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Salgueiro traz o histórico massacre Yanomami para a Sapucaí

Salgueiro Esp01 003Apesar do enredo “Hutukara” do Salgueiro ter sido elaborado por conta dos recentes males do garimpo na terra dos Yanomamis e pelo descaso do poder público com esse povo. Não é de hoje que o garimpo fere esse povo originário. A ala 16, chamada “Massacre de Haximu” representa um fato histórico muito triste ocorrido com esses indígenas há mais de 30 anos.

Foi no ano de 1993 que aconteceu uma chacina encomendada por um garimpeiro com um bilhete: “Faça bom proveito desses otários”, foi uma barbárie que resultou na morte de 16 indígenas, homens, mulheres e crianças que habitavam a região montanhosa da Terra Yanomami, conhecida como Haximu, em Roraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela.

O acontecimento brutal ganhou notoriedade na mídia, dos 24 garimpeiros apontados, apenas cinco foram identificados plenamente e condenados.

Salgueiro Esp01 002Para a professora Tatiana Fagundes, contar sobre o massacre indígena no carnaval é trazer um debate sério em um dos maiores palcos do mundo, e ajuda a ampliar a compreensão do tema.

“Esse ano nós estamos desfilando com o tema Hutukara, que vai trazer um pouco da história dos Yanomamis. E a minha ala, que é a 16, vai trazer a representação do Massacre de Haximu, que foi quando a gente teve um pouco mais de noção, mas ainda muito vaga, em relação daquilo que acontece com os Yanomamis no nosso país. A escola traz essa perspectiva ampliada desse debate em relação aos Yanomami de uma maneira muito profunda e é isso que a gente vai mostrar na avenida. O carnaval amplia a possibilidade da gente compreender aquilo que está acontecendo no nosso país. Então existe um processo de carnavalização mesmo de toda essa discussão que tem, de fato, com um fundo político, mas também com a alegria de estar aqui. Uma coisa não exclui a outra e essa que é a grande questão para nós. É importante que esses temas apareçam porque fazem parte da história do nosso país, tanto as culturas indígenas na sua ruralidade, quanto as culturas de matrizes africanas, tudo aquilo que nos forma enquanto povo, sobretudo a população negra e a população indígena. Que são as maiorias minorizadas no nosso espaço, na nossa cidade, enfim, no nosso país”, disse a professora Tatiana Fagundes, de 39 anos.

Salgueiro Esp01 001Até hoje, o massacre de Hamixu é o primeiro e único caso de julgamento por genocídio indígena no Brasil. Diante da sensibilidade do tema, o figurino da ala caracteriza a morte dos indígenas apenas pelo símbolo da caveira e o bilhete sujo de sangue na gola da roupa.

Sendo uma fantasia volumosa, com uma caveira em cada ombro e uma no topo da cabeça, simbolizando a morte, os componentes tinham um bilhete ensanguentado no peito. As cores fortes e maquiagem marcante deixam nítido que a fantasia é sobre algo triste.

“A nossa fantasia é maravilhosa. Achei que podia ter mais cor, mas está de acordo com o tema que a gente vai retratar, que foi uma chacina de indígenas que ocorreu a muitos anos atrás. Então conforme o tema é uma fantasia mais sombria, com caveiras, com cores escuras, totalmente de acordo com o significado. Não nego que eu esperava uma coisa mais alegre, falando das festas indígenas, já que a grande maioria da escola vem colorida. Mas ficou para gente a parte ruim. Alguém tem que contar, mas é importante também”, contou a biomédica, Nicole Santos de 28 anos.

Samara Silva, técnica em radiologia, elogiou a maneira pela qual a fantasia foi feita.

“Apesar do significado triste, mas necessário, a fantasia é maravilhosa, boa para a evolução e espero trazer o título do Salgueiro, que traz para o carnaval história de um povo originário tão sofrido e importante para o nosso país.”

Pinah, a ‘Cinderela Negra’ que encantou o então príncipe da Inglaterra, fascina a Passarela do Samba

Beija Esp03 001Pinah, a ‘Cinderela Negra’ que encantou o Rei da Inglaterra quando ele ainda era príncipe, fascinou a Sapucaí na noite deste domingo. Com a fantasia “A Deusa da Passarela”, a baluarte da Beija-Flor de Nilópolis desfilou como destaque de chão e também recebeu homenagens da Azul e Branca: uma das destaques da quarta alegoria – que fez referência à história da escola – representou a baluarte.

