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Comunidade abraça enredo da Estrela do Terceiro Milênio e reflete sobre preconceito

O enredo da Estrela do Terceiro Milênio para o carnaval 2025 rapidamente ganhou notoriedade não apenas no carnaval paulistano, mas em toda a sociedade. Intitulado Muito Além do Arco-Íris – Tire o Preconceito do Caminho Que Nós Vamos Passar Com o Amor” e desenvolvido pelo carnavalesco Murilo Lobo, o desfile defenderá os direitos e a liberdade de expressão da comunidade LGBTQIA+. Mas… como a própria comunidade do Grajaú recebeu a temática? O CARNAVALESCO buscou integrantes da agremiação e verificou o quanto os componentes estão animados para a apresentação da escola de samba.

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Fotos: Will Ferreira/CARNAVALESCO

Unanimidade

Absolutamente todos os ouvidos pela reportagem aprovaram a escolha do tema. Entrevistados ainda fora da quadra da Estrela do Terceiro Milênio, no Calcadão da rua José Antonio Cerdeira, dois componentes da agremiação mostraram animação ao falar da temática. Carla Maria Buzatto foi a primeira: “Defender a questão LGBTQIA+ é fantástico! Acredito que escolheram muito bem o enredo”, enfatizou. Ildo Pereira, que estava conversando com ela, concordou: “Em relação ao tema, acho que é muito importante porque é a primeira escola que está defendendo a causa e isso é muito importante. Estamos dando muita liberdade para as pessoas chegarem aqui na escola”, destacou.

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Quato integrantes da ala de passistas da escola também gostaram do enredo. Luiz Felipe foi o primeiro a falar: “Gostei muito do enredo, achei interessante a iniciativa da escola de falar da população LGBTQIA+ tendo em vista o quão vulnerável é essa população, quantos ataques eles sofrem por não serem aceitos. Acho que foi muito corajoso e espero que seja muito bem aceita pelo público”, comentou. Gustavo Almeida fez coro: “Gostei demais! Sendo bissexual, me identifiquei demais. Esse enredo veio na melhor hora para a Milênio, não poderia ser diferente. Acho que vamos vir com tudo nesse ano”, destacou, já falando com conhecimento de causa.

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Danilo Santos aproveitou para falar, também, sobre a disputa que aconteceria naquela tarde: “Achei muito corajoso! É um tema muito importante e significativo para uma minoria, tem que ter muita coragem para falar sobre. A Milênio, pelos sambas que estão concorrendo na final, está muito bem representada: os pontos citados mexem muito com a gente, independentemente do samba vencedor. Acho que a escola estará muito bem representada”, agradeceu. Por fim, Gracielle Jesus relembrou o próprio título do enredo: “É como fala o enredo: é muito além do arco-íris. Esse tema vai representar não só a nossa escola, mas toda a sociedade LGBTQIA+. Fico muito feliz Em estar participando da escola e representado toda a comunidade. É um enredo que traz respeito, liberdade de expressão e amor. Todos nós temos o direito de amar e ser amado independente de qualquer dogma”, disse.

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Duas componentes da ala das baianas também falaram a respeito, de maneira sucinta. Renata dos Santos Farias começou: “Eu gostei muito! Acho importante abordarmos esse tema para que a gente tenha um pouco mais de respeito e empatia com os demais”, comentou. Erica Martins foi outra pessoa a falar já pensando no enredo: “Acho que a nossa escola acertou no tema, o enredo vai vir super lindo e acredito que vai ser muito impactante na avenida”, imaginou.

Flagrantes

Quando interpelados, muitos enrevistados destacaram que já presenciaram e/ou tiveram ciênciade algum caso de homofobia. Carla Maria foi uma delas: “Eu vi um caso, há algum tempo atrás. Eu trabalhava na Paulista e dois rapazes que formavam um casal se cumprimentaram com um beijo na saída do metrô. Outras três pessoas vieram e agrediram os dois. Isso para mim, foi o fim. Primeiro porque não podemos julgar, temos que respeitar a escolha de cada um. Para mim, foi algo muito chocante e muito triste de se ver”, relembrou.

Luiz Felipe revelou já ter sido vítima: “Eu estava em um festa dançando, como sempre danço, e uns caras que estavam atrás de mim pegaram e começaram a me xingar, falaram que iam me bater, me levaram para um canto para discutir comigo. Chegou mais gente e me afastaram dele, me defenderam nessa hora. Fiquei muito assustado nesse dia”, entristeceu-se. Gustavo Almeida teve caso semelhante: “Já tive muitos olhares andando com colegas, amigos ou paqueras. Olhares tortos, comentários… com o tempo, vamos aprendendo a lidar. Ainda sim, é algo desconfortável que a gente vive”, comentou.

Erica fez coro aos passistas. “Eu já presenciei situações de preconceito, sim. Tenho amigos que já passaram por situações bem complicadas. É algo muito triste não só para a sociedade, mas para a pessoa em si. Acredito, porém, que está mudando. A ideia de colocar na TV e no rádio mais assuntos sobre a comunidade LGBTQIA+ eu acho muito importante”, pontuou.

