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Paraíso do Tuiuti retomou aulas de samba no pé em projeto de passistas

O Paraíso do Tuiuti retomou na última terça, o projeto “Aos passos do Paraíso”, coordenado por Alex Coutinho e Jorge Amarelloh. A iniciativa oferece aulas de samba no pé para crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Serão aceitas inscrições de interessados a partir dos 10 anos de idade (acompanhado de um responsável).

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alex jorge tuiuti
Foto: Divulgação/Tuiuti

Os candidatos serão divididos em duas turmas: uma infantil; a outra, para adultos. De acordo com os idealizadores do projeto, não há um limite máximo de idade para os interessados.

“Nossa oficina é para todas as idades. É para aquela pessoa que quer desfilar de passista ou só sambar no churrasco do fim de semana”, adianta Alex.

Todas as aulas ocorrerão às terças-feiras, sempre a partir das 20h, na quadra do Tuiuti, no bairro de São Cristóvão. Para a inscrição, é preciso levar uma foto 3×4, cópia do RG, CPF (para quem tiver) e comprovante de residência. Para menores de idade, levar uma foto 3×4, cópia do RG ou certidão de nascimento, comprovante de residência, declaração escolar, e cópia do RG e CPF do responsável. A taxa de matrícula será de R$ 80 (para confecção de uniformes).

Os organizadores do projeto pedem que os alunos usem roupa de ginástica preta e tênis.

Sinopse do enredo da Beija-Flor para o Carnaval 2026

Enredo: BEMBÉ

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bembe beijaflor2026

Ocupamos o espaço público. Se somos, afinal, livres, então não deveria haver problema algum nisso. Já não há mais distinção entre “nós” e “eles”, certo? A rua também é nossa — ou não? Num país que aboliu a escravidão com uma canetada, sem nenhuma reparação, ocupar é — e sempre foi — nossa forma de autorreparação. Nossa articulação pela cidadania. Ocupar é ressurgir, resistir, transgredir. Fazemos do corpo-travessia, da fé e da memória, um ato político: liberdade conquistada — tardia, mas viva. A cidade é nossa. O Largo do Mercado, também.

Livres, portanto, não escondemos mais nossas roupas de santo, as rendas de rechilieu, os panos da costa, as contas de proteção. Não baixamos a cabeça. Não silenciamos nossos cânticos, nem apagamos nossa fé. Não renegamos nossa cor, nossas origens. Não escondemos nossa ancestralidade: raízes fincadas no massapê do Recôncavo, regadas com nossas lágrimas e nosso suor.
Seguimos, sob a régia de Funfun, no equilíbrio das forças que nos guiam, rumo ao território que antes nos fora negado. Somos nós, o povo de João de Obá. Somos nós: pescadores, capoeiristas, baianas — marisqueiras, quituteiras, ganhadeiras, mães de sangue, de samba, de santo.

É cortejo, é batuque, é levante. Ano após ano, caminhamos de cabeça erguida — todos nós — em direção ao nosso lugar, como aprendemos desde 13 de maio de 1889. Não nos detemos diante dos olhos tortos — seguimos. Não reagimos a ataques — ocupamos.

Ao toque dos primeiros atabaques, Santo Amaro da Purificação desperta. Na alvorada, os fogos riscam o céu com luzes cintilantes e anunciam: o dia é nosso. Quebramos as encruzilhadas, damos água ao chão, erguemos nossa cumeeira, hasteamos a bandeira e plantamos nosso axé no coração do Mercado.

Assim, abrimos caminho para que o Candomblé ganhe as ruas — livre, como na terra dos nossos ancestrais. Ocupamos para ver e sermos vistos. Para sermos. Para estarmos. Ocupamos o chão sagrado — como um Beija-Flor que toma a avenida uma vez por ano, celebrando a ancestralidade e a nossa comunidade em festa.

Chegamos. É o Mercado. É o meio da rua. Casa de Exu, quem transforma interditos em passagens. Onde agora assentamos nossa energia vital — em forma de resistência, em forma de transgressão. O cheiro de alfazema, arruda, manjericão e guiné invade o ar como uma sinfonia de aromas que preenche o ambiente. Animais, grãos, farinhas, sarapatéis, maniçobas, dendês, carnes, frutas — tudo para alimentar nossas cozinhas e preparar nossos padês. Crianças correm, os mais velhos jogam com a sabedoria do tempo, mulheres e homens vendem com olhar atento e ritmo seguro, enquanto as moedas circulam como pulsos de vida. Compra, escambo.

O espaço público se transforma a cada movimento, vibrando em cores, sabores e sensações, como se a terra despertasse para a consciência de sua força: pindobas balançam ao vento, o peregum traz proteção, e as bandeirolas dançam conosco num abraço de fé e cor.

O caos se refaz em ordem; a mistura, em harmonia. Uma desorganização orquestrada, onde tudo se refaz para renascer. Cada tenda se torna altar, cada barraca, um elo que nos liga ao passado e ao futuro — tecendo, com nossas próprias mãos, a corrente que não se rompe: apenas se renova. A energia flui com naturalidade, como se soubéssemos, em nossas almas, que o Candomblé pertence à praça pública. Orum e Ayê já não se distinguem mais. É nesse lugar — não por acaso, mas por destino — que, no mês de maio, tudo se prepara para ser encantado. E assim tem sido há 136 anos.

Ali, a arte preta também se coloca — nas tendas de artesanato, culinária, literatura, teatro — expressões vivas do nosso fazer criativo, que ecoam a alma de uma comunidade que não se cansa de inventar e resistir. Celebramos nossa arte, nossa gente, com o Nego Fugido, o Maculelê, o samba de roda, a capoeira, o terno de reis, mandus, bombachos, caretas — manifestações que reverberam a força do povo preto do Recôncavo baiano, unido em prol da liberdade.

