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Coesa, Independente equilibra competência em quesitos com samba aclamado

Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins

Samba bom, comunidade que canta, ótimo staff… com tais características, absolutamente qualquer escola pode, tranquilamente, pensar em título. E, é bem verdade, todo o desfile da Independente Tricolor, quarta escola a desfilar na sexta-feira de carnaval (09 de fevereiro), teve tais características. Houve, entretanto, um quesito que pode causar certa preocupação para a instituição da Zona Norte paulistana. Defendendo o enredo “Agojie, a Lâmina da Liberdade!”, idealizado pelo carnavalesco Amauri Santos, a agremiação da Vila Guilherme teve destaque na Comissão de Frente, no Samba-Enredo e na Harmonia, mas teve alguns pontos de observação em Alegorias na apresentação encerrada em uma hora e quatro minutos.

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Comissão de Frente 

Coreografada por Arthur Rozas e intitulada “Soberania Sagrada”, haviam três grupos diferentes de bailarinos. O primeiro deles, representado por uma única mulher de cabeça raspada, a “Força Espiritual Feminina”, ora aparecia, ora ia para um pequeno tripé , que era envolto por escudos. Tais artefatos era pegos pelos “Guerreiros de Daomé”, mostrando o lado místico africano para captar a energia vodum nos objetos de defesa. Também existiam as mulheres, a “Soberania Feminina”, que representavam todas as afrodescendentes que lutam pelos próximos e pelo próprio povo. Sem erros de execução e com uma fantasia e pintura inteira dourada, o segmento teve ótima apresentação.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Jeff Antony e Graci Araujo vieram fantasiados como “Mama África e o Criador”, juntamente com os guardiões “Asase Ye Duru” (“A Terra Tem Peso”, em português). Com exibições tranquilas no primeiro e no último módulo, a porta-bandeira sustentou com muita galhardia o pavilhão na segunda e na terceira cabine, que tinham mais incidência de vento. Quanto a Jeff, vale destacar o trabalho das pernas, bastante céleres. No geral, ótima apresentação do casal.

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Enredo

Muito focada no matriarcado africano, o enredo da Independente buscava exaltar toda a força das mulheres afrodescendentes, símbolo de força e resistência – sobretudo na defesa dos próximos. Personificadas no nome do enredo, as agojies eram guerreiras que defendiam o antigo reino de Daomé (atual Benim) entre os séculos XVII e XIX. Altamente respeitado, o exército feminino foi exaltado mais uma vez – agora, no carnaval paulistano. A cabeça da escola buscava focar na ancestralidade – trazendo, por exemplo, o exército de Zazzau, Agotime e as candaces; depois, mais detalhes sobre o reino defendido pelas Agojies foram exemplificados – como o ritual vodum e os marfins sagrados; ainda adiante, um lado mais místico e o legado da cor das guerreiras africanas em questão era apresentado. Por fim, o último carro alegórico valorizava a imortalidade do exército retratado pela Independente. Além de todas as pontuações estarem propostas no enredo, tudo também estava no samba-enredo, facilitando ainda mais a compreensão do público.

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Alegorias

Os quatro carros, bastante altos, impressionavam pela beleza, imponência e brilho. Sem falhas na execução, haviam, entretanto, alguns leves descuidos quando observados mais de perto – e isso nada a tinha a ver com tecidos, adornos, esculturas ou algo do gênero. A questão versava, sobretudo, sobre detalhes nas extremidades de cima e de baixo dos carros. O abre-alas, “Ancestralidade”, tinha rodinhas aparentes no pede-passagem, algo que também se repetia na quarta alegoria – de nome “Imortalidade”. Por fim, o terceiro carro, intitulado “Agojiie e a Misticidade de Daomé”, possuía uma alça aparente acima da escultura de uma das guerreiras.

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Fantasias

A primeira ala da escola, “Culto Às Mães Ancestrais”, tinha uma fantasia bastante luxuosa, com tecidos bem mais caros que o de outras coirmãs e apostando em cores mais escuras – como o preto e o roxo. Nas demais vestimentas do primeiro setor, o altíssimo nível se manteve. É bem verdade que, após a “cabeça” (jargão carnavalesco para se referir ao começo de uma apresentação), os materiais utilizados não aparentavam mais ser os mesmos – o acabamento, entretanto, seguia de ótima qualidade, tal qual os costeiros, adereços de mão, adornos e etc. Vale destacar, também, a ala 15, “Agojie, Luta e Fundamento”, de ótima concepção.

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Harmonia

Desde 2023, quando retornou ao Grupo Especial, a Independente tem se destacado como uma escola que canta bastante e de maneira uniforme, sem deixar a peteca cair em ala alguma. Tal situação, mais uma vez, se repetiu em 2024. É bem verdade que, à priori, o canto não foi tão impactante quanto nas demais apresentações da Tricolor no Anhembi (talvez porque a reportagem acostumou-se a ouvir os componentes a pleníssimos pulmões), mas tal quesito não deve ser uma preocupação da instituição no dia da leitura das notas.

