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Guanayra Firmino, a presidente dos crias! Gestora da Mangueira promete grande desfile no Carnaval 2025

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O CARNAVALESCO entrevistou a Guanayra Firmino, presidente da Estação Primeira de Mangueira. Confira abaixo.

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Qual é o balanço que você faz do seu mandato?

“Ninguém me chamou para ser presidente. Eu que quis ser, me candidatei. O que mais gostei de fazer é esse trabalho com a comunidade, com os crias, de colocar as pessoas da casa mesmo nos lugares-chave, com competência, como sempre digo. Isso mexe comigo, acho que é um acerto. Tem outros acertos também, mas se eu quiser frisar uma coisa, para mim é isso: essas pessoas da casa, que a gente apelida de cria. Nasceram no morro. Uns eu vi na barriga da mãe, amigos dos meus filhos, que eu sabia que tinham competência, mas alguns não tinham ocupado ainda esses postos. Ajudaram a escola nesses três anos a evoluir em muitas coisas, e acho isso muito legal”.

O que você gostaria de fazer que ainda não deu tempo?

“Tem muita coisa, muita coisa. Para o carnaval, acho que estou fazendo o que tenho que fazer. Falta o título, e estamos trabalhando para que ele venha agora, com vontade e força. Agora, em infraestrutura, tem algumas coisas que gostaria de fazer aqui no barracão e na quadra, que não deu tempo. A obra na quadra seria uma expansão, mas não há espaço em volta. Ali precisa de reparos, por exemplo: fiz o chão, mas terá que ser refeito. Climatizar aqueles camarotes, recuperar a climatização do salão VIP, porque os ar-condicionados já estão ruins há seis anos. Tirei de vez, não consegui colocar financeiramente, porque estou focando mais no custo do carnaval. Alugo climatizadores aos sábados, mas está sendo mais barato. Temos que melhorar o centro de memória e o auditório”.

Como está a questão financeira da Mangueira?

“O nosso projeto para o desfile está sendo executado 100%. Fico chateada quando dizem: ‘O carnaval foi assim porque a Mangueira não tem dinheiro’. A Mangueira sempre gastou. Às vezes, o que não dá certo não é por falta de dinheiro, é porque deu errado ali, alguém errou, mas não falta investimento. Não faltou nos dois anos. Os carnavalescos estão aí e podem confirmar. Não deu, não rolou. Agora, não interessa mais o motivo. É complicado ter um projeto e ter que cortar algo, mas se não há recursos totais, não dá”.

A Mangueira tem pessoas que apoiam o carnaval financeiramente?

“Busco recursos. O Sidney (França) está aí e não me deixa mentir: não falta recurso. São amigos meus que ajudam a escola. Apoiadores, a quem agradeço muito. O Quaquá (prefeito de Maricá) começou isso, ele me incentivou a assumir. Os amigos abrem caminhos, mas não chegam a ser patronos da Mangueira, porque a escola não se permite ter patrono. Quaquá e Freixo nunca tiveram essa intenção. Quaquá é mangueirense. Só fui descobrir quando o conheci. Freixo já sabia há muito tempo. Só tenho gratidão aos dois por abrirem portas para a Mangueira”.

Você gostou de ser presidente da Mangueira?

“Costumo dizer que estou aqui, do lado daquela cadeira, há 12 anos. Fui braço direito do Chiquinho. Ele dizia que eu era o braço direito e esquerdo. E vice-presidente do Elias, também braço direito dele. Para mim, foi natural assumir a presidência. Mas gosto, gosto do que faço. Primeiro, porque gosto de gestão. Trabalho com isso há anos. E gerir a minha escola do coração, imagina como é”.

Você é tipo xerife no comando?

“Às vezes preciso ser. Mas, às vezes, sou mãezona. Por isso falam ‘Guanayra mãe’, mas aqui dentro é uma família. Trabalho com maioria que conheço há anos, é família. Família briga, se abraça, se beija”.

O enredo de 2025 mexeu com você?

“Mexeu comigo desde o dia em que foi apresentado. O Sidney me mostrou três propostas, mas ele queria essa. As outras nem lembro. Esse mexeu muito. E a cada dia, desde o lançamento, conversando com os pesquisadores, mexe mais. É a vida dos meus ancestrais até a vida dos meus netos hoje. Estamos muito mexidos com esse enredo”.

O que esperar do desfile de 2025?

“Acho o abre-alas maravilhoso. Vai causar. É um desfile para emocionar e com técnica. A Mangueira sempre emociona. Viemos tentando trabalhar mais a parte técnica. A comissão de frente vai emocionar muito mais do que no ensaio técnico. Nossa comissão é babado. Estamos aí para emocionar com técnica”.

Você tem noção de que tem a melhor ala musical do carnaval?

“Já confiava. Não vou dizer que sabia, mas achava que seria assim, porque conheço a qualidade do Vitor Art e do Digão. Fiz o casamento perfeito, mas o trabalho deles combina com o do Hudson (Taranta Neto) e do Rodrigo (Explosão). Os quatro vêm juntos desde pequenos na Mangueira. Uma hora um canta, outra toca cavaquinho, e deu nisso”.

O Dowglas Diniz e o Marquinho Art estão muito bem no carro de som. Qual sua análise?

“O Marquinhos foi um achado meu. Eu que trouxe ele para o Chiquinho. O Dowglas era um garoto de casa que eu observava há tempo. Quando tive a oportunidade, chamei. Não esqueço: ele estava assustado. Perguntou: ‘O que foi, madrinha?’. Quando o convidei, chorou muito ali naquela cadeira”.

Vai-Vai mostra ousadia no desfile e quase vê o tempo estourar

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O sonho de todo o sambista paulistano aconteceu: Ter a experiência de ver o Vai-Vai com toda a sua torcida pela manhã. No momento em que o locutor anunciou o nome da escola, as bandeiras se agitaram desenfreadamente, dando um belo contraste no amanhecer do Anhembi. No ensaio, os componentes demonstraram a força da comunidade e a garra do canto. A bateria “Pegada de Macaco” e o carro de som comandado pelo cantor Luiz Felipe também foram destaques no ensaio do Bixiga. Entretanto, houve falhas na evolução, pois o cálculo do tempo somado ao andamento não foi correto e a escola acabou acelerando os passos, somente ao final da passarela chegou a correr, causando a variação de velocidade. Um desfile ousado e criativo, mas os erros em evolução podem tirar décimos importantes na apuração.

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Comissão de frente

A ala, coreografada pelo estreante Sérgio Cardoso, apostou nas maiores ousadias de encenações. Zé Celso era um artista que não via problemas em nada. Sendo assim, a comissão de frente fez de tudo para homenagear da melhor forma possível. Houve mulheres com seios de fora e o próprio ator fazia uma encenação que mostrava a parte traseira.

O tripé, que representava o Teatro Oficina, merece um destaque especial. Além de muito parecido com a meca do teatro, também tinha um visual bastante agradável.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal Renatinho e Fabíola, com a fantasia de “Exu-Baco: Uma força de caos e desordem”, em análise no segundo módulo, foi observado um desfile satisfatório da dulpa. Eles inovaram e fizeram a coreografia dentro do samba em frente à cabine, não sendo nada burocráticos.

Enredo

A ideia do Vai-Vai foi de homenagear um dos maiores dramaturgos que já pisou em solo brasileiro. José Celso Martínez é devorado na primeira alegoria, onde Exus são convidados a fazerem isso com ele, pedindo licença para o ‘Exu das artes’. Conseguiu realizar de forma satisfatória a projeção feita na pista.

Alegorias

O primeiro carro da escola representou “No Banquete de Baco, a Saracura Devora Zé Celso, O Louco, Criador das Artes nas Macumbas Paulistanas” O Vai-Vai sempre desfila com uma coroa em seu abre-alas. Afinal, é o símbolo do pavilhão da escola. Ela sempre vem preta, dourada ou iluminada. Porém, desta vez ela foi toda enfeitada com flores e investimento de luzes.

