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Fotos: ensaio técnico da Em Cima da Hora na Sapucaí

Padim Ciço conduz fieis para o desfile da Unidos de Padre Miguel no Carnaval 2024

A Unidos de Padre Miguel apresenta o enredo “O Redentor do Sertão” no Carnaval de 2024. Em um ano especial, no qual Padre Cícero completaria 180 anos, o enredo da escola tem como foco exaltar um dos maiores símbolos de identificação e devoção do povo nordestino, apresentando uma narrativa a partir da visão do imaginário popular sobre a vida do religioso, com grande influência da literatura de cordel.

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Fotos: Diego Mendes/Divulgação UPM

Padre Cícero Romão Batista, conhecido como Padim Ciço, foi um líder religioso e figura importante na cidade de Juazeiro do Norte, no estado do Ceará, Brasil. Nascido em 1844, ele se tornou padre e ganhou grande popularidade devido a relatos de supostos milagres e curas atribuídas a ele, principalmente pelo acontecimento chamado “o milagre da hóstia”, onde, durante uma missa em 1889, acreditou-se que uma hóstia consagrada se transformou em sangue na boca de uma fiel chamada Maria de Araújo. Esse acontecimento contribuiu para sua reputação de homem santo. Ele também desempenhou um papel ativo na vida social e política da região, defendendo os interesses dos mais pobres. Padre Cícero faleceu em 1934, mas sua influência persiste até hoje, com muitos devotos considerando-o um santo e visitando seu túmulo em Juazeiro do Norte.

Toda essa fé invadiu o pavilhão da Unidos de Padre Miguel e, em entrevista concedida ao CARNAVALESCO, tivemos a oportunidade de saber um pouco mais sobre essa devoção tão grande. Jaqueline Santos, responsável pela ala das crianças da escola, abriu seu coração e compartilhou conosco sua linda história de fé e confiança com Padim Ciço:

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“A minha história com o Padim Ciço é bem antiga. Foi na época do diagnóstico. Eu tenho um filho que é autista, na realidade eu tenho dois, mas o meu mais velho tem 19 anos, e na época do diagnóstico dele, ele era uma criança muito complicada e não tinha diagnóstico fechado. Sempre fui devota de Nossa Senhora, mas vi uma reportagem, não vou saber te dizer exatamente, era sobre o Padre Cícero, né, a fé do nordestino e tudo mais, e assim, tudo que eu via dele era de um amor tão grande, era de uma compaixão tão grande com aquele povo todo, que é um povo muito sofrido e as pessoas tinham uma fé tão grande nele que isso me comoveu. E mesmo antes de ver tudo, de saber a história toda, eu já tinha me apaixonado por Padim Ciço, que para mim eu falo que ele é o meu padrinho. E aí na época que fecharam o diagnóstico do meu filho, ele era uma criança muito difícil, muito difícil, e aí eu pedi a Padim Ciço que tomasse conta dele, que me ajudasse nisso. Eu já pedia a Nossa Senhora também, mas pedi a ele que tomasse conta do meu filho, que eu entregava meu filho para ele, para que ele tomasse conta, que melhorasse a cabeça dele, apesar de eu saber o que é o autismo e tudo mais, hoje em dia eu sei muito mais do que naquela época, naquela época para mim ainda era, assim, um mistério, mas hoje em dia o meu filho faz tudo que eu nunca imaginei que ele fizesse, ele tem 19 anos, ele cursou o ensino médio, ele cursou o ensino fundamental, ele cursou o ensino médio normal, numa classe normal, hoje em dia ele já tem a vida dele, como é que eu vou te explicar, uma vida independente, coisas que eu não imaginava que ele fizesse, o meu filho era extremamente agressivo nessa fase de infância, até uns 9 anos de idade mais ou menos, e aí o meu amor só cresceu, e tudo, tudo que eu preciso na minha vida, eu entrego na mão de Padim Ciço, porque assim, para mim, é o meu padrinho, é tudo de bom, digamos assim, falar dele para mim é muito difícil, porque assim, eu me emociono, porque ele é assim, a minha luz”.

