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Freddy Ferreira analisa a bateria da Vila Isabel no desfile

Um ótimo desfile da bateria “Swingueira de Noel” da Unidos de Vila Isabel, comandada por mestre Macaco Branco. Uma conjunção sonora de destaque foi exibida. Com equilíbrio, boa equalização e um andamento bastante confortável, é possível dizer que houve uma fluência rítmica absoluta entre todas as peças do ritmo da Vila, garantindo um desempenho acima da média na Sapucaí.

Na parte de trás do ritmo da Vila, uma afinação de surdos preciosa foi percebida. Bem pesada e inserida no DNA musical da bateria da Vila Isabel. Marcadores de primeira e de segunda foram firmes e precisos. Surdos de terceira eficientes e sólidos contribuíram ao ritmo. As caixas de guerra com toque reto estiveram impecáveis, enquanto taróis com a genuína levada de partido alto foram primorosos, ressoando por toda a pista. Complementando de forma luxuosa os médios, um trabalho estupendo do naipe de repiques merece exaltação. Fazendo ritmo os repiques foram coesos, mas os solistas durante as bossas foram simplesmente espetaculares.

Na cabeça da bateria da Vila, um naipe de cuícas privilegiado se exibiu com segurança. Uma ala de chocalhos bastante poderosa tocou interligada a um naipe de tamborins de imensa profundidade técnica. Pela Avenida, os tamborins da Unidos de Vila Isabel pareciam um só tocando, de tanta coesão e pulsação rítmica semelhante.

Bossas extremamente ligadas ao histórico samba da escola do bairro de Noel conduziram a musicalidade da “Swingueira”. Os arranjos musicais, praticamente intuitivos, ajudaram a impulsionar a obra de Martinho da Vila e embalar os componentes tanto em canto, como em evolução e dança. Mesmo simples, as paradinhas se mostraram funcionais e práticas, conduzindo apresentações firmes em julgadores.

Na primeira cabine (módulo duplo), uma apresentação de inegável qualidade foi feita, com fluência entre os naipes e bossas precisas. Já na segunda cabine, outra exibição enxuta e consistente foi realizada. No último módulo, mais uma apresentação segura e eficiente, mesmo com as caixas de som próximas ao julgador estando ligadas e com volume elevado. Um desfile que demonstrou disciplina musical da bateria da Vila Isabel, o que impactou em equilíbrio sonoro e boa fluência entre naipes, com um andamento cadenciado. Um grande desfile da bateria da Vila, dirigida por mestre Macaco Branco.

Reedição de ‘Gbalá’ conduz Vila Isabel a desfile impecável, com canto explosivo e comissão de frente emocionante que credenciam escola ao título

Por Luan Costa e fotos de Nelson Malfacini

A Unidos de Vila Isabel foi a terceira escola a passar pela avenida na noite de desfiles do Grupo Especial. Conduzida pela força e emoção da reedição de Gbala, a escola entrou na avenida com uma sucessão de quesitos bem defendidos e entrou na briga pelo campeonato. A força do enredo se provou a medida que a escola avançou na Sapucaí, assim como samba atemporal de Martinho da Vila que foi defendido com valentia pela comunidade, o início do desfile foi avassalador, emocionante e impactou o público presente. A comissão de frente trouxe a figura de Oxalá, o criador da humanidade, e as crianças, que representam a esperança deste mundo. Porém, o grande destaque da noite foi a técnica de desfile aliado a um canto explosivo. O único senão ficou por conta de falhas no efeito de luzes durante apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira.

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Apresentando o enredo “Gbala – Viagem ao Templo da Criação”, desenvolvido pelo carnavalesco Paulo Barros, a azul e branca recontou a história ancestral sobre a esperança de Oxalá pelas crianças. A agremiação terminou sua apresentação com 68 minutos.

Comissão de Frente

A comissão de frente coreografada pela dupla Alex Neoral e Márcio Jahú foi intitulada “Pra salvar a geração, só esperança e muito amor!”. A apresentação foi repleta de emoção, bom gosto visual, surpresas e utilização excepcional da luz cênica da Sapucaí. O enredo foi sintetizado de maneira exemplar, a apresentação expôs as mazelas do mundo, trouxe a representação de Oxalá e as crianças que são a esperança.

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O início foi marcado pela presença de Oxalá doente e perturbado por aqueles que insistem em destruir, uma criança, que representou todas as crianças do mundo, encontrou Oxalá sendo perturbado por esses seres destrutivos e, através da sua inocência e do seu amor, livra o criador de seus algozes. Os emissários da destruição abandonam seu caminho, dando espaço ao florescer da criança. Todas as apresentações mexeram com o público, que foi ao êxtase com a presença das crianças.

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Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas inovaram mais uma vez na Sapucaí, se no ano passado houve uma troca de roupa em frente aos jurados, no desfile desta noite, eles utilizaram uma fantasia com leds, eles iniciaram a apresentação com efeitos de iluminação que mostraram como a desordem está se sobrepondo à humanidade e à criação de Oxalá.