A segunda alegoria simbolizou “O Mundo Louco de um Eterno Sonhador… Liberdade de Ser e Pensa” – Uma ideia lúdica, mas que nesse houve a falha na pintura, deixando rastros de sujeira dentro da própria alegoria.

O terceiro carro foi à pista como “Flores para Cacilda: Beleza e Potência do Amor no Teatro e na Vida”, explanar sobre Cacilda Becker, o grande amor de sua vida, apesar de ter se autodenominado um homem bissexual.

A alegoria que fechou os desfiles, mostrou “o raiar de um novo dia, apoteose no Bixiga” – Realmente era uma festa colorida no Vai-Vai, com uma escultura de Zé Celso no centro.

O Vai-Vai colocou em prática alegorias de fácil leitura, mas pequenas falhas de acabamento pode prejudicar o quesito.

Fantasias

O Vai-Vai entregou uma estética diferenciada no desfile. Não foi nada de luxo, mas estava tudo bem acabado. Por ser um tema teatral, a escola apostou em uma característica diferente do habitual: Fantasias simples e investimentos em maquiagens, dando um ar de peça ou de filme na pista. Assim, dá para perceber que há um toque de Sidnei França por todo o contexto plástico.

Seres bacanais com uma ala apenas de pessoas saindo com os seios de fora. Uma identidade visual bem diferente do que vimos costumeiramente.

Samba-enredo

O intérprete Luiz Felipe com maestria. Ele também embala a comunidade a todo o momento com palavras de incentivo, além de cantar muito. Desde 2023 até aqui, Luiz coleciona boas atuações e caminha para ficar muito tempo dentro do Vai-Vai.

A ala musical com outros nomes e o entrosamento com várias bossas da “Pegada de Macaco”, dialogando com os mestres Tadeu e Beto.

Evolução

Foi um quesito problemático para a escola. Em dado momento, quando as lideranças notaram que não daria tempo de passar no tempo de 65 minutos, começou a acelerar os componentes na dança e, após, a corrida.

Outros destaques

A bateria “Pegada de Macaco”, de mestre Tadeu e Beto, está cada vez melhor e voltando a figurar entre as principais de São Paulo. As variedades bossas foram destaques, principalmente no refrão principal.

A rainha de bateria Madu Fraga desfilou com uma fantasia inteiramente de laranja com detalhes em vermelho no costeiro. A dona da batucada também segurava um tridente, sambando muito no pé a avenida toda. Luciana Gimenez, madrinha de bateria, cruzou a passarela com um costeiro todo preto.

Coreógrafos destacam enredo afro-brasileiro e inovações na Comissão de Frente da Mangueira

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Comissão de frente da Mangueira Foto: Carnavalesco

Em entrevista ao CARNAVALESCO, a dupla de coreógrafos Lucas Maciel e Karina Dias falou sobre o trabalho da Comissão de Frente e a relevância de um enredo marcado pela brasilidade e representatividade.

“Este enredo tem um simbolismo muito forte. Acredito que, neste ano em especial, ele é extremamente significativo, tanto para a comunidade quanto para a visibilidade das pessoas afro-brasileiras. O Sidnei [França] acertou em cheio, e estamos empenhados em traduzir essa homenagem e respeito na Comissão de Frente. Essa parceria tem um valor imensurável para nós!”, destacou Lucas.

Karina reforçou o sentimento: “É uma grande responsabilidade representar um enredo que espelha toda uma comunidade e essa nação que é a Mangueira. Apesar do desafio, está sendo uma experiência incrível!”

Os dois também enfatizaram a sinergia com o carnavalesco Sidnei França, que recentemente se mudou de São Paulo para comandar o carnaval da escola. “O Sidnei tem contribuído muito! O enredo que ele propõe traz uma narrativa potente, e a partir dela trocamos ideias, combinamos visões e vamos montando esse quebra-cabeça”, explicou Karina.

Lucas complementou: “O processo é contínuo. Muita gente não imagina, mas o trabalho começa logo após o carnaval anterior, quando já temos um novo enredo em mente. As conversas se iniciam cedo, e tudo vai sendo construído com calma ao longo do ano.”

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Coreógrafos da comissão de frente da Mangueira Lucas Maciel e Karina Dias Foto: Divulgação / Mangueira

Inovações técnicas e impacto visual

Questionado sobre tendências, Lucas destacou o papel da iluminação cênica, que ganha espaço nas comissões de frente: “Tenho certeza de que a iluminação veio para ficar. Ela agrega ao espetáculo, então não faria sentido abrir mão de um recurso que só traz diferencial!”

Karina citou ainda o uso de tripés como elemento-chave nas apresentações: “As estruturas de tripé e a iluminação dão um peso visual enorme ao espetáculo. Com certeza, serão recursos essenciais na nossa comissão este ano!”

A dupla encerrou reforçando o compromisso de honrar a tradição da Mangueira enquanto incorporam modernidade à celebração. “É sobre unir raízes e futuro, e isso é o que o carnaval faz melhor”, concluiu Lucas.

Início arrebatador chama atenção no retorno da Estrela do Terceiro Milênio ao Especial

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Esquenta, comissão de frente, casal de mestre-sala e porta-bandeira… o início do desfile da Estrela do Terceiro Milênio, retornando ao Grupo Especial em 2025 e sendo a sexta a desfilar no sábado de carnaval (01 de março), foi bastante impactante. A escola conseguiu manter o bom nível em diversos quesitos durante a apresentação do enredo “Muito além do Arco-Íris – Tire o Preconceito do caminho que nós vamos passar com o Amor”, desenvolvido pelo carnavalesco Murilo Lobo. Toda a exibição teve 63 minutos de duração.

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Comissão de Frente

Coreografada por Régis Santos, o segmento tinha, basicamente, dois grupos: um formado por homens e mulheres hipócritas e outro com um elenco cheio de pessoas representando a comunidade LGBTQIA+. Os hipócritas realizavam movimentos corporais e de mão bastante rápidos para subjugar o diverso, até que, quando uma fumaça era solta, aparecia o personagem intitulado “O Verdadeiro Discípulo do Mestre”, que salvava os integrantes da minoria e ainda transformava os dois grupos em algo harmonioso. Não por acaso, o integrante em tinha cabelos mais longos e roupas brancas, guardando certa semelhança com Jesus Cristo. Em muitos momentos, o segmento era aplaudido pelas arquibancadas.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

De excelente desempenho ao longo do ciclo carnavalesco, Arthur Santos e Waleska Gomes novamente tiveram um desempenho deslumbrante na passarela. Com as fantasias intituladas “A Beleza da Diversidade das Cores em Harmonia”, ambos estavam majoritariamente de azul com alguns detalhes nas cores do arco-íris. Ao contrário do que acontece em relação a estratégia de outras escolas, a Milênio deu bastante espaço para que a dupla dançasse – e ambos aproveitaram cada centímetro concedido, com uma grande profusão de giros, todas as obrigatoriedades cumpridas e uma simpatia ímpar na beleza do pavilhão. Vale destacar o jogo de pés de Arthur, que aproveitou para sambar bastante; Waleska teve na sustentação firme do pavilhão o seu grande positivo.

Enredo

O enredo da Estrela do Terceiro Milênio, para alguns, é considerado como uma exaltação à cultura LGBTQIA+. Para compreendê-lo por inteiro, é necessário ir mais além: o que a escola do Grajaú se propôs mostrar no desfile é a quebra de qualquer tipo de preconceito amoroso, o autorreconhecimento e a liberdade para viver o amor em toda e qualquer forma possível e existente. E, para contar tal história, é claro que é necessário relembrar um tristíssimo fato: 40% das mortes de membros da comunidade LGBTQIA+ em todo o planeta acontecem no Brasil. Por isso, a agremiação, após um início com mensagens positivas (com títulos de setores como “As tribos, a beleza de ser diferente” e “A beleza da diversidade das cores em harmonia”) depois de uma comissão de frente impactante, mergulha em mazelas e preconceitos – como o bullying e a fé cega. Mais para o final da exibição, a agremiação ironizou alguns estereótipos com os quais a comunidade LGBTQIA+ costuma sofrer antes de propor uma imensa celebração, com casamentos homoafetivos e o carnaval de rua.