A fé e a devoção têm um papel importante na vida das pessoas, são conhecimentos e sentimentos passados de uma geração para outra como parte das tradições familiares. Esses valores espirituais desempenham um papel crucial na formação da identidade e na criação de laços significativos entre pais e filhos. O presidente da Unidos de Padre Miguel, Lenilson Leal, compartilha sua história de devoção ao Padre Cícero, uma conexão que teve início com seu pai nos anos 50, quando este migrou para o Rio de Janeiro, trazendo consigo uma grande devoção pelo padre:

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“Minha ligação com o santinho se deve ao fato do meu saudoso pai ter migrado para o Rio de Janeiro nos anos 50 e com ele a devoção ao santo. Em suas aflições meu pai recorria às orações ao santo e todos nós de casa, crianças, passamos a conhecer a história de Padre Cícero. Trago nas lembranças os momentos delicados, quando meu pai recorria à fé ao Padre Cícero Romão, que era um homem de personalidade forte e meu pai carregava esse perfil do nordestino arretado e ele falava que se inspirava em padre Cícero porque não abaixava a cabeça para ninguém. Por isso, o mesmo foi esquecido pela igreja católica, não deram o devido reconhecimento ao milagre da hóstia Maria. Confesso que carrego em mim essa personalidade”.

O Boi Vermelho da Vila Vintém está determinado a buscar o título de campeã da Série Ouro. Com a direção dos carnavalescos Edson Pereira, Lucas Milato, e do pesquisador Leandro Thomás, a escola pretende iluminar as histórias e relações que conectam o cotidiano do sertanejo às ações e influências atribuídas ao Padre Cícero Romão Batista. A proposta é criar uma apresentação rica em simbolismo e significado, enaltecendo a figura do Padre Cícero e sua importância na vida e na cultura do sertão brasileiro. O enredo, que busca trazer à tona a devoção e a fé, foi recebido como um sinal para os componentes do pavilhão.

“Quando veio, nós teríamos um outro enredo que acabou não sendo, e aí quando veio a ideia de um enredo de Padim Ciço, eu me emocionei de uma forma tão grande, que assim, para mim ali foi a confirmação de tudo, entendeu? De que daria certo, de que esse ano a gente pode confiar, que se for realmente da vontade de Deus, dos santos, esse campeonato é nosso, porque Padre Cícero é amor, é união, que é tudo que a gente tem na UPM. É uma escola que ama os seus componentes, que literalmente ensina a amar o samba, que nos encanta, não tem uma pessoa que chegue perto da gente, mesmo vindo de outra agremiação, que fale assim, cara, o amor pela UPM é diferente, e o Padim Ciço é isso, é esse amor diferente, é essa devoção, porque eu falo assim, tem pessoas, a grande maioria das pessoas da nossa comunidade, são devotas da UPM, porque amam a UPM incondicionalmente. São apaixonadas por tudo que a UPM representa para nossa comunidade, esse enredo veio abrilhantar a história. Veio confirmar tudo que a UPM sempre demonstrou, que é todo o amor, todo o carinho pelo seu componente, é estar ali para o seu componente, o que o componente precisa, é dar apoio, dar ajuda, dar um abraço, a gente está ali para isso, a UPM é isso na vida. Acho que esse enredo veio casar e veio exemplificar, entendeu? Veio dar o exemplo de tudo que a UPM é. A UPM é esse amor, essa devoção, essa coisa que transborda, como a fé das pessoas em Padim Cícero, como a história de Padim Cícero, como transborda amor na história dele, como transborda compaixão na história dele. Então assim, Padre Cícero é isso, e a UPM também é isso. Então assim, digamos que é uma casadinha, é uma dupla de sucesso, Padre Cícero e a UPM. É assim, maravilhoso, é uma confirmação, não só para mim, porque para mim veio como confirmação de tudo aquilo que eu acredito, de toda a minha devoção, de uma vida de 12 anos de devoção, o Padre Cícero que nunca me decepcionou, assim como a UPM nunca me decepcionou. E não decepciona os seus componentes. Mesmo quando a gente vai lá e bate na trave, o amor dos nossos componentes continua. Ninguém desiste, ninguém larga a mão de ninguém, é todo mundo junto o tempo todo, entendeu? Não faz diferença se não nos dão a nossa vitória. O importante é que a gente faz sempre o melhor. Que é mais ou menos como a história de Padim Cícero. Mesmo quando ele foi expulso da igreja, não importou para ele. Ele continuou fazendo o melhor dele, independente do que a igreja dizia. Era o que estava dentro do coração dele, era essa fé que movia ele. E é essa fé, a fé na vitória, que move a UPM”, revelou Jaqueline Santos.

