O mundo do samba segue unido pela solidariedade às vítimas da chuva no Rio Grande do Sul. Com o objetivo de ajudar as famílias e municípios na reconstrução, todas as agremiações do Grupo Especial do Rio de Janeiro passarão a produzir rodos nos barracões, que poderão ser utilizados para auxiliar na retirada da água de ruas e residências. Para isso, a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) está pedindo doações de madeira, que poderão ser entregues na Cidade do Samba.
Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini
“Estamos totalmente solidários à população do Rio Grande do Sul e pensando em diversas maneiras de ajudar. Soubemos que eles estão precisando bastante de rodos que sejam fortes para tirar a lama e a água. As escolas de samba, então, concordaram em utilizar os barracões para produzir esses materiais”, contou o presidente da Liesa, Gabriel David.|
Poderá ser doado qualquer tipo de madeira, seja ela inteira ou até mesmo em pedaços, de diferentes formas e tamanhos.
Vale ressaltar que a Liesa segue recebendo, também, outros tipos de donativos já solicitados, como alimentos não perecíveis, água mineral, roupas, travesseiros e rações para cachorros e gatos. As doações poderão ser enviadas para a Cidade do Samba, que fica na Rua Rivadávia Corrêa, 60, na Gamboa, entre 10h e 18h.
A quarta-feira foi de ensinamentos na Zona Leste de São Paulo. Na tradicionalíssima quadra da Nenê de Vila Matilde, onze vezes campeã do carnaval paulistano, a agremiação realizou a entrega da sinopse e a explanação do enredo “Um quê de poesia e um tanto de magia, a arte de encantar o imaginário popular”, desenvolvido pelo carnavalesco Danilo Dantas – estreando na instituição.
Fotos: Will Ferreira/CARNAVALESCO
Em um primeiro momento, muitas pessoas envolvida com o carnaval tiveram dificuldades para entender qual seria, de fato, o enredo da Nenê de Vila Matilde. O carnavalesco tratou de destacar que tal temática, na realidade, é simples de ser compreendida:
“O enredo parece ser complicado, mas não é. Eu aprendi a gostar de carnaval com enredo que tenha consistência, uma boa história. Falar de festas populares seria algo muito simples, e, quando eu comecei a pesquisar manifestações folclóricas no Brasil, descobri que todas elas têm algo em comum: ligações com o tempo medieval. Isso me pegou muito. Fazendo minhas pesquisas, criei esse conto – que tem o contador, o Poeta Trovador, que narra desde a Idade Média. Ele convida a Águia [símbolo da Nenê] para voltar àqueles tempos, com o surgimento do trovadorismo; passa pela chegada ao Brasil com os portugueses e demais europeus, que trouxeram tantos artistas para cá – incluindo os de rua e os mambembes”, destacou, aproveitando para falar sobre toda a pesquisa realizada para a concepção da temática.
Danilo segue com a narrativa que será desenvolvida: “Todos esses artistas trouxeram muitas informações, histórias e livros, todos com histórias fantásticas da Idade Média. Entre eles, destaque para o livro “Os Doze Pares da França”, que falava sobre a guarda pessoal do rei Carlos Magno. Essa publicação dá origem a uma das principais atividades folclóricas brasileiras, a Cavalhada e o Reisado. É aí que começam a ter as ligações da Idade Média com o Brasil”, explicou.
Eis, então, que surge um novo ponto de mudança na narrativa da temática: “Através dessa história, surge um grande visionário brasileiro: Ariano Suassuna. Na década de 1970, ele estava muito incomodado com as manifestações folclóricas brasileiras, que estavam perdendo força e sendo muito criticadas – e, aí, ele cria o Movimento Armorial. O armorial vem da Idade Média, mostrando que as manifestações folclóricas brasileiras nascem com uma raiz erudita, mesmo sendo popular. O maracatu, a congada, o cavalo marinho e tantas outras manifestações folclóricas brasileiras bebem do medievalismo – Suassuna percebeu isso com o manifesto e com o movimento”, recordou-se.
Bem recebido
Em mais de um momento, Danilo Dantas e a mesa diretora do evento foram interrompidos com aplausos dos presentes. Quem tentou exemplificar o sentimento da comunidade foi Elisangela Simião, popularmente conhecida como Zanza, diretora da ala dos compositores da escola: “A gente está falando do Brasil no contexto de toda a diversidade que o país traz, todas as formas, como cada situação chega na cultura. O enredo fala de vários povos, enfatizando o artista e o povo, a cultura de rua, como ela junta o popular com o erudito. É fantástico, é rico demais, dá para fazer obras belíssimas e muito bem trabalhadas”, destacou.