Alegorias

Com dois chassis acoplados, o abre-alas, “O Mar da Hipocrisia”, trazia uma caravela – que, tal qual fala o samba-enredo, mostrava que a hipocrisia com relação ao modo de amar alheio chegou nos “tempos de Cabral”, em referência à chegada dos portugueses ao Brasil. A segunda parte do carro, “O Inferno da Condenação”, novamente dava mostras do teor crítico de alguns dos primeiros setores do desfile – com direito a algumas chamas produzidas com movimentações especiais, embora a primeira das três cúpulas não estivesse funcionando. A segunda alegoria, “Stonewall, a Saída dos Armários, As Paradas e a Noite LGBT+”, exibia o visual da diversão ligada a grupos minoritários – com especial destaque para o histórico bar de Lower Manhattan, em New York, em que diversos membros da comunidade LGBTQIA+ se revoltaram contra abusos policiais. O terceiro carro, “A Comunidade Nas Artes”, é quase que autoexplicativo e conta a importância de gays, lésbicas, transsexuais e representantes de outras minorias para a diversão e compreensão do planeta. Por fim, em uma verdadeira ode carnavalesca, aparece a última alegoria: com o nome “Salve a Mangueira, os Bailes Gays e as Estrelas do Nosso Carnaval”, a folia de Momo é exaltada – em especial a verde e rosa carioca, que defendeu Leci Brandão de um caso de homofobia em 1978.

Fantasias

Apesar de ser quase desnecessário dizer, é importante destacar a profusão de cores no desfile da Estrela do Terceiro Milênio. Se alguns poucos espaços tinham a cor preta, simbolizando alguma mazela social e/ou preconceito, em boa parte da exibição o que se viu foi a mais pura simbiose cromática possível. Grande parte das fantasias, por sinal, tinha uma leitura bastante simples: a Ala 6, “Os Movimentos Irmãos”, por exemplo, tinha referências dos hippies, das feministas e dos movimentos de poder ao povo preto. Vale destacar, também, que a maioria das indumentárias possuía costeiro alto, dando bastante volume. Mas, é claro, é necessário dar visibilidade a uma fantasia que ganhou notícias Brasil agora: a da bateria. Intitulada “O mais colorido ‘Carnavalesco'”, os ritmistas homenagearam Milton Cunha, profissional do carnaval que ganhou fama comentando os desfiles de escolas de samba na Rede Globo e que conta abertamente casos ligados à forma de amar que possui. Como ponto de atenção, uma integrante logo da primeira ala teve uma queda no costeiro bem à direita, bastante aparente para os jurados que ficam nos segundo e quarto módulos.

Harmonia

Conhecida por ser uma das comunidades que mais canta e mais presentes no Anhembi mesmo com os mais de de quarenta quilômetros que separam a quadra da agremiação no Sambódromo, novamente o canto forte da Coruja ressoou no Anhembi. Foi curioso notar que boa parte dos harmonias presentes no corredor prestava atenção única e exclusivamente no alinhamento de cada componente, já que não era necessário sequer pedir mais canto. Colaboraram para o ótimo nível do canto da instituição a Pegada da Coruja, comandada por mestre Vitor Velloso, com um andamento que aparentou estar pouco mais cadenciado em relação aos ensaios técnicos, e mais uma grande atuação da dupla Grazzi Brasil e Darlan Alves – completando o segundo ciclo completo na escola do Grajaú em grande fase. No esquenta, por sinal, algumas músicas muito identificadas com a comunidade LGBTQIA+ foram executadas – como Dancin’ Days, d’As Frenéticas.

Samba-Enredo

Seria possível, até mesmo, mudar o nome de tal quesito: de “samba-enredo” para “samba-manifesto” – palavra que está presente no refrão de cabeça da canção e norteia toda a ideia desenvolvia para o desfile em geral. Muito bem recebido pelo que representa e também pela qualidade técnica, a obra teve, assim como em toda a série de ensaios técnicos e também no minidesfile da Fábrica do Samba, ótima apresentação por parte de Darlan Alves e Grazzi Brasil. Por sinal, vale destacar a força do verso “Que vá pro inferno a sua moral”, cantando em altíssimo bom por uma das comunidades que mais solta a voz no Sambódromo. A Pegada da Coruja, bateria comandada por mestre Vitor Velloso, também colaborou para o ótimo rendimento da canção com bossas cirurgicamente executadas.

Evolução

Apesar do tema ser facilmente coberto por fantasias mais simples, a agremiação decidiu ter a maioria das indumentárias bastante volumosas, com costeiros que valorizavam a movimentação da comunidade. E não é possível reclamar da dança de nem um desfilante da Estrela do Terceiro Milênio. No quesito, o que pode trazer complicação foi uma consequência da entrada da Pegada da Coruja no recuo: enquanto a movimentação era feita, as alas da frente não paravam de se movimentar – que deixou um clarão bastante evidente em voga.

Outros Destaques

A Pegada da Coruja possuía duas princesas de bateria: Marcella Cavalcanti e Geovanna Pyetra.

“Surpresa atrás de surpresa”: Alex Neoral e Marcio Jahú prometem uma Comissão de Frente com muito movimento e energia

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Coreógrafos Alex Neoral e Marcio Jahú Foto: Divulgação / Vila Isabel

Animados e mais pertencentes a Unidos de Vila Isabel, a dupla de coreógrafos Alex Neoral e Marcio Jahú estão na reta final da preparação para o Carnaval 2025. Este é o terceiro ano em que eles estão no comando na Comissão de Frente pela azul e branca. No histórico, enquanto parceiros, eles foram responsáveis por três comissões da Unidos do Viradouro, inclusive no campeonato de 2020. Para Marcio, a dupla está cada vez mais entrosada com a escola, com Paulo Barros e com os componentes.

“Estar mais um ano na Vila representa a confirmação da nossa parceria com o Paulo Barros, a nossa afinidade com a escola e nosso entrosamento. Esse ano, eu, e acredito que o Alex também, estou sentindo essa comunhão acontecer de fato. A nossa existência nessa vida dentro da escola junto com o Paulo, a direção, a presidência, o barracão, com todos.”, afirmou Jahú.

O clima animado que Paulo Barros e os componentes da Vila estão levando para os ensaios e para a quadra apontam que este ano de 2025 é um ano especial para a agremiação. Alex comentou como esse sentimento chega à Comissão de Frente:

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Os coreógrafos Alex Neoral e Marcio Jahú e o carnavalesco Paulo Barros Foto: Divulgação / Vila Isabel

“O enredo é bem feliz, porque estamos vendo o Paulo bem feliz, bem animado. É tão bom vê-lo assim. Não só ele, como toda comunidade, muitas pessoas estão dizendo que há muito tempo não vê a escola dessa forma. Dá um estímulo para nós pisarmos na Avenida com força, animados.”, disse Neoral.

Nesses anos consecutivos ao lado de Paulo Barros, os coreógrafos apontam a boa troca de ideias e o desafio que é trabalhar com o carnavalesco multicampeão. A presença e o aprendizado são os pontos que Marcio mais destaca dessa relação.

“Nós sempre trabalhamos muito bem juntos. Muita reunião sempre. O Paulo é um carnavalesco muito presente na comissão, no quesito, e nós gostamos disso, dessa troca, dessa cumplicidade. Nós aprendemos muito e acho que ele também aprende um pouco com a gente, espero. Essa troca é o que nos faz crescer, enriquecer e trazer sempre bons trabalhos para a Avenida, em que os dois lados – tanto nós dois quanto o Paulo – concordam com o que estão trazendo para a Avenida.”, comentou o coreógrafo.

