O Arranco do Engenho de Dentro apostou na gargalhada em um minidesfile de clima circense, marcado por uma comissão de frente brincante, canto e evolução oscilantes e uma bateria que se destacou como ponto alto da apresentação. A escola será a terceira a desfilar no sábado de carnaval com o enredo “A Gargalhada é o Xamego da Vida”, assinado pela carnavalesca Annik Salmon.
Os coreógrafos Lipe Rodrigues e Márcio Dellawagah apresentaram uma comissão de frente composta por clowns. Os palhaços exploraram gestualidades típicas da palhaçaria: mãos expressivas, caretas, piruetas e a presença de quatro integrantes em pernas de pau, resultando em uma apresentação leve e divertida. O casal Diego Falcão e Denadir Garcia entregou um bailado gracioso, em sintonia com o clima brincante do enredo. Denadir destacou-se em seus movimentos, com giros precisos e canto firme, interpretando trechos marcantes do samba-enredo. Ainda assim, faltou precisão na sincronia da dança do casal.
O canto da escola azul e branca oscilou entre as alas. As baianas defenderam o samba com propriedade, enquanto a ala coreografada com pompons pouco cantou. O pré-refrão “não tem corda bamba que faça meu riso tombar” impulsionou a participação dos componentes e deu corpo à passagem. Apesar da instabilidade na harmonia, os intérpretes Pâmela Falcão e Rodrigo Tinoco mostraram categoria e energia, sustentando uma performance contagiante para o público das arquibancadas. A evolução também apresentou momentos irregulares: houve formação de buracos entre algumas alas, especialmente após a saída da bateria do recuo, que deixou um bom espaço vazio na altura do ponto de simulação da cabine.
A bateria “Sensação”, comandada pela mestre Laísa, foi um dos grandes destaques da noite. Com firmeza e criatividade, o quesito apresentou uma bossa inspirada em ritmos circenses, transportando a Cidade do Samba para o clima de um verdadeiro picadeiro e reafirmando a bateria como uma das forças da agremiação.
Desde 2017, a Nenê de Vila Matilde não pisa no Anhembi como parte do Grupo Especial de São Paulo. Oito anos se passaram, mas o sentimento de pertencer ao Especial nunca saiu da comunidade azul e branco, de quem vive a escola no dia a dia e de quem chora ao ouvir o hino da sua escola do coração. Por isso, o CARNAVALESCO ouviu quem realmente sente a dor e a saudade de estar aonde nunca mereceu ter saído. Muitas perguntas surgem, muitas delas sem respostas: será que chegou a hora? O que ainda está faltando? Quando sentiram que podia e não deu? E, acima de tudo, o que é preciso para que o acesso finalmente aconteça?
No olhar de quem cresceu nos becos da Zona Leste, a baiana Elma Leda da Silva, 66 anos de vida, 25 anos de agremiação, a Nenê não é só uma escola, é uma herança que se carrega no peito. E é com essa emoção que ela traduz a força da comunidade.
“A Nenê é mais do que uma escola. É família, é história, é raiz. Já sentimos que dava, já chegamos perto, já choramos pela chance que escapou. Mas nunca deixamos de lutar. O que falta? Falta união total, falta acreditar de verdade, todos juntos. Acreditar que a Nenê pode voltar para o grupo especial, e a gente vai lutar por isso. A gente vai voltar a sorrir, eu não tenho dúvidas disso”, disse Elma.
Quando o tempo passa e o sonho insiste em permanecer vivo, a esperança ganha nome e sobrenome na comunidade. Fábio Jonas, 48 anos, 20 anos de Nenê, “Malandro da Vila” traduz esse sentimento com a verdade de quem batalha ano após ano.
