Especial Barracão: Vai-Vai promete carnaval grandioso em comparação aos desfiles anteriores
A reportagem do site CARNAVALESCO visitou o barracão da maior detentora de títulos do carnaval paulistano. Almejando o 16° campeonato, a escola de samba Vai-Vai traz para o Sambódromo do Anhembi o enredo: “O Quilombo do Futuro”, um tema que busca contar a história do povo negro através de uma narrativa ficcional. O carnavalesco responsável por desenvolver a parte teórica do carnaval, Roberto Monteiro, explica detalhes.
“O enredo nasce da necessidade de descolonizar o pensamento que chamam de epistemicídio, que foi o roubo da narrativa histórica pela Europa. Chamo o nosso tema de histórico ficcional, por mais que tenha uma base histórica, a gente romanceia introduzindo um narrador. Temos uma estrutura narrativa que traz um astronauta griô, que é um viajante do tempo, e ele vai narrar para um menino do presente a trajetória do negro na terra. O enredo é cronológico e aponta para um futuro utópico. Ele tem um senso ético muito apurado. No início tinha uma sinopse pronta, só que a intenção era de transformar esse lugar não como um propositor isolado, ainda mais num tema no qual eu ‘branco’ não poderia arcar com toda a responsabilidade moral. A gente convidou o Altay Veloso, que fez uma sinopse brilhante”, conclui.
Estreante na agremiação da Saracura, Roberto revela que construiu todo o enredo através de uma única frase.
“Eu tenho uma namorada que faz parte do movimento negro, de alguma forma eu sempre estive próximo a essas idéias e li muitos filósofos negros, mas o enredo surgiu da frase ‘O Quilombo do Futuro’, isso é sonoro. Eu fui construindo isso na minha mente, aí quando o presidente perguntou se eu tinha algumas idéias, apresentei a proposta que tem uma compatibilidade com a escola, com a tradição que tem dentro desse segmento. A Saracura foi um quilombo, a escola vem nos últimos anos gravitando sobre temas ligados aos negros. Como eu não tinha nada escrito, eu virei a noite e montei o cronograma. Mas a construção ela é coletiva, eu passei mais de um mês na casa do Altay Veloso, bebendo whisky, conversando pra desenvolver a sinopse”, ressalta.
O carnavalesco destaca a narrativa e a construção da escola como um ponto diferencial do desfile e diz que a Vai-Vai entra pra buscar as notas. “Uma das coisas que tem uma densidade enorme é a narrativa, você não vai encontrar uma escultura porque achamos bonitinha, ela está ali por um significado profundo dentro do enredo. Vai ser muito claro, o passado, presente e o futuro terão uma leitura muito fácil. Temos níveis de conhecimento dentro do enredo que eles aplicam a necessidade de um espectador mediano, de um intelectual. Teremos coisas cênicas em alegorias, teremos teatralização em alguns pontos. A Vai-Vai entra na avenida de forma objetiva, para buscar as notas, sem excessos, com clareza. Teremos em cada setor elementos de comoção, vamos ativar o inconsciente coletivo através do emocional”.
A pesquisa sobre a história do negro precisou ser bem aprofundada e extensa. Em relação a pesquisa de elaboração da sinopse, Roberto cita a importância do povo africano na cultura mundial.
“O protagonismo do negro na criação de quase todo o legado humano foi o que mais me chamou a atenção. De acordo com as minhas leituras, a única coisa que a Europa inventou foi uma forma de dominar outros povos, porque todas as invenções humanas, todo o início do conhecimento humano provem e advêm da África. O sonho que eu tenho é de revisitar isso, a amplitude de coisas advindas da África é imensa”.
Encarregado pelos assuntos referentes ao barracão e ateliê, cumprindo a função prática do carnaval, o carnavalesco Hernane Siqueira acredita que o enredo carrega um alto nível de representatividade para a comunidade.