Alex Neoral complementa afirmando a genialidade do carnavalesco e as propostas desafiadoras que ele faz para a dupla:

“O Paulo é uma figura muito polêmica. Ele é desses que ou amam ou odeiam e nós temos a sorte de amar o Paulo, com esse jeito que é muito peculiar e particular dos gênios. Como o Marcio falou, aprendemos muito com ele. É uma pessoa com anos de Carnaval. As propostas que ele traz para nós são muito difíceis de executar e nós vamos descobrindo juntos. E cada ano nós estamos melhor!”

A participação da luz cênica da Marquês de Sapucaí se tornou um ponto de expectativa para quem vai assistir aos desfiles. Nesse aspecto, a Vila vai utilizar as luzes para efeito de dramaticidade, mas não fará da iluminação uma protagonista. Em compensação, Alex Neoral e Marcio Jahú confirmaram um elemento alegórico maior que a comissão de frente passada.

“Nós não vamos investir tanto nesse lado da iluminação. Nós vamos aproveitar o mínimo para dar dramaticidade, mas não será o foco da comissão a iluminação. Vai ter um tripé maior que do ano passado.”, adiantou Neoral.

Sobre o tripé de 2025, Jahú brincou:

“Ano passado, viemos com um tripé pequeninho, esse ano a gente cresceu um pouquinho.”

Um destaque que tem trazido mais carisma e fofura nas apresentações especiais da comissão de frente deste ano é o menino Gael, Personalidade do Ano 2024, pelo CARNAVALESCO. Filho do Mestre Macaco Branco e da musa Dandara Oliveira, ambos da Vila Isabel, Gaelzinho tem sido o elemento surpresa dentro do balé de “gatos pretos” e arranca aplausos com sua desenvoltura. Os coreógrafos concordam que bom trabalhar com esse pequeno sambista.

“O Gael está aqui de novo [no 1º ensaio técnico na Sapucaí]. Nós vamos fazer um repeteco do que fizemos no minidesfile. Foi muito gostoso para gente. Como esse ano nós temos dois ensaios técnicos, queremos resgatar o que vivemos lá. Trazer o Gaelzinho, que é uma celebridade do carnaval hoje, é uma delícia para nós. Desde o ano passado que fizemos comissão com crianças, nós sentimos isso, que tem uma energia muito boa de estar perto delas. Por isso trouxemos ele de volta.”, declarou Marcio Jahú.

Infelizmente, o público não verá o Gaelzinho na comissão de frente oficial.

Já vou adiantar que ele não vem para o oficial. Já fizemos uma comissão com crianças. Embora tenha sido maravilhosa, esse ano não pretendemos trazer de volta.”, afirmou Alex Neoral.

A dupla de coreógrafos elevou as expectativas para o desfile oficial. Com o enredo “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”, Alex e Marcio garantem que trarão uma coreografia com muito movimento, divertida e surpreendente.

“O público pode esperar o que nós sempre gostamos de fazer: uma comissão com muito movimento e muita dança. Nós somos da dança e gostamos de trazer movimento para isso. E é uma coisa que o Paulo gosta. No nosso trabalho, ele enxerga esses aspectos como uma coisa importante para nós e ele sempre propõe coisas que se casam com o que nós gostamos. Então vocês podem esperar muito movimento, muita dança bonita, muita energia boa. Vai ser lindo, vai ser um carnaval bem especial!”, definiu Jahú.

Alex Neoral complementou com promessas de surpresa e irreverência:

“Essa comissão tem muitas novidades, ela não para, é surpresa atrás de surpresa. Nós estamos muito animados com o projeto, com a ideia e com o desfile como um todo. Esse lado de trazer a ideia do medo e da assombração de uma forma mais leve, mais solar, mais irreverente, bem-humorada vai formar um carnaval bem divertido.”

Conjunto visual criativo e comissão de frente expressiva marcam desfile dos Acadêmicos do Tucuruvi

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Os Acadêmicos do Tucuruvi desfilaram neste sábado pelo Grupo Especial de São Paulo no carnaval de 2025. Com uma coreografia expressiva, a comissão de frente se aliou às alegorias e fantasias criativas e de fácil leitura da escola para formar uma grande apresentação visual no desfile encerrado após 63 minutos. A comunidade da Cantareira foi a quinta a se apresentar com o enredo “Assojaba – A busca pelo manto”, assinado pelos carnavalescos Dione Leite e Nícolas Gonçalves.

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Comissão de Frente

Coreografada por Renan Banov, a comissão de frente do Tucuruvi foi intitulada “Manto Sagrado” e se apresentou ao longo de três passagens do samba. A coreografia centrou na temática da abertura do desfile, se aproveitando da ambientação astral para representar a relação do manto com o povo tupinambá e os seres astrais de suas crenças. Se destacou na dança dos integrantes a caracterização dos componentes, com maquiagens realistas nos atores que representavam animais e no protagonista, o Manto Tupinambá personificado, cuja caracterização fez referência direta à ave guará, da qual as penas eram usadas para confeccionar a vestimenta. O uso do elemento alegórico foi interessante, no momento em que os tupinambás subiam na estrutura que representou a confecção do manto. No chão, a interação do protagonista com os seres astrais foi bela, mas o momento solo do manto, em que ele sente as dores de seu povo, foi a parte mais impactante de toda a coreografia. Uma maneira positiva de abrir as apresentações da escola.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal do Tucuruvi, formado por Luan Caliel e Beatriz Teixeira, se apresentou representando “Filtros dos Sonhos”. A dupla esteve em grande noite, performando na Avenida todos os elementos obrigatórios do quesito com elegância e sincronia. Luan conduz Beatriz com genialidade, fazendo da apresentação do quesito um espetáculo à parte no desfile. A coreografia dentro do desfile foi outro fator positivo da apresentação do casal.

Enredo

O enredo do Tucuruvi contou na Avenida a história do Manto Tupinambá, vestimenta ritualística deste povo originário cujas peças remanescentes estavam espalhadas por museus do mundo todo e havia uma demanda de anos pelo seu retorno. Alguns meses após a escolha do enredo, um museu da Dinamarca concedeu ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro, para seu novo acervo. Mas mais que o retorno físico, a “Busca pelo Manto” proposta pela escola envolve o reconhecimento da existência dos tupinambás em território brasileiro muito antes da chegada dos colonizadores. É um resgate do orgulho desse povo, que através do manto pode provar e propagar em uma escala maior suas histórias e cultura.

Na Avenida, o desfile trouxe uma versão personificada do manto contando sua história a partir da cosmologia tupinambá. Através de seus sonhos, a vestimenta apresenta os seres astrais, que não tem uma definição física pelos originários, mas que a escola procurou dar um significado visual atrelado a elementos da natureza. O manto contou sobre seu processo de confecção, com matérias-primas exóticas e falou sobre os rituais nos quais esteve envolvido. A parte final do desfile mostra o “pesadelo” do manto, que cobiçado pelos europeus como um artigo de luxo para presentear nobres, foi levado de sua terra à custa do sangue de seus criadores. Por fim, o manto tupinambá clama pelo seu retorno, e em meio a realização de seu sonho, outros objetos espalhados pelo mundo partem nessa jornada para voltar ao Brasil.

A ambientação gerada pela divisão dos setores do desfile permitiu uma imersão que favoreceu a leitura do conjunto visual dentro da proposta da letra do samba. Mesmo com uma complexidade acima da média, o enredo foi bem claro na Avenida principalmente na interpretação das fantasias, fazendo do quesito mais um elemento positivo para a escola.

