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Conjunto visual se destaca em homenagem da Primeira da Cidade Líder à centenária Portela

Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins

A Primeira da Cidade Líder realizou na noite de sábado seu desfile no Sambódromo do Anhembi. O conjunto visual formado tanto pelas fantasias quanto pelas alegorias se destacou na apresentação, que teve problemas de evolução na reta final. A Azul e Amarelo da Zona Leste foi a oitava escola a se apresentar pelo Grupo de Acesso 2, fechando os portões aos 49 minutos.

Comissão de Frente

A comissão de frente intitulada “Galeria de Sambistas Imortais” se apresentou dividida em dois grupos em dois atos marcados pelo samba. No primeiro ato, o primeiro grupo, vestido como sambistas representando a comunidade da Portela, fazia passos à frente e cumpria as obrigatoriedades de apresentar a escola e saudar o público, enquanto o segundo grupo, mais atrás, veio vestido cada um de diferentes baluartes portelenses sambando, e quando um deles era citado pela letra do samba, o seu representante ia ao centro. No segundo ato, os baluartes passam à frente junto com o elemento alegórico, um caixote, do qual é retirado um grande pavilhão da Portela desfraldado por eles. Essa bandeira, porém, é virada em dado momento da dança ao passo que uma criança representando Nossa Senhora da Conceição aparece: a outra face do manto portelense se revela como sendo o manto da padroeira da Águia de Madureira. Os atores passam a reverenciar a santa, em um momento que rendeu aplausos do público.

PrimeiraLider Et Comissao2

A dança foi marcada pela boa sincronia dos sambistas do primeiro grupo, que não falharam em cumprir seu papel em nenhum dos quatro módulos. O segundo grupo, porém, apresentou uma leve inconsistência na coreografia por parte de um dos baluartes de frente ao módulo 1, problema solucionado diante dos demais jurados. No terceiro módulo, o pavilhão demorou um pouco a ser recolhido para esconder a criança, o que fez ela ficar levemente à mostra antes de entrar no pequeno tripé.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal da Cidade Líder, formado por Fabiano Dourado e Sandra de Jesus, desfilou com fantasias representando “A majestade do samba e a Águia Altaneira”. As roupas da dupla chamaram atenção, sendo a de Fabiano, representando a Águia, vinha com uma iluminação de LED nos olhos e a de Sandra, representando a Portela, vinha com iluminação espalhada por toda a saia, mas sem exageros, ambos dando um belo efeito visual.

PrimeiraLider Et PrimeiroCasal 1

O casal conseguir obter um bom desempenho em todos os módulos, cravando os movimentos obrigatórios com elegância. Fabiano se destacou pela irreverência de sua dança, cortejando Sandra sempre com um sorriso no rosto. O desempenho seguro do casal poderá render boas notas para a Cidade Líder.

Enredo

O enredo da Primeira da Cidade Líder em 2024 foi “Salve ela! A Majestade do Samba Portela!”, assinado pelo carnavalesco Ewerton Visotto. A proposta da Líder foi contar a história centenária da escola de samba carioca Portela através de seus baluartes.

PrimeiraLider Et 10

A maneira original a qual a Cidade Líder apostou em conseguir resumir grandes momentos da história portelense em tão poucas alas permitiu ao desfile uma leitura agradável e recheada de referências de fácil leitura. As duas alegorias cumpriram seu papel de representar símbolos históricos da Portela, fazendo do conjunto da escola um desfile compreensível para qualquer um que conheça a centenária história da Águia de Madureira.

Alegorias

A Primeira da Líder se apresentou com dois carros alegóricos. O Abre-alas foi nomeado como “O teu azul é o infinito, sob o céu de Madureira a Águia Altaneira, da Padroeira nasce a escola de Samba Portela”, e o segundo carro foi intitulado “Se for falar da Portela, hoje não vou terminar, O samba sempre a florescer em versos aos pés da Jaqueira, Centenário de Emoção”.

PrimeiraLider Et AbreAlas

O Abre-alas chamou atenção não apenas pela gigantesca escultura de Nossa Senhora da Conceição, como também pelo fato da imponente Águia à frente do carro vir emitindo o clássico grasnido que a homenageada traz em seu símbolo. O segundo carro trouxe um grande pavilhão portelense estampado à frente, com esculturas representando sambistas nas laterais e uma jaqueira no topo da estrutura, que contou com a presença de pessoas convidadas. Ambas as alegorias vieram com bom acabamento e conseguiram ilustrar a proposta do enredo com clareza, contribuindo positivamente para a leitura do enredo.

