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Eugênio Leal: ‘Terra de macumbeiro’ com orgulho!

A Unidos de Padre Miguel traz uma frase de impacto para abrir o carnaval. O verso mais forte de seu samba grita que a “Vila Vintém é terra de macumbeiro”! Uma comunidade que chega ao Grupo Especial afirmando sua religiosidade de matriz africana com orgulho é um soco no estômago do preconceito. Uma frase que alguns anos atrás poderia ser usada como “acusação” chega à maior manifestação cultural do país como exaltação. É uma prova de resistência e um atestado da vitória do Candomblé que, no final das contas, é a mensagem que permeia todo o enredo: como uma crença saiu de África, germinou e se estabeleceu forte em outro continente contra todo tipo de retaliação da sociedade.

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Fotos: Allan Duffes/CARNAVALESCO

O enredo começa em Oyó, reino liderado pelo Alafin Xangô, de onde várias pessoas foram arrancadas para serem escravizadas no Brasil. Entre elas estava Yiá (mãe) Nassô que conseguiu criar em Salvador, na Bahia, um Ilê (terreiro) ao lado da Igreja da Barroquinha. É sobre isso que fala a primeira parte do samba, que é resultado da junção de dois concorrentes e que, por isso, leva nada menos que dezesseis assinaturas (Thiago Vaz, W. Corrêa, Richard Valença, Diego Nicolau, Orlando Ambrosio, Renan Diniz, Miguel Dibo, Cabeça Do Ajax, Chacal do Sax, Julio Alves, Igor Federal, Caio Alves, Camila Myngal, Marquinhos, Faustino Maykon e Claudio Russo). Na verdade, da segunda parceria (que começa no nome de Chacal do Sax), entrou apenas o refrão final – importante destacar. O corpo do samba é do time de Thiago Vaz até Miguel Dibo.

A abertura fez uma saudação a Xangô e seu reino e como a fé ficou interiorizada nas pessoas que de lá saíram, como Yiá Nassô. “Eiêô! Kaô Kabesilê Babá Obá! / Couraça de fogo no Orô do velho Ajapá / A raça do povo do Alafin, e arde em mim… / Rubro ventre de Oyó / Na escuridão, nunca andarei só”.

Está na história! Unidos de Padre Miguel celebra gravação para o álbum do Especial e projeta: ‘Podem esperar espetáculo de samba’, diz Cícero Costa

Os versos seguintes, ainda dentro de uma mesma estrutura melódica, abordam a vinda de Yiá Nassô para terras brasileiras em meio a muito sofrimento, mas sempre mantendo sua fé, até que consegue abrir o primeiro Ilê. “Vovó dizia / Sangue de preto é mais forte que a travessia! / Saudade, que invade! / Foi maré em tempestade Sopra a ancestralidade no mar (ê rainha) / Preceito é herança sem martírio / Airá guarda seus filhos no Ilê da Barroquinha”.

É uma “primeira” de melodia muito forte, comunicativa e envolvente que sofre uma interrupção com os versos que se seguem e que soam como dois refrões centrais. “É a semente que a fé germinou, Yiá Adetá, O fruto que o Axé cultivou, Yiá Akalá / Yiá Nassô, ê Babá Assika / Yiá nassô, ê Babá Assika”, em que se exaltam os primeiros movimentos para a fundação do Candomblé no Brasil e as pessoas responsáveis por isso. E depois, de fato, um refrão: “Vou voltar mainha, eu vou / Vou voltar mainha, chore não / Que lá na Bahia / Xangô fez revolução”, quando os autores falam do momento em que Yiá Nassô, liberta, retorna à África após a revolta dos Malês.

Ouça o samba-enredo da Unidos de Padre Miguel para o Carnaval 2025

Este trecho, permeado por repetições de palavras e linhas melódicas, trava a fluidez melódica da obra. Mas ela reaparece na “segunda” do samba quando os autores chegam a um segundo momento. É a hora em que Yiá Nassô traz sua herdeira, Obatossi, a Salvador e ela cria a Casa Branca do Engenho Velho, terreiro definitivo para a fundação do Candomblé. O samba também fala dos Orixás que servem de pilares desta casa (Oxossi, Oxum, Ogum, Oxalá e volta a Xangô – Agodô). “Oxê… a defesa da alma na palma da mão / No clã de Obatossi, há bravura de Oxossi no meu panteão / É D’Oxum o acalanto que guarda o Otá / Do velho engenho, Xirê que mantenho no meu caminhar Toca o Adarrum que meu Orixá responde / Olorum, guia o boi vermelho seja onde for / Gira saia Aiabá, traz as águas de Oxalá / Justiça de Agodô, tambor guerreiro firma o Alujá”.

