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Freddy Ferreira analisa a bateria da Imperatriz no desfile

Um excelente desfile da bateria da Imperatriz Leopoldinense, comandada por mestre Lolo. Uma conjunção sonora impecável foi exibida. Graças ao equilíbrio e a equalização de timbres de destaque da “Swing da Leopoldina” (SL). Bossas dançantes foram apresentadas com precisão, garantindo empolgação da plateia e componentes sendo impulsionados pelo ritmo exemplar da atual campeã do Carnaval.

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Uma bateria da Imperatriz com uma afinação de surdos extremamente privilegiada foi percebida. Surdos de primeira e de segunda foram precisos e firmes por toda a pista. Já o balanço profundamente envolvente das terceiras foi notado tanto em ritmo, quanto em bossas. Uma ala de repiques ressonantes tocou conectada a um naipe de caixas de guerra bastante sólido.

Na parte da frente da SL, um naipe de cuícas seguro mostrou desenvoltura rítmica. O ponto alto das peças leves foi o casamento sonoro sublime entre uma ala de chocalhos primorosa e um naipe de tamborins esplêndido, que mesmo com um desenho rítmico simples, comprovou sua invariável qualidade com uma execução caprichada.

Bossas intimamente ligadas ao animado samba-enredo da Rainha de Ramos foram exibidas. Se aproveitando das variações melódicas para consolidar o ritmo, o leque de paradinhas refinado era de inegável bom gosto. Destaque para a paradinha com solo dos tamborins, como se batessem palmas. Chamou o público para junto do ritmo da “Swing da Leopoldina”, se revelando um acerto tanto musical, quanto principalmente energético. Paradinhas que se aproveitavam das diferenças entre os timbres mostraram versatilidade rítmica.

Na primeira cabine (módulo duplo) uma apresentação impecável foi realizada, sendo aplaudida pelos julgadores. Na segunda cabine (terceiro módulo) outra grande apresentação garantiu, inclusive, boa recepção popular. No último módulo de julgamento, um verdadeiro show foi dado pela bateria da Imperatriz Leopoldinense. Mestre Lolo, seus diretores e ritmistas têm motivos de sobra para voltarem para Ramos felizes e confiantes na pontuação máxima, diante de apresentações potentes para jurados e um ritmo de imensa qualidade.

Com plástica impecável e samba na boca do povo, Imperatriz se credencia fortemente na luta por um bi campeonato

Por Lucas Santos e fotos de Nelson Malfacini

Motivada desde logo depois do título de 2023 por um bicampeonato que não aparece na Sapucaí desde 2008, a Imperatriz mostrou com o dia já quase clareando o porque de apostar nos profissionais que chegaram à escola no carnaval passado e de outros que já tem mais de alguns carnavais na Verde e Branca. Com trabalho primoroso e repleto de bom gosto e criatividade de Leandro Vieira, que promoveu soluções até diferentes dos últimos anos, a Rainha de Ramos ainda teve na dobradinha Pittty de Menezes e Mestre Lolo mais uma avassaladora apresentação que confirmou que o antes “Frankesnteis” samba da Imperatriz, criado a partir de uma junção de duas obras, se transformou em um belíssimo príncipe cigano, cantado, até nos momentos da bossa de seresta da Swing da Leopoldina pela comunidade e pelo público que esperou até de manhãzinha para cantar o “Vai clarear” a plenos pulmões. A ex-certinha de Ramos, apelidada por seu carnavalesco mais uma vez, foi quente na pista, mas também certinha, não cometendo erros e se colocando forte na briga. Com o enredo “Com a sorte virada para a lua, segundo o testamento da cigana Esmeralda”, a Imperatriz encerrou seu desfile com 1h09.

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Comissão de Frente

Marcelo Misailidis realmente conseguiu deixar bem escondida a proposta da comissão. Em meses de ensaio na rua Professor Lacê com os bailarinos vestidos todos de cigano ninguém poderia imaginar que a proposta para o quesito foi a apresentada esta noite. Em “A cigana e o fogaréu”, o coreógrafo trouxe o fogo, elemento central para o povo cigano. Com o elemento cenográfico se constituindo em uma enorme fogueira, com iluminação especial, os bailarinos se revelam como salamandras em estado de lúdica incandescência. Junto deles, Esmeralda, apresenta-se como uma divindade que, em torno das chamas (e tingida por sua coloração avermelhada) tentava conduzir o espectador a adentrar no universo místico que se descortinou ao longo de um desfile que se nutre do imaginário cigano.

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Na apresentação para o júri, os bailarinos subiam no elemento cenográfico e produziam com panos em estampas bastante fiéis a coloração das chamas, o movimento do fogo se consumindo. Enquanto isso, Esmeralda dançava e logo era içada por uma corda, no movimento de como que levitasse pelo ar, ao mesmo tempo que controlava uma bola de cristal (um drone) que subia ao controle da cigana. No final da apresentação, já no chão da alegoria, a cigana dançava e era consumida pelo fogo no movimento dos bailarinos. Foi uma apresentação criativa que procurou trazer o imaginário do tom misterioso dos ciganos, ainda que não tenha superado a apresentação da comissão de 2023. Mas, foi perfeita dentro da sua proposta, apenas em um dos módulos de jurados, que a bola caiu e a escola deve ser levemente penalizada.

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Mestre-sala e Porta-bandeira

Com uma fantasia simplesmente deslumbrante, abusando dos tons do dourado e das jóias próprias da cultura cigana e do bom gosto, a vestimenta “a cigana Esmeralda e o príncipe da França”, representava a porta-bandeira Rafaela Theodoro representava a cigana fictícia a quem é atribuído o testamento do enredo, tido como um tesouro por conter os ensinamentos e os métodos para ler a sina de um indivíduo, bailando com o pavilhão Leopoldinense enquanto seu figurino revela a tonalidade da pedra verde que ela carrega em seu nome. Ao verde é acrescentado o ouro tão apreciado pelo povo cigano, que prevaleceu sobre o figurino do mestre-sala Phelipe Lemos, coroado, ele é o príncipe da França. O nobre europeu com quem, segundo a narrativa fantasiosa da obra que inspira o desfile, a personagem foi casada.