Em outro momento, Zanza aproveitou para destacar o quanto o trabalho de Danilo foi bem feito: “Mais claro que essa sinopse, só a água e uma cervejinha. Nossos coordenadores estão com a faca e o queijo na mão, nunca vi uma sinopse tão bem explicada, exemplificada e clara. Tem uma parte que fala de religião, que exige leitura, mas é uma temática que só poderia acontecer no Brasil”, exaltou.
Falando no samba…
Perguntado sobre o que esperava do samba da Nenê de Vila Matilde para 2025, Danilo relembrou outros carnavais marcantes e, até certo ponto, recentes da Águia: “Quando eu penso nesse enredo, lembro de alguns outros que a escola já fez, como Câmara Cascudo [‘Um Voo da Águia Como Nunca Se Viu!! Também Somos Folclore do Nosso Brasil’, de 2008], o enredo que falava do frevo, do maracatu e da mistura de culturas da década de 1980 [‘Eu Tenho Origem’, de 1989]. O último enredo da Nenê, por sinal, falava de manifestações culturais [‘Cirandando a vida pra lá e pra cá. Sou Lia, Sou Nenê, Sou de Itamaracá’, de 2024], é o DNA da agremiação falar desses tipos de enredo. Quando pensamos em temáticas assim, não podemos deixar de querer um samba alegre e leve. Vou deixar bem claro que não quero que ninguém se apegue a terminologias catedráticas do enredo: quero algo solto e que proporcione o arrastão da Nenê, que esteja em consonância com a Bateria de Bamba, que é mais pesada e forte. O enredo só começa na Idade Média, quero algo que enfoque mais nas manifestações culturais – e o samba tem essa magia de encantar”, pontuou.
Concurso
Dos mais tradicionais concursos de samba-enredo paulistanos, a Nenê de Vila Matilde fará uma eliminatória com três fases. A apresentação de todos os sambas-enredo concorrentes será no dia 28 de julho. Dela sairão so semifinalistas, já no dia 04 de agosto. E, no dia 10 de agosto, a azul e branca escolherá sua canção para o carnaval 2025.
Regulamento e ficha de inscrição foram distribuídas pela mesa diretora, comandada pelo diretor de Harmonia da Nenê, Rodrigo Oliveira – que aproveitou para destacar o quanto todos estão abertos para conversar com os compositores: “Antes de tudo isso, teremos um tira-dúvidas com o carnavalesco, que está previamente marcado para o dia 04 de junho. A data de entrega dos sambas será dia 02 de julho. Também teremos uma pré-audição, no final do mês de junho”, detalhou – e, nesse momento, Danilo também pontuou que ele e os demais presentes na mesa diretora estão abertos para conversações com os compositores.
A fala do diretor também teve espaço para uma grande e positiva surpresa: “Nesse ano, a Nenê terá uma premiação para a obra vencedora. O samba campeão receberá o valor de R$ 10 mil acertado após o pagamento da primeira parcela dos pagamentos oriundos da Liga-SP e da Prefeitura de São Paulo”, finalizou.
O Paraíso do Tuiuti apresenta na próxima segunda-feira, dia 13 de maio, a partir das 19h, a sinopse do enredo “Quem tem medo de Xica Manicongo?”, do carnavalesco Jack Vasconcelos, para o Carnaval 2025. A leitura vai ocorrer durante o evento “Tutu de Preto Velho”, que já virou tradição da agremiação de São Cristóvão. Além de servir o prato, os segmentos da azul e amarelo irão se apresentar e haverá roda de samba com T do Tuiuti. A entrada será gratuita.
“Xica Manicongo foi a primeira travesti não indígena do Brasil. Trazida sequestrada da região do Congo, pertencente à categoria das quimbandas de seu povo, sua expressão de gênero era lida pelo colonizador como feminina. Xica representa a luta das travestis brasileiras pelo direito à memória e reconhecimento e por isso é importante homenagear sua luta e existência”, diz Jack Vasconcelos.
Serviço:
Tutu de Preto Velho com leitura da sinopse para o Carnaval 2025
Data: Segunda-feira, 13 de maio,
Horário: a partir das 19h
Endereço: Campo de São Cristóvão, nº 33, em São Cristóvão – RJ
Entrada: Gratuita
Após visita da diretoria da Imperatriz Leopoldinense e do carnavalesco Leandro Vieira às principais casas de candomblé da Bahia, o Terreiro Casa Branca do Engenho Velho (Ilê Axé Iyá Nassô Oká), o primeiro do Brasil, confirmou que irá colaborar com as informações ligadas ao enredo “ÓMI TÚTÚ AO OLÚFON- Água fresca para o Senhor de Ifón”.