O presidente Lenilson comentou sobre o que podemos esperar do desfile, destacando a tradição da escola em enredos afros e a decisão de explorar um tema diferente neste ano.

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“A UPM é reconhecida no mundo do samba como uma escola forte em enredos afros e o fato desse enredo fugir do tema, vamos poder mostrar que somos uma escola que estamos preparados para continuarmos mostrando grandes carnavais fora do tema afrodescendente, essa foi a base para a escolha do enredo. Estamos preparando um desfile do tamanho da UPM, um desfile que vai mais uma vez impactar o mundo do samba. Temos uma comunidade forte, gritando o samba na ponta da língua e com o desejo enorme de estarmos na elite do carnaval. Temos ciência de nossas responsabilidades e sabemos que o mundo do samba já está nos esperando há muito tempo no especial. Estamos confiantes que esse ano o ‘milagre vem'”.

Lenilson enfatiza a diversidade e a capacidade da escola em brilhar em diferentes temas, destacando a preparação para um desfile que impactará o mundo do samba. A forte identidade da comunidade, o entusiasmo pela escola e o desejo de alcançar a elite do carnaval são elementos que impulsionam a Unidos de Padre Miguel na busca pelo título. A referência ao “milagre vem” sugere a confiança e a esperança da escola em alcançar o sucesso no carnaval.

“O nosso desfile vai ser lindo. As fantasias estão maravilhosas. Os carros estão lindos. A escola está com gás. A gente sempre tem muito gás. A comunidade, vamos ser sinceros, UPM tem um chão que poucas escolas têm. A gente sempre faz um carnaval de nível de grupo especial. Isso não é segredo nem mistério para ninguém. Isso todo mundo sabe, que a gente faz um carnaval de excelência. E nós temos uma coisa que muito, que algumas escolas têm, mas não são todas. Nós temos o amor do nosso componente. Então esse carnaval vai ser grande, vai ser lindo. As fantasias estão lindas. O samba é maravilhoso. O samba cresce de uma tal forma. Vai ser muito lindo. Vai ser assim, um espetáculo. O que vocês podem esperar da UPM esse ano é novamente um espetáculo ainda melhor do que os espetáculos que nós vemos dando todos os anos”, revelou Jaqueline, responsável pela ala das crianças.

O pedido dos componentes da Unidos de Padre Miguel é que Padim Ciço abençoe a escola que almeja o acesso ao grupo especial. Através da fé e também do trabalho árduo de todo o pavilhão, eles esperam que suas orações se realizem.

“Hoje sou devota do padim Cícero após o nosso enredo e tudo que eu venho pedindo a ele graças a Deus tenho recebido. Peço para que tudo caminhe bem em nossos ensaios, nossos trabalhos e que aos poucos com sacrifício estão se concretizando. É só colocar fé que vai, estou muito orgulhosa com nossa diretoria e todos os envolvidos para esse grande espetáculo que é desfilar na Marquês de Sapucaí”, comentou Carminha que se tornou devota depois do enredo, responsável pelo Depto Feminino da escola.

A Unidos de Padre Miguel será a quinta escola a desfilar no sábado de carnaval, 10 de fevereiro, e a prece é por um desfile alegre e emocionante, buscando encantar o público e os jurados durante a apresentação na Marquês de Sapucaí.

De olhos nos quesitos: falhas dos cantores e seus auxiliares são cada vez mais comuns nas justificativas de Harmonia

O site CARNAVALESCO traz uma análise do quesito Harmonia para a série ‘De olho nos quesitos’. No texto que vai falar sobre o quesito que aborda o canto da escola na avenida há uma grande polêmica que suscita debate entre os sambistas. O carro de som (intérpretes e cordas) deve ser julgado dentro da harmonia? Devendo ou não, é um fato que o número de justificativas em cima de falhas dos cantores e seus auxiliares são cada vez mais comuns nas justificativas dos jurados.

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Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Rio Carnaval

Nossa reportagem avaliou os últimos cinco anos de justificativa do quesito harmonia. E os jurados que irão julgar em 2024 citaram o carro de som, seja por eventuais desafinação, excesso de cacos, desencontro com a bateria ou afinação de instrumentos de corda, 13 vezes desde 2018. A questão divide opiniões, pois o carro de som não é um sub-quesito oficial estipulado pelo manual do julgador, como por exemplo é na Série Ouro. Entretanto tais justificativas tem causado até demissão de intérpretes por eventuais notas em harmonia.

