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Abre-alas da Tijuca carrega pavão dourado, símbolo da escola

Tijuca Esp03 001As lendas e os segredos de Offir foram retratados no abre alas da Unidos da Tijuca, penúltima escola a se apresentar, neste domingo (11), no primeiro dia de desfiles do Grupo Especial do Carnaval carioca. A alegoria com um pavão dourado recontou as lendas que os fenícios, ao percorrerem o Mediterrânio, aportaram nas terras que se tornaram Portugal.

“Esse carro vem trazendo o conto de fados e um pavão, representando a Tijuca. Vem imponente, vem clássico, bem a cara do Alexandre Lousada”, explicou o cabeleireiro Luciano Lachtim, de 42 anos, componente da alegoria. “Todo mundo acha que fados é simplesmente dança, e não é. Fados tem todo um contexto, fados é desejo e a gente vem mostrar isso”, disse com os olhos brilhantes ao ser questionado sobre o carro.

Tijuca Esp03 002O abre-alas é azul e dourado. Um pavão gigante e dourado, colocado acima de cavalos na cor azul, enfeitam o navio. A segunda parte do abre alas retrata Salomão, afim de mostrar o lado judeu de portugal, com a figura do rei em frente a uma estrela de Davi.

“Eu tenho as raízes judaicas e estar em um carro maravilhoso como esse, representando o lado judeu dos portugueses, é maravilhoso”, explicou a programadora Sara Lima, uma francesa de 39 anos apaixonada pela escola. “Está muito perfeito, os detalhes, as fantasias, o carro. Tudo é lindo, dourado, com ouro. É uma escola de grupo especial”, expressou emocionada por desfilar pelo segundo ano consecutivo na agremiação.

No Carnaval de 2024, a escola apresentou um desfile temático que nos leva a uma versão encantada e misteriosa de Portugal, onde lendas e mitos desempenham um papel central na construção da identidade da nação.

Tijuca Esp03 003“Temos muito apreço à nação portuguesa, que tanto fez por esse país, que faz parte da nossa vida e do nosso cotidiano”, defendeu a componente Gabriela Nazato. A gestora pública, de 45 anos, desfila pela primeira vez na amarelo e azul da Tijuca.

“Poder homenagear um lugar que diz tanto sobre nós, e que tem tantas pessoas como os brasileiros: trabalhadores, pessoas que criam coisas, que vencem suas batalhas, que correm atrás daquilo que precisam. É muito gratificante falar de Portugal, porque quando falamos de Portugal, falamos um pouco de Brasil”, completou a tijucana.

O fado, emblemático da cultura portuguesa, não apenas como estilo musical mas também simbolizando o conceito de destino e narrativa, será um elemento chave. Esta abordagem transforma a tradicional narrativa de “Contos de Fadas” em “Contos de Fado”, mesclando o real com o fantástico e o mítico, criando uma história que reimagina e dá nova vida às lendas e mistérios de Portugal.

“Faltava na Tijuca toda essa plástica, todo esse glamour, todo esse requinte, toda essa riqueza que o Alexandre sabe trazer como ninguém”, avaliou Luciano.

Tijuca: fotos do desfile no Carnaval 2024

Bateria da Unidos da Tijuca levou para Avenida a arte da azulejaria, um legado mouro repleto de histórias

Tijuca Esp02 001A Unidos da Tijuca embarcou em uma viagem a uma Portugal mítica e mística, repleta de fábulas. Seu enredo contou, em clima de encantamento, fatos, mistérios e lendas populares sobre a formação dessa nação. Nessa narrativa, um dos protagonistas foi o “Fado”, que em seus múltiplos significados, além de representar o gênero musical típico lusitano, traz consigo a ideia de destino e fabulação. Nesse jogo de palavras, o “Conto de Fada” se tornou “Conto de Fado”, onde o lúdico e o imaginário interagiram com as histórias narradas, inventadas e repaginadas.

A Bateria da Unidos da Tijuca trouxe, em sua fantasia, um legado mouro repleto de histórias: a arte da azulejaria. Os azulejos mouriscos, caracterizados, a princípio, por utilizar elementos decorativos geométricos e florais, foram introduzidos na Península Ibérica, durante a ocupação moura. Muito utilizado na arte islâmica, para decorar mesquitas e palácios, na Península Ibérica, a técnica passou a ser utilizada também para revestir paredes e para ornamentar, mais tarde, igrejas, mosteiros e palácios reais.

