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Samba da Mangueira é utilizado como referência no Enem

Neste domingo estudantes de todo o Brasil realizaram o primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM 2024. O tema da redação deste ano foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Além do tema estar muito próximo do enredo da Mangueira para o Carnaval 2025, “À flor da terra: o Rio da Negritude: entre dores e paixões”, o samba-enredo do histórico título de 2019 da Verde e Rosa serviu de texto de apoio para os candidatos.

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“Muita gente talvez não pense nas escolas de samba como lugares que educam, seja por desconhecimento ou preconceito. Mas elas educam e, como vimos hoje no Enem, muito para além do chão de suas próprias comunidades”, avalia Guanayra Firmino, presidente da Estação Primeira de Mangueira. “Nós fazemos toda a sociedade brasileira pensar nos temas da negritude, e portanto da herança africana. É um jeito de fazer história. De fazer uma outra história”, conclui.

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Foto: Acervo Liesa/Divulgação

Para Sidnei França, carnavalesco da Mangueira e autor do enredo que a escola vai levar em 2025 para a Marquês de Sapucaí, “(…) a pauta identitária como proposta temática da redação do ENEM, relevante para os rumos de toda uma geração, coloca a narrativa reivindicatória das Escolas de Samba em compasso com as necessidades do seu tempo”, analisa. “Isso comprova meu pensamento de que o Brasil se tornará ciente de si quando reconhecer e enaltecer sua ancestralidade africana para além dos aspectos culturais, mas também e – principalmente – como uma sociedade alicerçada na coletividade, no matriarcado e no afeto. As escolas de samba, em sua proposta basilar de aquilombamento, servem de modelo para reinventar o Brasil!”, define.

Em 2025, a Mangueira será a quarta e última escola a desfilar no domingo de Carnaval. A agremiação busca o campeonato com o enredo “À Flor da Terra: o Rio da Negritude entre dores e Paixões”, do carnavalesco Sidnei França. A Verde e Rosa apresentará na Marquês de Sapucaí uma narrativa baseada na historicidade preta de forte cunho social, um olhar sobre a presença dos povos bantus na cidade do Rio de Janeiro. Eles representaram a maioria dos negros que escravizados e trazidos para o Cais do Valongo, na Pequena África. A Mangueira retratará a vivência dessa população em toda a cidade, mostrando como sua história floresceu e ainda floresce em solo carioca.

Já História pra Ninar Gente Grande foi o enredo apresentado pela Estação Primeira de Mangueira no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro do carnaval de 2019, com o qual a escola conquistou o seu vigésimo título de campeã do carnaval carioca, três anos após a conquista anterior, em 2016. O enredo da escola fez uma revisão da História do Brasil, exaltando lideranças populares negligenciadas pela narrativa oficial, como Dragão do Mar, Luísa Mahin e Cunhambebe, e desconstruindo a imagem de figuras apontadas como “heroicas” tais como Pedro Álvares Cabral, Marechal Deodoro da Fonseca e Dom Pedro I. O samba-enredo composto por Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Silvio Moreira Filho (Mama), Márcio Bola, Ronie de Oliveira, Danilo Firmino, Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo foi vencedor de diversas premiações e foi aclamado antes mesmo do carnaval acontecer.

Inocentes de Belford Roxo abre gravações da Série Ouro e confia na reedição do samba-enredo de 2008

A Inocentes de Belford Roxo foi a primeira escola que iniciou o processo de gravação do samba para o disco da Liga-RJ para o Carnaval 2025. O enredo de 2008, “Ewe, a cura vem da floresta”, será reeditado pelo carnavalesco Christiano Bara e possui o fio condutor sobre o poder de cura através das plantas. Saulo Tinoco, diretor de carnaval, falou sobre os desafios em gravar o samba-enredo já conhecido e confessou estar animado com a escolha.

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“É complicado porque você tem aquela imagem do que foi no passado. Não se torna fácil, porque é um samba que todo mundo conhece, campeão do carnaval e tem tudo, respeitando as coirmãs, para a gente fazer um trabalho maravilhoso na Sapucaí”, revela Saulo.

A obra tem como compositores Carlinhos do Cavaco, Claudio Russo, Nino do Milênio e Tem-Tem Jr. O diretor de carnaval também comenta sobre a recepção da comunidade em relação à gravação.

