Chegou! Escolas do Grupo Especial abrem o domingo no Carnaval 2024 com expectativa de ‘banquete plástico’
Chegou o grande dia! Neste domingo, dia 11 de fevereiro, a partir das 22h, as primeiras seis escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro irão desfilar pela Marquês de Sapucaí para o carnaval 2024. Os sambistas, que aguardaram um ano inteiro, finalmente vão poder acompanhar o maior espetáculo da Terra. E o site CARNAVALESCO vai transmitir, a partir de 20h30, com áudio direto do Sambódromo.
Passarão pela avenida, nesta noite, a Porto da Pedra, que promete rugir alto com seu tigre, voltando à elite carioca após 12 anos de ausência. Logo em seguida, virá a soberana Beija-Flor, querendo causar um grande delírio carnavalesco em plena Sapucaí. Depois será a vez do Salgueiro, que está pronto para soltar flechas certeiras em busca do título que não vem há muitos anos. Em sequência, desfilará a Grande Rio, prometendo transformar todo mundo em onça enquanto a lua não for comida. Posteriormente, será a hora da Unidos da Tijuca, querendo dançar o fado português para contar os mitos e lendas do país europeu. E, por fim, passará na avenida a atual campeã Imperatriz, contando com a sorte virada para a lua para buscar o bicampeonato.
O regulamento do Grupo Especial para o carnaval 2024 traz pontos importantes que todas as escolas devem cumprir em seus desfiles. Cada agremiação deverá passar pela Marquês de Sapucaí em, no mínimo, 60 minutos e em, no máximo, 70 minutos. O limite mínimo de alegorias é de 4, e o limite máximo é de 6. A apresentação de tripés é facultativa, sendo, no máximo, 3, e só podendo ter, no máximo, 2 pessoas sobre cada um deles. A comissão de frente tem 10 componentes como limite mínimo e 15 componentes como limite máximo. O número mínimo exigido de ritmistas na bateria é de 200. Já na ala das baianas, o número mínimo de integrantes é 60, não sendo permitidos homens. É proibida a utilização de qualquer espécie de animal vivo. Não é permitida a apresentação de pessoas com a genitália à mostra. Também é proibido qualquer tipo de ‘merchandising’ implícito ou explícito.
Porto da Pedra
A primeira escola a desfilar no Grupo Especial neste domingo de carnaval será a Unidos do Porto da Pedra. A vermelho e branco de São Gonçalo irá apresentar na avenida o enredo “Lunário Perpétuo”, de autoria do carnavalesco Mauro Quintaes, abordando a importância do livro, escrito na Espanha durante o século XIV, para o saber popular do povo do Nordeste do país, já que funcionou como uma enciclopédia, por conter ensinamentos de variados temas. A equipe da escola também conta com o coreógrafo de comissão de frente Júnior Scapin, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Rodrigo França e Denadir Garcia, o intérprete Wantuir, o mestre de bateria Pablo e a rainha de bateria Tati Minerato. No carnaval de 2023, o Porto da Pedra foi campeão da Série Ouro e ganhou o direito de desfilar no Grupo Especial em 2024, retornando após 12 anos. A escola nunca foi campeã na elite carioca. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
Beija-Flor
A segunda escola a passar pela Sapucaí neste primeiro dia de desfiles será a Beija-Flor de Nilópolis. A azul e branco irá mostrar o enredo “Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila”, de autoria do carnavalesco João Vitor Araújo, contando a história deste personagem, que se declarou pertencente da nobreza africana da Etiópia, mesmo estando em Maceió e sendo apaixonado pelo carnaval da cidade. O time da agremiação também tem os coreógrafos de comissão de frente Jorge Teixeira e Saulo Finelon, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Claudinho e Selminha Sorriso, o intérprete Neguinho da Beija-Flor, os mestres de bateria Plinio e Rodney, e a rainha de bateria Lorena Raíssa. No carnaval de 2023, a Beija-Flor foi a quarta colocada do Grupo Especial. A escola tem 14 títulos em sua galeria. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
Salgueiro
A terceira agremiação a desfilar na avenida neste domingo será o Acadêmicos do Salgueiro. A vermelho e branco do Andaraí levará para a Sapucaí o enredo “Hutukara”, de autoria do carnavalesco Edson Pereira, mostrando a cultura dos yanomamis e defendendo a preservação dos povos originários diante da exploração humana. A equipe da escola também conta com o coreógrafo da comissão de frente Patrick Carvalho, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Sidcley Santos e Marcella Alves, o intérprete Emerson Dias, os mestres de bateria Guilherme e Gustavo, e a rainha de bateria Viviane Araújo. No carnaval de 2023, o Salgueiro foi o sétimo colocado no Grupo Especial. A escola já foi campeã por 9 vezes. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