“A questão do enredo pra escola é como o amor de mãe para filho. Você começa a pegar a história dos princípios da cidade, os bairros do Bixiga, Bela-Vista e Liberdade, existia uma concentração muito grande de mercados de negros. Foi descoberto um cemitério que seria de uma região quilombola da cidade. Ali era também uma comunidade de negros, até começar a chegar a imigração dos italianos. O enredo para o componente nada mais é que a história da sua ancestralidade, e quando você traz o empoderamento do povo preto as pessoas se identificam. Hoje você tem a liberdade de usar uma roupa, um corte de cabelo sem que as pessoas te olhem atravessado, se tem um conceito ‘style’, que vem do que o Roberto falou, do afro futurismo. A mulher que mostrar o cabelo crespo. Não é por uma bandeira de ‘ser preto’, é simplesmente por ser uma bandeira de ser humano”, finaliza.
Vai-Vai terá nove bases de alegorias e 3.800 componentes
A agremiação da Saracura sempre traz carnavais grandiosos e com muitos componentes desfilando. Hernane compara o desfile com os anos anteriores e projeta carnaval ainda maior.
“O Vai-Vai sempre faz carnavais muito grandes, mas esse especialmente é maior. Com a chegada do Roberto o carnaval cresceu um pouco mais também, e isso já é uma tradição da atual gestão, essa coisa do gigantismo. O componente espera isso, se ele vê o carnaval pequeno ele fala que não é a escola dele”.
Perguntado sobre o tempo de desfile, que em São Paulo é no máximo 65 minutos, Hernane defende: “Então, é a maneira Vai-Vai de ser. Todo ano temos esse desafio, ‘como a gente passa na avenida’. É uma escola que já saiu com oito mil componentes. A Vai-Vai vem se preparando bem, temos harmonias, coordenação de harmonia e apoios de harmonias, um critério de organização, além dos chefes e apoios de alas que vem juntos. É uma comunicação muito grande pra alinhar o tempo de desfile”.
Em relação ao cronograma do barracão, Hernane comenta que pela dimensão da proposta o trabalho está bem adiantado.
“O carnaval do Vai-Vai tem um andamento criterioso, é um carnaval feito por muitas mãos. Se eu for colocar o carnaval do Vai-Vai em comparação as outras escolas, eu acho que a gente está muito adiantando, porque o nosso carnaval é muito maior do que todas fazem. A gente tem quatro bases de abre-alas, só isso já é um desfile. Se a gente colocar nesse parâmetro posso dizer que estamos muito bem”.
Escola tem atenção redobrada para não repetir pior colocação da história
O desfile de 2018 será apagado da memória de muitos sambistas que consideram a Vai-Vai como a escola do coração, isso porque a agremiação ficou em 10° em 2018, sendo a pior colocação da história.
“A escola está prestando atenção nos detalhes, estamos atentos para que não fique nenhum grão de erro. Nós já fizemos cinco revisões de alegorias, e queremos chegar no Anhembi com pelo menos umas seis revisões, fora as duas que são feitas pelos chefes de alegorias. A gente não vai deixar que nenhum espelhinho tire o nosso título”.
No último julgamento uma das justificativas apontou que um espelho de uma das alegorias estava caído, Roberto relembra episódio e faz uma crítica ao critério de avaliação de São Paulo.
“São Paulo tem um julgamento pragmático, eu nem acredito que as notas que se deram pra Vai-Vai seja algo que possa atribuir a responsabilidade pra escola. Por exemplo, a agremiação perdeu ponto porque tinha quatro dedos de espelho caído numa alegoria de quase duzentos metros (ironiza). O julgamento de São Paulo permite que escolas menores disputem com escolas maiores”.
Conheça o desfile
1° SETOR
“No primeiro setor vamos falar das glórias dos povos africanos. A gente fala sobre o legado da agricultura, da metarlurgia. Criamos critérios para que as isas não fiquem desamarradas. Cristalizamos os legados anteriores do Egito, que é o povo Akan, povo Dogon, povo do Male”.