“É a melhor possível. Foi um êxtase total quando foi anunciado. É um samba fácil, é do agrado da comunidade e já estamos ensaiando todas as quartas-feiras. Isso nos ajuda muito a chegar com o canto forte”, afirma o diretor-geral.

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Daniel Silva exalta o samba

Daniel Silva, que assumiu o comando do carro de som na Inocentes após a passagem em 2004, como apoio de Bruno Ribas, mostra-se animado com a responsabilidade.

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“Estar cantando esse samba é uma honra, não só por ser lindo, mas também por tocar na nossa ancestralidade. Eu estou muito feliz. A Escola está alegre, com uma vontade de vencer e de fazer um carnaval excelente”, disse Daniel.

Com os versos “Da reza para acabar com o quebranto, a fumaça é o encanto do cachimbo da vovó”, o samba reflete a intenção do enredo em unir às sabedorias das religiões afro-brasileiras à preservação das florestas. Esses versos são destacados por Daniel como momentos que o anima durante a gravação.

“Essa parte pegou o meu coração. É uma parte que transmite muito a essência da negritude, do poder de cura e da sabedoria dos mais velhos. Eu tenho certeza que vocês vão adorar o desfile”, comenta o intérprete.

Responsabilidade na gravação

Desde 2024 no comando da bateria “Cadência da Baixada”, o mestre Washington Paz garantiu três notas 10 e um 9,9, que foi descartado, no último carnaval. Desta forma, querendo dar continuidade ao trabalho iniciado no ano passado, Washington conversou com a reportagem do CARNAVALESCO durante a gravação da faixa oficial, no estúdio em Marechal Hermes, e avaliou a relação dele com a escola.

“Eu saí e retornei, mas a família continua a mesma. Tenho um amor muio grande pelo pavilhão, pois foi o que me projetou para o mundo do samba e, se me deixar, vou até ficar velhinho e ir para a velha-guarda”, confessa o mestre.

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Washington também revelou os desafios em gravar um samba-enredo reeditado, mas garante que terá novas adições. Nesse caso, no desfile em 2008, quem estava no comando da bateria da Azul, Vermelho e Branco da Baixada Fluminense, era o mestre Marcelo André.

“É uma responsabilidade muito grande, porque você tem fazer ou próximo, ou melhor, do que já foi. Não pode ser pior, se não a crítica vem firme. Mas eu acredito que fizemos um ótimo trabalho e o pessoal irá gostar. Usamos uma introdução e uma bossa, não colocamos tudo, é claro, porque têm surpresas na Avenida”, pontua Washington.

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Em 2025, a Inocentes de Belford Roxo irá se apresentar na sexta-feira de Carnaval, primeiro dia de Desfiles da Série Ouro, sendo a terceira escola a cruzar a Marquês de Sapucaí.

Veja o clipe feito pela Mangueira para o samba-enredo de 2025

A Estação Primeira de Mangueira divulgou o clipe feito pela escola para o samba-enredo do Carnaval 2025. Com a assinatura do carnavalesco e da direção artística da escola, e com a realização em diversas locações que ajudam a contar e a compreender a história bantu na cidade do Rio de Janeiro, todos os segmentos e diversos departamentos da agremiação participaram da produção. “O clipe foi pensado para oferecer uma oportunidade às pessoas de aprender nosso samba, certamente”, avalia Fábio Batista, diretor artístico da Mangueira. “Aqui conectamos imagem, som e movimento para tentar mostrar de que forma vamos levar para a Avenida os elementos da cultura bantu, seu passado e seu futuro, que tanto fazem parte do Rio de Janeiro “, conclui.

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A Verde e Rosa, que tem em seu hino oficial para o próximo desfile a assinatura de Lequinho, Júnior Fionda, Gabriel Machado, Julio Alves, Guilherme Sá, Paulinho Bandolim, gravou no estúdio musical Cia. dos Técnicos, em Copacabana, Zona Sul do Rio. Além dos artistas responsáveis diretamente pela gravação da obra – Dowglas Diniz e Marquinhos Art Samba (intérpretes), Rodrigo Explosão e Taranta Neto (mestres de bateria), Digão e Vitor Art (diretores musicais) e demais músicos -, o trabalho contou com participação dos responsáveis pela direção de carnaval (Dudu Azevedo), com direção artística de Fábio Batista e do carnavalesco Sidnei França.