Foto: Divulgação/Imperatriz
No mês passado, a presidente Catia Drumond e Leandro estiveram no terreiro para se aprofundar nos conhecimentos e saberes da temática, e foram recebidos pela Ekedi Sinha e por um Mogbá da casa, senhor Antônio Luís.
O carnavalesco, responsável pelo o desenvolvimento do enredo que irá para a Marquês de Sapucaí, festeja a parceria e se sente privilegiado pela possibilidade de consultar o tão respeitado patrimônio religioso e cultural brasileiro, resguardado pela história da Casa Branca, fundada na primeira metade do século XIX, e hoje sob liderança da ialorixá Mãe Neuza de Xangô Aganjù.
“O Terreiro Casa Branca guarda a oralidade de tradições ancestrais. Ter contato com quem faz o sagrado vivo é ter acesso a uma imensa biblioteca de bocas que guardam palavras, como quem guarda livros de valor incalculável. Para mim, que tenho gosto pela pesquisa, desfrutar da possibilidade de acesso à sabedoria da casa é poder exercer a atividade de enredista e carnavalesco de mãos dadas com o respeito e a reverência”, afirma Leandro.
O terreiro Casa Branca do Engenho Velho foi tombado pelo IPHAN em 1984, e é o primeiro monumento da cultura negra a ser considerado Patrimônio Histórico do Brasil, além de ser aclamado como a “mãe de todas as casas de santo da Bahia”.
Durante a estreia do espetáculo “O Som do Morro”, do coreógrafo Patrick Carvalho, no SESC Copacabana, diversos sambistas estiveram marcando presença e reverenciando o trabalho e a história do coreógrafo, que já escreveu seu nome na história do carnaval carioca através de comissões de frente memoráveis. O CARNAVALESCO conversou com algumas das personalidades que foram à sessão, ocorrida na última quinta-feira.
Foto: Matheus Morais/CARNAVALESCO
Lorena Raíssa, rainha de bateria da Beija-Flor, esteve presente na estreia, e falou um pouco sobre a importância de uma pessoa do carnaval conseguir ter sua vida contada nos palcos, exaltando Patrick, e como ela observa os espaços culturais do poder público abrindo as portas para o povo do samba:
“Cara, eu enxergo como uma revolução de verdade. É uma pessoa que o carnaval inteiro conhece. É impossível de não conhecer. É uma pessoa que me ensinou muitas coisas e hoje está trazendo para cá o que é o morro. Trouxe o morro para cá, para dentro, para mostrar para o povo o que é realmente o carnaval. Até porque a gente sabe que a gente não deve deixar o samba morrer. Mas ele vem mostrar a verdadeira história do carnaval, que toca a mesma gente, mostrando que começou no pé do morro. E é assim que vai permanecer, contando a sua história para todo sempre e eu sinto extremamente orgulhosa em ver uma pessoa tão incrível que eu sou extremamente fã e que tem orgulho de te chamar de mestre”.
Fotos: Matheus Morais/CARNAVALESCO
Em seguida, a jovem rainha falou o que mais tocou seu coração no show idealizado por Patrick: “O espetáculo tocou muito o meu coração, principalmente a parte do início, onde mostrou cada um dos personagens e a parte que toca o samba do Tuiuti, que eu acho que é o que mais me representou, mostrando o negro. E foi a parte onde mais me tocou, mostrou que a gente está ali e está vivendo, o quê realmente a gente tem, o quê a gente realmente mostra no carnaval, mostrando os nossos antecedentes para toda a vida ali, e mostrando que, sim, a gente vem do carnaval”.
Aldione Senna, grande passista do carnaval, também prestigiou a estreia, e ficou muito feliz com o espetáculo e com ele ter ocorrido dentro de um equipamento público, um teatro, com esses espaços se abrindo a receber o mundo do samba, e exaltando, além dessas possibilidades, os talentos revelados nos morros cariocas:
“O que que acontece, é que são anos de luta. E, assim, o gostoso disso tudo é ver que a gente conseguiu adentrar. Está tendo workshop de samba no pé, que nem o que eu dei no ano que a Mercedes Batistas fez 100 anos. Eu dentro do Municipal, no ano em que ela fez 100 anos, fui dar um workshop de samba no pé. Aonde, em toda a minha vida, que eu imaginei estar dentro do municipal para dar uma aula de samba no pé? E que é um lugar que a gente preto, não tinha acesso. Aí você chega aqui no SESC, que você vê uma apresentação como essa, belíssima, fantástica. É o morro descendo e mostrando a que veio, mostrando que o morro não é só marginalidade, tem muito talento no morro. Eu sou mangueirense, sou Vila Isabel, e eu costumo dizer que são escolas que você não precisa nem buscar o talento em outros lugares que lá eles têm. Isso aqui que a gente viu hoje, isso se chama resistência, né? Chegar ao ponto que chegou. Você viu o SESC completamente lotado, muita gente, um espetáculo belíssimo”.
