha que a escola merece, inclusive, um evento como esse anualmente, com grandes artistas. A Portela tem uma história, tem uma tradição, tem um público, é uma das escolas mais queridas. E a Portela merecia um evento como esse para exaltar a escola, para ajudar a arrecadar fundos para o carnaval, que a gente sabe que são muitos gastos. E a Tereza é uma pessoa que carrega a Portela consigo para onde ela vai. Então a gente juntou a fome com a vontade de comer. A Teresa tem um conhecimento musical sobre o samba que é muito vasto, então fazer essa curadoria seria algo muito natural para ela e aí, diante de tudo isso a gente tinha basicamente a receita para fazer um grande show. Um show repleto de muita Portela, um show da Portela, cantando a Portela, porque tem muito que ser cantado. E a gente está dando o pontapé inicial para que isso se repita. Se isso vai acontecer ou não, aí eu não sei. Mas, eu acho que a Portela merece. Eu tenho certeza de que a Teresa também acha. O intuito de fazer isso é começar um movimento para que isso se torne um evento que entre no calendário da escola e também no calendário do carnaval do verão do Rio”, afirma Artur Brandão, empresário de Tereza Cristina.

Para os componentes e diretoria da escola, o significado em estar presente e realizando um evento desse porte nos cem anos da Portela é pura emoção.

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“É a história da Portela sendo contada por grandes artistas portelenses e a gente fica muito feliz, o público está vindo brindar a história da Portela, que se confunde com a história do próprio Carnaval. E eu jamais esperaria estar onde eu estou, no ano do centenário, fazendo parte da diretoria da escola. Mas fico muito feliz, eu que estou na escola desde criança, meu pai foi presidente. Acredito que a Portela tem que ir caminhando, se renovando e que a gente consiga deixar um legado bem bacana para que nos próximos cem anos a Portela continue brilhando aí”, afirma Júnior Escafura, vice-presidente da Portela.

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“É uma honra, é um momento expressivo da escola, fazendo 100 anos. É uma data comemorativa demais para a Portela e eu fico muito honrado de estar podendo ser a voz da escola nesse momento, estou com a felicidade a milhão. Já que estou escrevendo o meu nome em mais uma grande história da nossa escola, uma grande história da Portela, completando cem anos, não são cem dias, mas cem anos. Fico feliz de poder participar disso”, disse Gilsinho, o intérprete da escola.

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O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marlon Lamar e Squel Jorgea, se dizem honrados em defender o pavilhão da Portela que entrará centenário na Sapucaí esse ano. Squel que voltou ao carnaval e está estreando na Portela, se sente privilegiada em viver esse momento:

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“Para mim é uma honra imensa ser a porta-bandeira da Portela. E a Portela centenária é de uma responsabilidade muito grande. É uma ancestralidade gritando, pulsando. E você ser responsável em conduzir essa história e esse pavilhão tão amado, tão idolatrado por seus torcedores. Para mim, é uma honra. Eu estou me sentindo muito privilegiada, quando o Escafura me ligou e falou tanta coisa bonita para mim, ter ouvido as palavras que eu ouvi e ele falando que viam em mim a pessoa para dar conta dessa responsabilidade, deixou o meu coração cheio de alegria e de muita responsabilidade. Estamos trabalhando para dar conta de sustentar essa energia centenária” afirma Squel.

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“É muito difícil achar uma palavra que descreva a satisfação que é defender a Portela. E mais especial ainda, ser o ano do centenário, a primeira escola centenária do carnaval brasileiro. A Portela faz parte da minha vida, eu acho que fora da pista, fora da Sapucaí. E é um privilégio imenso estar defendendo o pavilhão oficial da escola. Ir para o oitavo ano numa escola muito família e estar ao lado da Squel, que para mim é uma das maiores porta-bandeiras do Rio de Janeiro e do carnaval brasileiro, e passar pelo que a gente passou e agora retornar com essa força total que a Portela está, para mim é como se fosse uma fênix ressurgindo das cinzas e dando a volta por cima, sacudindo a poeira. E eu não tenho dúvidas de que vai continuar sendo esse romance, esse filme com um final feliz, porque defender a Portela é defender o carnaval, acredito que a história da própria Portela e a história do Carnaval se entrelaçam. Quando eu defendo o pavilhão da Portela, eu defendo a bandeira do carnaval, isso para mim é inestimável, é difícil achar uma palavra só que descreva a grandiosidade da minha vida”, conta Marlon.

Apresentando o pavilhão da águia centenária ao público no show, o casal deseja que outras escolas de samba também tenham a oportunidade de serem louvadas como a Portela foi no palco do Vivo Rio:

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“Eu acho que todas as escolas de samba merecem esse espaço, o carnaval precisa ocupar esses grandes palcos da nossa cidade, do Brasil, do mundo. É super digno, é um evento válido para quem não consegue ir até a quadra ter um pouco dessa alegria, um pouco de acesso à nossa cultura. É importante acontecer esses eventos. É o maior movimento cultural popular do Brasil, eu acho que você só engrandece a cultura como um todo, você só engrandece o sambista como um todo, você valoriza de fato uma cultura não só regional, mas de fato brasileira. Eu fico extremamente feliz quando acontecem esses eventos como está acontecendo aqui hoje”, ressalta a porta-bandeira.

“Como a Squel colocou, acho que todas as escolas tinham que ter essa oportunidade, todas as escolas precisam dessa visibilidade e isso é bom para o carnaval de modo geral, para esse espetáculo continuar sendo o que ele é”, afirma o mestre-sala.

Privilegiada e honrada também está a rainha da Tabajara do Samba, a bateria da Portela. Bianca Monteiro, que é cria da escola, sendo uma rainha passista, vê sua história se confundir com a da agremiação:

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“Eu acho que é difícil hoje encontrar uma palavra, até porque como eu estou vivendo isso ainda, encontrar uma palavra que define tudo isso é difícil, mas eu acho que é uma emoção muito grande por toda a minha história, por todo o meu legado, por acreditar nisso, acreditar que o meu sonho um dia poderia ser realizado, está sendo realizado, então acho que poder estar no centenário dessa escola tão forte, tão emocionante, com tanta história, com tantos compositores, com tantos artistas que a Portela tem é uma honra, um privilégio, só gratidão mesmo”, afirma a rainha que afirmou que sentia falta de um evento louvando a existência da Portela.

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“Eu fiquei muito feliz em ver essa iniciativa da Tereza Cristina. Eu sempre senti falta disso, ver portelenses cantando Portela, exaltando a sua escola, defendendo a sua bandeira. Eu falo que existem vários artistas que defendem essa bandeira da Portela, somos nós que fazemos o desfile, que estamos ali se dedicando, e também os artistas que levam o nome da Portela para fora, assim como Tereza Cristina, Zeca Pagodinho e outros grandes artistas também, e a gente precisa de todos eles. A gente não pode deixar a história morrer, a gente tem a nossa Velha Guarda que é muito atuante dentro da escola e também fora, as pessoas querem ver a Velha Guarda cantando, e mesmo com a falta do seu Monarco, você vê que ainda se mantém essa árvore de pé. Então, hoje eu estou muito feliz, meu coração está muito feliz em ver isso. Eu sentia falta disso. Acredito que no centenário é uma iniciativa maravilhosa”, revela Bianca.