2° SETOR
“Eu peguei a estrutura da tragédia que a gente conhece. Essas narrativas orais tem uma estrutura que a gente está muito acostumado a ver em novelas, principalmente, em filmes americanos, que chamamos de trajetória do herói. Temos uma estrutura estável, que é esse cenário das glórias, e a gente introduz a tragédia, a crise. É o setor do Maafa, que é o sinônimo para o holocausto negro, para a escravidão”.
3° SETOR
“A luta do negro é muito abrangente, vai do solo africano até o deslocamento para a diáspora. Como nesse setor só temos 5 alas, criamos uma linha para que cada uma se liguem, elas tem uma relação temática com a outra ala. A gente abre esse setor com a revolução do Haiti, a gente pegou o Caribe, América Central, América do Sul e o próprio solo. Vamos falar da revolta dos maleis. Nós tínhamos um cenário estável, introduzimos a crise, trazemos o herói lutando nas diásporas. E assim nós fazemos uma ponte para o presente”.
4° SETOR
“No presente nos falamos das lutas modernas do povo negro, que é o racismo estrutural. Um ponto alto é o black money, que é uma ideia de que o dinheiro gire entre os próprios negros”.
5° SETOR
“Aqui a gente faz um exercício utópico que brinca com o futuro, e esse apontamento é o cerne do nosso enredo, que está ligado com o tema astro futurístico. É como se a gente recobrasse o domínio tecnológico do inicio, como se a gente construísse um espiral de infinito que liga uma ponta do início com o do final. A gente revela o passado, ocupa o presente e projeta o futuro”.
Ficha Técnica
5 alegorias (9 bases)
26 alas
3.800 componentes
História Roberto Monteiro
“Tenho 25 anos de carnaval. Desenho nos bastidores para muitos nomes há muitos anos, como para o Joãosinho 30, Renato Lage, e de dois anos pra cá, comecei a produzir minhas próprias ideias. Esse ano o Vai-Vai entrou em contato comigo, perguntou se eu tinha alguma ideia, eu vinha maturando há dois anos esse enredo ‘O Quilombo do Futuro’. Calhoude encaixar no Vai-Vai, que é uma escola de raiz negra, uma escola que tem uma identidade com o tema muito profunda”.
História Hernane Siqueira
“Eu desde pequeno já era fascinado com escola de samba. O início foi no pavilhão de São Cristovão, de 90 para 91. Conheci algumas pessoas no carnaval, trabalhei no Salgueiro na parte de ateliê. Estou dentro do carnaval daqui de São Paulo desde 95, participei de um concurso de enredo no Rosas de Ouro, ganhei, mas o Raul Diniz que desenvolveu. Aí fui para o Tucuruvi, de 97 para 98, onde a gente falava sobre a pirataria. Eu segui os caminhos e fiquei com uma fama de ‘pé quente’, onde eu subia as escolas do Acesso para
o Grupo Especial, foram seis escolas sucessivamente. Fui para o Sul, fiz carnaval lá e voltei. Fiz Vila Maria, ficamos em 5° lugar e vim pro Vai-Vai em 2017 e estou aqui”.
Novo Império propõe gesto de conscientização quando estiver na avenida
A Novo Império escolheu levar para avenida em 2019 o enredo “De Maria às Marias, uma revolução…um grito de liberdade! #Presente” e com o tema propõe uma reflexão aos inúmeros casos de violência contra mulher no estado do Espírito Santo e no Brasil.
Ciente da importância do assunto e do seu lugar de fala como escola de samba, a azul, branco e rosa decidiu inovar e fazer uma convocação a todos seus desfilantes e espectadores que estiverem nas arquibancadas, mesas de pista e camarotes.
No trecho de seu samba-enredo “Mulher, é força, é fibra, é revolução”, a escola convoca a todos que levantem o braço esquerdo com o punho fechado.
