Freddy Ferreira analisa a bateria da Unidos de Padre Miguel no desfile
Um desfile muito bom da bateria “Guerreiros” da Unidos de Padre Miguel, comandada por mestre Dinho. Um ritmo marcado pelo equilíbrio e pela fluência entre os naipes, provocada pela boa equalização entre os timbres. Uma bateria da UPM com levada nordestina em arranjos, conectando sua sonoridade ao tema da agremiação.
Uma bateria da Unidos muito bem afinada foi percebida. Marcadores de primeira e segunda foram firmes, além de seguros, durante todo o cortejo da vermelha e branca da Vila Vintém. Surdos de terceira ficaram responsáveis pelo bom balanço dos graves. Já pelos naipes médios, repiques coesos tocaram integrados a um ressonante e sólido naipe de caixas de guerra. Frigideiras também auxiliaram com toque metálico, na cozinha da bateria.
Na cabeça da bateria da UPM, uma ala de cuícas segura tocou junto de um naipe de agogôs correto, com um desenho rítmico simples, mas eficiente. Um naipe de tamborins extremamente acima da média se exibiu de modo entrelaçado com uma ala de chocalhos simplesmente sublime. Os tamborins, inclusive, pareciam um só durante o desfile. Em homenagem ao eterno e saudoso ex-diretor Eduardo Amorim, é possível dizer que o “Bonde dos Patetas” desfilou com Alegria nos Punhos.
Bossas profundamente vinculadas ao tema da escola foram exibidas. Repletas de bom gosto e por vezes contribuindo com uma levada pautada pela nordestinidade, a concepção criativa se mostrou bastante apropriada. Arranjos musicais que se aproveitavam das nuances melódicas do belo samba-enredo da Unidos de Padre Miguel mostraram funcionalidade na prática, a cada execução bem feita pela bateria “Guerreiros”.
A apresentação na primeira cabine (módulo duplo) foi muito boa e equilibrada. Já na segunda cabine, além da boa fluência, o impacto sonoro contagiou o público, garantindo uma passagem interativa pelo módulo. No último módulo de julgamento, mais uma exibição enxuta e explosiva, que arrancou gritos eufóricos da plateia, fechando com chave de ouro o belo desfile da bateria “Guerreiros” da Unidos de Padre Miguel, dirigida por mestre Dinho.
Com as bênçãos de Padre Cícero, Unidos de Padre Miguel faz desfile irretocável, com visual caprichado e se credencia ao título da Série Ouro
Por Luan Costa e fotos de Nelson Malfacini
A Unidos de Padre Miguel foi a quinta escola a pisar na avenida no segundo dia de desfiles da Série Ouro. A escola entrou na avenida com gritos de ‘é campeã’ e saiu aclamada após realizar um desfile irretocável. O impacto visual esteve presente desde o início do desfile com a comissão de frente, o enorme tripé chamou atenção e mostrou que a escola estava disposta a conquistar o tão sonhado acesso ao Grupo Especial, na sequência, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Vinícius Antunes e Jéssica Ferreira mantiveram o padrão. O que se viu em seguida foi uma escola extremamente bem vestida, com apuro estético de impressionar e acabamento de primeira. O conjunto alegórico manteve o nível e se destacou pelos detalhes. O único senão ficou por conta do som da avenida que esteve mais baixo que o normal, mesmo assim, o canto da comunidade, apesar de não ser explosivo, não foi afetado.
Apresentando o enredo “O Redentor do Sertão”, desenvolvido pelos carnavalescos Lucas Milato e Edson Pereira, a escola da Zona Oeste se apoiou na figura de Padre Cícero para viajar no imaginário místico popular do povo nordestino, pautado em três sentimentos: esperança, medo e fé. A narrativa trouxe luz às emoções do sertanejo, evidenciando a ligação de suas histórias de vida com as benfeitorias e obras do padre. A agremiação terminou sua apresentação com 53 minutos.
Comissão de Frente
A comissão de frente coreografada por David Lima foi intitulada “Anunciação do Deus Menino” e representou o nascimento do menino Cícero. Crenças e relatos da região relacionam a figura de Ciço com a encarnação de Cristo, a volta do Deus vivo à Terra. Além dos bailarinos, a comissão veio acompanhada de um tripé, ele inclusive evidenciou todo o cuidado da escola com o quesito, extremamente bem acabado e com inúmeros detalhes, ele contribuiu diretamente para que as apresentações fossem excelentes.