Nesse mesmo território, o xirê acontece em nossas noites de cânticos e oferendas aos espíritos que regem a festa. Os ogãs invocam os atabaques que ressoam — da força que abre caminhos à que sustenta a criação. O Mercado se sagra, tomado por nossa presença ancestral.

Somos gente que reza, canta e dança, unida no tempo espiralar. O calor sagrado nos purifica e transforma, enquanto as folhas curam e protegem com sua seiva de sabedoria. O guerreiro avança, abrindo trilhas e nos concedendo coragem. Perseguimos a fartura com precisão e firmeza, enquanto ventos de renovação sopram sobre a terra. A natureza se revela em sua totalidade: cada gesto nos conecta ao divino.

Vivemos a liturgia das nossas tradições e das Nações do Candomblé. O território consagrado respira memória, energia e vida: chão de axé onde o passado encontra o presente, onde o sagrado pisa firme e se torna visível nas ações, nas vibrações que atravessam o tempo. Ali, mantemos acesa a herança, reinventando-a a cada giro, reafirmando-a em cada canto. É festa, é culto, é resistência. Um outro fluxo, onde vivos e ancestrais dançam juntos.

No ápice da celebração, os trompetes anunciam a chegada dos presentes. Dois balaios se oferecem em reverência às Yabás: um azul para Yemanjá; outro dourado para Oxum. A elas, nosso profundo agradecimento pela liberdade conquistada e pela emancipação do povo preto. Neles estão girassóis, rosas brancas, lírios, alfazema, perfumes, sabonetes, espelhos, brincos — objetos escolhidos com zelo, carregados de afeto e respeito. O que se entrega é louvor e súplica, lembrança do passado e esperança no futuro.

Que essas oferendas tragam boas águas, bênçãos e vitórias, e afastem o que é ruim: a inveja, a ponta da faca, a tristeza. Quando o presente não chega, a cidade sente — é um clamor coletivo para manter vivos seus filhos e filhas. É ebó, tecnologia ancestral de proteção e resistência. Sem ele, não estaríamos aqui.

Um caminhão, cercado de gente — de santo e de não-santo — segue pelas ruas da cidade sagrada, rumo às águas onde tudo começou. A carreata passa pela Igreja da Purificação, onde rosários ecoam memórias ancestrais. Transita pelos terreiros mais antigos, guardiões de séculos de história e fé, e segue pelas casas de personalidades santoamarenses, símbolos de uma tradição viva: Tia Ciata, Dona Canô, Edith do Prato, Nicinha do Samba, Mãe Guiomar, entre tantas outras.

Das margens do Rio Subaé às marés da praia de Itapema, o cortejo avança em direção ao mar sagrado, azul e branco. Se toda terra tem dono, a água pertence a todos nós. É nela que entregamos, em forma de ritual, o trabalho de um ano inteiro. Recebem as oferendas Oxum, Senhora das águas doces, do amor e da fertilidade, e Yemanjá, Senhora do mar, mãe de todos os oris.

Assim se dá o Bembé — o maior Candomblé de rua do mundo — nascido da transgressão de João de Obá, mantido na resistência de Pai Tidu, acalentado na doçura de Mãe Lídia, insistido na inquietude de Pai Pote e preservado na firmeza de sua Iyá Egbé e de seus detentores.

No meio dessa festa, nossos olhos se confundem. Somos nós, o mesmo povo que reza, dança, samba, canta e celebra em comunhão — seja nas areias de Itapema ou no solo sagrado da Marquês de Sapucaí. É o encontro agendado pela ancestralidade, que confirma o que nos ensinou Cabana: “Ser de Nilópolis é a mesma coisa que ser da Bahia.” Como o balaio que atravessa o mar do Recôncavo, nós avançamos a Sapucaí com nosso desfile-presente nilopolitano: um rito que agradece pelas batalhas vencidas e, com fé renovada, pede às Yabás das águas que abram caminhos para mais um ano.

Amanhã, talvez, tudo recomece. Afinal, resistir, ocupar, reexistir e transgredir é o que nos mantém, Beija-Flor, é o que nos mantém, BEMBÉ.

Carnavalesco: João Vitor Araújo
Pesquisa e texto: Vívian Pereira, Guilherme Niegro e Bruno Laurato
Colaboradores: Ana Rita Machado e Antonioni Afonso

Viradouro entrega sinopse na quadra da Estácio na sexta

A apresentação da sinopse do enredo “Pra cima, Ciça!”, que a Viradouro levará à Avenida no próximo Carnaval, vai acontecer nesta sexta-feira, às 19h, na quadra da Estácio de Sá. O carnavalesco Tarcísio Zanon destaca as razões que levaram a escola a escolher a quadra da coirmã para o lançamento da sinopse.

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Foto: Renata Xavier/Divulgação Viradouro

“A Estácio é a escola onde ele se forma e, a partir daí, a gente consegue fazer um processo de imersão junto aos compositores. Ali é o local da essência de todo esse aprendizado e onde surge essa paixão do Ciça pelo ritmo e pelo Carnaval”, comenta o artista que assinará o sexto desfile consecutivo na Viradouro em 2026.

A disputa de samba-enredo na Viradouro é aberta a todos os compositores. A quadra da Estácio de Sá fica na Avenida Salvador de Sá, 206, Cidade Nova.