O treino será feito nesta quinta-feira às 21h30, dia do ensaio técnico da escola no Sambão do Povo.
Sexta agremiação a desfilar no sábado (23/02) a Novo Império busca seu sétimo título de campeã do carnaval capixaba.
Império da Tijuca realiza último ensaio de rua no próximo domingo
A Império da Tijuca realizará no domingo, 17 de fevereiro, seu último ensaio técnico de rua na Conde de Bonfim. A escola será a quinta a pisar na Sapucaí dia 2 de março, sábado de carnaval, com o enredo “Império do Café: o Vale da Esperança” de desenvolvimento do carnavalesco Jorge Caribé na briga pelo título da Série A.
A concentração para o início do ensaio será às 17 horas na rua Conde de Bonfim com rua José Higino. O treino geral contará com a presença de todos os segmentos e comunidade, além dos torcedores do primeiro Império do Samba.
Fantasias
A comunidade tem ensaiado forte e já garantiu suas fantasias para o grande dia. Mas, quem sonha em desfilar na Verde e Branco do Morro da Formiga está com sorte. Ainda há fantasias de alas comerciais e composições de carros à venda. Para comprar a fantasia e desfilar na escola basta entrar em contato. Os telefones e figurinos estão disponíveis no site da agremiação www.imperiodatijuca.com.br. Haverá também venda de fantasias durante o ensaio de rua. Quem optar em fazer a compra por telefone poderá entrar em contato com o número 55 21 97153-9179 (whatsaap).
Serviço:
Último Ensaio Técnico de Rua do Império da Tijuca – Carnaval 2019
Data: 17/02/2019
Concentração: Rua Conde de Bonfim com rua José Higino – Tijuca – 17 horas
Porto da Pedra apresenta mais uma musa para o carnaval
A dançarina Valeria Cruz Milton é mais uma beldade que irá integrar o time de musas da Unidos do Porto da Pedra para o carnaval. Val, como é conhecida, sempre foi apaixonada pelo samba, e trabalhou no Havaí, onde levava o samba e a cultura brasileira para os estrangeiros.
“Sempre fui apaixonada pelo samba, e quando morava no Brasil frequentava as escolas de samba do Rio, mas meu envolvimento mais forte começou quando me mudei para o EUA em 2006. Fui morar na ilha de Oahu, no Havaí, onde fiz parte de um grupo chamado Samba Axé que levava a alegria e a cultura brasileira para toda a ilha. Abri uma empresa de entretenimento chamada Spirit Of Samba e hoje levamos a alegria não só do samba, mas de vários ritmos e culturas para toda Florida. Não vejo a hora de poder colocar meu pé na quadra e receber toda aquela energia e me entregar de corpo e alma para que possamos fazer um desfile maravilhoso em busca da vitória, contou a musa do Tigre.
No carnaval de 2019, a vermelha e branca de São Gonçalo levará para a Marquês de Sapucaí o enredo: “ Antonio Pitanga, um negro em movimento”, desenvolvido pelo carnavalesco Jaime Cezario.
Lotéricas vendem ingressos do Carnaval de Vitória 2019
Uma das festas mais aguardadas pelos capixabas, o Carnaval de Vitória 2019 já tem data marcada: nos dias 21, 22 e 23 de fevereiro o Sambão do Povo torna-se o point dos foliões capixabas.
Para quem ainda não comprou o ingresso, uma novidade: As Casas Lotéricas estão vendendo as entradas para as arquibancadas. Basta seguir as regras e escolher qual dia você quer assistir ao mais aguardado evento da capital. Para cada dia é disponibilizado um número de convênio e outro de código identificador.
Para quinta-feira, dia 21, convênio é o 20911489 e Identificador 10102. Os valores são: R$ 26,00 (inteira) R$16,00 (meia-entrada).