“Vencemos mais uma etapa na construção do nosso Carnaval”, conta Dudu Azevedo, diretor de carnaval da Mangueira. “Queremos que todos cantem e se encantem como nosso samba, e acreditamos que nosso vídeo clipe vai contribuir decisivamente para isso “, explica. Em 2025, a Mangueira será a quarta e última escola a desfilar no domingo de Carnaval. A agremiação busca o campeonato com o enredo “À Flor da Terra: o Rio da Negritude entre dores e Paixões”, do carnavalesco Sidnei França. A Verde e Rosa apresentará na Marquês de Sapucaí uma narrativa baseada na historicidade preta de forte cunho social, um olhar sobre a presença dos povos bantus na cidade do Rio de Janeiro. Eles representaram a maioria dos negros que escravizados e trazidos para o Cais do Valongo, na Pequena África. A Mangueira retratará a vivência dessa população em toda a cidade, mostrando como sua história floresceu e ainda floresce em solo carioca.

Unidos da Ponte 2025: aprenda o samba-enredo

É tronco de pé, na terra da gente
Cocar inocente em fogo insano
É monstro que destrói o que tupă criou:
solo que tupinambá cultivou!
Sagrado a todos nós,
O verde enxerga o fim…
E a esperança, enfim, já arde em chama
Se clama o mundo ao mesmo Conselho,
Respira o planeta por aparelho:

É Bicho morrendo queimado (ah, meu Deus)
Ipê tombado à ganância em profusão!
Desmatam a vida, garimpam os sonhos,
Maré que deságua em Extinção!

O foco no poder, cegueira de matar
Se planta o poluir, não vai se alimentar….
Não ter o que comer é parte do caminho,
A flor ainda resiste ao espinho,
O indio já não quer lutar sozinho
Derrama veneno…
Antropoceno alertar que temos jeito!
Se o defeito é quem não vê a terra viva,
Vai à deriva nessa nau inconsequente
Brasil! De solo abençoado e fecundo!
Espalha essa mensagem para o mundo:
DEVOLVA A TERRA PARA O POVO ORIGINAL
QUE O FUTURO É ANCESTRAL!

Abya Yala em Meritiyba!
Abya Yala em Meriti’yba!
O Meu Azul divinal, origem da fonte…

SOU TRIBO RESISTIR – UNIDOS DA PONTE!
SOU TRIBO MERITI – UNIDOS DA PONTE!

União de Maricá anuncia Bico Doce como novo intérprete oficial para o Carnaval 2025

A União de Maricá tem mais um nome confirmado como intérprete oficial para o Carnaval 2025. Trata-se de Cremilson de Jesus, o Bico Doce, que estará ao lado de Nino do Milênio e Matheus Gaúcho, formando o trio de vozes que promete levantar a Marquês de Sapucaí no próximo ano, na Série Ouro. Experiente, Bico Doce reforça a equipe da União de Maricá após ser um dos intérpretes oficiais da Mocidade Unida da Mooca, em São Paulo, no Carnaval 2024. Ele também já foi a voz oficial do Império Serrano e integra o Departamento Musical da Estação Primeira de Mangueira, no Grupo Especial.

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Foto: Emerson Pereira/Divulgação Maricá

O novo intérprete foi anunciado durante a semifinal de samba-enredo da escola, na noite da última sexta, pelo presidente Juliano Oliveira. Em sua primeira declaração, Bico Doce expressou gratidão pelo convite recebido da agremiação maricaense.

“Agradeço de coração à diretoria da União de Maricá pela confiança no meu trabalho e por essa oportunidade. Fazer parte dessa equipe é uma honra. Vamos juntos lutar por esse sonho de subir ao Grupo Especial. Contem com toda a minha dedicação”, disse Bico Doce.

A grande final do samba-enredo acontecerá na próxima sexta-feira, em Maricá, e promete ser uma noite de fortes emoções. Para o Carnaval 2025, a escola levará à Sapucaí o enredo “O cavalo de Santíssimo e a coroa do Seu 7”, assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira. A União de Maricá será a sexta a desfilar no dia 28 de fevereiro, buscando o tão sonhado acesso ao Grupo Especial.