Há quase cinco décadas na escola de samba, Pinah viveu a experiência de desfilar longe de uma alegoria. Mesmo com tanta experiência, o sentimento de pisar no solo sagrado da Sapucaí continua o mesmo.

Beija Esp03 003“É sempre uma enorme emoção, porque parece que é a primeira vez que eu estou pisando nesse solo sagrado. Eu tenho muita gratidão, amor e respeito pelo meu pavilhão. É um orgulho representar a comunidade nilopolitana”, disse a baluarte nilopolitana.

A fama internacional começou em março de 1978, logo após o carnaval daquele ano. A agremiação de Nilópolis se apresentava no Palácio da Cidade durante uma visita do então príncipe Charles. Sem saber com quem havia acabado de dançar, Pinah viu sua vida mudar.

“Ele veio ao Brasil à convite do prefeito da época. Eu realizava uma apresentação com o Joãosinho Trinta. Na hora o príncipe ficou enlouquecido (risos). Éramos cerca de 400 pessoas – parecia um desfile mesmo. Eu sabia quem era o príncipe, mas naquele momento não o reconheci. Fiquei sabendo só no dia seguinte, quando a minha mãe me perguntou o que eu havia feito – a imprensa do mundo inteiro estava na minha porta. Quando fui ver, descobri que dancei com o futuro Rei da Inglaterra”, explicou.

Na alegoria que representou o povo nilopolitano com seus delirantes enredos rumo a Maceió, Pinah foi representada por Renata Pérola, cria da Azul e Branca. Essa foi a terceira vez que a baluarte foi homenageada pela agremiação e marca o legado deixado por ela. Questionada sobre a mensagem que ela planeja deixar para a nova geração, ela destacou o respeito pelo pavilhão.

“Até brinco dizendo que Deus vai me ‘puxar’, porque estão me homenageando muito (risos). Mas isso significa que eu fiz um trabalho muito bonito e elegante. Para as próximas gerações, peço que respeitem o pavilhão – não importa qual escola é. O respeito e a gratidão pelo pavilhão é fundamental”, afirma.

A Beija-Flor de Nilópolis foi a segunda agremiação a desfilar na Marquês de Sapucaí na noite deste domingo. A agremiação da Baixada Fluminense levou para a Passarela do Samba o enredo “Um delírio de carnaval na Maceió de Rás Gonguila”, do carnavalesco João Victor Araújo.

Passistas da Beija-Flor levaram a Etnia Suri para a Sapucaí com uma fantasia cheia de cores e representatividade

Beija Esp02 001A Beija-Flor apostou este ano em um enredo que falou sobre as nobrezas de Maceió, de Nilópolis e da Etiópia, trazendo à tona um encontro mágico de personagens reais guiados pela luz dos encantados e da ancestralidade, com as cores, os ritmos e os pisados dos folguedos das Alagoas. Destacou na narrativa o personagem Rás Gonguila, nascido em Maceió no início do século passado, que cresceu ouvindo histórias encantadas de antepassados reis e rainhas na distante Etiópia. A Beija-Flor trouxe de forma lúdica toda essa narrativa, difundindo um importante personagem da cultura de Maceió.

A etnia Suri, retratada na fantasia da ala de passistas da Beija-Flor, trouxe para a coroação de Selassie suas máscaras tribais adornadas com pintura de bolinhas e pequenos frutos e sementes silvestres. As fantasias muito coloridas, com cores fortes como o roxo e o rosa se destacaram, além do detalhe nos braços e a máscara no chapéu que fez referência a tribo da Etiópia que tinha como característica maior a pintura do corpo e do rosto.

Beija Esp02 002Marcos Lemos de 42 anos é um dos integrantes da ala de passista masculino e contou um pouco sobre sua trajetória como passista e explicou sobre a fantasia: “A nossa ala vem falando sobre uma tribo da Etiópia e a característica maior dessa tribo é a pintura do corpo e do rosto. Nos preparamos muito. Eu desfilo como passista há quatorze anos, eu já frequentava a escola pela comunidade e eu vim no projeto da Selminha. É uma honra estar dentro da ala de passista da Beija-flor.”