Thalita Zampirolli é a nova rainha de bateria da Unidos da Ponte

Após um ano afastada do carnaval carioca, a atriz, empresária e influenciadora Thalita Zampirolli está de volta à Marquês de Sapucaí. Em 2026, ela será a Rainha de Bateria da Unidos da Ponte, escola de samba de São João de Meriti, marcando seu aguardado retorno à folia do Rio de Janeiro.

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Foto: Alexon Lamin/Divulgação Ponte

Thalita, que também ocupa o posto de Rainha de Bateria da escola Chegou o Que Faltava, no Espírito Santo, vive um momento especial em sua trajetória pessoal e profissional. Sua presença promete trazer ainda mais brilho, carisma e representatividade ao desfile da Unidos da Ponte.

“Estou muito feliz em voltar ao Carnaval do Rio, dessa vez como rainha de bateria da Unidos da Ponte. É uma honra representar essa escola tão querida e mergulhar novamente nessa energia única que só a Sapucaí tem. Estou me preparando com muito amor e dedicação para fazer bonito”, afirma Thalita Zampirolli.

Dona de uma presença marcante e carismática, Thalita promete um desfile inesquecível. Com seu estilo autêntico e grande engajamento nas redes sociais, ela vai unir beleza, samba no pé e muita dedicação à frente da bateria meritiense.

A Unidos da Ponte já se prepara para um grande desfile em 2026, e a coroação de Thalita como rainha reforça o compromisso da escola com a valorização de nomes fortes e inspiradores no cenário do samba.

Lexa é a nova madrinha de bateria da Dragões da Real: ‘Estou extremamente feliz’

A cantora Lexa é a nova madrinha de bateria da Dragões da Real. Após flertar com a escola em outras oportunidades, a artista agora oficializa sua entrada na Tricolor da Vila Anastácio para defender a “Ritmo que Incendeia” no Carnaval 2026. O anúncio marca uma nova fase para a cantora e para a escola, que se prepara para mais um desfile no Grupo Especial de São Paulo com energia renovada e aposta em um reforço de peso.

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Foto: Divulgação/Dragões da Real

“O meu relacionamento com a Dragões começou há algum tempo. Eles já tinham me convidado antes, mas por conta de agendas e outros compromissos, ainda não era o momento. Agora finalmente chegou e estou extremamente feliz. A escola me acolheu com muito carinho. As pessoas são alegres, como eu também sou, e a energia bateu de verdade. Agora é oficial, e eu estou pronta para viver essa nova etapa”, declarou Lexa, emocionada.

O presidente da agremiação, Renato Remondini, o Tomate, celebrou a chegada da artista, destacando o alinhamento entre o espírito da escola e a trajetória da nova madrinha.

“Temos certeza de que a vinda da Lexa aconteceu no momento certo, tanto para nós quanto para ela. A Dragões é lugar de gente feliz e tem uma comunidade muito acolhedora. Nada mais justo do que receber com carinho uma pessoa que desfila desde os 8 anos, que valoriza e vive o Carnaval de verdade. O samba é isso: pertencimento, inclusão e acolhimento”, afirmou o dirigente.

A Dragões da Real, a bateria “Ritmo que Incendeia” e toda a comunidade de “Gente Feliz” celebram a chegada de Lexa como um símbolo de acolhimento, superação e paixão pelo samba. A expectativa é que a artista, com sua energia contagiante, fortaleça ainda mais o vínculo da escola com o público e a avenida.

Elisa Lucinda participa da narração do vídeo do enredo da União de Maricá e é convidada para desfilar

A atriz, escritora e poetisa Elisa Lucinda foi convidada a narrar o texto escrito pelo carnavalesco Leandro Vieira para o vídeo de apresentação do enredo da União de Maricá para o Carnaval 2026. Na ocasião da gravação, a artista também foi convidada a estar presente no desfile da escola, que integra a Série Ouro.

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Foto: Angelino Albaneze/Divulgação Maricá

Reconhecida nacionalmente por sua atuação no teatro, na literatura e no audiovisual, Elisa Lucinda carrega em sua trajetória marcas de sensibilidade, resistência e conexão profunda com o povo preto. Sua voz dará o tom do vídeo que será exibido com exclusividade no próximo sábado, durante a festa de lançamento do enredo, na quadra da escola, em Maricá.

O carnavalesco Leandro Vieira celebrou a participação de Elisa, destacando a potência simbólica e a sua relevância artística junto da União de Maricá para o Carnaval 2026:

“Elisa Lucinda é uma das figuras mais potentes da cultura brasileira. Sua trajetória de sensibilidade, firmeza e poesia está totalmente alinhada com a narrativa que estamos construindo para 2026. No vídeo do enredo, vocês vão ouvir um texto que carrega tudo isso e que foi brilhantemente interpretado por ela. É uma honra tê-la conosco”, afirmou Vieira.

A festa será aberta ao público, com entrada mediante doação de 1kg de alimento não perecível, e contará com apresentações do grupo Awurê e do bloco afro Ilê Aiyê, diretamente da Bahia. Em 2026, a União de Maricá será a sexta escola a cruzar a Sapucaí no sábado, 14 de fevereiro, em busca do inédito acesso ao Grupo Especial.

Imperatriz Leopoldinense realiza terceira edição de curso de capacitação e formação de diretores de harmonia

A Imperatriz Leopoldinense realiza a partir da próxima segunda-feira, na quadra da escola, em Ramos, Zona da Leopoldina do Rio, a terceira edição do curso de capacitação e formação de diretores de harmonia.

