O carnaval do Rio de Janeiro vai ganhar uma nova representante com uma proposta ousada e necessária. Em entrevista ao CARNAVALESCO, o presidente e fundador Romeu D´Malandro anunciou a criação da Casa de Malandro, nova escola de samba que estreia no Carnaval 2026, no Grupo de Avaliação, na Intendente Magalhães, com um propósito claro: dar protagonismo ao povo de terreiro dentro do universo do samba. A inauguração da quadra e apresentação da equipe para o Carnaval 2026 será no domingo, 6 de julho, a partir das 13h, na Rua do Engenho Novo, 123, no Engenho Novo.
“A ideia da escola de samba Casa de Malandro surgiu de forma muito natural. Eu já sou envolvido com o carnaval, sou compositor, e a gente já tinha o bar Casa de Malandro há três anos. É um espaço que virou referência no samba de macumba, com shows regulares e um ambiente totalmente voltado pra essa energia”, disse o presidente Romeu.
Mais do que uma extensão do bar, a nova agremiação nasce com uma missão cultural e religiosa. Romeu destaca que, embora o samba tenha raízes inegavelmente ligadas às religiões de matriz africana, nunca houve uma escola de samba criada especificamente pela comunidade do axé e dedicada a ela.
“Sabendo da história do samba, que tem suas raízes fincadas na macumba, a gente sempre teve essa consciência: toda escola de samba tem macumbeiro, isso é fato. Mas até então não existia uma escola realmente do macumbeiro, feita pela comunidade do axé, com o povo de terreiro como protagonista”, explicou.
A Casa de Malandro já tem seu desfile confirmado no Grupo de Avaliação da Superliga, passo obrigatório para novas agremiações ingressarem nos grupos oficiais. Segundo Romeu, a escola estreia junto com outra novidade: a Balanço da Maré.
O nome da escola remete à malandragem carioca, símbolo cultural que há muito tempo caminha ao lado do samba, do candomblé, da umbanda e da resistência preta e popular. A nova agremiação pretende honrar esse legado não apenas no nome, mas em toda sua construção coletiva.
Tem histórias que merecem ser contadas em vida. Tem sambistas que são tão grandes que não cabem apenas nas entrelinhas da memória. Precisam ser cantados, celebrados, reverenciados. Em 2026, a Viradouro escolheu fazer isso da forma mais bonita possível: colocando no centro da sua narrativa um dos nomes mais respeitados do mundo do samba: mestre Ciça. Ele que faz a escola pulsar. O enredo “Pra Cima, Ciça!” é um gesto de respeito e reconhecimento. A escola de Niterói olha para dentro, para o seu chão, para as mãos que moldam seu som, sua cadência e sua identidade. * LEIA AQUI A SINOPSE
A Viradouro fará uma homenagem sem precedentes. Pela primeira vez, um mestre de bateria vira enredo de uma escola do Grupo Especial. Ciça tem 70 anos de vida e mais de 50 dedicados ao carnaval. O que ele construiu, ano após ano, está na história do samba. O popular “caveira” segue comandando ritmistas com a mesma paixão de quando começou ainda menino, como passista, na Unidos de São Carlos.
O texto da sinopse, escrito por João Gustavo Melo e idealizado por Tarcísio Zanon, não economiza emoção. Desde o início, quando evoca aquele “esquenta” cheio de ritmo que só a bateria sabe dar, a gente já entende: esse desfile não será sobre passado. Será sobre presença. Sobre um mestre que está vivo, atuante, respeitado, e que merece ver e ouvir a Sapucaí inteira bater cabeça pra ele.
O texto da sinopse acerta ao não cair em uma linearidade fria. A história de Ciça é contada com emoção, ritmo e poesia. Do menino da São Carlos ao mestre consagrado que passou por escolas como Estácio, Viradouro e União da Ilha, a narrativa reforça sua marca registrada: respeito conquistado por onde passou, batida criativa e o coração generoso.
