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Baianas da Grande Rio encantam Sapucaí com manto Tupinambá

GR Esp01 002As baianas da Grande Rio, quarta escola da noite, desfilaram de “Açoiaba Manto Tupinambá”, numa fantasia que representou, em forma de denúncia, o roubo de peças fundamentais para a compreensão da nossa história. A fantasia foi influenciada pela artista Célia Tupinambá, que acompanha o processo de negociação e retorno de mantos roubados do Brasil por viajantes europeus. Esses mantos eram utilizados pelos tupinambás desde tempos imemoriais em diversos rituais.

Muito colorida, a fantasia contava com colares em formato de presa, sob o manto. A parte frontal vinha com uma flor feita com penas falsas, tal qual o costeiro, e a saia com diversas cores. As costas em tons de vermelho, vinham como plumas diversas. Todas as baianas da Grande Rio vieram também com uma máscara de onça, de madeira, muito leve, além de um pequeno papagaio em cima do ombro esquerdo. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, algumas baianas conversaram sobre a fantasia com que desfilaram no enredo “Nosso destino é ser onça”.

GR Esp01 004Lenise Miranda, baiana de quarenta e cinco anos, adorou as cores vivas da fantasia, e em especial a saia: “Eu achei maravilhosa, coloridíssima e muito viva. Adorei, adorei mesmo. A saia está muito bonita esse ano, muito bonita mesmo. Todos os anos sempre está! A Grande Rio sempre arrebenta nas fantasias”, comentou ela, que vem pelo terceiro ano como baiana da escola, destacando a leveza da saia e da fantasia como um todo: “Esse ano a saia está com um diferencial muito confortável, e eu até pensei que esse ano ia vir bem pesada a fantasia, mas está bem tranquila. Até o chapéu também veio bem confortável. Está tudo ok”. Lenise continuou contando os detalhes que chamaram a atenção para ela: “Gostei dessas ombreiras e desses detalhes coloridos da saia, que está bem colorida, bem detalhada mesmo”.

Sandra Helena, de sessenta e um anos, baiana desde 2016, amou o carinho dado à confecção da fantasia: “Quem fez a fantasia, idealizou com muito carinho. É um carinho, uma mescla de cores, uma mescla de informação. Tá muito linda”. O que mais chamou a atenção dela na fantasia foram as costas: “Eu quase nem vejo, mas essas costas estão lindas. Está um manto. Eu diria que está a transformação da onça. Porque quando ela se camufla, você não vai ver essa frente. Ela se esconde atrás dessa capa”.

GR Esp01 003Janaína Helena, de quarenta anos, reforçou o amor das baianas pelo colorido da fantasia neste carnaval: “Eu achei um luxo, maravilhosa, representando muito a escola, colorida, feliz, alegria. É isso que representa, e eu gostei das cores, que eu acho que o colorido traz uma representatividade do carnaval”. Já o que mais chamou a atenção dela no conjunto foi a cabeça da fantasia, em com flores em tons vermelhos, além da representação dos tupinambás.

Silvânia do Nascimento veio pela primeira vez na ala das baianas da escola, e gostou da armação e da leveza da fantasia: “Linda, perfeita e impecável. A saia é perfeita, a armação dela não é tão pesada quanto eu imaginei que fosse, é bem confortávelzinha. Tem o seu peso, mas tá normal, eu achei que fosse mais pesada”. A nova baiana, de quarenta anos, gostou também da concepção e da perfeição da fantasia “Os designs arrasaram, ficou perfeito. A fantasia se encaixou perfeitamente dentro do enredo, dentro do que a escola vai mostrar pra vocês na avenida, todo mundo vai gostar. Nosso destino é ser onça hoje!”.

‘Razão do meu cantar feliz’: quarta alegoria da Beija-Flor levou a essência nilopolitana para a avenida

Beija Esp04 004A quarta alegoria da Beija-Flor de Nilópolis foi batizada de “A razão do meu cantar feliz”, uma representação do povo nilopolitano com seus delirantes enredos rumo à Maceió, para coroar o Rás Alagoano. Repleto de beija-flores e adereços que faziam referência à história da escola, o carro alegórico trouxe membros da velha guarda, além de grandes nomes da história da agremiação, como Sônia Capeta, primeira rainha de bateria nilopolitana, e Cássio Dias. A baluarte Pinah – a destaque que sambou com o então príncipe Charles – foi representada por Renata Pérola, cria da escola.

Um dos maiores passistas do carnaval carioca, Cássio Dias representou o principal símbolo da Azul e Branco: o beija-flor. Há 35 anos na escola ele afirmou ser uma enorme felicidade ser um dos destaques do carro que representou a história da agremiação.

Beija Esp04 002“É a maior felicidade que eu poderia ter. Neste ano, completo 35 anos de Beija-Flor, e desfilar no carro que representa a soberania nilopolitana é um grande presente. Sou muito grato à minha comunidade e à presidência. A alegoria representa muito bem a história da escola. A minha fantasia representa o próprio beija-flor – o maior símbolo da escola. Foi um presente que o ‘seu’ Anísio mandou me entregar. Nunca perco aquele frio na barriga (risos). Agradeço a Deus e aos orixás por estar em mais um carnaval”, contou Cássio.

A velha guarda também foi reverenciada na alegoria. Grandes personalidades do mundo do samba e fundamentais para a concretização do que o espetáculo do carnaval se tornou, os baluartes ficaram emocionados com a alegoria. É o caso de Sueli Martins, aposentada de 68 anos, que desfila na agremiação há 47 anos.