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Foto: Wagner Rodrigues/ Divulgação Imperatriz

As aulas, gratuitas e ministradas pelo diretor-geral de harmonia da Rainha de Ramos, Thiago Santos, irão acontecer nos dias 09, 16 e 23 de junho (sempre às segundas-feiras), das 19:30 às 21:30, e está aberta para todos que desejam aprender sobre o quesito nas escolas de samba.

No último Carnaval, a Imperatriz gabaritou o quesito Harmonia, garantindo os 40 pontos para a verde, branco e dourado.

Para se inscrever, os interessados devem já comparecer na primeira aula. A quadra da Imperatriz Leopoldinense fica na Rua Professor Lacé, 235.

Botafogo Samba Clube exaltará legado de Roberto Burle Marx no Carnaval 2026

A Botafogo Samba Clube definiu o seu enredo para o carnaval de 2026. “O Brasil que floresce em arte” será uma grande homenagem ao legado de Roberto Burle Marx, mestre do paisagismo e das artes visuais. O tema será desenvolvido pelos carnavalescos Alexandre Rangel e Raphael Torres, que farão a sua estreia na agremiação alvinegra no próximo ano.

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Inspirado na exuberância da flora brasileira, Burle Marx transformou jardins em telas vivas, unindo botânica, modernismo e sensibilidade estética. O desfile percorrerá suas expedições pelos biomas do país, suas criações abstratas e seu compromisso com a preservação da natureza. O Brasil desabrocha em cores, formas e poesia — um tributo ao artista que fez da natureza uma obra de arte.

O artista é o responsável por ter introduzido o paisagismo modernista no Brasil. Foi um dos primeiros paisagistas a utilizar plantas nativas brasileiras em seus projetos. Ele organizou inúmeras expedições e excursões pelos biomas brasileiros, sendo responsável pela descoberta de novas espécies. Mais de 30 plantas levam seu nome. O projeto mais famoso de Burle Marx é o calçadão de Copacabana, onde os padrões de pavimento abrangem 4 km ao longo da Avenida Atlântica no Rio de Janeiro.

A agremiação alvinegra abrirá os desfiles do sábado de carnaval da Série Ouro, dia 14 de fevereiro, na Marquês de Sapucaí.

Sinopse do enredo da Unidos da Tijuca para o Carnaval 2026

Enredo: Carolina Maria de Jesus

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Foto: Divulgação/Tijuca

CAPÍTULO I

O primeiro capítulo da vida de nossa homenageada nos leva ao encontro de Bitita — que significa “de cor preta” na língua changana do Moçambique —, nome que carrega a lembrança de sua infância nos confins do cerrado mineiro, nas entranhas de um Brasil do início do século passado. Um cenário no qual o tempo persiste, colorido por marafantonas e congados, desenhado pelo ar incandescente que entalha o barro e doura o capim, iluminado pela fé e o fulgor dos candeeiros.

Nos braços de seu avô, Benedito — o ancestral daquelas cercanias — , aprendeu os segredos que só o tempo revela no encanto do falar e do ouvir; e nas barras das saias de sua mãe, tias e madrinhas, se entrelaçou ao poder das coisas ditas, ao espírito desconhecido das letras e palavras, aquelas as quais ela desejava conhecer. Era esse o seu universo de menina, ainda um ramo doce de uma raiz fincada na sabedoria dos mais velhos, transmitida do ontem para o hoje nos dizeres daqueles que lhe ensinavam o espírito das coisas ditas, de tudo o que ela desejava conhecer. Bitita deu lugar à Carolina quando aprendeu que para existir aos olhos do mundo era preciso ter um nome: a sua assinatura.

CAPÍTULO II

Feito rosa em coração de broto, Carolina desabrochou e compreendeu, lendo os nomes de outras flores e os silêncios nas entrelinhas, que herdara na pele e no sangue a personagem antagonista dos romances perfeitos, representante legítima de um Brasil cuja abolição fora mais literária do que real.

Na roça do ouro negro, onde foi servir ainda moça, encantou-se pela lira da desobediência, levada pelos versos proibidos saídos das liras dos folhetins, que se misturavam aos passos fortes das catiras, acendendo o orgulho de sua carapinha.

Do tal áureo decreto, tão falado, conheceu apenas as sementes e espinhos, os artigos que rangeram em seus ossos quando presa, açoitada e humilhada por portar um dicionário: livro julgado pela capa preta; preta como ela! No auto improvisado de sua inquisição, foi chamada de feiticeira e acusada de vingança contra gente branca. Marcada profundamente pelo episódio, nunca mais veria aquelas terras como seu lar, escolhendo ir ao encontro de outros lares na esperança de talvez vislumbrar um novo caminho.

Lavando incertezas, lustrando os passos e desempoeirando sentimentos, foi ser mais uma Maria — sobrenome comum ao afazer doméstico, substantivo próprio da Casa de Família. Mas, sendo verbo em carne viva, sempre atormentada pelos versos crônicos e entregue à demasiada imaginação, deixava os afazeres por qualquer pedaço modesto onde pudesse derramar sua vocação. Seu “eu”, raro e lírico, não se encaixava como sujeito naquelas frases definitivas, nas rotinas intransitivas entre as “grades de prender gente” feito bicho.

Descontente e tomada pelo sonho, escreveu para si outro destino: a poesia — bálsamo de sua alma, remédio de suas inquietações. E por isso decidiu partir, dessa vez atraída pelas notícias fantasiosas de uma tal terra prometida, o eldorado dos retirantes.