Aldione ainda continuou elogiando e exaltando os membros do elenco montado pelo coreógrafo: “E eles… Nada contra a passista. Porque eu fui, ainda sambo, mas não mais como passista. Mas você vê verdadeiros bailarinos do samba, que é o que eles se tornaram. E você vê que o Patrick fez uma seleção muito boa, trouxe um grupo muito bom, mas o elenco do Patrick é grandioso. O elenco dele é grandioso. É muita história, é muito samba, é muita representatividade. Eles me representam totalmente. Eu sou muito fã desse trabalho. Eu estou muito feliz que nós pretos estamos conseguindo entrar nos lugares onde as portas para a gente eram fechadas e estamos mostrando ao que viemos”.
Ela então falou sobre pessoas que também tem possibilidades, na visão dela, de trazer algo do samba para os palcos também, em forma de espetáculo: “Tem uma menina que é nova, mas ela está se mostrando uma pessoa talentosíssima. Inclusive, ela veio na comissão de frente da Viradouro, fazendo a sacerdotisa. O nome dela é Laíza Bastos, é uma historiadora. Está fazendo doutorado e ela também tem condições de trazer um espetáculo para esse palco. Estava aí o Fábio Batista, que é um excelente coreógrafo e ele faz espetáculos, só que o Fábio Batista nessa época ele fica voltado para as quadrilhas, a Festa Junina. Mas é tudo coreografia dele, é coreógrafo da Comissão de Frente da Acadêmicos de Niterói, tem alas coreografadas dentro da Mangueira. O Fábio Batista é um garoto que eu conheci pequeno e hoje em dia está aí esse grande homem, esse grande profissional com um talento incrível, tem muita gente em condições de colocar um bom trabalho, um belíssimo trabalho em qualquer palco, não é só no palco do SESC não, é no Imperator, e em vários lugares”.
Por fim, Aldione Senna contou o que fez seus olhos brilharem ao ver “O Som do Morro” sendo encenado e dançado na sua frente: “Tudo, do início ao fim, a história, as tristezas que eles interpretaram, a sirene, o tiro, o choro, a dor, e a alegria, que, como a gente diz, que tudo acaba em samba, e é assim que termina: Tudo em samba”.
Carlinhos de Jesus falou sobre a representatividade que o espetáculo traz ao sambista, trazendo na história de Patrick a história de diversos outros sambistas, na vivência do coreógrafo:
“Representatividade. Eu acho que todo mundo que estava aqui hoje se sentiu representado. Preto, branco, azul, amarelo, gordo, magro, rico, pobre, todo mundo foi representado aqui. E outra coisa importante, a ancestralidade. E a gente se sentia ali, eu vi meu pai, eu vi meu avô, eu sou neto de Santo Amaro da Purificação, do Recôncavo Baiano, e aqui eu vi isso, sabe. Enfim, tudo que a gente pensa da alma carioca, respeitando a sua ancestralidade, trazendo suas histórias, o que nos formou, para hoje nós sermos o que somos, é o que eu vi aqui hoje. Eu acho que o Patrick traz isso, até pela própria vivência dele”.
Ele continuou comentando sobre o trabalho corporal do elenco e como tudo foi bem acertado e ensaiado por Patrick: “Foi um belíssimo trabalho e o mais importante ainda não foi só um trabalho coreográfico que eu assisti. Eu assisti um trabalho de corpo. Não é um trabalho que ensaia, vamos ensaiar um mês pra fazer um espetáculo. Não, é um trabalho que já vem sendo feito em trazer essa corporalidade, essa importância, essa essência no corpo de cada um, por mais que eles vivam, e tenham experiências nas suas comunidades, nos seus ambientes naturais, no dia a dia. Mas eles trouxeram isso de uma forma que todos nós ficamos assim, meio perplexos e, logicamente, aplaudindo com a alma, porque eu me vi ali, e como eu me vi, e todos se viram ali. Acho que é um trabalho de excelência, é um trabalho de talento e de superação. Justamente ultrapassar essas barreiras da dificuldade de a gente ter o Samba num espaço como esse, na Zona Sul, dentro do SESC, que não é qualquer lugar. Estou apaixonado, eu vou puxar a orelha do Patrick. Apaixonante”.