Fantasias

A Primeira da Cidade Líder apresentou suas alas de uma forma diferenciada. As alas foram nomeadas em homenagem a grandes baluartes da história da Portela, mas cada ala veio apresentando diferentes conjuntos de fantasias simbolizando registros históricos das épocas em que viveram esses grandes portelenses, como a fundação da escola e desfiles marcantes.

PrimeiraLider Et 14

A ideia de formar filas de fantasias diferentes dentro da mesma ala permitiu um aumento no número de referências percebidas diante do pequeno contingente da Cidade Líder. A qualidade do acabamento das fantasias chamou atenção, com todas as alas observadas representando bem seus significados. Destaque especial para a fantasia da bateria, que mesmo com mais simplicidade representou o considerado primeiro samba-enredo da história, “Teste ao Samba”, com todos os ritmistas trajando becas.

Harmonia

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A comunidade da Primeira da Cidade Líder clamou o samba com vigor em boa parte do desfile. Ao longo dos dois primeiros módulos, a escola apostou em várias bossas com a bateria “Batucada de Primeira”, sempre bem respondidas pelo canto dos componentes. O vigor do segmento, porém, enfraqueceu na parte final do desfile conforme a escola precisou acelerar o passado para conseguir fechar os portões no tempo limite, o que poder ser observado especialmente no quarto módulo.

Samba-enredo

O samba da Cidade Líder é assinado por um elenco de grandes compositores como China da Morada, Portuga, Fábio Souza, Gui Cruz, Vitor Gabriel, Turko entre outros, e defendido pela ala musical liderada pelo intérprete Thiago Melodia. A letra inicia com uma exaltação à Portela, e conforme vai passando os baluartes são apresentados em meio a referências a enredos históricos.

PrimeiraLider Et 17

A obra ilustra de forma poética os grandes nomes que marcaram a história da escola carioca, encaixando de forma inteligente cada um deles sem necessariamente se apegar à época aos quais estiveram presentes. A ala musical defendeu a obra com grande eficiência, engrandecendo a apresentação da agremiação da Zona Leste.

Evolução

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­O único quesito que destoou dos demais no desfile da Primeira da Cidade Líder. A evolução foi comprometida por um início muito lento, que dificultou a leitura do andamento da escola conforme a apresentação avançava. Restando apenas dez minutos para o encerramento do desfile, a bateria mal havia saído do recuo, o que gerou um receio quanto ao estouro do tempo que fez a escola acelerar muito o passo. A consequência da decisão foi uma correria que causou a abertura de um buraco à frente do segundo carro diante do quarto módulo, que pode gera consequências à escola. No fim, os portões se fecharam aos 49 minutos, restando ainda pouco mais de um minuto para não ultrapassar o limite regulamentar.

Outros Destaques

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À frente da bateria “Batucada de Primeira” reinaram soberanos a Rainha Amanda Martins e o Rei Robson Sambista. Os ritmistas da Cidade Líder, comandados pelo mestre Alê, fizeram grande apresentação dominada por várias bossas diferentes em sequência, demonstrando confiança e levantando o público por onde passou.

Fotos: desfile da Primeira da Cidade Líder no Carnaval 2024

Por um segundo, Camisa 12 estoura tempo em desfile com ocorrências, bom samba e exibição segura do casal

Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins

Quem acompanhou o início do desfile da Camisa 12 jamais poderia esperar pelo final do mesmo. Com uma comissão de frente muito bem celebrada e um abre-alas extremamente imponente, a escola começou a exibição impressionando. Com os primeiros componentes evoluindo morosamente, um acidente com o segundo carro alegórico, um passo bastante apertado nos últimos dez minutos e o estouro do cronômetro em um inacreditável segundo (!), cabe ressaltar o bom apresentado pelo samba-enredo, a boa condução por parte de bateria e ala musical e uma noite bastante segura do casal de mestre-sala e porta-bandeira ao defender o enredo “Meu Black é de Rei, Minha Coroa é de Chico. Chico Rei Entre Nós”, sétima agremiação a desfilar no Grupo de Acesso II neste sábado.