Grande Rio
A quarta agremiação a passar na Marquês de Sapucaí pela elite carioca será a Acadêmicos do Grande Rio. A tricolor de Caxias apresentará na avenida o enredo “Nosso Destino é Ser Onça”, de autoria dos carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad, falando sobre a criação do mundo segundo o mito tupinambá e abordando as representações da onça nesse contexto cultural. O time da escola também tem os coreógrafos de comissão de frente Hélio e Beth Bejani, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Daniel Werneck e Taciana Couto, o intérprete Evandro Mallandro, o mestre de bateria Fafá, e a rainha de bateria Paolla Oliveira. No carnaval de 2023, a Grande Rio foi a sexta colocada na elite carioca. A escola foi campeã uma vez, em 2022. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
Unidos da Tijuca
A quinta escola de samba a desfilar no Grupo Especial deste ano será a Unidos da Tijuca. A amarelo e azul do Borel levará o enredo “O Conto de Fados”, de autoria do carnavalesco Alexandre Louzada, mostrando todos os mitos e lendas que formam o imaginário de Portugal, além dos grandes feitos dessa nação. A equipe da agremiação também conta com o coreógrafo de comissão de frente Sérgio Lobato, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Matheus André e Lucinha Nobre, o intérprete Ito Melodia, o mestre de bateria Casagrande, e a rainha de bateria Lexa. No carnaval de 2023, a Unidos da Tijuca foi a nona colocada da elite. A escola tem 4 títulos em sua sala de troféus. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
Imperatriz
A sexta e última escola a passar na avenida no domingo de carnaval será a atual campeã Imperatriz Leopoldinense. A verde e branco de Ramos contará o enredo “Com a Sorte Virada pra Lua Segundo o Testamento da Cigana Esmeralda”, de autoria do carnavalesco Leandro Vieira, mostrando toda a cultura cigana através de um cordel escrito há mais de 100 anos, no qual a personagem principal teria deixado um testamento, como se fosse uma espécie de manual da sorte. O time da escola também conta com o coreógrafo de comissão de frente Marcelo Misailidis, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Phelipe Lemos e Raphaela Theodoro, o intérprete Pitty de Menezes, o mestre de bateria Lolo, e a rainha de bateria Maria Mariá. Com o título do carnaval de 2023, a Imperatriz possui 9 campeonatos em sua história. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
Coreógrafo da comissão de frente da Vai-Vai fala em boicote sobre elemento que pegou fogo pouco antes do desfile
A equipe do Vai-Vai passou por um susto no início da noite deste sábado, horas antes do desfile. O elemento cenográfico preparado para ser utilizado pela comissão de frente da agremiação teve um princípio de incêndio quando estava sendo movimentado para a posição na concentração. O coreógrafo da Vai-Vai, Robson Bernardino, afirmou em entrevista ao site CARNAVALESCO na dispersão após o desfile que o incidente foi um boicote à tradicional agremiação do Bixiga.

“Na verdade colocaram fogo no nosso carrinho. Acho que foi um boicote, mas o nosso assistente do carnavalesco, o Victor, viu e apagou. Depois, o pessoal do barracão refez. Mas não teve nenhum problema na nossa comissão além disso não. Era uma opção estar acesa a palavra Hip Hop, optamos em não acender, e isso depois não vai na pasta. E deixamos apagado por uma opção mesmo para não ter problema de apagar durante o desfile. Mas, o que aconteceu foi que vimos colocando fogo com isqueiro e apagamos”, afirma o profissional.
Luiz Robles que faz parte da comissão de carnaval da Escola do Povo, foi um pouco mais cauteloso em relação ao boicote, mas afirmou que toda a situação foi muito estranha.
“A gente não sabe porque pegou fogo do nada. A gente estava movimentando a alegoria e de repente começou a pegar fogo. A gente não sabe o que aconteceu até agora. Mas Exú está sempre com a gente abrindo os caminhos e a gente conseguiu recuperar o piso e vim na pista e mostrar para a galera porque a gente voltou para o Grupo Especial”, conta o dirigente.
Luiz Robles também declarou que a princípio a escola não pretende tomar nenhuma medida mais drástica em relação ao ocorrido após, segundo ele, um grande desfile da Vai-Vai.
