Início Site Página 389

Imagens das alegorias do Tuiuti na área de concentração da Sapucaí

Imagens das alegorias da Vila Isabel na área de concentração da Sapucaí

Imperatriz abriu desfile com alas representando dias de sorte e azar

Imperatriz Esp04 001Campeã do Carnaval em 2023, a Imperatriz Leopoldinense foi a última escola a desfilar neste primeiro dia de espetáculo das escolas do Grupo Especial. A Rainha de Ramos levou o enredo “Com a sorte virada pra lua segundo o testamento da cigana Esmeralda”. O carnavalesco da agremiação criou duas alas que fizeram referência ao calendário da cigana: a ala nove representou os dias de sorte, enquanto a dez retratou os dias de azar.

As fantasias eram acompanhadas de estandartes de mão. Em cada uma, uma data que, segundo a cigana, traria sorte ou azar. É o que explica o diretor da ala, Lucas Santiago, de 28 anos. Para ele, a quarta-feira de cinzas pode representar um dia de sorte ou de azar: tudo depende do resultado do carnaval.

Imperatriz Esp04 003“A ala representa os dias de sorte, aquele dia que você acorda com sorte. Por isso que a ala vem com estandartes e com várias datas, como 4 de fevereiro e 16 de dezembro. Esses são os dias de sorte segundo o testamento da Cigana Esmeralda. O dia feliz será a quarta-feira de cinzas – se a Imperatriz for campeã. Se não for, será um dia de azar (risos)”, disse Lucas.

Em meio a expectativa para o bicampeonato, o 11 de fevereiro realmente entrou no calendário da sorte, segundo os leopoldinenses. Confiante, Raphaela Jesus, 22 anos, componente da ala, acredita que a quarta-feira de cinzas será o grande dia de sorte para a comunidade de Ramos.

Imperatriz Esp04 002“Deus queira que a quarta-feira de cinzas seja um dia feliz com a Imperatriz sendo campeã. Hoje é um dia feliz, porque estou muito confiante e acreditando que a vitória virá. A fantasia está impecável e surreal e destaca a busca pelo bicampeonato”, disse Raphaela.

Apesar da fé no testamento da cigana Esmeralda e com a sorte virada pra lua, a Imperatriz Leopoldinense ainda vai precisar esperar e torcer para a quarta-feira ser de sorte: Nesta segunda-feira, passam pela Marquês de Sapucaí Mocidade Independente de Padre Miguel, Portela, Vila Isabel, Mangueira, Paraíso do Tuiuti e Viradouro.

Mocidade Unida da Mooca encerra desfiles do Acesso I com chave de ouro e vira uma das favoritas pelo título

Por Gustavo Lima e fotos de Fábio Martins

Fechando todo o carnaval paulistano, a Mocidade Unida da Mooca deu ao público um desfile de gala. Digno de Grupo Especial. A MUM gabaritou praticamente em todos os quesitos e a escola conseguiu homenagear a escritora Helena Thedoro perfeitamente. A comissão de frente onde havia uma Helena criança interagindo com a sua mãe de religião africana, Iansã, foi um dos pontos altos do desfile. Além disso, o canto, bateria e as alegorias foram de uma enormidade. O abre-alas vale um destaque especial por sua grandiosidade, foi algo monumental que deu a escola um conjunto alegórico que viria a ficar em evidência logo após. Contudo, vale ressaltar que tudo o que foi feito nos ensaios técnicos, a agremiação da Zona Leste repetiu no desfile oficial e, com isso, a briga pela vaga no Especial é uma realidade novamente para a comunidade da Mooca sonhar.

Com o enredo “Oyá Helena”, a Mocidade Unida da Mooca fechou o grupo de Acesso I e todos os desfiles das agremiações filiadas á Liga..

Comissão de frente

A ala mostrou uma coreografia criativa e de fácil leitura. Nela, uma criança representava Helena Theodoro criança e interagia com outra bailarina que representava a orixá Iansã. Aparentemente, a entidade dava à criança o dom da leitura. No grande tripé elaborado, ela subia, abria um livro e começava a jogar borboletas. Uma encenação lúdica, mas que indicava o perfeccionismo que a escritora iria herdar no futuro. Grande sacada do coreógrafo do coreógrafo Nilson Jeffer e, com certeza, um dos destaques do desfile da MUM.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O estreante casal, Jefferson Gomes e Karina Zamparolli, não sentiram o peso de pisar pela primeira vez em um desfile oficial pela Mocidade Unida da Mooca. A dupla realizou uma apresentação para lá de satisfatória. O entrosamento desde a Mocidade Alegre nitidamente permanece e dá para analisar que os dois saem felizes com o desempenho. A sincronia entre os movimentos na coreografia fora vital para o sucesso da atuação.

Enredo

O tema da MUM consistia em homenagear a escritora Helena Theodora em forma de religiosidade, visto que ela é filha da orixá Iansã, na ótica da matriz africana.

Tudo foi explicado perfeitamente, principalmente na comissão de frente. A ala já decifrou o enredo inteiro, onde acima foi explicado, que ambas interagiam entre si e a entidade dava o dom para a criança que representava a Helena.

Alegorias

O abre-alas veio com uma grande escultura realista logo à frente. Na alegoria, havia bastante água, parecia até uma pequena chuva e deixou um pouco a pista molhada. Belo jogo de cores e abriu bem o conjunto alegórico que a Mocidade levou ao Anhembi.

A segunda alegoria foi totalmente dedicada à escola de samba Acadêmicos do Salgueiro. Não é segredo que Helena tem uma paixão pela agremiação. Com isso, a MUM fez um carro com iluminação toda vermelha e uma escultura de Xangô com martelo e segurando o brasão da ‘academia do samba’.

O terceiro carro foi visto com uma gigante escultura de um búfalo. Acoplado, a homenageada desfilou nesta alegoria, sendo na primeira parte da própria. Um tom todo dourado destacou o elemento.

Fantasias

Vestimentas bem acabadas e com fácil domínio dos componentes deram o tom do quesito. A Mocidade Unida da Mooca abriu mão do luxo, mas não deixou de colocar a grandiosidade em suas roupas. Foi visto que a escola abusou bastante do vermelho, cor predominante da agremiação, o que deu certo. Sobre a evolução com as próprias, os desfilantes se sentiram à vontade e conseguiram se movimentar facilmente, bem como fizeram nos ensaios técnicos.