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Porém, durante a apresentação, essa desordem foi substituída por uma iluminação dotada de poder e energia, passando, assim, a reproduzir uma espécie de centelha da esperança. A mudança de cor foi o ponto alto da apresentação, porém, um problema técnico fez com que a calça de Marcinho passasse apagada pelos setores seis e 10. A dança dosou a intensidade de Marcinho, com a delicadeza de Cris, a dupla, em plena sintonia, passou pela avenida com muito vigor e movimentos arriscados, mas que foram bem executados, como a pegada de bandeira invertida realizada pelo mestre-sala.

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Enredo

A Vila Isabel levou para avenida a reedição do enredo “Gbala – Viagem ao Templo da Criação”, originalmente concebido em 1993 por Oswaldo Jardim, dessa vez teve a assinatura de Paulo Barros. O enredo contou uma história ancestral na Sapucaí, de fácil entendimento e com leitura clara, ele foi pautado sob a ótica das religiões de matriz africana: no início do tempo, o deus supremo Olorum delegou para o seu assistente Oxalá que ele criasse os homens. O mundo precisava de alguém que pudesse zelar por essa criação pelo mundo, como a gente conhece: as folhas, as plantas, os animais e as águas do mar. Mas, depois de algum tempo, o homem passou a tratar mal aquilo que ele deveria cuidar. Os orixás reuniram crianças de todo mundo para que elas pudessem ir ao templo da criação.

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Alegorias e Adereços

O carnavalesco Paulo Barros derramou novamente toda sua criatividade e talento na concepção do conjunto alegórico da azul e branca, ao todo, foram para a avenida seis alegorias e dois tripés, todas as características que fizeram do carnavalesco uma referência no quesito estiveram presentes nos carros da Vila, criatividade, surpresas, efeitos cênicos, elementos humanos, tudo contribuiu para a excelência visual.

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O primeiro tripé apresentou o título do enredo e o símbolo da Unidos de Vila Isabel, a alegoria que abriu os caminhos foi intitulada “Quando acaba a criação, desaparece o criador”, ela retratou o caos e a ganância, dividido em dois chassis, o carro impactou ao simular um incêndio em plena avenida. A segunda alegoria, “E a inocência entrou no templo da criação…”, a alegoria apresentou alguns seres fantásticos habitantes do Templo. Na sequência, o tripé “O mundo fantástico das águas” transportou o público para o fundo mar, ao maior estilo Paulo Barros, uma grande baleia se movimentada no centro tripé e peixes adornavam, causando um ótimo efeito.

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A terceira alegoria, “A natureza e seus encantos”, teve referência ao filme Moana. A alegoria que retratou a criação do homem foi aguardada por todos e entregou um ótimo conceito na avenida, sem componentes, o carro foi todo preenchido por manequins. O penúltimo carro, “Omolu – O valor da cura do corpo e do espírito” trouxe componentes coreografados encenando um ritual de cura e saúde com passos característicos do orixá. Para finalizar, a escola apresentou o carro “O sagrado batismo”, representou o sagrado batismo das crianças nas águas do Templo da Criação.

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Fantasias

A Vila Isabel levou para a avenida 28 alas, característica de Paulo Barros, a fácil leitura dos figurinos foi mais uma vez observada, assim como efeitos especiais, como o visto na ala de abertura, “Fogo que Devasta as Florestas”, em que os componentes carregavam leques que simulavam a chama. Em detrimento do luxo, as fantasias da escola priorizam materiais alternativos, mas que em nada tirou o brilho do conjunto. A fantasia “Terra, Planeta Lixo”, “Cavalos Marinhos” e “Estrutura Muscular” são exemplos do uso de materiais que fizeram com que a leitura fosse clara.

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Harmonia

Se existia alguma dúvida de que o samba reeditado de 1993 seria capaz de levar a comunidade a ter um canto explosivo neste carnaval, a resposta veio logo nos primeiros versos entoados pelo intérprete Tinga. O ritmo inicial foi avassalador, a escola entrou na avenida demonstrando um vigor impressionante, ao longo do cortejo o que se viu foi uma escola extremamente feliz, com o samba na ponta da língua e cantando com intensidade. A bateria “Swingueira de Noel” teve a missão de fazer com que o samba atendesse as características atuais de desfile e fez com maestria, a tão elogiada parceria com o carro de som comandado por Tinga mostrou mais uma vez que segue intacta.

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Samba-Enredo

A obra original de Martinho da Vila tinha um grande desafio neste carnaval, apesar de ser um clássico do carnaval carioca, a reedição do mesmo poderia ser um risco, visto que o quesito samba-enredo mudou ao longo dos anos, porém, a avenida teve o prazer de presenciar novamente o hino imortalizado desta vez na voz de Tinga. Por ser um samba mais curto, havia o temor de que ele pudesse cansar, visto que a repetição seria maior, na verdade, a obra passou de forma avassaladora e mostrou que é atemporal.

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Evolução

A Vila Isabel passou pela avenida tecnicamente perfeita, do início ao fim foi um desfile sem erros, a escola passou pela avenida com muita desenvoltura e organização, as alas, em sua totalidade estavam muito compactas e os componentes evoluíram com extrema organização, mas sem perder a espontaneidade. O único senão ficou por conta de um espaço maior que o normal em frente a bateria durante a apresentação da mesma no setor três.