“A nossa fantasia ela representa um delírio, um sonho que o Rás Gonguila teve e vem representando uma tribo que gostava de pintar os corpos, por isso tem essa malha com essas pintas marrons. E assim, eu estou muito feliz de estar representando o Rás Gonguila e espero que a Beija-flor venha campeã, que é o sonho de todo esse integrante que desfila, que a gente passa o ano todo trabalhando para que corra tudo bem no Carnaval”, contou Cris Keller de 38 anos.

Baianas da Beija-Flor brilham na avenida com uma fantasia que foi um festival de prata

Beija Esp01 003A Beija-Flor se envolveu nos devaneios de Benedito Santos, o Rás Gonguila, e mergulhou em uma jornada encantada de reis negros e folguedos afro-brasileiros, com as nobrezas de Maceió, de Nilópolis e da Etiópia. As baianas do grêmio nilopolitano apresentou uma fantasia que foi um festival de prata em plena pista. Com vestidos brancos em detalhes pratas e o beija-flor na saia do vestido, as matriarcas levaram na sua fantasia muita delicadeza, beleza e representatividade na Avenida

“Nossa fantasia é o folião do beija-flor e essa é a primeira vez que eu estou saindo na escola e eu estou adorando, meu coração está a mil aqui dentro, estou muito emocionada. O nosso enredo estava maravilhoso e nós estamos torcendo, porque ele vai ganhar. Temos que ganhar, estamos muito lindas”, comentou Cândida dos Santos Ramos Alves de 62 anos.

Beija Esp01 002A fantasia representou uma história de 1948, quando um grupo de foliões se reuniu na casa de Tia Eulália. Queriam fundar um
bloco novo, que ainda não tinha nome. Ela lembrou do tempo de menina, quando desfilava no Rancho Beija-Flor, em Valença. Foi quando um beija-flor cruzou o seu quintal, parou no ar por uns instantes e sumiu no céu azul de nuvens brancas. Neste delirante bater de asas de um beija-flor, estava criada e batizada a Associação Carnavalesca Beija-Flor, que mais tarde seria a grande escola campeã, tendo Tia Eulália como a única mulher entre os fundadores.

Carla Valéria que desfila como baiana da Beija-Flor há 20 anos, contou sobre a emoção de desfilar mais uma vez com a escola, o quanto deseja o primeiro lugar e a recepção do enredo e fantasia das baianas na Avenida: “ Quero ser campeã, chega de levar o caneco para outra escola, eu tenho saudades de ser campeã, desde 2018 que a gente não ganha, já tem muito tempo e esse é um enredo que foi bem aceito pelo público, pela crítica também e a comunidade abraçou o samba, cresceu muito durante esse tempo e agora mais ainda na avenida.”

Beija Esp01 001“Sou baiana da Beija-Flor há 5 anos, para o carnaval desse ano eu sei que a gente está falando de Maceió, porque eu não sei falar de enredo, é muito difícil de falar porque eu não sei ler, só sei que eu estou aqui, me distraindo e eu tenho que estar bem, eu já estou velha, tenho 82 anos e estou aqui maravilhosa e vou passar, eu sei que eu já estou velha, mas tenho muito pique ainda para rodar essa baiana e se Deus deixar ainda ano que vem de novo, nossa fantasia de baiana está linda, eu adorei muito, muito bonito e esse grupo está show de bola, muito bonito”, contou Nilceia Costa de 82 anos.

Porto da Pedra: fotos do desfile no Carnaval 2024

De roxo, baianas da Porto da Pedra evocam alquimia floral

PP Esp04 003Com o nome de “Elementais da Vida”, a fantasia das baianas da Porto da Pedra animaram suas componentes. As senhoras de São Gonçalo vieram com muitas flores e rendas na cor lilás, e representaram os estudos da alquimia floral que valorizam a planta viva para a descoberta de diversos sabers de cura, sendo colhidas em plena luz da lua. Além disso, a fantasia contou com um destaque especial neste ano, com diversas luzes de LED localizadas na saia e nas costas da roupa. Algumas baianas da agremiação falaram sobre a beleza da indumentária e do conforto da roupa para o desfile do Carnaval de 2024.

Débora Rosa, quarenta e cinco anos, é baiana da Porto da Pedra há quinze, e ressaltou a beleza da fantasia, acreditando que a avenida irá gostar: “Esse ano está muito linda, está muito linda mesmo, eu gostei, a cor também está perfeita, não está pesada e assim, é uma cor que vai chamar atenção na avenida, é uma baiana que vai fazer surpresa, todo mundo vai surpreender com a nossa baiana”. Para ela a inovação do LED vai ser algo que chamará a atenção da avenida e dá um ar de novidade para a escola: “Muito boa para a escola e para o público também, é uma inovação que a Porto da Perda está fazendo e vai chamar atenção, pode apostar que vai”.