Harmonia

O canto da MUM, como sempre, foi forte. Esse samba claramente foi o mais abraçado desde o ano de 2020. Só para recapitular, na apresentação da quadra, quase toda a quadra já sabia a letra. E isso já foi levado para a avenida nos ensaios técnicos e sacramentado no desfile oficial. Uma harmonia forte do início ao fim foi destaque e, além disso, vale destacar que os integrantes da harmonia estavam leves e havia pouca cobrança para cima dos componentes.

Samba-enredo

Impressionante a performance do trio Bico-Doce, Gui Cruz e Clayton Reis, especialmente do primeiro, que teve o tom mais evidente que os demais. Os outros, apareciam nos cacos dentro do samba. Talvez pelo fato do forte grave que a voz do Bico tem. A performance do carro de som casou perfeitamente com a bateria e tudo deu certo no quesito. Mais um tópico gabaritado.

Evolução

O quesito fluiu naturalmente. Em todos os setores, mesmo com os vários tripés levados, a evolução foi satisfatória. O espaçamento foi válido entre as alas e as fileiras conseguiram evoluir bem entre si. Foi uma noite em que deu tudo certo para a Mocidade Unida da Mooca, e o quesito evolução é um grande termômetro para avaliar tais questões.

Outros destaques

A bateria “Chapa Quente”, regida pelo mestre Dennys, deu um andamento diferenciado. De longe, parece uma batucada acelerada e, de perto, cadenciada. Um dos destaques do desfie também.

A rainha de bateria, Waleska Reis, sambou na frente da bateria e se destacou por uma coreografia que realizava junto a um grupo cênico. Tal feito, provocou uma grande reação do público.

Vários tripés foram levados, com destaque para sambistas ligados à Helena, como Beth Carvalho, Jorge Aragão e Zeca Pagodinho.

Estrela do Terceiro Milênio empolga em diversos momentos e quesitos em desfile no Grupo de Acesso I

Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins

Desde a revelação do enredo para a comunidade do samba paulistana e para os torcedores, muito se esperava da Estrela do Terceiro Milênio para 2024. Sétima (e penúltima) escola a desfilar no Grupo de Acesso I, no domingo de carnaval, a agremiação do Extremo Sul de São Paulo cumpriu com tudo o que prometeu – e que também incluiu a escolha de um samba-enredo bastante bem quisto pelo universo carnavalesco da cidade e ensaios técnicos extremamente bem feitos. Defendendo “Vovó Cici conta e o Grajaú canta: O Mito da Criação”, temática desenvolvida pelo carnavalesco Murilo Lobo, a escola teve ótimo rendimento do samba-enredo, da comissão de frente e do estreante casal de mestre-sala e porta-bandeira.

Comissão de Frente

Vencedora do Estrela do Carnaval do Grupo Especial de 2023, o segmento, mais uma vez coreografado por Régis Santos, teve nome “A missão de Vovó” nesta temporada. Para marcar o único segmento que trata da Vovó Cici enquanto pessoa, e não sobre a Criação do Mundo narrada por ela, a agremiação, antes de mais nada, trouxe a própria homenageada no alto de um baobá. Em um ato, sempre marcando o samba, é narrada a história da jovem soteropolitana Cici, que renegava a própria religião e vai se encontrar com sua espiritualidade apenas ao sofrer um atropelamento no Rio de Janeiro. Ao passar a fazer parte do candomblé, ela se ilumina e é abraçada por crianças e criaturas especiais.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira 

Estreando como o primeiro casal da agremiação, Arthur Santos e Waleska Gomes, com a fantasia “Mitologia Ancestral”, tiveram ótima atuação. Nos quatro módulos, foram observados giros potentes, muita sincronia, expressividade e balizamentos obrigatórios cumpridos. Nos dois últimos módulos, é bem verdade, Arthur teve discretíssima hesitação em desfraldar o pavilhão da escola do Grajaú, mas nada capaz de despontuar a dupla. Vale destacar também um fato externo ao casal que mostra que, além da técnica refinada de ambos, os dois também são guerreiros. O abre-alas, que vinha logo atrás de Arthur e Waleska, emitia uma luz piscante bastante forte, que incomodava quem estava a metros de distância – imagina, então, quem estava religiosamente na frente de tal iluminação. Nada, porém, que pudesse atrapalhá-los.

Enredo

Embora o título do enredo enfoque o Mito da Criação na visão de religiões de matriz africana, em alguns momentos, a própria história de Vovó Cici é contada. A comissão de frente, por exemplo, traz uma jovem Cici que renegava a própria ancestralidade e sofria, encontrando paz de espírito apenas ao se aproximar do candomblé. Interessada em contar a visão de mundo dos afrodescendentes para pessoas cada vez mais próximas de uma única cultura dominante, completamente caucasiana, ela passou a trabalhar na Fundação Pierre Verger, em Salvador, onde pesquisa e compartilha conhecimento sobre entidades africanas. A partir da primeira ala, se inicia a história do Mito da Criação propriamente dito contada por Vovó Cici – destrinchado aqui. No final, uma mensagem de amor e tolerância encerra toda a história pedindo respeito e apreço pelo próximo – independentemente de religiões, cores, credos ou opções.

Alegorias

O abre-alas, com dois chassis acoplados (o primeiro deles seguia a estética do pede-passagem, que vinha antes do casal de mestre-sala e porta-bandeira), mesclava muito bem tons de tourado no início (intitulado “Olodumare no orun entrega o saco da criação”) e bastante escuros no final (com o nome de “Obatalá no nada adormece à sombra da palmeira”). Já o segundo, “O Ayê (planeta) criado e o triste despertar de Obatalá”, mais claro, ilustra o momento no qual a divindade africana percebe que errou com Olodumare. Por fim, com uma mensagem positiva para o futuro, a terceira alegoria, “As 3 raças, as bênçãos e os griôs (do axé e do samba), mesclava esculturas joviais com pessoas claramente de mais idade – indicando o respeito que cada uma delas merecia. Também havia o quadripé “A árvore ancestral e o chorar feito menino”, que não tinha papel colante inteiramente liso na totalidade do espaço, criando um efeito diferente do encontrado na imensa maioria do mesmo. O tripe também possuía rodinhas aparentes.