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Outros Destaques

A rainha de bateria Sabrina Sato veio representando a corrente sanguínea, a apresentadora que possui enorme identificação com a comunidade da Vila passou pela avenida aclamada pelo público.

Mangueirenses relatam emoção em homenagem para Alcione

Manga Esp01 006Atravessar a Sapucaí homenageando uma baluarte do Brasil já é emocionante, quando essa baluarte é também da sua escola, a emoção transborda e haja concentração. Os componentes da Mangueira contaram ao site CARNAVALESCO a emoção de homenagear Alcione em vida e a relação de cada um com sua obra.

Manga Esp01 005A voz de diversas canções de amor que emociona o Brasil há décadas, Alcione é uma unanimidade artística, todos conhecem ou, ao menos, sabem cantarolar um refrão da Marrom. Com os componentes do desfile da Mangueira, não é diferente.

Para a Cristiane Tuti, que está estreando na Sapucaí e tem ‘Meu Ébano” como música favorita da Alcione, a emoção de pisar na Sapucaí pela primeira vez e homenageando a cantora, é dobrada:

“Eu sou paraense, sou nordista, moro no Rio de Janeiro há 23 anos, mas é a primeira vez que eu vou desfilar na Sapucaí. Então a emoção é dobrada, estando com a Marrom e na Sapucaí pela primeira vez, eu espero que eu seja pé quente para ela. Estou com a expectativa 100%, extremamente nervosa, mas a escola está muito bonita, está muito alegre. E homenagear a Marrom é sempre muito especial. Então eu espero que realmente a gente venha com o pé quente e a gente leve esse título junto com a Marrom para a Mangueira”.

Manga Esp01 002A Elma Prudencio quase desistiu de desfilar este ano, mas quando descobriu que a Alcione seria enredo, ela logo se rematriculou na ala e veio desfilar.

“Ah, eu amo a Alcione. Eu amo todas as músicas dela. Eu vivo ouvindo a Alcione. Eu ia desistir, não ia desfilar esse ano. Mas quando falou da homenagem a Alcione, eu decidi imediatamente renovar a matrícula e estar aqui hoje. Estou com muita expectativa para a vitória da escola, porque as escolas que passaram ontem, só duas que achei que desfilou direitinho. Então eu acho que a Mangueira vai ganhar com a Alcione, a minha loba, minha música favorita dela”, disse a doméstica de 65 anos.

“Estar aqui hoje, com esse enredo, é tudo de bom, porque a Alcione é um ícone dentro da nossa escola, é uma força maior, é uma mulher empoderada, e isso nos faz refletir, que não é cor, mas sim atitude. Então a minha expectativa é a melhor possível, já que estamos aqui para isso, defender não somente a verde e rosa, mas a pessoa que é a Alcione, ou seja, a gente vai homenagear alguém que já nos homenageia há muito tempo. É uma retribuição”, disse a comerciária Eliane Nascimento, de 61 anos, que tem “A Loba” como música favorita da cantora homenageada.

Para o componente do abre-alas, Glauco Mendes, de 30 anos, estar presente nesta homenagem em vida para a Alcione é um misto de sensações.

“Nesse exato momento, o meu coração não sabe se pula, se para, se grita, se chora, é uma emoção tremenda. A Mangueira é uma escola de tradição, uma escola onde eu tenho família, uma escola onde eu tenho amigos, parentes, irmãos, uma escola que me acolheu. Eu sou mega fã da Mangueira e falar da Alcione é brabo. Não tem aquele que não chore com a Alcione, já chorei muito ouvindo “Uma Nova Paixão”, disse o profissional do samba.

Com problemas sociais atuais, abre-alas da Vila Isabel retratou o adoecimento do criador

Vila04 05Com o enredo “Gbalá – Viagem ao templo da criação!”, a Unidos de Vila Isabel foi a terceira agremiação a desfilar na Marquês de Sapucaí na noite desta segunda-feira de Carnaval. O abre-alas da escola foi batizado de “Quando acaba a criação, desaparece o criador”. Dividido em dois chassis, ele retratou o caos do mundo em meio aos problemas sociais e ambientais que, no contexto do enredo, adoecem Oxalá.

Ao topo da primeira parte, magnatas de diversos setores da elite celebravam um farto banquete, enquanto na plataforma inferior, os pobres estavam em meio ao acúmulo de lixo excessivo – os restos – produzidos por quem estava acima. A abertura marcou o início e o tema central do samba-enredo de Martinho da Vila, como explica o carnavalesco Paulo Barros.

Vila04 02“O samba descreve que Oxalá está doente porque a sua criação adoeceu. O abre-alas retrata alguns dos males do planeta, mostrando o porquê do planeta estar doente. O material dele é uma base extremamente trabalhada para o sentido carnavalesco. Em resumo, é o ambiente de Oxalá, mas que está meio desgastado – já que no nosso enredo ele está adoentado. É um problema social, que é o rico e o pobre em meio a essa desigualdade – não só do Brasil, mas no mundo inteiro. E isso também causa o desgaste da natureza”, explica Paulo Barros.