Comissão de Frente 

Com um ator representando Chico Rei, a comissão de frente investiu na dança e em uma coreografia bastante expressiva, e não em tripés alegóricos – como muitas coirmãs. O protagonista do enredo, por sinal, era cortejado por alguns “súditos” em um trono que evoluía na avenida. A coreografia, em dois atos, era revezada entre dois grupos distintos de componentes – ambos dourados: um que trazia um cabelo black power com detalhes dourados; outra simulando pepitas de ouro no cabelo e que abria um display com iminentes personalidades afrodescendentes – como Madrinha Eunice e Hélio Bagunça. O grande ponto de atenção do segmento coreografado por Yaskara Manzini foi a Evolução bastante morosa do segmento, que chegou à Dispersão com cerca de quarenta minutos – apenas dez antes do tempo-limite.

Camisa12 et ComissaoFrente

Mestre-sala e Porta-bandeira

Se, no ensaio técnico da agremiação, Luã Camargo e Estefany Righetti focaram na segurança, ambos vieram com bem mais energia no desfile oficial – sem Sol, com pouco vento e temperatura agradável. Em nem um dos quatro módulos foram perceptíveis erros de execução e todos os balizamentos obrigatórios foram cumpridos – sendo que, em todos eles, o casal fez três sequências de giros. O figurino também ganhou destaque, com o amarelo ganhando companhia do azul – já que o ouro encontrado em Minas Gerais durante o ciclo da mineração também vinha de lagos e rios. No caso de Estefany, a barra da saia tinha tons mais terrosos – e um lado do figurino não tinha mangas, enquanto o outro possuía.

Camisa12 et PrimeiroCasal

Enredo

Repleta de mensagens antirracistas, a história de Chico Rei foi contada pela Camisa 12 com um grande leque de situações. No primeiro setor, a história da mítica figura foi contada; depois, veio a hora de exaltar a resistência afrodescendente e falar sobre a presença da negritude durante o Ciclo da Mineração – e, em menor proporção, em toda a história nacional a partir de então; por fim, exaltar pessoas que, de acordo com o enredo, são herdeiros de um dos afrodescendentes mais conhecidos da história do Brasil – e, aqui, a escola optou por focar em ramos de atuação, como a imprensa e o teatro. O segundo carro era mais específico, com nomes de figuras importantes da história do Brasil que representam o legado de Chico Rei – como Leci Brandão e Emicida. Vale destacar, também, que tal fio condutor foi bastante utilizado no documentário “Chico Rei Entre Nós”, que conta com uma canção do rapper citado na linha anterior.

Camisa12 et 9

Alegorias

O abre-alas da agremiação, “Reino do Congo e Sequestro”, era bastante expressivo em todos os pontos possíveis: bastante alto e com três chassis acoplados – e alguns componentes que vinham no chão entre o primeiro e o segundo. Com predomínio do azul, a alegoria espantou a todos pela opulência e pelo bom gosto em esculturas e na confecção – repleto de tiras para emular o mar, com direito a uma caravela que fazia menção à chegada de Chico Rei ao Brasil em um navio negreiro. Importante notar, entretanto, as rodas aparentes no primeiro chassi.

Camisa12 et 3 1

O segundo carro, “Chico(s) Rei(s) entre nós”, com muitos tons de amarelos, trouxe uma série de desafios. Logo nos primeiros espaços da passarela, a alegoria bateu em uma das grades e teve uma parte do acabamento arrancado, ficando com madeiras à mostra. O nome de Abílio Ferreira, um dos escolhidos como um dos “descendentes” de Chico Rei, também estava dobrado por uma das tantas bolas emulando pepitas de ouro no carro.

Camisa12 et 6

Fantasias

Com muitos tons de amarelo, a Camisa 12 teve bastante detalhes em costeiros e ao longo do conjunto de fantasias no geral. A roupa de cada uma delas também variava: algumas tinham tecidos mais simples, outras possuíam mais detalhes – como a ala 10, “Caifazes”. Também é importante pontuar a Ala das Baianas, “Black da Alforria”, inteira em um tom mais fosco de dourado – e quebrando com extremo bom gosto o brilho na roupa de outros componentes.

Camisa12 et 22

Harmonia

Se o canto da agremiação preocupou no ensaio técnico, realizado sob muito Sol, a escola claramente evoluiu e mostrou estar habituada à madrugada. Vale destacar que a agremiação começou a cantar o samba-enredo de 2024 cinco minutos antes do cronômetro ser disparado, deixando a escola mais “quente”. Ao longo de todo o desfile, a agremiação teve bom volume vindo dos componentes – uma das poucas exceções foi a ala 08, “Coroação de Chico”, coreografada e que focou na dança, não na canção.