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Samba-enredo

Composto por Maradona, André Diniz, Evandro Bocão e Chitão. a canção da Independente em 2024 é muito elogiada por boa parte da comunidade carnavalesca paulistana. A obra também possui uma característica bastante marcante: mesmo falando de um tema afro, com mulheres que faziam parte de um exército, a música possui um tom bastante animado – algo que não é muito característico em temas com tal encaminhamento. O samba-enredo, por sinal, foi muito bem conduzido por Chitão Martins, compositor e intérprete do samba, tendo o DNA bastante “para cima” que já se tornou marca registrada do artista – ajudado por um carro de som que tinha outro já histórico nome da agremiação: Rafael Pinah, retornando à escola. A Ritmo Forte, pelo segundo ano comandada por Mestre Cassiano Andrade, não deixou de executar algumas bossas (embaladas pelo clima afro do desfile), mas focou em sustentar o samba para que o componente tivesse ainda mais facilidade em cantá-lo.

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Evolução

Sem ter problema algum com quesitos mais técnicos em 2023, a Independente teve um desafio mínimo em relação a tal segmento. Encerrando o desfile com uma hora e quatro minutos, é de se imaginar que, em algum momento, a Independente tenha apertado o passo para não ter problemas. E, de fato isso aconteceu. O segredo para que tal mudança fosse quase que imperceptível foi o momento no qual tal rápida celeridade instantânea aconteceu. Ao invés de ser no final (quando todos já começam a prestar atenção naturalmente em eventuais mudanças na Evolução), a Tricolor teve uma discreta e progressiva mudança ao longo do desfile, tornando tal eventualidade quase irrelevante. Outro bom momento do quesito foi o recuo da bateria: com um movimento simples quando a ala à frente ainda estava na metade do box, demorou cerca de oitenta segundos para que o agrupamento que estava atrás tomasse todo o espaço – em tempo bastante adequado.

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Outros Destaques

Ainda na concentração, a Ritmo Forte, comandada por Mestre Cassiano Mendes, teve uma ótima sacada para introduzir a canção: com exceção do surdo de terceira e da cuíca, todos os ritmistas batiam palmas sincronizadas no ritmo do samba-enredo fazendo um círculo imaginário à frente do corpo. Sobre o segmento, por sinal, vale destacar a rainha dos ritmistas, Mileide Mihaile, única na corte da bateria.

Acadêmicos de Niterói: fotos do desfile no Carnaval 2024

União de Maricá faz desfile de visual estético rico e de ótima harmonia, embalada pelo samba e bateria

Por Rafael Soares e fotos de Nelson Malfacini

A escola foi a sexta a se apresentar na Marquês de Sapucaí nesta sexta-feira de carnaval da Série Ouro. A tricolor levou o enredo “O Esperançar do Poeta” para a avenida. O desfile da União de Maricá mostrou uma defesa de quesitos muito competente através de seu time gabaritado. Já na comissão de frente houve um grande impacto pela apresentação inspirada dos componentes com muito samba no pé. O casal de mestre-sala e porta-bandeira vestia uma indumentária riquíssima e teve um bailado leve e seguro, apesar de uma pequena falha na segunda cabine. A harmonia teve grande destaque, com praticamente todas as alas cantando com bastante volume o bom samba-enredo, defendido com maestria pelos cantores e bateria da agremiação. A evolução também se mostrou muito competente, sem qualquer tipo de sobressalto, muito tranquila. Chamou muito a atenção o altíssimo nível de alegorias e fantasias da escola na avenida. Com excelente acabamento, cores vivas e muito luxo, a parte plástica foi de excelência. A União de Maricá encerrou seu desfile com 52 minutos.

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Comissão de Frente

Com o nome de “O Som do Morro”, a comissão de frente assinada pelo coreógrafo Patrick Carvalho trouxe um grupo de 15 componentes, entre homens e mulheres, além de um menino. Todos eles estavam vestidos como malandros, com roupas e maquiagem com aspecto de sujeira. Os integrantes mostraram muito samba no pé, primeiramente no chão e depois em cima do tripé, onde ficaram a maior parte do tempo da apresentação. O elemento tinha escadas e um grande pandeiro, que girava e inclinava durante o número. Os bailarinos seguiram sambando mesmo quando girava, e faziam poses, como se fossem estatuas, quando este inclinava. Uma apresentação muito forte, que cativou o público, gerando muitos aplausos.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Fabrício Pires e Giovana Justo, veio com uma fantasia que representava “A Lua e o Compositor”, uma das maiores parcerias do samba, já que o astro seria uma fonte de inspiração para os poetas. A indumentária dos dois era muito rica e luxuosa, em branco, rosa, roxo e azul. O bailado da dupla foi bem tradicional, com pouquíssimos momentos mais coreografados. Giovanna sorriu o tempo todo e mostrou uma dança bem suave e segura, talvez atrapalhada pelo peso da fantasia. Fabrício acompanhou o mesmo ritmo de sua parceira, cortejando com muita graça nas interações. A boa apresentação da primeira cabine, não se manteve na segunda, onde Fabrício errou uma pegada de bandeira, a deixando escapar. Isso pode gerar uma penalização do jurado.