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Foto: Caio Henrique/Divulgação Maricá

Eugênio Leal: ‘Tuitui – Coragem e profundidade para mexer no vespeiro’

O enredo do Tuiuti para 2025 (“Quem tem medo de XicaManicongo”) é, antes de um tema histórico, um manifesto em prol das travestis. Um assunto polêmico que, conforme for ganhando publicidade com a aproximação do desfile, levantará reações cada vez mais raivosas dos setores conservadores, hoje muito organizados e populares. Por isso é um enredo importante. Não deixa essa luta eternamente no submundo, como a tal “sociedade” sempre tentou fazer, ao contrário: exibe para todo o país a força que as travestis têm ganhado e traz o tema para ser debatido por muito mais gente, ajudando a desmistificá-lo. É preciso ter coragem para “esticar a corda” e ultrapassar a simples defesa da liberdade sexual. O Tuiuti mexe num vespeiro dos mais encrencados e mostra sua disposição para representar os que não têm respaldo público.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

A sinopse começa pela história de Xica, que tem poucos registros oficiais além de um documento da “Inquisição” promovida pelos portugueses. Por isso, o carnavalesco Jack Vasconcelos foi buscar elementos para enriquecê-la. Ele parte na África, a origem de Xica, o povo Bantu que entendia as pessoas que vinham no corpo de um sexo, mas com cabeça de outro como seres especiais por fazerem a transição entre as energias masculinas e femininas. Depois narra a escravização da personagem, a imposição de um gênero quando da sua chegada ao Brasil e a perseguição que recebeu até aceitar viver “como homem” para não ser presa por bruxaria. Jack parte então para diferentes figuras de travestis e vai buscar na Jurema sagrada a religião que aceita Xica como ela era. Para encerrar falando do que significa a história de Xica para todas as travestis que ainda lutam contra preconceitos, perseguições e assassinatos.

O samba mais uma vez foi encomendado, desta vez a apenas dois compositores: Claudio Russo e Gusttavo Clarão. Dois nomes consagrados do gênero que fizeram uma obra ousada na letra e “comportada” na melodia. A narrativa não é exatamente cronológica e os primeiros versos constituem um módulo que apresenta a luta contra o preconceito, ao bradarem: Só não venha me julgar / Pela boca que eu beijo / Pela cor da minha blusa / E a fé que eu professar / Não venha me julgar/ Eu conheço o meu desejo / Este dedo que acusa / Não vai me fazer parar.

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Colocado o tema, o samba inicia a história de Xica, sempre em primeira pessoa. E explicita o conflito religioso com o cristianismo, uma ideologia que não aceitou sua natureza. Os versos deixam isso claro: Faz tempo que eu digo não / Ao velho discurso cristão / Sou Manicongo / Há duas cabeças em um coração / São tantas e uma só eu sou a transição / Carrego dois mundos no ombro.

O refrão central explicita sua origem e começa a fazer uso de um linguajar mais popular, juntando palavras originalmente africanas (Mumunha, N´ganga); verbetes de um dialeto específico usado pelas travestis, o “Pajubá” e expressões indígenas (Jimbanda, que siginifca gay) ou religiosas. Vim Da África Mãe Eh Oh / Mas se a vida é vã Eh Oh / Mumunha / Jimbanda me fiz / N Ganga é raiz / Eu pego o touro na unha.

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No início da segunda parte a letra é mais ácida e direta na relação de Xica com a “sociedade” colonial brasileira. A bicha, invertida e vulgar / A voz que calou o “Cis tema” / A bruxa do conservador / O prazer e a dor / Fui pombogirar na Jurema.

Gravação do samba do Tuiuti para 2025 deixa Pixulé e bateria ‘confortáveis’ e Claudio Russo diz: ‘Brasil é o país que mais mata travestis no mundo’

Encerrada a narração da trajetória de Xica os compositores ampliam o foco para as demais travestis e figuras que vivem à margem da sociedade, como a letra diz, perseguidas. E convocam todas para a luta: Chama a Navalha, a da Praia e a Padilha / As perseguidas na parada popular / E a Mavambo reza na mesma cartilha / Pra quem tem medo o meu povo vai gritar.

A modulação final antes do refrão principal deveria ser um grito de luta, mas acaba mesclando frases de efeito, algumas delas presentes na sinopse em diferentes contextos que, postas em sequência, não criam exatamente uma conexão que tenha significado marcante. Soam como encaixes de dizeres dentro da melodia, em busca de rimas. Eu travesti estou no cruzo da esquina / Pra enfrentar a chacina / Que assim se faça / Meu Tuiuti que o Brasil da terra plana / Tenha consciência humana / Chica vive na fumaça.