Alegorias

O Tucuruvi apresentou um conjunto alegórico formado por quatro carros e dois tripés. O primeiro elemento, um Pede-Passagem, foi chamado de “Portal dos Sonhos”, que conduziu a narrativa para mundo de sonhos em que o Manto Tupinambá personificado conta a sua história. O Abre-alas, chamado “O Sonho do Manto”, apresentou a cosmologia tupinambá, com seres astrais caracterizados como animais da floresta em uma estética inspirada em constelações. O segundo tripé, em meio a uma ala de ação justificada chamada “O Trançado Jereré”, é uma canoa que simbolizou o fato das redes de pesca e o manto partirem de um mesmo princípio de confecção.

A segunda alegoria, de nome “A Feitura do Manto”, representou a sabedoria envolvida no processo de confecção do manto tupinambá, com sua matéria-prima e significado ritualístico. O terceiro carro foi batizado de “Ritual de Ibiparema” e retratou o conflito entre o povo tupinambá e os colonizadores, que cobiçavam o manto para expô-lo em museus na Europa. O desfile foi encerrado com o carro “O Manto”, exaltando o papel da vestimenta como um ancestral vivo, prova material da existência dos tupinambás em terras brasileiras antes da chegada dos europeus, também exaltando outros objetos de povos originários que estão espalhados por museus do mundo todo.

As alegorias do Tucuruvi tiveram uma boa variedade de elementos distintos. O Abre-alas, com esculturas trançadas em fios finos e muitos componentes coreografando de forma ativa, abrilhantaram a apresentação trazendo um estilo de arte inovador, além de uma performance especial na parte da frente, onde uma destaque de chão em dados momentos era caracterizada como uma ave e erguida do chão. O segundo carro trouxe um estilo interessante de visualização em duas metades, sendo uma virada para frente e outra para trás. O terceiro carro contou com caracterizações marcantes em suas esculturas e na bandeira do Brasil, onde se lia “Pindorama” em meio a manchas de sangue. O último carro, que contou com a participação de tupinambás convidados, teve também componentes caracterizados como o manto que ora viravam para o público mostrando mensagens. O conjunto conseguiu cumprir seu papel dentro da narrativa e enriqueceu a marcante parte visual da escola.

Fantasias

As fantasias do Tucuruvi tiveram papel de fio-condutor entre as narrativas das alegorias atreladas à narrativa do samba. Da cosmologia tupinambá, passando pela matéria-prima do manto e seu processo de confecção. Os rituais atrelados ao manto, a usurpação dos europeus e a luta pelo resgate do legado também estiveram presentes na narrativa das alas. O conjunto conseguiu com maestria transmitir a mensagem do enredo e se destacou pela distinção de elementos utilizados e riqueza dentro de algumas alas.

Harmonia

O canto da comunidade da Cantareira se fez presente na Avenida. O bom samba da escola favoreceu o desenvolvimento do coral do Tucuruvi, que se fez notar por toda a Avenida entre as alas que se apresentaram. Destaque especial para a ala “Colete de Penas”, que contou com desfilantes especialmente animados.

Samba-enredo

A obra que conduziu o desfile do Tucuruvi é assinada por Macaco Branco, Prof. Carlos Bebeto, Djalma Santos, Chiquinho Gomes, Dr. Marcelo, Denis Moraes e Marcelo Faria, e na Avenida o samba foi defendido pelo intérprete Hudson Luiz. A letra do samba é de uma criatividade rara, com uma proposta original para o refrão do meio, onde é narrado o processo de confecção do manto tupinambá. A proposta de personificar a vestimenta contribui para que o ouvinte sinta especialmente a empatia com as provações que os povos originários enfrentam do período colonial até os tempos atuais. É um samba de alto nível, digno de ser exemplo para outras agremiações no futuro, que conseguiu narrar o enredo muito bem em conjunto com a parte visual do Tucuruvi sem sacrificar a poesia que a proposta demandou. A condução da obra pela ala musical comandada por Hudson Luiz foi outro fator positivo, com mais uma vez o intérprete tendo um desempenho que o consolida como um dos melhores de São Paulo na atualidade.

Evolução

A evolução do Tucuruvi foi bem correta por toda a Avenida. A fluidez do cortejo esteve constante e o recuo da bateria foi bem-executado. Um princípio de abertura excessiva de espaço à frente do terceiro carro foi observado diante da arquibancada Monumental, mas a direção conseguiu sanar antes que a alegoria pudesse chegar ao segundo módulo. O fechar dos portões após 63 minutos de desfile reforça o bom uso do tempo e desempenho técnico positivo da escola.

Outros destaques

A “Bateria do Zaca” comandada por mestre Serginho teve um bom desempenho no desfile da escola, aplicando bossas criativas dentro da proposta do enredo sobre um povo originário. A rainha Carla Prata, vestida com uma fantasia representando “A Energia do Ritual”, levantou o público com muito samba no pé.

Egbé Iyá Nassô: Comissão de frente da Unidos de Padre Miguel une ancestralidade e tecnologia no retorno ao Grupo Especial

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Comissão de frente da Unidos de Padre Miguel é comandada por Sérgio Lobato Foto: Carnavalesco

A comissão de frente da Unidos de Padre Miguel promete ser uma das grandes atrações do carnaval deste ano, marcando o aguardado retorno da escola da Vila Vintém ao Grupo Especial após 52 anos. O Boi Vermelho trará o enredo “Egbé Iyá Nassô”, idealizado pelos carnavalescos Alexandre Louzada e Lucas Milato, que celebra a trajetória da africana Iyá Nassô e seu legado no Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, o mais antigo em funcionamento do Brasil. Assinada pelo coreógrafo Sergio Lobato, a comissão já vem chamando a atenção pelo capricho das performances apresentadas no minidesfile e no ensaio técnico.

O coreógrafo falou ao CARNAVALESCO sobre o trabalho que vem desenvolvendo na escola da Vila Vintém. “É uma honra, agradeço a todos os Orixás por esse momento que estou vivendo junto com a escola. Poder trazer a minha experiência e aprender com eles tem sido um grande prazer. Nosso objetivo é fazer um grande espetáculo, abrindo os corações e os olhos de todos, para que possam olhar com muito carinho para nós”, declarou.

O coreógrafo revelou ainda que a exibição da comissão de frente foi dividida em três partes. “No minidesfile, apresentei a encenação dos filhos de santo indo à uma festa de Xangô para a entrega do amalá. No ensaio técnico, trouxe os filhos de santo com o amalá, os Orixás, Xangô e a mãe de santo representando Iyá Nassô. Já no desfile oficial, será um outro trabalho, mas dando continuidade à nossa busca de falar da Casa Branca”, explicou.

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Com coreografia de Sergio Lobato, grupo usa tripé e iluminação cênica para celebrar o legado de Iyá Nassô e o Terreiro da Casa Branca Foto: Carnavalesco

Para retratar o Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, Lobato promete utilizar recursos cenográficos como o tripé e a iluminação. Sobre o uso do tripé, Lobato afirma ser a favor desde que o elemento cenográfico tenha fundamento no enredo apresentado. “Eu sou a favor do tripé, mas também respeito quem prefere não utilizá-lo. Acredito que ele precisa ter um fundamento. Para nós, o tripé é uma coxia de teatro. A Sapucaí é uma arena aberta, por isso que, quando precisamos trazer uma surpresa, um elemento novo, um personagem novo, é fundamental ter o nosso carro. Ele compõe o nosso palco”, argumentou. Ele também revelou que o tripé e os figurinos estão sendo pensados pelos carnavalescos da escola em diálogo com a proposta de apresentação do segmento para o desfile oficial.