Fantasias

Para quem prestou atenção no samba-enredo, bastava ter uma linha cronológica mental bastante simples para identificar o que era cada fantasia. Vale pontuar que, após o segundo carro, “O Ayê (planeta) criado e o triste despertar de Obatalá”, as alas de 06 a 10 (respectivamente: “O ser de nuvem”, “O ser de areia”, “O ser de fogo”, “O ser de ferro” e “O ser de pedra”), como os próprios nomes deixam claro, tinham assimilação praticamente instantânea. Vale destacar, também, o quanto, no geral, cada fardamento tinha costeiros com envergaduras largas, demonstrando opulência. O bom gosto na escolha de cores e materiais também ficou bastante evidente ao longo de toda a exibição. Como ponto de observação, o destaque da segunda alegoria teve a fantasia quebrada na frente do primeiro módulo de julgamento – o que pode acarretar em perda de pontuação no dia da apuração.

Harmonia

Desde quando começou a aparecer nos grupos da Liga-SP, a Estrela do Terceiro Milênio sempre chamou atenção, entre outros motivos, pela força da comunidade. Além de sempre levar ótimo contingente em cada evento, absolutamente nada abala o canto dos componentes. Em 2024, mais uma vez, a sina se repetiu. Sem oscilação, não houve percalços – e o volume emitido pelos desfilantes foi sempre algo próximo de um grito a cada verso. Em alguns momentos, era possível ouvir com mais clareza o som que vinha da passarela, não o que saía das caixas de som – algo raríssimo no Anhembi em 2024.

Samba-enredo

Muito elogiado pela comunidade do samba paulistana desde quando foi revelado aos torcedores e ao público e composto por Rodrigo Schumacker, Thiago Meiners, Darlan Alves, Pitty de Menezes e Claudio Mattos, a canção defendida pela Estrela do Terceiro Milênio destrincha de maneira bastante poética o enredo – sendo, inclusive, muitas vezes utilizado pelo carnavalesco para explicar a própria temática da agremiação do Grajaú. Se o refrão principal busca apresentar Vovó Cici como pessoa e contadora de histórias (fazendo um paralelo com a própria escola, como é de praxe), boa parte do restante da obra foca na história contada pela griô, com expressões e entidade citadas por ela própria de maneira nominal. No final da obra, ainda há espaço para um pedido por mais respeito e tolerância para com o próximo – algo que também está incluso no enredo.

Evolução

Empoderada e ciente da própria força, a agremiação, desde o primeiro instante, fez questão de ter andamento mais célere que a maioria das outras escolas da noite. A preocupação com o quesito parecia ser tão grande que, enquanto o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira se apresentava em cada módulo, os setores que vinham à frente (comissão de frente, uma ala e um pede-passagem) não paravam de avançar. Se seria necessário ou não ter tal atuação, jamais conseguiremos saber. O fato é que, no cronômetro, o Grajaú não teve problema algum em tal aspecto.

Outros Destaques

Na corte da bateria, estavam a musa Mirela Birnfeld Leite, Giovana Pyetra e Marcela Caval – as duas últimas oriundas do projeto Estrelas do Amanhã, tocados pela escola. Por falar na Pegada da Coruja, comandada por Mestre Vitor Velloso, é importante mencionar que, em diversos momentos, ele realizava duas convenções distintas: a primeira delas era apenas nos instrumentos de marcação, enquanto outro continha atabaques.

Pérola Negra canta forte para exaltar as quebradeiras do côco babaçu, mas peca em problemas de evolução

Por Eduardo Frois e fotos de Fábio Martins

Era pouco mais de meia noite de segunda-feira quando a agremiação da Vila Madalena adentrou a passarela do samba para iniciar sua apresentação. Quarta a desfilar no Grupo de Acesso do carnaval paulistano, a Pérola Negra contou a história das quebradeiras de côco babaçu. Destaque para o potente canto da escola e para a bateria Swing da Madá. Porem, problemas de evolução comprometeram o desfile. Com o título do enredo “Pérola – No encanto dos balaios das quebradeiras”, a escola fechou sua passagem pela avenida aos 56 minutos.

Comissão de Frente

A fantasia da comissão de frente veio representando “As guardiãs da natureza e os conflitos da vida”. Havia um tripé com três coqueiros de babaçu. O segmento inicial da escola foi subdividido em dois grupos distintos, mas que se encontravam em determinada parte da dança. Oito dos integrantes estavam vestidos de folhagem, dois deles com roupa vermelha, dois de amarelo, dois de verde e os outros dois de azul.

Enquanto isso, o outro grupo era composto por três mulheres representando as ganhadeiras do côco, três homens vestidos de labaredas da floresta e mais uma figura feminina. Coreografados por Alê Batista, os componentes desse segundo grupo travavam uma espécie de disputa. Num primeiro momento, os rapazes das labaredas enfrentavam as ganhadeiras, fazendo gestos corporais as ameaçando. Depois, na parte final da coreografia, as ganhadeiras surgem empoderadas para desafiar as chamas que ameaçam a biodiversidade da floresta.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Kadu e Camila, desfilou com uma fantasia nas cores da Pérola Negra simbolizando a ancestralidade dos povos que sobrevivem do côco babaçu. Kadu veio com o rosto pintado, vestindo uma roupa vermelha e dourada, com diversas penas rubras. Enquanto Camila utilizou uma requintada indumentária repleta de penas azul turquesa, com o corpo da saia em dourado.

A coreografia executada pelo casal da Pérola foi feita com sucesso ao longo da passarela. Apesar do tripé da comissão de frente “os esconder” por alguns instantes, os dois realizaram corretamente os balizamentos do quesito para apresentar o pavilhão da escola. Nos dois primeiros módulos de jurados foi observado certa desaceleração no bailado de ambos, talvez por conta dos problemas de evolução no início do desfile.

Enredo

O enredo entitulado “Pérola – No encanto dos balaios das quebradeiras”, assinado por André Marins, se propôs a carnavalizar a história das mulheres encarregadas de manter viva a tradição da colheita do fruto de palmeira, que é abundante na região nordestina. A passagem da escola foi iniciado com uma grande floresta de babaçueiros, onde as ganhadeiras simularam a catação do côco babaçu.