Julgadora estreante

A jurada Júlia Félix é uma das estreantes no corpo de jurados para o desfile deste ano. Os demais participantes do júri de harmonia conta com Bruno Marques, que julgou os últimos quatro carnavais, Jardel Maia, presente nos últimos três e Rodrigo Lima, que está desde 2022. Analisando os critérios de cada um encontramos uma forma diferente de avaliar de cada um.

O mais experiente deles é Bruno Marques. Em quatro anos julgando, o jurado aplicou apenas 13 notas 10 em 51 que foram possíveis. Índice de 25%. Nenhuma escola passou ilesa pelo crivo de Marques, daquelas que estiveram nos quatro desfiles desde 2019. Os melhores desempenhos foram de Viradouro, Grande Rio e Vila Isabel, que conquistaram duas notas 10 e duas 9,9 com ele. Unidos da Tijuca e Paraíso do Tuiuti não conseguiram nenhum 10.

Bruno Marques é bastante atento à afinação do canto dos componentes durante a apresentação da escola. Embora seja um critério extremamente rígido, afinal de contas trata-se de um apresentação carnavalesca e o julgador não está na pista para julgar com afinco, Marques justificou notas abaixo de 10 em 16 vezes nos seus quatro anos como julgador alegando problemas de afinação no canto dos componentes. Alas que passam sem cantar, canto com intensidade diferente em partes distintas do samba e falhas no carro de som foram outros aspectos abordados com regularidade em suas justificativas.

Beija-Flor ‘gabarita’ com jurado

Reconhecida como uma das melhores harmonias da avenida em todos os tempos, a Beija-Flor de Nilópolis é a única escola que participou dos três desfiles sob o crivo de Jardel Maia e não tirou nenhuma nota abaixo de 10. Julgando desde 2020, o jurado aplicou 16 notas 10 nesses últimos anos, índice de 45%. Tuiuti e Tijuca ainda não conseguiram nenhuma nota 10 com este julgador. Portela, Mangueira e Grande Rio conquistaram duas notas 10 e uma 9,9.

Jardel usa como principal critério a constância do canto das alas. De suas justificativas apontadas de 2020 pra cá, 15 vezes foi citado a passagem de alas que não cantavam ou apresentavam canto inconsistente no momento em que passavam em seu módulo de julgamento. Maia também é bastante atento ao andamento das baterias, embora não seja o seu quesito. Em seis oportunidades ele citou o andamento do ritmo como um complicador para o canto da escola.

Seis escolas gabaritaram com Rodrigo Lima

Julgando o Grupo Especial desde 2022, Rodrigo Lima costuma usar como critério de julgamento a generosidade. Nada menos que 62,5% de suas notas aplicadas em seus dois anos foram 10. Imperatriz, Salgueiro, Viradouro, Beija-Flor, Grande Rio e Vila Isabel possuem 100% de aproveitamento com ele.

Como julga a pouco tempo, Rodrigo ainda não possui um gama elevada de justificativas a ser analisada. Novamente, Tijuca e Tuiuti têm os piores desempenhos do quesito sem uma única nota 10. Em dois anos julgando o que mais fez o jurado tirar ponto das escolas foi a passagem de alas sem cantar sob o seu módulo de julgamento. Mas ele citou ainda falhas como problemas de afinação no canto, carro de som, andamento da bateria prejudicando o canto, desencontros entre o canto da escola e a bateria e problemas de afinação no canto da escola como um todo.

Em único ensaio técnico, comunidade do Morro de Casa Verde solta a voz no Anhembi e é destaque

Por Gustavo Lima e fotos de Fábio Martins

É claro que é sempre decepcionante cair de divisão. Para o Morro de Casa Verde é pior ainda, pois caíram para a terceira prateleira do carnaval paulistano após ter conseguido se manter em 2022, que era o seu objetivo. Entretanto, o que foi visto no ensaio, mostra que não é motivo para abaixar a cabeça. A comunidade pisou no Anhembi e deu o recado. Cantou forte o samba, que é um dos melhores do carnaval e teve a presença do intérprete Wantuir. Sem dúvidas a harmonia foi o quesito destaque da escola neste ensaio. Com a força da negritude, a verde e rosa da Zona Norte quer alçar voos maiores.