O refrão final é dividido em dois momentos. Nos dois primeiros versos os compositores fazem referência ao dialeto usado pelas travestis na rua para se comunicarem sem que a polícia entenda, o Pajubá; e os dois últimos fazem uma saudação a Exu, o dono da rua. Eh! Pajubá! / Acuendá sem xoxá pra fazer fuzuê / É Mojubá / Põe marafo, fubá e dendê.

A poesia é direta e valente ao se colocar em primeira pessoa, falar como uma travesti. E mostra intensa profundidade de pesquisa para constituir um vocabulário que represente a verdade destas pessoas.

Embora a letra tenha muitas linhas (38) o samba não fica arrastado, porque os versos são curtos e fluem com facilidade. As palavras estão muito bem colocadas e fáceis de serem pronunciadas. A melodia, leve, facilita canto e evolução com variações bem marcadas a cada módulo e sempre muito bem encaixadas. A questão é se o tema não pedia algo diferente na musicalidade, que acompanhasse o tom panfletário da poesia e que incorporasse sentimentos como sofrimento, revolta e luta – pontos fundamentais da narrativa. De qualquer forma o Tuiuti tem, no plano técnico, um samba competente de acordo com os padrões normalmente aprovados pelos julgadores oficiais.

Vigário Geral 2025: aprenda o samba-enredo

Compositores: Marcelinho Santos, Tem-Tem Jr, João Vidal, Romeu D’Malandro, Julio Cesar, Telmo Augusto, Mauricio Amorim, Marcos Barbeiro, Edu Casa Leme, Ricardo Simpatia e Totonho
Intérprete: Danilo Cezar

Caneta preta na branquitude
Meu lume é atitude, vaga no ecoar
A mente acesa pra redigir
A lua a persistir, subúrbio de inspirar
É que a escuridão ilumina à farol
A quem não tem lugar ao sol
Sou por eles lona armada
Pelos trilhos da escrita
Vou “servindo” um prato cheio por quem vive de marmita

São ecos noturnos, pelos submundos eu vou bandear
Deixa serenar…Vadeia!
Lá no alto do morro pedimos socorro para o orixá!
Ô deixa girar…Bambeia!

Madrugadeou…onde o samba faz morada
E ao som da batucada, copo cheio, pele nua
É perfume da rua, lançado por notas musicais
Nobre amor dos fevereiros. Dos antigos carnavais

O sino da igrejinha faz belém-blém-blom

Astro Rei que anuncia que o nego tem batente
Com prazer sou vagalume pra acender a sua mente
Eu vivi há muito tempo pra mudar os amanhãs
E lembrar que quem quiser será Francisco Guimarães

A cultura do povo… tem a cor do Brasil
Um diploma na mão faz calar o fuzil
Nos jornais da história um lugar mais igual
Pra não esquecer de quem deu a vida a Vigário Geral

Está na história! Unidos de Padre Miguel celebra gravação para o álbum do Especial e projeta: ‘Podem esperar espetáculo de samba’, diz Cícero Costa

A Unidos de Padre Miguel pela primeira vez gravou para o álbum das escolas de samba do Grupo Especial, sob a batuta da Liesa, no último dia 30 de setembro, no Century Estúdio. O Boi Vermelho foi muito animado para o momento histórico, conforme constatou o mestre Dinho, comandante da bateria “Guerreiros”. Ele iniciou contando sobre o andamento escolhido para a gravação da faixa, e o uso de alguns instrumentos e arranjos pensados para o samba da escola. Destacou muito a união da escola e da comunidade nessa subida ao Grupo Especial.

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“Botamos o andamento em 140 BPM (batidas por minuto) porque fica melhor até pra apresentar melhor o samba. Botamos alguns arranjos com atabaque, agogô, conga.Bem afro mesmo. Eu tenho muitos anos dentro da escola. Na verdade, eu me criei dentro da Unidos, e hoje a gente tem essa sensação de estar no Especial nesse momento maravilhoso. É um ponto muito alto da escola, que é a comunidade, essa união que a gente tem, eu estou muito feliz, é um grande samba, uma grande obra, a união da Vila Vintém, é o ditado: ‘lá se aprende a amar o samba’. Essa é a verdade”.