Os artistas convidados demonstraram no palco a paixão pela Portela. No início da apresentação do elenco show, todos os cantores convidados sambaram ao som de sambas antológicos da escola como “Lendas e Mistérios da Amazônia” de 1970,“ Contos de Areia” de 1984, entre outros.

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“Eu sou Portela, graças ao Hermínio de Bello de Carvalho e ao Paulinho da Viola. Logo que cheguei da Bahia para São Paulo, vim para cá e um dia eu encontrei com o Hermínio e o Paulinho, ali onde tinha o Cine Veneza. O Hermínio e o Paulinho moravam ali. E aí eu virei Portela, foi assim, foi um rio que passou na minha vida, literalmente. Eu adoro o carnaval, eu acho uma beleza, tudo que apresenta para a gente, tudo que eles fazem e que as escolas fazem é uma coisa que só existe aqui. E eu fiquei Portela e sou Portela, torço para a beleza do carnaval, mas eu quero que a Portela ganhe”, conta a cantora Simone, que pediu ao presidente, Fábio Pavão, para desfilar no chão, ao lado da bateria e com uma camisa da escola.

“A Tereza é uma pessoa que eu amo, respeito, e ela me fez o convite, e como não dizer sim, né? Eu queria de todas as maneiras, e que bom que calhou de ser em um dia em que eu não tinha nenhum compromisso, aí o compromisso era com eles”, conta Simone sobre se apresentar no evento em comemoração aos cem anos da Portela, onde cantou o clássico “Portela na Avenida”.

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A Portela é a maior campeã do carnaval da história do carnaval carioca e a primeira escola de samba a completar cem anos. Outro dado importante relacionado a isso é que um compositor portelense também se tornou o maior vencedor de samba da história da Portela. Wanderley Monteiro se diz grato pelo feito, mas não esquece quem veio antes dele.

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“É uma satisfação muito grande a gente chegar a esse número. Pela escola que a gente ama e sempre torceu. É um feito que a gente nunca pensou, nunca imaginou. Eu cheguei na Portela para ganhar um samba enredo e as coisas foram acontecendo naturalmente, então me sinto muito feliz. A gente até passou o Noca da Portela e o David Correai, mas eu só passei esses caras no samba-enredo, porque no serviço que eles prestaram ao samba e à música popular brasileira, estou muito longe de alcançar. Mas é uma satisfação pessoal muito grande, muito legal pela minha escola. Ah, e o outro feito aqui, eu estou muito feliz de estar aqui neste show que comemora os cem anos da Portela, porque a Portela é uma escola muito grande. A Portela é um patrimônio do Brasil, então esse show tinha que acontecer. Acredito que esse show. Tem que entrar no calendário da cidade todo ano. Tem que ser um show da Portela, desse nível. Então, eu me sinto muito lisonjeado em estar participando deste elenco”, conta Wanderley, autor de oito sambas-enredo da Portela.

Ancestralidade na veia! Jamilly Marques, nova musa, já conectada com a Viradouro promete surpresa na avenida

Jamilly Marques foi apresentada como nova musa da Viradouro, na noite da última da terça-feira, para a comunidade. O anúncio foi feito por Marcelinho e Marcelão Calil, junto com a entrega de flores pela primeira dama da agremiação. Os integrantes receberam a jovem como se já ela já fosse parte da família há bastante tempo. A musa se emocionou em alguns momentos do seu primeiro ensaio, principalmente ao reverenciar o pavilhão, que foi conduzido por Thiaguinho Mendonça e Amanda Poblete.

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Fotos: Giovanna Garcia/CARNAVALESCO

O convite da Viradouro surgiu de maneira inesperada para Jamilly. “Eu fiz um figurino homenageando a Oxumaré, e o presidente viu, e graças à Zambi, ele despertou no coração de me fazer esse convite muito especial, ancestral. Eu peço licença aos mais velhos, aos da casa, pra chegar nesse chão, como eu disse, bem miudinho, respeitando todos, e vai Alafiar. É só isso que eu digo. Alafiou!”, conta Jamilly Marques.

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Marcelinho Calil, diretor executivo, afirma que foi sua ideia: “Foi pessoal mesmo. Na verdade, assim como a Belinha, assim como a Macharete, a Thaís que é da casa e a Lore também. São meninas que eu acho que a escola já vem observando de outras agremiações. E uma mulher como a Jamilly muito ligada à ancestralidade dela, sambista, uma pessoa de muito respeito, muito carinho ao samba, enfim, e que também, acontece na pista, que consegue ser realmente encantadora. A gente vai observando, acompanhando e tem algumas meninas que a gente vem monitorando, olhando, com todo carinho. E recentemente, enfim, vi a Jamilly sambando, vi alguma coisa e, né, por que não? Criamos um espaço para que ela viesse. E, no momento que eu resolvi, levei isso à direção da escola para perguntar e todo mundo tinha muito carinho e aprovou de prontidão”.

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O enredo de 2024 ‘Arroboboi, Dangbé’, é conhecido e tem grande significado para a nova musa. “É um enredo muito especial, homenageando com o Vodum, Dambê, e Oxumaré tem um lugarzinho bem especial na minha vida. Me sinto muito honrada de fazer parte desse enredo”, aborda Jamilly.

Marcelinho explica também não só a conexão com o enredo de 2024, mas com os valores da escola.  “Eu acho que ela tem tudo a ver não só com o enredo, com a força dessa mulher negra que a gente vem narrando ao longo do nosso enredo. Como também, independentemente do enredo, ela estaria aqui de qualquer forma, pois, de fato, há toda essa sintonia. Pelo menos é o que a gente pôde perceber até agora entre a maneira dela enxergar, a maneira de ela viver o samba e a escola também”.

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E vem surpresa por aí! Jamilly avisa para que o público prepare o coração, porque tem novidade na avenida. Marcelinho conta: “Posso adiantar que ela vem no primeiro setor da escola. Ela vem numa posição muito interessante, na frente de uma alegoria muito bonita, muito importante, muito imponente. De fato, eu tenho certeza que vai ser de muita força a passagem da Jamilly pela avenida”.

A modelo, de apenas 20 anos, é musa da comunidade do Império Serrano desde o ano passado, mas suas raízes no carnaval vem desde desde criança quando ainda desfilava na ala das crianças. “O carnaval me ensinou a ser quem eu sou, a respeitar quem veio antes de mim, a respeitar a velha guarda, a respeitar os mais velhos. Tudo que eu sei hoje eu aprendi no samba. O carnaval significa ancestralidade. O ancestral me chamou, me deu esse chamado, esse legado, e eu estou, graças a Zâmbi, cumprindo com muita honra e carinho. Tudo que eu faço é com muito amor, carinho e dedicação, porque eu sou oriunda de ala de passista”, disse emocionada após primeiro ensaio da Viradouro.