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Na dança, a dupla mostrou o entrosamento de sempre, além de muita segurança e tranquilidade nos movimentos. Havia grande sincronismo, o pavilhão sempre bem desfraldado nas apresentações para os jurados. Um dos pontos altos foi no “O que é meu é da cigana..” em que os dois giravam de forma muito graciosa, bem casado com a bossa das palmas. A dupla ainda mesclou passos mais tradicionais com algumas pontuações do samba em movimentos. Apresentação irretocável.

Harmonia

Como pedido pelo diretor executivo da escola, João Drumond, em seu discurso antes do desfile, a comunidade desfilou como se estivesse fazendo um ensaio na Rua Professor Lacê em Ramos. E o que se vê lá? Muito canto, muita alegria e muita espontaneidade. Ajudados por uma Sapucaí que veio junto do samba, os componentes cantaram do início ao fim a obra da Imperatriz, de forma orgânica, natural, e felizes ao amanhecer, podendo justificar finalmente o “Vai clarear, olha o povo cantando no meio da rua…”. Com uma vestimenta que em sua maioria facilitou a evolução dos componentes, a comunidade de Ramos manteve o nível de canto até o final mostrando garra na briga pelo título.

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Já Pitty de Menezes, mostrou que já é um dos grandes intérpretes do carnaval do Rio de Janeiro, tranquilo, sereno, levou a obra com maestria, o samba que ele mesmo fez crescer nos ensaios de rua, de quadra em outras atividades da Imperatriz. Com muito vigor e chamando os foliões a todo momento para vir junto com a escola, o cantor também mostrou ter um time bem afinado de vozes que o acompanharam no samba, deixando ele à vontade para os cacos, terças e vocalizações.

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Enredo

Dividido cinco setores, o primeiro “a caravana, a festa e um manual delirante” a Imperatriz Leopoldinense esteve mergulhada em atmosfera cigana, já na comissão de frente iniciando o ritual da luz sobre o fogo introduzindo testamento de uma cigana chamada Esmeralda, que foi encontrado por um grupo de ciganos que se encarrega de trazer o artigo para terras brasileiras. Depois em “sonhando a vida feito carnaval” a escola recorreu ao conteúdo do testamento da cigana que prevê a interpretação de um sonho como uma das formas de se ler a sina de uma pessoa. No terceiro setor “destimo traçado: um calendário e a leitura da mão”trazendo a ideia de que o destino é algo pré-estabelecido como uma sina a ser cumprida que pode ser antecipada por um conhecimento adivinhatório.

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No penúltimo setor “os astros na imensidão” mergulhou nos ensinamentos atribuídos à cigana no campo astrológico. Por fim, o desfile se encerra em “O zodíaco e o prenúncio da sina da minha escola” fazendo lúdicos paralelos que se valem da permissividade carnavalesca e reivindicando a ficção e o delírio como premissas de atividades artísticas ligadas ao carnaval, entrecruzam as premonições zodiacais atribuídas à cigana em seu testamento ao mapa astrológico da escola de Ramos. Em geral, a ideia de mais uma ficção carnavalesca se mostrou extremamente criativa, arrojada e que dialogou facilmente com o público. A leitura estava bastante facilitada também nas fantasias e alegorias.

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Evolução

A Imperatriz, mais uma vez, contrariou quem achava que o fato de ela ser uma escola mais quente na pista como quer o seu carnavalesco, poderia acarretar em uma escola que não desse atenção aos quesitos de chão e mais técnicos. A Verde e Branca de Ramos ensaia muito e é bastante crítica com o seu trabalho. Por isso, mais uma vez a evolução foi bastante correta, sem buracos, sem correria, sem pausas acentuadas, mas ainda assim muito espontânea, quente, com os foliões felizes, dançando, sem muitas alas coreografadas. A caravana cigana do início, além de ser destaque no campo visual, dava toda a alegria do enredo. Eram ciganos legítimos na festa que faziam e contagiaram a Sapucaí. Desfile irretocável neste aspecto, perfeito.

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Samba-enredo

Com a fusão o samba ficou de autoria de Me leva, Gabriel Coelho, Luiz Brinquinho, Miguel da Imperatriz, Antonio Crescente e Renne Barbosa, com participações especiais de Daniel Paixão e Lucas Macedo; com a de Jeferson Lima, Rômulo Meirelles, Jorge Goulart, Sílvio Mesquita, Carlinhos Niterói e Bello, com a participação especial de Gigi da Estiva. O ex “frankeinstein” passou muito bem na Sapucaí como havia passado nos ensaios, e com uma ressonância muito grande no público.

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Como pontos altos mais uma vez, os refrões “Vai Clarear..” e “O destino é traçado na palma da mão”, além do “o que é meu é da cigana..” com seu jeito mais malandreado, inspirado nas batidas de umbanda, no ponto que é de mesma letra, e o “prenúncio da sina …” que vem logo antes e é um primazia em termos de melodia. A introdução da obra com todos os componentes batendo palmas, mestre Lolo subindo a bateria até o ” verde-esmeralda é vitória que virá” para entrar no “Vai Clarear…” foi surreal, melhor ainda do que já havia sido em todos os ensaios.