Beija Esp04 001“Este carro não representa só a história da escola, ele me representa. Eu chorei muito quando peguei essa fantasia, porque ela está linda. A alegoria também está maravilhosa e mostra a história e a essência da nossa escola. A Beija-Flor representa tudo na minha vida: saúde, prazer e alegria. Não vivo sem ela e, se um dia eu parar, acho que morro”, disse Sueli, componente da velha guarda.

Pinah, a baluarte nilopolitana que em 1978 encantou o então príncipe Charles, da Inglaterra, também foi homenageada pela alegoria. Ela foi representada por Renata Pérola, 35 anos, cria da Azul e Branca. Na época com dez anos de idade, viu na Cinderela Negra uma inspiração.

Beija Esp04 007“Eu tinha apenas dez anos quando me encantei com essa mulher maravilhosa, que é a Pinah. A partir daí, eu sonhava em me tornar uma mulher igual a ela. Ela é esplêndida e tem muita representatividade na vida da nossa comunidade. A Beija-Flor me deu a oportunidade de ser uma Pinah em um desfile. O carnaval é a realização de sonhos. A Beija-Flor representa isso e é 80% da minha vida. Ela nos trás a representação da nossa raça e luta pela nossa igualdade”, contou Renata.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Beija-Flor no desfile

Um ótimo desfile da bateria “Soberana” da Beija Flor de Nilópolis, sob comando dos mestres Rodney e Plínio. Uma conjunção sonora valiosa foi apresentada, pautada pelo equilíbrio e uma fluência plena entre todos os naipes, graças a uma equalização de timbres acima da média. Uma bateria da Beija com bossas dançantes e executando de modo frequente seus arranjos, ajudando a levantar a obra da escola para os componentes.

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Uma bateria da Beija Flor com uma afinação de surdos privilegiada foi percebida. Marcadores de primeira e de segunda foram precisos e educados durante todo o cortejo. Os surdos de terceira deram um balanço envolvente ao ritmo da azul e branca da Baixada. Repiques de alta qualidade técnica tocaram juntos de caixas de guerra consistentes, além de frigideiras que adicionaram um tom metálico a autêntica batucada nilopolitana.

Uma parte da frente do ritmo da “Soberana” a altura da cozinha da bateria foi exibida. Uma ala de cuícas segura foi notada. Um naipe de tamborins equilibrado e ressonante tocou de modo entrelaçado com uma ala de chocalhos de alto nível técnico. É possível dizer que o casamento musical entre tamborins e chocalhos foi um dos pontos altos do trabalho envolvendo as peças leves.

Bossas intimamente ligadas a melodia do samba foram percebidas. Arranjos musicais que se aproveitaram das variações melódicas da obra da Beija foram realizadas com segurança. Destaque para o swing envolvente e boa sonoridade produzida na paradinha do refrão do meio, que ajudou a impulsionar o samba da escola, além de permitir uma interação dançante eficiente para os componentes. Algumas nuances rítmicas em forma de breques também fizeram parte da musicalidade apresentada, evidenciando boa versatilidade rítmica.

A apresentação na primeira cabine (módulo duplo) foi bastante eficiente e segura. Todas as bossas foram feitas com firmeza. Uma exibição ainda melhor foi realizada na segunda cabine, com os mestres soltando o leque de bossas duas vezes consecutivas, tamanha era a segurança no ritmo nilopolitano. No último julgador mais uma exibição de qualidade foi realizada, coroando o grande desfile da bateria “Soberana” da Beija Flor, comandada pelos mestres Rodney e Plínio.

Beija-Flor se reencontra com sua identidade visual em desfile com alegorias e fantasias exuberantes, mas erro de evolução compromete busca pelo campeonato

Por Luan Costa e fotos de Nelson Malfacini

A Beija-Flor de Nilópolis foi a segunda escola a pisar na avenida na primeira noite de desfiles do Grupo Especial. Apesar de estar em uma posição de desfile inédita para a agremiação e considerada ingrata para muitos sambistas, a escola entrou na avenida com a habitual garra da comunidade. O desfile desta noite marcou o reencontro da azul e branca com a sua identidade visual que marcou história no carnaval, o conjunto de alegorias e fantasias teve gigantismo, luxo e acabamento de primeira marcaram todo o desfile. A passagem Nilopolitana pela avenida começou de forma marcante, a comissão de frente apostou no uso de pequenos elementos cenográficos e causou uma boa impressão junto ao público, assim como a apresentação encantadora de Claudinho e Selminha Sorriso. Porém, nem tudo foi perfeito, a evolução, apesar de correta em boa parte do percurso, teve um grande deslize justamente em frente ao módulo duplo de julgamento, a quinta alegoria travou pouco depois de entrar na avenida, as alas da frente seguiram e um grande buraco foi deixado.

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Apresentando o enredo “Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila”, desenvolvido pelo carnavalesco João Vitor Araújo, que fez sua estreia na azul e branca de Nilópolis de forma extremamente positiva, a escola homenageou a cidade de Maceió por meio do personagem Rás Gonguila, um filho de escravizados que acreditava ser descendente da realeza etíope. A agremiação terminou sua apresentação com 68 minutos.

Comissão de Frente

A comissão de frente coreografada pela dupla Jorge Teixeira e Saulo Finelon foi intitulada “Gira, mundo, feito o pião do menino!” e costurou os retalhos da memória mais remota de Benedito e refez, na Marquês de Sapucaí, os caminhos percorridos pelo engraxate que se encantou pelos Carnavais de Maceió. Em sua proposta, a comissão abriu mão de um tripé grande e apostou em pequenos elementos cenográficos que faziam sentido dentro da narrativa apresentada.