Tijuca Esp02 003Luiz de 42 anos deixou sua opinião sobre a fantasia da bateria e o que esperar do resultado desse desfile: “Essa fantasia é muito bonita, não é muito pesada, que é uma demanda sempre do ritmista, porque como a gente toca e garante o show, então é leve, mas é muito, muito bonita, muito caprichada. Eu acho que está em linha mais ou menos com o padrão da escola desse ano, que foi muito alto. A gente tem ótimas expectativas e vamos que vamos, pelo visto, o trabalho desse ano foi feito muito bem. As fantasias são boas, alegoria também. Então a gente tem sempre a expectativa de voltar, pelo menos nas campeões, mas agora, depende, o carnaval é nesses 800 metros. Falar antes não adianta muito, mas a gente está muito confiante e bem positivo”.

“A fantasia está ótima, ela está bem confortável, só que como está muito calor, qualquer coisa que você coloque de manga muito comprida, no caso aqui nós, sempre sofre um pouquinho, mas a fantasia está linda, minhas expectativas para esse resultado são as melhores possíveis, estamos aí com garra, desfilamos com sangue nos olhos e vamos em frente”, pontuou José Mauro Sampaio de 72 anos.

Tijuca Esp02 002Mais do que uma simples decoração, a peça passou, como um livro de cerâmica, a contar histórias das invasões e da reconquista. A cor azul – a mais comum nos azulejos – era usada por ser mais fácil e barata de produzir, bastava adicionar óxido de cobalto à mistura de argila usada para fazer os azulejos.

“O figurinho da bateria é muito bonito, é muito bem acabado, muito detalhista. As minhas expectativas para esse desfile é que a bateria consiga a nota 40, de preferência. A Bateria vai dar o nome”, comentou Jose Souza e Silva de 40 anos.

Compositores da Grande Rio vem com cavaco de onça para a Sapucaí

GR Esp03 002Os compositores da Grande Rio vieram fantasiados de cancioneiros populares pantaneiros que contam e, principalmente, cantam os causos e histórias sobre as onças, revelando assim os “cruzos culturais” afro-ameríndios. Com o nome “Ponteio caipira e causos cantados”, pescadores, cordelistas, violeiros e repentistas são alguns dos cancioneiros representados pela indumentária.

De cavaco estampado de onça, os compositores vieram com uma capa verde e estampada por dentro, com algumas flores amarelas por fora, com camisas laranja, colares, um colete e calças verdes, evocando essa figura cancioneira que mora no interior do Brasil.

O presidente da ala, Licinho Jr., falou sobre essa representação da figura dos pescadores da floresta que contam causos, dentro do enredo, estando bem posicionados como esses pescadores: “A nossa figura está bem destacado dentro do enredo, como diz, a gente sabe que é uma história mística”.

Sobre a fantasia ele comentou: “É uma fantasia leve, que tem como a gente fazer um grande desfile, e toda contextualizada dentro do enredo”. Ele ainda citou o compositor Paulo Onça, integrante da ala, que por questões de saúde não pôde comparecer ao desfile deste ano: “Ele teria uma boa história sobre onças para contar”.

GR Esp03 001A diretora Lúcia estava muito animada com a preparação da ala, e destacou o que mais chamou atenção da fantasia: “Adorei o chapéu, adorei esses colares aqui maravilhosos. O nosso cavaco vem grandemente representando quem realmente somos”, falou citando o instrumento que veio como adereço de mão da roupa.

Já duas compositoras, Cecília, de sessenta e um, e Mary, de sessenta e nove, que desfilaram, acharam a fantasia quente e com muito volume e tecidos: “O colete poderia ser costurado na camisa, e não precisava das costas assim. Sei disso pois sou costureira também”, comentou Cecília, que continuou: “É uma fantasia grande e pesada, atrapalha a evolução da gente, a capa pesa, então pra gente cantar e evoluir é difícil”.

Mary, integrante da ala há quinze anos, citou a quantidade de roupa e o calor do verão como complicadores para o desfile: “É veludo com terê, com esse verão, botar essa roupa para quem é velho de idade. Vai passar mal na avenida”.