Fantasias

Leandro Vieira mostrou mais uma vez que domina muito bem a parte estética e que sabe fazer fantasia para carnaval. A paleta de cores dialogava muito com a temática de cada setor, desde o segundo que versava sobre as adivinhações de sonhos, em que espectro privava por tons mais claros, branco, como a névoa do mundo dos sonhos presentes nas fantasias como “Morfeu, sonho, devaneio e magia”, “sonhar com rosa” que traziam estes tons. Até no último setor que apresentava uma Imperatriz pisciana, pela sua data de fundação, presente nas águas, e com o azul como cor que predominava, como na ala de compositores “a certeza da minha” e na logo em seguida “o zodíaco e o prenúncio da sina”, com os astros celestes jogando energia para a escola.

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A ala “netuno, o planeta azul” evidencia Netuno, o senhor dos mares. E a criatividade do carnavalesco também se fez presente na ala seguinte “sol em peixes”, com uma fantasia maravilhosa tendo uma cabeça de um peixe bem criativa. Ótimas soluções estéticas, ótimo uso de material, de qualidade além de fácil leitura. Um primor.

Alegorias e adereços

Sempre prezando pelo bom acabamento, pela estética e pelas informações contidas do que o tamanho, Leandro Vieira trouxe carros um pouco mais diferentes do que costuma trazer, ainda que o traço bem conhecido na assinatura do artista. Antes mesmo do abre-alas, o elemento cenográfico “A Imperatriz desfila com a sorte virada para a lua” representava alguns caminhões que traziam a caravana cigana e era recoberto por uma lua em zepelin.

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No abre-alas “Imagens poéticas para um testamento vertido em manual” o mundo real é deixado de lado e o delírio é o ponto de partida da escola para uma atmosfera esotérica forma por esculturas que representavam símbolos do zodíaco, todo em azul e com roldanas em movimento, mãos, etc. Infelizmente, durantes alguns momentos, a alegoria não tinha iluminação e o carrossel não girava. É esperar para ver o posicionamento dos julgadores. No último carro, “uma pisciana com a sorte virada para a lua” um lúdico paralelo entres as premonições e o mapa astrológico a partir da data de fundação da Imperatriz, apresentando Netuno, o senhor das águas, que é o elemento que rege o signo, além, de peixes, pois a Rainha de Ramos é pisciana. A alegoria fecho com chave de ouro um ótimo conjunto da Imperatriz, com bom acabamento, e muito bom gosto.

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Outros destaques

A rainha de bateria Maria Mariá estava deslumbrante com a fantasia “um trevo de quatro folhas”, toda trabalhada no verde da escola, que representava o famoso artifício da sorte. No esquenta, Pitty puxou “Podes chorar” que é cantado pelo Cacique de Ramos, além da música Barracão Velha que é da umbanda. O diretor de carnaval João Drummond em seu discurso convocou a escola a desfilar como se estivesse em Ramos. A musa Rafa Kalimann veio de “asas para sonhar” poeticamente oferecendo asas em direção ao mundo dos sonhos.

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Freddy Ferreira analisa a bateria da Tijuca no desfile

Um desfile sublime da bateria da Unidos da Tijuca, comandada por mestre Casagrande. Uma conjunção sonora equilibrada foi produzida, permitida graças a excelente equalização de timbres da “Pura Cadência”. Incrível como a postura tradicional de mestre Casão de não “gastar bossa a toa”, somente em cabines de jurados produz um ritmo em que há um nítido respeito musical pela canção. A bateria da Tijuca brilhou enquanto acompanhava o samba de modo exemplar, além de realizar bossas intuitivas, que deram a obra exatamente o que ela pedia.

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Na parte de trás do ritmo da “Pura Cadência”, uma afinação privilegiada de surdos foi notada. Marcadores de primeira e de segunda foram precisos durante todo o cortejo. Surdos de terceira contribuíram com um balanço acima da média, complementando com categoria a sonoridade dos médios. Repiques sólidos e coesos tocaram integrados a um naipe de caixas de guerra de imensa técnica musical. É possível dizer que o trabalho estupendo das caixas tijucanas serviu de base e plataforma sólida, amparando os demais naipes da bateria.

Na cabeça da bateria da Tijuca, uma ala de cuícas potente se exibiu com segurança. Um naipe de chocalhos profundamente técnico tocou entrelaçado com uma ala de tamborins de qualidade musical. Tamborins e Chocalhos tijucanos foram, juntos, o ponto alto das peças leves.

Bossas simples e funcionais, mas plenamente integradas ao samba-enredo da escola do morro do Borel foram exibidas com precisão. O ritmo nos arranjos era consolidado se aproveitando das nuances melódicas da obra do Pavão e contribuindo com impacto sonoro das marcações.
Destaque para a paradinha dançante do refrão do meio, que ajudou a impulsionar tanto o samba, quanto auxiliou na evolução dos componentes.

Na primeira cabine (módulo duplo) uma apresentação simplesmente exuberante foi realizada. Com todas as bossas bem encaixadas e uma boa fluência entre os naipes, arrancou aplausos dos julgadores. Na segunda cabine (terceiro módulo) mais uma apresentação extremamente potente e consistente foi produzida. Já na última cabine, uma apresentação com contornos apoteóticos encerrou com chave de ouro o grande sacode dado pela “Pura Cadência” da Tijuca, regida por mestre Casagrande.

Unidos da Tijuca levou as lendas de Portugal para a avenida em desfile com destaque para a bateria ‘Pura cadência’

Por Luan Costa e fotos de Nelson Malfacini

A Unidos da Tijuca foi a quinta escola a pisar na avenida na primeira noite de desfiles do Grupo Especial. A passagem da bateria pura cadência de mestre Casagrande foi o grande destaque do desfile, com ritmo equilibrado e paradinha dançante no refrão do meio. Porém, evolução e harmonia inconstantes fizeram com que a escola passasse pela avenida de forma burocrática. Em sua estreia pela Tijuca, o carnavalesco Alexandre Louzada entregou um bom conjunto de fantasias.