Em seguida, Carlinhos contou que acredita que diversos nomes poderiam ser temas de peças e outros espetáculos artísticos nos palcos, como Jamelão, Candeia e Beth Carvalho:
“Eu acho que todas as histórias são importantes para os seus protagonistas e toda a história sendo contada, é interessante para quem não protagonizou, para quem não é o representado naquilo e que acaba conhecendo. Eu vejo uma apresentação da sua história, deve ser interessante. Todos nós temos fatos marcantes, uns mais, com mais vivências ou com histórias que venham acrescentar mais que o outro. Mas eu acho que de toda grande personalidade, eu sinto falta de uma história de um Jamelão, de ser contada a história do Jamelão no palco, de um Candeia. Dos mais contemporâneos que a gente assiste, eu sentia falta disso da Alcione, até que eu vi uma Alcione no palco, de uma Beth Carvalho, mas a gente hoje, quer dizer, hoje ainda não se tem conhecimento dos grandes, dos que protagonizaram isso e que nos deixaram isso como um legado, suas histórias como um legado e que a gente dali seguiu. Eu acho que falta um pouco dessa essência”.
Ele continua falando sobre Milton Cunha também ter sua história sendo trazida a arte dos palcos de alguma forma, por considerar uma história incrível de uma pessoa com muito entendimento sobre o carnaval, enquanto cita um pouco da sua ao relembrar Cartola, a quem também acredita que pode ter sua via encenada:
“Eu acho que, eu adoraria ver uma história de um Milton Cunha, porque eu sei que não é uma história tão simples, eu sei mais ou menos o que ele passou. Então, vê-lo no palco, a história dele sendo contada, certamente vai ser uma história que vai motivar muitas outras pessoas. Eu contei um pouco, não da minha história, no palco, e quando se fala de samba é impressionante o pertencimento, como as pessoas participam, como as pessoas estão envolvidas e curiosas de saber da história das pessoas. Cartola, eu sou apaixonado por Cartola. Eu comecei no samba, sendo sempre mangueirense de coração, por causa do Cartola. Mas eu era Em Cima da Hora, então meu coração é dividido entre Em Cima da Hora que é minha raiz, que me ensinou o samba, e a Mangueira pela paixão que eu tinha pelo Cartola. Mas essas histórias é que a gente tem que ver com mais afinco, presença”.
Ao final da entrevista, Carlinhos citou o que mais gostou no espetáculo como um todo, ressaltando a técnica de cada bailarino e os momentos da história em que se viu representado:
“Técnica: Primorosíssimos, sincronizados, bem ensaiados, você vê que eles estão bem ensaiados. Uma boa preparação corporal, coreografias lindíssimas, e olha que eles só sambaram. Só sambaram, mas tiveram uma variação, uma criatividade coreográfica incrível, e uma história muito bem contada. Momentos de aperto no coração, momentos de representatividade, nos ver ali, vivendo aquilo, e momentos de alegria, como o samba é”.
A Acadêmicos de Vigário Geral invoca as letras de Francisco Guimarães, vulgo Vagalume, jornalista descendente de escravizados que jogou luz sobre as frestas da cidade, destacando negros, moradores dos subúrbios, e suas práticas dançantes e religiosas que mereciam outras páginas que não as policias. É para revelar o Rio que sobrevive nas rachaduras da urbe idealizada e turística que as crônicas de Francisco Guimarães serão enredo de escola de samba.
”Ter a oportunidade de estrear na Vigário e na Sapucaí com um enredo tão importante e substancial é um prazer. Mais do que prazer é também uma responsabilidade por contar um pedaço importante da história através das palavras do maior cronista popular dessa cidade que infelizmente ainda não tem a visibilidade devida. Temos a missão de embarcar nas palavras do Vagalume pra refletir sobre o Rio de Janeiro de ontem e o de hoje’, contou o carnavalesco Caio Cidrini.
O carnavalesco Alex Carvalho também contou sua expectativa para o carnaval de 2025. “Espero que, através desse enredo, possamos não apenas encantar com nosso desfile, mas também proporcionar uma reflexão sobre o Rio de Janeiro. É uma oportunidade única de celebrar nossa cultura e história, enquanto lançamos luz sobre questões essenciais que ainda afetam nossa sociedade”.
Com a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) indicando que o “calendário do carnaval” será antecipado em um mês, por exemplo, com os sambas oficiais sendo disponibilizados no streaming, na primeira semana de novembro, a Imperatriz Leopoldinense informou que fez alterações no seu calendário de disputa de samba.
Agora, a escola entrega a sinopse do enredo no dia 20 de maio. Receberá os sambas concorrentes no dia 30 de julho e a primeira apresentação oficial será no dia 10 de agosto. A final está marcada para o dia 27 de setembro.