Camisa12 et Interpretes

Samba-enredo

Sem muitos cacos ou exagero em rimas, a canção foi dividida da seguinte maneira: a primeira estrofe narrava o que acreditam ser os primeiros momentos da vida de Chico Rei, já com toda a temática da luta por direitos e cidadania em foco; a chegada da figura na cidade mineira de Ouro Preto, com a igreja de Nossa Senhora do Rosário como pano de fundo, é o tema do refrão do meio; enquanto a segunda estrofe da obra conta toda a mensagem de resistência que Chico Rei traz para os afrodescendentes – além, é claro, de exaltar a própria icônica figura. Na avenida, viu-se uma condução correta de Tim Cardoso e um pouco mais irreverente de Clóvis Pê, que tentava empolgar componentes e público com mais cacos que o companheiro de microfone.

Camisa12 et 17

Evolução

Ao falar da comissão de frente da agremiação, foi destacado que a Evolução tinha andamento moroso – o que já começou a preocupar. O recuo de bateria da escola foi outro prenúncio negativo: embora feito com um movimento bem simples, a ala seguinte não foi muito célere em ocupar o espaço deixado pelos ritmistas – em dinâmica que demorou cerca de cento e cinquenta segundos. Para tentar recuperar tempo, a escola, claramente, começou a apertar o passo após a saída da comissão de frente. Tal situação fez com que a agremiação deixasse alguns buracos consideráveis na avenida – como, por exemplo, à frente do segundo carro alegórico nos Setores A e C. Uma das cenas mais dramáticas foi a ala 11, “Imprensa Negra”, composta por diversos componentes PCD que, nitidamente, precisou ter um andamento bem mais acelerado do que quando começou a exibição. Mesmo com todos os esforços, o destino foi cruel com a agremiação, que encerrou seu desfile com cinquenta e um minutos cravados – sim: apenas um segundo tempos do tempo-limite.

Camisa12 et 4

Outros Destaques

Bateria da agremiação, a Ritmo 12 contou com duas destaques na corte: Vanessa Aggio (rainha) e Mayra Ribeiro (musa).

Fotos: desfile da Camisa 12 no Carnaval 2024

Visual da X-9 Paulistana se destaca em desfile no Carnaval 2024

Por Gustavo Lima e foto de Fábio Martins

A X-9Paulistana levou o Nordeste para o Anhembi. O desfile se destacou pelo visual colorido que se viu, claramente algo alegre que a comissão de carnaval quis passar para o público. A comissão de frente, executando as danças típicas do Nordeste também merece um adendo especial. Todo o visual foi caprichado, as fantasias além de belas, davam conforto aos componentes e, por fim, as alegorias deram tom na apresentação. A X-9 Paulistana foi a sexta escola a desfilar, com o enredo “Nordestino Sim, Nordestinado Jamais”, assinado por uma comissão de carnaval.

Comissão de frente

Comandada pelo coreógrafo Jaime Arôxa, a ala desfilou apresentando a escola significando as “Danças Nordestinas”. Como o nome já diz, a coreografia incorporava bailados da região, como o forró e xaxado. A mensagem da comissão era clara: Passar alegria ao público, que era a missão do desfile. Na dança, os bailarinos sempre formavam um casal de homem e mulher para representar tais atos.

X9Paulistana et Comissao1

Todos os componentes desfilaram com chapéus e roupas iguais, mas cada casal tinha cores diferentes, como tons marrom escuro, claro, cor vinho e bege.

Ainda dentro da ala, havia outro componente que vestia um chapéu de cangaceiro e segurava uma espécie de caixa. Este integrante circulava solto no ato da comissão de frente.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Igor Sena e Julia Mary, casal oficial da verde e vermelho da Zona Norte, representou o “Coração Nordestino” em sua fantasia. Em todos os módulos, observou-se que a dupla executou a dança com segurança, optando por giros horário e anti-horário do que propriamente a coreografia dentro do samba. Entretanto, mesmo com o sucesso obtido, há de se ressaltar certa dificuldade da porta-bandeira nos giros, que por vezes era lento, muito provavelmente pela fantasia.