Embora a letra aí seja quase um enfileiramento de Orixás com citação a itens que os representam a música vem numa crescente empolgante para explodir no refrão final. Neste ponto se encontram os dois sambas “juntados”, mas o encaixe melódico é perfeito como se os trechos tivessem sido concebidos no mesmo processo criativo. E chega o refrão final, que é onde fica o verso citado na abertura do nosso texto. Antes há mais uma repetição de versos, mas que não parece travar o andamento melódico porque há um crescimento entre o primeiro e o segundo que os diferencia. E depois o fechamento perfeito exaltando o fato de que também na UPM as mulheres são as comandantes e consagrando Yiá Nassô, a grande homenageada, como Rainha do Candomblé. “Awurê Obá Kaô! Awurê Obá Kaô! / Vila Vintém é terra de macumbeiro! / No meu Egbé, governado por mulher… / Iyá Nassô é rainha do Candomblé!”.

Galeria de fotos da final de samba da Unidos de Padre Miguel para o Carnaval 2025

A repetição das palavras em Yorubá “Kaô” e “Obá” no início do refrão e no primeiro verso da estrofe seguinte pode sugerir o que os julgadores têm enquadrado como “falta de riqueza poética”, mas no caso embora a sonoridade seja idêntica elas têm significados diferentes dentro dos contextos citados. “Awurê Obá Kaô”, pelo que procurei saber, significaria algo como “Boa sorte àquele que sobreviveu, ou àquele que a fé não se questionou”. Enquanto na cabeça do samba o “Kaô Kabecilê” é uma saudação ao Rei Xangô e “Obá” parece ser uma referência à sua primeira mulher.

Os sambas repletos de palavras em Yorubá como este ainda geram alguma dificuldade de interpretação para quem não é iniciado nas religiões afro-brasileiras, mas isso já deixou (ou deveria ter deixado) de ser uma questão para os julgadores. A UPM chega ao Grupo Especial, depois de tanta espera, com um sambe valente que tem alguns ótimos momentos melódicos e um refrão explosivo, para mexer com o público.

Boi Vermelho é fiel! Carnavalescos da Unidos de Padre Miguel falam da sobre concepção do enredo: ‘Escolha teve muita vontade de agradar comunidade da Vintém’

Liesa realiza reserva de frisas para o Grupo Especial 2025 no dia 25 de novembro

A Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro realiza no dia 25 de novembro a reserva de frisas para os desfiles do Grupo Especial de 2025. Com valores entre R$ 1.375 e R$ 8.000, será possível adquirir um espaço para seis pessoas no Sambódromo, por dia de desfile. Em breve, serão divulgados os detalhes, assim como a tabela de preços completa.

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Foto: Divulgação/Riotur

Os interessados devem acessar o site www.liesa.com.br e clicar no banner específico, que estará no ar exclusivamente no horário entre 9h e 11h. Ao acessar o link da reserva, será necessário preencher todos os dados para contato, além de escrever para quais setores e filas tem interesse na reserva.

Os contemplados serão divulgados no dia 17 de dezembro, a partir das 9h, pelo telefone (21) 3190-2100.

Vale ressaltar que o atendimento acontecerá por ordem cronológica da chegada de pedidos, de acordo com a capacidade de cada setor da avenida.

Gravação da Estácio tem ritmo do Norte e Tiganá diz: ‘é mais um samba excelente da escola’

A Estácio de Sá foi a segunda agremiação a gravar no estúdio, em Marechal Hermes, para o álbum do Carnaval 2025 da Liga-RJ. Com o enredo “O Leão se engerou em encantado amazônico”, do carnavalesco Marcus Paulo, o samba da parceria de Júlio Alves traduz musicalmente a viagem do símbolo da vermelho e branco, o Leão, à Amazônia, por meio de mitos e lendas. Após sair em 2022, Serginho do Porto retorna a Estácio de Sá para acompanhar o cantor Tiganá no microfone oficial.

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Além de marcar a quarta parceria da escola com Serginho do Porto, o intérprete também é um dos autores do samba-enredo ao lado de Júlio Alves, Claudio Russo, Magrão do Estácio, Thiago Daniel, Filipe Medrado, HB, Diego Nicolau, Tinga, Adolfo Konder, Dilson Marimba e Marquinhos Beija-Flor. O cantor contou o que podemos esperar do Berço do Samba para o próximo carnaval.