Um dos trechos mais tocantes da sinopse diz que “um mestre nunca desfila sozinho” e é exatamente essa a imagem que se espera ver na Avenida: Ciça ladeado por seus ritmistas, amigos e admiradores, como se toda a comunidade sambista desfilasse com ele. Quem conhece Ciça sabe: ele é daqueles que puxam a fila, mas nunca olham apenas pra frente.
Outro acerto é o cuidado em valorizar a bateria como uma manifestação artística completa. A referência ao “Bonde do Caveira”, como é conhecida sua equipe de ritmistas, não é apenas um detalhe simbólico. É uma forma de mostrar que o comando também é feito em equipe, com disciplina, respeito e paixão. A bateria, aqui, não é só acompanhamento: é protagonista.
Ao lançar este enredo, a Viradouro não apenas escreve mais uma bela página em sua história, que, vale lembrar, chega aos 80 anos em 2026, como também contribui para um debate necessário sobre quem merece ser enredo. Em um tempo em que tantos sambistas deixam o mundo sem reconhecimento em vida, celebrar Ciça agora é um gesto necessário. É fazer justiça para aqueles que constroem o samba com o corpo e com a alma, muitas vezes longe dos holofotes.
Com “Pra Cima, Ciça!”, a Viradouro não está apenas fazendo história. Está dando um exemplo. Está mostrando que homenagens não precisam esperar a ausência. Que mestres merecem flores em vida. Que o samba é feito de gente. E que, quando essa gente é gigante, como Ciça, a Avenida inteira tem que se curvar. Em 2026, o coração da Sapucaí vai bater diferente. Vai bater com o ritmo de um mestre. Vai bater no tempo do Ciça.
No Dia Internacional da Prostituta, 02 de junho, a Unidos do Porto da Pedra abriu as portas da sua quadra de ensaios, em São Gonçalo, para apresentar a sinopse do enredo que levará para a avenida no carnaval de 2026. A escola apresentará “Das Mais Antigas da Vida, o Doce e Amargo Beijo da Noite”, que aborda a história da prostituição, tema do carnavalesco Mauro Quintaes com pesquisa de Diego Araújo. Em 2026, o Tigre será a sexta escola a desfilar no sábado de carnaval da Série Ouro. * LEIA AQUI A SINOPSE
Rumo ao oitavo carnaval na Vermelha e Branca de São Gonçalo, o carnavalesco Mauro Quintaes conversou com a reportagem do CARNAVALESCO sobre a ideia do enredo da Porto da Pedra para 2026. O enredo sobre as prostitutas completa uma trilogia iniciada pela escola na década de 1990.
“O presidente Fábio Montibelo me chamou e falou, mano, vamos concretizar aquele sonho e vamos fazer o enredo, acho que é o momento. Esse enredo hoje está sendo assinado por mim, mas muitos já pensaram, como o próprio Alex, o nosso eterno rei Momo, que também tem esse enredo e está colaborando com a gente. Acho que todo mundo sempre teve uma ‘puta’ guardada dentro de si, só que a Porta da Pedra teve a coragem de botar para fora”, disse Mauro Quintaes.
Mauro Quintaes também explicou o desenvolvimento do enredo da Porta da Pedra. A pesquisa foi desenvolvida pelo artista em parceria com o enredista Diego Araújo, que o acompanha desde o carnaval de 2022, em São Paulo.
“É um enredo que traz o histórico na abertura, depois a gente traz o contemporâneo no meio do desfile e fechamos com a luta política dessas mulheres, desses homens, de todas as comunidades. Todos estão sendo contemplados no texto de uma maneira ou de outra. É um enredo abrangente, necessário, e desde o começo, ele tem o mote central, o fio condutor, que é o respeito pela classe”, resumiu.