A escola levará para a Marquês de Sapucaí ano que vem o enredo “ÓMI TÚTÚ AO OLÚFON- Água fresca para o Senhor de Ifón”, do carnavalesco Leandro Vieira.
Confira o cronograma completo:
20/05 – Entrega da sinopse
04/06 – Tira Dúvidas
11/06 – Tira Dúvidas
18/06 – Tira Dúvidas
25/06 – Tira Dúvidas
02/07 – Audição
30/07 – Divulgação dos Sambas
10/08 – Apresentação Oficial (Feijoada)
16/08 – Eliminatórias
23/08 – Eliminatórias
30/08 – Oitavas de final
06/09 – Quartas de final
14/09 – Semifinal (Feijoada)
27/09 – Final
INFORMAÇÕES IMPORTANTES:
As parcerias poderão ser formadas com no máximo seis compositores, sendo expressamente proibidas as participações especiais;
Não será cobrada taxa de inscrição;
É expressamente proibida a participação de torcidas comercializadas e grupos coreografados;
Serão disponibilizados cinco microfones para cada parceria;
Será permitida apenas a contratação de 01 (um) intérprete do Grupo Especial por parceria
Está proibida a confecção de camisas, bandeiras, adereços, e faixas de torcidas
A Unidos do Peruche apresentou na noite da última terça-feira o seu tema para o Carnaval 2025. Em um evento fechado, no Teatro Mesquita, localizado na Zona Norte de São Paulo, a ‘Filial do Samba’ proporcionou um grande show, contando com o grupo de música liderado pela eterna e ovacionada intérprete Bernadete. Logo após, entrou a participação da ala musical oficial liderada pelo cantor Renan Bier. Na ocasião, também foi apresentado o novo quadro de casais de mestre-sala e porta-bandeira, incluindo o oficial. Juntamente, foi anunciada uma nova direção de carnaval com todos presentes e sendo enaltecidos pelo presidente Alessandro Zóio.
Fotos: Gustavo Lima/CARNAVALESCO
Sobre a atração principal, que foi o lançamento de enredo, pode-se dizer que era realmente o que a comunidade queria. Se apegar a algo que é realmente de seu patrimônio. O tema é intitulado como “Axé Griô! Carlão do Peruche, o cardeal preto do samba”. É um enredo que toca os corações perucheanos. O baluarte, que tem seus 94 anos de idade, é reconhecido como sinônimo de resistência do samba e parte fundamental no crescimento da Unidos do Peruche. Pode-se dizer que é a principal figura da história da escola. Devido a isso, o pavilhão das cores do Brasil e um dos mais antigos do carnaval paulistano, ganha um novo gás pelo objetivo de alcançar divisões maiores.
Desejo antigo
De acordo com o presidente Alessandro Zóio, a Unidos do Peruche já tinha uma vontade de fazer a homenagem ao grande ícone da escola, mas isso acendeu ainda mais com a chegada do carnavalesco Chico. Além disso, não teme o Acesso II para executar o tema.
“Nós esperávamos um apego muito grande pela comunidade, pelo enredo e funcionou. Foi muito bom. Do início ao fim, a comunidade sentiu aquele arrepio na pele, de ter orgulho de ser perucheano. Um enredo que é super valente e super notório no repertório da Unidos do Peruche. Dentro da nossa gestão, nós pensamos em estar fazendo já no ano passado e retrasado também, mas tudo tem seu tempo e sua hora. Tivemos algumas outras situações que não deixaram acontecer naquele momento. Com a troca do nosso carnavalesco, a saída do Mauro Xuxa e a vinda do Chico, pintou aquele sentimento que dá sim, mesmo estando no Acesso II. É um enredo gigante, cabe no Grupo Especial tranquilamente. É o que o Chico tinha falado. É maravilhoso poder estar homenageando em vida uma pessoa que tanto fez pelo carnaval e tanto fez pela nossa Unidos do Peruche”, declarou.
O gestor Zóio, como é conhecido na escola e no mundo do samba, disse que provavelmente a escola vai repetir o processo de escolha de samba-enredo, sendo eliminatórias internas com final na quadra.
“Vamos fazer a explanação do enredo, provavelmente agora no próximo dia 30, no feriado. Não decidimos ainda, provavelmente teremos a disputa igual foi o do ano passado. Vamos receber os sambas, ouvir com nossa diretoria e com a nossa sala musical. Talvez tendo uma final, mas não está decidido ainda como que vai ser. Porém, provavelmente vamos copiar a ideia do ano passado”, explicou.