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O orgulho e a história dessa mulher que é uma potência, que é a atriz, modelo, passista e musa, vai transbordar na avenida no amanhecer do desfile da Viradouro. “É uma grande honra porque eu venho desfilando na Série Ouro com o Império Serrano e hoje no Especial, com a Viradoura, significa ser reconhecida. O meu trabalho ser reconhecido. Eu venho com muitas passistas ao meu lado representando a mulher preta, estou muito orgulhosa da minha caminhada e espero que vocês, mulheres pretas, passistas, sintam-se representadas”.

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Além disso, Jamilly comenta a importância da representatividade e responsabilidade sob as crianças e passistas que sonham um dia chegar aonde ela está. “Isso é muito especial porque a gente desde pequenininha sonha com esse espaço. Me organizo muito, penso muito. Muito antes de falar, de me posicionar. Representar todas essas meninas que sonham em estar aqui um dia é honroso e eu espero que eu esteja deixando um legado importante e especial para elas”, completou.

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A atual gestão Calil tem sido muito presente em suas ações a valorização do sambista, da representatividade e enxerga cada vez mais como uma missão. “Às vezes a gente evita algumas coisas, falar isso, porque tudo hoje em dia é uma coisa muito difícil com a internet e com interpretação, mas eu não tenho outra resposta para te dar. De fato, na minha cabeça é uma missão. É como a gente enxerga o carnaval, como eu enxergo o que eu tenho como dever presidindo uma escola de samba ou administrando. Além de ser uma coisa que nos toca no lado pessoal, valorizar a sambista e o sambista, quando eu enxergo isso, que isso está na minha cabeça, está na cabeça dele (Marcelão) e muito mais acho que é de forma coerente. É um dever de uma administração de escola de samba valorizar quem de fato luta e sempre lutou por esse chão. É minha maneira de pensar e como eu acredito que vai ser na Viradouro pelo menos enquanto eu tiver”, disse Marcelinho Calil.

Série Barracões SP: Cirandando com Lia de Itamaracá, Nenê de Vila Matilde sonha com volta ao Grupo Especial

Se a Águia da Zona Leste cantou ‘Faraó Bahia’ em 2023 e caprichou na estética, agora, adentra ainda mais no mapa nordestino e irá cirandar com a artista Lia de Itamaracá. A segunda maior campeã do carnaval paulistano está em um grande momento. É sempre válido ressaltar que há pouco tempo a agremiação vivia fases conturbadas. O contingente de componentes diminuiu nos ensaios e era até cogitado que a Nenê de Vila Matilde seria apenas um patrimônio do samba de São Paulo, sem sequer disputar fortemente o carnaval como nos seus anos de glórias.

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Foto: Gustavo Lima/CARNAVALESCO

Porém, com a chegada do carnavalesco Fábio Gouveia, a escola conquistou o campeonato do Acesso II em 2022 e quase engatou a subida para o Grupo Especial em 2023, ocupando o terceiro lugar do Acesso I. isso reanimou os ares dos integrantes que, agora, estão totalmente engajados com os projetos carnavalescos. O site CARNAVALESCO visitou o barracão da Nenê e conversou com o carnavalesco Fábio Gouveia, conhecendo o projeto da escola visando o Carnaval 2024.

Surgimento do enredo

O carnavalesco diz que as raízes da negritude da Nenê casaram perfeitamente com a sua ideia do enredo, além do fato de que o tema estava preparado há algum tempo. “Lia de Itamaracá sempre foi um enredo que eu quis fazer e só queria uma oportunidade para encaixar. Ela é um patrimônio do nosso país, a maior cirandeira em vida. Isso foi ganhando ainda mais força quando eu cheguei na Nenê, que tem essa identidade preta, raiz cultural. A gente fez os projetos do ‘Narciso Negro’, ‘Faraó Bahia’ e precisava de um enredo para fechar essa trilogia. Na verdade, a Lia seria enredo da escola quando a Nenê subiu para o Acesso I. Já era algo conversado, mas optamos por fazer algo diferente para ganhar peso e homenagear a Lia como ela merece. Queríamos no Grupo Especial, mas guardamos. Depois ficamos um ano inteiro estudando as possibilidades, fazendo os contatos com a assessoria dela e equipe de trabalho para chegar a um consenso. Depois do desfile das campeãs nós fizemos o primeiro contato com a presença dela para apresentar o enredo de fato. Ela prontamente nos atendeu e foi muito mágico”, contou.

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Quase desistência

O Império da Tijuca, agremiação do Rio de Janeiro, também irá homenagear Lia de Itamaracá. Fábio disse que pelo fato de a divulgação da Nenê ter sido depois, algumas pessoas fizeram parecer com que fosse um plágio, o que fez a escola desistir de homenagear a artista. Porém, com provas de fotos de reuniões essa turbulência foi sanada. “Pós o lançamento, depois de oficializar, chegamos a desistir, porque uma outra agremiação lançou o enredo antes da gente e também vão homenagear a Lia, que é o Império da Tijuca. Ficamos meio na naquela: Se a gente lançar vai parecer um plágio. E realmente deixaram isso muito claro, que era um plágio da Nenê, quando na verdade não era. Nós estávamos conversando há mais de um ano para fazer esse enredo. Então até explicar e mostrar fotos de reuniões, foi difícil tirar essa imagem de que a Nenê plagiou a outra agremiação”, declarou.

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A pesquisa de enredo

Na explicação de como levar o enredo para a pista, o artista contou que quis eliminar a narrativa da história da Lia de Itamaracá, como nascimento e vida dela. Optou por transformar a cirandeira em uma personagem lúdica. “Depois veio a discussão de como seria essa sinopse, de como abordar esse carnaval e eu trouxe o Felipe Diniz para auxiliar, contamos com o Sérgio Santos, que é da escola, muito antenado com o projeto, Márcio Telles, meu parceiro de muitos anos nessa construção de enredos, de proposta de enredos pretos nesses últimos anos. Dentro disso, pensamos em abordar a Lia de Itamaracá em um conto de fadas. Uma menina preta que foi agraciada com um dom e mais tarde viria se tornar rainha, mas para ela conseguir isso, teria que passar por inúmeras dificuldades e situações. Nós transformamos a vida da Lia, uma menina preta, em um conto de fadas. É isso o que está sendo. Muito mágica toda a realização do carnaval”, disse.

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‘Atravessei o mar de fogo’

Perguntado sobre o que mais fascinou Fábio dentro da pesquisa do enredo, ele comentou que foi a maneira de a cirandeira se reinventar, assim como a Nenê de Vila Matilde. De acordo com o carnavalesco, Lia de Itamaracá sofreu um incêndio em sua casa. Algo similar aconteceu com o artista, quando perdeu todo o projeto para o fogo, onde aconteceu um incêndio no barracão da Independente Tricolor, no ano de 2019. “A Lia é uma fortaleza por tudo o que ela viveu na vida dela. Isso é uma coincidência não só para a minha vida, mas também para a Nenê. É uma escola que sempre está se reinventando para se resgatar. Eu também sou uma pessoa que busco me reinventar para ser diferente de alguma maneira. Na pesquisa para o enredo, o ponto chave foi a descoberta que ela teve a casa incendiada. Foi um dos pontos mais fortes para mim. É algo que não está superado. No dia de apresentação dos figurinos, ela abriu essa fantasia que fala do mar de fogo e disse: ‘eu estou vendo o que eu vivi’. Ela contou como se deu o fogo na vida dela e poucas coisas se restaram, apenas a bíblia, algo que tem muita fé e devoção. Ela me viu emocionado e perguntou o porquê. Eu contei toda a minha história do carnaval na outra agremiação, e que sobrou apenas um croqui no barracão todo queimado e que eu guardo até hoje. E aí entendemos o quanto o fogo e a situação nos aproximou. Tem sido assim. O carnaval da Nenê não é fácil, mas tem sido de luta e superação todos os dias”, contou.