No topo da pirâmide, o ator e circense Vinícius Daumas, 50 anos, representou um empresário do agronegócio em meio ao farto jantar. Segundo ele, a alegoria destacou o topo da pirâmide social brasileira e levou para a avenida uma crítica fundamentada no samba e no enredo.

Vila04 04“É um grande jantar, que tem pessoas do agronegócio, empresariado, milionários – os magnatas lá no topo. Enquanto a elite está lá em cima jantando, quem está embaixo come os restos. Iniciamos o desfile mostrando para a sociedade o que fizemos com o nosso mundo e o adoecimento de Oxalá em vista do que a sua criatura fez com a humanidade. O Paulo Barros foi genial, porque já começa o desfile dando um ‘soco no estômago”, disse Vinícius.

Vila04 03Já o segundo chassi da alegoria retratou os danos ao meio ambiente, como a floresta em chamas – um dos motivos para o adoecimento do criador. Na parte de trás do carro, os contornos de uma fábrica simbolizavam os impactos causados pelo consumo desenfreado. Composição do chassi, a influenciadora digital Anna Retonde, 25 anos, representou o fogo das queimadas.

“Representa um mundo ainda triste, perdido e marcado pela desigualdade social. Nós somos a chama desse fogo que queima a floresta. No topo, as pessoas com muito dinheiro. O conjunto mostra o mundo ainda triste e a alegoria está muito linda e retratou muito bem esse início do enredo”, contou.

Comunidade da Vila Isabel exalta trabalho de Paulo Barros

Vila Esp03 002O carnavalesco Paulos Barros apresentou, nesta segunda-feira (12), no segundo dia de desfiles do Grupo Especial do Rio, mais um Carnaval com a Unidos de Vila Isabel. O artista refez seu enredo de 1993, denominado “Gbala – Viagem ao Templo da Criação”, realçando o importante papel das crianças para criar um futuro melhor.

“O Paulo capricha muito nos desfiles que ele produz para a Vila”, avaliou Rosane Guimarães, ela desfila na agremiação há 16 anos e defende o artista: “O trabalho está lindo. precisamos focar nas crianças, é preciso educar, é preciso dar conhecimento para que a gente tenha um país sem preconceito, sem racismo, sem sexismo, longe de todas essas mazelas que a gente vem sofrendo ao longo dessas últimas gerações”

Vila Esp03 006A narrativa retoma uma antiga lenda, interpretada pelas lentes das religiões de matriz africana, onde Olorum, a entidade máxima, confia a Oxalá a tarefa de moldar os seres humanos nas origens do mundo. Essa nova criação demandava cuidadores para suas belezas naturais, tais como a flora, a fauna e os oceanos.

“Eu estou muito feliz com o trabalho. Acho que a gente vai alcançar um bom resultado, com um enredo muito claro, muito didático e eu estou muito feliz com isso”, avaliou o carnavalesco da escola.

A comunidade também se sente satisfeita com o trabalho do artista. Segundo os componentes, Paulo Barros cuida muito dos “detalhes” e é “perfeccionista”.

“Quando você vê os carros acesos, aí você entende porque o Paulo Barros é o Paulo Barros. É por causa da importância dele, e como ele trabalha com os detalhes”, avaliou Guilherme Salgueiro, de 40 anos. Ele desfila na agremiação há 24 anos.

Vila Esp03 003Com o decorrer do tempo, a humanidade deixou de cumprir seu dever de proteger essas dádivas. Frente a esse descuido, os orixás convocaram crianças de várias partes do planeta para se dirigirem ao templo da criação.

O carnavalesco também recebe elogios dos novos na escola. Daniela Costa é de São Gonçalo e ficou apaixonada com o enredo e o trabalho do artista na azul e branco. “Eu estou encantada pelo enredo. O que eu estou vendo aqui está perfeito. O Paulo está mostrando que as crianças, realmente, têm potencial de mudar o mundo”, avaliou.

Durante o desfile, a agremiação exibiu a esperança depositada por Oxalá nas crianças, buscando sensibilizar o público da Sapucaí com a conservação do meio ambiente e a necessidade de lutarmos pela casa que todos dividimos.

Vila Isabel: fotos do desfile no Carnaval 2024

Freddy Ferreira analisa a bateria da Portela no desfile

Um bom desfile da bateria “Tabajara do Samba” da Portela, sob comando de mestre Nilo Sérgio. Um ritmo autenticamente portelense foi produzido, com o ressoar único das caixas da Majestade do Samba ecoando por todo o cortejo. Bossas potentes e integradas ao enredo foram exibidas com precisão. Uma conjunção sonora de bastante equilíbrio foi exibida e com um andamento confortável.

Uma bateria portelense com sua tradicional afinação de surdos mais pesada foi percebida. Marcadores de primeira e segunda tocaram com firmeza e segurança. O peculiar balanço das terceiras da Portela impulsionou a parte de trás do ritmo. Complementando os médios, repiques coesos tocaram integrados a um naipe de caixas de guerra consistente, com sua genuína batida rufada ecoando pela pista.