Este foi o único ensaio da escola na temporada, e com o enredo “O canto de Omnirá: Negra é a raiz da liberdade!”, a agremiação será a décima a desfilar pelos desfiles do Acesso II, no próximo dia 03 de fevereiro. O tema é assinado pelo carnavalesco Ulisses Bara.

Comissão de frente

A ala, que tem o comando de Ana Carolina Vilela, foi um dos destaques do ensaio. Era fácil de entender. Mostra uma grande mensagem da força de negritude, sobretudo das mulheres, visto que a personagem principal é uma moça, cujo sua vestimenta era diferente das demais, pois estava com um turbante. Essa integrante era exaltada em determinada parte da apresentação.

MorroCasaVerde et ComissaoFrente

Os bailarinos dançavam pela pista, saudavam o público e faziam danças afro. Homens estavam vestidos de saiotes marrons com pinturas brancas pelo corpo e mulheres de saias brancas.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal Gabriel e Juliana fez um ensaio satisfatório. A porta-bandeira, principalmente, lutou contra as rajadas de vento que por vezes assombravam a pista. Isso é um grande temor para quem carrega o pavilhão, pois corre o risco de enrolar o pavilhão, mas a dançarina se comportou muito bem diante da questão.

MorroCasaVerde et PrimeiroCasal

O ponto chave da dança foi o diferencial da porta-bandeira na finalização da dança. O mais comum é o mestre-sala estender o pavilhão para o jurado, mas observando a cabine ao lado do recuo de bateria, notou-se uma movimentação onde apenas Juliana deu um passo a frente para apresentar o pavilhão e finalizar a dança.

Harmonia

Cantar o samba-enredo é um diferencial para o sucesso de uma escola. Ter um dos melhores sambas do ano de São Paulo e ainda interpretado pelo renomado cantor Wantuir, é um grande privilégio para a comunidade da verde e rosa da Zona Norte. Por isso, o canto dos componentes ecoou forte no Anhembi. Nitidamente todos os desfilantes sabem a enorme obra que tem em mãos e estão fazendo valer a pena cada verso.

Evolução

O andamento da escola fluiu normalmente, sem qualquer preocupação. As fileiras estavam compactas e os componentes se movimentavam bem entre si. O que é uma dúvida é a questão do espaçamento entre a comissão de frente e o que vem atrás. Isso engloba todas as escolas. No caso do Morro, vinha uma ala coreografada. Às vezes, abria um espaço, não chegava a ser um buraco, mas se não tivesse atenção, poderia acontecer. Como citado, tal situação foi vista em outros ensaios de outras agremiações. Pode ser um espaçamento limite no quesito.

Samba-enredo

Realmente um dos melhores sambas do ano. Por isso é tão cantado, somado a comunidade e outros fatores mencionados acima. É uma melodia de ‘guerra’ e possibilita uma dança maior entre os componentes. Embalado pelo intérprete Wantuir, estreando no Anhembi com o Morro, ficou ainda melhor. Os refrões são os mais cantados, porém o samba todo é forte.

MorroCasaVerde et InterpreteWantuir 2

Outros destaques

Vale sempre ressaltar a presença de Dona Guga, lendária baluarte paulistana e ativa na agremiação. Sempre respeitada e querida por onde passa.

A “Bateria do Morro”, do mestre Fábio Américo, teve uma performance satisfatória, principalmente quando soltava o apagão. Foram três ou quatro. Isso é muito válido, pois foi de suma importância para sentir a harmonia da escola.

MorroCasaVerde et 18

A ala das baianas também entrou na onda do samba. Estavam vestidas com a camisa da escola e com turbantes e saias brancas. O Morro de Casa Verde levou um pequeno tripé que soltava serpentinas com o passar do tempo. É sempre importante brincar com o público. A corte de bateria teve presença da rainha Bruna Costa e a musa Hariane Diaz.

Canto da comunidade se destaca em último ensaio técnico do Camisa Verde e Branco

Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins

O Camisa Verde e Branco realizou seu terceiro ensaio técnico na última sexta-feira no Sambódromo do Anhembi em preparação para o carnaval de 2024. A comunidade se fez presente e foi o destaque do treinamento encerrado após 60 minutos e que contou com a presença do ex-jogador Adriano Imperador, que será homenageado no desfile. O Trevo da Barra Funda será a primeira escola a se apresentar no dia 9 de fevereiro pelo Grupo Especial de São Paulo com o enredo “Adenla – O Imperador nas terras do Rei”, assinado pelos carnavalescos Renan Ribeiro e Leonardo Catta Preta.