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A cadeira, que antes era do engraxate, se transformou em carruagem, além dessa parte, outros momentos se destacaram, o primeiro deles foi quando o grupo de bailarinos formou um peão com os próprios corpos. No final, as luzes da Sapucaí se apagaram e aconteceu a coroação de Benedito, um grande manto colorido se destacou. O objetivo foi entregue e a comissão passou pelos júris sem apresentar nenhuma falha.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Claudinho e Selminha Sorriso são verdadeiras entidades da Beija-Flor e do carnaval carioca, já são mais de 30 anos de uma parceria vitoriosa e encantadora, em mais uma prova de que o tempo parece não passar para ambos, o pavilhão da azul e branca de Nilópolis foi defendido com enorme brilhantismo. Durante as três apresentações nos módulos de julgamento, a dupla mostrou enorme confiança, garra e bailado incomparáveis. A dança clássica teve total destaque, porém, em alguns momentos do samba, houve uma pitada de coreografia.

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Na noite deste domingo, eles representaram Zumbi e Dandara, casal que lutou contra a escravidão e foi resistência, no desfile da Beija-Flor, os dois personagens receberam o tratamento digno em suas indumentárias. A roupa mesclou o marrom com o azul da escola, além de detalhes pratas e muito brilho, o cuidado da fantasia evidenciou ainda mais o bailado da dupla, que passou pela avenida esbanjando simpatia e claro, o contagiante sorriso no rosto.

Enredo

O carnavalesco João Vitor Araújo fez sua estreia à frente da Beija-Flor, coube a ele desenvolver o enredo “Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila”, nele, a escola enredou-se pelos devaneios de Benedito dos Santos, o Rás Gonguila, e embarcou numa jornada encantada de reis negros e folguedos afro-brasileiros, com as nobrezas de Maceió, de Nilópolis e da Etiópia.

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João optou por dividir a narrativa em seis setores, sendo eles: “O quilombo do menino Benedito”, “Meu destino é ser brincante”, “Quando encontro a corte africana”, “É ela, maravilhosa e soberana”, “A soberania popular me traz”, e por último, “Tem Pajuçara no mar da Mirandela”. Apesar da proposta delirante, o enredo foi contado de maneira clara na avenida, ainda que a imaginação precisasse voar, nenhuma ponta ficou solta e o entendimento foi imediato.

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Em sua justificativa, o enredo da Beija-Flor para 2024 apostou em um delírio baseado na realidade, um desafio ao tempo e ao espaço. Quase nada nele foi literal ou linear. A passagem da escola foi como uma festa mágica, sob a luz dos encantados, com as cores, os ritmos e os pisados dos folguedos de Alagoas. Um encontro entre personagens reais, alguns dos quais viveram na mesma época, mas que nunca se viram.

Alegorias e Adereços

O conjunto alegórico da Beija-Flor relembrou os velhos tempos da escola: opulento, luxuoso, com esmero nos detalhes e extremamente impactante. No total, foram seis alegorias, todas com o gigantismo e acabamento que fizeram a azul e branca se tornar referência no quesito em décadas passadas. O carnavalesco João Vitor Araújo merece todos os aplausos, em sua chegada na escola, ele conseguiu captar o sentimento do nilopolitano e entregou todo o seu talento.

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O carro abre-alas, denominado “Palmares de luta, Palmares de festa”, apresentou o quilombo de Palmares imaginado por Benedito: lugar de luta e de festa, de conquista e ancestralidade, foram três chassis de extremo bom gosto e facilidade de leitura, o Beija-Flor, símbolo da escola, permeou todo o carro.

A segunda alegoria, “Olha o Carnaval de Maceió aí, gente!”, levou o carnaval das ruas e praças de Maceió, na época da consagração do Rás como o maior brincante da capital alagoana, inúmeras esculturas estavam presentes no carro, todas com muito cuidado no acabamento.

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Na sequência, a escola seguiu com enorme esmero em suas alegorias, como na alegoria “O último Leão de Judá”, que mostrou a coroação de Haile Selassie, que no delírio de Rás era seu parente. No quarto carro, “Razão do meu cantar feliz”, a velha guarda teve posição de destaque, o único senão ficou por conta de uma das esculturas que não girou. O penúltimo carro, “O relicário da cultura alagoana” representou as festas e a cultura de Maceió. Para finalizar, o carro “À beira-mar, nasce um rei!”, mostrou o encontro das realezas à beira mar e finalizou o desfile com chave de ouro, bolinhas de nitrogênio transportaram o público para o fundo mar.

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Fantasias

Assim como no conjunto alegórico, o talento de João Vitor se fez presente também nas fantasias da azul e branca da baixada, do início ao fim as fantasias impressionaram pelo bom gosto, uso de materiais de primeira qualidade, acabamento cuidado e volume. No total foram 33 alas, os figurinos tomavam conta de toda a avenida, os costeiros eram enormes e alguns chegaram a “bater” nas frisas, como na segunda ala, “Guerreiros Jagas-Ingambalas”, ala cinco, “Borboletas, primeiro amor de Benedito”, e 29, “É Carnaval nas praias de Maceió – Brincantes do Pontal da Barra”. A paleta de cores da escola também se mostrou um acerto, João levou para avenida uma Beija-Flor extremamente colorida, tudo fez sentido de acordo com a narrativa contada no enredo, por exemplo, no setor que trouxe a nobreza nilopolitana, as fantasias eram predominantemente nas cores da agremiação.