Na cabeça da bateria, uma ala de cuícas de qualidade musical se exibiu junto de agogôs eficientes. Um naipe de chocalhos de excelente técnica tocou conectado a uma ala de tamborins de valor sonoro, que contribuiu com bom volume. Congas ainda ajudaram tanto em ritmo, quanto tendo participação luxuosa nas bossas com toques afros.

Bossas intimamente vinculadas ao belo samba-enredo da Águia de Oswaldo Cruz e Madureira foram exibidas. Com profundidade musical inquestionável, os arranjos eram pautados pelas variações melódicas e adequaram de forma magnífica o tema de vertente africana da maior campeã do carnaval à sonoridade da “Tabajara”. O leque de paradinhas, mesmo não sendo extenso, se mostrou cirúrgico, graças a pressão e a musicalidade alcançada. Nuances rítmicas foram notadas na caída da segunda da obra, assim como na entrada do refrão principal, demonstrando uma indiscutível versatilidade rítmica da bateria da Portela.

A exibição na primeira cabine (módulo duplo) foi muito boa, arrancando aplausos dos jurados e causando certa ovação popular. Já na segunda cabine, uma apresentação segura foi realizada, mas sem o mesmo impacto energético do primeiro módulo. No último módulo de jurado, uma apresentação potente foi realizada, para encerrar com o clima lá no alto o bom desfile da “Tabajara do Samba” da Portela, dirigida por mestre Nilo Sérgio.

Quarto carro da Vila Isabel tem homem gigante com estrutura muscular

Vila Esp02 002A Vila Isabel foi a terceira escola a desfilar, nesta segunda-feira (12), no segundo dia de apresentação do Grupo Especial do Rio. A escola, com o enredo “Gbala – Viagem ao Templo da Criação”, no seu quarto carro apresentou a alegoria “A criação do homem”, representando o “corpo humano como uma criação de Oxalá”

“Eu optei em fazer um carro que tivesse o conceito do barro, porém eu mostro ali aquele grande gigante com estrutura muscular, onde as crianças aprendem como é o nosso corpo internamente”, explicou Paulo Barros, o carnavalesco da escola.

A alegoria tem como principal objetivo contar o mito da criação do homem através do barro. No carro marrom, é possível ver um humano sem pele, apenas marcando seus músculos. Na parte debaixo, tem diversas esculturas de corpos.

O carnavalesco explicou que já produziu carros com a mesma estética de barro antes, mas quis inovar de alguma forma e fazer diferente na frente da Vila. “Eu tinha que fazer um carro que fosse diferente da versão anterior e principalmente diferente de dois carros que eu já fiz, um da Tijuca e o outro na Portela. Era um homem de lama, que lembrava um pouco dessa coisa do barro também”, disse.

Vila Esp02 002Para o Carnaval de 2024, a azul e branco planejou trazer de volta seu tema de 1993, enfatizando o papel das crianças na criação de um mundo melhor. O tema revisita um mito antigo, visto sob a perspectiva das religiões afro-brasileiras, no qual Olorum, a divindade suprema, designa Oxalá para formar a humanidade no início dos tempos. Este novo mundo precisava de guardiões para suas maravilhas naturais, incluindo plantas, animais e mares.

No entanto, ao longo do tempo, as pessoas falharam em sua tarefa de proteger esses presentes preciosos. Em resposta a essa negligência, os orixás chamaram crianças de todo o mundo para uma jornada ao templo da criação.

Na passarela, a Vila Isabel espalhou a visão otimista de Oxalá sobre as crianças, abordando a conscientização sobre a preservação ambiental e a importância de cuidarmos do lar que todos compartilhamos.

Portela apresenta diferente identidade estética, faz desfile pautado pela emoção, mas acabamento de alegorias e fantasias pode atrapalhar os planos da escola

Por Lucas Santos e fotos de Nelson Malfacini

Depois de um desfile do centenário em 2023 para esquecer, a Portela reformulou sua equipe artística apostou nos jovens carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga. O movimento gerou uma Portela com uma identidade visual diferente dos últimos anos, com uma proposta de enredo pautado na emoção, no afeto, e apresentando a africanidade e ancestralidade tão bem casado com a essência da Portela. O afeto deram ao enredo uma história muito tocante que chegou até o público, e a evolução, tão problemática no carnaval passado, desta vez foi um alívio para o portelense, ainda que no início na dispersão, a escola tenha corrido um pouco para colocar bem os carros na Avenida. Outros quesitos como casal e comissão de frente passaram bem, e o samba teve um rendimento satisfatório na boca dos componentes. Segunda escola a se apresentar na última noite de desfiles do Grupo Especial, a Portela apresentou o enredo “Um defeito de cor” em um desfile de 1h07.