“Eu acho que a gente não tem que investigar não , a gente é a escola do povo, o carnaval está aí, vamos esquecer isso de boicote porque a gente tem um ‘carnavalzaço’ na pista”, entende Luiz.
O elemento cenográfico representava a Estação São Bento do metrô, que fica no centro da cidade e é um local icônico para o movimento do Hip Hop, pois jovens da periferia de São Paulo lá se encontravam para dançar, grafitar, etc.
Segunda noite de desfiles da Série Ouro evidencia favoritismo da Unidos de Padre Miguel, mas disputa com Império Serrano e União da Ilha promete esquentar apuração
A segunda noite de desfiles da Série Ouro confirmou o favoritismo da Unidos de Padre Miguel na disputa pelo título, a escola da Zona Oeste fez um desfile irretocável, com destaque para o impacto visual e se colocou na disputa pelo inédito acesso ao Grupo Especial. Porém, a disputa promete ser forte com outras escolas, o Império Serrano entrou na disputa após encerrar os desfiles nos braços do povo, o Reizinho de Madureira promoveu um grande Xirê de orixás na avenida, mas problemas de acabamento em alegorias podem comprometer o tão sonhado título. Outra agremiação que passou pela avenida com muita força, foi a tradicional União da Ilha, a harmonia em alto nível e a apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira foram os destaques em um desfile extremamente coeso da insulana.
O Arranco do Engenho de Dentro fez um desfile surpreendente nesta noite e a homenagem à Nise da Silveira passou pela avenida evidenciando a criatividade do carnavalesco Nícolas Gonçalves, o conjunto visual fugiu do óbvio e foi extremamente autoral. Outro desfile agradável foi o da Em Cima da Hora, a escola de Cavalcanti levou para avenida um enredo que exaltou a classe operária, a passagem da azul e branca teve um ótimo canto, porém, erros em evolução e acabamento das alegorias distanciam a escola do sonho por voos mais altos. Duas escolas passaram pela avenida com problemas em seus desfiles, mas nada que possa fazer com que elas briguem na parte de baixo da classificação, são elas, a São Clemente, que prestou uma justa homenagem ao compositor Zé Katimba, e a Unidos de Bangu, que levou para a avenida um enredo sobre São Jorge. O desfile mais crítico da noite ficou a cargo da Sereno de Campo Grande, a escola abriu os desfiles e enfrentou muitas dificuldades durante sua apresentação, o conjunto alegórico apresentou falhas de acabamento, o canto não foi uniforme e a evolução foi comprometida diversas vezes por conta de inúmeros buracos ao longo do desfile. Veja abaixo como passou cada escola.
SERENO DE CAMPO GRANDE
A escola foi a primeira a se apresentar na Marquês de Sapucaí neste sábado de carnaval da Série Ouro. A azul e branco levou o enredo “4 de Dezembro” para a avenida. O desfile da agremiação ficou marcado pelos inúmeros problemas de evolução, com muitos buracos abertos em vários pontos da pista, inclusive em frente às cabines de jurados, por conta da dificuldade de locomoção das alegorias. * LEIA AQUI A ANÁLISE COMPLETA
EM CIMA DA HORA
Com o enredo “A Nossa Luta Continua”, do carnavalesco Rodrigo Almeida, a Em Cima da Hora foi a segunda agremiação a desfilar neste sábado de carnaval. Marcada por um desfile com um ótimo desempenho do carro de som e canto positivo entre os componentes, a agremiação de Cavalcanti pecou na evolução e apresentou falhas no acabamento das alegorias. * LEIA AQUI A ANÁLISE COMPLETA
ARRANCO
O Arranco do Engenho de Dentro foi a terceira escola a pisar na avenida no segundo dia de desfiles da Série Ouro. A aposta em soluções estéticas diferentes deu certo e a escola demonstrou extremo bom gosto no uso de materiais alternativos para compor seu conjunto visual, com destaque para as fantasias. Foi a estreia do carnavalesco Nícolas Gonçalves na agremiação e a escolha se mostrou um grande acerto, desde a escolha do enredo até a apresentação na noite deste sábado. Além da criatividade, vale destacar também o trabalho harmônico realizado, o entrosamento do carro de som e bateria impulsionou o samba-enredo e fez com que a comunidade passasse de forma leve, espontânea e feliz. * LEIA AQUI A ANÁLISE COMPLETA