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Fotos: Gabriel de Souza/CARNAVALESCO

“A Estácio é uma das escolas mais antigas do carnaval. Tem uma comunidade muito forte, que canta a plenos pulmões. E quando a comunidade abraça o samba, é difícil de parar. A Estácio vem muito bem. O samba atende a escola e estamos preparando um belíssimo carnaval”, afirma Serginho.

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Tiganá que, no carnaval passado, dividiu o cargo com Charles Silva, elogia a composição do novo companheiro. “A Estácio tem uma emoção própria. O samba, neste ano, é um dos melhores sambas, com certeza. É mais um samba excelente da escola”, exalta Tiganá.

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Ritmo nortista presente na gravação da obra

No comanda da bateria da “Medalha de Ouro”, mestre Chuvisco conversou com a reportagem do CARNAVALESCO e explicou que a qualidade dos instrumentos é fundamental durante a gravação.

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“Para mim é uma honra estar gravando mais um ano a faixa da Estácio. É uma dedicação muito grande minha e da bateria. A gente faz com um maior cuidado para ficar bom, mas, na verdade, aqui na gravação, é o samba que tem que aparecer. A gente faz de tudo para o samba ser a grande estrela”, pontua o mestre.

Chuvisco também contou sobre as melodias que a bateria irá tocar para aproximar o Rio de Janeiro com o Norte do país.

“A gente vai fazer no refrão do meio um carimbó, originado no Pará, para poder identificar um ritmo amazônico.

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Em 2025, a Estácio de Sá irá se apresentar na sexta-feira de carnaval, primeiro dia de Desfiles da Série Ouro, sendo a quinta escola a cruzar a Marquês de Sapucaí.

Unidos de Padre Miguel realiza primeiro ensaio geral nesta terça-feira

A Unidos de Padre Miguel realiza, nesta terça-feira, seu primeiro ensaio de canto reunindo todos os segmentos e componentes para o Carnaval 2025. Marcado para as 20h na quadra da escola, localizada na Vila Vintém, o ensaio busca integrar os preparativos da agremiação para o tão aguardado desfile no Grupo Especial.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

De acordo com o diretor de Carnaval, Cícero Costa, até então, os ensaios vinham sendo realizados em grupos separados, mas chegou o momento de unir toda a escola. “Estávamos fazendo ensaios segmentados para cada ala, mas agora é a hora de juntar a família UPM e fortalecer a união de todos os componentes”, afirmou Cícero.

Em 2025, a Unidos de Padre Miguel será a primeira escola a desfilar no domingo, marcando seu retorno no Grupo Especial com o enredo “EGBÉ IYÁ NASSÔ,” uma homenagem à história afro-brasileira e ao legado de Iyá Nassô, precursora do candomblé no Brasil.

Semifinal de samba-enredo agita o Império Serrano nesta terça-feira

Com oito sambas, o Império Serrano realiza nesta terça-feira, a partir das 20h, a semifinal do seu concurso de samba-enredo para o Carnaval 2025. A noite promete muita emoção na quadra do Reizinho, em Madureira, para decidir os finalistas que buscam ser o hino do enredo “O que espanta miséria é festa”, uma grande homenagem ao compositor Beto Sem Braço. Em sorteio realizado, ficou definida seguinte ordem de apresentação.

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1 – Samba 15 – Matheus Machado e cia
2 – Samba 05 – Nego Jussa e cia
3 – Samba 08 – Vera Alice e cia
4 – Samba 13 – Arlindinho e cia
5 – Samba 04 – Xande de Pilares e cia
6 – Samba 01 – Alex Ribeiro e cia
7 – Samba 14 – Paulinho Valença e cia
8 – Samba 12 – Victor Rangel e cia

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Foto: Luis Miguel Ferreira/Divulgação Império Serrano

Os ingressos para a semifinal custam R$ 20,00 e serão vendidos na portaria da quadra, a partir das 19h, na própria terça-feira. A grande final está marcada para 15 de novembro e os bilhetes podem ser adquiridos na plataforma Sympla (https://www.sympla.com.br/evento/grande-final-de-samba-enredo-imperio-serrano-carnaval-2025/2693819) e estão com preço promocional de R$ 10,00.

Em 2025, o Império Serrano vai fechar os desfiles da Série Ouro, no sábado, dia 1º de março, na Marquês de Sapucaí.