De acordo com o carnavalesco Mauro Quintaes, a partir do início da pesquisa para o enredo da Porto da Pedra para o carnaval de 2026, o universo das polacas, mulheres judias do Leste Europeu que foram trazidas para o Brasil no século XIX, principalmente para o Rio de
Janeiro, e foram forçadas à prostituição, foi o que mais lhe despertou a atenção.
“Mergulhei muito no universo das polacas, no triste universo das polacas, o que elas construíram, o primeiro cemitério, uma sinagoga. Eu fiquei muito imaginando o que se deve ser de uma pessoa que vem contrabandeada para um país como o Brasil, aqui se vê obrigado a se colocar em prostituição e não poder nem ser enterrada em solo sagrado. O primeiro grande coletivo brasileiro dentro do Rio de Janeiro foi o coletivo das polacas, acho que vale a pena vocês acharem o filme ‘Polacas’, vale a pena a gente tentar fazer uma visita ao cemitério das polacas, que é um cemitério que está fechado e é difícil acesso”, disse. Muito aguardado, o enredo sobre as prostitutas proporciona inúmeras possibilidades e ideias de desenvolvimento. Um dos desafios do carnavalesco Mauro Quintaes foi fazer um recorte do tema dentro do tamanho de um desfile da Série Ouro. “Todos os enredos que eu contemplei a Porto da Pedra caberiam dentro do Grupo Especial”, disse Mauro.
“O ideal seria poder colocar mais carros, mas a gente está dentro do regulamento, tem que trabalhar assim, e vamos torcer para que tudo dê certo, fazer a Porto da Pedra reassumir o seu lugar de campeã da Série Ouro e subir para o Grupo Especial”, completou.
Em 2026, a Unidos do Porto da Pedra será a sexta escola a desfilar no sábado de carnaval da Série Ouro, com o enredo “Das Mais Antigas da Vida, o Doce e Amargo Beijo da Noite” , de Mauro Quintaes, com pesquisa de Diego Araújo.
Dando início aos preparativos para o Carnaval 2026, a ‘Crias da Imperatriz’, escola mirim da Imperatriz Leopoldinense, realiza nas próximas terça (08/07) e quinta (10), das 18:30 às 21:30, as inscrições para seus desfilantes. A faixa etária para quem deseja desfilar na escola mirim vai de 5 aos 21 anos de idade, e os responsáveis interessados devem levar até à quadra da Imperatriz, em Ramos, Zona da Leopoldina do Rio, a seguinte documentação: xerox da identidade da criança ou certidão de nascimento, comprovante de residência, declaração escolar e xerox da identidade do responsável.
Nos mesmos dias e horários, além do cadastramento para o desfile, a agremiação também irá promover as inscrições para o concurso que vai definir o intérprete da escola no ano que vem.
Rafaela Theodoro, presidente da ‘Crias da Imperatriz’ e primeira porta-bandeira da escola-mãe, define o início dos trabalhos com as crianças como “um grande sonho” e deixa o convite para que todas participem.
“Preparem-se, porque nossa escola mirim está de portas e corações abertos para todas as crianças! Sim, é isso mesmo: você é muito bem-vindo aqui! Venha fazer parte desse sonho e construir conosco uma linda história!”, afirmou Rafaela, que contará com Mestre Lolo como vice-presidente e com os presidentes de honra, Catia e João Drumond.
Criada no início deste ano, a ‘Crias da Imperatriz’ irá levar para a Marquês de Sapucaí em 2026 uma homenagem a Rosa Magalhães, reeditando o histórico enredo “Uma delirante confusão Fabulística”, do Carnaval de 2005 da verde, branco e dourado. O desfile será idealizado pelo carnavalesco Leandro Vieira.
A quadra da Imperatriz Leopoldinense fica na Rua Professor Lacé, 235, em Ramos.