Para sexta-feira, dia 22, convênio 20911489 e Identificador 10103. Os valores são: R$ 46,00 (entrada) R$ 26,00 (meia-entrada).
Para o sábado, dia 23, convênio 20911489 e Identificador 10104. Os valores são: R$ 77,00 (inteira) e R$ 41,00 (meia-entrada).
Mais informações pelo site: http://ingressoloterico.com.br/
Carnaval de Vitória 2019 – Ordem dos Desfiles – LIESES
Quinta (21/02/2019)
Mocidade Serrana
Mocidade da Praia
União Jovem de Itacibá
Independente de Eucalipto
Sexta (22/02/2019)
Andaraí
Barreiros
Rosas de Ouro
Independente de São Torquato
Chega Mais
Tradição Serrana
Chegou o que Faltava
Império de Fátima
Ordem dos desfiles – LIESGE
Sábado (23/02/2019)
Imperatriz do Forte;
Piedade;
Mocidade Unida da Glória (MUG);
Pega no Samba;
Boa Vista;
Novo Império;
Jucutuquara
Horários:
21/02 – Quinta-feira
Abertura: 19h / Início: 21h
22/02 – Sexta-feira
Abertura: 20h / Início: 22h
23/02 – Sábado
Abertura: 20h / Início: 22h
Informações ou restrições específicas
Só será permitida a entrada de menores de 16 anos, desde que acompanhados, exclusivamente de pai, mãe, tutor, guardião ou responsável legal (maior de 21 anos), autorizada pelos pais, por declaração com firma reconhecida em cartório e portando documento de identificação, de acordo com toda a documentação exigida na Portaria 03/2017, publicada pela 1ª vara da Infância e Juventude
Será permitida a entrada de menores com igual idade ou superior a 16 anos de idade desacompanhados de pai, mãe, tutor ou responsável, de acordo com toda a documentação exigida também na Portaria 03/2017.
▶ INFORMAÇÕES À USUÁRIOS DE MESAS E ARQUIBANCADAS
● Será permitido o acesso portando somente 2 (duas) garrafas de 500ml plásticas e lanches em recipiente descartável;
● A venda ou comércio de bebidas e alimentos, só é permitida a ambulantes devidamente credenciados.
▶ DIREITO À MEIA-ENTRADA
· Estudantes regularmente matriculados em estabelecimentos de ensino fundamental, ensino médio, ensino médio técnico profissionalizante, ensino médio técnico profissionalizante – subsequente e ensino superior (Lei Federal n. 12.933/2013);
– Doador de sangue habitual, com carteirinha expedida pela Secretaria de Estado da Saúde (Lei Estadual n. 7.737/2004 – ADI 3512);
– Professores da rede pública e privada de ensino (Lei Municipal n. 8.282/2012);
– Jornalistas e radialistas (Lei Municipal n. 6.217/2004);
– Idosos com idade igual ou superior a 60 anos (Estatuto do Idoso).
Série Barracões: Rocinha promete enredo para exaltar a raça negra
Por Diogo Cesar Sampaio
Um grito de valorização a raça negra. É esta a mensagem que a Rocinha pretende mostrar em 2019 em sua apresentação na Sapucaí. De volta ao carnaval carioca e de casa nova, o carnavalesco Júnior Pernambucano explora no enredo “Bananas para o Preconceito” a mesma temática que o fez despontar no maior espetáculo da Terra. Em entrevista a reportagem do site CARNAVALESCO, o artista contou como surgiu a ideia do enredo e de que forma pretende desenvolvê-lo.