Mocidade informa que Jojo Todynho não desfilará na escola no Carnaval 2025

A Mocidade Independente de Padre Miguel informou que Jojo Todynho não estará na equipe de musas e não desfilará na escola no Carnaval 2025.

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Foto: Sad Coxa/Divulgação Rio Carnaval

Nesta segunda-feira, Jojo citou que não desfilará no carnaval do ano que vem na escola de Padre Miguel. “Esse ano, eu nem vou desfilar não. Por que? Porque talvez eu vá fazer a cirurgia da perna, eu quero fazer um lifting na perna e deve ser nesse período aí do Carnaval. Eu acho que vou viajar, aí volto, comemoro meu aniversário com vovó, acho que vou de novo viajar e volto pra fazer minha cirurgia”, disse.

No próximo Carnaval, a Estrela Guia será a primeira escola a desfilar na terça-feira, 4 de março, com o enredo “Voltando para o Futuro – Não Há Limites para Sonhar”, desenvolvido pelos carnavalescos Renato e Márcia Lage.

Comunidade abraça enredo da Estrela do Terceiro Milênio e reflete sobre preconceito

O enredo da Estrela do Terceiro Milênio para o carnaval 2025 rapidamente ganhou notoriedade não apenas no carnaval paulistano, mas em toda a sociedade. Intitulado Muito Além do Arco-Íris – Tire o Preconceito do Caminho Que Nós Vamos Passar Com o Amor” e desenvolvido pelo carnavalesco Murilo Lobo, o desfile defenderá os direitos e a liberdade de expressão da comunidade LGBTQIA+. Mas… como a própria comunidade do Grajaú recebeu a temática? O CARNAVALESCO buscou integrantes da agremiação e verificou o quanto os componentes estão animados para a apresentação da escola de samba.

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Fotos: Will Ferreira/CARNAVALESCO

Unanimidade

Absolutamente todos os ouvidos pela reportagem aprovaram a escolha do tema. Entrevistados ainda fora da quadra da Estrela do Terceiro Milênio, no Calcadão da rua José Antonio Cerdeira, dois componentes da agremiação mostraram animação ao falar da temática. Carla Maria Buzatto foi a primeira: “Defender a questão LGBTQIA+ é fantástico! Acredito que escolheram muito bem o enredo”, enfatizou. Ildo Pereira, que estava conversando com ela, concordou: “Em relação ao tema, acho que é muito importante porque é a primeira escola que está defendendo a causa e isso é muito importante. Estamos dando muita liberdade para as pessoas chegarem aqui na escola”, destacou.

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Quato integrantes da ala de passistas da escola também gostaram do enredo. Luiz Felipe foi o primeiro a falar: “Gostei muito do enredo, achei interessante a iniciativa da escola de falar da população LGBTQIA+ tendo em vista o quão vulnerável é essa população, quantos ataques eles sofrem por não serem aceitos. Acho que foi muito corajoso e espero que seja muito bem aceita pelo público”, comentou. Gustavo Almeida fez coro: “Gostei demais! Sendo bissexual, me identifiquei demais. Esse enredo veio na melhor hora para a Milênio, não poderia ser diferente. Acho que vamos vir com tudo nesse ano”, destacou, já falando com conhecimento de causa.

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Danilo Santos aproveitou para falar, também, sobre a disputa que aconteceria naquela tarde: “Achei muito corajoso! É um tema muito importante e significativo para uma minoria, tem que ter muita coragem para falar sobre. A Milênio, pelos sambas que estão concorrendo na final, está muito bem representada: os pontos citados mexem muito com a gente, independentemente do samba vencedor. Acho que a escola estará muito bem representada”, agradeceu. Por fim, Gracielle Jesus relembrou o próprio título do enredo: “É como fala o enredo: é muito além do arco-íris. Esse tema vai representar não só a nossa escola, mas toda a sociedade LGBTQIA+. Fico muito feliz Em estar participando da escola e representado toda a comunidade. É um enredo que traz respeito, liberdade de expressão e amor. Todos nós temos o direito de amar e ser amado independente de qualquer dogma”, disse.

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Duas componentes da ala das baianas também falaram a respeito, de maneira sucinta. Renata dos Santos Farias começou: “Eu gostei muito! Acho importante abordarmos esse tema para que a gente tenha um pouco mais de respeito e empatia com os demais”, comentou. Erica Martins foi outra pessoa a falar já pensando no enredo: “Acho que a nossa escola acertou no tema, o enredo vai vir super lindo e acredito que vai ser muito impactante na avenida”, imaginou.