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Harmonia

Se o ano passado marcou o reencontro da Beija-Flor com a sua comunidade, o desfile desta noite deu continuidade, o componente nilopolitano entrou na avenida acima de tudo felizes, talvez por terem se reconhecido nas fantasias e alegorias, ou por conta do samba, que apesar de não figurar entre os melhores da história da escola, passou pela avenida de forma satisfatória. Além da garra habitual apresentada pela comunidade, foi possível observar uma escola mais solta e brincante.

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O conjunto harmônico da escola foi de extremo cuidado, a bateria comandada pelos mestres Rodney e Plínio foram fundamentais para que o samba crescesse durante a passagem pela avenida, o mesmo vale para Neguinho da Beija-Flor, a voz da escola passou novamente em grande estilo.

Samba-Enredo

O samba de autoria de Kirraizinho, Lucas Gringo, Wilsinho Paz, Venir Vieira, Marquinhos Beija-Flor e Dr. Rogério foi interpretado com o brilhantismo de sempre de Neguinho da Beija-Flor. A obra fugiu da linha de sambas densos que a escola apresentou nos últimos carnavais, o samba deste ano apostou na leveza e simplicidade, o encontro foi feliz e o samba passou pela avenida com extrema facilidade, sendo cantando inclusive pelo público presente nas arquibancadas.

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O refrão principal possui características que mexe com o brio do nilopolitano, o “doa a quem doer” fez com que a comunidade explodisse a cada passada, porém, alguns momentos do samba possuem difícil compreensão, o que diminuiu o brilho em comparação com os refrões, os versos versos “Gira, mundo, feito pião que Gonguila do jeito, que me eterniza o bendito dos plebeus” e “Um coco, um pouco de samba de roda”, exemplificam essa afirmação.

Evolução

A evolução foi o quesito que destoou do ótimo desfile apresentado pela agremiação, apesar de fluido durante boa parte do percurso, a Beija-Flor cometeu um grande deslize em frente ao módulo duplo de julgamento presente no setor três, a quinta alegoria entrou na avenida de forma lenta e travou, as alas que estavam na frente seguiram o cortejo e um grande buraco foi deixado, apesar de não ter demorado muito para contornar, foi exatamente no campo de visão dos jurados. Apesar desse erro, todo o restante do desfile foi sem sustos, os componentes evoluíram de forma uniforme e não foram observados descompassos.

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Outros Destaques

A Beija-Flor passou pela avenida com algumas personalidades da mídia presentes, como a atriz Giovanna Lancellotti, a bailarina Brunna Gonçalves e o ator Samuel de Assis, que representou Rás Gonguila na última alegoria da escola. A rainha de bateria Lorena Raíssa brilhou pelo segundo ano à frente dos ritmistas da azul e branca. O desfile realizado pela escola a credencia para disputar as primeiras colocações na quarta-feira de cinzas.

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Freddy Ferreira analisa a bateria da Porto da Pedra no desfile

Um desfile correto da bateria “Ritmo Feroz” da Unidos do Porto da Pedra, sob comando de mestre Pablo. Arranjos conectados à nordestinidade atrelaram culturalmente a sonoridade da Porto ao enredo sobre Lunário Perpétuo. Bossas com impacto e pressão foram exibidas com firmeza e ferocidade peculiar dos surdos gonçalenses. Mas sem exageros no uso da força, o que garantiu apresentações corretas para julgadores. Uma pena somente uma fantasia de bateria quente e com um chapéu que possivelmente prejudicou a percepção sonora integral dos ritmistas do Tigre.

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A cozinha da bateria da Porto contou com sua tradicional afinação de surdos, mais pesada. Marcadores de primeira e segunda tocaram com firmeza, enquanto os surdos de terceira foram eficientes, contribuindo com balanço tanto em ritmo, quanto nos arranjos musicais. Um naipe de repiques coeso tocou conectado a uma ala de caixas de guerra com boa ressonância.

Na parte da frente da bateria, uma ala de agogôs funcional executou um desenho rítmico simples junto de um naipe de cuícas correto. Chocalhos de nítida qualidade musical tocaram de modo interligado a um naipe de tamborins de virtude técnica, que realizou uma convenção rítmica pautada pela melodia do samba com eficácia.

Bossas que se aproveitaram do impacto sonoro do peso das marcações foram percebidas. Todas com bastante integração musical com o samba da vermelha e branca de São Gonçalo. Bastante pertinente atrelar a musicalidade da “Ritmo Feroz” a levadas nordestinas, demonstrando bom gosto musical.

A apresentação na primeira cabine (módulo duplo) ocorreu de forma satisfatória. Importante ressaltar que havia instabilidade sonora na cabeceira da pista, mas não a ponto de comprometer a exibição nos dois primeiros módulos. Na segunda cabine (terceiro módulo) foi realizada uma apresentação segura, mas ligeira e em movimento. Já na última cabine, infelizmente uma apresentação apressada por causa do tempo escasso garantiu somente a exibição de uma bossa, mas sem um momento mais estendido para a apreciação do ritmo por parte do julgador. Uma bateria “Ritmo Feroz” correta da Porto da Pedra, dirigida por mestre Pablo em sua estreia no Grupo Especial.