CAPÍTULO III

Carolina Maria seguiu rumo ao seu desejo, rumo a São Paulo, a metrópole em primavera, canteiro das oportunidades, onde amanheceria sob o peso das verdades concretas, cercada pelo ranger cinzento dos edifícios estáticos, verdadeiros girassóis de cimento, imóveis à luz de suas esperanças. Ali nasceria De Jesus — peregrina de palavras, batendo de porta em porta com seus escritos em mãos à espera de uma chance, de ser vista. Invisível aos olhos editoriais por sua natureza desenquadrada dos padrões, era tratada como desvairada, ainda que único desatino fosse a tontura da privação, a vertigem dos Pedaços da Fome, que a assombravam como consequência da falta de emprego; fome que tinha cor, fome amarela, sem brilho.

O lugar que havia sido reservado a ela era a margem: a favela, jardim de destroços, onde seus únicos alentos, como os de tantos outros, eram amores de uma noite, sambas de raras madrugadas e a companhia — nem sempre solidaria — daqueles que também tiveram o seu mesmo infortúnio. Era mais uma cujo couro tinha o tom certo para saciar a sede de violência das sentinelas e patrulhas que varriam as vielas paulistanas em nome da lei e da ordem, açoitando toda a sorte de gente, trabalhadores ou vadios, em nome de uma justiça que só tinha olhos para predar os menos favorecidos.

Para tirar o sustento do corpo e da alma, catava papéis e histórias, tanto para ter o que comer quanto para ter o que oferecer aos filhos, que agora também a acompanhavam, fazendo-a provedora daquilo que mal tinha para si. Criativa, transformava o que não tinha valor para os outros no seu tesouro de virtudes: cacarecos de esperança, banquetes de uma colherada e remendos de expectativa.

Sentindo-se abandonada pela cidade-luxo, narrava, nas sobras de suas catações, tudo o que via e sentia ao seu redor, e foi assim que o mundo a conheceu: refugiada na miséria do Canindé, erguendo dos escombros a sua moradia, fazendo do Quarto de Despejo a fortaleza de suas produções. Descobertos num episódio cênico e reunidos em uma única obra que, publicada, inaugurou um parágrafo distinto em sua trajetória: era agora “a favelada que escrevia”, a expiação das mazelas sociais para uma elite torpe e uma classe média deslumbrada com o exorcismo de suas próprias culpas.

CAPÍTULO IV

A realidade escandalosa e profunda de seus dizeres, fizeram-na a própria voz dos marginalizados. A classe política, escancarada como objeto direto da degradação pública, era figura recorrente de seus discursos, refletida no oportunismo de seus representantes, que só tinham olhos para a miséria em tempos eleitorais. Questionadora, interrogava as radiolas e seus cantores emplumados, cujo silêncio sobre as sarjetas não entrava em sintonia com os compassos e a métrica da realidade.

Em dramática retórica, reivindicava também o seu espaço no circo social, denunciando o palco que foi negado para as tantas peças que escreveu e ofertou para companhias itinerantes sem sucesso. Para ela, eles viam em sua raça e nas suas saias as verdadeiras lonas rasgadas, um desagrado ao respeitável público.

Na construção de cada fala, desconstruiu a romântica favela dos sambas de época, e publicou, trecho por trecho, o desejo maior dos desabrigados moradores dos restos: a Casa de Alvenaria, símbolo do pertencimento à cidade. Da “marginal escritora” fez-se um arquétipo e a obrigação de “vestir-se para consumo”. Limitada sob o lenço e presa na moldura da favela, foi resumida ao Diário — verdadeiro artigo de luxo dos intelectuais —, um lugar que não lhe cabia, onde ela nunca aceitou estar.

E sua recusa em ser um fantoche nas mãos da imprensa e das grandes editoras teve consequências: a ousadia de contrapor a estrutura, de transpor as barreiras tão estabelecidas, a colocaram da porta pra fora dos saraus de velhas normas. Nessa posição, viu suas obras serem mutiladas e suas visões – agora sob novo teto – serem lançadas ao breu do esquecimento. A escritora preta sem a calamidade não interessava ao espetáculo escolhido para entreter o Brasil.

CAPÍTULO V

A força de sua imagem retinta e altiva apontou para outros horizontes dentro e fora de seu tempo, no rasgamento de um contrato social estabelecido de geração em geração. O apagamento de seu nome e a dispersão de seus escritos por entre as seções e prateleiras da literatura brasileira não foi mero acaso, e sim obra do descaso proposital, da tentativa de calar. Contudo, a força de seus versos resistiu, mesmo ante o esquecimento, irrompendo nas memórias perdidas feito um luzeiro, abrindo caminho para que outros pudessem fazer daquelas escrevivências uma fonte de inspiração.

Para aqueles que viveram na pele os mesmos cenários, que nasceram também fadados aos futuros menos promissores, sua figura reluziu como um lembrete sobre outras perspectivas; outros desfechos. As falas livres, seus mais educados gritos de resistência, recortaram entre as aspas o país quanto ao gênero, na doçura e nas dores do “ser mulher”, no questionamento da diferença, um espelho de suas metamorfoses e indignações – as mesmas de tantas ainda hoje.

Sua gramática das ruas, mistura refinada do pretuguês com as catedráticas orações e rimas, deu forma e entendimento à gigantesca babel de cultura que somos, desafiando o preconceito da língua, da classe e da cor, abrindo parênteses entre os parágrafos, quebrando as vidraças das capas duras e das citações permanentes. Testemunha vivente de um Brasil a parte, bradou na escrita a luta dos negros heróis da história e também do cotidiano, dos não representados e nunca exaltados, dos expatriados na geografia do capital, vitimados pelo racismo que segrega, fere e mata.