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Com coreografia de Sergio Lobato, grupo usa tripé e iluminação cênica para celebrar o legado de Iyá Nassô e o Terreiro da Casa Branca Foto: Carnavalesco

Outro elemento confirmado na exibição da comissão de frente da UPM é a iluminação. Pioneiro no uso da iluminação cênica, Lobato foi o responsável pela primeira comissão a apagar as luzes da Sapucaí e utilizar efeitos especiais do tripé, quando estava na Unidos da Tijuca, no carnaval de 2023. Para ele, a experimentação da luz é um recurso que enaltece o espetáculo. “É muito legal que a Rio Carnaval, a Liesa e a Prefeitura nos oportunizem o uso da iluminação, com profissionais maravilhosos que nos apoiam, assim como os iluminadores da escola. A iluminação ajuda a destacar movimentos e cenas, chamando a atenção para o que precisa sobressair no espetáculo”, destacou o profissional, que trabalhou em escolas como São Clemente, Viradouro, Ilha, Portela, Salgueiro e Tijuca, entre outras.

Lobato guarda segredo sobre os detalhes que serão exibidos pela comissão de frente da UPM. A expectativa é grande entre o público e os torcedores da escola da Vila Vintém, já que o carnaval de 2025 marca a volta do Boi Vermelho ao Grupo Especial. “O público pode esperar muita garra, muita energia, faca nos dentes, muito canto e muito espetáculo”, finalizou o coreógrafo.

Voando alto no Anhembi, Gaviões da Fiel realiza o seu melhor desfile e sonha com título

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Os Gaviões da Fiel realizaram o seu melhor desfile após 13 anos, quando na oportunidade fazia um enredo sobre Dubai. Agora, com um tema totalmente diferente, a “Torcida que Samba” mostrou ao público presente no Anhembi uma temática africana, levando máscaras do continente contadas pela divindade Orunmilá. Um desfile ótimo plasticamente, alegorias que se destacaram pelo seu realismo e fantasias com acabamento impecável. Por sinal, uma superação foi enfrentada. A escultura de Xangô, que foi levada pela ventania nesta última semana, foi reconstruída com perfeição. Ernesto Teixeira conduzindo o samba, comissão de frente e casal também foram destaques. Um conjunto de quesitos para colocar a Fiel Torcida na briga pelas primeiras posições. Os Gaviões levaram o enredo “Irin Ajó Emi Ojisé”, assinado pelos carnavalescos Rayner Pereira e Júlio Poloni.

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Comissão de frente

Nomeada como “Me fiz emi caminheiro”, a comissão de frente coreografada por Helena Figueira, teve como personagens “Orunmilá”, “Exu” e “Filhos da Profecia”. Uma coreografia bastante criativa criada pela coreógrafa Helena Figueira. Os bailarinos, com uma criativa fantasia, carregavam cada uma máscara diferente nas mãos e, em determinado momento, em posições sincronizadas, mostravam para o público. O outro personagem, Exu, percorria o tempo todo a pista e o elemento alegórico, mas o ponto alto da dança era quando o integrante de Orunmilá aparecia de dentro da árvore do tripé, se fazendo o caminheiro em andamento aos locais em que vai o enredo vai contar a história.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal Wagner Lima e Carolline Barbosa, juntamente aos seus guardiões, desfilaram com a fantasia “Máscara Kanaga”. A dupla realizou um desempenho de alto nível, assim como fez nos ensaios técnicos. Catol não sentiu o peso da fantasia e executou todos os passos com maestria.

Enredo

O tema “Irin Ajó Emi Ojisé”, assinado pelos carnavalescos Júlio Poloni e Rayner Pereira tinha como objetivo mostrar a viagem de Orunmilá pelo continente africano concedendo máscaras, interagindo e tendo acontecimentos variados com outras entidades, como Nanã, Xangô, Aluvaiá, Exu e Ewá. Para quem estudou sobre o tema, ficou perfeitamente entendido nas alegorias.

Alegorias

O primeiro carro, nomeado “No Pântano de Nanã”, desfilou com o tradicional gavião, símbolo da entidade e, acima, uma escultura gigante da orixá Nanã, fazendo alusão ao encontro de Orunmilá com Nanã dentro do tema.

A segunda alegoria, “No Palácio de Xangô”, teve como principal figura a escultura do próprio orixá no topo do carro. Vale destacar que esse objeto teve que ser totalmente reconstruído, pois foi o mais afetado na ventania de 100 km/h que afetou o Anhembi.

A terceira alegoria, chamada “Exu e Aluvaiá em Ato de Libertação”, levou duas esculturas de dois negros gritando com uma caravala atrás. Aparentemente, dentro do enredo, é quando Orunmilá encontra a África em fúria.

Ewá e a Profecia – Uma alegoria toda marrom, que é a orixá da beleza, fechando todo o ciclo da viagem de Orunmilá

Harmonia

Após tantas tentativas de ajustar o canto, os Gaviões conseguiram e funcionou bastante no desfile. Uma prova disso é o apagão que a bateria “Ritimão”, comandada por mestre Ciro, fez um apagão obrigando a escola a antar alguns versos da obra, principalmente os finais. Um samba que teve certa de dificuldade por suas palavras africanas em sequência, mas a comunidade entrou com vontade e fez valer o quesito.

Fantasias

Um conjunto de ótimo nível foi apresentado no Anhembi pela escola alvinegro. Foi usado ótimos materiais de alto gabarito e todas se destacaram. A escola tinha uma dificuldade de reproduzir o que estava nos pilotos, mas desta vez seguiu fiel.

Samba-enredo

O cantor Ernesto Teixeira, interpretando o seu primeiro samba-enredo afro história, fez um belo trabalho junto à comunidade fiel e a bateria “Ritimião”. A sinergia na hora da bossa vale um destaque especial. Também é gigante o trabalho do diretor musical Rafa do Cavaco, que criou todo o desenho das cordas e guia a todo momento a ala musical no canto, principalmente na ajuda para Ernesto.

Evolução

A comunidade evoluiu de forma satisfatória. Destaque para o movimento que os componentes faziam no refrão levantando os braços, jogando os braços para frente com o balançar do corpo em sintonia. O andamento foi linear, a escola não parou por um longo tempo na pista em nenhum momento, e isso fez com que o tempo fosse satisfatório e sem correria.

Outros destaques

A bateria “Ritimão, vestidos de “Ogãs” realizaram bossas obrigatórias para o jurado avaliar, com destaque para o apagão. Vale citar que eles não pararam para se apresentar para os módulos, como fazem todos os anos.

Rainha de bateria, Sabrina Sato, foi para a pista com um ‘look’ dourado. A artista sempre leva o público ao delírio com a sua presença quando está com a Fiel Torcida. A ala das baianas desfiou vestida de “Máscara Gueledé”. Corinthiana fanática, Alessandra Negrini esteve presente, desfilando ao lado da ala musical.

Mocidade Alegre traz linda estética e conta com grande atuação do casal de mestre-sala e porta-bandeira

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Atual bicampeã do carnaval paulistano, a Mocidade Alegre foi a terceira agremiação a desfilar no sábado de carnaval no Grupo Especial. Esteticamente, a escola do bairro do Limão veio impecavelmente bonita para apresentar o enredo “Quem Não Pode Com Mandinga, Não Carrega Patuá”. Também vale destacar a ótima apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da instituição, Diego Motta e Natália Lago.

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Comissão de frente

Com o nome “Mandinga: o chamado e a consagração dos ancestrais” e coreografada por Jhean Allex, os componentes fizeram uma dança ritualística emulando as bolsas de mandinga – ler mais sobre elas no quesito “Enredo”. Com diversos integrantes fazendo uma coreografia cheia de energia, alguns personagens ganharam destaque: Bexerin (sacerdote islâmico) e uma sacerdotisa vodu parecem comandar os demais. No alto tripé, chamado “Altar da Ancestralidade”, inteiro em tons terrosos e em amarelo (cores que apareceram com muita frequência na exibição), aparecia uma baiana – outra figura bastante presente na exibição. A aparição da baiana, por sinal, era sempre muito apupada pelos torcedores. Vale destacar, entretanto, que pedaços de um pano branco (provavelmente da saia da baiana) podiam ser visto na abóbada dourada do elemento alegórico.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

A jovialidade e o excelente entrosamento de Diego Motta e Natália Lago, novamente, se fez presente. Com cores um pouco mais escuras (dourado e preto), ambos executaram todas as obrigatoriedades nos quesitos em cada um dos módulos com leveza e a simpatia que lhe são característicos. Vale destacar que, no desfile, eles também mostraram uma característica nova: na segunda cabine de julgamento, ambos pareciam estar com ainda mais energia, fazendo com que o pavilhão da Morada girasse com bastante força.