Ao longo do desfile, a Pérola Negra explorou a cultura maranhense e o artesanato desenvolvido com as diferentes partes do côco. No último setor da vermelho e azul da Vila Madalena, o enredo se propõe a falar sobre o futuro das quebradeiras, passando pela Lei do Babaçu Livre e finalizando com uma alegoria carregada de referências tecnológicas. Lei essa que foi sancionada para as quebradeiras poderem usufruir do côco e entrarem dentro das fazendas para fazerem a colheita do babaçu.

Alegorias

O carro abre-alas da escola da Vila Madalena trazia em sua base frontal um grande letreiro escrito “Pérola” em azul. Mais acima, um rosto africano com ornamentação dourada e o brasão da entidade. Nas laterais, haviam esculturas de mulheres negras com o corpo pintado e diversos chifres de marfim. No alto da alegoria, atrás do destaque central, uma enorme escultura articulada representava o encanto das florestas.

O segundo carro da Pérola Negra trazia um belo casarão maranhense, repleto de azulejos português. A escola faz uma brincadeira relembrando o rei Sebastião, em uma espécie de analogia com o enredo, em que o babaçu se torna o grande Rei dessa cultura maranhense. Diversas esculturas de bois que se movimentavam estavam presentes nas laterais do carro, que ainda trazia um grande boi no centro. O quadripé “As quebradeiras” passou com sua iluminação apagada.

A terceira e última alegoria da Pérola retratou as possibilidades tecnológicas a partir do trabalho das ganhadeiras. O carro era todo em tons de azul e prata, repleto de engrenagens distribuídas pelas laterais. Pequenas esculturas de rostos prateados fizeram parte da lateral do carro, porém alguns espelhinhos que faziam o acabamento dessas esculturas estavam descolando.

Fantasias

A Pérola Negra percorreu o sambódromo do Anhembi com suas 15 alas devidamente bem fantasiadas. Destaque para a bela roupa das alas 06 – A Preservação, em rosa e verde, e 07 – A coroação do Rei Babaçu, em amarelo e dourado. O segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, que veio entre as duas alas representando “A riqueza da terra” também vestia uma belíssima indumentária. Porém, a ala 08 – A culinária veio com um integrante sem algumas das penas do costeiro da fantasia.

Harmonia

A escola da Vila Madalena apresentou uma harmonia coesa e constante em relação ao canto. Os componentes da Pérola Negra entoaram o samba-enredo de forma empolgante, contagiando todos os setores da agremiação. Do começo ao fim do desfile pode-se observar todas as alas da escola cantando (exceto a comissão de frente, que não é obrigada a cantar o samba) sem deixar abaixar o nível. Mérito também do carro de som e da bateria.

Samba-enredo

O belo samba-enredo da Pérola Negra foi um dos pontos altos do desfile sobre as ganhadeiras do côco babaçu. A obra que foi composta por Liso, Rogerinho Tavares, André Ricardo, Professor Ph, Professor Oderlan, Myngal e Chacal do Sax rendeu bastante na voz do intérprete Bruno Ribas e seu time de canto. O trecho do segundo refrão, que se inicia com “quebra côco, quebradeira” era a parte mais cantada pelos componentes.

Evolução

A evolução foi o quesito mais problemático deste desfile da Pérola Negra, especialmente na montagem da escola na concentração. No primeiro setor do sambódromo abriu um buraco entre as alas 02 “A riqueza que a terra dá – A colheita” e 03 “Sangue do óleo”, que só foi corrigido um pouco mais a frente. Outro buraco no setor inicial pode ser observado entre a ala 09 “O artesanato” e o quadripé “As quebradeiras”, também corrigido já durante a avenida. Por conta desses buracos a escola começou sua evolução de forma mais lenta do que terminou seu desfile.

Outros Destaques

Vale destacar a excelente apresentação da bateria Swing da Madá, de mestre Fernando Neninho, que veio homenageando seu pai, mestre Neno, nas peles dos instrumentos. As bossas executadas ajudaram a impulsionar o samba-enredo e o canto da escola. A Pérola trouxe ainda, a frente da batucada, uma ala de tam-tam, instrumento que também já foi muito utilizado por mestre Neno. A frente da bateria, vieram: a rainha Ana Itikawa e a madrinha Joyce Rocha, sambando ao som da bateria.

Unidos de Vila Maria exalta o Orixá Ogum com destaque para o bom aproveitamento nos quesitos técnicos

Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins

A Unidos de Vila Maria realizou na noite de domingo seu desfile no Sambódromo do Anhembi no carnaval de 2024. Os quesitos técnicos foram o grande destaque do desfile da agremiação, mas diferentes problemas, em especial com fantasias e em uma alegoria, comprometeram a passagem da comunidade da Zona Norte. A Mais Famosa foi a sexta escola a se apresentar pelo Grupo de Acesso 1, fechando os portões após 57 minutos.

Comissão de Frente

A comissão de frente intitulada “Gira de Ogum” se apresentou em dois atos marcados por passagens do samba. O grupo era dividido em três, sendo um ator caracterizado como um Orixá de roupas vermelhas segurando correntes e os demais atores divididos em metade caracterizados como Ogum e a outra metade como São Jorge.

No primeiro ato ocorre muita interação entre os Oguns e os santos, enquanto na segunda parte a corrente do Orixá solitário é utilizada para uma interação entre eles. A dança foi marcada pelo vigor explícito. Os agrupamentos, empunhando espadas, arrastavam elas pelo chão e trocavam golpes, fazendo barulhos chamativos. Foi observado que ao longo do desfile a corrente passou a apresentar um nó, que pode ou não ser apontado pelos jurados.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal da Vila Maria, formado por Mauro César e Geisle Siqueira, desfilou com fantasias nomeadas “Energia do Irin”, e foi acompanhado de um grupo de guardiões chamados “Sabedoria”. O desempenho da dupla no desfile foi irregular. No primeiro módulo, o mestre-sala derrubou o adereço de mão (lenço) o qual é obrigado a carregar durante a apresentação. Nos módulos dois e três houveram falhas de sincronismo dos movimentos, com o mestre-sala parando giros antes da porta-bandeira em diferentes oportunidades. O quarto módulo foi o mais correto da dupla, mas a porta-bandeira girou em falso para um lado no início da coreografia.