“O enredo da Rocinha foi uma proposta minha. Surgiu a partir daquele caso de racismo que aconteceu com o jogador brasileiro Daniel Alves. Aquilo ali me causou muita curiosidade em poder desenvolver um enredo desses. E partiu do ponto que já vinha pensando em construir um enredo com essa temática, em alguma escola que eu fosse entrar, ou que eu fosse fazer de um ano para o outro. E acabou que se encaixou super bem com a Rocinha, foi muito bem aprovado pela direção e pelo presidente da escola. Mas já aviso que a Rocinha não vai falar especificamente do preconceito ou fazer referências a casos de violência racial. No nosso desfile, mostramos que todos nós somos iguais. Não há o foco de mostrar o que é um preconceito contra o negro. A gente o valoriza, e não transforma isso em um enredo melancólico e nem sofrido. A Rocinha traz esse enredo para exaltar a raça negra”, explicou.
Para exaltar a figura do negro da melhor maneira possível, Júnior foi a fundo em suas pesquisas para elaboração do enredo. Ele destacou alguns nomes de negros que foram importantes na história, e estarão presentes na avenida em seu desfile.
“O que mais chama minha atenção nesse enredo é a parte do negro, do africano que chega ao Brasil. A gente começa a pesquisar mais um pouco sobre o Dom Obá, sobre a Aqualtune que era avó do Zumbi, sobre o próprio Zumbi dos Palmares… E isso causa bastante curiosidade em ver o quanto que causaram, o quanto que foram importantes para a nossa cultura. E entre outros nomes como artistas brasileiros, escritores, poetas e atores, que com suas histórias e legados fazem com que a gente se empolgue ainda mais em homenageá-los”, contou.
Quando perguntado sobre a sua grande aposta para o desfile, Júnior Pernambucano destacou a abertura e o encerramento do desfile como os grandes trunfos de seu trabalho.
“Eu gosto muito do início da escola. Ele traz certa irreverência, mas ao mesmo tempo, é um dedo na ferida. E tanto o carro abre-alas como as duas primeiras alas, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, a comissão de frente, faz essa ligação muito forte. Aposto muito nisso. E destaco também o último setor que traz essa valorização, esse desabrochar do negro da favela. Uma metamorfose do negro que tem toda a ligação com a Rocinha. É algo bonito para se fechar. O início e o fim estão muito bem desenvolvidos e vão ter um efeito muito legal”, antecipou o carnavalesco.
O carnaval da crise
O carnaval de 2019, antes mesmo de acontecer, já vai ficar marcado por ser um dos mais difíceis de toda a história. Independente de grupo, a crise atingiu todas as agremiações da folia. A Série A vive o drama de um corte de 50% na verba do ano anterior, anunciado na reta final dos preparativos. Para piorar, nem mesmo a parcela do valor que as escolas ainda têm por direito foi paga pela prefeitura, mesmo as vésperas para o carnaval. Ao falar sobre o assunto, Júnior confirmou as dificuldades, e admitiu que está sendo o ano mais difícil da sua carreira.
“Esse ano é um ano muito difícil para todas as escolas, tanto para as da Série A, quanto para as do Especial. A crise atacou muito a parte econômica de todas as escolas. Mas, tem solução. Eu que já estou no Acesso há muito tempo, já estou com esse costume de reaproveitar, de utilizar, de usar materiais recicláveis e de outras escolas. A gente já tem esse manejo. Todos os carnavalescos da série A sabem o que eu estou falando. Porém, realmente, esse ano está sendo muito pior. Até porque as escolas estão com as subvenções ainda para sair. A gente está com falta de grana, não está tendo aquele rendimento financeiro que tinha antes, isso faz com que fiquemos mais preocupados com o desenvolvimento e um pouco atrasados. Mas é aquela coisa, tem que ser mágico e sair mudando, transformando uma coisa em outra, para ter como andar com o trabalho e dar desenvolvimento ao carnaval da escola”, desabafou.
E mesmo em meio a toda essa crise, para Júnior Pernambucano, ainda é possível encontrar motivações para continuar, e sentir prazer em trabalhar nos bastidores do espetáculo.