Ela permaneceu. Presente. Em movimento. Este enredo – que nada mais é senão o livro de sua vida costurado pelos retalhos de suas contações -, se encerra aqui para voltar ao começo, colocando a assinatura, sem a dúvida da ordem, no devido lugar e importância, e celebra, como ela celebraria, as muitas Carolinas que continuam a fazer história através das letras que um dia foram dela.

Carolina Maria de Jesus, sem menos, porque este é o seu nome.

CARNAVALESCO: Edson Pereira
ENREDISTA: Gabriel Melo
CONSULTORIA: Fernanda Felisberto

Sinopse do enredo da Mangueira para o Carnaval 2026

Confira abaixo o texto completo da sinopse.

logo enredomangueira2026

Não há morte pra quem sonha
Vai o homem fica a lida
Enfincada na memória
Dos guerreiros da alforria
Êta negro moleque
Varou pelas matas
Conheceu as ervas e seus extratos
No toque da caixa dançou marabaixo
Foi momo, o rei desse carnaval
Êta negro da estrela qual Zumbi
É a luz do folclore do Amapá
É de zimba, batuque e sairé
É o nosso Xamã Babalaô
Saravá!

“Xamã Babalaô”, música de Enrico Di Miceli e Ricardo Iguarany

APRESENTAÇÃO

Seguindo a missão de exaltar as brasilidades em verde e rosa, a Estação Primeira de Mangueira apresenta o enredo “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”, enaltecendo as tradições afro-indígenas do Norte brasileiro por meio de um dos seus mais célebres personagens.

Nessa épica saga amazônica, é momento da celebração do Turé – ritual de agradecimento a seres de Outro Mundo.

Invocado por sua plenitude e em estado de encantamento, Mestre Sacaca se manifesta espiritualmente para nos mostrar, como em delírio catártico, sua gente, seu lugar, seus mistérios e saberes. Eis a presença viva e vital do nosso Xamã Babalaô!

Tomada pela magia das matas, a Estação Primeira adentra a floresta e apresenta o fascínio de quem leu, rezou e benzeu as suas folhas, cascas, frutas e sementes.

Curandeiro, folião, marabaixeiro e defensor dos povos da floresta, esse ser revive os seus caminhos de aprendizado e valorização da identidade amapaense. Em glória, nosso herói reside na alma do povo tucuju, como carinhosamente se denominam os seus conterrâneos.

A Mangueira evoca a força das populações tradicionais para beber da sabedoria ancestral de um dos seus maiores expoentes, que nos guia e se revela como a própria Amazônia negra.

PRIMEIRO ENCANTO: TURÉ PARA O XAMÃ BABALAÔ

Estou no Turé e lhes conto que ainda não tocou o cuti porque a dança não terminou. Pelo contrário, eu diria. Ela está apenas começando. E está começando no Norte, onde o meu país começa.

É no início dessa história que alastro as minhas raízes brasileiras para esse ritual de agradecimento aos invisíveis do Outro Mundo.

Sigo em movimento, mesmo plantada entre Sumaúmas que fazem de mim, a quase centenária, aprendiz e mensageira.

Junto com as lahen, distribuo o caxixi na cuia do mesmo tipo que veste as mulheres também trajadas de saia de buriti. A festa acontece cercada de varas de madeira, no circular lakuh. Eu, Mangueira, estou na floresta amazônica brasileira, envolvida nesse transe.

Urucu, jenipapo e kumatê tingem a minha visão. São tons da natureza que pintam desde as cuias que guardam o sabor do beiju de mandioca até os enfeites criados com penas dos peitos das araras, que se encostam nas cabeças daqueles que festejarão os espíritos.

O pakará está posto para o líder pegar o maracá e os cigarros de tawari. É hora da viagem. Jãdam têm nas mãos os seus bastões e os palikás puxam os cânticos junto com o pajé. Os sons das flautas e das buzinas de bambu se alastram junto às palavras entoadas aos ancestrais. Um deles, especialmente, veio nos ver. Eu estava aqui aguardando por ele.

A energia avassaladora toma o espaço e me faz confirmar: não há morte para quem sonha. A presença dele é inegável porque nunca deixou de ser. Já estava aqui, sempre esteve. E agora, mais do que nunca, o Xamã Babalaô veio para nos embrenhar nesse encanto tucuju que vive como só ele.

SEGUNDO ENCANTO: MERGULHO NAS AFLUÊNCIAS

As águas doces serpenteiam todo o território, espaço de façanhas e atributos de tantos sentidos. Princípio de todo um lugar, são o meio e o fim. A natureza em ação, carregando histórias, tradições e segredos por caminhos tão barrentos quanto extensos.

O Xamã Babalaô navega em um afluente do Uaçá, nada pelo Rio Curipi, consolida seus laços históricos e hereditários com os povos indígenas da terra tucuju. No curso das águas, visita, aprende e confirma as sabedorias dos Galibi Kali’na, Galibi Marworno, Karipuna, Palikur e Wajãpi. Assim como ele, reconheço em mim a sua ancestralidade.

As correntezas nos levam por todos os lados, e as comunidades quilombolas também dependem das águas.

Pelo Rio Jari, chegamos a diferentes povoados. Conversando com os extrativistas e as mulheres que trabalham com as castanhas, ele se comunica com aqueles que dividem uma memória negra que eu também descortino.

Tudo se baseia nos rios: circulação, movimento, mitos, rituais, vidas. Os ribeirinhos carregam conhecimentos profundos desse universo e os recriam a cada milagre da maré. Se ela desce, se ela sobe. Se está boa para ver um sumano. Se é momento de pesca, se é tempo de rede.