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Apresentando o enredo “O conto de fados”, desenvolvido pelo carnavalesco Alexandre Louzada, a azul e amarela do Borel viajou pelo misticismo e contou a história de Portugal através das lendas portugueses. A agremiação terminou sua apresentação com 68 minutos.

Comissão de Frente

A comissão de frente da Tijuca foi coreografada por Sérgio Lobato, intitulada “Offiusa”, ela contou com 17 componentes no total, sendo 15 deles aparentes. A comissão passeou pelas terras de Offiusa, um tempo mítico da história de Portugal, a ideia foi retratar o nascimento do herói, Ulisses queria ter uma cidade com seu nome, seduziu uma rainha metade rainha e metade serpente. A apresentação mostrou toda história contada por Orfeu da Conceição, ele com um cavaquinho na mão, toda cena aconteceu em cima de um grande tripé, porém, a leitura não foi de fácil compreensão, os efeitos propostos também não causaram impacto, ao final da apresentação os componentes formaram a cauda do pavão, símbolo da escola, posteriormente as palavras “Samba” e “Fado” surgiram.

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Mestre-sala e Porta-bandeira

De volta à escola onde foi protagonista por tantos anos, a porta-bandeira Lucinha Nobre fez par com o jovem Matheus André. A fantasia da dupla representou o ouro de Offir e a dupla brilhou na avenida, a dança de ambos foi tradicional, porém, em alguns momentos eles realizaram uma espécie de coreografia, principalmente no refrão do meio. Matheus demonstrou muito vigor em sua dança, e Lucinha, mesmo tendo um bailado mais clássico conseguiu acompanhar o parceiro. O único senão fica por conta de pequenos detalhes durante apresentação do casal no setor seis, no início a porta-bandeira teve dificuldade para manter o pavilhão esticado e por pouco o mestre-sala não deixou escapar de suas mãos. Como destaque vale o elogio a bandeirada realizada por Lucinha.

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Enredo

O carnavalesco multicampeão Alexandre Louzada foi o responsável pelo enredo “O conto de fados”, nele, a escola do Borel fez uma viagem a Portugal mostrando diversos aspectos da história do país como fábulas, mistérios e lendas populares. O desfile foi dividido em seis setores definidos por Louzada como seis fados, nestes, o carnavalesco também considerou a abertura como um setor. Forem eles, “Fados Mitológicos”, “Fados de Magia”, “Fados Invasores”, “Fados Marítimos”, “Fados das lendas em Romaria” e “Fado d ‘alma portuguesa com certeza”.

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Em sua justificativa, o enredo teve o cuidado de revisitar o passado e trouxe a possibilidade de se reescrever um futuro diferente, de não repetir os erros e de ampliar as lições. Porém, o que se viu na avenida foi uma grande ode a Portugal, o carro que representou as invasões foi lúdico e não trouxe o impacto necessário.

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Alegorias e Adereços

A unidos da Tijuca levou para avenida cinco carros e um tripé, o conjunto alegórico foi bem apresentado, porém, houve discrepância entre as primeiras alegorias e as últimas, apesar do bom acabamento visto em sua maioria. O abre-alas foi o grande destaque da noite, intitulado “A arca de uma nova aliança: guardiã das lendas e dos segredos de Offir”, ele trouxe o pavão da escola no primeiro chassi, o acabamento e a iluminação foram primorosos. A segunda alegoria, “Os segredos dos povos pré-romanos: um balaio de magia – a conexão mística entre a natureza e o homem”, entrou na avenida apagada, mas acendeu antes da cabine de julgamento e não comprometeu o desfile.

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Na sequência vimos o tripé “Heranças mouras: “doces sabores, velho saber”. O terceiro carro, “Os segredos da máquina do mundo: o alerta à monstruosidade na colonização”, não fez o alerta que se propôs, visto que a escultura do colonizador não deixou claro que a ideia era confrontar o passado. O quarto carro “Passarola: os segredos da verdadeira alma portuguesa” voou pelos imaginários populares à criação cultural e histórica de Portugal. A alegoria que encerrou o desfile foi intitulada “Segredos em romaria: a união do amém com axé”, a grande santa teve um efeito que acabou mostrando algumas ferragens internas.

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Fantasias

O carnavalesco Alexandre Louzada apresentou um bom conjunto de fantasias, em sua estreia na Tijuca, a assinatura se fez presente em todas as alas, o gigantismo, volume e esmero no acabamento permearam todo o conjunto. No total, a escola levou para a avenida 29 alas, o uso de cores foi interessante, assim como o material utilizado na confecção das roupas, foi observado também muitas penas artificiais, o que elevou o tamanho das fantasias. Vale destacar a ala das baianas, “As Téginas: guardiãs do conhecimento e do tempo”, a ala 14, “O monstro da bruma: terror e cegueira no Atlântico” e a 16, “O Dragão de Quatro Cabeças: o terror dos marinheiros no mar da China”.

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Harmonia

A comunidade do Borel por muitos anos foi considerada um rolo compressor, no desfile desta noite essa característica ficou em segundo plano, os componentes cantaram o samba de forma burocrática e alternou momentos de canto mais vigoroso, com outros em que diminuíram o ritmo. A bateria “Pura Cadência”, de mestre Casagrande, foi o grande destaque do conjunto harmônico da escola, com um ritmo equilibrado e paradinha dançante no refrão do meio. O entrosamento junto ao carro de som comandado por Ito Melodia também foi positivo, vale lembrar que o cantor fez sua estreia na agremiação.

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Samba-Enredo

O samba-enredo da Unidos da Tijuca, em 2024, trouxe um compilado de lendas portuguesas que acabaram transbordando também, nas histórias, de forma que o “Fado vira Samba, e o Samba vira Fado”. Composto por Júlio Alves, Claudio Russo, Jorge Arthur, Chico Alves, Silas Augusto e De Sousa, a obra passou sem brilho pela avenida, apesar de bem interpretada por Ito Melodia, não conseguiu fazer com que o componente entregasse um canto satisfatório e muito menos atingiu o público. A parte de maior destaque foi o refrão do meio, principalmente o verso “Põe no balaio um punhado de magia”.