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Samba-Enredo

O samba da União de Maricá tem uma letra bastante poética, que fala sobre a vida de um humilde compositor, passando muito bem a ideia do enredo. A melodia é dolente e possui belas variações. Composto por Rafael Gigante, Vinícius Ferreira, Júnior Fionda, Camarão Neto, Victor do Chapéu, Jefferson Oliveira, Marquinho Abaeté e André do Posto 7, a obra musical teve ótimo rendimento na avenida. Os intérpretes Nino do Milênio e Matheus Gaúcho mostraram um desempenho muito competente ao cantar o samba, embalados pela bateria de mestre Paulinho. Esse rendimento foi acompanhado na totalidade pelos componentes da escola, que entoavam a obra musical com vontade.

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Harmonia

A comunidade de Maricá teve um canto excelente em seu desfile. O principal trecho entoado pelos componentes foi o refrão principal, mas é importante destacar que toda a obra teve bom volume. Mostrando bastante regularidade entre suas alas, a harmonia não caiu em nenhum momento do cortejo. O entrosamento com o carro de som e a bateria foi excelente, produzindo um uníssono. Várias alas se destacaram no canto, entre elas a “Só Falta Alguém Espremer o Jornal” e a “Vida Dolorida pra lá de Sofrida”. Talvez as alas com estandartes maiores tiveram seu canto um pouco mais abafado pelos adereços, mas sem comprometer o conjunto.

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Evolução

A evolução da agremiação foi muito consistente durante a passagem pela Sapucaí. O ritmo de desfile se mostrou excelente para os componentes, fazendo com que eles tivessem bastante espaço para cantar e brincar o carnaval. Foram marcantes a espontaneidade e alegria dos integrantes. Algumas alas coreografadas abrilhantaram o desfile, sem causar problemas na evolução. Não houve qualquer tipo de correria ou lentidão, nem a abertura de espaçamentos anormais. A escola encerrou o desfile em 52 minutos, com tranquilidade.

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Enredo

Em sua estreia na Sapucaí, a União de Maricá apresentou o enredo “O Esperançar do Poeta”, uma homenagem ao papel social, cultural e humanitário presente no ofício do compositor. As alegorias tiveram uma leitura mais fácil por conta de seus elementos e acabamento de alto nível. As fantasias também eram belas, mas não tinham uma leitura tão facilitada assim, por guardar mensagens mais profundas e mais difíceis de traduzir nos figurinos. Além de alguns sambas específicos que também foram retratados nas fantasias, que não geravam identificação imediata.

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Fantasias

O conjunto de fantasias apresentado pela Maricá em seu desfile foi de ótimo nível estético. Primando por um bom acabamento, com materiais de excelência, a paleta de cores foi bastante explorada, gerando lindas combinações. Muitas alas também traziam adereços de mão, em especial estandartes, que geravam uma massa de volume e cor, deixando tudo ainda mais imponente. Muitas fantasias se destacaram no cortejo, entre elas a das passistas “Já Raiou a Liberdade”, a da ala 12 “Amor, Sonhei com os Anjos”, e a da ala 13 “Sonho Meu, Eu Sonhava que Sonhava”.

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Alegorias

O conjunto alegórico da escola foi marcado pela riqueza e pelo ótimo acabamento. Talvez a iluminação tenha sido tímida, mas a beleza e o brilho eram tantos, que não comprometeu. O carro abre-alas, intitulado “Tempo de Compor”, representava os lugares e espaços onde um compositor consegue o encontro perfeito com a inspiração, fazendo fluir a imaginação e criatividade, com a presença de diversos elementos que auxiliam nesse processo, como as pipas, as flores, os pássaros e a lua. A alegoria era muito bonita, com ótimas combinações de cores e acabamento excelente. Apenas uma escultura de violão na lateral do carro teve uma avaria.

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Na sequência do desfile, a segunda alegoria da União de Maricá, de nome “E Aquela Gente de Cor com a Imponência de Rei Vai Pisar a Passarela”, representava o samba-enredo e o carnaval como momento de poder coroar os sambistas, reconhecendo suas conquistas e perpetuando seu legado. As burrinhas eram elementos de retorno ao passado, a baiana coroada significava a glória do sambista e da figura feminina, e os três estandartes representavam os prêmios conquistados pelo compositor Guará. O carro mostrou ser muito imponente. A escultura central da baiana era bem alta e girava. As burrinhas na frente também se mexiam, como se estivessem cavalgando, gerando belo efeito. Muita riqueza de materiais e acabamento foi visto no carro, também com lindo uso das cores.

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Já a terceira e última alegoria da agremiação, intitulada “Pra Reunir a Garotada e Proteger Meu Amanhã”, representava a fé depositada pelos poetas na proteção das crianças, com a esperança de viver um futuro mais justo, igualitário e próspero. O chão de cacos, presente em casas do subúrbio, significava o orgulho de suas origens. As pipas representavam a inocência das crianças. A velha guarda veio no carro, significando a passagem das tradições e ensinamentos culturais para os mais novos. A escultura de uma criança montando o cavalo de São Jorge representava a fé e esperança no amanhã. A alegoria mais simples do conjunto, mas ainda assim, com ótimo nível de acabamento.

Outros destaques

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A bateria da Maricá comandada pelo mestre Paulinho teve uma exibição de ótimo nível na sustentação do ritmo, que se mostrou muito adequado para os desfilantes poderem evoluir e cantar o samba. Os ritmistas não abusaram na quantidade de bossas, usando na medida certa para impulsionar o cortejo da escola.