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Engajamento com o enredo

Lia está sendo bastante participativa para o próximo desfile, seja dentro ou fora da escola. Internamente, a homenageada aprova, faz pedidos e sempre está em contato com a agremiação. Externamente, participou de festas e chegou até a dar uma coletiva de imprensa para a mídia especializada de carnaval, pouco tempo depois do anúncio. Segundo Fábio, a comunidade da Nenê de Vila Matilde está se sentindo totalmente representada. “A Nenê sempre fala de pessoas pelo que elas são e pelo que contribuíram para o carnaval e para o país. A Lia foi um encontro. Desde as primeiras reuniões até a chegada dela na quadra, a escola teve um contato muito próximo dela por ser uma pessoa muito próxima de todo mundo. Ela fala muito de unir mãos com mãos para que se alcance o objetivo. Ela une todo mundo. Por onde ela passa, vai unindo as pessoas, juntando todo mundo em torno de um sentimento. A ligação da Lia com a escola é muito forte. Ela vive o tempo todo o que a escola está fazendo. Quando não gosta, ela fala e faz pedidos. Está sendo muito bom para o componente da Nenê ter uma pessoa sendo homenageada pela escola, mas que também é parte dela. Para ela também é uma festa muito bonita. A Lia completa 80 anos em 2024, celebra o ano dela desfilando por duas agremiações e também sendo tema do carnaval de Pernambuco”, afirmou.

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Estética diferente

Fábio Gouveia encontrou muitas dificuldades desde que chegou na escola. Isso limitou a tamanha beleza que queria impor na plástica dos carros alegóricos e fantasias. Porém, de acordo com o carnavalesco, isso vai mudar para o próximo desfile, pois garantiu que haverá mais luxo e encanto no conjunto visual da águia. “Para 2024 nós vamos mudar totalmente a estética. No meu primeiro ano aqui foi um carnaval com muita dificuldade, estava no Acesso II, era um processo pós-pandemia e não tinha recursos para nada. Trouxemos uma estética boa para a escola, que há mais de 10 anos a escola não trazia nota de fantasias e alegorias. Para o segundo ano, no ‘Faraó Bahia’, eu pedi muito para que a gente tivesse um olhar diferenciado para o luxo, acabamento, novas formas e foi atendido. Para o carnaval da Lia nós vamos mostrar uma estética totalmente diferente. A gente quer uma estética lúdica para que as pessoas olhem a Nenê com essa beleza, afinal estamos fazendo um conto. Tudo mudou. É um carnaval um pouco mais luxuoso, que está priorizando os detalhes. A pessoa que estiver assistindo e o componente que vestir a fantasia, vai observar essas nuances. A Nenê sempre teve problema com essas coisas de finalização, mas agora conseguiu resolver, tanto aqui no barracão, quanto no ateliê de fantasia. A escola cresceu muito nesse segmento. Se a Nenê se sente orgulhosa e bem vestida, vai pra cima”, declarou.

Um desfile mágico

Segundo o artista, a magia será a grande ‘carta na manga’ da Nenê de Vila Matilde para 2024. “O trunfo vai ser a magia. O enredo fala de encantamento e profecia. Iemanjá admira aquela menina de 12 anos caminhando sob a beira-mar cantarolando e chora sobre a cabeça daquela menina, e Iemanjá chora, se emociona e derrama as suas lágrimas, sendo na verdade o talento que mais tarde vai transformar essa menina em rainha. Tudo vai ter magia. Nas alegorias, fantasias e na forma como o nosso componente vai se comportar”.

Conheça o desfile

Setor 1: “O setor que abre o desfile fala sobre a profecia das águas. Essa coisa de Iemanjá de admirar a criança e sobre ela jorrar o talento. Nós abrimos o desfile falando dessa profecia”

Setor 2: O segundo setor vai falar da vida da Lia ganhando o mundo. Como a Lia atravessou as dificuldades e mesmo assim não perdeu a sua fé e esperança até alcançar os seus objetivos, que era unir os povos cirandando através das suas cantorias, musicalidade e do seu som. Ela foi viajando pelos fogueiros populares, culturas e tradições de um povo até chegar fora do Brasil e viajar pelo mundo levando essa sua ciranda encerrando com a grande festa de coroação

Setor 3: “O nosso último setor fala deste encontro com a Lia. Quando ela se vê homenageada por uma das maiores escolas de samba de São Paulo e do Brasil. Ela se vê homenageada por toda sua honra e glória por uma escola coberta de glórias, como diz o seu hino. Ela encerra o desfile com essa coroação. São os 75 anos da Nenê de Vila Matilde e 80 anos de Lia de Itamaracá”

Desfilando na terceira posição do domingo de carnaval, pelo Acesso I, a Nenê de Vila Matilde irá apresentar o enredo: “Cirandando a Vida de Lá e pra Cá! Sou Lia, Sou Nenê, Sou de Itamaracá”.

Ficha técnica
Três alegorias
1200 componentes
Diretor de barracão – Cristiano da Nenê
Diretora de ateliê – Bruna Moreira

Série Barracões: Grande Rio aposta na força do enredo para contar a criação do mundo segundo o mito tupinambá

Para o desfile de 2024, a Acadêmicos do Grande Rio seguirá apostando no talento da dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. Os dois, que estrearam na escola em 2020, já com um excelente trabalho e o vice-campeonato, se sagraram vencedores do carnaval em 2022, produzindo um desfile que muitos consideram antológico. No ano seguinte, muito se esperava da dupla, mas o resultado acabou ficando bastante aquém em termos de colocação. O sexto lugar deixou um gosto amargo na boca da comunidade caxiense. Apesar disso, a direção e os componentes da agremiação seguem acreditando plenamente na qualidade dos artistas. Tanto é que ambos trazem mais um enredo bastante original e brasileiro, evidenciando a liberdade que possuem na Grande Rio. A escola irá apresentar na avenida o enredo “Nosso Destino é Ser Onça”, inspirado na obra literária de Alberto Mussa, abordando a criação do mundo pelo mito tupinambá.