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Comissão de Frente

Coreografada por Léo Senna e Kelly Siqueira, a comissão “Sagrado Feminino Ensinamento” representou o afeto, o respeito à ancestralidade, o sagrado feminino como importantes pilares da Portela. E sob suas asas, a Comissão de frente teve como missão realizar o maior sonho do narrador deste desfile Luiz Gama contar a história de sua mãe e promover o tão esperado reencontro. O elemento alegórico foi inspirado em uma escultura africana chamada “O Círculo da Vida”, e continha grandes imagens de mulheres de braços dados, em um círculo, onde juntas formam um templo que guarda saberes ancestrais como o poder da criação.

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Dentro desse grande abraço, as bailarinas, vestidas das essências e raízes, simbolizando as conexões ancestrais e atemporais, dançavam em cima do elemento, com muita ancestralidade, enquanto o espaço girava e permitia um interessante efeito. Depois, a personagem principal, Kehindé se destacava das demais guerreira, quando uma figura feminina representando a ancestralidade, com asas de anjo, a Grande Mãe surgia ao lado de Omuotunde/ Luis Gama, filho de Kehindé, e a exibição terminava com um grande abraço dos dois. O encontro tão esperado por este enredo surge logo na comissão que sem grandes truques apresentou muito bem a proposta do enredo, o afeto e a ancestralidade. Passou bem, sem problemas.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Iniciando uma nova parceria para este carnaval, o primeiro casal Marlon Lamar e Squel Jorgea representavam a Saudação à Terra, através dos Orixás mais antigos que são cultuados na região do Benin. Squel representou Nanã Buruku, a orixá mais antiga, portadora de sabedoria e mistérios, aquela que viu o mundo nascer e moldou em barro os primeiros homens. Já o mestre-sala representou o pouco conhecido Sapatá, o Vodun da Terra, Rei da Lama e da Palha. Ambos são orixás assentados juntos.

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A vestimenta de Squel trouxe o colorido partindo do espectro de cores do azul da Portela, passando para o roxo até tons mais cítricos como o amarelo e laranja. A de Marlon possuía esse colorido na parte de trás da fantasia enquanto o corpo do mestre-sala era tingido de branco. E toda essa representatividade religiosa foi percebida também na dança, que contou com diversos momentos em que a dança mais ancestral, mais das religiões de matriz africana, se fez presente. A dupla mostrou muito entrosamento e fizeram os movimentos bem cravados e com bastante sincronia. O único ponto a se considerar que não se transformou em um problema foi no primeiro módulo em que a bandeira encostou um pouco na cabeça da porta-bandeira. Mas, nada que tenha prejudicado a dança. Apresentação muito segura.

Harmonia

A escola cantou bastante durante o desfile. O portelense mostrou que gostou bastante da obra bastante elogiada no pré-carnaval, ainda que a expectativa por um sacode existia, o que não aconteceu. A intensidade do canto diminuiu um pouco na parte final do desfile, com alguns componentes já um pouco mais desgastados. O samba esteve sempre em uma boa cadência que facilitou o trabalho da escola, e os ensaios mostraram ser fundamentais para o resultado na Sapucaí. Ainda que as expectativas mais altas não tenham sido cumpridas, o quesito teve um rendimento satisfatório para conseguir a nota.

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O desempenho de Gilsinho mais uma vez foi o esperado, dessa vez, com um samba muito bom, o cantor esteve livre para brilhar, fazer seus chamados e contou com boa resposta do público. A voz do cantor sempre se sobressaia aos apoios, mas teve uma boa ajuda e o trabalho harmônico do carro de som casou bem com o que o samba pedia.

Enredo

O desfile teve como inspiração “Um Defeito de Cor”, nome de um romance escrito por Ana Maria Gonçalves e que se trata de uma obra ficcional que concebe uma história para Luísa Mahin, mulher guerreira que povoa o imaginário de luta do Movimento Negro brasileiro como símbolo de força e resistência. No primeiro setor, a Portela trouxe a Kehindé, com as mulheres de sua família primordial; sua mãe e avó. Depois, em um segundo momento, a escola contou a relação de Luísa com sua fé e a força dos voduns e dos orixás, concretizada em uma miragem lírica da grande mãe dos mares, a negra Iemanjá, e também colocando sua infância em Salvador e seus questionamentos sobre a opressão da Igreja Católica na adoração aos santos brancos.

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Seguindo o desfile, a Majestade do Samba falou sobre a Casa das Minas, os voduns cultuados aos pés das árvores, o misticismo da iniciação e os espíritos que se revelavam nesta casa, e os relatos de Kehindé, sobre quando chegou ao terreiro comandado por Nã Agontimé, em São Luís do Maranhão. O desfile segue apresentando a visão de Luiz Gama em que sua mãe Luísa Mahin deveria ser coroada rainha do Brasil pela pluralidade de uma mulher que desempenhou diferentes papéis, sendo a única sujeita que carregava as marcas mais humilhantes da formação social brasileira.

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Por fim, o desfile se encerra com as últimas palavras do livro Um Defeito de Cor. A Portela apresentou em barcos as mães que perderam seus filhos para a violência de uma sociedade que vê neles um defeito de cor, tal qual fizeram com Luís e Kehindé. Um desfile que de modo geral teve bom entendimento, boa leitura, e cumpriu a proposta de emocionar.