Contraponto

Dois dos entrevistados, entretanto, destacaram que nunca presenciaram casos de homofobia. Cada um deles, entretanto, revelou ter vivências distintas em relação ao tema. Renata mostrou-se informada: “A minha vista, não. Mas vemos todos os dias, no noticiário, casos que são horríveis de se ver. A gente fica se perguntando o motivo de tanta maldade e de tanto ódio sem fundamento. Presenciar eu nunca vi, mas me pergunto todos os dias e fico horrorizada em ver todas essas situações”, destacou.

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Já Ildo buscou ser sensato: “Da minha parte, nunca vi casos de preconceito. Se eu tivesse visto, iria chegar e conversar para ter um diálogo, mas nunca presenciai algo assim”, chocou.

Importância

Alguns dos entrevistados tiveram um viés bastante otimista em relação ao enredo. Carla Maria foi uma delas: “Tenho certeza que esse enredo pode ajudar no combate à homofobia. As pessoas precisam ver que o respeito é mútuo. Todos precisam respeitar as diferenças. Estamos em 2024, partindo para 2025. Não podemos mais aceitar certas coisas! O mundo evoluiu! Não podemos aceitar porque somos iguais, independentemente da opção sexual da pessoa”, empolgou-se.

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Ildo foi além. Na visão dele, o desfile é uma chamada para que a sociedade inteira se conscientize: “A Milênio está dando a oportunidade de abrir o leque – como diz um dos sambas finalistas. A gente está dando a oportunidade para todo mundo, algo que não aconteceu no carnaval até aqui. Queremos que todo mundo fique à vontade para repensar”, refletiu.

Visão crítica

Outros componentes, entretanto, foram mais céticos em relação à influência do desfile na sociedade. Gracielle foi uma delas: “Eu não acredito que o preconceito suma, isso vem de cada um e o respeito vem de dentro da gente. Mas acredito que o tema vai trazer visibilidade para a sociedade LGBTQIA+. Vamos ser mais vistos e respeitados. Acho que é um tema muito bom porque a gente existe e tem o direito de expressar nossos sentimentos. Nós estamos aqui”, vociferou.

Renata, um pouco mais otimista, também falou forte: “Acho que nós estamos no caminho certo. Sinceramente, não acredite que o preconceito acabe cem por cento. É uma forma de chamar a atenção da população em si para que a gente possa dar mais apoio à população LGBTIQA+, que o pessoal tende a ficar de fora. Afinal de contas, estamos todos na mesma sociedade e não tem por quê excluir alguém por questão de escolha sexual. Temos que respeitar, simplesmente. O respeito está acima de qualquer coisa, é o caminho para onde devemos ir”, destacou.

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Erica foi pelo mesmo caminho: “Esse tema está sendo muito importante, mas acho que o preconceito não vai necessariamente acabar, mas acho que a mente de quem ver o desfile vai ficar um pouco mais aberta, acho que o desfile será impactante. Acho que o preconceito pode diminuir um pouco, e isso é importante”. disse.

O último a falar, Danilo, aproveitou para desabafar: “Mesmo achando esse tema muito importante, ele não vai acabar com o preconeito, infelizmente. O preconceito vem de anos e está mais na questão da educação: a sociedade deveria estar educando quem está vindo e reeducando quem já está aí. Infelizmente, acabar não vai. Temos que lutar por um mundo melhor, para que a gente seja respeitado, passe na rua e não passe por humilhações, para que a gente não seja xingado ou discriminado, para que olhem para a gente com respeito, não olhem com olho torto, de nojo, de inveja ou de raiva. Para que a gente possa sair na rua e mostrar quem somos, o que queremos, sem ninguém apontar o dedo para a gente, sem ter medo de apanhar ou tomar um tiro. Essa, infelizmente, é a nossa realidade. Espero que, com esse tema, todo mundo aprenda e passe a respeitar. Se não quiser amar, não ame; mas que respeite”, finalizou.

Sidnei França revela rotina entre Mangueira e Vai-Vai, e explica linha de enredos escolhidos na Saracura

O carnavalesco Sidnei França vive um desafio entre São Paulo e Rio de Janeiro fazendo o caminho que costuma ser inverso. Geralmente, artistas cariocas assumem projetos em São Paulo, e por vezes fazendo a ponte aérea, dividindo entre duas escolas. É o que acontece com o artista, que aceitou proposta da Estação Primeira de Mangueira e renovou com o Vai-Vai. Em mãos, ele tem a segunda maior campeã do carnaval carioca, a Mangueira, e a maior campeã do carnaval de São Paulo, o Vai-Vai. Ambas em processo de reconstrução e buscando alinhar novamente com as suas identidades. Em conversa com o CARNAVALESCO, Sidnei revelou como tem sido na ponte aérea São Paulo e Rio de Janeiro, como tem dividido as tarefas e suas equipes.