Freddy Ferreira analisa a bateria do Salgueiro no desfile

Um desfile excelente da bateria “Furiosa” do Salgueiro. Uma conjunção sonora de qualidade foi produzida. Contando com impacto sonoro por causa da pressão do peso dos surdos e com bossas bem casadas com o grande samba-enredo da Academia, mestres Guilherme e Gustavo provaram estar a altura do desafio.

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Uma bateria “Furiosa” com sua afinação característica de surdos foi percebida, bem pesada. Surdos de primeira e segunda foram firmes, mas eficientes pulsando. Os surdos de terceira fizeram um trabalho irretocável, contribuindo com balanço tanto em ritmo, quanto nos arranjos musicais. Repiques coesos tocaram integrados a um bom naipe de taróis e uma ala de caixas de guerra ressonantes.

Na cabeça da bateria do Salgueiro, uma ala de showcalhos se exibiu com virtude técnica junto de um naipe de tamborins de bastante qualidade. Cuícas seguras também auxiliaram no preenchimento da sonoridade da parte da frente do ritmo da branca e encarnada da Tijuca.

Bossas altamente conectadas a melodia do belo samba salgueirense e com forte impacto sonoro foram realizadas. A maioria se aproveita da pressão provocada pelo peso das marcações, sem contar o luxuoso auxílio dos surdos de terceira nas paradinhas. Destaque para a bossa do refrão principal que prossegue no início da primeira do samba, dando um swing diferenciado, que embalou a dança dos componentes.

A apresentação na primeira cabine (módulo duplo) foi muito boa. Julgadores receberam a “Furiosa” com aplausos após uma exibição limpa e cativante. Já na segunda cabine, mais uma exibição potente e firme foi realizada. No último módulo de julgador, com o tempo limite próximo do fim, somente uma bossa foi apresentada, mas feita com precisão e segurança para coroar o grande desfile da “Furiosa” do Salgueiro, dirigida pelos mestres Guilherme e Gustavo.

Salgueiro faz desfile de ótima harmonia, excelente casal, mas a parte estética não facilita a leitura do enredo

Por Rafael Soares e fotos de Nelson Malfacini

O Salgueiro foi a terceira escola a se apresentar na Marquês de Sapucaí neste domingo de carnaval do Grupo Especial. A agremiação entrou com bastante força na avenida, com o público cantando forte o grande samba-enredo. A comissão de frente fez uma bela apresentação, com movimentos firmes, transformação de elementos e um ápice de emocionar, que traduziu muito bem o enredo. O casal de mestre-sala e porta-bandeira mostrou um número fabuloso, como já era esperado. Um bailado limpo, bonito e impactante. Mas logo depois, o carro abre-alas apresentou um problema de locomoção, gerando um buraco na frente da primeira cabine de jurados. As alegorias da escola apostaram muito nas cores verde, amarelo e vermelho, além da iluminação forte. Porém, o nível estético não alcançou o mais alto nível, com pequenas falhas de acabamento e repetição de elementos. As fantasias tinham um nível geral melhor, com uso mais detalhado das cores, e utilização de materiais alternativos e diferenciados. Entretanto, o enredo não se leu com clareza nelas, também pela semelhança nos símbolos e motivos. A parte musical da escola se apresentou muito bem, com ótima atuação do carro de som, comandado pelo intérprete Emerson Dias, além de uma cadência muito boa imposta pela bateria dos mestres Gustavo e Guilherme. A harmonia do Salgueiro foi muito boa, com a maior parte dos desfilantes entoando o samba com força. A vermelho e branco levou o enredo “Hutukara” para a avenida, em defesa dos povos originários., terminando em 1h08.