Os quatorze componentes da comissão representaram a grande luz que irradiou durante o parto do personagem central do enredo. A indumentária toda em dourada brilhou na avenida e foi peça fundamental para dança, os componentes estavam em total sincronia e tudo deu certo. O grande ápice foi no momento que o nascimento de Cícero acontece, na parte da letra que diz “Chegou o Redentor da Zona Oeste”, a figura materna surge no tripé segurando um boneco nos braços.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Verdadeiros donos do pavilhão vermelho e branco da Unidos, a dupla Vinícius Antunes e Jéssica Ferreira mais uma vez mostrou porque são considerados um dos melhores casais do grupo, extremamente seguros e com muita personalidade, eles encantaram o público presente na Sapucaí. A fantasia representou “A Sagrada Família”, fazendo uma alusão à imagem de José e Maria na história original do nascimento de Cristo em analogia com a história de Cícero.
Com a função de proteger o casal, os guardiões representaram os anjos da guarda. O bailado vigoroso em todas as apresentações, a garra e determinação estavam presentes no rosto da dupla, assim como o sorriso. Na parte do samba que diz “Pra vitória alcançar”, eles davam as mãos e levantavam, o gesto, feito com muita empolgação, animou o público.
Enredo
Coube a dupla de carnavalescos Lucas Milato e Edson Pereira desenvolverem o enredo “O Redentor do Sertão”, o boi vermelho exaltou um dos maiores símbolos de identificação e devoção do povo nordestino, Padre Cícero, no ano em que completaria 180 anos. O enredo apresentou uma narrativa a partir da visão do imaginário popular sobre a vida do religioso, com grande influência da literatura de cordel. O desfile foi desenvolvido a partir de três manifestações do povo sertanejo: a esperança, o medo e a fé. A leitura foi extremamente fácil e se mostrou acertada, a temática nordestina, apesar de passar com frequência na Avenida, foi mostrada de uma forma fora do habitual.
Alegorias e Adereços
O Boi Vermelho da Zona Oeste desfilou com três alegorias e dois tripés – sendo um da comissão de frente. Como de costume, o conjunto alegórico foi impactante, seja pelas formas, cores, volume e acabamento.
O abre-alas representou a visão que mudaria para sempre o povoado de Juazeiro: a Santa Ceia do Agreste, a escultura de Padre Cícero chamou atenção pelo tamanho, traços e movimento, o carro também contou com outras esculturas com excelente acabamento. A segunda alegoria, “O Apocalipse do Sertão”, teve uma estética oposta ao que vimos na abertura, mais soturna, ela retratou a seca que assolou o Cariri. A última alegoria, “O Redentor do Sertão”, acompanhou o nível das anteriores e finalizou o desfile com chave de ouro.
Fantasias
A escola levou para avenida 24 alas e o conjunto foi de tirar o folêgo, o capricho e cuidado em cada fantasia foi visto em toda a escola. O volume das fantasias impressionou, algumas alas tinham costeiros tão grandes que batiam na grade. O luxo e beleza não foi apenas jogado, todas as fantasias tinham fácil leitura e explicavam o enredo de forma didática. O encanto foi apresentado por todas as alas, do início ao fim, assim como o ótimo uso de cores. Destaca-se o cuidado com as baianas, as senhoras representaram a capela de Nossa Senhora das Dores e a roupa merece aplausos por tamanho capricho. Outra ala muito bem vestida foi a das crianças, a roupa que fez menção ao lobisomem parecia estar quente, mas causou um ótimo efeito.
Harmonia
O conjunto harmônico da vermelha e branca da Zona Oeste foi extremamente satisfatório, a presença de Bruno Ribas no comando do microfone principal foi um dos pontos positivos da noite, juntamente com a bateria de mestre Dinho que realizou diversas bossas, além de um enorme paradão. Apesar de coeso, o canto da comunidade não foi explosivo, o componente cantou o suficiente, mas ficou a sensação de que faltou algo a mais, as fantasias eram muito volumosas e foi observado que alguns componentes tiveram dificuldade para desfilar, por exemplo no início, com a primeira ala, “Menino Jesus do Sertão” e ala 17, “A cura vem da fé”.