Apenas o Camisa Verde e Branco e o Rosas de Ouro tiveram a oportunidade de ensaiar três vezes na Passarela do Samba, e a ascendente apresentada pelo Trevo mostra que a escola soube aproveitar as oportunidades que teve para se preparar para a missão de permanecer na elite da folia paulistana após 12 anos no Grupo de Acesso.

Comissão de frente

A coreografia da comissão de frente do Camisa esteve dividida em dois atos marcados por passagens do samba, com protagonistas distintos que contracenaram com os demais atores. Na primeira parte, o personagem identificado como o orixá Exu interage com um dos coadjuvantes ao longo da dança, e a transição dos atos ocorre quando ele troca de lugar com o ator que interpreta Oxóssi, que passa a comandar a dança.

CamisaVerde et Comissao 1

Uma coreografia que ficará mais clara quando todos os componentes estiverem fantasiados, que segue um estilo de comissões mais tradicionais e garante uma abertura clara e leve do desfile e cumprir o seu papel. Os atores tiveram uma boa performance no geral, sem apresentar irregularidades ao longo dos módulos em que foram observados.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Apesar do vento que resolveu incomodar ao longo do ensaio, Alex Malbec e Jessika Barbosa tiveram um bom desempenho em todos os módulos em que foram observados. Uma dança segura dentro das exigências do quesito, onde o mestre-sala chamou atenção pela sua expressividade e a porta-bandeira por lidar bem com a incômoda situação adversa.

O casal falou a respeito da preparação para dançar diante do frio presente ao longo de toda a noite de ensaios.

CamisaVerde et PrimeiroCasal

“A gente se aquece para não ter uma lesão muscular, e o aquecimento não é só quando está frio, mas também quando está calor. Por vezes, fazemos movimentos de extensão, o que pode causar uma lesão, mas a gente forma um casal que enfrenta tudo que vem. Se está ventando, a Jessika não desce o pavilhão. Não deixamos de economizar o que temos que fazer mesmo com todas as dificuldades. Óbvio que é ruim, mas usamos o que tivemos de imprevisto para nos adaptarmos para uma outra situação. Não deixamos de fazer nada, seja na chuva, no vento, estamos sempre ligados. Se ela não dança, qualquer problema com ela também é comigo. Estamos juntos e estamos trabalhando juntos para resolver tudo. O importante é o pavilhão”, disse Alex.

“Sendo bem sincera, quando a gente passa a faixa amarela, eu não sinto mais nada e o braço incluso. Eu volto a sentir o braço quando já estamos mais próximos do último módulo. Só nessa hora eu sinto porque cai a adrenalina, mas fora isso, para mim, é tranquilo”, apontou Jessika.

Harmonia

A comunidade da Barra Funda emocionou quem anseia por uma performance digna da escola nove vezes campeã do Grupo Especial. O desempenho da harmonia no ensaio foi impactante, com todos os segmentos apresentando canto claro e elevado ao longo de todos os módulos observados. A confiança ficou clara nos diferentes momentos em que a ala musical jogou para os demais desfilantes, que deram conta e formaram um intenso coral.

O diretor de carnaval João Victor fez uma análise do desempenho da harmonia do Camisa no treinamento, apontando as melhorias observadas após três ensaios técnicos.

“Teve uma crescente, foi o melhor ensaio dos três. Achei que a escola cantou muito mais que no último ensaio. Vamos analisar agora após ensaio, mas achei que a escola estava muito mais organizada, cantando muito mais, contingente maior. É o caminho, estamos trabalhando e hoje foi o último treino aqui. Vamos resolver algumas coisas dentro da quadra para dia 9 estarmos afinadinhos, passarmos redondos”, declarou.

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A presença de Adriano Imperador no ensaio, na opinião de João Victor, foi positiva para o desempenho da escola.

“Vocês sentiram aí a escola vibrando demais. É muito importante ele estar aqui para as pessoas verem o que de fato ele está sentindo, e vocês puderam ver que ele estava solto, tirando onda, na frente da bateria e cantando o samba”, afirmou.

Evolução

O Camisa Verde e Branco evoluiu com fluidez ao longo de toda a Avenida, cumprindo as exigências do quesito mesmo com a presença de um contingente maior de componentes participando do ensaio. A tranquilidade com a qual o Trevo realizou seu cortejo foi tanta que poderiam ter fechado os portões aos 57 minutos, mas encerraram com uma hora cravada após os diretores formarem uma linha para saírem da pista com o pé direito juntos. A escola demonstrou estar pronta para realizar um desfile sem preocupações tecnicamente.