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Dando sequência a série de barracões do Grupo Especial, o site CARNAVALESCO entrevistou Gabriel e Leonardo, que primeiramente falaram sobre como teve origem a ideia de propor o enredo para a escola:

“Nosso enredo é baseado no livro do Alberto Mussa “Meu Destino é Ser Onça”. Na verdade, a narração do mito é bem curta, ela tem mais ou menos 40 páginas. E nas outras páginas, Mussa acaba descrevendo como que ele chegou à pesquisa, como que ele conseguiu desenvolver a narrativa em cima do que foi contado. Porque é um mito contado, narrado, quase não há relatos históricos. Os relatos são escritos por europeus que colonizaram a América. São relatos vindos de ouvir as histórias, a contação. Então, ali já é uma descrição, da descrição, da tradução. Vai se tornando algo muito doido e o Alberto Mussa deixa isso bem claro, com interpretações feitas por ele. E isso a gente vem apresentando no início do nosso desfile, ele acaba baseando a narrativa completa do enredo. Léo me apresentou o livro entre 2016 e 2017, e a gente falou que era um enredo lindo, era algo que a gente poderia começar a pensar, a desenvolver, a entender como que isso seria feito. E, enfim, foi o momento, foi o nosso destino se tornar onça em 2024. São os acasos e os encontros que a gente vai vivenciando. 2024 é o ano do retorno do primeiro manto tupinambá ao Brasil, em maio. Acaba que essa coincidência foi algo bonito. A gente usa o símbolo do manto tupinambá em algumas alas, em algumas alegorias, fazendo essa referência”, explicou Gabriel.

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Bora afirmou que o presente enredo o fascinou muito durante sua pesquisa, já que na sua visão ele se apresenta como contemporâneo e circular. Essas características, inclusive, também foram primordiais para o enredo sobre Exu, que conquistou o título de 2022, segundo o artista:

“Várias coisas interessantes aparecem ao longo das pesquisas. É interessante porque, às vezes, a gente parte com uma ideia preconcebida, achando que vai ser uma coisa mais linear, e aí leva uma volta ali no meio. Algo que chama muito a nossa atenção é a recorrência dessa simbologia na contemporaneidade. Esse pra mim é o ponto mais fascinante do enredo, porque a gente tá trabalhando com um mito que narra tempos imemoriais, que fala de criação, tendo esse imaginário que nos leva a pensar o que é o tornar-se onça. O que é, afinal, essa onça. Cósmica ao longo da sua tradução em obra literária, mas que se projeta para o futuro e que a gente começa a perceber hoje, no dia a dia das cidades, quando as maiores cidades do país se veem ocupadas por painéis, grafites, lambes, que utilizam a imagem da onça enquanto símbolo de luta, a gente percebe que esse imaginário está aqui hoje disputando as ruas e falando do que somos. Então, é um enredo que fascina muito porque está pensando o que é ser brasileiro, o que é, enfim, essa ideia tão debatida de brasilidade, de maneira muito profunda, inclusive em termos cronológicos, que nos leva a um Brasil muito profundo, muito distante dos dias de hoje, que ao mesmo tempo é muito próximo e que é também uma projeção para o amanhã. Então, é um enredo que também é todo circular e isso fascinou muito na pesquisa, porque a gente já experimentou algo nesse sentido quando desenvolveu Exu, porque a Exu é a circularidade. Por excelência, é também a ideia de boca coletiva, é uma divindade, ou um complexo de divindades, que também é associado à criação e destruição, bem e mal, ele dança e questiona essas oposições que o olhar europeu, colonizador, invasor, tende a repartir, a olhar de forma um tanto maniqueísta e questionar. Tudo isso é a espiral, é a boca coletiva, e as pesquisas sobre a onça levaram a gente para um caminho um pouco parecido em alguns pontos, a gente começou a observar pontos de contato. É uma outra visão de mundo. É um outro processo de criação, o mito tupinambá restaurado pelo Mussa. Mas há pontos de contato, pelo menos pra gente enquanto artista. Durante a construção, a gente conseguiu observar esses pontos de contato, e isso nos anima muito”, afirmou Leonardo.

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Gabriel afirmou que o fator diferencial do enredo é a sua narrativa, como já nos acostumamos a ver no trabalho da dupla. Além disso, de acordo com o carnavalesco, o tema permite muita imaginação para criar elementos, visto que não há tantas referências concretas:

“Na verdade, a gente está tentando vários trunfos. Estamos tentando fazer com que seja um grande desfile. E isso começa pela narrativa. Uma narrativa mítica, como o Léo falou, uma narrativa que tem esse poder imagético tão forte. É uma das apostas nossas também, a gente trazer a criação do mundo pela visão do tupinambá, como já passou a criação do mundo pela tradição nagô, a criação do mundo pela visão dos carajás, a criação do mundo pelo gênesis bíblico. Então, a gente já viu em diversas cosmovisões como que se imagina a criação do mundo, e a criação do mundo é uma coisa muito doida, porque como é que a gente vai ter algo para pesquisar. A gente tem que inventar, em base dos relatos. O que a gente leu no mito de Alberto Mussa, tivemos que tirar dali e imaginar como seria. Isso é muito legal, isso é algo incrível e vai se desdobrando, então por isso que eu falei de início a narrativa, porque ela possibilita isso para a gente. Imaginar, criar coisas, isso é o mais divertido na criação, na execução e em tudo”, disse Haddad.

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“São enredos que fazem a gente, de fato, viajar no delírio, na invenção, nas potências, que é algo para a gente que ama carnaval, que ama narrativa em geral, contar histórias é fascinante. A gente se deleita vendo algumas criações de outros artistas que admiramos, que viajam e que apresentam para milhões de pessoas histórias que ainda não foram contadas, que a gente não aprendeu no colégio. A gente costuma brincar quando alguém questiona sobre ser um enredo profundo, quando dizem que tem dificuldade de entender, que alguns nomes são difíceis de cantar. A gente estuda no colégio ‘A Ilíada’ e ‘A Odisseia’, com nomes dificílimos, episódios mirabolantes, e naturaliza isso. Da mesma forma, as histórias bíblicas, porque isso está impregnado no nosso imaginário ocidental. Está na hora de também estar impregnado no nosso imaginário, a visão de mundo tupinambá, o mito de criação que nos leva a pensar o velho onça, que nos leva a pensar essa dança de opostos entre Maíra e Sumé, e como isso permanece hoje, porque isso diz mais talvez do que somos, do que outros mitos. Então, da mesma forma que o carnaval tanto já contribuiu para a popularização, para o conhecimento de cosmogonias africanas, com a história de deuses míticos que descem a terra, dançam, comem, festejam, vamos também olhar mais para os nossos imaginários indígenas, para as histórias e visões dos povos originários brasileiros, pensando esses muitos Brasis que coexistem com tantas línguas, com tantas mensagens tão poderosas que estão ocupando as ruas e tenho certeza que vão passar na Sapucaí no dia 11 de fevereiro”, completou Bora.