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Comissão de Frente

Com o nome de “Ya Nomaimi! Ya Temi Xoa!”, a comissão de frente assinada pelo coreógrafo Patrick Carvalho trouxe um grupo de 15 componentes, com a maioria deles usando fantasias de indígenas, bem coloridas. Eles vinham dentro de elementos disfarçados de mata. Em determinados momentos, esses elementos eram fechados pelos componentes, se transformando em conchas e depois em animais. O pivô da comissão era um integrante que representava um yanomami. Eles se encontravam e dançavam com bastante firmeza e sincronia. O tripé em formato de grande árvore se aproximava e nele surgia uma criança yanomami. O indígena adulto interagia com ela e a protegia dos dois componentes que representavam agentes do desmatamento. Eles traziam armas de brinquedo nas mãos, que soltavam fogos frios. O tripé se abria em seu centro, e o indígena adulto escalava uma cápsula que protegia uma família yanomami. O enredo foi muito bem traduzido na comissão de frente.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Sidcley Santos e Marcella Alves, veio com uma fantasia de nome “Yakoana”, representando o pó alucinógeno utilizado nos rituais cotidianos dos xamãs na terra indígena Yanomami. A partir de sua inalação, os indígenas conseguem ver os xapiris, espíritos de luz protetores da floresta, que transmitem as mensagens de Omama através de cantos, colhidos das “árvores sábias” das partes mais remotas da Hutukara. A apresentação do casal foi de excelência. A fantasia toda em vermelho era muito bonita e bem acabada. A dança mostrou movimentos fortes, limpos e bem sincronizados. As interações entre os dois eram de muita beleza e cumplicidade, com sorrisos, troca de olhares e confiança. O número mesclou elementos mais tradicionais, com passos coreografados em alguns momentos do samba-enredo.

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Samba-Enredo

O samba do Salgueiro tem uma letra muito forte e inspirada que descreve o enredo com excelência, um grande manifesto em defesa dos yanomamis e dos povos originários, com momentos de maior doçura na apresentação das crianças que conduzem o enredo. A melodia, também muito bonita e valente, traz várias nuances que valorizam o samba e ajudam a impulsionar o canto. Composto por Pedrinho da Flor, Marcelo Motta, Arlindinho Cruz, Renato Galante, Dudu Nobre, Leonardo Gallo, Ramon Via13 e Ralfe Ribeiro, a obra musical teve ótimo rendimento na avenida. O intérprete Emerson Dias mostrou um belo desempenho ao cantar o samba, com força e empolgação, embalado pela bateria dos mestres Gustavo e Guilherme.

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Harmonia

A comunidade do Salgueiro teve um canto de alto nível em seu desfile. O principal trecho entoado pelos componentes foram os refrãos da obra. Mas toda a extensão do samba era bem cantando por todos. A imensa maioria das alas mostrou grande volume no canto. E isso se manteve do início ao fim do desfile. Merecem destaque as alas “Waka, o Tatu-Canastra”, “Colheita da Banana” e “Yoasi, o Criador da Escuridão”. A grande qualidade da obra musical foi fundamental para esse desempenho. No carro de som, Emerson Dias teve uma exibição de alto nível, conseguindo aliar sua conhecida empolgação com a potência necessária para a condução. Os cantores de apoio deram ótima sustentação ao canto.

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Evolução

A evolução da escola foi de bom ritmo durante a passagem pela Sapucaí, fluido, sem lentidão ou correrias. Os desfilantes mostraram muita força e empolgação para cantar o samba e brincar o carnaval. Entretanto, logo na primeira cabine de jurados, que é um módulo duplo, o carro abre-alas apresentou um problema para se locomover, o que ocasionou um buraco considerável. Isso foi corrigido pouco tempo depois, mas o erro foi notório. O restante do desfile transcorreu de forma tranquila. A agremiação encerrou o desfile em 68 minutos.

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Enredo

O Acadêmicos do Salgueiro apresentou o enredo “Hutukara”, um grande manifesto em defesa da terra e dos povos originários, seguindo a ótica cosmológica da etnia Yanomami. Para eles, Hutukara (o céu original a partir do qual se formou a terra) é que mantém todo ser humano vivo, juntamente com os rios e a floresta. Os Yanomami têm profundo conhecimento da floresta tropical em que vivem, das espécies vegetais nela existentes e das formas como podem ser aproveitadas.

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A partir da abertura de canteiros de obras no período da ditadura militar, e a posterior invasão de garimpeiros, um grande choque epidemiológico foi gerado, resultando em muitas perdas através da malária e de infecções respiratórias, além da destruição dos leitos dos rios e poluição de suas águas. Em meio à tragédia, o Salgueiro se coloca como meio para identificação da beleza e da cultura desse povo, ressaltando suas particularidades, a fim de valorizar a história do Brasil.

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O quesito se mostrou um dos problemas da escola, pois a leitura do enredo não foi facilitada pelas alegorias e fantasias no cortejo. A repetição de elementos, símbolos e cores fez com que a história contada parecesse não evoluir durante o desfile. No fim, a escola ainda colocou a ala de pessoas que fecha o desfile à frente da bateria. Gastou-se muitos setores para a ambientação do povo yanomami, e a defesa desse povo contra os males do homem branco que a escola propunha não se percebeu com tanta intensidade.