Enredo

Estreando como carnavalesco da Mocidade Alegre, Caio Araújo assumiu um projeto que, quando iniciado, ainda continha a companhia de Jorge Silveira. Contando a história de objetos muito utilizados para simbolizar, professar, cultuar e compartilhar a fé (e a própria cultura de um grupo de pessoas), a divisão da escola foi, antes de mais nada, bastante correta e intuitiva. A Morada do Samba iniciou o próprio desfile na África, ventre da humanidade – como deixa claro o nome do primeiro setor: “África, Terra das macumbas ancestrais”.

No segundo, intitulado “Cruzos e as promessas da doutrina branca”, são contadas histórias ligadas às religiões professadas na Europa na época das Cruzadas e, posteriormente, das Grandes Navegações – como escapulários e medalhas da Agnus Dei e cruzes em geral. Logo depois, um quê de sincretismo entre as duas tradições religiosas surge no setor “Quem não tem balangandã não vai ao Bonfim”, que conta como os nkisi (bolsas sagradas de africanos chegados ao Brasil) empoderaram tais pessoas até a Revolta dos Malês e transformaram a Bahia em um local de sincretismo único no planeta.

No quarto setor, “Fios de ancestralidade e resistência: a força da mandinga”, o momento mais contemporâneo, de liberdade e orgulho religioso é abordado – com exaltação à tolerância entre todos os credos. Praticamente fazendo uma autocitação, o quinto e último setor, “Uma mandinga para a terça-feira” celebra a confluência de saberes religiosos em locais de fé com uma imagem bastante conhecida de quem acompanha o carnaval paulistano: a presidente da escola, Solange Cruz Bichara Rezende, rezando agarrada em diversos itens religiosos a cada apuração – tradicionalmente realizada na terça de carnaval na cidade de São Paulo.

Alegorias

Com um início africano, uma passagem pela Europa cristã e um final de desfile falando de sincretismo religioso (sobretudo na Bahia), a divisão cromática da agremiação era bastante intuitiva. O começo cheio de tons terrosos e remetendo ao solo sagrado africano; o terceiro, com cores mais claras, dando um belo contraste na pista. Por fim, se o sincretismo nada mais é do que a junção/mistura de crenças, nada mais natural que utilizar todas essas cores – com direito a um acréscimo bastante potente do dourado, advindo do material com que se faz inúmeros artefatos religiosos: o ouro.

O abre-alas, “África, Terra das macumbas ancestrais”, contou histórias de Daomé e Mali, sobretudo. Não se deixa enganar pelo nome do segundo carro: os “Altares das Irmandades Negras” falam sobre o sincretismo de religiões afro com as tradições católicas, recriando a fé existente nos mais diversos grupos. Mais focado em uma região específica, “Quem não tem balangandãs não vai ao Bonfim”, a terceira alegoria, descreve a Bahia como uma espécie de paraíso religioso em que o sincretismo é natural – e mais calcado no prateado, com iluminação verde. Por fim, o último carro, “Mandingas para mais uma vitória”, foca na própria história da escola, conhecida pela força e por enredos de cunho afro e religioso – vale destacar, entretanto, que a figura principal utilizada para falar da própria Morada do Samba é a de uma baiana, natural de um local que teve grande influência no carnaval como um todo e, também, no desfile em questão.

É importante destacar que situações pouquíssimas comuns à Mocidade Alegre aconteceram. O segundo carro alegórico, quando se aproximava da segunda cabine de jurados, apagou – e reacendeu cerca de um minuto depois. Já a última alegoria, no final do desfile, sofreu com um apagão do motor – exigindo muito mais merendeiros para empurrá-lo. Por fim, no primeiro tripé, “A riqueza das tradições culturais africanas e o poder mágico das palavras”, era possível ver ao menos uma das rodinhas que davam sustentação ao elemento.

Fantasias

Outra característica história da Mocidade Alegre foi confirmada e respeitada em 2025: o extremo bom gosto no conjunto de fantasias. É bem verdade que boa parte delas abusava dos supracitados tons terrosos e amarelo/dourado, mas nada que deixasse as indumentárias cansativas e/ou repetitivas. Vale destacar, também, o acabamento quase sempre impecável de todas elas. Havia uma, entretanto, (a ala 16, “Pavilhão: Nosso Maior Amuleto de Proteção”), que apresentava alguns costeiros aparentemente mais baixos que a média.

Harmonia

A combinação esquenta potente e samba-enredo de qualidade é quase sempre receita de sucesso no quesito. Some a esse cálculo o fato do chão da Mocidade Alegre ser, historicamente, forte. O quesito, como é possível imaginar, também não deverá apresentar problema algum para a agremiação do bairro Limão por conta de algumas atuações inspiradas. Igor Sorriso, sempre altivo e cada vez mais com a cara da escola, comandou os igualmente competentes Lucas Donato, Fernandinho SP, Jéssica Américo, Talita Uliana, Fabinho Pires e Kiko Melodia. A Ritmo Puro, de mestre Sombra, confirmou as altas expectativas desde o lançamento do CD: com andamento mais cadenciado, o facilitou o canto e a dança dos componentes – além, é claro, da já rotineira excelente exibição, com direito a quatro apagões na primeira passada do refrão de cabeça. Também vale destacar a presença de Eder Miguel, vocalista da banda Doce Encontro, executando a mesma introdução da faixa da agremiação no disco.

Samba-Enredo

Desde a final da eliminatória interna da escola elogiado, a canção ganhou ainda mais repercussão por conta do tratamento dado a ela. Melódico por natureza, a Morada do Samba, por meio da Ritmo Puro, comandada por mestre Sombra, tratou de deixar a música com um formato ainda mais especial e suingado com um andamento mais cadenciado, favorecendo a dança e o canto. A aposta, que se mostrou certeira desde o primeiro instante, se confirmou no Anhembi. Quem também teve boa atuação foi o carro de som, capitaneado mais uma vez por um Igor Sorriso cada vez mais à vontade na escola do bairro do Limão e com um luxuoso carro de som, composto por cantores do nível de Lucas Donato, Jéssica Américo, Talita Uliana, Fabinho Pires e Kiko Melodia. Cabe destacar o verso “Os balangandãs, pra enfeitar, abençoar”, que permitiu a ginga de toda a agremiação.

Evolução

O quesito teve alguns destaques bastante positivos e outros pontos de atenção. É importante destacar o quanto os integrantes das alas entre os segundo e terceiro carros tiveram bastante liberdade para evoluir além da dança do samba, interagindo dentro das próprias alas – nada que prejudicasse o quesito, de maneira bastante ensaiada. Em dois momentos, entretanto, a impressão é que a escola teve ao meno uma oscilação no andamento – ainda que curta: quando o primeiro tripé da agremiação estava na frente da segunda cabine de jurados, por volta de 17 minutos, a Morada pareceu evoluir mais lentamente por cerca de dois minutos.

Outros Destaques

A rainha Aline Oliveira da da “Ritmo Puro” reinou à frente dos ritmistas da Morada do Samba.

Comissão de frente criativa e instrumentos de sopro na bateria marcam desfile do Império de Casa Verde

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O Império de Casa Verde desfilou neste sábado pelo Grupo Especial de São Paulo no carnaval de 2025. A criativa comissão de frente, a beleza do conjunto alegórico e a proposta ousada da bateria “Barcelona do Samba” foram os principais destaques do desfile, encerrado após 63 minutos. O Tigre Guerreiro foi a segunda escola se apresentar com o enredo “Cantando Contos. Reinos da Literatura”, assinado pelo carnavalesco Leandro Barboza.