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Leonardo e Gabriel já vêm trabalhando como dupla há cerca de uma década. Eles nunca assinaram um carnaval de forma individual. É possível dizer que os dois se conhecem muito bem e se complementam. Eles falaram sobre quais características enxergam no outro como as suas principais:

“Nunca perguntaram isso para a gente. Eu acho que o Léo tem um olhar muito específico, que é o que eu já não tenho, e acaba complementando, que é um olhar para um pequeno detalhe. O Léo sabe reconhecer um defeito a um quilômetro de distância da fantasia que está ali aparecendo. Isso no dia a dia de trabalho. E na criação, a cabeça do Léo é algo muito doido, porque ela não para. É algo impressionante. Quando eu falo que uma fantasia ficou muito maneira, o Léo diz que não e já fica de lado, e vamos criar outra. Eu pergunto por que ele está insatisfeito. Às vezes ele diz que é por causa do saiote. Aí eu falo que não vamos trocar a fantasia inteira por causa do saiote. Ele diz que sim, porque é a criação. Isso também dá movimento para a gente. Então, acho que esse olhar de cuidado do Léo com o projeto, é o carinho que ele tem por aquela criação, que é nada sair do lugar, nada estar longe dos nossos olhos. Acho que isso é algo incrível, que eu já tenho muita dificuldade de olhar o defeito, eu olho sempre a coisa boa. O Léo já olha o defeito, então a gente vai lidando com isso”, falou Gabriel.

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“Em outras palavras, o Gabriel tá dizendo que eu sou chato, reconheço, e é interessante que ele já apresentou uma das grandes qualidades, que é esse olhar otimista, positivo, mas para além disso, o que eu admiro muito no processo criativo, no dia a dia do Gabriel, é a coragem. Fazer arte é ser muito corajoso, é apostar em determinadas ideias. A luta por elas e com elas. E o Gabriel, mesmo que internamente na discussão talvez tenha algumas inseguranças, ele demonstra sempre muita segurança. Ele é muito seguro do que vai ser construído, do que vai sair do papel, do que vai para a avenida. E isso é muito motivador, é muito estimulante no dia a dia de trabalho, porque é essa força que fala que vamos fazer. Tem uma dimensão do fazer e da coragem, da alegria. É o poder da alegria. Alegria é uma coisa muito poderosa, que às vezes a gente menospreza, infelizmente, porque a gente foi ensinado que devemos ser muito sérios, sisudos, e que alegria é uma coisa menor. Aí vem o Guimarães Rosa e ensina para a gente que alegria é o maior valor que podemos ter. A gente não faz nada sem alegria, sem graça. E o Gabriel ele cultiva essa graça, essa alegria, então ele sempre emprega poesia nas coisas com o olhar dele. Ele sempre vai chegar e fazer uma piada que vai iluminar o barracão inteiro. Isso é muito importante no meio do caos criativo que é qualquer processo”, disse Leonardo.

Pode-se dizer que o carnaval vive um momento artístico diferente, principalmente por conta dos enredos que são levados atualmente para a avenida. Temas brasileiros voltaram a ser abordados, além de propostas mais complexas, com profundo nível de pesquisa e sustentação. Bora e Haddad acreditam que a chave para o carnaval ser esse grande espetáculo reside na diversidade de enredos e propostas artísticas:

“É uma questão complexa. Acredito que a gente está vivenciando um momento artístico muito rico, com diversas linguagens sendo desenvolvidas, tensionadas, com artistas muito consistentes, com trabalhos artísticos que já se mostraram muito consistentes, acreditando nas próprias linguagens. E isso é fundamental para um espetáculo que é diverso. Talvez a maior contradição dessas tantas análises que se montou ao longo do processo do carnaval é aquela que tende a reduzir tudo a apenas uma categoria do que é bom, do que é belo, do que é legal. Porque é um espetáculo, e a competição acaba acirrando isso, obviamente todo mundo quer ganhar, então há uma tendência natural de você querer seguir a tendência que ganhou naquele ano. Mas é um espetáculo que só se sustenta e se mostra rico devido à diversidade. A gente cresceu admirando e ansiando por ver os desfiles que a gente sabia que a Rosa Magalhães iria apresentar uma narrativa visual e textual escrita totalmente diferente do Renato Lage, que é totalmente diferente do Joãozinho 30, que é totalmente diferente da Maria Augusta, que é totalmente diferente do Oswaldo Jardim. E cada um é genial ao seu modo, usando os materiais da sua forma, acabando as suas fantasias e seus carros nessa obsessão pelo acabamento da sua forma. Me parece que, em algum momento, uma parcela do público perdeu esse senso de entender a importância dessa diversidade, a importância do encantamento. Acho que a gente está vivendo um momento em que os carnavalescos estão mais seguros nesse sentido. Desenvolvendo enredos por caminhos diferentes, isso é muito legal. Agora, eu não sei como entender isso em termos históricos, a gente também tem sempre uma tendência a achar que antes da gente era melhor, ou era mais fácil”, refletiu Bora.

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Eu acho que acaba correspondendo com a chegada de novos artistas nas escolas, assim como nós, em 2020, estreamos no grupo especial, mas já trabalhávamos com o Louzada desde 2013, trabalhei com o Max desde 2008. Então, a gente vai rodando, vai conhecendo, vai entendendo um pouco o olhar de cada um. Eu acho que a disputa sempre foi tão interessante naquela época que o Léo falou, década de 90. Rosa e Renato, aquela briga ali artística, briga entre as escolas, e isso acontece dentro da avenida de uma maneira tão legal, tão bacana ver a disputa das escolas de samba. Muita gente fala que tem que acabar a disputa, mas se acabar a disputa, acabam as escolas de samba. Porque a gente é apaixonado por escolas de samba. Então, a gente vai na quadra da outra, visita, brinca, canta todos os sambas, revê desfiles. A gente tem as escolas de samba tão dentro da gente, no nosso dia a dia, mas no final é uma disputa. Todas se preparam para chegar lá e uma ganhar, e a última cair de grupo, e no ano seguinte voltar. Eu acho que é isso que torna algo tão mágico e especial. O Carnaval do Brasil é isso. Acho que é esse enfrentamento simbólico dentro de uma pista, que você vai cantar diversas faces do Brasil e de mundo”, relatou Haddad.

No ano de 2024, a iluminação cênica nova, que estreou no carnaval passado, mais uma vez será disponibilizada para os artistas trabalharem. Leonardo não abriu o jogo sobre de que forma irá utilizar o recurso, mas afirmou que é parte importante do projeto, ainda mais quando lembra que a escola apresentou problemas de luz em seus carros no desfile anterior:

“Essa ‘nova’ iluminação, que já vem sendo alterada nos últimos anos na avenida, abre um leque de possibilidades maiores com relação aos anos anteriores. Acredito que todas as escolas, em alguma medida, já começaram a pensar recursos desde o carnaval do ano passado. Houve também alguns experimentos décadas atrás, porque mesmo quando eram os antigos refletores, a gente também preparava o desfile a partir daquela luz, então o projeto de iluminação é algo que sempre foi feito. Ou como uma escola sabe que vai desfilar com a luz do sol de manhã, também tem o desfile pensado para isso. A gente pensa em iluminação o tempo todo, é parte constituinte dos desfiles, e para o próximo desfile é uma preocupação ainda maior. Como o mundo sabe, no último ano a gente teve alguns problemas luminotécnicos na avenida, que é uma coisa que a gente não espera, mas aí é o olhar técnico do julgamento. Então, isso só motiva mais a gente para pensar. Ter bastante cuidado na iluminação dos elementos alegóricos do desfile”, explicou Leonardo.