Flagrantes

Quando interpelados, muitos enrevistados destacaram que já presenciaram e/ou tiveram ciênciade algum caso de homofobia. Carla Maria foi uma delas: “Eu vi um caso, há algum tempo atrás. Eu trabalhava na Paulista e dois rapazes que formavam um casal se cumprimentaram com um beijo na saída do metrô. Outras três pessoas vieram e agrediram os dois. Isso para mim, foi o fim. Primeiro porque não podemos julgar, temos que respeitar a escolha de cada um. Para mim, foi algo muito chocante e muito triste de se ver”, relembrou.

Luiz Felipe revelou já ter sido vítima: “Eu estava em um festa dançando, como sempre danço, e uns caras que estavam atrás de mim pegaram e começaram a me xingar, falaram que iam me bater, me levaram para um canto para discutir comigo. Chegou mais gente e me afastaram dele, me defenderam nessa hora. Fiquei muito assustado nesse dia”, entristeceu-se. Gustavo Almeida teve caso semelhante: “Já tive muitos olhares andando com colegas, amigos ou paqueras. Olhares tortos, comentários… com o tempo, vamos aprendendo a lidar. Ainda sim, é algo desconfortável que a gente vive”, comentou.

Erica fez coro aos passistas. “Eu já presenciei situações de preconceito, sim. Tenho amigos que já passaram por situações bem complicadas. É algo muito triste não só para a sociedade, mas para a pessoa em si. Acredito, porém, que está mudando. A ideia de colocar na TV e no rádio mais assuntos sobre a comunidade LGBTQIA+ eu acho muito importante”, pontuou.

Contraponto

Dois dos entrevistados, entretanto, destacaram que nunca presenciaram casos de homofobia. Cada um deles, entretanto, revelou ter vivências distintas em relação ao tema. Renata mostrou-se informada: “A minha vista, não. Mas vemos todos os dias, no noticiário, casos que são horríveis de se ver. A gente fica se perguntando o motivo de tanta maldade e de tanto ódio sem fundamento. Presenciar eu nunca vi, mas me pergunto todos os dias e fico horrorizada em ver todas essas situações”, destacou.

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Já Ildo buscou ser sensato: “Da minha parte, nunca vi casos de preconceito. Se eu tivesse visto, iria chegar e conversar para ter um diálogo, mas nunca presenciai algo assim”, chocou.

Importância

Alguns dos entrevistados tiveram um viés bastante otimista em relação ao enredo. Carla Maria foi uma delas: “Tenho certeza que esse enredo pode ajudar no combate à homofobia. As pessoas precisam ver que o respeito é mútuo. Todos precisam respeitar as diferenças. Estamos em 2024, partindo para 2025. Não podemos mais aceitar certas coisas! O mundo evoluiu! Não podemos aceitar porque somos iguais, independentemente da opção sexual da pessoa”, empolgou-se.

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Ildo foi além. Na visão dele, o desfile é uma chamada para que a sociedade inteira se conscientize: “A Milênio está dando a oportunidade de abrir o leque – como diz um dos sambas finalistas. A gente está dando a oportunidade para todo mundo, algo que não aconteceu no carnaval até aqui. Queremos que todo mundo fique à vontade para repensar”, refletiu.

Visão crítica

Outros componentes, entretanto, foram mais céticos em relação à influência do desfile na sociedade. Gracielle foi uma delas: “Eu não acredito que o preconceito suma, isso vem de cada um e o respeito vem de dentro da gente. Mas acredito que o tema vai trazer visibilidade para a sociedade LGBTQIA+. Vamos ser mais vistos e respeitados. Acho que é um tema muito bom porque a gente existe e tem o direito de expressar nossos sentimentos. Nós estamos aqui”, vociferou.

Renata, um pouco mais otimista, também falou forte: “Acho que nós estamos no caminho certo. Sinceramente, não acredite que o preconceito acabe cem por cento. É uma forma de chamar a atenção da população em si para que a gente possa dar mais apoio à população LGBTIQA+, que o pessoal tende a ficar de fora. Afinal de contas, estamos todos na mesma sociedade e não tem por quê excluir alguém por questão de escolha sexual. Temos que respeitar, simplesmente. O respeito está acima de qualquer coisa, é o caminho para onde devemos ir”, destacou.