Fantasias

O conjunto de fantasias do Salgueiro foi de bom nível, com uso mais variado das cores em comparação às alegorias. Além disso, a utilização de materiais alternativos se fez bem presente, gerando boas e criativas soluções. Na maioria, eram fantasias volumosas e detalhadas. De forma geral, o acabamento era bom, com leves falhas em poucas alas, nada que preocupe a agremiação. Porém, a leitura do enredo não foi facilitada, por conta da repetitividade já mencionada. Na beleza, destaque para as alas “Pesca”, “Oscar Yanomami” e “Guarani Kaiowá”. Na originalidade, destaque para a fantasia dos passistas, que fez uso de pedaços de garrafas plásticas, proporcionando belo efeito.

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Alegorias

O conjunto alegórico da escola foi marcado pelo acabamento correto, salvo algumas exceções. Porém, a repetitividade nas cores e principalmente nos elementos prejudicou o quesito. O carro abre-alas, intitulado “Hutukara: A Nova Floresta”, apresentou o universo cosmológico do povo Yanomami sobre a criação da terraonde vivem. Na sequência do desfile, a segunda alegoria do Salgueiro, de nome “Amoa Hi: A Árvore dos Cantos”, simbolizando a visão Yanomami de que durante o transe xamânico, os xapiris se comunicam através de cantos, buscados na árvore dos cantos.

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O terceiro carro da agremiação, intitulado “A Aldeia Watoriki”, retratava a maior aldeia do território Yanomami, que se situa no extremo nordeste do estado do Amazonas, perto do seu limite com o estado de Roraima. O tripé intitulado “Comedor de Terra” representava uma retroescavadeira estilizada como um animal e uma grande boca. A quarta alegoria da escola, de nome “A Tragédia Yanomami”, simbolizava a exploração do garimpo ilegal, iniciada durante os governos militares, que trouxe malefícios para o povo Yanomami.

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O quinto carro alegórico da agremiação, intitulado “A Beleza Yanomami”, retratava a beleza e a força desse povo, que nada contra a correnteza da destruição. A sexta e última alegoria do Salgueiro, nomeada “Por um Brasil Cocar”, representava um grito de exaltação ao Brasil originário, através da arte indígena. Quase todas se apresentavam nas cores verde, amarelo e vermelho. O acabamento era apenas correto na maioria dos carros, mas algumas falhas foram vistas, como um rasgo em uma escultura do abre-alas e parte de um braço de outra escultura quebrado no quarto carro. A solução estética da quinta alegoria, ao representar um rio em um telão de led, não fez muito sentido.

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Outros destaques

A bateria do Salgueiro, comandada pelos mestres Gustavo e Guilherme, teve um ótimo desempenho. O andamento adotado se mostrou perfeito para embalar o samba enredo. Bossas e convenções bastante adequadas e bem encaixadas ao samba, injetando muita energia nos componentes, que conseguiram cantar e brincar com bastante força e alegria.

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Com estética diferenciada, abre-alas da Grande Rio impressiona com o mito da criação do mundo

GR Esp02 013Batizado de “Mundo inaugural, misterioso e obscuro”, o abre-alas da Grande Rio representou a visão mágica para a criação do mundo pela visão Tupinambá. A alegoria levou para a Avenida uma estética diferenciada, grande marca da trajetória dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. Com tons pretos, ele foi feito em fibra cristal e era realçado pela iluminação.

Segundo Haddad, o carro alegórico teve como proposta fazer com que o público se sentisse no caos da criação do mundo. O abre-alas foi dividido em dois chassis – cada um com um significado -, e os destaques representaram morcegos e corujas.

GR Esp02 015“É um carro que representa a escuridão, já que o próprio velho que cria a humanidade se cria a partir da batida das asas dos morcegos e das corujas. A partir dessa escuridão, a gente vê a criação da terra – que é a primeira parte do chassi -, e a criação dos homens – que é representada na segunda parte da alegoria. Todas as esculturas dele acendiam por dentro. Conseguimos dar a cor que queríamos, mas mantendo a nossa base preta. A proposta foi que as pessoas se sentissem neste caos que foi a criação do mundo Tudo isso não quer dizer que não havia luz. Por isso tivemos a escuridão com luz. Essa foi a abertura da Grande Rio”, explicou o carnavalesco.