A dupla de coreógrafos Hélio e Beth Bejani é uma das mais aclamadas por seus trabalhos em comissões de frente no carnaval carioca. Novamente, ambos serão os responsáveis pelo quesito da Grande Rio. O carnavalesco Bora afirmou que a relação com eles é ótima e que o respeito é a marca do trabalho em conjunto:

“Trabalho que o Hélio e a Beth Bejani, os coreógrafos da comissão, desenvolvem desde a estreia deles, enquanto coreógrafos do Grupo Especial, tem essa característica que é uma integração com os carnavalescos. É uma característica para nós, que somos tão amantes da linguagem das escolas de samba, da memória do carnaval, muito bom, muito positiva, porque gera uma integração maior. A linguagem artística circula com mais facilidade, a gente consegue pensar a chamada cabeça da escola de maneira mais integrada, então é uma troca permanente. A gente entende muito os limites dessa troca, temos muito respeito e muita confiança no trabalho da Beth e do Hélio, que são artistas muito dedicados. Competentes, que já provaram toda a excelência do trabalho que eles desenvolvem e toda a memória que eles trazem das suas outras experiências. É uma troca muito rica, muito horizontal no pensamento do enredo, na seleção de materiais que são utilizados para a confecção das fantasias. Há uma participação muito integrada, de modo que o respeito estabelece esses limites. Não há intromissão. Quem somos nós para pensar nos aspectos ligados à dança, à própria linguagem corporal que a comissão de frente também explora”, relatou Bora.

“E entender que a nossa parceria desde 2020 é uma parceria que a gente consegue desenvolver, tanto figurinos, e a parte de treinamento no chão ou de elemento cenográfico. A gente desenha junto com eles. E eles falam se algo atrapalha a dança. Mas a ideia é acompanhar mesmo toda a abertura do desfile, que tenha uma linguagem única, que a gente veja aquela abertura que se desenhe completa. Então, esse trabalho é o que a gente vem desenvolvendo nesses anos e isso tem dado certo até hoje. A gente olha a comissão de frente, a primeira ala, o abre-alas, e é uma linguagem unifelina, uma composição harmônica”, completou Haddad.

Muitas pessoas quando descobrem o enredo e, principalmente, quando escutam o samba da Grande Rio para 2024, ficam com uma dúvida na cabeça. Afinal, o que significa ‘enquanto a onça não comer a lua’? Leonardo explicou a questão para nossa reportagem:

“A onça comer a lua, segundo o mito tupinambá, é o fim do mundo. É a destruição desse mundo que a gente conhece, porque é nesse momento em que, no plano celeste, antigos heróis indígenas que ocupavam a Terra sem mal, essa espécie de paraíso que a gente não mais pode acessar, se transformaram em astros celestes, em constelações e continuam as suas disputas no céu. Então, a onça Sumé, que se transforma na estrela Jaguar, persegue a Lua, Jaci, descendente de Maíra, que é o espírito cósmico de um guerreiro indígena que derrotou uma aldeia de jaguares quando a Terra era sem mal. Então, quando a onça celeste comer a lua, isso seria o fim do mundo, que é o fim do brilho noturno, a destruição disso que a gente entende por humanidade. Por isso que é preciso adiar esse fim do mundo, e para isso, a grande busca existencial, segundo essa cosmovisão tupinambá, era a transformação em onça. Quando você se transforma em onça é porque você vai acessar a Terra sem mal, você vai reencontrar seus antepassados e vai viver a eternidade. Como canta o samba, enquanto a onça não comer a lua, a gente vai viver, a gente vai lutar. A gente vai batalhar para adiar esse fim do mundo. Resistir, reexistir, reinventar o mundo sucessivamente, impedindo que essa criação se destrua. Então, por isso que a gente fala que o enredo celebra a liberdade, a eternidade, gritando essa importância do retorno do manto tupinambá ao Brasil, que é a evolução de uma peça roubada, saqueada, que nos leva a esse histórico tão importante para a gente conhecer o que é o Brasil, o que somos nós. E propõe adiar o fim do mundo, para celebrar, ritualizar, cantar as nossas histórias. Vamos virar onça, porque, dessa forma, a gente vira o ser mais poderoso que existe”, explicou Leonardo.

Conheça o desfile da Grande Rio

A Acadêmicos do Grande Rio para 2024 vem com cerca de 3.200 componentes. Serão cinco carros alegóricos e três tripés ao longo do desfile. O carro abre-alas será acoplado. A comissão de frente deverá ter um elemento de apoio. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora explicaram os setores de seu desfile.

Setor 1: “A abertura, o primeiro setor, que é o primeiro rugido do mundo, é para mostrar a criação do mundo a partir do mito tupinambá, narrado no ‘Meu Destino é Ser Onça’, do Alberto Mussa. Então, é o processo de construção do universo por meio de um ser, que é o velho, que é o criador, que se confunde com a figura da onça. A criação da onça tem a importância central nesta narrativa e essa é a abertura da escola”.

Setor 2: “O segundo setor mostra, após a criação dos homens, a destruição da primeira humanidade como este ser criador. Ele experimenta o sentimento de vingança e decide destruir a própria criação, oferecendo à humanidade a possibilidade de repovoar a terra a partir da terra sem mal. Esse setor termina com um tripé”.

Setor 3: “O terceiro setor descreve o processo após esse repovoar da terra, que é quando se dão as disputas míticas entre os opostos Maíra e Sumé, como o próprio samba canta, e os seus herdeiros. Essa disputa entre opostos complementares gera os rituais antropofágicos, que é a base para se compreender a sociedade tupinambá e a transformação em onça. Então, Sumé e seus herdeiros detinham esse poder dado pelo velho da transformação em onça e o ritual antropofágico é o ritual da transformação em onça por excelência. Então, são setores míticos, e são setores que falam de um tempo lendário, de um tempo imemorial, de um Brasil que nos leva a mais de 15 mil anos. O setor termina com a segunda alegoria”.

Setor 4: “Uma vez que a gente vivencia a terceira humanidade, que o samba também canta, essa humanidade que Guaraci vem clarear, povoa toda a terra e passa a cultuar a onça enquanto esse ser superior, esse símbolo de perfeição, força, luta, bravura, que é o ser mais perfeito da criação, uma vez que está no topo da cadeia alimentar, por isso até a boca que tudo devora. Então, o enredo narra quando as civilizações indígenas, não apenas do Brasil, mas das Américas, passaram a cultuar esse animal enquanto símbolo de perfeição e de acesso a mundos superiores, a essa terra sem mal da narrativa mítica tupinambá, os rituais xamânicos, a construção de ídolos, templos. É um setor que dialoga muito com esse imaginário do xamanismo. Por a onça ser esse grande símbolo de poder, esse símbolo de imaginação, a onça se torna quase um deus mítico, o deus jaguar para as civilizações maia, inca, asteca, e também esse símbolo tão poderoso para todos os povos indígenas brasileiros”.