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Fotos: Fábio Martins/CARNAVALESCO

“Geralmente, eu fico no Rio de segunda a quinta, mais ou menos, quarta à noite quinta de manhã e entre quarta e à noite quinta de manhã, pego a ponte aérea. Venho para São Paulo para ficar de quinta a sábado aqui no Vai-Vai e separar pelo menos um domingo para dar uma descansada. Tenho ficado uma boa parte da semana no Rio. E aí a minha equipe aqui em São Paulo toca o carnaval com Vai-Vai e aí quando eu venho para cá é o contrário… Tenho uma equipe que não é a mesma lá na Mangueira que cuida das coisas e vai me reportando pelo WhatsApp e eu fico aqui desenrolando as coisas do Vai-Vai. Nesse vai e volta que está todo mundo se dando bem felizmente. Fantasias sendo produzidas, alegorias, e lá no Rio, por exemplo, já está reproduzindo. E aí vai, estamos neste processo”.

Reação carioca com a contratação de artista paulista

O caminho geralmente é inverso onde artistas cariocas são contratados por escolas de samba de São Paulo. No caso de Sidnei França, seus bons trabalhos no carnaval paulistano, geraram o interesse da Mangueira. O anúncio foi no dia do desfile das campeãs de São Paulo e Rio de Janeiro em 2024, e Sidnei contou como foi a reação e recepção no primeiro momento.

“Percebo que em primeiro momento quando a Mangueira anunciou a minha contratação foi um baque. Lá ninguém esperava e a gente não pode também negar que existe sim um bairrismo, não dá para ficar com esse discurso de que eu uni as duas pontas. Isso não é verdade, porque eu respondo por uma escola em São Paulo de 14 e uma no Rio de 12. É uma realidade muito recortada. Não quer dizer que a partir de agora o Rio vai vir em São Paulo e contratar carnavalescos de uma forma corriqueira, não é isso. Em um primeiro momento lá no Rio, muitas pessoas inclusive vieram me dizer, ‘olha boa sorte, parabéns e sucesso, mas a gente está meio apreensivo para ver o que vai acontecer’. O Rio tem um método, um meio, um modo de fazer carnaval muito peculiar e eles achavam em algum momento que eu não ia conseguir absorver essa linguagem que o carioca guarda no carnaval. O carnaval no Rio não é só visual, não é só a nota dez, não é só a técnica do quesito, lá entra na questão da identidade do povo carioca. O povo suburbano, o povo do Morro, que desce para fazer carnaval de uma forma muito autêntica muito sua. E em algum momento, principalmente a Mangueira, uma escola como o Vai-Vai, quase centenária, muitos ficaram preocupados se eu ia conseguir entender o que é ser Mangueira, onde está ali a sutileza de uma fantasia para a bateria da Mangueira, a baiana da Mangueira, como que ela desfila, como ela se comporta. Mas aí é óbvio, eu não nasci ontem, né? O que eu sempre digo, eu acompanho o carnaval do Rio ao vivo desde 1998. Então para mim não é um outro mundo. É um mundo que não esperava ter contado e agora eu tenho, mas trago todos conceitos dessa história de arquibancada, de frisas e camarotes que eu já passei muitas vezes por lá”.

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Em relação ao projeto em construção no Rio de Janeiro, o carnavalesco ressaltou: “Estamos no momento de aprofundar as identidades, a partir do momento que a Mangueira anunciou enredo, o pessoal é ‘então ele já escolheu algo que tem cara de Mangueira, cara de Rio’ e agora veio o samba, depois os protótipos, as fantasias e tudo isso mostrando que estou integrado com esse novo momento e que eu entendo a Mangueira e o carnaval da Sapucaí. Que é uma outra dinâmica, que é um outro jeito de pensar carnaval e que eu sou sambista acima de tudo. Mas acho que tenho que conquistar gradualmente, mas até aqui tem sido muito valoroso e bonito também. Descobrir o carnaval do Rio e eles me abraçarem, principalmente, a Mangueira. Não tenho o que falar a comunidade, a diretoria, se esforçam muito para que eu esteja à vontade em nome inclusive de um grande carnaval dessa escola que sempre marca a presença e sempre deixa o seu legado”.

Momento de liberdade criativa no Vai-Vai

Enquanto alça voo no Rio de Janeiro, constrói o terceiro carnaval no Vai-Vai e vive um momento de felicidade com a escola que tem abraçado seus enredos com uma ideia de temas bem fortes, com a cara da tradicional escola de samba de São Paulo.

“Por que estou muito feliz no Vai-Vai? A escola compra o meu discurso. Eu sou um sujeito de esquerda, que gosto de entender a mensagem do carnaval também, não somente, mas também como crítica ao sistema e ao status de como a sociedade se configura. Isso está no meu pensamento, está enraizado na minha visão de mundo e de não só para o carnaval, de sociedade e o Vai-Vai acaba aceitando, dialoga muito bem com esse pensamento crítico com essa visão questionadora”.