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Evolução

A evolução da Unidos da Tijuca passou pela avenida de forma inconstante e burocrática, apesar de não apresentar falhas graves, a escola alternou momentos de lentidão com outros em que acelerou o passo, a escola finalizou o desfile em 68 minutos. O único ponto realmente negativo foi durante a apresentação da bateria no setor seis, a ala de passistas acelerou e um buraco se formou, sendo visível para os jurados.

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Outros Destaques

A rainha de bateria Lexa passou pela avenida deslumbrante, sua fantasia representou a rainha moura que estimulou a coexistência de diferentes culturas e religiões, sendo considerada a matriarca da diversidade, com muito carisma, a cantora chamou pra si todos os holofotes.

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Freddy Ferreira analisa a bateria da Grande Rio no desfile

Um desfile muito bom da bateria do Acadêmicos do Grande Rio, sob o comando de mestre Fafá. Uma conjunção sonora de profundo equilíbrio e impecável equalização de timbres foi exibida. Um ritmo pautado pela leveza, com ritmistas tirando som das peças sem força exagerada, garantindo uma sonoridade cujo destaque é a disciplina musical.

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Uma bateria da Grande Rio com uma boa afinação de surdos foi percebida. Os marcadores de primeira e de segunda foram educados, fazendo som com leveza. Surdos de terceira preencheram a sonoridade dos graves com um balanço eficiente. Uma ala de repiques coesa tocou de forma reta, tudo integrado com um trabalho digno de elogios envolvendo as caixas de guerra, que tiveram boa ressonância.

Na cabeça da bateria da tricolor de Caxias, uma ala de agogôs potente e musical ajudou tanto no ritmo, como deu um amparo luxuoso em bossas, inclusive fazendo solo.
Um naipe de chocalhos de imensa virtude sonora tocou entrelaçada com uma ala de tamborins de elevada técnica musical. O casamento entre tamborim e chocalho merece exaltação, pelo acrescento musical obtido diante de tamanho entrosamento. Cuícas seguras também auxiliaram na sonoridade das peças leves.

Bossas bastante musicais foram exibidas de modo seguro pelo ritmo caxiense. Completamente encaixadas nas variações do melodioso samba da Grande Rio, mostraram funcionalidade pela pista, além de impulsionarem componentes em canto e dança. Destaque musical para o belo e ressonante solo dos agogôs com tamborins no início da segunda do samba, além do momento que a bateria na hora de retomar o ritmo após a paradinha no estribilho grita “Trovejou”, primeiro verso da cabeça do samba. Arrancou aplausos de público e júri.

Uma grande apresentação foi realizada na primeira cabine (módulo duplo), recebendo ovação popular, além de reconhecimento dos julgadores que aplaudiram. Na segunda cabine, mais uma exibição de qualidade foi feita, garantindo uma passagem enxuta e segura. No último módulo, uma apresentação potente e equilibrada foi produzida, deixando evidente o desfile muito bom da bateria do Acadêmicos do Grande Rio, dirigida por mestre Fafá.

Com conjunto estético primoroso, Grande Rio arrebata o público em comissão de frente e na excelência nos demais quesitos

Por Lucas Santos e fotos de Nelson Malfacini

Acostumada nos últimos anos a fazer grandes desfile, após um sexto lugar ano passado, a Grande Rio veio mordida, e, com perdão do trocadilho com o enredo, mostrou suas garras para se colocar de forma séria na briga pelo título. Com um começo arrasador através da comissão de frente que levantou o público, a escola utilizou muito bem a iluminação cênica da Sapucaí na própria comissão e no “trovejou, escureceu” que evidenciava também as alegorias todas bem preparadas para que as cores dialogassem com a iluminação.

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Foto: David Normando/Divulgação Rio Carnaval

Fora isso, a Grande Rio manteve o primor, o bom gosto, o volume e muita criatividade nas fantasias, apostou mais uma vez em um estilo muito próprio da dupla Leonardo Bora e Gabriel Haddad no carros, que tem dado certo e tem muito conceito, mais uma vez casando bastante com o enredo. Nos outros quesitos, a excelência de sempre: casal, bateria, Evandro conduzindo o povo e a comunidade respondendo. Com o enredo “Nosso destino é ser onça”, a Grande Rio foi a quarta escola a se apresentar na primeira noite do Grupo Especial, levando 1h07 para percorrer a Marquês de Sapucaí.

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* Baianas da Grande Rio encantam Sapucaí com manto Tupinambá

Comissão de Frente

Comandada por Hélio e Beth Bejani, a comissão de frente “Trovejou, escureceu!” viajou para tempos míticos, quando, segundo o imaginário Tupinambá, “o universo era provavelmente muito escuro”. A comissão se baseia no livro de Alberto Mussa, “Meu destino é ser Onça”, que, no início de tudo, reinava o mistério em meio ao caos. A apresentação durou mais do que uma passada do samba e tem seu início ainda fora do elemento cenográfico, com os morcegos, tratados como guardiões das artes no enredo, por habitarem as cavernas cobertas de pintura, faziam um efeito muito interessante em suas asas e se utilizava da iluminação com verde fluorescente na malha.