Setor 5: “No Brasil, tudo isso se cruza, se mistura, e nas religiões afro-ameríndias, nos cruzos caboclos que a gente vivencia, nas nossas encantarias, nas nossas pajelanças, essas onças se transformam em entidades, misturadas com outros imaginários, e é isso que o quinto setor do desfile canta. Murmúrios das matas, que no Brasil, essa grande mistura de aldeia com quilombo, as onças se tornam seres encantados, que baixam nos terreiros, se confundem com entidades nas pajelanças, nos ritos caruanas, nas encantarias”.

Setor 6: “O sexto setor avança pelas trilhas nos sertões míticos, das narrativas poéticas do nosso território, que vê o florescer de um movimento como o Movimento Armorial, que mistura influências indígenas, africanas, europeias para pensar um Império Brasileiro que foi amamentado por uma onça mítica”.

Setor 7: O sétimo setor é a folia em reverência. Tornar-se onça a partir da brincadeira das folias, dos folguedos, dos carnavais. A incorporação desse imaginário nessa grande celebração antropofágica que é o próprio carnaval. Então, é um momento do enredo que a gente olha inclusive para a memória carnavalesca, homenageando alguns artistas, utilizando materiais que nos levam a pensar essa história da festa que a gente tanto ama”.

Setor 8: E o final, o oitavo setor, reantropofagias, é como esse imaginário se projeta para o futuro. Um futuro que é ancestral, nós temos o Ailton Krenak, que tem a onça como símbolo. Símbolo da luta pela demarcação das terras indígenas, símbolo da luta das populações LGBTQAPN+, símbolo de muitos coletivos que se organizam e que demarcam, simbolicamente, todo o território do Brasil, dizendo que tudo isso aqui é terra indígena e essa memória tupinambá nos leva há mais de 15 mil anos, como o Mussa narra, permanece na contemporaneidade, se lança para o futuro. Caxias é terra indígena e, para adiar o fim do mundo, simbolicamente a Grande Rio bate o cajado no chão e celebra essa grande constelação da onça para que a onça não coma a lua, como o mito tupinambá narra. Se a onça celeste comesse a lua, seria o fim do mundo, desse mundo que já experienciou outros fins, que é o que o mito narra. Então, a onça é um símbolo de criação e destruição. Para evitar a destruição, a gente celebra, a gente ritualiza”.

‘Maricá é meu país!’ Escola pisa com o pé direito na Sapucaí e componentes celebram momento histórico

A União de Maricá fez sua estreia na Sapucaí no último sábado realizando seu primeiro ensaio técnico na Avenida. Fundada em 2015, a escola teve como propósito unir antigas agremiações do município e representar a cidade no carnaval carioca. Em 2018, conquistou seu primeiro acesso quando foi campeã do Grupo C, ao homenagear o centenário do Cordão do Bola Preta.

O entusiasmo, emoção e alegria marcaram o primeiro encontro da escola com a Avenida, e mesmo a chuva não foi capaz de atrapalhar o tão aguardado momento. O samba, com destaque para o trecho “Maricá é meu país, meu país é Maricá”, ressoou forte, tanto entre os componentes quanto no público presente nas grades da avenida.

“É uma honra porque Maricá lutou. É uma escola nova, nós não temos nem 10 anos ainda, mas a gente conseguiu vencer a Intendente. É uma escola que todas as escolas do Rio falavam que a gente não tinha chão de escola, não tinha comunidade, e a gente está aqui provando que temos sim comunidade, que a galera está cantando, dos mais novos ao mais velhos, a galera que está na escola desde o primeiro dia de existência. A gente não tinha quadra, a gente não tinha galpão, tinha nada. Hoje em dia a gente conseguiu. Prefeitura de Maricá deu o suporte necessário para gente poder ter uma subvenção para estar aqui, construindo esse sonho coletivo, um sonho popular que a Maricá está trazendo pra Sapucaí”, contou Isabela Barbosa de Freitas, moradora do Centro de Maricá e componente da ala da juventude.

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Isabela Barbosa de Freitas, moradora do Centro de Maricá e componente da ala da juventude

Em 2023, com o enredo “Eu Sigo Nordestino”, a União de Maricá conquistou o vice-campeonato geral da Série Prata, garantindo o inédito acesso a Série Ouro e, consequentemente, o direito de desfilar na Marquês de Sapucaí pela primeira vez em sua história.

Aduni Benton, diretora da Velha-Guarda, expressou sua emoção para o CARNAVALESCO: “É uma emoção indescritível, porque desde que a gente foi fundada em 2015, que a gente sonha com a Marquês de Sapucaí. E a gente está fazendo uma progressão muito bonita. Em 2022, a gente perdeu para gente, infelizmente, a gente teve um problema com o nosso carro. Mas em 2023, a gente veio homenageando o Nordeste e não teve para ninguém, a gente está aqui. Está gigantesco, está lindo. Nós fomos conhecer o barracão da escola, os carros estão lindos, lindos, a gente se emocionou, a gente chorou então a gente está vindo assim, como gente grande se prepara, e o nosso chão está aqui, vocês vão ver, são 1.300 pessoas cantando o samba, é um samba lindo, por que? Maricá é meu país, meu país é Maricá”.

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Para o Carnaval de 2024, a União de Maricá reforçou sua equipe com nomes consagrados do carnaval carioca, como o intérprete Nino do Milênio, que se junta ao intérprete Matheus Gaúcho, que acompanha a escola desde sua criação, o diretor de carnaval, Wilsinho Alves, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Fabrício e Giovanna, e o carnavalesco André Rodrigues.

A porta-bandeira, Giovanna, compartilhou o seu sentimento: “Para mim, o meu sentimento é o mesmo que o deles. Parece que eu sou iniciante, igualzinho o pessoal da Maricá, porque eles passam tanta alegria, felicidade, energia, então assim, para mim, eu estou iniciando junto com eles. “ e o mestre-sala, Fabrício, completou dizendo: “A escola está tão imbuída nesse quesito de estreia na Sapucaí, que parece que a gente está estreando junto também. Então a gente embarcou nesse personagem com eles, eles estão super motivados, cantam muito samba, e a gente está acreditando que é a nossa estreia também. Então para fazer o melhor para a Maricá, é responsabilidade, cabeça no lugar, tranquilidade, para fazer um belo desfile”.

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O enredo “O Esperançar do Poeta” homenageará Guaracy Sant’Anna, conhecido como Guará, compositor de sambas marcantes, como “Sorriso Aberto” e “33 – Destino de D. Pedro II.

“Agradecer primeiro lugar a Deus, nosso diretor musical JP, Nino, que tem sido um irmão na minha estreia na Sapucaí, tem me ajudado, tem me aconselhado para gente fazer um grande trabalho, nosso carro de som e a nossa comunidade que não está cantando o samba, está gritando o samba, né? Então, se Deus quiser, nossa escola vai estrear com o pé direito, e fazendo um grande trabalho”, comentou o intérprete Matheus Gaúcho.

O desfile da União de Maricá está marcado para a sexta de carnaval, dia 09 de fevereiro, sendo a sexta escola a se apresentar. Com expectativa alta e excelente desempenho no ensaio técnico, a escola promete um desfile memorável.