UNIÃO DA ILHA
A União da Ilha foi a quarta a se apresentar na Marquês de Sapucaí neste sábado de carnaval da Série Ouro. A tricolor insulana levou o enredo “Doum e Amora: Crianças para Transformar o Mundo” para a avenida. A União da Ilha entrou com muita força na avenida. Já na comissão de frente foi apresentado um ótimo trabalho, em um número cheio de significado e representatividade. O casal de mestre-sala e porta-bandeira foi destaque, ao mostrar um bailado forte, limpo e veloz, com belas coreografias. O samba-enredo foi fortemente entoado por todo o conjunto da escola, resultando em uma harmonia de excelente nível. A bateria deu uma verdadeira aula de ritmo e de bossas, com alta qualidade musical, impulsionando ainda mais a agremiação, que também teve no carro de som uma atuação firme e competente. * LEIA AQUI A ANÁLISE COMPLETA
UNIDOS DE PADRE MIGUEL
A Unidos de Padre Miguel foi a quinta escola a pisar na avenida no segundo dia de desfiles da Série Ouro. A escola entrou na avenida com gritos de ‘é campeã’ e saiu aclamada após realizar um desfile irretocável. O impacto visual esteve presente desde o início do desfile com a comissão de frente, o enorme tripé chamou atenção e mostrou que a escola estava disposta a conquistar o tão sonhado acesso ao Grupo Especial, na sequência, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Vinícius Antunes e Jéssica Ferreira mantiveram o padrão. O que se viu em seguida foi uma escola extremamente bem vestida, com apuro estético de impressionar e acabamento de primeira. * LEIA AQUI A ANÁLISE COMPLETA
SÃO CLEMENTE
A São Clemente levou para a avenida o enredo “Que grande destino reservaram para você!”, do carnavalesco Bruno de Oliveira, e exaltou a carreira e vida do baluarte e compositor Zé Katimba. Fantasias, leitura do enredo e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira foram os destaques. * LEIA AQUI A ANÁLISE COMPLETA
BANGU
A Unidos de Bangu foi a sétima a se apresentar na Marquês de Sapucaí neste sábado de carnaval da Série Ouro. A vermelho e branco levou o enredo “Jorge da Capadócia” para a avenida. O desfile da agremiação se mostrou bem problemático. As alegorias eram simples e tinham graves defeitos de acabamento, com esculturas quebradas e panos rasgados. As fantasias tiveram bom uso de cores, mas irregularidade no acabamento. * LEIA AQUI A ANÁLISE COMPLETA
IMPÉRIO SERRANO
Coube ao Império Serrano a missão de encerrar os desfiles no segundo dia da Série Ouro. Após o rebaixamento considerado injusto por muitos no ano passado, o Reizinho de Madureira entrou na avenida disposto a mostrar que de fato é uma escola de Grupo Especial. A ancestralidade trazida no enredo contagiou o imperiano, que pisou no Sambódromo emocionado, aguerrido e com muito gás. Impulsionado pela “Sinfônica do Samba”, comandada por mestre Vitinho, o samba-enredo foi um dos protagonistas do desfile. * LEIA AQUI A ANÁLISE COMPLETA
Samba é cantado com força e Ifá faz Tucuruvi sonhar
Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins
Aclamado por muitos como o melhor samba do Grupo Especial do carnaval 2024 de São Paulo, a Acadêmicos do Tucuruvi teve uma apresentação próxima da catarse. Sétima (e última) escola a desfilar no sábado de carnaval (10 de fevereiro), a agremiação da Serra da Cantareira teve excelente rendimento da canção, um conjunto musical brilhante, uma ótima exibição do Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira… um quesito, entretanto, pode ser crucial para definir a ventura do Zaca – como a agremiação é popularmente conhecida. Apresentando o enredo “Ifá”, desenvolvido pelos carnavalescos Dione Leite e Yago Duarte, a escola teve 62 minutos na passarela.