Samba-enredo

O bom samba do Camisa Verde e Branco foi defendido por uma ala musical empenhada, liderada pelo intérprete Igor Vianna. Ao longo do ensaio era notável que algo não estava correto com a voz principal do Trevo, que em diferentes momentos cessou o canto sem motivo aparente. Ao avaliar o desempenho do quesito no ensaio, o artista revelou que sentiu um incômodo antes de entrar na Avenida e fez questão de exaltar seus colegas de carro de som.

CamisaVerde et InterpreteIgorVianna

“A nossa ala musical vem trabalhando incansavelmente junto com a minha diretoria musical, Marquinho, que tem o apoio do Fabiano Sorriso e dos parceiros dele. A gente vem trabalhando incansavelmente, cobrando a rapaziada, a rapaziada vindo forte. Logo que eu entrei na Avenida eu tomei um golpe de ar, e isso deu uma esfriada na minha cabeça. Eu fiquei igual o carro velho para voltar a pegar, e eu não parei de cantar em nenhum momento, porém, a potência da minha voz sim, deu uma baixada, e a potência dos cacos também, não estava com a potência que tem. Só voltou quando a gente saiu do segundo recuo da bateria para cá. Eu vou te falar a realidade, se não tem esses caras aqui comigo, se não tivesse cada um deles aqui comigo eu estaria encrencado, de verdade. Eu tenho muito que exaltar as vozes da minha aula musical”, declarou.

Faltando duas semanas para o desfile da escola, Igor Vianna deixou uma mensagem para a comunidade do Camisa Verde e Branco.

CamisaVerde et Baiana

“Alô Camisa Verde! Alô Barra Funda! Meu Trevo querido! Eu só tenho a pedir a cada um dos componentes do Camisa, a cada torcedor do Camisa Verde e Branco, para que acreditem no nosso trabalho. Semana passada eu fui ao barracão e está digno do Camisa Verde e Branco, está um trabalho feliz dentro do barracão. As fantasias prontas, as alegorias. No domingo passado eu posso dizer que eu vi 90% das alegorias prontas e essa semana com certeza já estará com 100. Se não está com 100, está com 97, 98%. Vou pedir para a comunidade da Barra Funda acreditar no trabalho que estamos fazendo, que a nossa presidente está fazendo, que a nossa diretoria está fazendo porque está sendo feito com muito amor. E a você, torcedor do Camisa Verde e Branco que está afastado, o carnaval está aí, está feliz, está lindo. A escola está de volta com as bênçãos de Oxóssi! A escola está de volta ao Grupo Especial, e para a escola permanecer e voltar a brigar só depende dos torcedores do Camisa Verde e Branco. O Camisa Verde e Branco está junto, vai brigar para quê? A escola já sofreu tanto tempo no Grupo de Acesso. Para que é que vai brigar? Eu estou fazendo um apelo, e o meu apelo é esse. Voltem, vem, cai para dentro que a escola precisa da comunidade, essa é a verdade”, clamou.

Outros destaques

A bateria “Furiosa da Barra” chamou atenção não apenas por causa da ilustre presença de Adriano Imperador à frente dos ritmistas, cantando e aproveitando o ensaio com irreverência e simpatia. Foi também uma atuação de alto nível, com bossas criativas que levantaram o público que esperou até o último instante para ver o Camisa Verde e Branco passar. Mestre Jeyson, líder dos ritmistas do Trevo, avaliou positivamente o desempenho da bateria no ensaio.

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“Graças a Deus tivemos e esse tempo para acertar os detalhes que a gente viu que estavam faltando. A gente conversa com a rapaziada da bateria para fazer ensaios, a diretoria autoriza e a gente vem aqui, na rua e na quadra. De todos os ensaios, hoje sem sombras de dúvidas foi o melhor”, disse.

CamisaVerde et RainhaSophiaFerro

O mestre fez um balanço geral após os três ensaios do Camisa, demonstrando otimismo para o desfile.

“No primeiro ensaio a escola veio pequena. Muita gente queria um comparativo porque estamos retornando para o Especial. O que eu tiro de exemplo é que já deu certo, e o melhor ensaio de fato vai ser o desfile botando para quebrar”, completou Jeyson.