“Não chegou a hora, passou da hora. A gente está lutando dia após dia, carnaval após carnaval, para que esse acesso tão sonhado chegue. O que falta para acontecer? Na realidade, eu não sei te dizer, porque cada ano que passa a gente acaba superando, a gente não sabe o que o jurado quer. A cada erro, a cada ano, a gente acaba superando erros passados para, quando subir, nunca mais cair. 2025 e 2024 foram dois anos especiais para mim. Em 2024, fizemos um belo carnaval; em 2025, fizemos um desfile maravilhoso, tanto para o público quanto para o jurado, mas infelizmente não conseguimos o sonhado acesso. O que é preciso para conseguir o acesso? Calor humano, amor à escola e, principalmente, muita garra”.
Há quem olhe para números. Mas há quem olhe para a alma da escola e ali enxergue a resposta. Sthephanye Cristinne, 27 anos, 24 de carnaval, musa da Nenê, fala com a confiança de quem sente a Nenê vibrando mais forte a cada ensaio.
“Se chegou a hora? Eu tenho certeza que sim. Eu acho que, no ano passado (2024), tivemos pouca diferença na pontuação; está muito claro que faltaram poucos décimos para conseguirmos o acesso. A escola está muito bem preparada para esse momento, e eu tenho certeza de que vai dar tudo certo. Eu confio muito no projeto que me foi apresentado e que foi apresentado para a comunidade, que está acreditando nisso. O que está faltando nesse momento? É simples: nada! Porque a Nenê tem uma comunidade muito aguerrida. Porém, é uma escola tradicional, e, atualmente, infelizmente, ou felizmente, o carnaval é midiático; as pessoas acreditam muito naquilo que é visto. Mas eu acredito muito na tradição e na força da minha escola. Eu tenho a sensação de que a escola se sente no Especial, é como se o acesso fosse só um nome. Para a Nenê, isso é apenas um título. É uma escola que se sente muito forte e totalmente capacitada para chegar ao Grupo Especial. Para a gente, estar no acesso não diminui a vontade de estar no Especial. Eu acredito na garra da comunidade, que faz isso acontecer em cada ensaio. A gente mostra que merece, e isso vai acontecer de uma forma muito bonita”.
Quando a caminhada é longa, a dor da espera se mistura à certeza do futuro. Rodrigo Oliveira, 45 anos, 28 anos de Nenê, diretor geral de Harmonia da Nenê, nas palavras o peso dos anos e a determinação de quem acredita que o retorno está mais próximo do que nunca.
“Passou da hora de subirmos para o Especial. A gente não aguenta mais esses nove anos no Grupo de Acesso. Tivemos um período sabático, em que a Nenê teve que reaprender, reorganizar, reciclar e, enfim, fazer todo esse processo para poder tomar um caminho de retomada. Nos últimos anos, a escola vem fazendo um bom trabalho, e eu tenho certeza de que esse caminho está sendo muito bem construído. Tomara que agora, em 2026, seja a hora da gente voltar e ficar para valer no lugar de onde a gente nunca deveria ter saído. O ano do Faraó Bahia, em 2023, foi o ano em que senti que íamos conseguir o acesso. Foi um ano que tinha tudo para dar certo, mas infelizmente não aconteceu. Na sua pergunta ‘o que falta?’, acredito que agora eu posso te responder, porque o que falta, a gente está buscando e tentando eliminar. Agora é lutar bravamente e conquistar o que sempre sonhamos”.
Entre lágrimas, sorrisos e a certeza de que cada ensaio é uma luta pelo acesso, a Nenê de Vila Matilde segue caminhando com a força de quem nunca desistiu. A escola que aprendeu a se refazer, viu gerações crescerem sob o solo azul e branco, transformou dor em resistência e saudade em trabalho. A escola continua focada no propósito de voltar ao lugar de onde jamais deveria ter saído. O futuro não é uma promessa distante; ele está sendo construído agora, na fé de uma comunidade inteira.
Se a hora chegou? Talvez a resposta esteja justamente na união, na tradição e no amor que transbordam nos depoimentos de quem vive a Nenê todos os dias. Para a Vila Matilde, o acesso não é apenas uma colocação no papel: é um reencontro com sua própria grandeza. E quando a comunidade acredita, trabalha e sonha junto, o impossível deixa de existir. A Nenê segue forte e preparada.