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Erica foi pelo mesmo caminho: “Esse tema está sendo muito importante, mas acho que o preconceito não vai necessariamente acabar, mas acho que a mente de quem ver o desfile vai ficar um pouco mais aberta, acho que o desfile será impactante. Acho que o preconceito pode diminuir um pouco, e isso é importante”. disse.

O último a falar, Danilo, aproveitou para desabafar: “Mesmo achando esse tema muito importante, ele não vai acabar com o preconeito, infelizmente. O preconceito vem de anos e está mais na questão da educação: a sociedade deveria estar educando quem está vindo e reeducando quem já está aí. Infelizmente, acabar não vai. Temos que lutar por um mundo melhor, para que a gente seja respeitado, passe na rua e não passe por humilhações, para que a gente não seja xingado ou discriminado, para que olhem para a gente com respeito, não olhem com olho torto, de nojo, de inveja ou de raiva. Para que a gente possa sair na rua e mostrar quem somos, o que queremos, sem ninguém apontar o dedo para a gente, sem ter medo de apanhar ou tomar um tiro. Essa, infelizmente, é a nossa realidade. Espero que, com esse tema, todo mundo aprenda e passe a respeitar. Se não quiser amar, não ame; mas que respeite”, finalizou.

Sidnei França revela rotina entre Mangueira e Vai-Vai, e explica linha de enredos escolhidos na Saracura

O carnavalesco Sidnei França vive um desafio entre São Paulo e Rio de Janeiro fazendo o caminho que costuma ser inverso. Geralmente, artistas cariocas assumem projetos em São Paulo, e por vezes fazendo a ponte aérea, dividindo entre duas escolas. É o que acontece com o artista, que aceitou proposta da Estação Primeira de Mangueira e renovou com o Vai-Vai. Em mãos, ele tem a segunda maior campeã do carnaval carioca, a Mangueira, e a maior campeã do carnaval de São Paulo, o Vai-Vai. Ambas em processo de reconstrução e buscando alinhar novamente com as suas identidades. Em conversa com o CARNAVALESCO, Sidnei revelou como tem sido na ponte aérea São Paulo e Rio de Janeiro, como tem dividido as tarefas e suas equipes.

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Fotos: Fábio Martins/CARNAVALESCO

“Geralmente, eu fico no Rio de segunda a quinta, mais ou menos, quarta à noite quinta de manhã e entre quarta e à noite quinta de manhã, pego a ponte aérea. Venho para São Paulo para ficar de quinta a sábado aqui no Vai-Vai e separar pelo menos um domingo para dar uma descansada. Tenho ficado uma boa parte da semana no Rio. E aí a minha equipe aqui em São Paulo toca o carnaval com Vai-Vai e aí quando eu venho para cá é o contrário… Tenho uma equipe que não é a mesma lá na Mangueira que cuida das coisas e vai me reportando pelo WhatsApp e eu fico aqui desenrolando as coisas do Vai-Vai. Nesse vai e volta que está todo mundo se dando bem felizmente. Fantasias sendo produzidas, alegorias, e lá no Rio, por exemplo, já está reproduzindo. E aí vai, estamos neste processo”.

Reação carioca com a contratação de artista paulista

O caminho geralmente é inverso onde artistas cariocas são contratados por escolas de samba de São Paulo. No caso de Sidnei França, seus bons trabalhos no carnaval paulistano, geraram o interesse da Mangueira. O anúncio foi no dia do desfile das campeãs de São Paulo e Rio de Janeiro em 2024, e Sidnei contou como foi a reação e recepção no primeiro momento.

“Percebo que em primeiro momento quando a Mangueira anunciou a minha contratação foi um baque. Lá ninguém esperava e a gente não pode também negar que existe sim um bairrismo, não dá para ficar com esse discurso de que eu uni as duas pontas. Isso não é verdade, porque eu respondo por uma escola em São Paulo de 14 e uma no Rio de 12. É uma realidade muito recortada. Não quer dizer que a partir de agora o Rio vai vir em São Paulo e contratar carnavalescos de uma forma corriqueira, não é isso. Em um primeiro momento lá no Rio, muitas pessoas inclusive vieram me dizer, ‘olha boa sorte, parabéns e sucesso, mas a gente está meio apreensivo para ver o que vai acontecer’. O Rio tem um método, um meio, um modo de fazer carnaval muito peculiar e eles achavam em algum momento que eu não ia conseguir absorver essa linguagem que o carioca guarda no carnaval. O carnaval no Rio não é só visual, não é só a nota dez, não é só a técnica do quesito, lá entra na questão da identidade do povo carioca. O povo suburbano, o povo do Morro, que desce para fazer carnaval de uma forma muito autêntica muito sua. E em algum momento, principalmente a Mangueira, uma escola como o Vai-Vai, quase centenária, muitos ficaram preocupados se eu ia conseguir entender o que é ser Mangueira, onde está ali a sutileza de uma fantasia para a bateria da Mangueira, a baiana da Mangueira, como que ela desfila, como ela se comporta. Mas aí é óbvio, eu não nasci ontem, né? O que eu sempre digo, eu acompanho o carnaval do Rio ao vivo desde 1998. Então para mim não é um outro mundo. É um mundo que não esperava ter contado e agora eu tenho, mas trago todos conceitos dessa história de arquibancada, de frisas e camarotes que eu já passei muitas vezes por lá”.