Independente Tricolor: fotos do desfile no Carnaval 2024

Filha de Guará se emociona com homenagem da União de Maricá a seu pai

Marica Esp02 006Guará Sant’anna, o compositor que é fio condutor do enredo “O esperançar do poeta” da União de Maricá, vem retratado no carro abre-alas, chamado “Tempo de compor”. Um carro coloridíssimo, que emana esperança com beija-flores reluzentes, um homem negro com um violão no topo do carro, cercado de dois meninos negros flamenguistas, com o cabelo descolorido, meninos que admiravam ou se tornaram esse homem. Homem esse que representava o compositor negro.

Ao analisar o abre-alas, Bianca Maia, falou sobre a representatividade do carro para o carnaval e para o enredo da escola:

“O carnaval, como um todo, já é um movimento de resistência, já é um movimento negro desde a sua origem. E quando a gente vê uma escola como a Maricá, que não é propriamente da região metropolitana, trazendo a temática que quer questionar isso, é muito importante. Porque o carnaval nasceu disso, do protagonismo negro, de pessoas como eu brilhando na avenida. O enredo da Maricá é sobre isso, sobre fazer a gente brilhar, sobre fazer a gente ser o protagonista da nossa história. E isso é lindo, isso é maravilhoso, e eu espero que o Maricá vá longe e consiga chegar no Grupo Especial”, pontuou a economistas de 37 que veio compondo o abre-alas.

Marica Esp02 002Iara Sant’anna, de 47 anos, filha de Guará, veio ao lado da sua filha em cima do abre-alas homenageando seu pai, falecido em 1988, com apenas 33 anos:

“Estar aqui é uma emoção que não cabe no peito. Eu acho que a escultura que está ali representa muito bem meu pai. Se ele estivesse aqui agora conosco, escreveria vários versos, a luz de velas, a luz natural, a luz de Deus, a luz de todos os santos. E estaria iluminando muito mais o samba de raiz, o pagode, a MPB e tudo mais. Eu sei que de onde ele estiver, com minha mãe e meus irmãos, ele está feliz”, contou Iara emocionada.

Apesar da breve vida, Guará deixou composições de sucesso, como “Sorriso Aberto”, “Problema Social” e “Singelo Menestrel”, além de sambas enredos premiados, como, “33 – Destino Dom Pedro II”, de 1984 e reeditado em 2022 pela Em Cima da Hora, e dois da Acadêmicos do Engenho da Rainha, em 1985 e 1986.

Marica Esp02 003“Por um tempo andei desacreditada, mas eu nunca esqueci que ele deixou um legado, os poemas que ele vivia, seja da boemia dele, pois ele era muito boêmio, mas muito inteligente, ele era um gênio, ele era temporal, ele era a frente do seu tempo, literalmente. Se ele estivesse aí hoje, seria um Cartola, um Candeia da vida, estaria com os grandes. Mas ele está vendo tudo isso. O que a Maricá está fazendo é lindo, eu sou muito feliz pela Maricá lembrar do meu pai, por isso que a Maricá é um país”, finaliza Iara.

Plasticidade e canto se destacam e Dragões da Real entra no caminho do título

Por Gustavo Lima e fotos de Fábio Martins

Terceira escola a desfilar na sexta-feira de carnaval, a Dragões da Real mostrou o porque se preparou no mais alto nível para o Carnaval 2024. Alegorias luxuosas deram o tom do desfile, além de uma harmonia muito bem entrosada com o carro de som. A comissão de frente de Ricardo Negreiros foi bem vista, tendo uma coreografia complexa. Vale destacar a abertura forte nas arquibancadas. A equipe de apoio da Dragões da Real distribuiu bandeirinhas do enredo por todas as arquibancadas e fez a alegria do público, que mostrou alegria na arrancada do samba. A agremiação fechou os portões com 1h de desfile, cravados. A Dragões da Real levou o enredo “África – Uma constelação de Reis e Rainhas”, assinado pelo carnavalesco Jorge Freitas. Erramos: antes citamos que um drone poderia prejudicar a escola por ter batido em uma alegoria, porém, recebemos a informação que o objeto não era da agremiação e que a Liga-SP atuou imediatamente retirando e recolhendo o drone, que era de um popular, ou seja, o ocorrido não tem relação nenhuma com o desfile.

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Comissão de frente

Comandada pelo coreógrafo Ricardo Negreiros, a comissão de frente fez uma apresentação grandiosa na avenida. Vários atores entraram em cena, tendo inúmeros papéis dentro da encenação, como a entidade Exú para abris os caminhos. Havia criança sendo coroada, personagem representando um senhor que parecia uma espécie de ancião. Havia uma espécie de misticismo com realidade dentro da comissão de frente, que abriu muito bem o desfile, fazendo várias encenações na passagem do samba e, sobretudo, explicando o que é a África.

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Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Rubens de Castro e Janny Moreno, representou a “alma africana”, com uma fantasia toda requintada nas cores escuras em preto e marrom.

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A dupla executou uma grande apresentação, deu belos giros e, apesar da bela e alta vestimenta com costeiros, se sentiram leves. Rubens e Janny ‘brincaram’ na pista, fazendo danças afros e mostrando o porquê a experiência está valendo a pena. Sem dúvidas um dos destaques da comunidade da Vila Anastácio.