Comissão de Frente
Em determinados momentos, é impossível não relacionar a coreografia com o já histórico Exu do enredo “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu”, campeão pela Acadêmicos do Grande Rio em 2022 e imortalizado por Demerson D’Álvaro. Não à toa: no enredo, ele é quem contará a amizade de Ifá com Orunmilá, outras duas entidades de religiões de matrizes africanas. Com um grande tripé, os coreografados por Renan Banov executaram uma dança envolvendo muita palha no tripé, em movimentos bastante bonitos esteticamente. Ao descer da alegoria, todos dançavam com igual vigor – incluindo momentos no qual, de dois em dois, os bailarinos se deitavam no chão até o próprio tripé chegar próximo dos mesmos. Vale pontuar que o instante no qual os componentes desciam para a passarela acontecia nas proximidades dos módulos, fazendo uma apresentação diferenciada para os julgadores.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Substituindo Waleska Gomes, Beatriz Teixeira se tornou apenas a quarta porta-bandeira da Acadêmicos do Tucuruvi desde 2022 – Fabíola Andrade e Thaís Paraguassu completam a conta. No primeiro bailando juntamente com Luan Caliel (desde 2020 na escola), a evolução de ambos na agremiação foi nítida e bastante perceptível em casa ensaio realizado e observado pela reportagem. O desfile apenas coroou uma trajetória de crescimento exemplar: com exibição excelente em todos os quatro módulos, cumprindo balizamentos obrigatórios e cheios de energia, sincronia e bailado, a dupla teve ótimo papel ao longo de toda a apresentação.
Enredo
Dos enredos mais celebrados do carnaval paulistano, a Acadêmicos do Tucuruvi também pegou muitos de surpresa pela temática a ser desenvolvida pelos carnavalescos – haja vista que, dentre tantas entidades africanas muito conhecidas pelo grande público, Ifá não está entre elas. Citando a criação da natureza e até mesmo a travessia de afrodescendentes para o Brasil, o orixá do destino na cultura iorubá também clama por justiça, respeito e igualdade aos seguidores – pregando uma mensagem de resistência, força e tolerância. Vale destacar que, conforme o desfile se encaminha para o seu final, também são mencionadas as forças da natureza – como a energia do ar, Oya; e da terra, Oduduwa. A ala que encerra o carnaval é uma grande celebração de tudo que a escola e a própria folia procuram – sobretudo em um enredo de tanta densidade cultural: “A diversidade aos olhos de Ifá – me abraça, somos irmãos”.
Alegorias
É importante salientar que, na função de membros de um setor, cada alegoria costuma ter concepções bastante diferentes. Foi o caso dos carros produzidos pela Acadêmicos do Tucuruvi, cada um com um DNA bastante diferentes um do outro – o que quer dizer que cores, esculturas, estilos e motivações eram bastante diversas ao longo de todo o desfile. O abre-alas, “Agito, Borbulhas, Fagulhas – A Terra Se Fez Cabaça” era inteiramente em tons escuros, pendendo para o vermelho, com esculturas de entidades africanas; já o quarto e último carro, “De Amanhecer Um Novo Dia – Aos Olhos de Ifá”, pensando no futuro em Ifá, tinha uma estética muito mais pendendo para o verde – não à toa, a cor da esperança.
Fantasias
Tal quesito, certamente, definirá a sorte da escola na apuração. É bem verdade que a escola utilizou materiais muito adequados em absolutamente todas as fantasias, todas com bom gosto estético e de boa durabilidade. A questão, entretanto, são algumas escolhas feitas pela agremiação. A ala 01, “Irofá”, estava sem chapéu e costeiro. Mais adiante, havia uma sequência de três ou quatro alas sem calçados – que incluía, por exemplo, a ala 14, “Osún e a energia da água”. Caso tais situações estejam explicadas, é justo dizer que a agremiação pode, inclusive, sonhar com o título; se não, o quesito pode derrubar as pretensões do Zaca – em contato com representantes da agremiação, a instituição destacou que tudo está documentado para os jurados, e que as alas sem calçados foram assim concebidas pois o enredo pede o contato de determinadas alas diretamente com o chão.
Harmonia
Após o quesito brilhar no segundo ensaio técnico da agremiação, o Zaca deixou claro que tal excelente momento do cantar da agremiação não é por acaso. Com uma obra aclamada por toda a comunidade do carnaval paulistana, os componentes do Extremo Norte paulistano corresponderam a contento ao longo de toda a apresentação. Mais do que ser um canto bastante uniforme, ele foi inteiramente uníssono e vigoroso, causando ótima impressão – e, em muitos momentos, sendo bem respondido pela arquibancada.
Samba-enredo
Se o enredo pegou muitos de surpresa, o samba-enredo, desde quando foi escolhido em uma fortíssima eliminatória, foi apontado como uma das grandes canções do ciclo carnavalesco paulistano. Bastante melódica, a canção é propícia para que, em alguns momentos, a comunidade cante forte – embora não seja criado para empolgar pelo ânimo; mas, sim, pela beleza e riqueza na construção. Comandante da Bateria do Zaca, Mestre Serginho já destacou que a preciosidade da obra motivou a mudança de planos dele e de toda a diretoria ao fazer arranjos mais do que especiais – e os ritmistas conseguiram sustentar a canção muito bem ao longo de toda a passarela, com destaque para a convenção em que, na segunda parte do samba, apenas os atabaques executam a função do segmento. Estreante na instituição, Hudson Luiz colaborou sobremaneira para que o samba “pegasse na veia”, já que o intérprete, de voz bastante marcante, ornou muito bem com a canção composta por Macaco Branco, Carlos Bebeto, Djalma Santos, Chiquinho Gomes , Dr. Marcello Medeiros e Denis Moraes.