Problema com última alegoria compromete evolução em desfile da Porto da Pedra que poderia ser histórico pela estética e grande apresentação da comissão de frente

Por Lucas Santos e fotos de Nelson Malfacini

A Porto da Pedra entrou na Sapucaí neste domingo abrindo o desfile do Grupo Especial com alegorias muito bonitas, comissão de frente levantando a Sapucaí com uso de truques de levitação e hologramas. O tigre rugia no “pede passagem” da escola e o primeiro carro também abusou do recurso tecnológico do holograma. Porém, um problema com a última alegoria fez com que ela demorasse a entrar na Avenida provocando um buraco enorme que pode ter sido notados pelas duas primeiras cabines de julgamento, sendo que a segunda era módulo duplo, o que deve gerar bastante despontuação. No final do desfile, era perceptível notar o clima mais fechado, desapontado, de alguns componentes e da diretoria na finalização do desfile. Com 1h09 de exibição, a Porto da Pedra apresentou o enredo “Lunário Perpétuo – A profética do saber popular”, que contou a história do almanaque que prometia decifrar desde a previsão do tempo até o comportamento dos insetos. Durante 200 anos, foi o livro mais lido do Nordeste brasileiro.

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Comissão de Frente

Coreografada por Junior Scapin, a comissão da Porto da Pedra trouxe para a Avenida os alquimistas: pensadores, filósofos, sábios, inventores. O elemento cênico intitulado “Em Algum Lugar do Passado” ilustrou alegoricamente o cenário onde foi desenvolvida parte da coreografia de avanço, etoda a coreografia principal. A peça se tratava de um majestoso castelo medieval onde os sábios ou magos subiam para realizar a coreografia principal para os jurados. O grupo se utilizou da iluminação cênica do Sambódromo e teve hologramas na frente do elemento cenográfico.

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Uma mulher levitava pelos cabelos através de uma corda não tão perceptível para quem assistia de longe. Uma tela no chão da alegoria, levantava e os integrantes ficavam quase de cabeça pra baixo, sendo levantados nessa posição. A tela trazia pontos altos do enredo como a parte dos astros, a partir da visualização do espaço sideral, e em seguida com os elementos como água, fogo e terra. A comissão trazia características muito singulares de Júnior Scapin em termos de ideias, surpresas, apresentação, bem casadas com a estética do carnavalesco Mauro Quintaes. Ponto alto do desfile. A única coisa de negativo que pode ser citada foi um probleminha com a roupa de um dos bailarinos próximo ao segundo módulo, antes da apresentação para a cabine, na coreografia de deslocamento ainda, resolvido em alguns segundo em que ele teve que ficar no canto e que não afetou nem no visual e nem na apresentação para os jurados.

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Mestre-sala e Porta-bandeira

Formado para o desfile da Porra da Pedra de 2024, o casal Rodrigo França e Denadir Garcia tinham em sua fantasia “Mistério Supralunar” a representação dos estudos dos alquimistas sobre a lua e os mistérios que envolviam o grande satélite natural. Usando uma fantasia branca em sua maioria, mas com detalhes em roxo e prateado, a saia de Denadir era muito bonita com o duo do branco e do roxo. A vestimenta ainda era repleta de pedras brilhantes, indumentária bastante luxuosa.

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Na apresentação, estreando essa parceria na Sapucaí, Denadir, mais experiente, sobre conduzir bem o bailado, iniciando a apresentação nas cabines com diversos giros. A dupla mostrou muito contato, muita doçura, Rodrigo fez diversas mesuras e foi marcada por um bailado mais tradicional. O ponto mais coreográfico aconteceu no “Vem Antônio, Vem menino”, se aproveitando de uma bossa de xaxado de mestre Pablo em que o casal buscou dançar mais no ritmo. No geral, uma apresentação sem problemas, com a bandeira sempre bem desfraldada.

Harmonia

A Porto da Pedra iniciou o desfile a todo vapor com as primeiras alas cantando bastante o samba, com muita vibração e  energia. Ao passo que o desfile foi acontecendo, mais para a parte final da apresentação, o canto deu uma diminuída em seu ímpeto, muitos componentes ainda cantavam, porém, já sem toda aquela energia e aquele vigor do ínicio, em alguns casos era nítido pelo volume de algumas fantasias como por exemplo a ala “agouro espiritual” situada já no quarto setor da escola em que os foliões estavam cobertos até a cabeça, representando os abutres que afetam negativamente o corpo e a alma.

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LEIA MAIS

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Já no fim, era visível, que por conta de terem observado os problemas da agremiação, alguns componentes estavam mais desanimados. Já o carro de som comandado pelo experiente Wantuir, manteve o bom andamento do samba o tempo todo, com o cantor livre para fazer os seus cacos “adoro, adoro”, as suas vocalizações “oi, oi”, e se arriscando em algumas terças que casaram muito bem com a melodia do samba. Mesmo com os problemas que a escola enfrentou no final em outros quesitos, mantiveram o clima no alto e cumpriram muito bem o seu papel.

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Enredo

“Lunário perpétuo” foi divido em 5 setores. A abertura “Alquimia dos Saberes” tratou de apresentar uma exposição dos conhecimentos, inicialmente ditados pelas estrelas e a energia do cosmo, passando a guiar o corpo e o espírito no caminho do cuidado e do bem viver. Esse início mostrou o surgimento de um pequeno livreto mágico que foi compilado para libertar das trevas a consciência humana, sendo perseguido e proibido. Em seguida, o primeiro setor, “A Gênese do Saber Popular Brasileiro” fez uma relação entre as referências utilizadas para a realização do lunário com as influências das imigrações no Brasil, principalmente com os mais pobres vindos da região do Minho em Portugal.

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A seguir, em “O Presságio dos Astros”, a escola contou sobre os saberes que também vem do alto, a história do homem simples a decifrar a influência dos diferentes corpos celestes sobre os terrestres. Em “a cura do corpo e da alma” a escola apresentou o libreto ensinando a curar a aflição do corpo e da alma. No quarto setor “Armorial dos Folguedos Populares” a Porto da Pedra se debruçou sobre a influência deste libreto, ponto central do enredo, que inspirou Ariano Suassuna a criar o manifesto que dá vida ao “Movimento Armorial” na década de 1970.