DNA da escola e responsabilidade dobrada
Homenagear uma figura tão importante como o Carlão realmente significa um passo significativo em uma provável reconstrução e tentativa de resgate de componentes, integrantes e torcedores que se afastaram da agremiação. Isso também é o que diz o carnavalesco estreante Chico.
“O senhor Carlão é um enredo que traz o DNA do Peruche. É impossível falar de Peruche sem falar dele e vice-versa. É um enredo que a escola queria muito e que eu fiquei muito feliz de ser escolhido para desenvolver, e eu tenho certeza que o povo perucheano amou, porque a gente precisa disso. A gente precisa voltar às essências, fazer esse resgate para reconstruir essa história, sair desse acesso logo e continuar brilhando, porque o Peruche nunca deixou de brilhar. Eu tenho certeza que vai ser um carnaval daqueles tão emocionantes quanto hoje”, disse.
O artista pode vir a ser uma revelação, pois é a primeira vez que assume uma escola com tanta visibilidade e um enredo desse porte. Ele diz que a missão de executar o tema na avenida é complicada, visto que tem bastante história e deve seguir todo um regulamento. Além de enxugar tudo, pois o Acesso II permite dois setores e, segundo Chico, o tema é nível Grupo Especial.
“É muito difícil, porque o senhor Carlão tem muita história que caberia em cinco enredos do Grupo Especial. A gente tem um tema um pouco mais enxuto, voltado à vida da direção mística, de uma forma um pouco fantasiosa para conseguir cumprir todos os requisitos do julgamento como um todo e como o que a gente tem disponível hoje para desenvolver o carnaval. Eu tenho um compromisso quanto uma pessoa branca dentro do carnaval. Eu preciso honrar os ancestrais, honrar quem abriu os caminhos, valorizar e agradecer muito às pessoas pretas por terem construído e mantido essa história viva. Eu me coloco totalmente no papel de aprendiz e estou vivendo esse enredo de uma forma inenarrável”, afirmou.
O profissional se vê muito feliz. Segundo o próprio, o barracão e as fantasias já estão em andamento. Também comenta que o desfile vai além do carnaval, onde pretendem levar a história do senhor Carlão para outras praças de cultura.
“A gente já começou tudo. Isso é muito bacana. Já começamos o barracão, fantasia e a meta é fazer tudo com calma, tranquilidade para que a gente consiga ter o melhor resultado. Então, agora a gente vai ter as eliminatórias de samba-enredo, a explanação com os compositores e é uma novidade atrás da outra. A gente vai contar essa história que não coube no enredo em outros momentos. Em exposições, em outras peças teatrais para que a gente possa contar a grandiosidade do Carlão, além do carnaval”, contou.
Orgulho de um filho
Vagner Caetano, filho de ‘Seu Carlão’, disse estar muito feliz com a homenagem que o Peruche irá realizar para o pai. O descendente do baluarte cresceu junto ao pai na entidade. “Realmente é um imenso prazer que a escola da gente, onde nós crescemos, vai fazer essa homenagem a ele com vida. Se Deus quiser, vamos alcançar o nosso objetivo. Infelizmente, no grupo que nós encontramos, não dá para contar toda a história dele, mas a gente vai conseguir trazer uma boa homenagem”, disse.
De acordo com o servidor público, o pai está debilitado em algumas situações, como a visão, mas de resto está bem. “Infelizmente ele anda bem debilitado, ele perdeu a visão e aí fica mais difícil de interagir. Neste momento, ele está com 94 anos, um pouquinho mais debilitado, mas está bem, graças a Deus. De resto, está melhor que eu”, concluiu.
Ritmo aprimorado
Cria da escola, mestre Marcel Bonfim diz que é inexplicável desfilar como mestre de bateria em um enredo tão importante na história do Peruche. “É um sentimento que vem de criança, dos nossos pais. Agora. ter esse privilégio de representar o senhor Carlão e eu como mestre de bateria, é um sentimento que não dá para explicar. A gente vai lutar e, se Deus quiser, vai dar tudo certo”, descreveu.
O diretor de bateria analisou o desempenho da “Rolo Compressor” em 2024. Comemorou os 40 pontos alcançados e contou que todos conseguiram entender o seu estilo.
“Como foi o primeiro ano, foi muito difícil. Isso acontece em todo o primeiro ano de um trabalho. Mas graças a Deus a gente conseguiu fazer um trabalho bacana. A galera entendeu qual era a nossa ideologia, nosso trabalho, e graças a Deus a gente conseguiu colocar um trabalho sólido no desfile. A gente conseguiu tirar nota e agora para o próximo carnaval, zerou tudo”, avaliou.
História de vida
O historiador da agremiação, Junior do Peruche, falou sobre o sentimento do enredo. Curiosidades envolvem este carnaval, pois o profissional tem uma ligação muito forte com o senhor Carlão.