“É possível sim, mesmo com todos os problemas, sentir prazer em fazer carnaval porque existe, até hoje, a essência do samba. As escolas de samba tem isso. E a gente não pode perder esse amor que tem pelo carnaval, pela cultura do samba. Isso sobressai, com toda crise, com tanto sofrimento. No fundo, a paixão grita. É compensador”, declarou.
O artista ainda ressalta que uma boa ferramenta para superar os problemas é a criatividade. Para ele, ela é primordial em qualquer profissão ou atividade, principalmente para carnavalescos.
“Se não tiver criatividade, não é carnavalesco. Tem que ter criatividade, tem que saber desenvolver. E é aí onde está o truque. O cara tem que ser esperto. E isso não é só no acesso não, no Especial também. A pessoa tem que ser criativa, se não for muda de ramo, vai ser cabeleireiro ou outra coisa do tipo. E mesmo assim, para ser cabeleireiro precisa ser criativo. A gente tem que ser criativo em todas as áreas que a gente trabalha. Em tudo, tem que ter um ponto de criatividade, é fundamental”, afirmou.
Júnior também citou que mesmo com todas as adversidades, o acabamento em seus trabalhos é uma coisa que ele não abre mão:
“O acabamento é uma marca que eu sempre busco. A gente tem de ter um bom acabamento independente da pressa, do trabalho ser feito nas carreiras. Tempos sempre que preservar o bom acabamento. E é isso que eu vou levar. Com crise ou sem crise, a gente tem que manter isso. Pode ser a peça mais simples que for, o carro mais simples que for, ele vai estar bem acabado e bem executado”, ponderou.
O fim de uma era e o ano sabático
Em 2013, Júnior Pernambucano estreou no carnaval carioca pelo Império da Tijuca. Com o enredo “Negra, Pérola Mulher”, o até então desconhecido artista sagrou-se campeão da recém-criada Série A, e junto à escola, alcançou a sonhada vaga no Grupo Especial em 2014. No ano seguinte, Júnior continuou na agremiação e assinou o desfile “Batuk”, que apesar de cair nas graças de público e da crítica especializada na época, não conseguiu garantir a permanência da escola na elite.
Depois do descenso e do retorno a Série A, foram mais três trabalhos do carnavalesco pela agremiação do Morro da Formiga. Porém, logo após o carnaval de 2017, chegou ao fim o casamento entre Império da Tijuca e Júnior Pernambucano. Durante a entrevista, ele falou um pouco sobre essa saída.
– Casamento, essa é a palavra certa. Eu e o Império (da Tijuca) fomos um casamento. Tinha ali ligações muito fortes, mas havia a necessidade de dar uma pausa. Já era o momento de eles conviverem com outro carnavalesco, e de eu conviver com outra escola. Havia essa necessidade, por isso que houve a pausa. Mas assim, é claro que um casamento é um relacionamento onde a gente teve grandes frutos, como é o “Batuk” (2014),“Negra, Pérola Mulher” (2013), entre outros carnavais que foram memoráveis e ficaram marcados na história. Não só na minha, como na deles. Da minha parte, posso dizer que existe sim uma admiração, um carinho e respeito pela agremiação, porque foram cinco anos de convívio”, disse Júnior.
Sem contrato com nenhuma agremiação para o carnaval de 2018, Júnior Pernambucano aproveitou para tirar um ano sabático. No entanto, não ficou completamente parado esse tempo, continuando a se dedicar ao carnaval da cidade de Três Rios, onde começou; além de se aventurar pela festa na cidade de Vitória:
“Eu precisava dessa pausa. Eu já via essa necessidade de dar um descanso na minha cabeça, pensar e de ir à busca de uma nova casa. Não fiquei parado totalmente, que eu fiz carnaval em Vitória, no Espírito Santo, e faço carnaval em Três Rios há uns 12 ou 13 anos, que faço em uma escola lá de raiz, onde já estou há um bom tempo. Foi muito bom esse retorno ao carnaval carioca, voltando em uma escola com um nome muito agradável, aceito por todos, que é a Rocinha’.