Quando o grande dia chegar, será mais do que um retorno: será a afirmação de uma história que nunca deixou de brilhar.
Após uma semana longe do Boulevard 28 de Setembro, a Unidos de Vila Isabel voltou a pisar na rua nesta quarta-feira, 10 de dezembro, para a realização de mais um ensaio de rua em vista do Carnaval 2026. Com Tinga carregado nos braços ao final do ensaio, em uma noite muito potente do intérprete, a escola do Bairro de Noel demonstrou uma evolução tranquila e fluida ao longo do treino desta noite, além de os componentes estarem com o samba de cor e salteado, mantendo a boa performance dos últimos ensaios. A Vila Isabel homenageia Heitor dos Prazeres no Carnaval 2026, com o enredo “Macumbembê Samborembá – Sonhei que um sambista sonhou a África”, onde cantará a vida e a obra do sambista e multiartista que foi fundamental para o surgimento das escolas de samba.
Comandada por Alex Neoral e Márcio Jahú, a comissão de frente da Vila se apresentou com uma coreografia com bastante movimentos que remetiam a religiões de matriz africana em geral, marcando bem a relação com a religiosidade de Heitor dos Prazeres e com suas origens. A apresentação também contou com passos bem firmes, movimentos rápidos, e o elenco se dividindo em dois a partir do refrão do meio, em uma proposta interessante quando a outra metade fica observando como “responsáveis” do grupo que se apresenta, para depois trocarem, e por fim se unirem, chamando bem a atenção de forma positiva.
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA
Raphael e Dandara realizaram, de frente à simulação da cabine, uma coreografia bem tradicional e bastante suave, bem sincronizada e unitiva entre eles, com movimentos clássicos nos giros e no cortejo realizado por Raphael a Dandara, além de contar com alguns gestos e movimentos descritivos em alguns momentos, em especial os que remetem à cultura e à religiosidade afro-brasileira, como no próprio refrão do samba, em que ambos demonstram passos e gestos de Oxum e Xangô, que encerraram demonstrando muita força também nesta parte final do bailado do casal.
SAMBA E HARMONIA
Levantado nos braços pelos componentes e torcedores da escola ao final do ensaio, Tinga defendeu mais uma vez muito bem o samba da Vila, mostrando o total domínio da obra, conseguindo levar a comunidade a cantar muito bem junto a ele, e ao carro de som, que também está bem afinado ao cantor, todos sob a direção de Douglas Rodrigues. O samba a cada semana prova seu valor com o canto forte do Povo de Noel, que não deixou a obra cair em nenhum momento durante esta noite.
Tinga falou com o CARNAVALESCO ao final do ensaio, destacando a alegria do torcedor da Vila com o samba e a expectativa para o próximo carnaval.
“Tudo maravilhoso, estamos felizes demais, e preparados para esse carnaval lindo que vai ser o da Vila Isabel. O mais importante é que a comunidade está feliz, cantando com alegria e muito forte. Vamos em busca desse sonho tão sonhado título”, disse.
EVOLUÇÃO
O Boulevard foi palco de uma evolução muito fluida da agremiação. Durante todo o treino a escola passou sem atropelos ou correria, mas também sem longas paradas, com os componentes vibrando a cada momento, se movimentando bem soltos nas alas, e demonstrando muita segurança com o samba da escola. Moisés Carvalho, diretor de Carnaval, fez um balanço da evolução da Vila ao longo dos últimos ensaios, que enxerga de uma forma muito positiva, e reforça que a Vila busca sempre se fortalecer para o dia dos desfiles do Grupo Especial, com os ensaios de rua.