Evolução
O quesito teve uma inversão bastante curiosa e rara pensando na imensa maioria dos desfiles de escolas de samba. O andamento da escola começou bastante acelerado – com doze minutos, por exemplo, a comissão de frente já estava fazendo a coreografia para o segundo módulo de jurados. A situação começou a mudar na hora em que a Bateria do Zaca fez o movimento para entrar no recuo – que durou cerca de 135 segundos e aconteceu por volta dos 25 minutos. Após ocupar tanto a passarela quanto o box, os ritmistas entraram no espaço e cederam o espaço para a ala seguinte. A partir de tal momento, a agremiação passou a ter movimentos bem mais morosos – e, mesmo assim, encerrou o seu desfile em tranquilos 62 minutos.
Outros Destaques
Falando na Bateria do Zaca, é importante destacar a rainha, Carla Prata, única presente na corte da agremiação.
De olho nos quesitos: julgadores de enredo questionam densidade cultural e relevância histórica das narrativas
O quesito enredo é um dos mais complexos de se julgar em um desfile de escola de samba. De acordo com o manual do julgador da Liesa divulgado para o desfile de 2024, o enredo “é o conteúdo da narrativa construída sobre um tema, um conceito ou uma história que é apresentada de forma sequencial, por meio de representações iconográficas como elementos cenográficos (alegorias e adereços) e figurinos (fantasias)”. Para julgar é preciso considerar a concepção da temática, que é a argumentação, a clareza da apresentação e a criatividade (não o ineditismo do tema). No subquesito realização, o juri observa a leitura daquilo que foi apresentado na avenida, a sequência correta de alas e alegorias bem como a carnavalização do tema proposto.

A reportagem do CARNAVALESCO observou as notas e justificativas utilizadas por Arthur Gomes, Jhony Soares, Carolina Vieira e Marcelo Filgueira, os quatro responsáveis por julgar enredo em 2024, para traçar um perfil daquilo que eles mais costumam observar para penalizar um desfile. A base de dados estudada vem de 2018 pra cá. No período Arthur e Jhony julgaram cinco vezes, Marcelo três e Carolina entrou em 2022.
Em relação a outros quesitos, enredo é um que não costuma ‘perseguir’ as escolas que desfilam no domingo de carnaval. Das 80 notas 10 aplicadas nos últimos anos pelos jurados de 2024 a distribuição é igual entre as duas noites de Grupo Especial. Foram 40 no domingo e 40 na segunda-feira.
Nenhum jurado de enredo possui índice superior a 50% de notas 10 dadas, o que demonstra que o nível de exigência sobre o quesito é elevado. Arthur, Jhony e Marcelo possuem índices semelhantes de notas máximas, variando entre 42 e 45%. Quem destoa da turma é a novata Carolina Vieira. A julgadora só deu sete notas 10 em 24 possíveis nos dois anos que julgou, índice inferior a 30%. Dessas notas máximas, 72% delas aconteceram na segunda noite. Foram apenas duas notas máximas no domingo de carnaval.
Viradouro com o melhor desempenho, Tuiuti o pior
Se considerarmos apenas as notas aplicadas nos últimos cinco anos pelos jurados de 2024, a Viradouro não perdeu um décimo no quesito na apuração desde que voltou ao Especial em 2019. Ela foi penalizada uma única vez com um 9,9 mas como a nota é descartada, não houve prejuízo. O desempenho é destacadamente o melhor entre as escolas. Imperatriz e Portela são quem mais se aproximam da vermelha e branca. A atual campeã perdeu oito décimos e a Majestade do Samba, cinco.
Por outro lado, o Salgueiro tem sofrido neste quesito. Até os próprios salgueirenses vem admitindo que os enredos apresentados pela escola vem afastando a vermelha e branca das primeiras colocações. Com os jurados de 2024 a Academia perdeu impressionantes 2,1 pontos desde 2018, desconsiderando eventuais descartes de notas. Mas o desempenho mais frágil foi do Tuiuti, que foi penalizado com a perda de 2,5 pontos. Unidos da Tijuca e Mocidade (1,5) além da Beija-Flor (1,2) também precisam melhorar em enredo.