Enredo

O enredo da Unidos de Vila Maria em 2024 foi “Forjados na luta, guiados na coragem e sincretizados na fé: a Vila canta Ogum!”, assinado pelo carnavalesco Fábio Ricardo. A proposta da Mais Famosa foi falar de Ogum através das diferentes manifestações do Orixá guerreiro. A luta cotidiana da vida das pessoas é refletida nas armas de Ogum e de São Jorge, sua representação na umbanda. A ideia foi, ao final dessas diferentes retratações, Ogum é coroado o “Rei do Irê” após uma apresentação tomada pela fé o sincretismo religioso.

A leitura do desfile da Vila foi fácil ao longo de toda a Avenida. As alas se comunicavam com as alegorias dentro da proposta do enredo e contribuíram positivamente para carnavalização da proposta da escola.

Alegorias

A Mais Famosa se apresentou com três carros alegóricos. O Abre-alas foi intitulado “Agbará de Ogum”, enquanto a segunda alegoria recebeu o nome de “Tem Festa no Xirê” e a terceira foi nomeada de “Salve Jorge”. As alegorias tiveram como representação a força das manifestações do Ogum, destacando na primeira alegoria a figura de Ogum no candomblé, na segunda os diferentes Oguns nas rodas de evocação dos Orixás e por fim a presença de São Jorge, santo católico ao qual o Ogum é atribuído na umbanda.

O conjunto de alegorias da Vila Maria foi belo, bem acabado e marcante, a destacar especialmente o segundo carro com a grande escultura em ferro representando Ogum. Os carros contribuíram positivamente para a leitura da narrativa no geral, porém, a terceira alegoria passou pela Avenida com a iluminação totalmente apagada.

Fantasias

As fantasias da Vila Maria formaram a composição do sincretismo religioso proposto pela escola. As primeiras alas faziam referência a Ogum e seus diferentes elementos, como seus ritos, chegando na parte final com a passagem às referências a São Jorge.

A vestimenta da escola foi capaz de permitir uma leitura bem clara do enredo ao longo de toda a Avenida, mas alguns segmentos apresentaram problemas com a peça da cabeça. Em dois diferentes módulos, o chapéu de um dos guardiões do primeiro casal caiu, algumas baianas também tiveram problemas com o adereço e a queda do adereço também foi percebida na ala “Salve São Jorge”

Harmonia

Um dos quesitos fortes da Vila Maria no desfile, o canto da comunidade se destacou em todo o desfile. O samba foi clamado pelas alas com clareza e desenvoltura pelos componentes, que em algumas alas demonstravam muita empolgação. Destaque especial para a ala “Ritual de Axexê”, que continha desfilantes especialmente animados.

Samba-enredo

O samba da Unidos de Vila Maria foi composto por Véia, Roberto Garcia, Martins, Zeca do Cavaco, Didi Pinheiro, Maradona e Dão, e foi defendido pela ala musical liderada pelos intérpretes Royce do Cavaco e Nêgo. Um samba funcional, capaz de narrar o enredo com clareza e que costurou bem com as representações das alegorias e fantasias, e que foi clamado animadamente pela comunidade da escola.

Evolução

O quesito mais forte da Vila Maria. A escola conseguiu fluir com tranquilidade por toda a Avenida, fazendo o recuo com segurança e dando liberdade para a comunidade brincar o carnaval, fechando os portões após 57 minutos de desfile.

Outros Destaques

A bateria “Cadência da Vila” esteve em grande noite sob comando do mestre Moleza. Bossas criativas e bem executadas, pensadas para enriquecer o andamento do samba, se destacaram no segmento musical da escola. A Rainha Savia David reinou soberana diante dos ritmistas com uma bela fantasia chamada “Me Visto de Mariwo”.

Comissão de frente da Colorado do Brás chama atenção em desfile seguro

Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins

Quinta escola a desfilar no Grupo de Acesso I de São Paulo, realizado neste domingo, a Colorado do Brás chegou à passarela para defender o enredo “Os Encantos da Raiz do Mandacaru”, que utilizava a conhecidíssima e característica planta de ambientes secos para fazer uma grande homenagem à região Nordeste do Brasil. Com uma coreografia toda especial que misturava personagens com temáticas quase circenses com outros tipicamente cangaceiros, a comissão de frente chamou atenção de todos no Anhembi. O samba, que não era dos mais aclamados no pré-carnaval, também teve bom rendimento, com boa atuação do intérprete Léo do Cavaco e da bateria da agremiação, sob a batuta de mestre Acerola de Angola. A exibição durou, ao todo, 57 minutos.

Comissão de Frente 

Com o nome de “Raízes Nordestinas: Luta, Força e Alegria”, o segmento foi um dos destaques da apresentação, sem dúvida alguma. Surpreendendo desde quando ela foi apresentada, na época dos ensaios técnicos, o quesito comandado por Paula Gasparini recebia todos os olhares quando ganhava mais alguns metros na Evolução. Para o público, o ápice acontecia no momento em que a personagem de destaque feminina saía de uma mala e era apresentada com o corpo todo molenga, causando surpresa e arrancando aplausos de todos. O pequeno tripé, com a representação de cactos, fitas e um calango; e diversos componentes fantasiados de cangaceiros deixavam explícita a relação com o tema nordestino – algo primordial para que a mensagem fosse passada.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O que mais impressionou em Brunno Mathias e Jéssica Veríssimo foi a vitalidade e a velocidade com que executavam cada movimento – sobretudo os giros. Com ótima sincronia entre si, mestre-sala e porta-bandeira deslizavam com muita celeridade ao longo de todo o Anhembi – e, em alguns momentos, impressionavam com rodopios cada vez mais rápidos. Tal ousadia, é bem verdade, quase custou à dupla, já que, ao voltar de um giro, o pavilhão da escola quase enrolou no quarto módulo – e a rapidez de raciocínio de Jéssica impediu qualquer transtorno. No mais, apenas elogios ao Casal, que cumpriu todos os balizamentos obrigatórios e, ainda por cima, em determinados momentos, até mesmo pulava e dançava ritmos nordestinos para mostrar disposição.