Enredo

A Dragões quis mostrar uma África diferente. A religiosidade existiu, mas se viu no desfile o predomínio de um contexto histórico abordando um continente alegre e rico de histórias. Como diz o refrão do meio de seu samba-enredo, realmente uma África que “a história nunca quis contar”. Para isso, a Dragões levou a entidade ‘Exú’, que tem outro nome no continente, mas foi para mostrar que estava abrindo os caminhos da escola, como cita o samba, além de carros de savana e luxo.

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Alegorias

Dragões da Real optou por levar algo totalmente monocromático e luxuoso. Uma característica notável é que nas quatro alegorias predominava uma cor só. Realmente a ideia do carnavalesco Jorge Freitas era colocar algo monocromático, como citado. A ideia dos carros alegóricos foi bem observado e explicou o enredo de forma notória.

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O abre-alas, intitulado como “Tributo à Savana”, como diz o nome, representou na pista a savana africana, com animais como leões, girafas e rinoceronte. Um primor de acabamento e iluminação, todo em laranja. Havia um efeito de engrenagem que girava e causava um efeito de ilusão nas laterais do carro. Grande abertura para embalar o desfile.

A segunda alegoria foi chamada “Poder além da sedução”, tendo como nome uma frase inspirada no samba-enredo da escola, que se localiza na segunda parte. O carro teve como objetivo retratar o Egito e sua mitologia, tendo como escultura principal a rainha Cleópatra. Iluminação toda em roxa e acabamento altamente satisfatório.

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O terceiro carro simbolizou o “Reino Matamba” – Havia duas esculturas de mulheres negras. Tais rostos esculpidos eram bastante realistas. Era o carro com mais cara de África em forma de carnaval, pois também tinha bastante palha.

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Por fim, encerrando o quesito, a última alegoria assim como a segunda, tem como o título inspirado no samba-enredo – “O luxo visita a sabedoria”. Um carro iluminado todo em vermelho que deu um belo contraste na pista para encerrar com as cores da escola.

Fantasias

As fantasias em seus costeiros e adereços de cabeça tinha um requinte especial, com matérias padrão Jorge Feitas. Todas bastante organizadas. Apesar de todo essa grandeza, as vestimentas dos componentes não impossibilitaram de que a escola cantasse e dançasse com força, como aconteceu nos dois ensaios técnicos que a agremiação realizou.

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Harmonia

O canto da escola confirmou a força e novamente mostrou um desempenho para lá de satisfatório no desfile. A Dragões da Real tem esse quesito muito bem trabalhado ao longo dos anos e desta vez não foi diferente. Fez valer o desempenho do quesito realizado no ensaio técnico e o levou para o desfile oficial. O refrão de cabeça e os últimos versos explodiam a arquibancada. “Coragem, resistência, comunidade…africanidade!”.

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Samba-enredo

Interpretado por Renê Sobral, o samba-enredo da Dragões da Real teve um desempenho satisfatório. Dá para analisar que até bastante gente no Anhembi pegou a letra logo de cara. Foliões dos camarotes cantavam trechos a todo instante.

Sobre o carro de som, Renê colocou a comunidade para cima. Fez questão de esperar a sirene tocar para começar a cantar a trilha-sonora, com o intuito de levantar não só o povo, mas também a arquibancada.

Evolução

Foi outro ponto destaque da escola. Apenas há de se observar que houve uma parada no último módulo de alegoria quando a comissão de frente estava por lá. Não se sabe se foi estratégico, para apresentação ou erro, mas houve essa pequena lentidão quando o primeiro setor se aproximava do último módulo. Entretanto, a Dragões, assim como na harmonia, sempre foi um exemplo de evolução. Tudo bastante compacto, harmonias entrosados e nenhum risco de buracos e espaçamento entre fileiras. Realmente é uma escola totalmente ensaiada.

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Outros destaques

A bateria “Ritmo que Incendeia”, comandada por mestre Klemen, levantou a arquibancada quando soltava as suas bossas. Não jogou toda hora, foi um tanto estratégico no recuo, mas nas arquibancadas claramente quis provocar a adrenalina nos componentes.

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Ala das baianas foram logo atrás do casal vestidas de “Matriarcas Sarcedotisas”, desfilou com uma fantasia elegante, com a cor predominante marrom e tons de bege no saiote. As mães do samba acompanharam a escola e cantaram o samba com força.

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Karine Grum, rainha de bateria, desfilou representando as “Riquezas do rei Mansa Musa”. A princesa Yohana Obyara foi para a pista simbolizando “O luxo da peregrinação ao oriente” e Kelly de Paula, musa da bateria, “Genorasidade e o cerne da riqueza”.

União de Maricá estreia na Sapucaí com seus moradores confiantes na avenida

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Se depender da confiança dos moradores de Maricá, que vieram para o Rio de Janeiro desfilar pela escola, a União de Maricá tem grandes chances de ser campeã. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, os componentes destacaram o orgulho que sentem ao estrear com a escola na Sapucaí.

Com o enredo “O esperançar do poeta”, a União de Maricá estreia na Sapucaí, com a comunidade local em peso na avenida, confiança não vai faltar para a escola.