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Foto: Agência Enquadrar

Comissão de Frente

Coreografada por Anderson Rodrigues, a comissão de frente do Império foi intitulada “História da Carochinha” e se apresentou ao longo de duas passagens do samba. No primeiro ato, o Tigre, que é o protagonista da coreografia, adentra “Um Reino das Entrelinhas”, que é o elemento alegórico onde toda atuação ocorre, para combater os Empoeirados da Literatura, que são os responsáveis por espalhar o inverso mal contado da literatura infantojuvenil. Uma vez vitorioso do confronto, o Tigre é coroado Rei Soberano da Avenida por personagens famosos, agora com interpretações mais inclusivas. No segundo ato, os personagens se apresentam para o público em suas novas versões: Preta de Neve, Cinderela gorda, Hermione protagonista, Harry Potter coadjuvante, Coringa herói, Batman corrupto e Riobaldo e Diadorim, do livro. Chamou atenção especialmente os atores que interpretaram os cangaceiros que se beijaram e o momento em que Coringa “acerta” um golpe no Batman. A coreografia é criativa, bem executada e é o elemento do desfile que melhor define a proposta do enredo, fazendo do quesito o principal destaque do desfile.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal do Império, formado por Rodrigo Antônio e Jéssica Gioz se apresentou representando a “Cinderela e o Príncipe”. O casal teve atuação de gala no primeiro e no terceiro módulo, cumprindo todas as obrigatoriedades com elegância e criatividade na coreografia. A forma como Rodrigo conduz a dança é majestosa, consolidando cada vez mais a qualidade da parceria de anos com Jéssica. A única observação é o fato de que no segundo módulo, onde o casal se esforçou para fazer também uma apresentação de alto nível, eles foram atrapalhados pela equipe de câmeras da transmissão oficial em duas oportunidades ao se aproximarem demais, obrigando o apresentador do quesito a afastá-los para não prejudicar a dança para aquele jurado.

Enredo

O enredo do Império apresentou duas versões dos reinos da literatura. Uma delas, contada pelos Empoeirados da Literatura, é a versão que apresenta os personagens populares com características questionáveis dentro da realidade da sociedade contemporânea. A Cinderela é sempre magra? O Coringa é realmente um vilão? Por que o Peter Pan não quer crescer? São questionamentos como esses que levam ao outro lado dessa história, contado pelo Tigre-Rei dessa Avenida. Ele apresenta uma releitura das histórias dando justas características a personagens, que deveriam representar a verdadeira face da sociedade. Nas histórias do tigre, Hermione é a protagonista, o Batman é corrupto, os Sete Anões vivem em harmonia com a ‘Preta de Neve’ e o amor no sertão encontra a liberdade para se expressar por Riobaldo e Diadorim. Todas essas representações foram divididas pelos setores dentro dos “universos” que os englobam, como a literatura clássica dos contos de fadas, a literatura contemporânea e as histórias em quadrinhos.

A proposta do enredo na Avenida, porém, teve uma abordagem longe da ideal. Com exceção da comissão de frente, que resume com maestria a ideia central, a sutileza excessiva com a qual as versões dos contos do Tigre-Rei são apresentadas nos destaques de chão faz muitas delas passarem praticamente despercebidas.

Alegorias

O Império se apresentou um conjunto de quatro alegorias e um tripé. O Abre-alas foi nomeado de “Reino dos Contos de Fadas”, e abordou estereótipos que as histórias clássicas difundiram ao longo de seus séculos de existência. O segundo carro representou os “Heróis e vilões na Gotham City das desigualdades”, com o questionamento da verdade por trás da narrativa dos personagens de histórias em quadrinhos. O terceiro carro, chamado de “Sítio do Pica-pau Amarelo e Harry Potter – Um encontro na biblioteca de alquimias”, questionou a verdadeira importância dos personagens da literatura contemporânea. O tripé veio em meio a ala “Quilombo Imperiano” e exaltou a Velha Guarda da escola. O desfile foi encerrado com o carro “Bosque dos Apaixonados”, representando os romances retratados em diferentes livros ao longo da história.

Dentro da proposta do enredo, as alegorias cumprem seu papel de apresentar os diferentes “Reinos da Literatura”. O acabamento do conjunto é irretocável, se destacando especialmente pela riqueza de movimentos que todos os carros apresentam até mesmo em detalhes menores, como os rostos presentes nas laterais do Abre-alas. Outro elemento de grande destaque no desfile imperiano.

Fantasias

As fantasias do Império foram distribuidas pela Avenida de duas diferentes formas. As alas tradicionais vieram com componentes caracterizados de acordo com as versões originais das histórias retratadas pelo enredo, enquanto a versão do Tigre-Rei, que contesta a maneira como esses contos foram apresentados para o público, foi apresentada ao longo da Avenida nas roupas dos destaques de chão.

As roupas dos componentes na Avenida apresentaram acabamento impecável riqueza de detalhes, com as alas convencionais, que representaram a versão original das histórias literárias, se destacando pela facilidade da leitura. As fantasias dos destaques de chão, usados pelo desfile para apresentar a versão alternativa do Tigre-Rei, porém, em sua maioria não conseguiram transmitir a real mensagem a qual pretendiam para o público. Algumas das ideias tinham um desenvolvimento simples demais, fazendo com que a proposta passasse facilmente despercebida por olhares menos atentos, enquanto outras tiveram interpretações dúbias.

Harmonia

O canto da comunidade da Casa Verde oscilou ao longo da Avenida. Algumas alas cantavam com mais força, com destaque para a ala que representou Riobaldo e Diadorim, mas outras continham componentes que intercalavam versos cantados, como na ala do Zorro. O coral respondeu aos apagões aplicados ao longo da Avenida, mas como ocorriam nos refrões, foge dos momentos em que os desfilantes foram observados cantando de forma mais discreta.

Samba-enredo

A obra que conduziu o desfile do Império é assinada por André Diniz, Gustavo Clarão, Darlan Alves, Fabiano Sorriso, Evandro Bocão e Marcelo Casa Nossa, e na Avenida o samba foi defendido pelo intérprete Tinga. A letra busca narrar exatamente a proposta do enredo ao apresentar Tigre Soberano, que é o “Rei dessa Avenida”, questionando o inverso mal contado pelos contos de fadas, livros e histórias em quadrinhos mais populares.

O desempenho da ala musical comandada por Tinga foi de alto nível e a atuação em conjunto com a bateria contribuiu para animar o público, e dentro de sua proposta, o samba cumpre seu papel de narrar o enredo. A leitura da obra na Avenida, porém, passou por vários momentos muito discreta, tendo em vista a falta de clareza da apresentação da proposta pelo conjunto visual da escola.

Evolução

Tecnicamente, um desfile problemático do Império. Em ao menos duas oportunidades fora do momento do recuo da bateria, nos minutos 23 e 24, a escola parou por alguns minutos. O fluxo do cortejo foi inicialmente lento, com o último carro demorando para entrar na Avenida. Na parte final do desfile, a evolução acelerou de forma considerável para evitar problemas no fechar dos portões, que ocorreu com uma pequena sobra após 63 minutos. Em função do volume de algumas fantasias, parte das alas demonstraram dificuldades para evoluir pelo Anhembi, sendo outro fator agravante para o quesito.

Outros destaques

Musicalmente falando, o desfile imperiano foi fantástico. A bateria “Barcelona do Samba” incorporou instrumentos de sopro ao conjunto, como saxofone e trompete, fazendo com que o clima do desfile ganhasse ares de um tradicional carnaval de rua. Ideias criativas como essa sempre são bem-vidas e espera-se ver mais ideias criativas como essa no futuro. A rainha Theba Pitylla veio fantasiada de Mulher-Gato e levantou o público com muito samba no pé.