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No Vai-Vai engatou dois enredos em seguidas, já que no primeiro no Grupo de Acesso contou uma reedição e explicou: “Esse é o meu terceiro carnaval com o Vai-Vai, primeiro foi a reedição no Acesso, em 2023 com o ‘Eu também sou Imortal’. Mas ali foi uma reedição. Tive um tratamento visual muito mais acentuado do que a narrativa. Já no hip-hop, coloquei tudo do que eu pensava como rua, como insurgência, como questionamento do sistema e agora de uma outra vertente, de uma outra maneira, o Vai-Vai também se posiciona ao assumir a voz e as palavras de alguém que antes de partir desse plano deixou uma mensagem muito potente, de liberdade do corpo, de liberdade do pensamento. O Zé Celso, na ditadura brasileira, ele foi muito opositor a ponto dele ser exilado. Passou por Portugal, Moçambique, isso também vai estar no desfile. Pensar hoje no Vai-Vai nesse lugar de escola do povo, escola da rua, abraçando discursos muito ligados ao questionamento do funcionamento social me completa muito. E para além disso também tem a questão de que o Vai-Vai tem uma autoridade moral, uma escola de quase 100 anos, assentada no centro de São Paulo, que já viveu muitos momentos de integração entre política e carnaval no decorrer da sua história. Está reafirmando a sua identidade, até por não estar na Bela Vista é importante o Vai-Vai se reencontrar sempre com a sua identidade de rua para que continue passando para as novas gerações. Imagine você, as crianças que hoje estão cantando hip hop, vão cantar as Zé Celso, é importante identitariamente, olha a minha escola de samba ela se posiciona e a partir daí me ensina também a me posicionar e encontrar qual é a minha função dentro desse cenário sociocultural que São Paulo vive, o Brasil vive e não dá para ser alheia”.

Conexão do Vai-Vai com suas origens e a rua

O carnavalesco Sidnei França gosta de trabalhar com as identidades de cada escola, respeitando seu solo, sua história, e potencializar isso, principalmente dentro dos seus enredos como tem feito no Vai-Vai. Mas também em resgatar tradições como na escola do povo, a ligação com as ruas, e explicou o motivo disso ser importante.

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“Hoje eu vejo que foi um dia muito especial para além da escolha do Samba o Vai-Vai retornar para Bela Vista. Ainda que em um momento transitório, esse espaço foi ocupado obviamente com a anuência do poder público, mas não é um espaço definitivo obviamente. Foi uma estrutura montada de uma maneira muito pontual para final de samba, mas que o Vai-Vai volte urgentemente para esse solo que é muito, muito, Vai-Vai, que é uma escola de Exu, fundamentada, assentada em Exu que é um orixá dos caminhos, da rua, das passagens, das encruzilhadas e a alma dessa escola está plantada na rua. E é muito bonito ver que o tempo passa, o Vai-Vai passou por muitos solavancos nos últimos anos dois acessos. Problemas não só de ordem política, mas financeira também. Porque quando você cai, você perde verba, você perde estrutura e tudo isso faz com que o Vai Vai esteja agora numa fase de retomada, da sua pujança, do seu grau de favoritismo e protagonismo no carnaval de São Paulo. Estou numa fase muito feliz é é não só lá no Rio, mas aqui em São Paulo também, de defender as cores de uma escola muito tradicional. No momento em que a tradição precisa se reafirmar, precisa se fortalecer, para se tornar também competitiva com as novas forças do carnaval e é isso estou feliz, não só pelo samba”.

Recado para a comunidade do Vai-Vai

Vivendo um momento positivo dentro da comunidade do Bixiga, deixou um recado justamente para o seu povo: “Quero deixar para o povo da Bela Vista, o povo da Saracura, o povo do Vai-Vai, uma mensagem de que nós estamos muito, mas muito engajados. Quando eu falo nós, coloco eu, toda a direção de carnaval, a direção executiva, representada na figura máxima do presidente. Todo mundo muito engajado, para que seja um carnaval que o Vai-Vai retome o seu protagonismo, volte a disputar título, estar nas campeãs, se não a campeã. Então Vai-Vai ele vem retomando o seu fôlego e ciente da sua grandeza vai com tudo em 2025 para encerrar o carnaval que foi uma escolha nossa”.

VaiVai et povao scaled

O carnavalesco complementou chamando a comunidade para o desafio no próximo carnaval: “A escola foi lá para o dia das definições ciente de que ela queria encerrar, e hoje nós vivemos uma fase que as escolas fogem do encerramento e não, Vai-Vai ele abraçou porque o vaivaiense ele sabe se entregar em qualquer horário, mas no encerramento tem algo especial com o Vai-Vai. Acredito que estamos conseguindo dialogar bem com essa vocação e essa grandeza, essa potência que é o Vai-Vai para fazer um tsunami no Anhembi em 2025”.

O Vai-Vai encerra o Grupo Especial de São Paulo no sábado de carnaval, ou seja, é a última escola a desfilar e será com o tema: “O Xamã Devorado y A Deglutição Bacante de Quem Ousou Sonhar Desordem”, em homenagem ao artista Zé Celso.

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Carlinhos Salgueiro será rei de escola de samba na Austrália

Depois do sucesso das audições para passistas e da premida ala Maculelê para desfilar no Salgueiro no Carnaval de 2025, Carlinhos Salgueiro, diretor artístico da escola, viajará para a Austrália neste mês de novembro, onde será coroado rei da noite de gala da escola de samba Sydney.