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Fotos: Matheus Morais/CARNAVALESCO

Cícero Costa, um dos diretores de carnaval, acompanhou a gravação, e comentou em entrevista o que pode se esperar da faixa da escola, a parte do samba que mais mexe com ele e o que representa estar na gravação do álbum do Grupo Especial.

“Particularmente, essa gravação é importante, é um sonho. A gente lutou bastante tempo para estar aqui e hoje estar aqui é de uma felicidade. Espero que o trabalho esteja sendo bem feito, para que, mais uma vez, a gente possa entregar o melhor de nós. Podemos esperar um samba, um espetáculo de samba. Graças a Deus nós fomos felizes na junção e e espero que esteja de agrado de todos, que possa ser um dos melhores do carnaval. A gente seguiu os critérios da gravação e deixamos uma entrega bem legal para o povo, para o pessoal que curte os sambas-enredo, demos o nosso melhor ainda na gravação. O refrão é o que mais mexe: ‘Vila Vintém é terra de macumbeiro’, tenho certeza que a comunidade vai gritar. Vai gritar esse refrão, e não só o refrão, como o samba no todo”.

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Cícero Costa, diretor de carnaval da UPM

Bruno Ribas, intérprete da UPM, se preparou bem para poder colocar a voz no samba da escola, e ressaltou que o melhor período para as gravações seria após o fim das disputas de samba, para o melhor uso da voz dos intérpretes.

Ouça o samba-enredo da Unidos de Padre Miguel para o Carnaval 2025

“A preparação é exercício vocal, água, bom sono, só que isso tudo só vale quando tem tempo de fazer. É  algo que eu pretendo colocar para produção, porque é importante que seja visto a gravação no final do mês de outubro, onde todo mundo já acabou suas tarefas e está fazendo o melhor uso da voz. A preparação é bastante água, sono quando dá tempo”.

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Bruno Ribas, intérprete da UPM

Com a Unidos tendo um samba que emociona o intérprete por inteiro, Bruno também comenta como mistura a técnica e a emoção na hora de botar a voz na faixa da escola. “É feito uma mescla de emoção com técnica. Não pode faltar sentimento. Se você não reporta, não transporta o teu sentimento para dentro do que você está fazendo, você não tem razão para fazer aquilo, porque  não consegue conquistar as pessoas que estão do outro lado ouvindo”.

Por fim, para Bruno Ribas, ver o Boi Vermelho no álbum do Especial mexe muito, e dá um sentimento muito satisfatório: “É de satisfação total. É poder estar num projeto no qual eu participei de boa parte desse processo, porque eu não estou na UPM de agora, eu estou na desde 2001, eu também me faço contribuinte para que isso tenha acontecido, e agora estar aqui, junto, imagina, é muito maravilhoso, e, acima de tudo, eu estou orgulhoso”.

Júlio Assis, diretor musical da escola, ficou responsável pelo arranjo da obra. Ele contou o que foi pensado, especialmente pela temática do enredo, que apresenta a história de Iyá Nassô e da Casa Branca do Engenho Velho.

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Júlio Assis, diretor musical da escola

“Como é um tema afro e religioso, está bem presente no arranjo, a questão dos atabaques, também tem o coro feminino, que vamos explorar bastante isso. É um samba que está deixando a gente muito feliz desde a escolha e vai todo mundo gostar. Como é o primeiro ano da Unidos de Padre Miguel no Grupo Especial, eu me preocupei bastante em mostrar a obra, deixar o mais limpa possível para que todo público tenha o entendimento total do que é o samba da Unidos de Padre Miguel. Procurei não poluir muito de elementos. Claro que tem partes são voltadas para a temática do enredo. Mas procurei não poluir muito para que o povo conheça bem a obra em si”.

Os compositores Thiago Vaz e Chacal do Sax também estiveram presentes na gravação do samba, e concederam entrevistas ao CARNAVALESCO. Eles falaram sobre a relação com a obra, fruto da junção de ambas as parcerias. Thiago comentou a importância do samba deste ano para a vida dele. “No ano passado, eu tive o prazer e a felicidade de compor o samba que fiz a escola subir e aí já tinha sido um samba importante, mas aí esse ano veio com uma responsabilidade ainda maior. Esse ano tem um sabor muito especial de ter feito o samba-enredo que estará no Grupo Especial”.