Serviço:
Inscrições para desfile e concurso de intérprete da “Crias da Imperatriz”
Dias: 08/07 (terça) e 10/07 (quinta)
Horário: das 18:30 às 21:30
Documentos necessários: xerox da identidade da criança ou certidão de nascimento, comprovante de residência, declaração escolar e xerox da identidade do responsável. (Faixa etária de 5 a 21 anos)
Endereço: Quadra de Ensaios da Imperatriz- Rua Professor Lacé, 235, Ramos
Existem fronteiras entre as chamadas “artes carnavalescas” e a tão discutida “arte contemporânea”? Os carnavalescos da Unidos de Vila Isabel, Gabriel Haddad e Leonardo Bora, acreditam que não – e a crença nos transbordamentos artísticos que eles defendem acaba de ser agraciada com um dos mais importantes prêmios da arte brasileira. A dupla, que assina o desfile de 2026 da azul e branca de Noel, foi surpreendida nesta sexta-feira com a notícia de que venceu o Prêmio Pipa 2025.
Esta é a primeira vez que artistas cujos trabalhos de maior destaque foram criados para o Carnaval vencem a premiação, algo que, na visão de Haddad, revela uma mudança de olhar para o complexo artístico dos desfiles das escolas de samba: “Recebemos essa notícia com muita alegria e muita emoção. Para nós, os desfiles das escolas de samba são, é claro, uma manifestação artística contemporânea. Que sempre foi contemporânea e esteve na vanguarda, disputando a cidade, pautando os temas do país sob múltiplos olhares, contando histórias, promovendo debates públicos, inventando tecnologias, fundindo linguagens…”
Bora também comemorou o prêmio e falou sobre a sensação de fazer parte de uma continuidade: “Nós, carnavalescos, trabalhamos com linguagens artísticas plurais, que se renovam a cada dia, no calor dos barracões e na agitação dos ateliês. Na década de 1980, a inventividade de Fernando Pinto gerou uma exposição e alguns debates sobre a natureza daquele trabalho – se era ou não era arte. Algo que hoje nos parece absurdo! Joãosinho Trinta e Rosa Magalhães participaram de bienais e fizeram exposições, nos anos 90. Mais recentemente, Leandro Vieira ocupou o Paço Imperial e foi indicado para o Prêmio Pipa de 2020. Quando eu e Gabriel vemos o nosso trabalho artístico, que tem dimensões individuais e coletivas, exposto no Museu de Arte do Rio, no SESC Pinheiros ou no CCBB, entendemos que isso é um processo”.
Ele explica que a premiação revela um reconhecimento extremamente importante do trabalho que exercem, mas não encerra a busca por evolução na trajetória artística. “A premiação do Pipa é um outro passo nessa caminhada ainda tão longa, jamais um ponto de chegada. Desejamos que o nosso trabalho continue conectando artistas e propondo discussões, provocando os sentidos e as certezas das pessoas, desafiando. Nós já trabalhamos em colaboração com pessoas que foram indicadas ou mesmo ganharam o Pipa. Celebramos a entrada nessa lista e a nossa trajetória até hoje, mas não podemos nos dar ao luxo do deslumbramento nem queremos acomodação. O nosso lema é fazer arte e as artes do Carnaval são de uma potência infinita”, finaliza Bora.
Apesar de evoluções, os artistas do Carnaval ainda enfrentam um olhar excludente sobre seu trabalho: “É estranho pensar que nós, carnavalescos, muitas vezes não somos lidos como artistas. É incrível, mas às vezes as pessoas perguntam: ‘vocês são artistas?’ Ou então usam a palavra artista como forma de diferenciação, numa tentativa esquisita de expressar um elogio, não numa dimensão de trabalho. Isso revela um olhar excludente e hierarquizante, ainda preso a noções enferrujadas como ‘alta’ e ‘baixa cultura’ ou ‘cultura popular’ e ‘cultura erudita’ – noções essas que, no Brasil, se conectam às estruturas do racismo e do classismo que historicamente quiseram diminuir a importância do samba, do carnaval e das suas linguagens artísticas. Ganhar esse importante prêmio não deixa de revelar, portanto, uma mudança de olhar, um reconhecimento. Cada desfile de escola de samba é construído por muitos artistas – infelizmente, a maioria permanece no anonimato. Se esse olhar para o nosso trabalho levantar novos e plurais debates sobre as potências artísticas das escolas de samba, já ficamos orgulhosos”, declara Haddad.