X9Paulistana et Casal

Enredo

A verde e vermelho da Zona Norte apresentou ao Anhembi um enredo nordestino em uma homenagem ao artista Patatitva de Assaré. Intitulado “Nordestino Sim, Nordestinado Jamais”, X-9 quis passar uma visão de um nordeste alegre, com danças e demais coisas citadas pelo poeta ao seu amado local. Além de toda essa energia positiva, a bravura e o trabalho do povo nordestino foram citados.

X9Paulistana et 13

Alegorias

O abre-alas, simbolizando o “Nordestino Relicário”, entrou com um colorido forte e esculturas, com destaque para as esculturas de mulher negra, nordestinos com enxadas e, na parte de trás, esculturas de sanfoneiros com chapéus de cangaço.

X9Paulistana et AbreAlas

A segunda alegoria desfilou pela pista com o “Populário Nordestino” e com uma figura branca e preta de Patativa de Assaré. Também havia uma iluminação bem forte de luzes coloridas. Também havia bastante detalhes dourados e vermelhos. Sem dúvidas, o carro destaque da escola no desfile.

X9Paulistana et 6

Fantasias

A X-9 levou uma paleta de cores muito variadas, puxando bastante para o colorido. Tal jogo de cores era visto o tempo todo, claramente casando com a estratégia das alegorias. As vestimentas estavam em bom estado e não atrapalharam o componente ‘xisnoveano’. Todos puderam evoluir com tranquilidade.

X9Paulistana et 12

Harmonia

A escola teve certa dificuldade com o canto em algumas alas. Alguns componentes não conseguiam acompanhar a letra de forma correta e optava por só evoluir, voltando a cantar apenas nas partes de seu conhecimento. Realmente um desempenho não satisfatório no volume do canto da X-9. Entretanto, vale ressaltar que os refrões de cabeça e do meio, os componentes conseguiam cantar forte. Também tem a questão da característica do samba, que oscila em sua melodia. Ora era lento e ora explodia, como no refrão de cabeça.

X9Paulistana et Interpretes

Samba-enredo

A obra, composta por Cláudio Russo e Fadico, nitidamente passava uma alegria nos componentes e público do Anhembi. Vale destacar o grande desempenho que os estreantes Hélber Medeiros e Daniel Collete executaram. O primeiro fez a sua estreia como cantor principal na escola e o segundo volta para a sua terceira passagem na agremiação da Zona Norte.

X9Paulistana et MestreAdamastor

Evolução

A evolução da X-9 foi satisfatória. Não houve problemas com buracos e demais coisas negativas que poderiam prejudicar. Vale lembrar que no único ensaio técnico realizado, a escola deixou muito a desejar no quesito, ficando bastante atrapalhadas nas questões citadas acima. Entretanto, foi corrigido e alas desfilaram compactas entre os setores. As fileiras também vieram corretas.

Outros destaques

Ala das baianas, vieram vestidas com uma bela fantasia tendo como significado a “Mulher Rendeira”. A bateria “Pulsação Nota 1000”, regida pelo mestre Adamastor, executou poucas bossas. Foi estratégica. Optou por marcar o samba de forma correta.

X9Paulistana et Baianas

A madrinha de bateria, Valéria de Paula, desfilou com costeiros no tipo de asas e nas cores de vermelho, amarelo e laranja.

Fotos: desfile da X-9 Paulistana no Carnaval 2024

Cabeça da escola impressiona, mas Uirapuru da Mooca estoura tempo em desfile

Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins

O começo do desfile da Uirapuru da Mooca em 2024 foi arrebatador. Com uma comissão de frente bastante criativa e um abre-alas bastante bonito, a agremiação impressionou quem estava observando a apresentação. O final, entretanto, foi cruel: o tempo-limite de cinquenta minutos para concluir a exibição foi estourado em dezesseis segundos – e, pelo regulamento, faz com que a agremiação perca três décimos em obrigatoriedades, de acordo com o regulamento. Fazendo uma homenagem a uma ilustríssima coirmã carioca, a agremiação defendeu o enredo “Da Estrela Guia Que Brilha No Céu, Vem Aí a Mocidade Independente de Padre Miguel”, sendo a quinta a se apresentar no Grupo de Acesso II da folia paulistana neste sábado.