Evolução

A evolução da escola tão problemática em 2023, foi um ponto positivo neste ano, ainda que a parte de arrumação na concentração tenha sido um pouco mais caótica na hora de colocar os carros na pista. No abre-alas algumas esculturas ficaram pelo caminho antes do desfile. A finalização do quarto carro para entrada também deixou a escola um pouquinho mais parada depois da apresentação do casal. Mas, nada grave.

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Em geral, os componentes evoluíram de forma bastante fluida, com espontaneidade. A ala “a travessia” fazia uma performance coreografada que gerava um bonito efeito nas saias. Em um momento, o segundo tripé que vinha logo atras dessa ala demorou um pouco a avançar quando a ala da frente se movimentou em frente ao terceiro módulo de jurados, o que não chegou a gerar um buraco, mas um espaçamento um pouco maior.No geral, apenas esses detalhes e nada que tenha comprometido um desfile da Portela realizado com muita fluência.

Samba-enredo

Definido por muita gente como uma das melhores obras desta safra, o samba é de autoria de Rafael Gigante Vinicius Ferreira, Wanderley Monteiro, Bira, Jefferson Oliveira, Hélio Porto e André do Posto 7. A composição tem caráter bastante melodioso, mas possui também algumas partes mais valentes como o refrão principal “Saravá Kehindé..”, em que o verso final” Em casa um de nós derrame o seu axé” é um estouro até para o canto, a parte de maior vigor. O refrão do meio “Salve a lua de Benin”, organizado em um sexteto, é uma das partes de maior gingado. Na segunda do samba, a partir do “Em cada prece, em cada sonho nega…” começa os versos de melhor qualidade melódica, talvez deste carnaval, em que toda a relação afetuosa entre mãe e filho que o enredo possui está representado ali até que se chega ao refrão de baixo.

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Ponto alto também para a letra da obra que é muito bem trabalhada e traz o enredo com poesia. A composição ainda atingiu mais ainda o seu auge a partir das bossas de mestre Nilo Sérgio, uma delas com o agogô de duas bocas, e pelo bom andamento. A obra encontrou uma boa ressonância no público que cantou em diversos momentos junto com a escola, ainda que não tenha sido o estouro que talvez fosse esperado pela obra tão festejada no pré-carnaval.

Fantasias

Com uma estética diferente do que vinha apresentando nos últimos anos, a estreia dos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga reservou para a Portela o uso de novos materiais, novos designs e o espectro de cores diferentes. No início um trabalho mais volumoso apostando em tons terrosos e com a utilização de muita palha, como pede o enredo, na ancestralidade africana negra. Isso foi bem perceptível nas alas “matriarcas” e “culto vodum””. Após o abre-alas também se seguiu com a ala “presentes de branco”.

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O Azul da Portela se fez presente em contraste com o Preto na ala “a travessia”, que por conta da coreografia, gerava um bonito efeito pelas saias. Depois, antes do segundo carro, a espectro namorou um pouco com o branco como por exemplo na ala ” santidade menina Jejê”. Após o segundo carro a escola volta a palha e tons terrosos e durante todo o desfile é o espectro que mais se destaca ainda que bem intercalado com outras cores o que facilitou para que no visual não ficasse repetitivo. Apesar de boas soluções estéticas e de material, a escola não manteve a qualidade no acabamento e na volumetria das fantasias. Alguns setores estavam com a qualidade inferior, principalmente dos primeiros

Alegorias e adereços

A Portela levou para a Sapucaí um conjunto alegórico formado por cinco alegorias e dois tripés. O carro abre-alas desfilou desacoplado, mas como a escola só levou cinco alegorias para a Sapucaí não gera problema nenhum para o quesito. Esta primeira alegoria Terras de “Daomé”, inclusive, era onde estava a águia da Portela, desta vez apresentada em um estilo diferente. O carro, todo em tons mais terrosos, trouxe os ibêjis protegidos entre os galhos do Iroco e pelo espírito da Águia que sobrevoava a árvore sagrada, tudo era guardado pelos espíritos de Bessen, que são os espíritos da cobra, o vodun do culto Jeje.

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Na alegoria, foi possível ver as costelas da cobra, como grandes marfins, que traziam em seu interior os soldados daomeanos em esculturas de bronzes (típica arte do Benin). Ladeando estavam também os cavaleiros do reino iorubano, também imitando o bronze. Uma das esculturas do carro foi deixada na pista. A alegoria número quatro “Cortejos à Rainha do Brasil”, que representou a coroação de Kehindé segundo o imaginário de Luiz Gama apresentou problemas de acabamento, um pano sobrando sem estar encaixado no turbante pode ser considerado um problema e pode gerar despontuação. Nela, a dupla de carnavalesco representou esta coroação com Luíza ladeada por leões de Xangô, cortejada pelos enormes sombreiros de Maracatu e adornada de fitas da Congada.