O prêmio é uma iniciativa do Instituto Pipa, criado em 2010, para destacar e promover a arte contemporânea brasileira. Entre os objetivos da premiação, está incentivar artistas, motivar a sua produção e valorizar o cenário artístico nacional. Anualmente, depois que um júri de pesquisadores é formado, uma lista de indicados é divulgada. Os nomes elencados passam a ter o conjunto da sua produção artística recente observado e avaliado. Dessa lista, quatro artistas (individuais ou coletivos) são premiados pelo júri.
O trabalho da dupla Bora-Haddad tem características marcantes, que pavimentaram o caminho que levou ao Pipa: a construção de narrativas circulares que dialogam com as memórias das próprias escolas, a desconstrução e o uso alternativo de materiais, o gosto por formas inusitadas, o apreço pelas técnicas artesanais, pelas sobreposições e pelos saberes tradicionais, o uso expressivo da iluminação cênica, o trabalho em colaboração com outros artistas etc.
Agora, os carnavalescos da Unidos de Vila Isabel, juntamente com os outros artistas premiados, terão uma agenda de trabalhos que culminará em uma exposição coletiva cujos detalhes ainda não foram revelados. “Estamos preparando um enredo sobre um multiartista brasileiro, Heitor dos Prazeres, alguém que misturava artes e foi premiado na primeira Bienal de São Paulo. No meio desse diálogo sambista, surge o Prêmio Pipa, fazendo com que a gente olhe para o conjunto dos trabalhos artísticos que já desenvolvemos e queira projetar o próximo desfile com ainda mais entusiasmo. É muita alegria!”, exclama Bora.
A Independentes de Olaria levará para a Intendente Magalhães o enredo “O balanço do cabra que embolou o som e no compasso da mistura fez um Brasil pandeiro”, desenvolvido pelos carnavalescos Ariel Portes e Ester Domingos. A escola mergulha na trajetória vibrante de Jackson do Pandeiro, mestre da síncope, gênio da mistura e rei do ritmo brasileiro. O enredo será conduzido pela musicalidade que marca a trajetória do homenageado, exaltando suas raízes, sua genialidade rítmica e seu legado.
Jackson foi mais que músico, foi revolução. Em sua cadência, nasceu um Brasil pandeiro – mestiço, ousado, popular e inventivo. Um país que dança sua própria confusão rítmica com orgulho e liberdade. A escola homenageia esse cabra que não se limitou ao compasso, mas reinventou o tempo e ensinou o país a dançar no ritmo da mistura.
Segundo a Independentes de Olaria, a escolha de Jackson se dá não apenas pela grandeza de sua obra, mas também por uma ligação afetiva e histórica com o bairro de Olaria, onde viveu por um período e onde sua presença ainda ecoa na memória de muitos moradores antigos. Olaria é um bairro tradicionalmente operário, de forte identidade nordestina e musical, características que dialogam diretamente com a figura do homenageado — um artista que soube como poucos traduzir a alma do povo brasileiro em ritmo, melodia e poesia.
Em entrevista ao canal LeoDias TV, a atriz e rainha de bateria do Acadêmicos do Salgueiro, Viviane Araujo, fez um forte desabafo sobre o resultado da escola no Carnaval 2025. A agremiação terminou na sétima colocação do Grupo Especial e ficou fora do Desfile das Campeãs, realizado no sábado seguinte à apuração. Ícone salgueirense e símbolo da escola há mais de 15 anos, Viviane não escondeu a emoção ao comentar sobre a colocação.