Samba-Enredo
O samba de autoria de Cabeça do Ajax, Claudio Russo, Lico Monteiro, Miguel Dibo, Orlando Ambrósio, Richard Valença, Thiago Vaz e Waldir Corrêa passou pela avenida de forma satisfatória e a letra do samba contou com perfeição a narrativa do desfile, o começo da obra versou sobre o nascimento de Padre Cícero, os versos seguintes preveem o grande ícone que o menino Cícero se tornaria, o fim da primeira parte versa sobre o momento em que Cícero foi ordenado padre. Os dois últimos versos do samba citam um dos milagres mais simbólicos do padre, fato que fez com que ele fosse reconhecido internacionalmente. Interpretado por Bruno Ribas, o grande destaque ficou pelo trecho “Chegou o Redentor da Zona Oeste, traz um tanto do Nordeste, e tem o encanto popular, em romaria das candeias e das dores, vou curar os dissabores, pra vitória alcançar”.
Evolução
Um dos pontos altos do desfile da UPM foi a evolução, apesar de extremamente numerosa, a agremiação passou pela avenida de forma fluida, com alas compactas e organizadas. O andamento do desfile não foi comprometido em nenhum momento, o ritmo do início acompanhou o final. Sem sustos, a escola finalizou sua apresentação aos 53 minutos.
Outros Destaques
A Unidos se tornou uma escola muito aguardada e festejada pelo público, o esquenta da escola deu o tom de como seria o desfile, a comunicação da escola foi boa e contribuiu para o excelente desfile apresentado. Ao final do desfile foi observado que as arquibancadas gritavam ‘é campeã’ com muita empolgação.
São Clemente celebrou a obra de Zé Katimba e levou a velha-guarda da Imperatriz para a Avenida em uma linda homenagem ao pavilhão
A São Clemente celebrou a vida e a obra do compositor Zé Katimba com o enredo “Que grande destino reservaram para você” do carnavalesco Bruno de Oliveira. Reverenciar Zé Katimba é cantar as raízes desse Brasil, refletindo sua essência na mistura das raças e das cores, enaltecendo todos os compositores de samba-enredo, os verdadeiros poetas que entrelaçam com sua arte a musicalidade do Carnaval.
A trajetória artística e as premiações de Zé Katimba como compositor da Imperatriz Leopoldinense foram representadas no segundo carro da escola “Ramos minha raiz” que levou a velha-guarda da Imperatriz. Em entrevista concedida ao site CARNAVALESCO alguns componentes expressaram a emoção dessa homenagem e a importância de Zé Katimba para a escola.
“Muita emoção, estou emocionadíssima em passar em um carro homenageando o Zé Katimba. Sou da velha-guarda da Imperatriz há uns cinco anos, mas eu sou da escola faz tempo, eu já perdi as contas”, comentou Tereza Maria de 74 anos .
As composições de Zé Katimba ultrapassam fronteiras, alcançando uma diversidade de intérpretes e consolidando sua influência no cenário musical brasileiro. O título do enredo desse ano da São Clemente foi retirado de um grande sucesso, “Martim Cererê”, que em 1972 elevou a visibilidade de Zé Katimba a ponto de torná-lo personagem na novela “Bandeira 2,” escrita por Dias Gomes e exibida pela Rede Globo.
Vânia Maria de 69 anos, é da velha-guarda da Imperatriz e completa 52 anos com a escola nesse carnaval, ela contou a emoção de desfilar no carro que homenageou a trajetória de Zé Katimba na sua escola e também revelou a sua emoção com o enredo já que seu primeiro desfile foi com o Martim Cererê: “Eu acho o enredo perfeito, porque eu acho que a gente tem que homenagear as pessoas em vida, e o Zé Katimba tem tudo a ver com o Carnaval, ele realmente merecia ter um enredo para ele, e nós virmos no carro é maravilhoso, porque nós acompanhamos a trajetória do Zé Katimba, o pessoal da velha-guarda, ou pelo menos as pessoas que estão na escola há muito tempo, como nós, acompanhamos a trajetória do Zé, por isso é tão emocionante. Nesse Carnaval eu faço 52 anos de Imperatriz, e o meu primeiro desfile foi o Martim Cererê, então eu estou emocionadíssima, assim, você perguntou qual é o samba do Katimba que eu mais gosto, eu gosto muito de um samba Brasil de todos os deuses, um samba lindíssimo, mas esse Martim Cererê foi meu primeiro desfile, está no sangue, é maravilhoso.”