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As ocas, todas na cor preta, também abriam asas de morcego. Também eram locais para a transformação destes animais em guerreiros tupinambás. No meio, um guerreiro se sobressai de laranja fluorescente também, ali, a principal transformação, pois o guerreiro se tornava onça. No elemento cenográfico, o grande ponto alto da apresentação, e talvez até do desfile, uma enorme onça totalmente vazada se levanta em direção ao público e jurados, rugindo e mexendo as patas. O tupinambá de laranja aparecia dentro do corpo do bicho, dançando e apresentando um espetacular efeito luminoso. Um banho de criatividade do casal Bejani, com bom gosto e bom uso dos recursos disponíveis em prol da história.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Daniel Werneck e Taciana Couto, expressou em sua fantasia o bailar do “mundo inaugural”, quando a escuridão dominava o universo e o poder do Velho, o criador da humanidade, explodia em poeira cósmica. Toda trabalhada em tons escuros, a indumentária era lindíssima, na cabeça de Daniel os olhos da onça, o duo entre o preto e o prateado produzia um efeito maravilhoso. Assim como as plumas escuras na saia de Taciana embaixo do corpete todo brilhante em pedras preciosas prateadas.

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Na dança, o casal mostrou mais uma vez um amadurecimento muito grande de um carnaval para outro, o que gerou mais qualidade ainda na apresentação. Sem se fixar na velocidade, mas na qualidade, a dupla acertou e combinou todos os movimentos. Mais soltos nesse ano, ainda houve espaço para um grande momento de coreografia, no segundo “Kio Kio…” do samba em que a dupla prestava respeito ao indigenismo tão presente no enredo, realizando passos imitando uma dança indígena, cravando mais uma vez todos os movimentos. Taciana apresentou muita firmeza em toda a condução do pavilhão, mantendo ele sempre bem desfraldado, um pouco menos na dança indígena, mas ainda dentro das recomendações do quesito.

Harmonia

A comunidade de Caxias reproduziu na Avenida aquilo que já vinha fazendo nos ensaios de rua e no ensaio técnico. Mostrando que é possível sim cantar ” Yawalapiti, pankarau, apinajé, o ritual araweté, a flecha de kamaiura”, os componentes mais uma vez demonstraram estar bastante fechados com o samba-enredo, mantendo o canto de forma bastante contínua e intensa durante grande parte do desfile. O único ponto a se colocar é no último módulo, que em algumas alas mais volumosas, era perceptível o desgaste e houve uma queda no rendimento, somente nestas alas mais específicas.

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No mais a escola cantou muito. No carro de som, Evandro Malandro mais uma vez se colocou como o intérprete maduro e de qualidade que é, comandando um bom time de vozes de apoio e de cordas. O entrosamento entre ele e Fafá, não fica só na Avenida, mas na coordenação do departamento musical da escola, e mais uma vez a musicalidade da Grande Rio permitiu que se pudesse ouvir muito bem todas as vozes, com destaque para Evandro, obviamente, e até os instrumentos de corda que vinha junto nas bossas, inclusive. Muita qualidade sonora.

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Enredo

O enredo “nosso destino é ser onça” é dividido em oito setores. Na abertura ” o primeiro rugido do mundo” a escola apresentou o mito Tupinambá, que versa sobre a criação do mundo: o Velho, divindade máxima que criou a si mesmo e tudo devora. Depois em ” vingança e recriação”, desiludido com a própria criação, o Velho experimenta o sentimento de vingança e decide destruir a primeira humanidade. Em “Terceira humanidade: antropofagia”, a escola falou dos heróis míticos Maíra e Sumé, ambos descendentes do Pajé do Mel, que duelavam e expunham os seus superpoderes.

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O quarto setor “Xamanismo: as visões dos homens-onças” trouxe os rituais antropofágicos se reconfigurando através de povos indígenas do Brasil e de demais localidades das Américas que cultuavam as onças. Depois em “murmúrios das matas”, os cruzos culturais vivenciados no Brasil mostrando que os cultos indígenas às onças viraram lenda e canção. No setor 6 “devo(ra)ções nos sertões, onde a onça mora” observou-se espaços míticos sendo transformados em verso e prosa, onças são poetizadas e alimentam impérios. Por fim, em ” Brincar de ser onça”, a agremiação mostrou uma forma lúdica de se transformar em fera e ocupar a rua. São os foliões vestindo fantasias de onças sem cavalhadas, folias de reis, blocos, festas de bois. E o desfile encerrou em “reantropofagia” apresentando a onça como um poderoso símbolo de lutas. Neste último setor, veio os direitos das populações lgbtqiapn+, a demarcação de terras indígenas, o adiamento do fim do mundo, como propõe o filósofo Ailton Krenak.

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No geral, não é um tema de conhecimento tão presente na vida do cidadão comum. E, obviamente, com o carnaval sendo um grande divulgador de cultura brasileira, é necessário apresentar estes temas e da forma fiel no visual às lendas e ao indigenismo. Por isso, é importante felicitar a Grande Rio pela iniciativa. Havia alguns pontos mais difíceis de entendimento, principalmente, na parte do meio da apresentação nos setores três e quatro do desfile, onde havia pontos mais específicos do trabalho. Mas, no geral, há um entendimento bom da ideia e o final traz uma grande mensagem ao colocar a onça como símbolo de importantes movimentos de luta.

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Evolução

A escola apresentou uma evolução com fluência, com muito volume de fantasias, o que ajudava também as alas a estarem bem enfileiradas, e mesmo assim, sem embolar, o que é um ponto muito positivo para a equipe da escola. Não se observou correria, mas no final do desfile, na dança e na espontaneidade, era possível notar já um pouco de cansaço por parte dos componentes, principalmente nas alas com fantasias mais pesadas. A escola não optou tanto por alas coreografadas o que evidenciou uma comunidade espontânea. O único ponto que se deva ter atenção, foi no primeiro módulo, durante a apresentação da bateria em que o segundo casal Andrey Ricardo e Thauany Xavier precisou avançou para tentar evitar um buraco onde os guardiões da dupla já se movimentavam pela pista de uma forma diferente. A incógnita está em como os julgadores, de um módulo duplo, vão entender esses movimentos.