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Em relação ao projeto em construção no Rio de Janeiro, o carnavalesco ressaltou: “Estamos no momento de aprofundar as identidades, a partir do momento que a Mangueira anunciou enredo, o pessoal é ‘então ele já escolheu algo que tem cara de Mangueira, cara de Rio’ e agora veio o samba, depois os protótipos, as fantasias e tudo isso mostrando que estou integrado com esse novo momento e que eu entendo a Mangueira e o carnaval da Sapucaí. Que é uma outra dinâmica, que é um outro jeito de pensar carnaval e que eu sou sambista acima de tudo. Mas acho que tenho que conquistar gradualmente, mas até aqui tem sido muito valoroso e bonito também. Descobrir o carnaval do Rio e eles me abraçarem, principalmente, a Mangueira. Não tenho o que falar a comunidade, a diretoria, se esforçam muito para que eu esteja à vontade em nome inclusive de um grande carnaval dessa escola que sempre marca a presença e sempre deixa o seu legado”.

Momento de liberdade criativa no Vai-Vai

Enquanto alça voo no Rio de Janeiro, constrói o terceiro carnaval no Vai-Vai e vive um momento de felicidade com a escola que tem abraçado seus enredos com uma ideia de temas bem fortes, com a cara da tradicional escola de samba de São Paulo.

“Por que estou muito feliz no Vai-Vai? A escola compra o meu discurso. Eu sou um sujeito de esquerda, que gosto de entender a mensagem do carnaval também, não somente, mas também como crítica ao sistema e ao status de como a sociedade se configura. Isso está no meu pensamento, está enraizado na minha visão de mundo e de não só para o carnaval, de sociedade e o Vai-Vai acaba aceitando, dialoga muito bem com esse pensamento crítico com essa visão questionadora”.

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No Vai-Vai engatou dois enredos em seguidas, já que no primeiro no Grupo de Acesso contou uma reedição e explicou: “Esse é o meu terceiro carnaval com o Vai-Vai, primeiro foi a reedição no Acesso, em 2023 com o ‘Eu também sou Imortal’. Mas ali foi uma reedição. Tive um tratamento visual muito mais acentuado do que a narrativa. Já no hip-hop, coloquei tudo do que eu pensava como rua, como insurgência, como questionamento do sistema e agora de uma outra vertente, de uma outra maneira, o Vai-Vai também se posiciona ao assumir a voz e as palavras de alguém que antes de partir desse plano deixou uma mensagem muito potente, de liberdade do corpo, de liberdade do pensamento. O Zé Celso, na ditadura brasileira, ele foi muito opositor a ponto dele ser exilado. Passou por Portugal, Moçambique, isso também vai estar no desfile. Pensar hoje no Vai-Vai nesse lugar de escola do povo, escola da rua, abraçando discursos muito ligados ao questionamento do funcionamento social me completa muito. E para além disso também tem a questão de que o Vai-Vai tem uma autoridade moral, uma escola de quase 100 anos, assentada no centro de São Paulo, que já viveu muitos momentos de integração entre política e carnaval no decorrer da sua história. Está reafirmando a sua identidade, até por não estar na Bela Vista é importante o Vai-Vai se reencontrar sempre com a sua identidade de rua para que continue passando para as novas gerações. Imagine você, as crianças que hoje estão cantando hip hop, vão cantar as Zé Celso, é importante identitariamente, olha a minha escola de samba ela se posiciona e a partir daí me ensina também a me posicionar e encontrar qual é a minha função dentro desse cenário sociocultural que São Paulo vive, o Brasil vive e não dá para ser alheia”.