“Fiquei muito triste esse ano. Nunca fiquei tão triste em todos esses anos que estou no Salgueiro. Me deu uma dor… chorei de verdade. Estava na apuração, fui para casa, fiquei muito mal”, revelou.
A rainha, que desfilou à frente da bateria “Furiosa”, ressaltou que a escola teve uma apresentação consistente e que, embora reconheça pequenas falhas, acredita que o julgamento foi rigoroso em alguns quesitos.
“A gente não merecia. Tivemos pequenas falhas, a avenida é isso, você tem que ser perfeito para tirar 10. Mas fomos um pouco injustiçados em alguns pontos”, completou.
Apesar do desabafo, Viviane reforçou seu amor incondicional pela vermelho e branco. Ela é considerada uma das figuras mais caristmáticas da escola nas últimas décadas e mantém forte ligação com a comunidade salgueirense, sendo constantemente ovacionada na quadra e durante os ensaios de rua.
Um novo ciclo à frente
Apesar da frustração pelo resultado, a comunidade salgueirense já iniciou sua preparação para o Carnaval 2026, com a promessa de um desfile ainda mais competitivo. Edson Pereira foi mantido como carnavalesco, e a expectativa é que a escola anuncie em breve o novo enredo.
Viviane Araújo, como de costume, reafirmou que estará firme com a Furiosa e prometeu dedicação redobrada. “A dor a gente transforma em força. Nosso povo é guerreiro. A gente vai voltar com tudo”, disse em suas redes sociais.
Ao contrário do que estava acontecendo nos últimos anos, o Barroca Zona Sul não realizou uma festa de lançamento do próprio enredo para o carnaval 2026. Ao invés de um evento, a Faculdade do Samba optou por publicar nas próprias redes sociais da agremiação uma postagem revelando que “Oro Mi Maió Oxum” será a temática da agremiação para o próximo desfile no Grupo Especial.
Para trazer mais informações para comunidade, torcedores e admiradores da verde e rosa e de todo o mundo do samba, o CARNAVALESCO entrevistou Pedro Alexandre, popularmente conhecido como Magoo, carnavalesco da agremiação, que relatou como será o desenvolvimento da temática e um pouco da expectativa em relação à agremiação.
Mais do que acostumado a falar de temáticas africanas, o Barroca novamente falará sobre um orixá – em 2025, a escolhida foi Iansã. Além de todas as pesquisas realizadas pelo carnavalesco, Magoo destacou que filhos da homenageada foram ouvidos: “A gente seguiu um ponto que muitas pessoas que são de Oxum nos falaram: todas elas diziam que Oxum é amor. À medida que eu fui estudando a história dela, várias e pessoas foram agregando com pontos diferentes. Dava para ter uns três enredos sobre essa orixá de acordo com tudo que ouvimos– assim como foi com Iansã”, comemora.
Foto: Will Ferreira/CARNAVALESCO
Após o natural filtro necessário para criar o enredo, Magoo revelou um pouco do fio condutor do que será exibido na avenida: “Mas o que eu escolhi fazer foi começar contando um pouco dela, como surgiu a ligação dela com o povo da Nigéria – tudo isso já no começo, já tenho boas histórias a respeito. Depois, a gente vai contar as grandes histórias de Oxum e vamos falar dos seus grandes amores: a relação de Oxum com Xangô, a relação de Oxum com o Oxóssi, o amor de mãe com Logun Edé, o amor pela humanidade, os itãs dela que que mostram aquele amor que a fez se sacrificar pelo próprio povo”, destacou.
Um sentimento, basicamente, será o norte do que será visto no Anhembi em 2026. “Basicamente, a gente vai contar e vai narrar essa história. Vai ser uma grande história de amor, mostrar todo o amor dessa orixá e o sentimento que ela tem por todos. O que a gente vai mostrar na Avenida é que Oxum amou intensamente”, vislumbrou.