A administradora Daniela Lourenço, de 39 anos, que também está estreando na Sapucaí, contou um pouco da preparação dessa estreia e a emoção desse momento.

Marica Esp01 004“A emoção é grande, porque também é minha estreia na Sapucaí junto com a escola. E a gente está muito feliz, estamos entregando um trabalho maravilhoso da comunidade. Estamos desde o natal treinando, já que a nossa ala é coreografada. E estamos aí, dando o gás para a escola, pois Maricá é meu país, meu país é Maricá. A gente veio para poder permanecer. Dá para sonhar com o título esse ano com toda a certeza, a gente veio para isso”, afirma Daniela.

Katia Ximenes, doméstica de 49 anos, já desfilou na Sapucaí com outras escolas, mas revela que estar na avenida com a escola de sua cidade é diferente.

“Estou sentindo uma emoção muito grande. Porque eu sou do Rio, já desfilei na Estácio, Mangueira, Salgueiro. Mas a União de Maricá veio para a gente ganhar. E vamos ganhar, com certeza, Deus está com a gente, é campeã, certeira”, disse Kátia.

Marica Esp01 003“Esse é o meu primeiro ano, está sendo muito gratificante e maravilhoso, é uma emoção enorme pela escola que está abraçando a nossa comunidade de Maricá, como já vinha fazendo. Estamos firmes e fortes, guerreando, com o foco na vitória sempre. Estamos aí acreditando no título”, contou o porteiro José Filho, de 35 anos.

Honra é a palavra que Margarete Azevedo usa para descrever o significado de representar a sua cidade no maior espetáculo da terra.

“Representar a minha cidade na Sapucaí é uma honra, mas não é a minha primeira vez aqui não, já desfilei pela Porto da Pedra e outras escolas. Mas é muita emoção para mim e para todos de Maricá que estão aqui, é importante para a cidade, Maricá merece. A escola está linda, vamos para as cabeças”, comentou Margarete, que é do lar e tem 63 anos.

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União de Maricá: fotos do desfile no Carnaval 2024

Inocentes abraça comércio popular de todo o país com setor sobre imigrantes e mercados populares

Inocentes Esp02007O segundo setor da Inocentes de Belford Roxo trouxe uma homenagem aos comerciantes que vieram de longe para se estabelecer no Brasil , como árabes, judeus, chineses, e turcos, que contribuíram para a criação de diversos mercados e feiras país a fora, como o Ver-o-Peso em Belém, o Mercado de Belo Horizonte, o Mercado Modelo de Salvador, o Centro de Tradições Nordestinas no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, e o Mercado Municipal de São Paulo.

O segundo carro veio cheio de referências a esses locais, como o vitral que enfeita o prédio paulistano como costeiro da alegoria, junto da arquitetura marcante do Centro de Tradições Nordestinas, as garrafadas vendidas no Ver-o-Peso, com uma escultura de baiana e seu tabuleiro na frente do carro, enfeitados com fitas do Senhor do Bonfim. As alas passaram por diferentes mercadores que formaram o comércio popular no país, em tons de roxo, azul e branco.

Inocentes Esp02006Alguns integrantes de alas desse setor citaram as inspirações de suas fantasias, assim como dois destaques do carro, e contaram sobre como o setor foi desenvolvido ao CARNAVALESCO.

Uma das alas, foi sobre os mercadores chineses, que influenciaram a formação das feiras livres no Brasil, através de uma cultura empreendedora, onde uma das integrantes, Marinês de Camargo, de cinquenta e dois anos, falou um pouco sobre a fantasia: “A gente representa esse mercador chinês que vem trazer a contribuição da China para o nosso mercado informal. Na década de 80 e 90 era tudo do Paraguai. Atualmente são os produtos Made in China. Então, a gente vem representar a contribuição chinesa ao mercado informal”. Sobre a estrutura da fantasia, além de linda e leve, ela comentou sobre os detalhes: “A estampa do cetim tem os dragões chineses. Eu achei isso interessantíssimo, eu adorei. Mas a fantasia em si está toda bonita”, finalizou.

Inocentes Esp02008A ala seguinte, falando sobre os mercadores judeus, veio com tons de azul, trazendo objetos comercializados por eles, como tachos e talheres, em partes da fantasia. João Pedro Monteiro, um dos membros da ala, contou um pouco sobre o setor e sobre a ala em si: “Todo esse setor aqui vem com alas de comerciantes, brasileiros, chinês, judeu, árabes, esses povos que formaram o comércio do Brasil. A gente como comerciantes judeus, também formamos aqui”. Ele finalizou citando a fantasia em si: ” Está muito bonita a fantasia, gostando muito, está muito confortável. Ela é cheia de detalhes, com os itens comercializados, acho uma fantasia muito interessante”.

“A ala vem falando dos árabes, mostrando a importância desses trabalhadores informais, que foram muito prejudicados”, contou Lindomary Lacerda, de cinquenta e nove anos, sobre a ala dos Mercadores Árabes, na qual desfilou. Essa ala trouxe os comerciantes que ao introduzirem novos produtos, como botões e agulhas presentes na fantasia, para a confecção de roupas, contribuíram para o fomento do mercado no país, especialmente no acabamento e personalização dos tecidos.

Inocentes Esp02005Os destaques do carro por sua vez vieram como elementos específicos desses locais de comércio ao longo da história, como as especiarias e as jóias de crioula.