Um dos destaques do carro, o assessor de imprensa Wander Fernandes, 38 anos, representou um morcego. Em seu terceiro desfile pela Grande Rio, mas na primeira vez como destaque, ele contou que ficou encantado com a estética do abre-alas. Para ele, a alegoria falou por si só e conseguiu tocar o sentimento do público.

GR Esp02 008“Quando cheguei no barracão e vi o carro, fiquei impactado pela força. Eu não esperava tudo isso logo no meu primeiro ano saindo em um carro. Vir representando a força que o início do enredo trouxe, em um carro com essas nuances de cores muito fortes foi incrível. Acredito que ele deu um grande impacto em todo mundo. Ninguém esperava por isso”, afirmou Wander.

O sentimento de algo nunca visto também marcou os destaques do carro. É o exemplo de Anderson Trigueiro, consultor, 42 anos. Apaixonado pelo espetáculo do carnaval, ele afirma que nunca viu um abre-alas com uma estética como a que foi apresentada pela escola de Caxias.

GR Esp02 005“Esse abre-alas é um dos carros mais bonitos que eu vi na minha vida e teve um efeito sensacional com a luz. Saber que fiz parte desse espetáculo foi indescritível. A minha fantasia representou o morcego que veio no carro das trevas. Trovejamos e escurecemos a Sapucaí”, comentou Anderson.

Com o rugido da onça, a Tricolor da Baixada Fluminense foi a quarta agremiação a desfilar neste domingo de carnaval. O enredo “Nosso destino é ser onça” foi desenvolvido pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora.

Elegância e tradição marcam a velha-guarda da Unidos da Tijuca

Tijuca01eA Unidos da Tijuca mergulhou no miticismo em seu desfile com o enredo “O conto de fados”, contando a história de Portugal por meio das lendas portuguesas. A velha-guarda surgiu no início do desfile como os guardiões das histórias e tradições tijucanas, prestando homenagem ao mito grego, uma lenda fundadora que inspira todo o enredo.

“A nossa expectativa é para uma nota dez, nós viemos com o coração aberto, dispostos a levar esse título com esse enredo maravilhoso e com a escola preparada. Eu tenho 67 anos e quero mais uma vitória para a minha escola, o meu desfile inesquecível é do Ayrton Senna e eu ou baluarte da escola, sou cantor, compositor, estilista e destaque de outras escolas, mas a minha escola de coração é a Unidos da Tijuca”, contou Wander Germano.

Tijuca01dAs fantasias mostraram toda a elegância e beleza da velha-guarda da escola, as senhoras com um vestido branco, lenço azul claro brilhoso e um broche com fitas carregando o nome da galeria da velha-guarda, enquanto os senhores passaram com toda a elegância de branco.

“Nós fomos guardiões do nosso pavilhão, então muito orgulho que a gente teve de cuidar da Lucinha e do Mateus, a gente veio cuidando da nossa bandeira na nossa escola, que a gente ama de paixão, eu tenho 30 anos de Tijuca, é muito amor. E a gente vai ser campeã, com certeza”, comentou Angela Maria Marques da Silveira de 67 anos.

Tijuca01cJosé Carlos Gonçalves de 72 anos, desfila na Tijuca há 50 anos e contou como essa história começou lá no passado com o seu pai e esse amor foi seguindo como tradição na família: “A gente vem para ganhar, quando a gente coloca o pé na avenida é para ganhar. E foi um enredo que mostrou que não é só no Brasil, tem em Portugal um cara de história também. Eu saio na escola há 50 anos, eu tenho 72 anos, meu pai foi um dos que tinha a ala na escola, na Tijuca. E depois passou para a gente, ficou eu, minha irmã, meu irmão. Eu só saio na Tijuca, não saio em outra escola.”

“Eu represento muita coisa na velha guarda, eu saio na Unidos da Tijuca desde pequenininha e hoje eu vou fazer 67 anos e estou aqui na minha escola e na velha guarda. Para mim, todos os desfiles são marcantes, mas o ‘É segredo, não conto para ninguém, sou Tijuca e vou além’ me marcou muito”, pontuou Rosineia de Assis Mendes.

Grande Rio: fotos do desfile no Carnaval 2024

Salgueiro: fotos do desfile no Carnaval 2024