“Saldo positivíssimo, a gente vem fazendo o nosso trabalho incansável de canto, de evolução. Quando não tem 28, vamos para a quadra. A Harmonia está trabalhando incansavelmente para fortalecer o canto e a evolução da escola, que é uma marca da Vila Isabel. E voltar para 28 é sempre um arrepio, acho que a comunidade está de parabéns, também todo mundo que vem prestigiar o nosso ensaio e todos os segmentos. Fechamos o ano dia 17, com chave de ouro, e visando, em janeiro, entrar novamente com o pé firme na 28, atrás do campeonato”, declarou.
OUTROS DESTAQUES
O presidente da Liesa, Gabriel David, acompanhou o ensaio de rua da Vila, cumprimentando o Povo do Samba antes do início do mesmo, entre o esquenta e a arrancada da escola. A bateria de Mestre Macaco Branco também seguiu com seu nível de excelência e entregou mais um grande ensaio na 28 de Setembro, realizando as bossas pensadas para os ritmistas. A rainha Sabrina Sato não esteve presente no ensaio desta quarta. O ensaio do dia 17, quarta próxima, será o último do ano para a escola, que retomará os mesmos em janeiro.
A União do Parque Acari cantou o seu enredo “Brasiliana”, um tributo ao primeiro grupo de teatro negro do Brasil. Com um dos sambas mais bonitos e poéticos do grupo, a escola passou com correção, tendo como destaques o samba e a ótima apresentação de seu casal de mestre-sala e porta-bandeira, pecando no canto falho de seus componentes.
Fotos: S1 Comunicação
A comissão de frente ensaiada por Fábio Batista exibiu componentes com uma bonita vestimenta, com um rei central portando seu cetro. A coreografia foi muito bem executada, vigorosa e limpa. O casal Renan Oliveira e Amanda Poblete teve um excelente desempenho. Amanda, de volta à Sapucaí como primeira porta-bandeira após ausência em 2025, mostrou um bailado encantador, exuberante e leve. Renan a acompanhou com muita elegância.
Com um samba de muita beleza, mas pouco explosivo, o canto foi irregular por parte dos componentes. Nem o refrão de cabeça sustentou o canto na totalidade das alas. Em alguns momentos o canto foi mais satisfatório; em outras alas, havia componentes calados. A Acari veio com um pequeno contingente e passou com rapidez pela pista, mas sem correria, conseguindo manter organização entre suas alas. O samba mostrou sua beleza, com um desempenho correto de Leozinho Nunes e Tainara Martins. A bateria dos mestres Daniel Silva e Erik Castro imprimiu um bom ritmo e bossas bem precisas, dando um bom “molho” ao samba.
O Império Serrano pisou na pista homenageando Conceição Evaristo. A escola desfilará no sábado de carnaval com o enredo “Ponciá Evaristo, Flor do Mulungu”. A agremiação da Serrinha mostrou toda a sua competência de chão, de fundamentos e de canto em um belo minidesfile, à altura da homenageada Conceição Evaristo.
A comissão comandada por Marlon Cruz trouxe uma interpretação de Conceição como destaque principal, com outras 13 mulheres com vestimentas fazendo alusão a livros e escritas. Uma coreografia simples, porém bem executada. A parte final da apresentação, com Conceição recebendo um grande livro com a bandeira do Império na capa, foi bem pensada e deu um ápice maior para a apresentação.
O casal Matheus Machado e Maura Luiza realizou uma apresentação com coreografia mais solta, com alguns problemas de sincronismo na realização dos movimentos, mas com bastante energia. Uma apresentação regular.
A comunidade imperiana não costuma falhar quando o assunto é canto, e mais uma vez cumpriu o quesito com correção. Apesar de não ter sido um canto avassalador, a maior parte das alas levou bem o samba no gogó. A reta final da segunda parte combinada com o refrão principal levantou o canto da escola. A evolução foi um pouco irregular, com os componentes acelerando no início e depois alternando com momentos em que a escola ficava parada. As últimas alas evoluíram com uma constância maior. Na parte final da pista, o Império abriu um buraco entre passistas e a bateria.