Paulo César, um dos destaques, veio trajado de marajá representando tanto o comércio do SAARA com as especiarias. “O enredo fala dos camelôs, e no SAARA, que é próximo de nós, na Uruguaiana, tem uma vasta extensão de camelôs, e eu vir justamente representando ele nesse carro dois, e as especiarias”. Além disso, ele deseja conhecer algum dos mercados representados na alegoria: “Ainda não tive a felicidade de conhecer algum deles, espero que logo após a vitória da Inocentes, com o respeito às co-irmãs, eu vá conhecer algum deles”.

“Eu represento as jóias de crioula, os balangandãs que elas, com dinheiro, compravam, os amuletos da sorte, figas, romãs”, Newton Paracambi, outro destaque, que veio a frente da imagem da baiana, contou. Ele costuma fazer uso do Mercado Municipal de São Paulo para comprar os materiais que utiliza: “Mas sempre vou muito a passeio lá, também”.

Samba-enredo funciona e comunidade dá o recado, mas Estácio de Sá peca em evolução, estoura o tempo limite e compromete desfile

Por Luan Costa e fotos de Nelson Malfacini

A Estácio de Sá foi a quinta escola a pisar na avenida na primeira noite de desfiles da Série Ouro. Com um enredo que resgatou suas origens africanas e samba na boca povo, o berço do samba levantou o público na Sapucaí, tendo a comunidade como um dos grandes destaques da noite através de um canto forte. A vermelha e branca realizou um desfile aguerrido e de chão quente, porém, problemas de evolução durante todo o percurso fez com que os componentes corressem no final, ocasionando o estouro do tempo regulamentar em um minuto.

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Apresentando o enredo “Chão de devoção: orgulho ancestral”, desenvolvido pelo carnavalesco Marcus Paulo, a escola propôs falar do povo preto que disseminou sua cultura e transformou a diáspora africana em solo brasileiro através da arte, religião e dança. A agremiação terminou sua apresentação com 56 minutos e largará na apuração com menos um décimo.

Comissão de Frente

A comissão de frente coreografada por Ariadne Lax foi intitulada “Cabindas e Congoleses: Festejos, Rituais em Liberdade e os Destinos”, e composta por 15 componentes mistos entre homens e mulheres. A comissão apresentou as personagens centrais do enredo, Cambinda e Maria da Conceição, suas histórias, permeadas por rituais de nascimento, celebrações culturais e manifestações artísticas foram retratadas na avenida.

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A comissão passou pela avenida de forma impactante e dramática, foi possível sentir a força energética empregada pelos componentes do início ao fim da apresentação. Toda a dor e luta que as personagens centrais do enredo passaram durante sua trajetória foram retratadas na comissão. A dança e a teatralização estiveram lado a lado, momentos do sequestro e açoite levaram o público a sentir angústia e se envolver ainda mais com o que era mostrado. No fim, uma troca de roupa simples mostra os orixás em um ritual de libertação e selando o novo destino de Cambinda e Maria Gonga, a utilização do tripé foi fundamental para que a história fosse contada.

Mestre-sala e Porta-bandeira

A dupla formada por Feliciano Junior e Thais Romi dançaram juntos pela primeira, ele, muito experiente e defendendo o pavilhão da Estácio há anos, conduziu de forma encantadora sua companheira. Coube a Rute Alves apresentar o casal ao jurados, logo no início, a porta-bandeira entrou no campo de visão do júri com uma sequência de giros muito bem executados, a dupla demonstrou muita sintonia e leveza nos movimentos. Houve coreografia no final da apresentação, no momento do samba que remete as pretas velhas eles faziam movimentos mais suaves e se curvaram.

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A fantasia do casal foi predominantemente em tons vermelhos com detalhes brancos e pretos. Denominada “O Som do Batuque aos Ventos da Liberdade Embalam a Dança”, a indumentária representou os traços culturais dos povos do solo rico e avermelhado congo-angolano e chamou atenção pelo ótimo acabamento.

Enredo

O carnavalesco Marcus Paulo foi o responsável por desenvolver o enredo “Chão de devoção: orgulho ancestral”, que contou a história de “Kianda e Mwana Ya Sanza”, Cambinda e Maria Conga, que, mesmo escravizadas quando meninas, lutaram para implementar sua cultura. A história delas foi o fio condutor para falar da resistência dos povos africanos que foram trazidos ao longo da história do Brasil e como eles conseguiram manter a sua história, apesar dos horrores da escravidão. Apesar de denso e aparentemente triste, o enredo se mostrou um dos grandes destaques da escola por sua força e forma que foi apresentado.

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O carnavalesco optou por contar essa história através de quatro setores, tendo como abertura “Livres como a brisa dos ventos costeiros e das savanas”, logo em seguida “Liberdade, festas e rituais”, “O destino: plantaram suas sementes e tem até hoje suas histórias mantidas pela oralidade”, “Orum: a consagração e a coroação no reino das almas” e “Estácio de Sá: chão de devoção e de orgulho da ancestralidade”.