Ritmo acelerado
Magoo também comemorou o andamento do trabalho verde e rosa na Fábrica do Samba: “A gente já começou com o trabalho de barracão há um tempinho – o que inclui alegorias e fantasias, também”, exaltou. Vale destacar, também, que o trabalho adiantado da escola é tradicional no Barroca.
Uma visão semelhante do calendário da escola também foi revelado: “Eu não gosto de festa de pilotos e o Barroca também não curte, então a gente resolve isso de uma maneira mais interna: fazemos os pilotos, mostramos para a diretoria – que aprova e já começa a trabalhar na parte mais teórica: ficha a técnica, obtenção de material, ida para o ateliê e pronto”, detalhou.
O profissional também destacou que algumas indumentárias já estão, inclusive, prontas: “A gente já tem umas alas distribuídas, conforme nós vamos fazendo já vamos distribuindo. Fazendo em paralelo dessa maneira, a gente já está com trabalho de barracão e de fantasia – por sinal, a gente já tem ala na rua”, ratificou.
Sem tempo para frustração
O ciclo do carnaval de 2025 do Barroca foi marcante. Após o desfile que marcou o cinquentenário da verde e rosa, a agremiação tinha, reconhecidamente, um dos melhores sambas-enredo da safra – que cresceu de maneira exponencial a partir do minidesfile. A canção, por sinal, foi a vencedora do Estrela do Carnaval (premiação organizada e concedida pelo CARNAVALESCO) da temporada – e teve uma apresentação apoteótica no evento.
No desfile oficial, entretanto, um problema com a segunda alegoria causou problemas também na evolução. O resultado foi a décima segunda colocação na apuração, empatado em pontos com a décima terceira colocada Acadêmicos do Tucuruvi – primeira escola a ser rebaixada para o Grupo de Acesso I.
Se o pior foi evitado, Magoo não esconde que o clima no Jabaquara era lacônico: “A gente criou uma expectativa muito boa para o último carnaval em relação ao resultado. Infelizmente aconteceu aquilo lá na avenida, o carro bateu e o resultado… o desfile foi legal, foi bonito, o Barroca veio bem para caramba. Só que, confesso: a gente ficou meio na deprê quando acabou o carnaval”, assentiu.
Para afastar a sensação ruim, a solução dada pelo carnavalesco foi trabalhar: “Eu virei para o presidente e falei para ele escutar o que eu estava falando: a gente só vai esquecer um carnaval pensando no outro. Já vamos emendar com 2026, vamos embora”, disse.
A orixá não era a única alternativa para a Faculdade do Samba: “A gente já tinha umas três opções de enredo e um deles era esse, de Oxum. Na verdade, quando a gente lançou o enredo sobre Iansã, já tinha uma parcela de pessoas da escola que já perguntaram naquela época porque o tema não poderia ser Oxum. Para responder, a gente sempre falava que tudo tinha hora”, desconversou.
A decisão, entretanto, não foi difícil de ser tomada: “Encerrado o carnaval 2025, eu já comecei a pesquisar a história e eu trouxe um resumo da temática para o presidente e para a diretoria. Todos gostaram e nós definimos. Chamamos o pai Douglas, que é o que faz a orientação espiritual do Barroca e ele, de prontidão, também gostou muito. Já começamos a desenvolver logo depois que acabou o carnaval e já estamos nessa loucura. Praticamente a gente não teve férias e emendou um carnaval no outro”, arrematou.
Nada de terra arrasada
Apesar do tumultuado desfile, Magoo entende que o desfile do Barroca em 2025 foi empolgante e possui muitos pontos positivos: “Quando eu vi tudo que aconteceu com o segundo carro, eu só pensava que, em 2026, a gente daria a volta por cima com certeza! É engraçado porque uma das coisas que fez com que a gente escolhesse o enredo sobre Oxum é que Oxum não admite erro. Pode ter certeza, o Barroca não vai errar dessa forma novamente. Foi um erro individual – mas, se está na escola, isso se torna coletivo”, prometeu.