O bonito samba obteve um bom rendimento, realçando suas qualidades poéticas. Vitor Cunha e seus apoios defenderam o samba com competência, acompanhados de uma precisa bateria comandada pelo mestre Sopinha. O bom refrão principal mostrou força.
Apresentando um bom número de componentes, a Unidos de Bangu foi a sexta escola a se apresentar na Cidade do Samba. Com um samba que tem sido bastante elogiado neste pré-carnaval, a Bangu poderia ter ido melhor com seus intérpretes principais, mas ainda assim conseguiu chamar a atenção do público já muito presente naquele momento. Os componentes da comissão de frente da Bangu, comandados pelo coreógrafo Fábio Costa, em homenagem a Leci Brandão, não podiam fazer diferente e vieram de sambistas, trazendo também um pouco do clima de gafieira para a Cidade do Samba. As roupas estavam nas cores da escola, e a apresentação foi muito focada na dança, o que trouxe um frescor para o início do desfile e produziu um bonito efeito visual, mesmo sem grandes efeitos ou surpresas.
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Leonardo Moreira e Bárbara Moura, mostrou intensidade e movimentos com bom grau de dificuldade, indo bem, com giradas intensas da porta-bandeira e se procurando, preferindo o estilo mais tradicional de dança de casal, mas fazendo uma coreografia com passo de dança para o orixá “batendo cabeça” no refrão principal, no “Ogunhê, meu pai Ogum”. Apenas em um momento houve um pequeno desencontro na segunda do samba, mas nada que tenha maculado a boa apresentação da dupla. Na frente da escola, as baianas vieram com uma fantasia tendo o tecido “fazenda” entre o branco tradicional e o vermelho. O tripé do início do desfile representava a favela e os barzinhos onde o samba floresce, nas cores verde e rosa, escola do coração de Leci, a Estação Primeira de Mangueira.
Sem os intérpretes Fredy Vianna — presente no minidesfile de São Paulo com a Mancha Verde — e Pipa Brasey, apesar do esforço do time de vozes que tinha, entre outros, os experientes Sandro Motta e Ronaldo Ylê, o desempenho ficou abaixo do que obviamente seria esperado com a dupla, ou ao menos com um dos dois intérpretes presentes. Mas, ainda assim, a ótima obra mexeu com o público e com quem desfilava. A escola apresentou um canto irregular no início, mas que cresceu à medida que avançava pela pista. Destaque para o refrão principal e para o trecho logo adiante, pela ótima resolução melódica: “Chama o morro do Pau da Bandeira”. A bateria Caldeirão da Zona Oeste, de mestre Dinho, homenageou a coirmã Mangueira com uma bossa representando o surdo de primeira da Verde e Rosa no trecho do samba que citava a escola. No refrão de baixo, também havia o toque para o orixá.
A escola pareceu um pouco grande, mas evoluiu bem, sem apresentar buracos ou grandes espaçamentos, com fluidez e espontaneidade. A rainha Camila Prins estava toda brilhosa, cheia de joias que tinham brilho quase próprio; fantasia bem rica, chamando atenção e mostrando samba no pé e simpatia. Em 2026, com o enredo “As coisas que mamãe me ensinou”, a Unidos de Bangu será a quarta escola a pisar na Sapucaí na primeira noite de desfiles da Série Ouro.
A Unidos da Ponte foi a quinta escola a se apresentar e, mesmo sem ter Thiago Brito em São Paulo também para o minidesfile, a agremiação viu seu carro de som aumentar o rendimento do samba e ajudar a escola a fazer uma boa apresentação. Thiaguinho e Jéssica, primeiro casal da Ponte, mostraram muita desenvoltura e impressionaram quem assistia. Os componentes da comissão de frente da Ponte, comandados pela coreógrafa Juliana Frathane, trouxeram o ritmo homenageado no enredo. Os “funkeiros” mandaram diversos passinhos, com leques na mão e bonés com luz de LED.