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Foto: Divulgação

“Essa é minha quarta vez na Austrália, levando o samba do meu país, mas desta vez tem esse diferencial que estou sendo reconhecido internacionalmente por ser quem sou”, comentou o artista.

A escola de samba Sydney se inspira no método “Samba Diva” criado por Carlinhos no Brasil para ensinar as sambistas de fora do país o gingado e o samba no pé brasileiro. O evento em acontecerá a coroação do coreógrafo também será um momento de confraternização entre os integrantes da escola de samba Sydney, comemorando o sucesso do ano de 2024.

“Eu fecho meu ano da melhor maneira possível: estar na Austrália, ser coroado, ver as meninas levando o método que criei para todo mundo, é o sinal de que tudo que fiz até hoje está dando certo. E que venha um 2025 com muito mais vitórias e conquistas”, finaliza Carlinhos.

Ouça os sambas das quatro parcerias finalistas na União de Maricá

Quatro obras avançaram à final de samba-enredo da União de Maricá para o Carnaval 2025. Com o enredo “O cavalo de Santíssimo e a coroa do Seu 7”, assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira, a escola pretende exaltar a figura de Seu 7 da Lira, entidade marcante da umbanda carioca, e sua médium, a mãe de santo Cacilda de Assis, em busca do título da Série Ouro e do inédito acesso ao Grupo Especial.

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Foto: Caio Henrique/Divulgação Maricá

A disputa na União de Maricá começou no dia 25 de outubro com 18 sambas. Na semifinal, realizada na última sexta-feira, quatro composições foram eliminadas e outras quatro se classificaram para a decisão. Confira as parcerias finalistas:

A grande final da União de Maricá ocorrerá na noite da próxima sexta-feira, na quadra da escola, localizada no Centro de Maricá. Em 2025, a agremiação será a sexta escola a desfilar na sexta-feira, 28 de fevereiro, pela Série Ouro.

Samba da Mangueira é utilizado como referência no Enem

Neste domingo estudantes de todo o Brasil realizaram o primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM 2024. O tema da redação deste ano foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Além do tema estar muito próximo do enredo da Mangueira para o Carnaval 2025, “À flor da terra: o Rio da Negritude: entre dores e paixões”, o samba-enredo do histórico título de 2019 da Verde e Rosa serviu de texto de apoio para os candidatos.

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“Muita gente talvez não pense nas escolas de samba como lugares que educam, seja por desconhecimento ou preconceito. Mas elas educam e, como vimos hoje no Enem, muito para além do chão de suas próprias comunidades”, avalia Guanayra Firmino, presidente da Estação Primeira de Mangueira. “Nós fazemos toda a sociedade brasileira pensar nos temas da negritude, e portanto da herança africana. É um jeito de fazer história. De fazer uma outra história”, conclui.

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Foto: Acervo Liesa/Divulgação

Para Sidnei França, carnavalesco da Mangueira e autor do enredo que a escola vai levar em 2025 para a Marquês de Sapucaí, “(…) a pauta identitária como proposta temática da redação do ENEM, relevante para os rumos de toda uma geração, coloca a narrativa reivindicatória das Escolas de Samba em compasso com as necessidades do seu tempo”, analisa. “Isso comprova meu pensamento de que o Brasil se tornará ciente de si quando reconhecer e enaltecer sua ancestralidade africana para além dos aspectos culturais, mas também e – principalmente – como uma sociedade alicerçada na coletividade, no matriarcado e no afeto. As escolas de samba, em sua proposta basilar de aquilombamento, servem de modelo para reinventar o Brasil!”, define.

Em 2025, a Mangueira será a quarta e última escola a desfilar no domingo de Carnaval. A agremiação busca o campeonato com o enredo “À Flor da Terra: o Rio da Negritude entre dores e Paixões”, do carnavalesco Sidnei França. A Verde e Rosa apresentará na Marquês de Sapucaí uma narrativa baseada na historicidade preta de forte cunho social, um olhar sobre a presença dos povos bantus na cidade do Rio de Janeiro. Eles representaram a maioria dos negros que escravizados e trazidos para o Cais do Valongo, na Pequena África. A Mangueira retratará a vivência dessa população em toda a cidade, mostrando como sua história floresceu e ainda floresce em solo carioca.

Já História pra Ninar Gente Grande foi o enredo apresentado pela Estação Primeira de Mangueira no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro do carnaval de 2019, com o qual a escola conquistou o seu vigésimo título de campeã do carnaval carioca, três anos após a conquista anterior, em 2016. O enredo da escola fez uma revisão da História do Brasil, exaltando lideranças populares negligenciadas pela narrativa oficial, como Dragão do Mar, Luísa Mahin e Cunhambebe, e desconstruindo a imagem de figuras apontadas como “heroicas” tais como Pedro Álvares Cabral, Marechal Deodoro da Fonseca e Dom Pedro I. O samba-enredo composto por Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Silvio Moreira Filho (Mama), Márcio Bola, Ronie de Oliveira, Danilo Firmino, Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo foi vencedor de diversas premiações e foi aclamado antes mesmo do carnaval acontecer.