Comissão de Frente

Um dos grandes mistérios do Grupo de Acesso II era a fantasia da comissão de frente da escola que homenagearia a Mocidade Independente de Padre Miguel. Aladdin? Escafandristas? A revelação da surpresa foi a memória dos títulos da instituição, com algumas comissões de frente históricas da escola do Rio de Janeiro, como os escafandristas de “Chuê Chuá, As Águas Vão Rolar” (1991), os robôs de “Ziriguidum 2001, Um Carnaval Nas Estrelas (1985) e o Aladdin de “As Mil e Uma Noites de Uma Mocidade Pra Lá de Marrakesh” (2017). Além, é claro, de fazer menção a um momento histórico da Zona Oeste carioca, o segmento, coreografado por Giovanna Lacerda, fazia coreografias marcando o samba em um único ato. Sem tripés, todas as figuras se apresentavam e um personagem vestido como Castor de Andrade sambava e até abria espacates na passarela.

Uirapuru et Castor

Mestre-Sala e Porta-Bandeira 

De ótima exibição no ensaio técnico da escola da Zona Leste, Anderson Guedes e Pâmela Yuri, mais uma vez, tiveram boa exibição nos quatro módulos de jurados. O casal, com giros mais cadenciados, buscou a segurança e a correção ao bailar. Na segunda cabine, entretanto, Anderson demorou alguns instantes para desfraldar o pavilhão oferecido por Pâmela. Vale destacar a fantasia utilizada por eles, que remetia ao Independente Futebol Clube, equipe amadora que foi a inspiração tanto para o nome quanto para a histórica parte estética da instituição – já que tinha listras alviverdes na vertical e uma estrela solitária no símbolo. Na roupa, também havia espaço para algumas bolas de futebol, deixando a associação ainda mais evidente.

Uirapuru et PrimeiroCasal

Enredo

O já citado primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira veio homenageando a origem da Mocidade Independente, ligada a um time de futebol da Zona Oeste carioca. A fundação da agremiação, no terreiro de Tia Chica, também foi exaltada. Desfiles históricos (e não necessariamente campeões, como é o caso de “Beijim, Beijim, bye bye Brasil”, de 1988) também foram lembrados da agremiação. A “Não Existe Mais Quente”, bateria da instituição carioca, também foi homenageada pelos próprios ritmistas na fantasia “Homenagem ao Saudoso Mestre André e ao herdeiro de Coé”, relembrando dois históricos mestres do segmento – e, indiretamente, citando Dudu, atual comandante do “coração” da Mocidade. No fim, a Uirapuru fez um misto entre referências a desfiles históricos e exaltações, com a cronologia sendo utilizada para contar a fundação da instituição homenageada.

Uirapuru et 3

Alegorias

Os dois carros da agremiação foram, certamente, alguns dos grandes destaques da agremiação. O primeiro, “Aos Braços do Cristo Redentor Brilha a Estrela Guia de Padre Miguel”, como o próprio nome dizia, trazia uma imensa escultura do ponto turístico carioca e uma iluminação inteira verde; majoritariamente prateado, a alegoria remetia à estética do histórico “Ziriguidum 2001, Um Carnaval Nas Estrelas), de 1985. Na parte mais abaixo da alegoria, uma série de fotos de grandes baluartes da agremiação – como Tião Miquimba, Ney Vianna, Elza Soares, Mestre Coé e Castor de Andrade. Já o segundo fazia um mix de dois desfiles quase que diametralmente diferente: “Como Era Verde Meu Xingu” (1983) e “Namastê: A Estrela Que Habita Em Mim Saúda a Que Existe Em Você (2017). Apesar dos desfiles bastante distintos, o efeito visual foi bastante interessante. Não foram notados erros de execução nem de acabamento.

Uirapuru et 1

Fantasias

Ao longo de todo o desfile, um padrão foi percebido em relação às fantasias: as partes que cobriam o corpo e as pernas eram mais simples, tal qual roupas, nas mais diversas cores. O luxo aparecia nos costeiros, sempre remetendo a algo relacionado à agremiação carioca – seja algo histórico, seja em relação a um desfile marcante.

Harmonia

Assim como acontece em muitas coirmãs, a cabeça (ou seja, os primeiros segmentos) não teve desempenho adequado no canto. A surpresa veio após o carro abre-alas: as alas seguintes também não cantaram a contento, prejudicando o quesito. A situação melhorou bastante no terceiro setor, já que, sem exceção, todos os componentes cantaram em bom volume o samba da agremiação.