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Thiaguinho Mendonça e Jéssica Ferreira, saiu do lugar-comum que seria, para um enredo como esse, trazer diversos passinhos. Ao contrário, muito elegantes na vestimenta azul-marinho, abusaram do bom gosto também na dança. Com muito vigor, intensidade, mas, acima de tudo, postura e técnica, apresentaram-se misturando a dança tradicional com algumas pontuações no samba, como o punho cerrado no trecho “Na força do black onde o negro é rei”, e depois, com muito charme, fizeram passos juntos, com bastante sensualidade, no trecho “tem charme no viaduto”. Na entrada do desfile, teve também um tripé enorme, com muita luz de LED e néon, que trazia o “paredão” dos bailes funk, com as caixas de som empilhadas.
Mesmo sem Thiago Brito, Matheus Gaúcho mostrou bastante valentia levando o samba com o andamento um pouco mais para cima, com a ajuda da bateria “Ritmo Meritiense”, de mestre Juninho e mestre Alex Vieira. Apesar de a obra em si não ter conseguido se destacar, a dupla de intérpretes e todo o carro de som fizeram um trabalho muito bom, mantendo o clima sempre alto e mostrando que houve muito ensaio, com a boa colocação de terças e vocalizações no trabalho.
Já o canto da escola poderia ter sido melhor: foi tímido, com poucas alas cantando. Na evolução, a escola mostrou alegria e trouxe, em diversas alas, os passinhos misturados com o samba, que deram um astral legal para o desfile da escola. A rainha Thalita Zampirolli chamou atenção com uma fantasia de muito brilho entre o prateado e o azul. Em 2026, com o enredo “Tamborzão – O Rio é baile! O poder é black!”, a Unidos da Ponte vai encerrar os desfiles do Carnaval da Série Ouro.
Com mais de três décadas de trajetória conjunta sob o pavilhão da Beija-Flor de Nilópolis, Claudinho e Selminha Sorriso se tornaram mais do que um casal de mestre-sala e porta-bandeira: são memória viva, referência estética e elo afetivo entre gerações de torcedores. Para quem cresce acompanhando a escola, é praticamente impossível imaginar a azul e branca sem a presença dos dois na avenida.
“Eles são o casal mais simbólico pra mim, porque eu cresci vendo eles. Já estavam lá quando eu nasci. É muito simbólico acompanhar essa trajetória desde a minha infância”, afirma Yuri Costa, 29 anos, morador de Nilópolis. Segundo ele, o entrosamento construído ao longo desses 30 anos transforma a dança em algo quase indescritível. “É como feijão com arroz, sabe? É impossível imaginar um sem o outro. É um casamento profissional, um casamento de dança”.
Yuri Costa, 29 anos, morador de Nilópolis
O sentimento se repete entre muitos torcedores da Baixada Fluminense, especialmente em Nilópolis, onde a Beija-Flor é mais do que uma escola de samba: é identidade local, senso de comunidade e resistência cultural. Diogo Oliveira Monteiro, de 39 anos, define a experiência como um privilégio. “Para quem é da Baixada, quem é de Nilópolis, sabe o que a Selminha e o Claudinho representam pra gente. Eu não consigo pensar em Beija-Flor sem eles”.
Diogo Oliveira Monteiro, de 39 anos, define a experiência como um privilégio
Diogo diz enxergar no casal a imagem de uma realeza preta em movimento. “Ela vem na avenida representando toda uma comunidade. Quando passa, olha a gente no olho. Está ali por nós. Isso é muito forte.” Ao imaginar um futuro em que Selminha possa ocupar a presidência da escola, ele não hesita: “Seria o auge. Ela tem potencial pra isso”.
Essa presença não se limita ao espetáculo do desfile. Para Vinicius Silva, de 27 anos, designer e torcedor desde a infância, a atuação da dupla na comunidade é tão impactante quanto na Marquês de Sapucaí. “Consegui ver a Selminha de perto em um projeto com a ala mirim da Beija-Flor. A força que ela e o Claudinho têm dentro da comunidade é algo difícil de substituir”.