Inocentes de Belford Roxo abre gravações da Série Ouro e confia na reedição do samba-enredo de 2008

A Inocentes de Belford Roxo foi a primeira escola que iniciou o processo de gravação do samba para o disco da Liga-RJ para o Carnaval 2025. O enredo de 2008, “Ewe, a cura vem da floresta”, será reeditado pelo carnavalesco Christiano Bara e possui o fio condutor sobre o poder de cura através das plantas. Saulo Tinoco, diretor de carnaval, falou sobre os desafios em gravar o samba-enredo já conhecido e confessou estar animado com a escolha.

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“É complicado porque você tem aquela imagem do que foi no passado. Não se torna fácil, porque é um samba que todo mundo conhece, campeão do carnaval e tem tudo, respeitando as coirmãs, para a gente fazer um trabalho maravilhoso na Sapucaí”, revela Saulo.

A obra tem como compositores Carlinhos do Cavaco, Claudio Russo, Nino do Milênio e Tem-Tem Jr. O diretor de carnaval também comenta sobre a recepção da comunidade em relação à gravação.

“É a melhor possível. Foi um êxtase total quando foi anunciado. É um samba fácil, é do agrado da comunidade e já estamos ensaiando todas as quartas-feiras. Isso nos ajuda muito a chegar com o canto forte”, afirma o diretor-geral.

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Daniel Silva exalta o samba

Daniel Silva, que assumiu o comando do carro de som na Inocentes após a passagem em 2004, como apoio de Bruno Ribas, mostra-se animado com a responsabilidade.

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“Estar cantando esse samba é uma honra, não só por ser lindo, mas também por tocar na nossa ancestralidade. Eu estou muito feliz. A Escola está alegre, com uma vontade de vencer e de fazer um carnaval excelente”, disse Daniel.

Com os versos “Da reza para acabar com o quebranto, a fumaça é o encanto do cachimbo da vovó”, o samba reflete a intenção do enredo em unir às sabedorias das religiões afro-brasileiras à preservação das florestas. Esses versos são destacados por Daniel como momentos que o anima durante a gravação.

“Essa parte pegou o meu coração. É uma parte que transmite muito a essência da negritude, do poder de cura e da sabedoria dos mais velhos. Eu tenho certeza que vocês vão adorar o desfile”, comenta o intérprete.

Responsabilidade na gravação

Desde 2024 no comando da bateria “Cadência da Baixada”, o mestre Washington Paz garantiu três notas 10 e um 9,9, que foi descartado, no último carnaval. Desta forma, querendo dar continuidade ao trabalho iniciado no ano passado, Washington conversou com a reportagem do CARNAVALESCO durante a gravação da faixa oficial, no estúdio em Marechal Hermes, e avaliou a relação dele com a escola.

“Eu saí e retornei, mas a família continua a mesma. Tenho um amor muio grande pelo pavilhão, pois foi o que me projetou para o mundo do samba e, se me deixar, vou até ficar velhinho e ir para a velha-guarda”, confessa o mestre.

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Washington também revelou os desafios em gravar um samba-enredo reeditado, mas garante que terá novas adições. Nesse caso, no desfile em 2008, quem estava no comando da bateria da Azul, Vermelho e Branco da Baixada Fluminense, era o mestre Marcelo André.

“É uma responsabilidade muito grande, porque você tem fazer ou próximo, ou melhor, do que já foi. Não pode ser pior, se não a crítica vem firme. Mas eu acredito que fizemos um ótimo trabalho e o pessoal irá gostar. Usamos uma introdução e uma bossa, não colocamos tudo, é claro, porque têm surpresas na Avenida”, pontua Washington.

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Em 2025, a Inocentes de Belford Roxo irá se apresentar na sexta-feira de Carnaval, primeiro dia de Desfiles da Série Ouro, sendo a terceira escola a cruzar a Marquês de Sapucaí.

Veja o clipe feito pela Mangueira para o samba-enredo de 2025

A Estação Primeira de Mangueira divulgou o clipe feito pela escola para o samba-enredo do Carnaval 2025. Com a assinatura do carnavalesco e da direção artística da escola, e com a realização em diversas locações que ajudam a contar e a compreender a história bantu na cidade do Rio de Janeiro, todos os segmentos e diversos departamentos da agremiação participaram da produção. “O clipe foi pensado para oferecer uma oportunidade às pessoas de aprender nosso samba, certamente”, avalia Fábio Batista, diretor artístico da Mangueira. “Aqui conectamos imagem, som e movimento para tentar mostrar de que forma vamos levar para a Avenida os elementos da cultura bantu, seu passado e seu futuro, que tanto fazem parte do Rio de Janeiro “, conclui.

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A Verde e Rosa, que tem em seu hino oficial para o próximo desfile a assinatura de Lequinho, Júnior Fionda, Gabriel Machado, Julio Alves, Guilherme Sá, Paulinho Bandolim, gravou no estúdio musical Cia. dos Técnicos, em Copacabana, Zona Sul do Rio. Além dos artistas responsáveis diretamente pela gravação da obra – Dowglas Diniz e Marquinhos Art Samba (intérpretes), Rodrigo Explosão e Taranta Neto (mestres de bateria), Digão e Vitor Art (diretores musicais) e demais músicos -, o trabalho contou com participação dos responsáveis pela direção de carnaval (Dudu Azevedo), com direção artística de Fábio Batista e do carnavalesco Sidnei França.