Uirapuru et InterpreteAndreRicardo

Samba-enredo

Se o desfile trouxe várias referências a desfiles históricos da Mocidade Independente, o refrão dava o tom da homenagem: “A mão da bomba fez chuê chuá/Nas viradas dessa vida, descobriram o Brasil/São mil e uma noites de ziriguidum/Padre Miguel, Uirapuru” – fazendo menções a grandes exibições da coirmã carioca. A primeira estrofe inteira foca no sentimento e na fundação da agremiação, o refrão do meio exalta a Não Existe Mais Quente e a segunda parte do samba-enredo volta a fazer menções a outros desfiles da escola carioca. No misto entre referências e cronologia, a exaltação a exibições históricas saiu-se em maioria numérica. André Ricardo, intérprete da agremiação, teve atuação bastante interessante, sustentando o samba composto por André Ricardo, Tchelo, Diego Nicolau, Digo Sá, Maradona, Márcio André, Turko, Rafa do Cavaco, Fábio e Beto Colorado.

Uirapuru et AbreAlas

Evolução

Certamente, um dos grandes calcanhares de Aquiles da escola da Zona Leste foi tal quesito. A escola, que optou pela compactação e por um andamento mais moroso, teve alguma dificuldade com o segundo carro, que teve caminhada com alguns solavancos – sobretudo na parte final da passarela. E, por conta de tal situação, a agremiação estourou o tempo-limite de 50 minutos em dezesseis segundos – o que, se seguido o regulamento, acarretará perda de décimos.

Uirapuru et 7

Outros destaques

Quando a escola começou a se apresentar no Setor E (o último do Anhembi), diversos refletores se apagaram. Na corte de bateria, três destaques: Acassia Nascimento (rainha), Sheila Neves (musa) e Tati Reis (madrinha).

Freddy Ferreira analisa a bateria da Vila Isabel no ensaio técnico na Sapucaí

Um excelente ensaio técnico da bateria da Unidos de Vila Isabel, comandada por mestre Macaco Branco. Uma conjunção sonora preciosa foi obtida, graças ao equilíbrio musical e a boa equalização de timbres. Bossas altamente casadas com a obra da Vila mostraram uma bateria “Swingueira de Noel” com ritmo da Vila clássico, mesmo com arranjos com certa sofisticação.

analise bateria vila
Foto: Vitor Melo/Divulgação Rio Carnaval

A parte de trás do ritmo da Vila contou com sua tradicional afinação de marcações mais pesada, com uma boa distinção entre os timbres. Marcadores de primeira e segunda pulsaram de forma firme, mas com profunda precisão. Os surdos de terceira foram responsáveis pelo balanço e estiveram irrepreensíveis. Uma ala de repiques ressonante e coesa, auxiliou no complemento dos médios. Que ainda contou com um trabalho bastante eficiente das caixas retas, tocadas embaixo. Tudo isso destacado pelo sublime naipe de tarol, com sua genuína e bem executada batida com toque de partido alto.

Na cabeça da bateria da Vila, um naipe de cuícas bem seguro tocou de modo equilibrado. Uma ala de chocalhos com boa técnica musical se exibiu de modo interligado a um naipe de tamborins de altíssimo valor sonoro. Os tamborins da Vila Isabel, graças a um trabalho enxuto e um desenho rítmico funcional, tocaram de modo uníssono por toda a pista.

Bossas com musicalidade bastante integrada ao belo samba-enredo reeditado deram certo frescor a sua execução. Dando ares de modernidade, arranjos musicais contemporâneos ajudaram a impulsionar a obra da azul e branca do bairro de Noel. Tal fato, inclusive, ajudou certamente componentes na evolução, já que as paradinhas possuíam sonoridade envolvente e dançante. Destaque para a execução privilegiada de surdos, caixas e taróis nas bossas. Sempre demonstrando precisão e educação.

Um excelente ensaio técnico da bateria da Vila, dirigida por mestre Macaco Branco. Um trabalho pautado pela boa educação musical dos ritmistas, que tiraram som das peças sem colocar força a mais nos instrumentos. Isso impactou positivamente numa sonoridade enxuta, equilibrada e com uma fluência plena entre os mais diversos naipes. A “Swingueira” volta para o bairro de Noel feliz e orgulhosa, por estar pronta para realizar mais um grande desfile.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Beija-Flor no ensaio técnico na Sapucaí

Um ótimo ensaio técnico da bateria “Soberana” da Beija Flor de Nilópolis, comandada pelos mestres Rodney e Plínio. Uma conjunção sonora com fluência plena entre os naipes foi obtida, graças ao equilíbrio musical e uma equalização de timbres completamente diferenciada.