Alegorias e Adereços

O berço do samba apresentou um conjunto alegórico modesto, mas que contou o enredo de forma clara, o carnavalesco Marcus Paulo trouxe o impacto através das cores, foi uma representação diferente do que costumam representar como África. No total, foram apresentados três alegorias e dois tripés, sendo que duas alegorias atrapalharam o bom desenvolvimento do enredo por conta de problemas de acoplamento.

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O leão, símbolo da agremiação e motivo de orgulho de seus torcedores esteve presente em uma grande escultura no carro abre-alas, denominado “África – Congo-Angola”, na altura do setor três (módulo um e dois), o carro travou e enfrentou problemas para acoplar, já a segunda alegoria, “O carinho matriarcal e a proteção lendária na travessia” representou a fé, os amuletos e seres que ajudaram durante a travessia, foi a alegoria mais problemática do desfile, desde o início ela se mostrou fora de rumo, no setor três ela avançou para cima das grades e depois seguiu até o final com dificuldades para se manter no prumo.

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Na sequência, o tripé “Bravura que ficou na história: o Quilombo de Maria Conga” mostrou o Quilombo de Maria Conga, que servia de abrigo e dava proteção aos negros refugiados, o tripé pecou pela falta de adereço, o mesmo foi visto no segundo tripé “Estácio chão de fundamento e devoção”, que trouxe o grupo de fundadores da reconhecida como primeira escola de Samba do Brasil, além disso, a falta de iluminação também foi observado.

A alegoria que fechou o desfile da vermelha e branca teve como nome “Chão de devoção e culto a ancestralidade”, novamente, a escultura de um leão se fez presente, desta vez ao lado das Pretas Velhas Cambinda e Maria Conga, o carro era predominantemente branco d alguns grafismos pretos permearam o carro.

Fantasias

O conjunto visual apresentado pela Estácio de Sá foi de extremo bom gosto, o carnavalesco Marcus Paulo optou por levar para a avenida uma paleta de cores diversa com o vermelho e branco permeando todo o desfile. No total foram 23 alas, em sua maioria com muito volume, uso de penas artificiais e outros materiais que engrandeceram as indumentárias. Como destaque ficam as alas: “Festejos nas aldeias: Povo de lá e de cá, Cabindas e Congoleses, “A dor e o destino”, “o ser lendário de proteção”, além da ala de baianas, que representou a culinária afro-brasileira. Todo o destaque também para a fantasia da ala de passistas.

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Harmonia

Um dos grandes pontos de destaque da escola foi a harmonia apresentada, durante todo o desfile foi observado uma constância no canto da comunidade, o componente estaciano entrou na avenida com muito vigor, as primeiras alas gritavam o samba com muita empolgação, nem mesmo os problemas de evolução foram capazes de diminuir o brilho. A dupla de intérpretes Tiganá e Charles Silva demonstraram muito entrosamento e impulsionaram o samba juntamente da bateria de mestre Chuvisco, que se apresentou de forma impecável por toda a avenida. Além das primeiras alas, o fôlego se manteve durante toda a escola, as alas do último setor, apesar de passarem de forma mais rápida pelos módulos de julgamento, cantaram com a mesma empolgação. Vale deixar registrado a raça e força apresentada pela ala de passistas da agremiação, extremamente numerosa e bem vestida, os componentes deram um verdadeiro show na avenida.

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Samba-Enredo

Apontado durante todo o pré carnaval como um dos melhores sambas do grupo, a obra dos compositores Júlio Alves, Cláudio Russo, Magrão do Estácio, Filipe Medrado, Thiago Daniel, Diego Nicolau, Tinga, Dilson Marimba, Guilherme Karraz, Barbara Fonseca, Telmo Augusto, Adolfo Konder, Fernando César e Marquinhos Beija-Flor foi um dos grandes destaques do desfile. Todo o samba possui letra fortíssima e a história contada no enredo foi toda transmitida através dele. A obra foi cantada de forma uniforme pela Sapucaí, porém, os refrões tiveram mais destaque, muito por conta das paradinhas do mestre Chuvisco. O público foi junto com a Estácio, os versos que antecedem o refrão do meio chamam naturalmente o canto da comunidade, assim como o próprio refrão. Mesmo algumas palavras mais difíceis como “Kianda! Mwana tá Sanza” foram cantadas no mesmo nível que as outras, foi um grande acerto do início ao fim.

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Evolução

O quesito mais prejudicado no desfile da vermelha e branca foi a evolução, desde o início a escola sofreu com o acoplamentos de carros e viu um buraco perceptível ao olho dos jurados ser formado logo na primeira cabine, ao longo do desfile, por conta de um problema na segunda alegoria, a escola precisou segurar o ritmo, durante alguns minutos as alas não evoluíram, somente no setor três a escola ficou parada por mais de cinco minutos. Outro problema observado foi após a entrada da bateria no recuo, a escola apertou o passo e ficou visível o desconforto de alguns componentes, no final, houve uma correria nas últimas alas e a bateria se apresentou às pressas na última cabine de julgamento, mesmo assim a escola finalizou o desfile com 56 minutos e largará com um décimo a menos na apuração.

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Outros Destaques

A Estácio de Sá levantou o público presente na Sapucaí, o samba-enredo estava na boca do povo e a bateria de mestre Chuvisco promoveu inúmeras paradinhas e coreografias que contribuíram ainda mais para que o público se jogasse no desfile da vermelha e branca.