Aqui, sobre o rio, tudo se sabe. Só há uma dúvida, alguns me contaram, de seres de formas fantásticas e de outras realidades, os quais, assim como o Xamã Babalaô, tocam as nascentes e as profundezas. Nelas, é certa a companhia distinta de animais e outras formas de energia.

O Xamã Babalaô entra na palafita amparada de palmeiras buçu, relembrando as tecnologias e as invenções de seu povo, além das místicas da sua gente. Contempla os regatões do presente, o transporte dos sacos das farinhas e a alegria das brincadeiras dos inocentes, que também lembram as minhas crianças.

Atravessamos as vivências de quem boia, mexe e se banha de um jeito só seu. Pelos rios, a poesia e o encanto se alastram para entender a beleza de um lugar e um modo novo de se viver que só quem viu o Amazonas sabe entender.

Os rios carregam de um tanto. Foram decisivos na vida do nosso encantado e continuam sendo a base de muito o que se conhece. Levam e trazem embarcações e seres, produtos e família. A todo o tempo, gente e mistério.

TERCEIRO ENCANTO: O PODER DA CURA NA CIÊNCIA DO ENCANTO

Se o rio foi o caminho para trocas, nessa saga, a floresta é quem lhe entrega o dom. Ao emergir das marés amazônicas, outras águas me fazem mergulhar nas histórias que transformam o Tucuju em encanto. O Xamã Babalaô me convida para um cenário de velhas chaleiras com infusões, em que garrafadas são preparadas contra qualquer um dos males que podem acometer quem ousa viver.

A sua existência, que um dia foi chamada de Doutor da Floresta, agora é revivida ao compartilhar as receitas que deixou no imaginário popular, nos estudos que viraram livros, na voz ouvida pelas ondas difundidas pelo território e em cada uma das memórias dos mistérios das ervas, carregados por aqueles que dominam como ele a ciência do encanto.

Sementes, flores, folhas, cascas, seivas e um tanto mais que o mundo dá permitem outras possibilidades de persistir entre a dor e a cura, entre a folha e a oração. A floresta entrega aquilo que revigora. Submete as pessoas à necessidade de existir. Como também sou natureza viva que faz viver, sei o que digo.

A medicina ancestral, fruto dos saberes indígenas e negros, une-se aos murmúrios das matas. O sopro no ouvido de quem está em Outro Mundo também dita os movimentos das mãos daqueles que manuseiam um divino chamado natureza.

Não se enganem, são sagrados os segredos do cuidado.

Engarrafar a floresta é entender que os seus conhecimentos e sabedorias são práticas de cura, desenvolvidas desde um tempo muito antigo por quem ocupa essa terra desde sempre. Entendimentos herdados das tradições orais passadas de geração a geração. Crendices que misturam o que é alcançado pelas mãos com as mandingas – práticas invisíveis aos olhos – como ensinou um encantado Preto Velho. Saravá!

Ele transforma esse extrato em banhos, chás, gargarejos e unguentos. Simpatias, para quem tem fé, também dão certo.

Quebra quebrantos, faz criança andar, sujeito parar de beber e mal de sete dias acabar.

Como fazia em outros tempos, o Xamã Babalaô pede licença para adentrar as matas. Observa ao seu redor e parece falar com aquilo que nem eu sei o que é. Pode ser feitiço.

Reconhece uma casca no chão, pega outras frescas, entende que a troca com a natureza é vital. Reza, pede, intercede.

Respeita os ciclos. Extrai do ambiente o sustento para o seu povo, demonstrando a riqueza da Amazônia: o que dela se retira, o que com ela se faz. O que a ela se retribui, para mantê-la e nos manter de pé.

QUARTO ENCANTO: OS TAMBORES RESSOAM

De pé na floresta, houve um chamado. Som e energia reverberam pelo ar. Ondas de encanto. O Xamã Babalaô está tão envolvido quanto eu quando ouço a subida do tamborim.

Continuo vendo a mesma natureza que observei nos remédios de cura. As árvores que viviam nas garrafadas, agora, são tronco oco de tambor. As sabedorias ancestrais
permanecem a base das manifestações que se apresentam a nós.

Çai Erê, disseram alguns originários, até batizar a festa que seria tocada com uma única baqueta, conforme mandam outras celebrações dos donos daquela terra. No Sairé do
Carvão, contemplamos a síntese dos tucujus afro-indígenas.

Nos encantamos por ela, mas logo o Xamã Babalaô aponta para a fogueira de esquentar couro e afinar as raízes do Batuque. Dois tambores, o amassador e o dobrador. Dois pandeirões. “Vieram lá de África”, escuto cochichar a quilombola que puxa o verbo e solta as bandaias para acompanhar o pessoal que senta nos macacaueiros presos às peles de sucuriju.

As mulheres rodando e puxando vento com a barra da saia me lembram outro movimento que vira o mundo ao anti-horário.

O giro e na gira do Marabaixo, salve o Divino Espírito Santo e a Santíssima Trindade. E salve as energias que pairam naquele toque, naquela circularidade, naqueles Mestres com quem ele tanto conviveu.

Já vejo as minhas flores nas saias e nos cabelos das açucenas, enquanto meu povo gargalha tomando gengibirra e aprendendo os ladrões como o que fizeram para o Xamã Babalaô, que volta para o cortejo da vida por meio dessa e de outras canções. Atraído pelos ritmos que ressoam, cada um mais forte do que o outro, passeam s pelos terreiros de
cultura, entre a Favela e o Laguinho. Vejo aquela gente e aquelas salas como se do Morro fossem.