“Vencemos mais uma etapa na construção do nosso Carnaval”, conta Dudu Azevedo, diretor de carnaval da Mangueira. “Queremos que todos cantem e se encantem como nosso samba, e acreditamos que nosso vídeo clipe vai contribuir decisivamente para isso “, explica. Em 2025, a Mangueira será a quarta e última escola a desfilar no domingo de Carnaval. A agremiação busca o campeonato com o enredo “À Flor da Terra: o Rio da Negritude entre dores e Paixões”, do carnavalesco Sidnei França. A Verde e Rosa apresentará na Marquês de Sapucaí uma narrativa baseada na historicidade preta de forte cunho social, um olhar sobre a presença dos povos bantus na cidade do Rio de Janeiro. Eles representaram a maioria dos negros que escravizados e trazidos para o Cais do Valongo, na Pequena África. A Mangueira retratará a vivência dessa população em toda a cidade, mostrando como sua história floresceu e ainda floresce em solo carioca.

Unidos da Ponte 2025: aprenda o samba-enredo

É tronco de pé, na terra da gente
Cocar inocente em fogo insano
É monstro que destrói o que tupă criou:
solo que tupinambá cultivou!
Sagrado a todos nós,
O verde enxerga o fim…
E a esperança, enfim, já arde em chama
Se clama o mundo ao mesmo Conselho,
Respira o planeta por aparelho:

É Bicho morrendo queimado (ah, meu Deus)
Ipê tombado à ganância em profusão!
Desmatam a vida, garimpam os sonhos,
Maré que deságua em Extinção!

O foco no poder, cegueira de matar
Se planta o poluir, não vai se alimentar….
Não ter o que comer é parte do caminho,
A flor ainda resiste ao espinho,
O indio já não quer lutar sozinho
Derrama veneno…
Antropoceno alertar que temos jeito!
Se o defeito é quem não vê a terra viva,
Vai à deriva nessa nau inconsequente
Brasil! De solo abençoado e fecundo!
Espalha essa mensagem para o mundo:
DEVOLVA A TERRA PARA O POVO ORIGINAL
QUE O FUTURO É ANCESTRAL!

Abya Yala em Meritiyba!
Abya Yala em Meriti’yba!
O Meu Azul divinal, origem da fonte…

SOU TRIBO RESISTIR – UNIDOS DA PONTE!
SOU TRIBO MERITI – UNIDOS DA PONTE!

União de Maricá anuncia Bico Doce como novo intérprete oficial para o Carnaval 2025

A União de Maricá tem mais um nome confirmado como intérprete oficial para o Carnaval 2025. Trata-se de Cremilson de Jesus, o Bico Doce, que estará ao lado de Nino do Milênio e Matheus Gaúcho, formando o trio de vozes que promete levantar a Marquês de Sapucaí no próximo ano, na Série Ouro. Experiente, Bico Doce reforça a equipe da União de Maricá após ser um dos intérpretes oficiais da Mocidade Unida da Mooca, em São Paulo, no Carnaval 2024. Ele também já foi a voz oficial do Império Serrano e integra o Departamento Musical da Estação Primeira de Mangueira, no Grupo Especial.

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Foto: Emerson Pereira/Divulgação Maricá

O novo intérprete foi anunciado durante a semifinal de samba-enredo da escola, na noite da última sexta, pelo presidente Juliano Oliveira. Em sua primeira declaração, Bico Doce expressou gratidão pelo convite recebido da agremiação maricaense.

“Agradeço de coração à diretoria da União de Maricá pela confiança no meu trabalho e por essa oportunidade. Fazer parte dessa equipe é uma honra. Vamos juntos lutar por esse sonho de subir ao Grupo Especial. Contem com toda a minha dedicação”, disse Bico Doce.

A grande final do samba-enredo acontecerá na próxima sexta-feira, em Maricá, e promete ser uma noite de fortes emoções. Para o Carnaval 2025, a escola levará à Sapucaí o enredo “O cavalo de Santíssimo e a coroa do Seu 7”, assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira. A União de Maricá será a sexta a desfilar no dia 28 de fevereiro, buscando o tão sonhado acesso ao Grupo Especial.

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Foto: Caio Henrique/Divulgação Maricá

Eugênio Leal: ‘Tuitui – Coragem e profundidade para mexer no vespeiro’

O enredo do Tuiuti para 2025 (“Quem tem medo de XicaManicongo”) é, antes de um tema histórico, um manifesto em prol das travestis. Um assunto polêmico que, conforme for ganhando publicidade com a aproximação do desfile, levantará reações cada vez mais raivosas dos setores conservadores, hoje muito organizados e populares. Por isso é um enredo importante. Não deixa essa luta eternamente no submundo, como a tal “sociedade” sempre tentou fazer, ao contrário: exibe para todo o país a força que as travestis têm ganhado e traz o tema para ser debatido por muito mais gente, ajudando a desmistificá-lo. É preciso ter coragem para “esticar a corda” e ultrapassar a simples defesa da liberdade sexual. O Tuiuti mexe num vespeiro dos mais encrencados e mostra sua disposição para representar os que não têm respaldo público.