Conexão do Vai-Vai com suas origens e a rua

O carnavalesco Sidnei França gosta de trabalhar com as identidades de cada escola, respeitando seu solo, sua história, e potencializar isso, principalmente dentro dos seus enredos como tem feito no Vai-Vai. Mas também em resgatar tradições como na escola do povo, a ligação com as ruas, e explicou o motivo disso ser importante.

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“Hoje eu vejo que foi um dia muito especial para além da escolha do Samba o Vai-Vai retornar para Bela Vista. Ainda que em um momento transitório, esse espaço foi ocupado obviamente com a anuência do poder público, mas não é um espaço definitivo obviamente. Foi uma estrutura montada de uma maneira muito pontual para final de samba, mas que o Vai-Vai volte urgentemente para esse solo que é muito, muito, Vai-Vai, que é uma escola de Exu, fundamentada, assentada em Exu que é um orixá dos caminhos, da rua, das passagens, das encruzilhadas e a alma dessa escola está plantada na rua. E é muito bonito ver que o tempo passa, o Vai-Vai passou por muitos solavancos nos últimos anos dois acessos. Problemas não só de ordem política, mas financeira também. Porque quando você cai, você perde verba, você perde estrutura e tudo isso faz com que o Vai Vai esteja agora numa fase de retomada, da sua pujança, do seu grau de favoritismo e protagonismo no carnaval de São Paulo. Estou numa fase muito feliz é é não só lá no Rio, mas aqui em São Paulo também, de defender as cores de uma escola muito tradicional. No momento em que a tradição precisa se reafirmar, precisa se fortalecer, para se tornar também competitiva com as novas forças do carnaval e é isso estou feliz, não só pelo samba”.

Recado para a comunidade do Vai-Vai

Vivendo um momento positivo dentro da comunidade do Bixiga, deixou um recado justamente para o seu povo: “Quero deixar para o povo da Bela Vista, o povo da Saracura, o povo do Vai-Vai, uma mensagem de que nós estamos muito, mas muito engajados. Quando eu falo nós, coloco eu, toda a direção de carnaval, a direção executiva, representada na figura máxima do presidente. Todo mundo muito engajado, para que seja um carnaval que o Vai-Vai retome o seu protagonismo, volte a disputar título, estar nas campeãs, se não a campeã. Então Vai-Vai ele vem retomando o seu fôlego e ciente da sua grandeza vai com tudo em 2025 para encerrar o carnaval que foi uma escolha nossa”.

VaiVai et povao scaled

O carnavalesco complementou chamando a comunidade para o desafio no próximo carnaval: “A escola foi lá para o dia das definições ciente de que ela queria encerrar, e hoje nós vivemos uma fase que as escolas fogem do encerramento e não, Vai-Vai ele abraçou porque o vaivaiense ele sabe se entregar em qualquer horário, mas no encerramento tem algo especial com o Vai-Vai. Acredito que estamos conseguindo dialogar bem com essa vocação e essa grandeza, essa potência que é o Vai-Vai para fazer um tsunami no Anhembi em 2025”.

O Vai-Vai encerra o Grupo Especial de São Paulo no sábado de carnaval, ou seja, é a última escola a desfilar e será com o tema: “O Xamã Devorado y A Deglutição Bacante de Quem Ousou Sonhar Desordem”, em homenagem ao artista Zé Celso.

vaivai et fantasia2025

Carlinhos Salgueiro será rei de escola de samba na Austrália

Depois do sucesso das audições para passistas e da premida ala Maculelê para desfilar no Salgueiro no Carnaval de 2025, Carlinhos Salgueiro, diretor artístico da escola, viajará para a Austrália neste mês de novembro, onde será coroado rei da noite de gala da escola de samba Sydney.

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carlinhos salgueiro
Foto: Divulgação

“Essa é minha quarta vez na Austrália, levando o samba do meu país, mas desta vez tem esse diferencial que estou sendo reconhecido internacionalmente por ser quem sou”, comentou o artista.

A escola de samba Sydney se inspira no método “Samba Diva” criado por Carlinhos no Brasil para ensinar as sambistas de fora do país o gingado e o samba no pé brasileiro. O evento em acontecerá a coroação do coreógrafo também será um momento de confraternização entre os integrantes da escola de samba Sydney, comemorando o sucesso do ano de 2024.

“Eu fecho meu ano da melhor maneira possível: estar na Austrália, ser coroado, ver as meninas levando o método que criei para todo mundo, é o sinal de que tudo que fiz até hoje está dando certo. E que venha um 2025 com muito mais vitórias e conquistas”, finaliza Carlinhos.