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Por fim, no último setor da escola “O Lunário Perpétuo de Um Brincante” o desfile se encerra apresentando o pernambucano Antônio Nóbrega que formulou um espetáculo homônimo ao livro criado em 1594. No geral, o carnavalesco Mauro Quintaes conseguiu brincar com essa atmosfera presente no enredo de misturar um tom mais místico com a sabedoria e a escrita do sertão que é o ambiente do “Lunário pérpetuo”, as fantasias tinham boa leitura do enredo.

Evolução

Neste quesito, a Porto da Pedra vai ter bastante para se lamentar. Com um início de desfile com fluência em que os componentes evoluiam com bastante espontaneidade e energia, após os problemas no último carro, a escola continuou evoluindo inexplicavelmente enquanto se tentava resolver as avarias com a alegoria para que ela pudesse entrar na pista. Isso gerou primeiro um buraco que foi aumentando do setor três até o setor quatro, que podem ser facilmente notados pela primeira cabine.

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Depois, já com a alegoria entrando na faixa de início do desfile, o buraco já chegava, do setor três até o seis, outro buraco enorme, agora visto pela cabine em que o módulo de julgadores é duplo. Se não bastasse todos os problemas com buraco na pista, o final do desfile da Porto da Pedra ainda se deu com um pouco de correria após a apresentação da bateria de mestre Pablo no último módulo de julgamento para que o Tigre não estourasse o tempo, o que acabou realmente não acontecendo, pois a escola fechou com 69 minutos, um a menos que o limite.

Samba-enredo

A obra para este carnaval foi composta pela parceria de Guga Martins, Passos Júnior, Gustavo Clarão, Lucas Macedo, Leandro Gaúcho, Clairton Fonseca, Richard Valença, Gigi da Estiva, Abílio Jr., Marquinho Paloma, Cristiano Teles e Ailson Picanço. E apresentou um bom rendimento na Sapucaí, passando pela dificuldade já concreta de ser a primeira escola a desfilar e ainda pegar a pista muito fria. O samba tem pontos interessantes na melodia como a repetição ainda na primeira do samba “Quem acendeu as lamparinas desse chão”, e o refrão do meio que é bem mais melódico com o ” Só porque eu escolhi (navegar por esse mar)”, e ainda na segunda do samba “Vem Antônio, Vem Menino”.

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Em termos de letra, ainda que case bem com a melodia, em relação a repetição citada acima do “Quem acendeu..”, é necessário ver como os jurados vão receber, já que é a repetição de uma frase solta da primeira estrofe. E o momento de maior explosão no refrão principal “Quarto minguante, a moringa quase seca”, um ponto em que a muita gente da arquibancada e das frisas vinha junto. No “Vem Antônio, Vem menino”, a obra ganhou por parte da bateria “Ritmo Feroz”, de mestre Pablo, uma bossa em forma de xote que mexeu com a galera.

Fantasias

A Porto da Pedra apresentou um conjunto estético de fantasias bastante criativo, volumoso e de fácil leitura. Mauro Quintaes mostrou o domínio que tem ao falar de temas lúdicos como este que ao mesmo tempo tem uma pitada grande de Brasil, conseguindo sair perfeitamente do medieval do início que trazia tons primeiro um pouco do espectro do azul e do roxo presentes nas baianas, sem dúvida, as que mais chamavam atenção pelas luzes de led, com a fantasia “elementos da vida” que tratava da alquimia floral e que trazia um lilás bem bonito.

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Após o segundo carro, a aposta por tons mais claros, intercalando com detalhes em prateado até chegar na sétima ala “caixeiros viajantes e logo em seguida “retirantes”, em que a paleta fica um pouco mai quente e cítrica misturando amarelo, laranja e vermelho. A partir do terceiro setor, “o presságio dos astros”, há a procura pelos tons mais claros do azul como na roupa dos passistas “amores do Cariri”.

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Durante toda a apresentação o carnavalesco intercalou com alguns pontos em que utilizava um pouco do espectro da escola, em um vermelho e dourado. No geral, fantasias muito criativas como “marujos da nau catarineta”, essa, outra no vermelho e dourado, em que a roupa tinha um trecho na parte de baixo como se fosse uma nau de navio mesmo. Ótimas soluções estéticas, mas que em alguns momentos eram bastante volumosas.

Alegorias e adereços

A Porto da Pedra levou para a Sapucaí um conjunto alegórico formado por seis carros e mais um “pede passagem”, que trazia o tigre, símbolo da Porto da Pedra anunciando com seu rugido a profética do saber popular. O elemento cenográfico da comissão de frente já citado, que não conta para o quesito, mas contribui muito com o aspecto imponente da cabeça da escola, constituído de elemento da comissão, pede passagem e abre-alas.

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No pede passagem, o Tigre era enorme e possuía ainda o aspecto do medieval que havia no elemento da comissão, acrescentado de gárgulas em formato de tigres. No carro abre-alas “Alquimia dos saberes” falava justamente da alquimia que na velha Europa foi uma forma que os homens encontraram de expandir o intelecto e se envolver com elementos místicos. No primeiro chassi o grande alquimista que tem em suas mãos manipula elementos representando os estudos alquímicos e astrais. No segundo chassi, os laboratórios de alquimia, alguns parecendo templos medievais destruídos. Neles também vinham as gárgulas.