PP Esp04 004Vanderlita Patrocínio, de cinquenta e três anos, é baiana da escola há um ano, e aprofundou um pouco sobre o significado da fantasia da escola: “A fantasia vem representando a Lamparina, a flor que roda no céu e é deslumbrante, linda, na cor roxa, que é exatamente a cor das Lamparinas, também dos vaglumes da noite, e vai surpreender todo o público e os jurados”. Em relação as inovações, acredita que o LED vai ser repetido por outras escolas futuramente: “Tem LED, é diferente. Quer dizer, é uma inovação que com certeza vai ser modelo para as outras escolas, com toda certeza. A gente vai apresentar um carnaval muito bonito”. Ela encerrou reforçando a presença das flores no enredo: “A cor também simboliza o que vem na letra, então as baianas estão certinhas conforme o enredo, nesse ano”.

Selma Regina, cria da escola, vem como baiana há 35 anos: “Tá muito bonita. Muito chique, tá linda”. Ao elogiar os detalhes e as diferenças que a fantasia trouxe, Selma reforçou o conforto da fantasia, e outros aspectos que chamaram a atenção: “Gostei do LED, tá diferente da que a gente sai sempre, mas tá muito gostosa de usar. A cor também é bonita, porque a escola é vermelha e branca, e esse ano a gente tá se vestindo de roxinho. Então tá bonito. Perfeito”, contou sorrindo.

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Dom Bosco estreia no Grupo de Acesso I buscando segurança e em grande noite do Casal

Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins

Pela primeira vez no Grupo de Acesso I na história, a Dom Bosco buscou uma apresentação animada e correta, evitando erros, para defender o enredo “Um causo arretado de um povo pra lá de valente…O cordel de um nordeste independente”, idealizado pelo carnavalesco Danilo Dantas. Primeira agremiação do domingo de carnaval (11 de fevereiro), a instituição da Zona Leste teve uma grande noite do Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira e um Enredo bastante criativo para inverter a lógica xenofóbica contra nordestinos: e se fossem eles que se separassem do Brasil? A coesão em um desfile uniforme para minimizar desafios também foi um objetivo do grêmio.

Comissão de Frente 

Intitulada “Trupe mambembe nordestina” e coreografada por Luana Polleti, o segmento teve desempenho bastante correto ao longo de toda a exibição. Com a utilização de um box móvel (de onde os componentes retiravam itens que remetem ao Nordeste, como uma sombrinha de frevo; e um imenso lençol, onde estava escrito “Cordel do Nordeste Independente”), diversos bailarinos interagiam com roupas do mesmo modelo, mas de cores diferentes. Alguns outros integrantes tinham mais destaque de acordo com a coreografia – como, por exemplo, um personagem fantasiado de cangaceiro. Claramente buscando a funcionalidade, o segmento não teve erros de execução e apresentou bem o enredo – principal objetivo de uma comissão de frente.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Sofrendo com muita chuva no primeiro ensaio técnico e com fortes ventos no segundo, Leonardo Henrique e Mariana Vieira tiraram de letra uma noite com condições climáticas bastante favoráveis para o quesito – com pista seca e quase sem rajadas de ar. Nos quatro módulos, ambos tiveram boa condução e sustentação do pavilhão, sem erros de execução notados e com todos os balizamentos obrigatórios cumpridos.

Enredo

Para defender a riqueza social e cultural do Nordeste, a Dom Bosco propõe uma reflexão: e se a região conhecida pelas belas praias e pela alegria se tornasse independente do atual território que ocupa? Para a agremiação, quem sairia perdendo seria o que hoje é conhecido como Brasil. Inspirado na música “Nordeste Independente”, composta por Braulio Tavares e Ivanildo Villa e que teve Elba Ramalho como grande intérprete, o fio condutor é o sonho de um garoto que dormiu após ofensas aos nordestinos como um todo – e sonha com o quanto a região é importante para os brasileiros em geral. Ele, entretanto, acorda em uma festa junina, em meio a uma romaria, com nordestinos e pessoas de todas as regiões possíveis unidos – dando o mote para a união que o país tanto precisa.