Vinicius Silva, de 27 anos, designer e torcedor desde a infância
Na avaliação dele, além da excelência técnica, o que sustenta a grandiosidade do casal é a relação de confiança construída ao longo de décadas. “O entender do passo de cada um só no olhar é mágico. A química entre eles é vital. Como torcedor da Beija-Flor, sim, considero o maior casal da história do carnaval”.
Mesmo quando o assunto é inevitável, como a possibilidade de uma despedida da avenida, a fala dos torcedores é atravessada pela certeza de que o vínculo com a escola jamais será rompido. “Um dia vai chegar. Não sei se estou preparado, mas eles não vão deixar de ser Beija-Flor. Vão passar a bandeira pra próxima geração, mas continuarão ao nosso lado”, define Yuri.
Na Beija-Flor, Claudinho e Selminha Sorriso representam mais do que excelência técnica ou longevidade na função. Eles simbolizam continuidade, compromisso e ligação profunda com o território e sua gente. A cada desfile, reafirmam o papel do casal de mestre-sala e porta-bandeira como guardiões da memória, da identidade e da tradição da escola, não apenas na avenida, mas no cotidiano da comunidade que ajudaram a construir e fortalecer ao longo de décadas, e, com isso, são devidamente reconhecidos, valorizados e aclamados.
A Liga RJ e o Centro Universitário Celso Lisboa realizaram, no último sábado, 6 de dezembro, durante o Esquenta Carnaval, a entrega de bolsas 100% integrais de graduação e pós-graduação para mestres de bateria da Série Ouro. A iniciativa inédita marca o início de uma agenda permanente de formação e desenvolvimento para profissionais do carnaval carioca.
As bolsas contemplam mestres que, ao longo dos anos, dedicam suas trajetórias à construção artística e cultural das escolas de samba, mas que raramente estiveram no centro das políticas de formação. A entrega na pista de desfiles, em meio ao evento, simbolizou o reconhecimento institucional a um grupo fundamental para a cultura e a identidade do carnaval.
Para Diego Carbonell, diretor de sustentabilidade da Liga RJ, o momento foi de forte emoção.
“Já fui ritmista, diretor e mestre. Conheço a luta e a dedicação desse segmento, que por muitos anos ficou em segundo plano. Ver esses mestres recebendo uma oportunidade concreta de estudar, sem custo, me emocionou profundamente. É uma reparação simbólica e o primeiro passo de um projeto maior que queremos consolidar para transformar vidas por meio da educação”, afirmou.
Segundo o CEO da Celso Lisboa, Felipe Kotait Borba, “a iniciativa marca o início de uma parceria entre as instituições e reforça o compromisso genuíno do Centro Universitário em apoiar a formação dos profissionais do carnaval carioca”. Borba acrescentou que “a parceria ainda está sendo estruturada, mas o futuro desses cinco talentos já está assegurado”.
Entre os contemplados, a mestra Laísa, que recebeu uma bolsa integral para cursar a pós-graduação em Marketing Criativo e Inovação em Negócios, celebrou a oportunidade.
“É muito especial viver esse momento. A gente se entrega ao Carnaval o ano inteiro, e nem sempre imagina que portas como essa possam se abrir. Ter a chance de me qualificar e ampliar meus caminhos profissionais é algo que levo para a vida. É reconhecimento, é incentivo e é, principalmente, possibilidade de futuro”, disse.
A parceria entre Liga RJ e Celso Lisboa seguirá ampliada com novas iniciativas ao longo dos próximos anos, reforçando o compromisso com educação, inclusão e valorização dos profissionais que constroem o carnaval.