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Porém, o bonito conjunto alegórico da Porto da Pedra passou por problemas. Ainda no abre-alas havia partes não bem presas.Já no terceiro carro, “A casa dos horóscopos”, que representava a mistura do passado, presente e futuro através dos estudos astrais, o olho que havia dentro do sol, tanto na frente, quanto atrás da alegoria, não se abriu. Apesar da ausência do efeito, a alegoria manteve boa constituição estética, precisando dessa forma observar como os jurados vão entender. No último, que teve problemas para entrar na Sapucaí, a lateral direita da alegoria colidiu com a grade e uma parte pequena teve que ser retirada para que ela pudesse se movimentar.

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Outros destaques

A bateria “Ritmo Feroz”, de mestre Pablo, veio de “o assombro do sertão” representando o cordel mais famoso impresso de Manoel Caboclo que também imprimia seu pequeno almanaque de saberes. Uma bossa de xote na segunda parte do samba foi um dos pontos altos da escola. A rainha da bateria Tati Minerato desfilou com a fantasia”brilho lunar”, em tons branco e prateado e com luz de led.

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No esquenta Wantuir cantou o exaltação “Bota pra ferver” , além de um dos mais queridos, do carnaval de 1996 “um carnaval dos carnavais” com o icônico refrão “endiabrado eu tô…” e do samba do acesso e título da Série Ouro 2023 “Warrãna-rarae”.

Alegoria do desfile do Salgueiro denuncia descaso dos militares com os Yanomamis

Salgueiro Esp04 001Terceira escola a desfilar no Grupo Especial do Rio, neste domingo (11), o Salgueiro apresentou o carro com a fantasia chamada “O exército da morte”, denunciando como os militares contribuíram para a destruição de Hutukara.

“A alegoria mostrou a parte mais trágica do enredo: as doenças, o garimpo ilegal e tudo de ruim que foi feito”, explicou o diretor de destaques da escola, Eduardo Pinto, de 58 anos, ao ser questionado sobre o significado da quarta alegoria.

O carro, colorido em tons de vermelho, verde, preto e branco, mostrou esculturas dos nativos em estado avançado de desnutrição, além de diversas caixas representando os minérios que são roubados na Amazônia. Através de caveiras e urubus, significando a morte, a alegoria denunciou as consequências dos crimes ambientais.

Salgueiro Esp04 004Na edição de 2024 do Carnaval, o Salgueiro escolheu os Yanomami como foco de sua celebração. A tradicional escola de samba da Tijuca destacou as comunidades indígenas brasileiras em sua narrativa.

A alegoria lembra que a morte dos povos indígenas começa com a abertura da estrada Transamazônica, feita durante o golpe militar. Eduardo explicou o significado do carro: “É a parte trágica do próprio enredo. Tudo de ruim que está sendo feito pelos brancos a esse povo originário, desde a abertura da Transamazônica. É por isso que tem esses detalhes lembrando o exército”.

“Meu pai não vai gostar. Minha família é toda militar e eu estou saindo no carro do exército do mal”. É o que explicou Juliana Kmiciak. A gerente de projetos desfila na escola há 4 anos e disse de maneira bem humorada que vai ser “deserdada pela família”.

Salgueiro Esp04 003“Há um ano atrás a gente via as tragédias que passaram o povo Yanomami. O número de mortes, em relação ao ano passado, diminuiu, mas ainda assim continua altíssimo e o descaso ainda é muito grande”, denunciou Juliana. “Quando você vê as imagens, você se choca. Então o carnaval vem também para te fazer refletir, ver aquilo de maneira colorida, alegre, mas vai te fazer pensar”, completou.

O desfile levou o nome de “Hutukara”, termo da língua yanomami que se refere ao “céu original a partir do qual se formou a terra”, com a intenção de homenagear a cultura e as histórias mitológicas Yanomami, além de enfatizar a importância da proteção da Amazônia.

Salgueiro Esp04 002“Estamos aqui para falar sobre o nosso Brasil. Os nativos foram muito massacrados e o Salgueiro está aí levantando essa bandeira”, disse a funcionária pública Juliana Paz, de 29 anos, ao ser questionada sobre a importância da alegoria. “O Brasil pertence aos índios, os portugueses que vieram e colonizaram. Só que a nossa essência são indígenas, não os europeus. Então o salgueiro está trazendo essa essência”, defendeu.

Baianas do Salgueiro se vestem de mãe natureza

Salgueiro Esp03 003O Salgueiro foi a terceira escola a apresentar seu enredo, neste domingo (11), no primeiro dia de desfile do Grupo Especial do Rio. As baianas da escola, com a fantasia “Em teu solo sagrado”, homenagearam a mãe-terra.

Com uma roupa colorida, as damas representaram a mãe do povo yanomami: a terra e a floresta. A roupa é repleta de adereços que lembram a mata, como as flores, as folhas e o azul da água.

Salgueiro Esp03 004“A Mãe Terra é a Mãe Natureza. É uma mãe que acorda os seus filhos, que cuida, que protege e guarda. As roupas carregam esse significado, tanto nos detalhes e nas flores”, disse a Tia Glorinha, responsável pela a ala há 15 anos.

No carnaval de 2024, a agremiação apresentou uma grande homenagem aos Yanomami durante seu desfile. A vermelha e branca da Tijuca destacou as culturas indígenas do país..

Jorgete Oliveira é baiana da escola desde 2009. Emocionada por defender seu pavilhão por mais um ano, ela comentou sobre a importância do enredo: “Ele denuncia a tragédia. É extremamente atual, um problema que chamou a atenção de toda a sociedade brasileira e que ainda existe”.