Nesses barracões, aprendo a saudar as matriarcas daqui que, assim como as minhas, ensinaram que o certo é pela nossa cultura se espalhar. Então, bora se requebrar, preparar para muito gingado, porque quando os tucujus e os mangueirenses dançam os mundos se movem. Xamã Babalaô, marabaixeiro, sempre soube e sempre saberá.

A virada da caixa que arrepia ganha outros contornos históricos para além da dança que um dia foi de lamento. Em Mazagão Velho, a Festa de São Tiago ecoa um toque de guerra que também é toque de gente que aprendeu a transformar a sua história em batuque e festejo. Com o som do Vominê, escolhemos máscaras para sermos travessos e dar um rádio em quem puder.

Essas sonoridades misturadas em diferentes batidas, chegam ao Encontro dos Tambores, e atraem nosso invisível para mais uma festividade.

Dos instrumentos do Zimba do Cunani aos atabaques das macumbas amapaenses, do carnaval em que foi Rei aos músicos contemporâneos… O Encontro dos Tambores intensifica os sons e os sentidos para tratar das vibrações particulares que definem uma espiritualidade amazônica.

As percussões confundem espaço, tempo e religião. Pelo compasso do tambor, a igreja é o terreiro, o ontem é hoje, o amanhã é agora. Tudo entra em espiral.

Na Missa dos Quilombos, o Xamã Babalaô retorna batendo caixa como quem firma chão. Lá, oração também se dança.

Sem precisar de permissão, os corpos não se contêm. Aqueles toques também são ancestrais, pois redefinem as condutas de um povo de um jeito libertário. Mães de santo participam da missa como coroinhas, as ofertas viram frutas e oferendas e um mundo novo, fundado por ele, pareceu ter sido criado diante de nós. A entidade adentra o culto sem espaço para divisas.

Ele encontra na rítmica tucuju a mesma força espiritual presente em suas curas. Como uma bateria, esses sons fazem o coração pulsar em sanidade, tratando do passado da nossa gente. Preservam e reescrevem histórias dos encantos e das realidades vastas. O tambor celebra.

QUINTO ENCANTO: O GUARDIÃO DA AMAZÔNIA NEGRA

Na saga do Xamã Babalaô – invocado no Turé, navegante das afluências, engarrafador das florestas, pulsante nos tambores – eu vislumbro a incessante busca de plantar o eterno. Ele se transforma no que faz a Amazônia viver, tornando-se a própria identidade tucuju.

O Xamã Babalaô é o que ficou. Ao tocar o chão da floresta, dos barrentos, dos quilombos, dos barracões, das missas, nosso ser se conduziu a ser ele mesmo os elementos que
revelam quem o seu povo é. Torna-se múltiplo, sem limitar a vida a um corpo ou a uma única forma, como só sabem fazer os que conhecem os encantos da terra.

Imponente, ergue-se nos mastros, prática cultural de origem negra. Seja nas bandeiras dos Marabaixos ou das minhas coirmãs escolas de samba, segue em haste afro-brasileira, coluna de memória que desafia o tempo e as tentativas de apagamento. No lenço que balança alto, ele se transforma em objeto que anuncia as festas de sua Amazônia. Preso na murta ou no pavilhão, dança com o vento e sussurra histórias que não podem ser esquecidas.

Resiliente e vigoroso, manifesta-se no cipó de titica, fibra que amarra parte do mundo e sustenta o fazer. Enlaça casas, objetos de pesca, redes e segredos com a firmeza do valor da raiz. Nele, o Xamã Babalaô tece seu nome torcido no trançado do tempo.

Leal em seus valores, exalta a potência feminina e o matriarcado que tanto conheço. Mergulha no barro de Maruanum, em que as mãos negras das louceiras moldam moringas, panelas e presenças daquela a quem se pede licença.

A Vovó do Barro recebe o encantado que se dissolve na argila e ressurge em forma de artefato. Cada peça é uma oração queimada no forno daqueles saberes.

Escorre no açaí que mancha mão e boca com o roxo atinado. O Xamã Babalaô vive no sabor do fruto do sustento amapaense. Está nos dedos que botam o caroço no paneiro, no remanso da peneira, na garganta que se tinge com gosto de floresta. É sangue da terra.

Reaparece nos olhos da onça, bicho grande, dono da mata. Espreita silencioso, passeia firme, guarda os caminhos. Ameaçada, é a onça o espírito da floresta em regime de alerta. O Xamã Babalaô estampa agora pelagem e coragem. Está na pisada leve e na força que pode até não se ver mas que se sente. Quem cruza com ele sabe: há algo mais ali, um fundo que escapa à vista e mora no pressentimento.

No flerte com o eterno, o Xamã Babalaô se planta como amapazeiro. Árvore mãe, árvore nome, árvore estado.

Declama no silêncio da terra úmida e se ergue em galhos que se expandem, sombra que conforta, seiva que cura pelo lugar todo. Faz-se tronco, folha, semente e eternidade. Não partiu, enraizou-se onde tudo começa e recomeça. Ele é a natureza.

À natureza, ele retorna. Na sua Amazônia de floresta em pé, ao meu lado, encerra uma saga que é símbolo de uma identidade nacional que tem sabor, cheiro e textura das memórias do meu Norte.

Ao findar do transe xamânico, pairam no ar essências que nos entregam o frescor do Brasil. Do sumo daquilo que melhor poderia se macerar das terras profundas do nosso país.

Das terras do nosso Xamã Babalaô do Encanto Tucuju. O guardião de toda essa amapalidade, de toda essa Amazônia também negra, de toda a Mangueira!

Enredo e Pesquisa: Sidnei França, Sthefanye Paz E Felipe Tinoco

REFERÊNCIAS

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