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Samba-enredo

A obra foi composta por Derê, Marcelinho Júnior, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro, Tony Vietinã e Eduardo Queiroz é pode-se dizer que é uma das composições mais peculiares desta safra. Tem partes bastante orginais em termos de melodia e de constituição métrica. Na segunda estrofe, no “ Kiô, kiô, kiô, kiô, kiera/ É cabocla, é mão-torta /Pé-de-boi que o chão recorta, travestida de pantera/ Kiô, kiô, kiô, kiô, kiera /A folia em reverência /Onde a arte é resistência, sou Caxias, bicho-fera” há uma quebra proposital da sequência harmônica e de andamento da composição, que apresenta o tom místico do enredo e confere ao samba-enredo da Grande Rio uma peculiaridade e beleza que o torna diferente dos demais. Há muita musicalidade neste ponto. O ponto alto, mais cantado, além dessa parte, que é “xodó” da comunidade, o refrão principal “Werám werá auê, naurú werá auê” que era cantado aos berros e que encontrou ressonância no público de fora da pista.

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Fantasias

O conjunto de fantasias da Grande Rio mostrou o estilo e a originalidade que vem fazendo os carnavalescos, Leonardo Bora e Gabriel Haddad na Grande Rio desde 2020, serem sucesso e darem resultados a escola. As fantasias possuíam volumetria, beleza, criatividade e bom gosto, além da utilização de matérias alternativos. Destaques para a primeira ala “ornamentos para o céu” trazendo a proposta do começo da escola de um mundo inaugural, constituída de preto em usa maioria, volumosa, mas com uma quebra nos detalhes com elementos coloridos, acompanhando inclusive o abre-alas, que vinha logo em seguida, no espectro de cor.

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Durante o desfile, os carnavalesco ainda passaram por tons terrosos e pastéis, nos cítricos e quentes como na ala “fogo devastador” que representava a desilusão do Velho Onça se vingando dos homens, mandando descer do céu um fogaréu. Outro destaque foi ala dos passistas, todos em dourado representando os povos Incas, moldados em ouro, onde o jaguar é um animal sagrado. Trabalho muito bom no conjunto de fantasias.

Alegorias e adereços

O conjunto alegórico da Grande Rio era composto por cinco carros e mais três tripés. Formado por dois chassis, o abre-alas “Mundo inaugural, misterioso e obscuro” apresentou a onça, segundo a cosmovisão Tupinambá, expressando força, poder, plenitude e perfeição. Nos dois chassis, o preto como tom principal, mas o colorido dos elementos fazia com que a alegoria tivesse um efeito muito positivo, principalmente, na luz cênica.

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O segundo carro já era famoso no pré-carnaval, quando saíram alguns spoilers, agora em sua totalidade, o efeito foi melhor ainda. “Jau Ware Sche” tinha um grande crânio de onça, com grandes mandíbulas na frente da alegoria, imponente representando os rituais de devoção e “devoração”. Tripés muito grandes, muito bem elaborados também fizeram parte de um conjunto alegórico volumoso, com as soluções criativas já conhecidas da dupla de carnavalescos, além de muito movimento, roldanas, etc. No final, a diversidade e a luta por movimentos importantes como os que defendem as populações de lgbtqiapn+, a demarcação de terras indígenas se fizeram presentes no carro “enquanto a onça não comer a lua”.

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Outros destaques

A bateria da Grande Rio “O som do rugido das onças” teve as fantasias concebidas a partir da mescla da iconografia do povo Ticuna (os elementos que dão formas e cores às túnicas vestidas pelos ritmistas, com base em tecido de cor e textura cruas e aplicações em tons que evocam peças de cerâmica) com máscaras que simulam peças de argila dos conjuntos ceramistas Karajá e Waurá.

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A rainha da bateria Paolla Oliveira veio com a fantasia “transformação: nosso destino é ser onça”, representando justamente o ponto central do enredo que é a possibilidade de se transformar em onça. A vestimenta da beldade possuía o aspecto de pele de onça, mas com um dourado de pedras preciosas. A atriz e apresentadora Regina Casé veio no tripé “onças foliônicas”. Antes do desfile, a escola entregou pulseiras luminosas para o público que eram acionadas pela escola e iluminaram o público durante os “apagões” da Sapucaí.

‘A caravana em festa’: primeira ala da Imperatriz reúne estética cigana

Imperatriz Esp03 002A primeira ala da Imperatriz Leopoldinense representou “A caravana em festa”, uma referência ao grupo de ciganos que, após a morte de Esmeralda na Europa, trouxe o seu testamento para o Brasil. O traje misto reuniu a clássica estética associada à moda cigana. A fantasia masculina exibiu violino, chapéu, calça, colete e joias douradas. Já a feminina, exibiu amplas saias de véus cortados em godê, laços enfeitados com fitas, brincos de argola e lenços ricamente decorados cobrindo a cabeça.

A ala era coreografada e marcada por movimentos leves. Para os componentes, a roupagem chamou atenção não somente pela luxuosidade e riqueza de detalhes. Encantada por representar a caravana, a leopoldinense Ingrid Paola, 24 anos, conta que foi pesquisar a história e a proposta do enredo para entender o mundo cigano.

Imperatriz Esp03 003“É a entrada da escola e dos ciganos. É a fantasia mais bonita do mundo, estou até com dó de ter que devolver (risos). Ela tem uma saia lindíssima que é cheia de panos com cores diferentes, além de glitter. Ela também tem um saiote lindo cheio de moedas. Ela retratou muito bem a estética cigana, o Leandro arrasou. Acredito que a escola incorporou esse enredo, um tema que não é muito falado. Ter que fazer essa representação me fez pesquisar muito e descobrir uma realidade muito linda”, contou Ingrid.

Para a comunidade, o enredo também representou a luta contra a intolerância, além da diversidade entre os leopoldinenses. A ala foi composta por pessoas de diversas religiões. É o exemplo de Viviane Gomes, vendedora de 42 anos. Desfila na agremiação há 15 anos e desde os nove frequenta a quadra. Evangélica, ela não pensou duas vezes antes para desfilar com a fantasia.