Alegorias

Para uma escola que está abrindo uma noite de desfiles, os carros da Dom Bosco vieram bastante imponentes. O primeiro deles, “Portal do Agreste Nordeste Independente”, com a mascote da escola e uma série de cactos, era bastante alto e continha três chassis deixando clara a motivação da agremiação – aqui, entretanto, um dos soldados não movimentou a perna esquerda. No segundo, “Palácio dos Três Poderes do Sertão”, uma brincadeira com a política brasileira: o presidente do Nordeste Independente seria Luiz Gonzaga, dos mais famosos cantores da história do Brasil e nascido em Exu, cidade pernambucana na divisa com o Ceará. Na alegoria, o intérprete estava com uma sanfona, roupa de cangaceiro e em uma espécie de construção bastante imponente. No terceiro, “Auto da União – Fé e celebração”, um encontro ecumênico entre Nossa Senhora Aparecida (padroeira do Brasil) e Padre Cícero (grande referência da religiosidade nordestina) selava o retorno das relações entre o país e a região “reais”. Também vale pontuar o tripé “Lampião Herói ou Vilão”, relembrando o histórico Virgulino Ferreira da Silva, rei do cangaço.

Fantasias

Ao longo de toda a exibição, a agremiação alternava alas com materiais mais nobres (como a ala 03, “Moda Nordestina – vestidos a caráter”, inteiramente representada como cangaceira) com outras de tecidos mais em conta – como a ala 07, “Verde das matas, sementes e das folhas”. Ao longo de todo o desfile, entretanto, não foram observados erros de acabamento, tampouco de execução. É importante, também, pontuar que a escala cromática foi bastante adequada, sem cansar de tons ou cores em específico.

Harmonia

A Dom Bosco está localizada no bairro de Itaquera, na Zona Leste de São Paulo. E, assim como é característico em agremiações de tal região, a escola teve bom nível de canto no geral. Havia, entretanto, oscilações. Os ritmistas da bateria, por exemplo, pouco colaboravam para que a canção ecoasse no Anhembi. Já as duas últimas alas do desfile, a 15 (“Patrimônios Culturais”) e a 16 (“Festa Junina e o Povo Festeiro”), estavam bastante animadas e cantavam em volume bastante considerável.

Samba-enredo

Composto por Turko, Maradona, Rafa do Cavaco, Fábio Souza e Diogo Souza, a obra é elogiada por boa parte do carnaval paulistano desde quando foi apresentada. Bastante leve e com algumas expressões típicas do Nordeste (como “pra mode a gente prosear” e “Padim Ciço”), a obra busca contar o sonho do menino (vide o quesito “Enredo”) de maneira lúdica e bastante idílica para combinar com o sonhador garoto, de baixa idade e com uma visão pura. Além da ótima interpretação de Rodrigo Xará e da condução bastante segura da Gloriosa, bateria da agremiação comandada por Mestre Bola, também é importante ressaltar o competente carro de som da agremiação para que a obra tivesse boa exibição desde antes da canção ser executada – tudo por conta da ótima introdução interpretada por Ariane Cuer e Yara Melo.

Evolução

Tal quesito talvez tenha sido o grande desafio da Dom Bosco na estreia no Grupo de Acesso I. O começo da escola teve andamento bastante moroso, comprovado pelo fato de que a bateria entrou no recuo com cerca de trinta minutos – exatamente a metade do tempo máximo do desfile. Após tal movimentação (que teve ótima dinâmica, com cerca de oitenta segundos de duração), a instituição, claramente, começou a acelerar um pouco mais para evitar qualquer tipo de problema em relação ao cronômetro. No final das contas, o tempo de encerramento da exibição, 56 minutos, indica que, talvez, o quesito pudesse ter sido mais uniforme.

Outros Destaques

Na corte da Gloriosa, destaques para a rainha Mayra Barbosa e para a madrinha Mariana Mello, além do Passista de Ouro Tomaz Claudino.

Em sua estreia no Grupo Especial, mestre Pablo rompe tradição de desfilar fantasiado

PP Esp03 001A bateria de uma escola de samba sempre é um dos pontos mais aguardados de um desfile. Os ritmistas são responsáveis pela execução perfeita dos instrumentos, a sustentação do andamento durante todo o cortejo, além da apresentação de bossas para impulsionar o desempenho de todos, além de buscar a comunicação com o público. Porém, algo também muito importante para a bateria é a sua fantasia. Um figurino quente ou pesado pode atrapalhar o trabalho dos ritmistas e impactar no resultado.