Galeria de fotos da final de samba da Unidos de Padre Miguel para o Carnaval 2025

Para o compositor Thiago Vaz, diversas são as parte do samba que tocam seu coração e traduzem de forma muito sensível o enredo da Unidos sobre Iyá Nassô: “Esse samba tem muita sensibilidade, e a primeira parte é muito bonita, tem muita informação litúrgica do que diz o enredo, refrão do meio que é muito balanceado, e que a gente aposta muito. A parte que mais me toca é a hora da chamada ‘toca o adarrum, que meu orixá responde’, eu acho que ali é a hora da comunidade bater no peito e falar com orgulho que é Unidos de Padre Miguel. E ‘Olorum guia o Boi Vermelho seja onde for’, é fazer toda essa ancestralidade, guiar primeiro fazer ele não só se manter no Grupo Especial, mas como chegar entre as primeiras que é o grande objetivo da escola. Com a junção, eu acho que tem tudo para ser um samba para brigar pela obra do carnaval. Eu não tenho dúvida que esse samba vai render muito bem, primeiro que ele vai começar lá na comunidade, que canta muito. Vai alcançar níveis muito altos quando começarem os ensaios. Não tenho dúvida que o rendimento desse samba vai ser bom, ele é muito rico de melodia, ele tem muita nuances melódicas”.

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Compositor Thiago Vaz

Para o compositor Chacal do Sax, o refrão da obra mexe com ele e com todos os praticantes de religiões de matriz africana, por conta do orgulho, afirmação da fé, acima de qualquer vergonha, e funciona como um brado de respeito.

“Sou um cara apaixonado pela UPM. É o quarto ano que eu boto samba e é a terceira vez que eu ganho. A escola já merecia estar no Grupo Especial há muito tempo. Ese samba vai ficar marcado na minha vida. Hoje, muita gente bate no peito e fala, ‘eu sou macumbeiro mesmo, e aí? Me respeita e pronto, acabou’. Por isso, o nosso refrão diz que a ‘Vila Vintém é terra de macumbeiro. Essa mensagem é muito bacana. Eu tenho certeza que vai ser avassalador. O samba é emocionante, alegre, guerreiro. Tem um conjunto de qualidades ali que vai repercutir muito bem na Sapucaí”.

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Compositor Chacal do Sax

Boi Vermelho é fiel! Carnavalescos da Unidos de Padre Miguel falam da sobre concepção do enredo: ‘Escolha teve muita vontade de agradar comunidade da Vintém’

Coreógrafo Arthur Rozas fala de mudança para a Rosas de Ouro e novas características da comissão de frente da escola

A Sociedade Rosas de Ouro está de cara nova no comando da sua comissão de frente e trata-se do coreógrafo Arthur Rozas, que está substituindo a renomada Helena Figueira. O objetivo da agremiação é dar uma nova cara para a ala e conquistar as notas desejadas. No último carnaval, perdeu um décimo com o descarte, pois a escola recebeu dois 9.9, além de duas notas 10. Arthur Rozas é oriundo do Rio de Janeiro, mas tem experiências em São Paulo, especialmente na Independente Tricolor, onde ficou por três carnavais, com destaque para o ano de 2023, onde obteve as pontuações corretas para a comunidade tricolor e um teatro criativo que abriu a sexta-feira de carnaval. O coreógrafo conversou com o CARNAVALESCO e falou sobre essa nova etapa, o estilo de dança e características que quer imprimir na sua ala.

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Foto: Gustavo Lima/CARNAVALESCO