Enredo

Para falar da temática nordestina, a agremiação escolheu um ponto de partida comum a boa parte da região: o mandacaru, cacto bastante conhecido pelos locais que tem características bastante específicas e que tornam o surgimento da planta ideal em locais com climas desafiadores – “firme, forte, casca grossa, capaz de se adaptar em qualquer situação e raiz cravada no solo”. O fio condutor leva o desfile e o samba-enredo por uma série de características marcantes ao Nordeste e ao povo do local, como a resiliência, a religiosidade e a alegria. Para encerrar a exibição, a completa comunhão da região com a escola dão o tom bastante positivo para o desfecho do desfile.

Alegorias

Um desfile sobre a temática nordestina costuma ter certa repetição nas cores utilizadas – muitos tons terrosos (como marrom e bege), vermelho, amarelo, laranja. Nesse aspecto, o desfile da Colorado do Brás surpreendeu muito positivamente. O abre-alas, “O Mar E Seus Mistérios”, como o próprio nome diz, era majoritariamente azul; já o segundo, “Resistência vem da Fé: o Sincretismo”, mostrava uma entidade de religião africana, com muitos detalhes em branco. Por fim, o último carro, “‘Arraiá’ do Brás – Bem-Vindos ao Nordeste”, aí sim, trazia uma cromática mais em comunhão com o que se pensa sobre o enredo. Como tudo estava dentro da temática, ficam apenas os elogios na agradável variação de cromia ao longo da exibição.

Fantasias

Seguindo a lógica estética das alegorias, as fantasias também tinham ótima mescla de cores. A ala 01, “A Ambição Aportou”, por exemplo, fazia referência aos invasores portugueses – logo, com muito rubro-verde. Já a Ala das Baianas, a 08, “A Lavagem do Bonfim”, era majoritariamente branca. O mesmo elogio feito no quesito “Fantasias” deve ser repetido aqui. Também é importante pontuar que acabamento, concepção e execução também foram muito bem pensados por toda a agremiação. Em sua maioria, os costeiros tinham envergadura média, tornando o desfile do componente ligeiramente mais leve – e sem atrapalhar o companheiro próximo.

Harmonia

A agremiação, é bem verdade, cantou o samba de maneira uniforme ao longo de todo o desfile, sem grandes destaques positivos e negativos a se apontar. Há, entretanto, uma observação a fazer: o volume dos componentes não era dos mais altos. Não é o suficiente para causar problemas para a instituição do Centro no dia da apuração, mas chamou atenção o fato dos Harmonias, em sua maioria, estarem preocupados com o alinhamento dos componentes em cada ala, e não em pedir mais voz de cada um deles.

Samba-enredo

Descrevendo de maneira bastante satisfatória o enredo apresentado, os compositores Lico Monteiro, Richard Valença, Leandro Thomaz, João Perigo, Lucas Macedo, Jefferson Oliveira, Telmo Augusto, Felipe Zizou e Mingauzinho aproveitaram todas as deixas possíveis que estão presentes no fio condutor do desfile e incluíram algumas expressões bastante marcantes do Nordeste – como “arraiá”, “avexe” e “fulô”. Vale destacar que, além dos refrões, o último verso da canção (“Puxa o fole sanfoneiro no forró da Colorado”) foi cantado com mais animação pelos componentes – sobretudo nos momentos nos quais a Ritmo Responsa faz uma bossa marcando tal passagem. A bateria, por sinal, foi comandada pela primeira vez por Mestre Acerola de Angola e, de cara, já foi visto um ritmo ligeiramente mais célere em relação aos ritmistas de anos anteriores. Outro grande destaque ligado ao quesito é Léo do Cavaco: “apenas” no segundo ano na instituição, ele já está perfeitamente adequado ao espírito da escola, tornando-se um líder em tudo que envolve o conjunto musical.

Evolução

Logo no começo do desfile, pouco antes do casal se apresentar no primeiro módulo, foi perceptível que a ala à frente do primeiro Casal, a primeira de toda a agremiação, “A Ambição Aportou”, o grupamento acelerou o passo enquanto a dupla se preparava para defender a pontuação – em questão de segundos, após rápida conversa entre alguns integrantes do staff da Colorado, a situação foi resolvida. Depois de tal momento, toda a agremiação evoluiu de maneira uniforme, sem sobressaltos. Como coroação do bom trabalho no quesito, vale destacar o recuo da bateria: com um movimento simples; na metade do caminho, os ritmistas pararam por alguns instantes, voltaram e ocuparam totalmente o box – toda essa dinâmica durou cerca de 90 segundos.

Outros Destaques

A Ritmo Responsa, comandada por Mestre Acerola de Angola, teve três destaques na corte: a rainha Camila Prins, a princesa Cami Mattos e a madrinha Daniele Sansone.

Nenê de Vila Matilde cria conto de fadas para homenagear Lia de Itamaracá em desfile marcado pela plástica impecável

Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins

A Nenê de Vila Matilde realizou na noite de domingo seu desfile no Sambódromo do Anhembi no carnaval de 2024. O conjunto da obra do desfile da Nenê foi de alto nível, especialmente na parte plástica com seu belo conjunto de fantasias e alegorias. A Águia da Zona Leste foi a terceira escola a se apresentar pelo Grupo de Acesso 1, fechando os portões aos 58 minutos.

Comissão de Frente

A comissão de frente intitulada “A Profecia das Águas” se apresentou em dois atos marcados por passagens do samba e contou com um elemento cenográfico na forma de um grande tapete, que foi arrastado ao longo da Avenida por alguns dos atores. Uma menina protagoniza a comissão representando Lia na infância ao lado do cachorro Peri na beira da praia de Itamaracá em forma de tapete, onde bailam homens-peixe e sereias e é puxado por pescadores que vivem no mar após serem seduzidos com o canto de Iemanjá.

No primeiro ato, Lia brinca com Peri, mas em dado momento algo a aborrece. Enquanto o cachorro tenta chamar sua atenção, os pescadores e os seres marinhos saem do mar e chamam a atenção da criança, a conduzindo ao mar para receber a profecia de que um dia será rainha.

Certamente uma das comissões de frente mais simpáticas da temporada de 2024. O grupo cênico interage muito bem em todos os momentos, conduzindo a narrativa da trama com graça e chamando a atenção do público. A atuação da menina Lia e do cachorro Peri e a caracterização da maquiagem dos seres do mar impressionam a todo o momento, e a revelação no ato final da profecia da rainha Lia, na forma do desfraldar de uma camada do tapete com a imagem da homenageada estampada, fazem do conjunto da apresentação um excelente começo de desfile para a Águia da Zona Leste.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal da Nenê, formado por Cley Ferreira e Thayla Trentin, desfilou com fantasias representando os “Seres Marinhos”. A dupla teve boa atuação nos dois primeiros módulos cumprindo os requisitos exigidos pela dança com exatidão. Uma pequena falha de sincronia nos giros do casal foi notada ao final da passagem pelo terceiro módulo, que pode não comprometer a nota final do quesito no todo do desfile.