“É um fato muito importante estar nesse carro e a homenagem que eles fizeram para o Zé Katimba é uma homenagem justa, porque ele merece. Ele é muito merecedor disso tudo. Eu tenho 56 anos de Imperatriz e sou porta-bandeira da velha-guarda e coração está a mil”, contou Roseli Neto de 63 anos.
Comissão de frente ilusória e abre-alas impactante são destaques do desfile da Tom Maior
Por Gustavo Lima e fotos de Fábio Martins
Segunda escola a desfilar na noite deste sábado, a Tom Maior mostrou um desfile totalmente indígena para o público. A comissão de frente foi um ponto destaque, além do abre-alas, que esteticamente estava impecável e era praticamente uma réplica perfeita de uma mata. A bateria de mestre Carlão e o carro de som liderado pelo intérprete Gilsinho mostraram um grande entrosamento. Entretanto, a agremiação teve problemas em evolução, deixando buracos, especialmente em frente ao módulo três. “Aysú – uma história de amor” foi o enredo apresentado, sendo idealizado pelo carnavalesco Flávio Campello.
Comissão de frente
Comandada por André Almeida, a comissão da Tom representou “As Três Faces de um Mito”. Na dança, havia uma maioria de personagens que vestiam uma fantasia que misturava o sol com a lua. Na parte da frente, a parte amarela remetia ao sol e, quando os bailarinos viravam, aparecia o azul da lua. Tal vestimenta dava um efeito praticamente ilusório.
A coreografia também tinha dois indígenas vestidos de vermelho que interagiam entre si e outras como sambistas. Uma apresentação complexa que contava a lenda.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal Ruhanan Pontes e Ana Paula, desfilaram simbolizando o “Alvorecer de Aysú”. A dupla teve um desempenho satisfatório nos módulos, fazendo as coreografias e os movimentos com sincronia. Entretanto, vale ressaltar que o saiote da porta-bandeira estava um pouco danificado na parte esquerda na parte de baixo. Era nítida a falha na vestimenta, mas isso não apagou o brilho do casal, que desfilou pelo segundo ano pela vermelho e amarelo.
Enredo
Para 2024, a escola levou para a avenida a lenda de Orfeu e intitulou o enredo como “Aysú – uma história de amor”. Um tema indígena que misturou a história com o lúdico. A história foi bem contada. A abertura feita pela comissão de frente e abre-alas já indicou o que viria no desfile. Uma apresentação totalmente oriunda de nativos, apesar da lenda.
Alegorias
Como foi citado acima, todas passaram a mensagem que a escola queria com o tema, que era mostrar um enredo totalmente indígena. Tudo foi visto desta forma, principalmente no abre-alas, que mostrou uma mata completa. Parecia uma exposição de tão realista.
A primeira alegoria, simbolizou o “Yby Perfeito”. O gigantesco carro era uma réplica praticamente perfeita de uma mata. Havia esculturas de onças e crocodilos se movendo e nativos em uma canoa. De fato, a Tom Maior tem um enredo indígena, e este carro foi a personificação perfeita disso.
O segundo carro alegórico remeteu ao “O Castigo de Monã”, onde havia a mesma escultura em cores diferentes, como o laranja, azul e rosa. No centro, giravam entre si. Na mesma alegoria veio a velha-guarda.
A terceira alegoria teve como título “A Morada das Boiunas e O Abismo da Saudade” – enormes esculturas de serpentes em prata se movendo de um lado para o outro deram o tom do carro.
Por fim, fechando o conjunto alegórico, o quarto carro representou “O sonhado paraíso”, todo em dourado e esculturas também que remeteram aos indígenas
Fantasias
As fantasias tiveram um desempenho correto nesta noite. A Tom Maior apresentou algo colorido, além de um acabamento satisfatório, sem percalços, apesar da falha na fantasia do casal, o que não despontua dentro desse quesito. As vestimentas também estavam leves e permitiram os componentes a dançarem e cantarem tranquilamente.
Harmonia
Os componentes repetiram a dose dos ensaios técnicos e cantaram o samba com força em seu desfile. Apesar da melodia do samba ser para baixo, deu para ouvir que a harmonia dos componentes estava fluida e o canto seguiu naturalmente. O refrão de cabeça e do meio se destacam, além do verso onde começa na palavra “Abaeté”, que era entoado com força. Foi um dos quesitos destaque da escola.
Samba-enredo
O desempenho do carro de som, liderado pelo intérprete Gilsinho, teve um grande desempenho. O cantor, que desfilou pelo terceiro ano consecutivo com a Tom Maior, seguiu o andamento do samba em linha reta e executou poucos cacos. As vozes femininas com a melodia da obra também combinaram perfeitamente.