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O segundo carro “Salvador Pagã”, que representou a relação de Luísa com a religião na infância, era muito bonito, todo branco, com boas soluções estéticas, mas também com um acabamento na parte de trás não tão primoroso. O ponto alto do quesito foi o último carro “Em cada Porto, nosso Ninho” que representava o encerramento da história de “Um defeito de cor” com os barcos trazendo as mães que perderam seus filhos para a violência de uma sociedade que vê neles um defeito de cor, tal qual fizeram com Luiz e Kehinde. Muito de muita emoção e que tocou a Sapucaí. No geral, apesar de boas e criativas soluções estéticas, as alegorias não tiveram um acabamento tão primoroso em comparação com outras escolas.

Outros destaques

A fantasia dos ritmistas da Tabajara do Samba representava a riqueza maior, a liberdade, através do ouro de Oxum. O figurino em tons de ouro e preto é adornado com espelhos, referência ao Abebé carregado pela entidade. Mestre Nilo Sérgio veio de Luiz Gama e a rainha Bianca Monteiro de Oxum, que sempre acompanhou Luisa Mahim. A fantasia proposta para os/as passistas da Portela fez referência à rainha Agontimé e à sua realeza, através da representação da pantera preta. Na cabeça, havia uma coroa estilizada com uma máscara negra de pantera. O figurino adornado em ouro traz o misticismo e a beleza do ritual Nilce Fran, representou uma das mulheres mais importantes na vida de Kehinde, a Agontimé. Esta personagem é quem recria os laços de Luísa com sua ancestralidade através da espiritualidade.

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As baianas da Portela trouxeram o abraço feminino de Dúrójaiyé em seu manto azul. O uso de estamparias africanas acolheu o branco da renda, misturando a representação das vestes de uma anciã, guardiã da ancestralidade de sua família. A presidente de honra da Portela, Tia Surica, veio a frente da escola no tripé “Raízes de Savalu” que falava da terra primordial onde começa a vida de Kehindé. A musa Wenny Isa veio com a fantasia “o sagrado secreto” simbolizando nome escolhido pela personagem principal do enredo, sua identidade ancestral. No esquenta, Gilsinho cantou “Portela na Avenida” de Clara Nunes.

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Inspirado no filme Moana, terceira alegoria da Vila Isabel representa a mãe natureza

Vila Esp01 003A Vila Isabel foi a terceira escola a desfilar, nesta segunda-feira (12), no segundo dia de apresentação do Grupo Especial do Rio. A escola, com o enredo “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação”, no seu terceiro carro apresentou a alegoria “A natureza e seus encantos”, representando a importância de cuidar da “mãe natureza”.

“Ele apresenta todo o universo da Mãe Natureza. Eu aproveitei uma figura, que é extremamente popular no universo das crianças, que é a Moana”, explicou Paulo Barros, o carnavalesco da agremiação.

Vila Esp01 001O carro trouxe signos da natureza, como a fauna e a flora. Predominantemente verde, a alegoria tem uma escultura central representando a mãe na natureza, inspirada no filme Moana. Animais ficam na parte de baixo do carro. A fantasia das componentes é uma flor roxa, com detalhes verdes e uma borboleta na altura do ombro.

A autônoma Luisa Fesal vai desfilar na alegoria, com o figurino “beleza e esplendor da natureza”. “Adorei a fantasia. Ela é muito bem trabalhada, cheia de acessórios, colorida, chamativa”, avaliou. Ela desfila pela primeira vez na azul e branco e entende a importância de ir em uma alegoria como essa: “É um sonho. Eu estou muito feliz por estar aqui, defendendo a proteção do meio ambiente, que é uma pauta muito relevante hoje em dia”, completou.

No Carnaval de 2024, a Vila apresentou uma releitura de seu enredo de 1993, destacando a contribuição das crianças para a construção de um futuro melhor. A história narrou uma lenda ancestral, explorada através das crenças das religiões afro-brasileiras, onde, no alvorecer dos tempos, o deus maior Olorum encarregou Oxalá, seu emissário, de criar a humanidade. Este novo mundo, agora habitado, necessitava de cuidadores para suas riquezas naturais, como vegetação, fauna e oceanos.

“O carro segue a ordem do samba do Martinho. A Moana é uma figura que está no inconsciente das crianças e é um público que eu sempre procuro atender”, destacou Paulo Barros.

Seguindo a narrativa do enredo, com o passar do tempo, a humanidade começou a negligenciar a responsabilidade de proteger esses dons. Diante dessa falha, os orixás convidaram as crianças de diversas partes do globo para visitarem o templo da criação.

“A proteção do meio ambiente é necessária, ainda mais nos tempos atuais”, destacou Tamires Pereira, de 21 anos, desfilando pela primeira vez na escola. “A alegoria e as fantasias estão lindas. É muito rica de detalhes”, comentou com os olhos brilhando.

Durante o desfile, a Vila Isabel propagou a mensagem de esperança de Oxalá nas crianças, promovendo a conscientização sobre a importância de preservar o meio ambiente e cuidar do nosso planeta.

“Todo mundo que viu Moana vai entender a referência no carro. Ele vem pra dizer que as crianças e as futuras gerações precisam cuidar do meio ambiente, para evitar tragédias como as que estamos vivendo hoje em dia”, avaliou Tamires.