“Para mim é emocionante demais, porque ele é meu padrinho de batismo, junto com a Ivonete. Quem foi a Ivonete? A comadre dele e primeira puxadora oficial de samba-enredo de São Paulo. Peruche é pioneira em tudo. É muito emocionante, porque envolve toda uma história de vida, de ter nascido e criado no Parque Peruche, na Unidos do Peruche com ele (Carlão). Ele realmente é a pedra fundamental da nossa escola. A gente ainda está com ele, firme e forte”, relatou.
Como historiador e conhecedor nato de tudo que envolve Peruche, Júnior disse o que não pode faltar no desfile e citou importantes personagens que passaram na história da agremiação.
“As perseguições que foram muitas em cima da escola. Era uma agremiação muito forte na década de 50, 60, 70. Era uma escola de samba muito grande. Ela já começou dessa forma. Não pode faltar a parte do que aconteceu na quadra do Peruche na década de 70, que a polícia invadiu. Foi uma coisa horrível. Isso causa traumas até hoje na própria comunidade e no bairro da escola. Não pode faltar personagens como Belobo, Catimbau, Pinheirão e Geraldo Filme. O Geraldo Filme ganha grande patente de sambista mesmo na Unidos do Peruche. Os enredos que o carnavalesco conseguir colocar por causa do grupo, o tempo de desfile… Foi a primeira escola de samba a trazer o instrumento repinique para São Paulo. Fomos a primeira escola de samba a ter uma quadra em São Paulo. A primeira transmissão ao vivo da TV Record foi na nossa quadra, no Terreiro do Caquí. Então, essas partes importantes da escola, é muito bom que sejam faladas”, citou.
Por fim, o profissional contou a forma em que irá participar no desfile. De acordo com ele, irá colaborar, mas a velha-guarda é prioridade, além de ter a missão de resgatar pessoas que estão fora da escola.
“A pedido do presidente da escola e a direção de carnaval, me pediram que colaborassem com a história da escola naquilo que fosse possível. Eu vou participar no desfile do Peruche com a velha guarda da escola que eu já acompanho há mais de duas décadas. Eu pretendo trazer alguns componentes antigos da escola, como o Manézinho, primeiro mestre de sala de São Paulo, que começou no Peruche e ficou 16 anos. Então, provavelmente, eu vou ajudar nisso daí, que é trazer essas pessoas importantes que estão até afastadas da escola, para que desfilem em homenagem ao senhor Carlos”, finalizou.
Em assembleia realizada na noite de terça-feira, Marcelo Adnet foi aclamado novo vice-presidente cultural da Botafogo Samba Clube. Ele, que já foi compositor campeão e carnavalesco da escola, assumirá uma nova função na estreia da escola alvinegra na Marquês de Sapucaí.
Foto: Divulgação/Botafogo Samba Clube
“É uma honra fazer parte desta agremiação de torcedores alvinegros e eu não poderia ficar de fora desta chegada à Marquês de Sapucaí. Vamos trabalhar intensamente agora em busca do Grupo Especial”, revela Adnet.
Campeã da Série Prata em 2024, a Botafogo Samba Clube montou uma verdadeira seleção para a sua estreia na Marquês de Sapucaí. A agremiação lançará ainda neste mês de maio o seu enredo para o carnaval de 2025.
A Acadêmicos de Santa Cruz terá participação na mostra audiovisual do Festival de dança “O Corpo Negro”, promovida pelo Sesc RJ, nesta quinta-feira, com a participação especial na pré-estréia do filme “Diálogos com Ruth de Souza”. A sessão será gratuita e vai acontecer ao ar livre, na Cinelândia, em frente ao Theatro Municipal, no Centro do Rio, a partir das 19h.
Foto: Divulgação/Santa Cruz
O filme dirigido por Juliana Vicente, conta a história de uma das grandes damas da dramaturgia brasileira com imagens captadas dos seus últimos dez anos de vida. Em meio à reflexões e memórias, nasce o diálogo entre duas gerações de artistas negras: Ruth e Juliana.
No elenco, estão também a artista visual Rosana Paulino, a mãe de santo Iya Wanda de Omolu, a cantora, compositora e atriz Livia Laso; a atriz Mirrice de Castro e a cantora Luísa Dionísio. O filme chega aos cinemas no dia 9 de maio e também integra a programação deste ano do CineSesc.
A atriz desfilou na agremiação no Carnaval de 2019 com o enredo “Ruth de Souza – Senhora Liberdade, abre as asas sobre nós”, pela Serie Ouro na Marquês de Sapucaí.