Enredo

O enredo da Nenê de Vila Matilde em 2024 foi “Cirandando a Vida pra lá e pra cá. Sou Lia, Sou Nenê, Sou de Itamaracá”, assinado pelo carnavalesco Fábio Gouveia. A proposta da Águia foi contar a história da cantora e compositora Lia de Itamaracá de maneira lúdica, desenvolvendo um conto de fadas no qual a artista, ainda na infância, recebe a profecia de que um dia será rainha. A partir da revelação da profecia, a jornada de Lia é retratada passando pelo Reino da Rainha do Mar, passando pelos desafios enfrentados pela artista ao longo da vida e finalizando com a festa de coroação da Rainha Lia de Itamaracá.

A escola conseguiu com honras escapar de fazer uma homenagem linear ao desenvolver um conto de fadas para ilustrar a trajetória de vida de Lia de Itamaracá. Todos os elementos foram costurados com clareza, e o samba ajudou a leitura de todo o segmento visual. Uma apresentação exemplar, digna de uma escola com 11 títulos da elite paulistana.

Alegoria

A Águia da Zona Leste se apresentou com três carros alegóricos. O Abre-alas foi intitulado “O Palácio da Rainha do Mar, Odoyá mãe sereia”, enquanto a segunda alegoria se chamou “Cirandando a Vida” e a terceira recebeu o nome de “Festa de Coroação”.

O conjunto alegórico da Vila Matilde foi impecável na beleza e nos acabamentos. Conseguiu retratar todas as propostas do enredo e costurar com as alas de forma a transformar o desfile da Nenê em uma apresentação didática e agradável. O Abre-alas chamou atenção especialmente pela escultura da sereia, da qual saíam lágrimas dos olhos que caiam em um chafariz. Lia de Itamaracá desfilou no último carro da escola e recebeu sua coroação de maneira digna e nos braços do povo.

Fantasias

As fantasias da Nenê retrataram nas alas as diferentes passagens história de vida de Lia de Itamaracá de acordo com a proposta imaginativa da escola. O primeiro setor trouxe o mar, seres marinhos e sereias. Já o segundo setor apresentou diferentes danças populares. O último setor trouxe as glórias da carreira de Lia.

As fantasias da Nenê se destacaram pela riqueza de detalhes e leveza que permitiu aos desfiles brincarem o carnaval despreocupados. Destaque especial para a ala “Ilha de Itamaracá – A Pedra que Canta”, formada por duas vestimentas distintas que combinaram perfeitamente.

Harmonia

A comunidade da Vila Matilde clamou o samba da escola ao longo da Avenida muito bem. Havia uma preocupação ao longo da temporada quanto a como os componentes lidaram com determinados versos do samba, mas a Nenê aplicou um andamento ao samba que permitiu o cantar sem grandes dificuldades, contribuindo positivamente para o desempenho do quesito no desfile.

Samba-Enredo

O samba da Nenê de Vila Matilde foi composto por Kaska, Léo do Cavaco, Silas Augusto, Luís Mancha, Dr. Élio, Vitão e Bruno Giannelli, e foi defendido na Avenida pela ala musical liderada pelo intérprete Agnaldo Amaral. O samba conta a trajetória de Lia desde a infância até a consagração da sua carreira dentro da proposta lúdica do enredo. Alguns versos principalmente da primeira parte do samba são longos, o que ao longo da temporada de ensaios gerou a preocupação quanto ao desempenho da obra na Avenida, mas a escola conseguiu lidar bem com esse detalhe e fez uma apresentação de alto nível com a ala musical liderada pelo consagrado intérprete Agnaldo Amaral, que esteve em grande noite.

Evolução

Irretocável. Durante todo o desfile, o cortejo da Nenê de Vila Matilde fluiu com muita tranquilidade, parando apenas para a manobra de recuo da bateria. Os componentes puderam brincar o carnaval despreocupados com o tempo de 58 minutos.

Outros Destaques

A “Bateria de Bamba” comandada por mestre Matheus Machado teve grande desempenho, aplicando bossas descontraídas que ajudaram a enriquecer o desempenho do samba da Nenê de Vila Matilde. A Rainha Gabriela Ribeiro chamou atenção com uma colorida fantasia. Mas o destaque especial fica mesmo para a presença ilustre da homenageada, Lia de Itamaracá, que desfilou no último carro recebendo assim sua merecida coroação.

Torcida Jovem vai bem nos quesitos musicais ao exaltar a cultura bantu em seu retorno ao Acesso I

Por Eduardo Frois e fotos de Fábio Martins

Retornando ao Grupo de Acesso I do carnaval paulistano, a Torcida Jovem foi a segunda agremiação a desfilar nesta noite de domingo no sambódromo do Anhembi. Com o enredo “Raíz Afro Mãe, Meu Brasil Bantu”, a escola se destacou nos quesitos musicais como samba-enredo, bateria e harmonia. A alvinegra da Zona Leste de São Paulo encerrou sua passagem com 58 minutos de desfile.

Comissão de Frente

A fantasia da comissão de frente da Torcida Jovem veio representando a Realeza Africana. Os componentes estavam divididos dois grupos distintos. O primeiro deles, era composto por cinco mulheres guerreiras, usando roupas mais leves em preto e marrom, além do adereço de cabeça cinza e laranja. Já o segundo grupo possuía nove integrantes (cinco mulheres e quatro homens), com fantasias mais volumosas, com costeiros em tons de laranja e preto, e uma coroa na cabeça.