Em mais uma segunda-feira, o Paraíso do Tuiuti realizou seu ensaio de rua em São Cristóvão, movimentando o povo ao redor e fazendo um grande treino para a escola. O Quilombo do Samba levará para a Avenida o enredo “Lonã Ifá Lukumi”, sobre a criação e a prática do Ifá cubano entre os escravizados, e depois, ex-escravizados, do país insular. A noite teve como destaque o desempenho de Pixulé e seu entrosamento com toda a parte musical do Tuiuti, o que chamou bastante a atenção, além dos bailados de Vinícius e Rebeca pelas ruas, encantando quem veio prestigiar o ensaio.
Neste dia de Nossa Senhora da Conceição e de Oxum, a comissão de frente do Tuiuti fez uma apresentação especial para louvar Oxum, sem deixar de mostrar o que vem sendo ensaiado. David Lima, responsável pela comissão da escola, comandou o momento no qual, em certo trecho da coreografia, a Senhora da Água Doce assumia o centro junto a um babalaô, sendo louvada pelos bailarinos. O momento foi significativo para a data, na medida certa, sem comprometer a coreografia da agremiação. No geral, a comissão apresentou a mesma base coreográfica do primeiro ensaio de rua, com fortes movimentos de braço, pernas e joelhos, e movimentos afro, repetindo muito bem a dose.
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA
Fotos: Matheus Morais/CARNAVALESCO
Vinícius Antunes e Rebeca Tito passaram bem elegantes pelas ruas de São Cristóvão, mostrando muita graciosidade nos movimentos apresentados nesta segunda-feira. Seguindo a coreografia que vêm mostrando nos ensaios, o casal demonstra cada vez mais confiança e entrosamento, perceptíveis na dança, nos gestos e nos movimentos de ambos, especialmente nos trechos das cabines. O bailado permanece clássico, nos giros e no cortejo, com instantes mais leves ao longo da apresentação.
SAMBA E HARMONIA
Pixulé teve uma grande noite no ensaio do Quilombo do Samba. O intérprete cantou muito bem e com muita força, mantendo o ritmo e a intensidade enquanto durou o treino, demonstrando precisão e domínio da obra “com habilidade”, como ele mesmo costuma dizer. A ala musical da escola, sob os cuidados de Leonardo Bessa, também esteve muito forte e auxiliou perfeitamente a execução e o canto do samba. A comunidade, por sua vez, não parou de cantar durante toda a noite, mostrando estar com o samba na ponta da língua.
EVOLUÇÃO
O Tuiuti teve uma evolução muito tranquila, sem correrias ou atropelos, passando de forma suave pelas ruas de São Cristóvão, mas sem deixar de demonstrar força. Os componentes estavam muito entregues ao enredo, movimentando-se bem dentro das alas. A escola levou também algumas alas coreografadas, algumas com mais movimentos, outras mais simples, mas todas fluíram bem, sem qualquer problema no quesito evolução ao longo do trajeto.
Leandro Azevedo, diretor de carnaval da escola, avaliou o ensaio desta segunda e destacou como o samba vem crescendo e auxiliando a evolução dos componentes.
“O samba está crescendo, a comunidade, a cada dia que passa, cantando mais… A escola está em uma crescente, e é isso que a gente quer. Sempre dá para melhorar uma coisinha ou outra, mas estamos evoluindo, e o mundo do samba está abraçando cada vez mais o samba do Tuiuti. É um samba sempre entre os melhores, encaixou bateria, Pixulé e samba-enredo. Isso significa que estamos no caminho certo para conseguir uma ótima nota em harmonia e evolução. São dois quesitos importantes — não que os outros não sejam —, mas estamos vendo no dia a dia que o Paraíso do Tuiuti tem condição de chegar aos 40 pontos em ambos”.
OUTROS DESTAQUES
A bateria do mestre Marcão esteve muito bem também, seguindo firme durante o ensaio. Realizou duas paradinhas com atabaque, nas quais a rainha Mayara Lima fez toda a diferença, sambando no ritmo da obra, participando de uma das bossas e apresentando os ritmistas da “SuperSom”.