Evolução
Esse quesito foi o grande problema da escola. O andamento parava toda hora e abriu buracos em alguns momentos, especialmente no terceiro módulo, onde as alas tiveram um clarão, se confundiram e não sabiam o que fazer. Andaram para frente e depois voltaram atrás. Certamente será um quesito que sofrerá deduções, principalmente na altura do módulo três.
Outros destaques
A bateria “Tom 30”, regida pelo mestre Carlão, teve como fantasia “O Deus do Aysú”. Executou bossas e teve um andamento cadenciado. As caixas foi o instrumento destaque. Dava aquele balanço maior para a bateria da vermelho e amarelo.
A ala das baianas desfilaram representando “Anahy”.
Com fé em padre Cícero e na santa, as baianas da UPM sonham com a vitória da escola
Intitulada como “Mãe das Dores”, a fantasia das baianas da Unidos de Padre Miguel personifica o lugar onde Padre Cícero teve uma das suas mais importantes visões, que foi na Capela de Nossa Senhora das Dores. Sendo uma fantasia majoritariamente feita de renda branca, com detalhes ornamentados em dourado e detalhes vermelhos, as baianas estavam radiantes na concentração.
“A gente vem representando Nossa Senhora das Dores, uma das favoritas de padre Ciço, ele gostava muito e era devoto a ela. E essa fantasia está linda, desfilo de baiana há mais de 20 anos e essa é uma das fantasias mais lindas que eu já usei”, disse Rosana do Carmo, de 47 anos.
Um detalhe que chamou muito a atenção na fantasia das baianas era o coração vermelho com led dentro que elas traziam no peitoral da fantasia. Ao desfilarem, esse coração brilhava. Além disso, outro detalhe interessante era que o mesmo coração estava espetado por 7 espadas, assim como o coração da Nossa Senhora das Dores que elas traziam desenhadas em suas saias, essas 7 espadas simbolizam as 7 dores que a Virgem Maria sentiu em sua vida, principalmente nos momentos da Paixão de Cristo.
Para a professora aposentada Nilce dos Santos, de 65 anos, homenagear Nossa Senhora das Dores significa representar o sofrimento de mães nordestinas.
“Porque lá no sertão, o sofrimento era muito grande porque a tecnologia não existia, sofria-se muito, então as pessoas tinham uma devoção divina direta E havia muitas dores, muitas dores por fome, pela sede, pela violência que existia, pelas maldades, pela falta de comida e, principalmente, a seca, que sempre assolou muito o sertão brasileiro”, afirmou a professora.
A gaúcha Eulice Terra, que veio de Porto Alegre para desfilar pela UPM, se apega na fé na santa para que a escola consiga o acesso ao Grupo Especial.
“Nós viemos representando uma santa, Maria das Dores, e para mim é um prazer, que os anjos digam amém e que na quarta-feira nós ganhemos o carnaval. É um privilégio vestir uma fantasia tão representativa, leve, confortável e linda. Que a santa ajude a escola? ir atrás do nosso campeonato”, contou a funcionária pública de 62 anos.
Abre-alas da Unidos de Padre Miguel traz a fome do nordeste e a fé do menino nordestino
Recém-ordenado padre em Fortaleza, o jovem Cícero sonhou com 13 homens na sua frente representando a “Santa ceia do Agreste” com Jesus e seus doze apóstolos. Para além das questões religiosas, o carro simboliza a grande fome que o povo nordestino viveu e ainda vive. O carro trazia esculturas de 2 casais, cujas mulheres carregam uma criança nos braços. Os casais, colocados um de cada lado do carro, traziam a expressão de tristeza.
Luziene Lima, de 52 anos, não consegue conter as lágrimas ao falar da representatividade da mensagem que o carro traz para a escola:
“O nosso carro representa a vida. Porque traz um povo sofrido que se apegou à fé, fé em padre Ciço e veio a esperança. Da fé do povo em padre Ciço veio a esperança de um mundo melhor, de coisas melhores. Então o nosso carro representa a nossa esperança, a nossa fé na vitória da nossa escola. E o carro está lindo, é uma emoção a cada ano, a cada desfile, eu chego até a chorar, não tem como conter a lágrima, a paixão pela Unidos de Padre Miguel é grande”, disse a técnica de enfermagem emocionada.