Emoção de estar na Rosas de Ouro

O dançarino contou o sentimento de estar na Roseira e disse que não estava esperando um convite de qualquer agremiação devido ao resultado do seu último carnaval, pois obteve um descenso com a Independente. Arthur revelou que o estilo dele combina com o que a ‘Azul e Rosa’ da Zona Norte quer para 2025. “É uma honra estar na Rosas de Ouro. Eu não sou de São Paulo, mas venho tendo uma caminhada aqui. A minha primeira oportunidade foi no Camisa Verde e Branco e depois eu fiz três anos na Independente Tricolor. Esse ano, após eu ter saído da Independente, eu não imaginava que eu fosse ter uma outra oportunidade por questões de resultado. A gente sabe como o carnaval funciona. Mas eu tive esse encontro mais do que especial com a Rosas. Desde a primeira conversa foi muito especial, de verdade. Eu costumo falar com a diretoria que juntou a fome com a vontade de comer. Eles estavam buscando um profissional que tivesse algumas identidades e eu era exatamente uma pessoa que estava procurando uma escola que me desse espaço para fazer isso. A escola tem me dado toda estrutura e liberdade para poder realizar. Para qualquer coreógrafo, isso é ouro. Eu tenho muita alegria e estou disposto a fazer o meu melhor para ter uma excelente comissão de frente que fique marcada no coração de todo mundo”, contou.

Coreografias diferentes

Arthur disse que quer executar coreografias criativas a fim de projetar a Rosas de Ouro em outras apresentações. O dançarino citou a Festa de Lançamento dos sambas como um exemplo. “Acredito que a gente vá estudar algumas coisas da coreografia do desfile e colocar também no lançamento do CD. A minha ideia esse ano é realmente em cada oportunidade que a gente tiver nos eventos do calendário do carnaval de São Paulo, que a comissão possa se apresentar de uma forma diferente e inusitada. Eu já tenho um pouco desse traço, mas esse ano, com a parceria da diretoria da escola, eu quero sublinhar ainda mais isso para fazer coisas bastante atrativas. É a primeira vez que eu trabalho com um elenco maior do que o convencional do regulamento, e que vai ter suas entradas e saídas de uma forma que vocês vão gostar muito”, afirmou.

Estilo do Rio de Janeiro

Rozas é oriundo do Rio de Janeiro e contou que quer colocar características das comissões de frente da terra carioca em São Paulo, especialmente do que se trata das danças teatralizadas. O coreógrafo afirmou que o enredo “Rosas de Ouro em uma Grande Jogada”, irá permitir executar o perfil desejado. “Eu sou formado em artes cênicas e sou pós-graduado em dança. Isso pode significar muita coisa ou nada, porque o importante para mim enquanto coreógrafo é entender qual é o enredo, o projeto e entender qual é a necessidade da escola. Mas eu já tenho conseguido nos últimos anos imprimir mais um traço de dança. Eu venho do Rio e fiquei muitos anos como bailarino nas comissões de lá. No Rio a gente tem esse traço da dança muito forte, o traço de cena, de teatralização. Eu quero trazer isso mais do traço da dança para cá. Esse ano o enredo e a proposta da comissão de frente me permite fazer muito isso. A gente vai ter uma estrutura que vai me permitir, além da dança, apresentar uma questão no jogo de agilidade e de expressão corporal muito interessante”, disse.

Samba do “Sanitatem”

Na oportunidade, a comissão de frente havia apresentado uma grande apresentação da Festa dos Pilotos ao som do samba-enredo do Carnaval 2022. É uma obra muito querida internamente e, segundo o dançarino, será o samba da comissão de frente. “As escolas normalmente pedem para o coreógrafo um samba para ser o samba da comissão, com o objetivo de começar os ensaios ou visitar as coirmãs. Ouvindo os sambas da Rosas de Ouro, foi impossível não escolher esse samba por várias questões, como pontuar muito a questão da fé. Tudo na minha vida é muito pautado na fé. Quando eu ouvi eu falei que sem dúvidas tinha que ser esse samba”, concluiu.

Veja o clipe feito pela Vila Isabel para o samba-enredo de 2025

A Unidos de Vila Isabel lançou o clipe oficial do samba-enredo para o Carnaval 2025. Inspirado no enredo “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”, a agremiação apostou em uma produção descontraída e animada para apresentar para a comunidade a versão oficial do hino que levará para a Avenida. Durante a gravação, os integrantes do carro de som e os diretores de harmonia “viraram na bruxaria” e caíram no samba. “A gravação foi divertida demais. Todo mundo entrou na brincadeira. O samba é muito alegre e a comunidade já está cantando forte. Não tenho dúvida que vai pegar na Avenida”, afirmou o intérprete Tinga. Última escola a desfilar na segunda-feira de Carnaval, a Vila Isabel vai apresentar as assombrações que atazanam o imaginário popular, demonstrando como elas fazem parte do nosso dia a dia de várias formas, em diversas etapas da vida – desde a infância até a fase adulta.

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