A coreografia foi idealizada por Ricardo Dias e também estava dividida entre os dois grupos. Enquanto as mulheres guerreiras da comissão executavam uma dança mais intensa, expressiva e dinâmica, movimentando bastante o corpo; o outro grupo veio com a proposta de uma apresentação mais contida, mas que em determinados trechos do samba ambos grupos faziam passos iguais. Em outro momento, ainda, os integrantes formavam um circulo na pista do Anhembi. A apresentação ocorreu sem contratempos.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Kawê Lacorte e Nathália Bete, representava “Mwata Kazembe e Mwatisope”, do Reino de Cazembe, um dos maiores e mais organizados dos reinos Lunda, na região da África Central. A fantasia do casal seguiu as mesmas tonalidades das roupas comissão de frente, das baianas e da estética do abre-alas; com o diferencial de uma estampa preta e branca que remetia a pele de uma zebra.

A luxuosa indumentária do primeiro casal causou impacto à primeira vista. Muitas penas alaranjadas faziam parte da fantasia, na saia da porta-bandeira e no costeiro do meste-sala, proporcionando um efeito visual muito interessante durante o bailado. A dupla esbanjou simpatia e desenvoltura durante a apresentação na avenida.

No entanto, em frente à terceira cabine de jurados, as penas do costeiro do mestre sala chegaram a tocar o pavilhão da escola durante um giro executado por ambos, muito provavelmente por causa de uma rajada de vento. Como o regulamento passou por mudanças neste carnaval, não se pode afirmar se o acontecido será passível de desconto. Além de que haverá o descarte da menor nota entre os quatro jurados.

Enredo

O enredo “Raíz Afro Mãe, Meu Brasil Bantu” é fruto da pesquisa de Marcelo Caverna, que tambem é o mestre de bateria da escola. A Torcida Jovem se propôs a contar a história do povo banto, que é originário do continente africano e foi escravizado no Brasil.

A abertura da alvinegra da Zona Leste paulistana relembrou os navios negreiros que transportavam o povo banto da África para servirem de mão-de-obra escrava em terras brasileiras. A cabeça da escola veio predominantemente em cor de abóbora e marrom.

Em seguida, a Jovem passou a exaltar toda a herança cultural bantu, que hoje em dia está presente em nossa cultura. A música, a culinária e a religiosidade estiveram presente no setor final da escola, que encerrou seu desfile com a bateria representando a tradição guerreira africana, ressaltando a importância histórica do tambor como instrumento de batalha.

Alegorias

O conjunto de alegorias apresentado pela Torcida Jovem foi bastante rico e grandioso em altura. O carro abre-alas era um verdadeiro mar em chamas e fazia alusão à jornada transoceânica da diáspora africana. A parte frontal era a proa de um enorme navio negreiro que flutuava em labaredas de fogo que tinham um efeito de luz led laranja. A parte traseira da alegoria trazia diversas esculturas com traços africanos e um belo acabamento nas laterais.

O segundo carro da alvinegra da Zona Leste exaltou a rica herança afro-brasileira que hoje é tão importante para a cultura nacional. Duas esculturas de luxuosos elefantes, símbolo do maracatu, compunham o “avancé” da alegoria. Uma escultura de um rosto de uma mulher negra e uma grande coroa dourada compunham a parte central da alegoria. Nas laterais, referências às diversas manifestações culturais oriundas da cultura africana. Um grupo de componentes veio no carro representando o maculelê.

A terceira e última alegiria da Jovem foi batizada de “Inkissi – Raízes sagradas” e trazia na parte central do carro enormes esculturas negras, vestidas de azul e branco, e que carregavam seus adereços. Velas, também nas cores azul e branco, complementavam o aspecto sagrado da alegoria que encerrou o desfile da escola.

Fantasias

A Torcida Jovem apresentou um conjunto de fantasias de belo efeito visual na pista. A alas das baianas veio logo no início da escola simbolizando os conhecimentos transmitidos de geração pra geração. A fantasia das senhoras eram quase que totalmente em laranja, com detalhes em marrom.

As quatro alas seguintes representavam os povos do Congo, da Guiné, de Moçambique e de Angola, respectivamente. Eram fantasias multicoloridas, de efeito interessante e que possuiam informações na frente e no verso da indumentária.

As alas do segundo setor da Jovem trouxeram a herança cultural bantu na realidade brasileira, como a congada, a culinária, o artesanato e a musicalidade. Destaque para a ala “Congada – Poderosa Manifestação da Cultura Bantu”, que apresentou a fantasia mais requintada da escola.

Harmonia

A harmonia da Torcida Jovem foi sem dúvidas um dos principais pontos do desfile alvinegro. Pode-se notar um bom entrosamento do samba com o carro de som e a bateria Firmeza Total. O canto foi uniforme durante toda a passagem da Jovem ao longo da passarela do samba.

Durante o trecho do refrão do meio os componentes aumentavam a intensidade do canto. As alas: ‘5 – Povo de Angola’ e a ala dos passistas ‘6 – Rainha Nzimba, inspiração para a resistência’ foram as que apresentaram o canto mais vigoroso.

Samba-enredo

A trilha sonora do desfile da Jovem para este carnaval proporcionou um dos melhores momentos da passagem da escola alvinegra. O trecho: “Ôoo, Maracatu, Maculelê/ Ôoo, Tem capoeira e fuzuê” impulsionou o cantar da comunidade da zona leste, que se divertia na avenida a cada passada do samba-enredo.

A obra da Torcida Jovem tem a “pegada afro”, tanto em letra quanto em melodia, que o enredo pede. O samba é de autoria de Turko, Imperial, Fabio Souza, PH, Minuettos, Portuga, S. morais, Reinaldo Marques, Ricardo Mandu e Cleyton Reis.

Evolução

A Torcida Jovem evoluiu de forma contínua e coesa, sem apresentar clarões ou buracos que pudessem comprometer a uniformidade do desfile da escola. As alas da TJ, que ao todo reuniram cerca de mil componentes, concluíram a passagem pelo Anhembi dentro do tempo, aos 58 minutos, mantendo o mesmo ritmo do início ao fim.

Outros Destaques

A bateria Firmeza Total de mestre Marcelo Caverna foi outro segmento da Jovem que pode ser considerado um dos ápices do desfile. Uma bossa com alto grau de dificuldade na retomada foi bem executada pelos ritmistas alvinegros, que vieram com uma fantasia preta e branca batizada de “Tradição Guerreira”.

A ala da velha guarda desfilou na parte frontal do último carro, e trouxe nas mãos de seus componentes lenços com o rosto e o nome de Cosme, o fundador da Torcida Jovem, que faleceu no ano de 2023.