O mestre Pablo, do Porto da Pedra, costuma brincar bastante com essa questão, se vestindo de forma muito divertida e chamando a atenção de todos. Porém, para o desfile de 2024 no Grupo Especial, o diretor preferiu se vestir de forma mais simples, usando um paletó e calça dourados.

Já seus ritmistas vieram utilizando uma fantasia de nome “O Assombro do Sertão”, que representava o cordel mais famoso impresso na folhetaria de Manoel Caboclo, chamado “O Cobra-Choca na Pega do Lobisomem”, que narrava o enfrentamento entre um valente sertanejo e o lobisomem que assombrava o sertão. A reportagem do CARNAVALESCO conversou com ritmistas sobre o que acharam da fantasia.

PP Esp03 002“A fantasia é leve e não é tão quente quanto parece. A cabeça da fantasia fica mais pra cima, então não atrapalha nossa visão. O bom é que nossos braços estão livres para tocar os instrumentos. Minha expectativa para o desfile é ótima. Acredito que vamos dar um show e continuar no Especial”, falou Marcelo Calado, de 45 anos, que toca caixa na bateria do Porto da Pedra.

“Estamos representando o lobisomem. Nossa fantasia é um pouco quente, mas não tem problema. O importante é que ela não atraplaha para tocar. Os braços ficam livres, então é tranquilo. A cabeça do lobo não fica no campo de visão. Nunca vi a escola tão forte e bonita como está hoje. A galera está cantando muito. Vamos ficar no grupo e até brigar mais pra cima”, disse Mateus Costa, de 31 anos, que toca caixa na escola de São Gonçalo.

Simbolizando coragem e bravura, componentes se impressionam com maior tigre da história da Porto da Pedra

PP Esp02 001O Tigre de São Gonçalo é um dos apelidos carinhosos da Porto da Pedra. Símbolo da coragem, bravura e resistência da escola que retornou ao Grupo Especial depois de doze anos. Este ano o tigre veio no pede passagem da escola, enredando-se nos mistérios dos símbolos e do poder da alquimia, anunciando a profética do saber popular, sendo a maior escultura do animal já vinda na história da escola de São Gonçalo, com vinte e dois metros de comprimento e altura, segundo o carnavalesco Mauro Quintaes. Com um material bem realista, o pede passagem traz o nome da escola sob os cuidados da escultura, que rugiu alto ao passar pela avenida, abrindo a primeira noite de desfiles do grupo especial. O CARNAVALESCO conversou com alguns componentes sobre a bravura e o símbolo máximo da escola.

Sinésio Maldonado, de cinquenta e oito anos, contou o que sentiu do gigante tigre da escola: “Como a gente está sabendo, ele está grandioso, está um Tigre, um dos maiores carros que já vieram na avenida, então eu acredito que vai ser um espetáculo muito bonito, esse Tigre vai surpreender bastante quem está assistindo o desfile”, contou ele sobre a grandiosidade do símbolo da agremiação, complementando com a lembrança que o tigre veio rugindo na avenida: “Eu acredito que vai ser um espetáculo lindo, vem mesmo para chamar a atenção de todo mundo, e estou sabendo por alto que ele vai ter altos gritos. Vai ser maravilhoso!”. O folião que desfila há quatro anos, comemorou o aniversário desfilando na escola de São Gonçalo, e acredita que o tigre deste ano é uma das mais belas alegorias que passaram na história da Sapucaí: “Pra mim é um dos tigres mais bonitos que tá vindo em todos esses anos que a gente desfila na escola”. Por fim, para ele a comunidade veio a garra que só o tigre possui, depois de muito trabalho ao longo do ano: “A comunidade tá vindo com uma garra muito grande. A gente tem a experiência da esquadra, dos ensaios que a gente tem feito esses meses. Tá com uma força muito grande, bem bacana”, encerrou ele.

PP Esp02 004Débora Oliveira, de trinta e sete anos, veio pela primeira vez desfilando pela escola, e ficou impressionada com o trabalho feito no tigre: “É um trabalho artístico mesmo e você vê que nos pequenos detalhes a escola vem com muita vontade”.Para ela, no enredo o tigre também pode ser encarado como símbolo da força do povo nordestino também, conforme trazido no enredo, além da tradicional garra da escola de São Gonçalo: “O Tigre, ele representa a força. E a escola vem com vontade de vencer, permanecer no especial”.