O carnavalesco encerrou a fala com o sentimento de toda a comunidade barroquense: “Em 2026, a gente vai com um carnaval bonito. Foi um carnaval legal o que o Barroca apresentou em 2025. A gente veio com uma plástica bonita, veio o pessoal animado, sambão. A gente vem da mesma forma em 2026 – e a gente vem sem cometer erros. A gente vem competitivo para 2026, pode esperar”, finalizou.
O reinado continua! Jorge Amarelloh irá para o seu quarto ano à frente da bateria Sintonia de Cavalcanti no Carnaval de 2026. Rei de bateria da Em Cima da Hora, Jorge firmou seu nome junto à comunidade azul e branca e seguirá reinando com os ritmistas comandados pelo mestre Léo Capoeira. Carinhosamente conhecido como “Reizinho de Cavalcanti”, Jorge estreou à frente da bateria no Carnaval de 2022 e continuou nos desfiles de 2023 e 2025. Reconhecido internacionalmente por sua dedicação à divulgação da cultura popular e pelo samba no pé, o sambista enalteceu a agremiação pela confiança em seu nome.
“Estar à frente de uma bateria não é fácil, ainda mais sendo uma figura masculina. Só tenho a agradecer à presidência e a toda a diretoria da escola pela confiança, ao meu mestre e a cada ritmista que está ali. Recebo carinho a cada ensaio, a cada evento. Estar com eles e com essa comunidade que tanto me acolheu é me sentir em casa. Vamos com tudo rumo a 2026”, revela Jorge.
A Em Cima da Hora será a segunda escola a desfilar no sábado de Carnaval pela Série Ouro em 2026. A azul e branca levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “SOCOA-Y-REMA: Onde o altar encontra o mar”, do carnavalesco Rodrigo Almeida.
A X-9 Paulistana revelou o enredo com o qual promete emocionar o Anhembi no Carnaval 2026. Intitulado “Yvy Marã Ei: A busca pela terra sem mal”, o tema mergulha na cosmovisão dos povos guaranis, trazendo à avenida uma potente reflexão sobre a espiritualidade indígena, a destruição ambiental e os desafios da humanidade contemporânea. Sob o comando do carnavalesco Amauri Santos e com enredo assinado por Leonardo Dahi, a agremiação da Zona Norte de São Paulo levará para o desfile a ancestral saga guarani em busca de um lugar sagrado, onde não existe fome, doença ou qualquer tipo de mal: a Terra sem Mal. A narrativa parte de um mito fundacional desses povos, no qual o Criador, ao se decepcionar com os rumos da humanidade, envia um grande incêndio seguido de um dilúvio como forma de purificação.
De acordo com a proposta do enredo, os guaranis teriam sido poupados e passaram a viver em constante busca por essa terra prometida. O texto divulgado pela escola propõe um paralelo entre o mito e a realidade atual, destacando que os “novos incêndios” — provocados pela ação humana — ameaçam novamente o sonho da Yvy Marã Ei. A proposta é não apenas exaltar a resistência dos povos originários, mas também convocar a sociedade a repensar sua relação com o planeta.
A X-9 Paulistana aposta mais uma vez na força de enredos com crítica social e apelo cultural. Em 2025, a escola apresentou o tema “X-9 é Nordeste”, também assinado por Amauri Santos, com forte viés político e representativo. Agora, para 2026, promete uma abordagem igualmente densa e simbólica, costurada por referências mitológicas, ecológicas e de resistência indígena.
Com o anúncio do enredo, a escola inicia oficialmente sua preparação rumo ao próximo desfile. A expectativa é de que o tema sensibilize jurados e público ao unir arte, espiritualidade e urgência ambiental na Passarela do Samba.