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Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

A sinopse começa pela história de Xica, que tem poucos registros oficiais além de um documento da “Inquisição” promovida pelos portugueses. Por isso, o carnavalesco Jack Vasconcelos foi buscar elementos para enriquecê-la. Ele parte na África, a origem de Xica, o povo Bantu que entendia as pessoas que vinham no corpo de um sexo, mas com cabeça de outro como seres especiais por fazerem a transição entre as energias masculinas e femininas. Depois narra a escravização da personagem, a imposição de um gênero quando da sua chegada ao Brasil e a perseguição que recebeu até aceitar viver “como homem” para não ser presa por bruxaria. Jack parte então para diferentes figuras de travestis e vai buscar na Jurema sagrada a religião que aceita Xica como ela era. Para encerrar falando do que significa a história de Xica para todas as travestis que ainda lutam contra preconceitos, perseguições e assassinatos.

O samba mais uma vez foi encomendado, desta vez a apenas dois compositores: Claudio Russo e Gusttavo Clarão. Dois nomes consagrados do gênero que fizeram uma obra ousada na letra e “comportada” na melodia. A narrativa não é exatamente cronológica e os primeiros versos constituem um módulo que apresenta a luta contra o preconceito, ao bradarem: Só não venha me julgar / Pela boca que eu beijo / Pela cor da minha blusa / E a fé que eu professar / Não venha me julgar/ Eu conheço o meu desejo / Este dedo que acusa / Não vai me fazer parar.

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Colocado o tema, o samba inicia a história de Xica, sempre em primeira pessoa. E explicita o conflito religioso com o cristianismo, uma ideologia que não aceitou sua natureza. Os versos deixam isso claro: Faz tempo que eu digo não / Ao velho discurso cristão / Sou Manicongo / Há duas cabeças em um coração / São tantas e uma só eu sou a transição / Carrego dois mundos no ombro.

O refrão central explicita sua origem e começa a fazer uso de um linguajar mais popular, juntando palavras originalmente africanas (Mumunha, N´ganga); verbetes de um dialeto específico usado pelas travestis, o “Pajubá” e expressões indígenas (Jimbanda, que siginifca gay) ou religiosas. Vim Da África Mãe Eh Oh / Mas se a vida é vã Eh Oh / Mumunha / Jimbanda me fiz / N Ganga é raiz / Eu pego o touro na unha.

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No início da segunda parte a letra é mais ácida e direta na relação de Xica com a “sociedade” colonial brasileira. A bicha, invertida e vulgar / A voz que calou o “Cis tema” / A bruxa do conservador / O prazer e a dor / Fui pombogirar na Jurema.

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Encerrada a narração da trajetória de Xica os compositores ampliam o foco para as demais travestis e figuras que vivem à margem da sociedade, como a letra diz, perseguidas. E convocam todas para a luta: Chama a Navalha, a da Praia e a Padilha / As perseguidas na parada popular / E a Mavambo reza na mesma cartilha / Pra quem tem medo o meu povo vai gritar.

A modulação final antes do refrão principal deveria ser um grito de luta, mas acaba mesclando frases de efeito, algumas delas presentes na sinopse em diferentes contextos que, postas em sequência, não criam exatamente uma conexão que tenha significado marcante. Soam como encaixes de dizeres dentro da melodia, em busca de rimas. Eu travesti estou no cruzo da esquina / Pra enfrentar a chacina / Que assim se faça / Meu Tuiuti que o Brasil da terra plana / Tenha consciência humana / Chica vive na fumaça.

O refrão final é dividido em dois momentos. Nos dois primeiros versos os compositores fazem referência ao dialeto usado pelas travestis na rua para se comunicarem sem que a polícia entenda, o Pajubá; e os dois últimos fazem uma saudação a Exu, o dono da rua. Eh! Pajubá! / Acuendá sem xoxá pra fazer fuzuê / É Mojubá / Põe marafo, fubá e dendê.

A poesia é direta e valente ao se colocar em primeira pessoa, falar como uma travesti. E mostra intensa profundidade de pesquisa para constituir um vocabulário que represente a verdade destas pessoas.

Embora a letra tenha muitas linhas (38) o samba não fica arrastado, porque os versos são curtos e fluem com facilidade. As palavras estão muito bem colocadas e fáceis de serem pronunciadas. A melodia, leve, facilita canto e evolução com variações bem marcadas a cada módulo e sempre muito bem encaixadas. A questão é se o tema não pedia algo diferente na musicalidade, que acompanhasse o tom panfletário da poesia e que incorporasse sentimentos como sofrimento, revolta e luta – pontos fundamentais da narrativa. De qualquer forma o Tuiuti tem, no plano técnico, um samba competente de acordo com os padrões normalmente aprovados pelos julgadores oficiais.