Já Jeff Meireles, de trinta e cinco anos, relacionou o tigre ao enredo da escola, como um portador do Lunário Perpétuo: “Ele retrata o Lunário Perpétuo do meio do século 18, quando toda aquela questão mitológica era transmitida de pai para filho, essa coisa mística, com o advento das enciclopédias, dos almanaques, das literaturas em cordéis, essas coisas puderam ser registradas, onde o mito deixou de ser mito, e aquelas coisas que foram comprovadas, remédios, rezas que realmente funcionavam, foram tidas não só como ciência de curandeirismo, mas como uma coisa real e participativa da vida do povo. E muitas dessas perduram até hoje, tais como plantar em lua cheia, em lua crescente, não na lua minguante, porque senão míngua, olhar para o céu, e a partir dali, você saber que de repente amanhã chova ou não, e o tigre vem trazendo essa situação”. O componente que vem em seu segundo ano pela escola, se animou com a estética diferente da escultura deste ano: “Ele está diferente de como foi apresentado nas outras vezes. A cor que dá uma realidade a ele, deixa exuberante. É a forma com que, tipo assim, quando a gente pensa em colocar um desenho, uma máquina, a gente olha os detalhes e alguns não se importam, não. Ele até nos mínimos detalhes foram tratados com bastante realidade, como são os dentes, aquela penugem que ele tem, os sensores do focinho, muito lindo”.

PP Esp02 008Lucas Fontes, gonçalense que veio pela primeira vez desfilando na Porto da Pedra, se impressionou quando viu a alegoria na concentração: “O tigre está lindo pelo que foi falado. Ele é o segundo maior carro alegórico da história da avenida, perto só da Águia Redentora da Portela. Isso é maravilhoso, lindo”. O folião de vinte e nove anos encontrou no tigre a imponência da escola, no seu retorno ao Grupo Especial: “O símbolo da escola é o tigre que representa a bravura, o sangue da escola de São Gonçalo. É a representação da própria escola”.

Componentes da Porto da Pedra vibram com retorno ao Grupo Especial

PP Esp01 003A Unidos do Porto da Pedra está de volta ao Grupo Especial. O ultimo desfile havia sido em 2012, quando foi rebaixada para o grupo de acesso. Depois de 12 anos de tentativas, a escola se mostra pronta e confiante para desfilar na elite. A expectativa é muito alta entre os componentes da escola, que esperaram tanto tempo por esse momento. A reportagem do site CARNAVALESCO conversou com alguns componentes antes da passagem da agremiação pela Sapucaí.

“Desfilo há 21 anos no Porto da Pedra. Sempre acreditei que a gente voltaria ao Especial. A escola está muito linda. Minha expectativa é muito grande. Tenho confiança que a gente vai permanecer no grupo”, falou a baiana Lecy Vicente, de 78 anos.

PP Esp01 002“Eu desfilava na Viradouro, mas agora é o primeiro ano que estou desfilando no Porto da Pedra. Eu moro em São Gonçalo. A escola está muito bonita. O nosso tigre vai rugir alto. Se depender do que estamos vendo aqui dos carros na concentração, a gente vai continuar no Grupo Especial. Se Deus quiser”, disse Camila Daselina, de 30 anos.

“Pelo que eu vi aqui na concentração, vai ser um dos maiores carnavais da história do Porto da Pedra. Não só na plástica, mas no todo. Acredito muito que a gente vai continuar no grupo. Vamos dar um grande show na avenida”, falou Thiago Nascimento, de 27 anos.

PP Esp01 004“Nunca vi a Porto da Pedra tão grande e tão bonita como eu estou vendo agora. Além de ficar no Especial, a gente vai brigar mais pra cima na tabela. Todo mundo está cantando muito forte, isso ficou claro no ensaio técnico. Vamos repetir no desfile. Nossa escola vai dar um grande show”, disse Hebert Soares, de 38 anos.

“Sou morador de São Gonçalo e torcedor do Porto da Pedra. Tem tudo para ser o maior desfile da história da nossa escola. Estamos muito grandes e bonitos. Não viemos apenas para ficar no grupo. Vamos ficar, pelo menos, entre as seis primeiras. Tenho muita confiança, porque a comunidade está cantando muito”, falou Cristian José, de 28 anos.