No centro do carro havia uma escultura de Jesus Cristo, na sua frente um pedaço de queijo e uma taça de vinho, como se ele fosse a esperança de uma vida melhor àquele povo.
O padre Cícero veio simbolizado em uma escultura que estava deitada na frente do carro, como se estivesse rezando pelo seu povo que viria atrás.
Falando em esperança em uma vida melhor, os componentes da Unidos de Padre Miguel não perdem a esperança de ver a escola campeã da Série Ouro e, consequentemente, ascendendo ao Grupo Especial.
“Eu acredito que já passou da hora da escola subir para o Grupo Especial. Acho que nós estamos aqui desde 2017, mostrando um carnaval extremamente fora da curva para a Série Ouro. E é o ano que devemos subir. E esse carro é, primeiramente, grandioso, que traz a mensagem de Cícero e que traz essa grandiosidade que é a Unidos de Padre Miguel”, disse Matheus Moura, de 27 anos.
Para a grande rainha, Edclea Neves, que veio no abre-alas, a emoção de desfilar no carro foi imensa.
“Todos os carros da UPM estão muito bonitos, esse está representando a santa ceia e é com muita emoção que eu venho nesse carro, estou muito emocionada com a escola, que mais qualquer uma, merece subir e eu espero que ela esse ano consiga subir. Já saí aqui de destaque uma vez, e agora estou vindo no abre-alas, com esse rei maravilhoso, que foi padre Cícero, que sempre quis um futuro melhor para o nordeste, além de acabar com a fome, a sede, e outras coisas ruins que haviam naquela terra”, contou Edclea.
União da Ilha apresenta Festa de Erê no encontro entre Doum e Amora
“Viva o encontro no Aiyê! É festa de Erê!” foi o segundo carro da União da Ilha neste segundo dia de desfiles. Representando o momento que ocorre o encontro das duas crianças que protagonizam o enredo para brincar e dançar pela comunidade insulana, ele veio com as imagens de São Cosme e Damião e Doum como figuras centrais junto de um grande pião por onde Doum e Amora brincaram. Com diversos doces, oferendas para os erês, se destacando as árvores de algodão-doce, e atabaques conduzidos por ogãs, para realizar o “bate tambor” como canta a letra do samba.
Alguns dos componentes que vieram de Ogãs no carro, Luciano Júnior, de vinte e cinco, e Flávio Sobreira, de vinte e sete, comentaram sobre o carro, contando sobre a Festa dos Erês que ocorreu na avenida: “A festa de Erê é a alegria propriamente dita e é o que a gente vai transmitir na avenida. Quando a gente vê ali, é a encarnação do próprio erê. As crianças felizes aplicando o que foi ensinado pra elas pelos pretos velhos”, explicou Flávio. “A gente vem representando os ogãs. A gente vai bater o tambor pros erês, para as crianças pularem à vontade aqui, curtirem, literalmente, essa Sapucaí”, continuou Luciano. “Que é isso que a Ilha vai fazer, ela vai mostrar tudo que ela precisa mostrar de ponta a ponta feliz, toda a importância da criança, do ensinamento da criança pro futuro da nossa nação”, concluiu Flávio.
Conversamos também com Uemi Morgado e Bárbara Vitória, que vieram como Doum e Amora neste carro. Uemi, de trinta e um anos, falou sobre interpretar Doum: “Ele é um ser iluminado e tem junto com uma amizade muito legal com a Amora, que está do meu lado”. Bárbara, que tem dezessete anos, contou sobre a menina Amora também: “Ela é uma criança de periferia e que, sem querer, invoca o Doum e eles saem pelo mundo espalhando essa magia de criança e representando isso”. Ambos desfilam pela primeira na Ilha, e se encantaram com o enredo e com o carro em que vieram: “É a primeira vez que eu estou tendo essa experiência e eu estou achando sensacional. Tudo isso para mim tem muita representatividade de fato e traz muito a realidade da nossa vida de infância, e o que a gente traz de toda a nossa bagagem, isso é muito maneiro”, contou Uemi. “Eu particularmente achei o carro lindo, antes eu passei na Cidade do Samba, eu vi tudo sendo montado, então quando vê, pronto, é muito bonito de se ver. E também, eu tô bem nervosa com a experiência, né, que é a primeira vez também, mas eu tô feliz, eu tô animada”, complementou Bruna, logo em seguida, a caminho do desfile.