Dificuldades de leitura e erros de conceito dominam justificativas
Entre as justificativas mais apontadas pelos jurados de enredo, a reportagem do CARNAVALESCO encontrou a maioria no subquesito da realização. Uma das mais usadas é sobre a leitura do enredo. A facilidade de compreensão da temática é um fator fundamental para que uma escola de samba alcance a nota máxima neste quesito. Enredos excessivamente complexos que causem dificuldades de entendimento vem sendo penalizados.
Embora não conste do manual do julgador, algumas conceituações presentes nos enredos são alvo de penalizações. Em 2018, por exemplo, o Salgueiro apresentou o enredo ‘Senhoras do Ventre do Mundo’. A narrativa apresentou a força da negritude feminina em setores da sociedade. Um dos jurados do quesito puniu a escola por considerar que havia muitas figuras masculinas em um enredo feminino. Erros históricos também costumam causar perda de décimos.
Outros aspectos abordados pelos julgadores de enredo: realização diferente daquilo que consta no livro abre-alas; conjunto estético irregular causando dificuldades de clareza na apresentação; erros de roteirização e ausência de alas e alegorias no desfile que comprometem a apresentação do enredo.
Império de Casa Verde homenageia Fafá de Belém em desfile tecnicamente impecável
Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins
O Império de Casa Verde realizou na noite de sábado seu desfile no Sambódromo do Anhembi no carnaval de 2024. Tecnicamente impecável, a escola teve grande desempenho da harmonia e da sua ala musical, além de apresentar um belo conjunto de alegorias e fantasias. O Tigre Guerreiro foi a sexta escola a se apresentar pelo Grupo Especial, fechando os portões após exatamente uma hora.
Comissão de Frente
A comissão de frente intitulada “Ritual Kanapí: as Caboclas na defesa da mata”, se apresentou em dois atos marcados por passagens do samba e teve a presença de um elemento alegórico representando um igarapé, planta aquática típica da região amazônica. O grupo cênico contou com a atuação de uma protagonista que representou Fafá de Belém como “A cabocla escolhida”, em meio ao conflito entre as Caboclas Jurunas e os Seres da Ambição.
No primeiro ato ocorre a encenação desse duelo entre os dois agrupamentos, enquanto no segundo Fafá, que é coberta por um manto representando a bandeira do estado do Pará, é erguida pela grande flor do igarapé, girada por parte dos demais atores. O grupo cênico conseguiu representar bem a proposta do enredo de relacionar Fafá de Belém a rituais, e nos momentos em que a alegoria foi utilizada chamou a atenção do público. O único apontamento possível é para os efeitos especiais de faíscas e fumaça que o tripé soltava, que não ocorriam em um momento específico da coreografia e não foram acionados em todas as apresentações da comissão de frente, mas que não devem ser considerados pelos jurados.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal do Império, formado por Rodrigo Antônio e Jéssica Gioz, desfilou com fantasias nomeadas de “O Indígena Juruna e Nossa Senhora de Fátima”. A dupla esteve em grande noite não apenas pela sincronia de movimentos apresentados ao cumprir com todas as obrigatoriedades do quesito nos quatro módulos em que foram observados, mas também pela criatividade da coreografia aplicada à dança tradicional em determinados momentos do samba e a incrível agilidade com a qual a dança ocorria. A alegria era evidente no rosto de ambos, que combinava muito bem com suas belas fantasias, credenciando Rodrigo e Jéssica a serem considerados um dos melhores casais do carnaval de 2024.
Enredo
O enredo do Império de Casa Verde em 2024 foi “Fafá, a cabocla mística em rituais da floresta”, assinado pelo carnavalesco Leandro Barboza. A ideia do Tigre foi homenagear a cantora Fafá de Belém em uma proposta diferente em relação ao que os desfiles do gênero costumam fazer. A religiosidade da artista, que tem a mente aberta para agregar a positividade de diferentes crenças, teve papel fundamental no desenvolvimento dos rituais apresentados ao longo do desfile. Festas tradicionais da região Norte do Brasil como o Círio de Nazaré, a Pajelança e o famoso Festival Folclórico de Parintins estiveram presentes ao longo de toda a narrativa.