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Foto: Vitor Melo/Divulgação Rio Carnaval

Uma bateria “Soberana” com uma afinação de surdos privilegiada foi percebida. O bom balanço dos surdos de terceira ficou em evidência na cozinha da bateria da Beija. Marcadores de primeira e segunda foram firmes, além de precisos ao longo de todo o cortejo. Um naipe de repiques acima da média tocou de forma coesa. Tudo complementado por uma trabalho consistente das caixas de guerra, complementando os médios com eficiência. Vale destacar o brilho da sonoridade metálica provocada pelas frigideiras, que desfilam junto ao peso.

Na parte da frente do ritmo, uma ala de cuícas segura demonstrou virtude sonora. Um naipe de chocalhos de boa técnica tocou interligado a uma ala de tamborins que executou um desenho rítmico simples, mas absolutamente eficaz. Tamborins e chocalhos, juntos, elevaram a qualidade musical das peças leves da cabeça da bateria da Beija Flor.

Um leque de bossas bastante integrado à música nilopolitana foi exibido de maneira praticamente impecável. É possível dizer que os arranjos, explosivos e dançantes, impulsionaram tanto o samba, quanto os componentes da azul e branca da Baixada. Bossas que se aproveitaram das nuances melódicas do samba da Deusa da Passarela para consolidar o ritmo. O destaque musical ficou para a envolvente bossa do refrão do meio, que com duas partes de bom gosto apresentou uma sonoridade diferenciada.

Uma ótima apresentação da bateria “Soberana” da Beija Flor no ensaio técnico, dirigida pelos mestres Rodney e Plínio. Uma bateria bem equilibrada e equalizada, com uma musicalidade profunda, graças à bossas com integração plena com o samba-enredo da escola. Conseguiu unir bom ritmo e uma concepção moderna, além de consistente de paradinhas. Uma bateria da Beija Flor de Nilópolis pronta para um grande desfile, em busca da sonhada nota máxima

Freddy Ferreira analisa a bateria da Grande Rio no ensaio técnico na Sapucaí

Um ensaio técnico muito bom da bateria da Grande Rio, comandada por mestre Fafá. Um ritmo de bastante equilíbrio, onde se destacaram a educação musical dos ritmistas, além de uma equalização de timbres que permitiu a fluência plena entre os mais variados naipes. Uma conjunção sonora acima da média foi obtida.

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Foto: Vitor Melo/Divulgação Rio Carnaval

Uma bateria da Grande Rio com uma bela afinação de surdos foi notada. Os marcadores de primeira e segunda mostraram uma educação musical refinada, enquanto garantiam um pulsar eficiente e preciso. Destaque para a maceta dos surdos de primeira, maiores em diâmetro, que teve origem na bateria da Vai Vai e casou bastante com a sonoridade do ritmo de Caxias. O balanço dos surdos de terceira esteve em evidência, contribuindo no swing da bateria. Repiques coesos e retos adicionaram valor sonoro à cozinha da bateria, assim como um naipe de caixas com boa ressonância serviu de base para a parte de trás do ritmo.

Na cabeça da bateria, uma ala de cuícas segura ajudou na sonoridade da parte da frente do ritmo, junto de um naipe de agogôs com uma musicalidade diferenciada, que executou um desenho rítmico simples, mas eficaz. Um bom naipe de tamborins tocou uma convenção rítmica funcional de forma integrada e entrelaçada a uma ala de chocalhos de alto valor técnico. É possível dizer que o entrosamento entre tamborins e chocalhos foi um dos pontos altos do grande trabalho envolvendo as peças leves.

Bossas profundamente ligadas ao melodioso samba da agremiação se mostraram corretas, impulsionando componentes em canto e dança, além das execuções privilegiadas por toda a pista. Um leque de paradinhas com bastante esmero musical, que contribuiu destacando um trabalho que tem por base a manutenção de um bom ritmo. A equalização diferenciada também auxiliou os arranjos musicais, principalmente nos que destacavam as afinações de surdos distintas.

Uma apresentação muito boa da bateria da Grande Rio, dirigida por mestre Fafá. Um ensaio técnico que exibiu uma bateria pronta para o desfile oficial e que vai batalhar pela volta da almejada nota máxima. Um ritmo enxuto, equilibrado e muito bem equalizado da tricolor de Caxias. Major Fafá, seus diretores e ritmistas têm motivos de sobra para voltarem felizes para Duque de Caxias, além de confiantes num grande desfile da bateria da Grande Rio.