Salgueiro Esp03 002Sob o tema “Hutukara”, que se traduz do idioma yanomami como “céu original a partir do qual se formou a terra”, o objetivo do Salgueiro é celebrar a rica mitologia dos Yanomami e promover a conscientização sobre a proteção da Amazônia.

“A floresta está pedindo socorro e nós temos que tentar salvá-la”, clamou a baiana Angela Luciano, de 67 anos. A dama do samba, que desfila na escola como baiana desde os anos 90, é apaixonada pelo enredo deste ano. “A terra está complicada e ninguém respeita nada. Esse enredo do Salgueiro é o melhor que tem, levamos para avenida a luta do povo Yanomami. São eles que mais cuidam da floresta e nós não vamos ficar de braços cruzados”.

As baianas definiram a fantasia como pesada, mas “a emoção acaba contribuindo para não sentir desconforto”, é o que explica a baiana Fátima Copello, de 65 anos, desfilando na escola pela 14º vez consecutiva.

“A fantasia é um pouquinho pesada, mas a gente nem sente. Nós vamos atrás da décima estrela, e com essa fantasia. A gente quer mãe, quer avó, a gente quer o bem do povo Yanomami”, defendeu Fátima.

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Bateria Furiosa do Salgueiro faz crítica garimpo ilegal

Salgueiro Esp02 005Os ritmistas da Furiosa, bateria do Salgueiro, pisaram na Sapucaí com a fantasia chamada “Diamante Bruto”, representando metais com pontinhos brilhantes, metais esses que eram controversos na comunidade Yanomami. Uma vez que os maiores (os mais velhos) da aldeia contam que, antigamente, coletavam esses metais para fabricar uma substância de feitiçaria que era usada para cegar suas inimizades. Atualmente, os mais novos não sabem para o que esses metais servem. Já os descendentes de Yoasi, o criador da morte e aquele que despertou a cobiça do homem, desejavam esse metal, que acreditavam ser diamantes, para vender e obter dinheiro.

E, por fim, os ritmistas trazem em sua fantasia o pensamento dos napës, os garimpeiros, a cobiça pelo diamante bruto. A publicitária Paula Santos, de 27 anos, que toca tamborim, está com o significado da fantasia na ponta da língua.

Salgueiro Esp02 004“Acho que todo mundo achava que a Furiosa iria vir de indígena, mas a gente está vindo de diamante, a gente está no setor que fala sobre garimpo e a fantasia representa o bem maior que a gente tem de exploração hoje no Brasil. A gente vem com uma mensagem de fora garimpo dentro da bateria também, então os naipes dos tamborins e as cuícas estão com essa mensagem do fora garimpo e os diretores, que vem no meio da bateria, vêm de garimpeiros. Então a Furiosa é o diamante bruto, que é super cobiçado, em forma de uma fantasia super tranquila, boa para o ritmista tocar e vamos que vamos”, contou Paula.

“A gente está representando no setor 3, o setor que fala da mata que chora, falando das mazelas do garimpo. E a fantasia está bem bacana, está bem leve, está confortável, está bem bonita, dá até para a gente guardar chinelo, guarda tudo dentro da fantasia. Vamos entrar com tudo!”, disse a professora Adriane Soares, de 28 anos.

Salgueiro Esp02 002Com uma fantasia leve, reta e nada volumosa, a bateria do Salgueiro cruzou a Sapucaí. Com um clássico vermelho Salgueiro, preto e dourado, a fantasia dos ritmistas era composta de uma capa vermelha, uma calça preta brilhosa, adornos e bota dourada e no chapéu, o cobiçado diamante bruto furta cor. Os mestres de bateria aprovaram o figurino e disseram que tiveram total liberdade sobre o figurino.

“A fantasia da bateria é o Diamante Bruto. Vem representando o Diamante Bruto e os diretores da bateria vem de garimpeiros. Eu gostei muito da fantasia, o Edson é muito solícito quanto a isso. Sempre quando ele faz o protótipo ele chama a gente para ver e a gente vai ajustando da melhor forma para o ritmista e para o diretor jogar. Nessa conversa com o carnavalesco a gente diminuiu algumas coisas. O chapéu, que é o diamante, algumas coisas de adereço da fantasia a gente diminuiu para que chegasse nesse resultado de hoje”, disse o mestre de bateria Guilherme Oliveira.

Salgueiro Esp02 003Para o outro mestre de bateria, Gustavo Oliveira, a bateria representar essa cobiça pela terra Yanomami, por parte do garimpo, é importante, pois a bateria entra para fazer barulho contra o garimpo e ajudar os irmãos Yanomamis.

“A gente vem no centro da escola, que é justamente para falar de todo o problema, falando da parte do garimpo, da extração do diamante. E a gente vai fazer esse barulho aí, para que a gente consiga ajudar a acabar e consiga ajudar nossos irmãos Yanomamis a sair dessa situação. Sempre há uma conversa com o Edson, ele é um cara sensacional, que sempre deixou tudo as claras com a gente, quando vamos lá ver a fantasia. Temos muito liberdade de estar tirando um pouquinho aqui, tirando um pouquinho ali para poder ajeitar, ele sempre é muito solícito. E assim a gente consegue sempre chegar em um resultado bom para os dois lados. E esse ano foi isso, uma fantasia bem leve, sem ferro nenhum. Tudo certinho para a galera ficar confortável e conseguir desempenhar legal na avenida”, contou Gustavo.

Beija-Flor: fotos do desfile no Carnaval 2024