O conceito dos rituais que cada setor propôs acabaram tendo uma aplicação mais conceitual. Na prática, a história de Fafá de Belém foi retratada na forma de momentos que representam as fases da vida da artista não apenas na carreira musical solo como também na presença nas festividades nortistas e na sua religiosidade. Para o público, o que se viu foi a caracterização de Fafá como uma pessoa do povo, que vivencia e aprecia a cultura de sua terra natal tal qual tantas outras caboclas. Era um pedido da cantora que as mulheres da região fossem exaltadas no desfile, e esse objetivo o Império cumpriu com honras.
Alegorias
O Tigre Guerreiro se apresentou com quatro carros alegóricos. O Abre-alas foi intitulado “Círio de Nazaré indígena: Fafá, a Maria dos Jurunas”, enquanto a segunda alegoria recebeu o nome de “Fafá na encantaria da floresta avermelhada”, a terceira se chamou “Festejos de Fafá – O Pará da Pavulagem” e a última foi batizada de “Fafá, a estrela em cena no teatro da mata”. A proposta das alegorias foi apresentar Fafá de Belém em diferentes rituais representados em cada carro, misturando a religiosidade com a carreira da artista.
As alegorias foram capazes de representar o grande destaque de cada setor proposto pelo desfile imperiano, e chamaram atenção principalmente pela boa volumetria e a presença de muitos elementos visuais diferenciados, como articulações criativas e telões no caso do último carro, onde inclusive a homenageada desfilou sobre uma estrela segurada pela escultura de uma pessoa indígena. Foi observado, porém, que boa parte da iluminação do lado direito do segundo carro passou apagada pela Avenida, cabendo aos jurados avaliarem o impacto dessas luzes no conjunto visual da alegoria.
Fantasias
As fantasias das alas do Império representaram as diferentes propostas de rituais contidos em cada setor do desfile. O primeiro setor teve nas roupas uma associação da figura de Fafá de Belém com sua religiosidade. Os setores dois e três apresentaram elementos da cultura nortista para narrar os rituais associados aos festejos da região. O último setor contou com a celebração da carreira de Fafá após ganhar fama internacional.
O conjunto de fantasias das alas cumpriu bem a função de retratar a proposta de cada setor, e as roupas no geral não atrapalharam os componentes a brincarem o carnaval. O único apontamento fica para a ala “Enamorou Portugal”, cujo costeiro contava com algumas bandeiras que enroscaram entre si nas fantasias de alguns desfilantes.
Harmonia
O “Eeeeemoriô” deu o tom da harmonia imperiana ao longo de todo o desfile. O bom samba da escola foi clamado pelos componentes com clareza e vigor, elevando o nível durante as bossas e apagões aplicados pela bateria “Barcelona do Samba”. O destaque especial vai curiosamente para a ala chamada “Emoriô”, cujos desfilantes estavam especialmente animados.
Samba-Enredo
O samba do Império de Casa Verde foi composto por André Diniz, Samir Trindade, Gustavo Clarão, Fabiano Sorriso, Darlan Alves, Evandro Bocão, Marcelo Casa Nossa e Tinga, e foi defendido na Avenida pela ala musical liderada pelo intérprete Tinga, que também assina a obra. A obra explora o conceito de rituais proposto pelo enredo para exaltar Fafá de Belém em diferentes momentos de sua vida. O grande destaque da rica obra imperiana, curiosamente, está no simples “bis” composto pela palavra “Emoriô”, que dá nome e marca versos de um clássico da cantora. O samba teve bom desempenho ao longo de todo desfile na voz do intérprete Tinga e contribuiu positivamente para o conjunto imperiano.
Evolução
A evolução imperiana ocorreu com muita tranquilidade ao longo do desfile. A arrancada da ala musical começou no exato momento em que os portões se abriram, e a escola no geral aproveitou bem o tempo na Avenida, fechando os portões com exatamente uma hora de apresentação. Uma única parada na evolução foi percebida por certo momento além da habitual entrada no recuo, mas nada que comprometa o desempenho do Tigre no quesito.
Outros Destaques
O grande destaque do desfile inevitavelmente vai para a presença da homenageada, a cantora Fafá de Belém. Não só marcou presença ao longo de todo o processo de construção do desfile como se tornou mais uma imperiana. Junto da ala musical, a artista cantou o samba-exaltação do Tigre, fez discurso motivador antes da arrancada da apresentação e foi destaque principal da última alegoria da escola com roupas que muito lembraram a própria arte oficial do enredo. A ala das baianas se apresentou com uma bela fantasia simbolizando as “Senhoras Jurunas sob o manto de Nazaré”, que misturou elementos católicos e indígenas.