Imperatriz Esp03 001“Acredito que além da esperança, a mensagem da ala também é uma luta contra o preconceito – isso é a missão da Imperatriz. A ala foi composta por pessoas de diversas religiões, unidas para combater o preconceito. Muita gente achou que eu não aceitaria, mas mostrei que a mensagem e o meu amor pela escola foram maiores. Fiquei apaixonada e surpreendida com a fantasia. O Leandro, como sempre, nos surpreendeu”, comentou Viviane.

Com o enredo “Com a sorte virada pra lua segundo o testamento da cigana Esmeralda”, a Imperatriz Leopoldinense fechou o primeiro dia de desfiles do Grupo Especial.

Imperatriz: fotos do desfile no Carnaval 2024

Sob comando de Fafá, bateria da Grande Rio representou ‘O rugido das onças’

grande rio desfile24 057A bateria da Grande Rio desfilou com uma fantasia que representou “O som do rugido das onças”, e incorporou o poderoso rugido da onça e celebrou os povos originários – homens e mulheres onças. Segundo o mestre os ritmistas da agremiação, a roupa foi destacada pela leveza e a luxuosidade.

Ao todo, a Tricolor de Duque de Caxias levou 270 ritmistas para a Passarela do Samba. A apresentação foi dividida em quatro bossas: na “cabeça” do samba, no meio, uma antes do refrão final e, por último, no final. Comandante da bateria da escola desde 2019, foi a primeira vez que o mestre de bateria desfilou sem a presença do pai, Dú Gás, que também foi mestre da Grande Rio. “É um sentimento diferente e totalmente novo para mim, porque é a primeira vez que o meu pai não veio ao meu lado – o meu ídolo”.

grande rio desfile24 056O segmento garantiu os 30 pontos para a Tricolor da Baixada nos últimos três carnavais. Para Fafá, o segredo está no intenso trabalho, além da união e da humildade. Segundo ele, o único pedido feito aos ritmistas foi que eles se divertissem.

“Estar à frente dessa galera é algo muito fantástico. Entendemos o quanto difícil é ensaiar por conta de fatores como a rotina e a violência, mas eles não abandonam. O ensaio esteve lotado todas as semanas. Hoje o meu único pedido foi para eles se divertirem, porque só tenho que agradecer. A união e a humildade são os segredos da bateria da Grande Rio – conseguimos reconhecer quando erramos, e quando acertamos, isso não sobre à cabeça. Acredito que o segredo para o sucesso está na humildade, no silêncio e no trabalho”, disse Fafá.

Com o enredo “Nosso destino é ser onça”, desenvolvido pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, a Grande Rio foi a quarta agremiação a desfilar neste domingo de carnaval.

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Com baianas à la cigana, Imperatriz une a sabedoria das mães do samba ao poder das ciganas

Imperatriz Esp02 002As baianas leopoldinenses se vestiram à moda cigana para dar contorno carnavalesco à cigana que tudo sabe e tudo pode enxergar. As ciganas, conhecidas por ler a mão das pessoas e adivinhar o futuro, vieram representadas pela ala das baianas. Que no tradicional pano da costa baiano estava um grande olho, simbolizando o nome da fantasia “A cigana que tudo pode enxergar”, além de elementos característicos do icônico traje de baiana com aspectos da típica indumentária cigana.

Sob a cabeça, um lenço com moedas douradas penduradas é acompanhado de flores, um leque e uma moldura formada por um conjunto de penas tingidas na tonalidade da pedra verde que batiza a cigana fictícia que deixa seu testamento como um manual de sabedoria, que é o tema do enredo da escola. No pescoço, os colares dourados remetem ao gosto cigano pela extravagância do ouro. A saia é preenchida por uma variedade de cortes de lenços em godê.

Imperatriz Esp02 005“Hoje somos a cigana Esmeralda e ela já nos contagiou desde o início das disputas de samba, e eu já estava encantada, então quando o samba veio, e foi um samba que a gente não estava esperando, que foram dois sambas em um, foi uma surpresa para a gente. Mas o samba entrou, casou, e a gente dança, a gente brinca, e a gente estava numa expectativa muito grande. Como será a nossa roupa, e a gente vêm de cigana, muito colorido, muito bonito, leve, e realmente é isso, superou as expectativas, o Leandro, como sempre, maravilhoso, a Dona Cátia, também tem muito carinho por nós”, contou a assistente social, Maria das Graças, de 54 anos.

Com uma fantasia opulenta, volumosa e riquíssima em detalhes, as baianas da Imperatriz atravessaram a Sapucaí. Engana-se quem pensou que a fantasia delas era pesada, conforme elas disseram ao site CARNAVALESCO, o figurino era levíssimo e confortável.

Imperatriz Esp02 004“Nossa fantasia é a cigana esmeralda, vem misturando um pouco da sabedoria da cigana com a sabedoria das mães baianas. E eu amei a fantasia, está leve, dá para a gente dançar bastante, dá para a gente brincar, rodar a baiana no testamento da cigana Esmeralda”, disse Cleide Silva, 50 anos, doméstica.

Para a advogada, Cleide da Cruz, de 47 anos, que há duas décadas vem como baiana na Imperatriz, a fantasia foi a mais leve que ela já usou.

“A nossa fantasia vem representando a cigana Esmeralda, que deixou no seu testamento um manual e a gente seguiu o manual dela para esse desfile. Esse olho imenso da fantasia significa a visão de tudo que a cigana tem, de sempre adivinhar o que vai acontecer. E eu achei a fantasia muito linda, confortável e leve. Saio há 20 anos de baiana e é a primeira vez na história das baianas que a fantasia vem levinha”, afirmou a advogada.