Júnior Pernambucano se diz bastante adaptável a essas mudanças. Ele ainda explicou que mesmo havendo diferenças no modelo de trabalho ao qual já estava acostumado no Império da Tijuca para o da Rocinha, que já está completamente integrado ao esquema da nova casa.
“Cada escola é uma escola. É igual casa, igual família. Cada família é um sistema. O Império (da Tijuca) tem um sistema de trabalho diferente do da Rocinha. Claro que há um espanto de comportamento em um primeiro momento, que é normal, afinal cada escola reage a uma mesma situação de uma forma diferente. Mas eu sou adaptável. Já me adaptei ao sistema da casa e consegui desenvolver meu trabalho”, garantiu.
No embalo do enredo “Bananas para o Preconceito”, Júnior Pernambucano falou de um dos preconceitos presentes no mundo do carnaval. Segundo ele, os artistas que trabalham e são oriundos da Série A sofrem certa rejeição no Grupo Especial, tanto pelas escolas, como pelos jurados. Com isso, muitos carnavalescos campeões do acesso não ganham nem o direito de subir junto à agremiação, e são trocados na esperança de notas melhores.
“Existem sim preconceitos no carnaval. Como a pessoa não conhecer o trabalho do outro e mesmo assim julgar. Às vezes aposta no nome, aposta em uma referência; mas não aposta na criatividade, não aposta no conteúdo que o artista ou o profissional pode desenvolver. Isso é um certo preconceito. Falando especificamente da minha área, nós carnavalescos que fazemos a Série A, sofremos um determinado preconceito para ir ao Especial, porque se acha que não temos aquela capacidade de ir ou de desenvolver um trabalho a altura. E pode ser que não, pode ser que seja uma grande sacada em dar esse valor e esse certo reconhecimento ao artista da Série A. Esse pequeno preconceito que rola de ‘ele é do acesso’ ou ‘ele nunca fez Especial’, isso para mim é muito chato e não deveria existir. A oportunidade deveria ter para todos, mas agora se o cara não tem a capacidade de aproveitar, aí já é outra história”, comentou.
Entenda o desfile
Terceira escola a desfilar na sexta-feira de carnaval, a Rocinha levará para Sapucaí aproximadamente 1200 componentes. Eles virão distribuídos em 22 alas e 4 carros alegóricos.
Setor 1: “No primeiro setor a gente joga bananas para todos, mostrando que todos nós somos iguais”.
Setor 2: “No segundo setor eu trago uma grande homenagem a esses negros de fora, que são os negros africanos, que trouxeram toda sua cultura para o Brasil”.
Setor 3: “O terceiro setor leva toda a homenagem ao negro da casa, a grande prata da casa, que é o músico, o cantor, o compositor, o artista da televisão, do cinema e do teatro também”.
Setor 4: “O último setor, ele é o setor onde valorizamos o negro da favela, demonstrando a busca do seu trabalho, da sua interação com a comunidade, dá vontade de crescer e desenvolver o trabalho dele. É a vontade de ser reconhecido e de conquistar seu espaço na sociedade”.
Série Barracões: Portela terá águia clássica e setor da religiosidade para homenagear Clara Nunes
A ansiedade no coração de cada portelense aumenta à medida que o desfile de 2019 se aproxima. Mas este carnaval será diferente de qualquer outro para a apaixonada torcida da Portela. O terceiro trabalho (ela passou pela escola nos anos 70) de Rosa Magalhães à frente da Majestade do Samba vai homenagear um dos maiores ídolos da instituição, a cantora Clara Nunes. ‘Na Madureira moderníssima, ei sempre de ouvir cantar um sabiá’ é o título do enredo.
Clara Nunes dá nome à rua da quadra da Portela. Quando morreu, em 1983, recebeu uma despedida inesquecível no Portelão. No recente documentário ‘Clara Estrela’, onde a própria cantora conta sua trajetória, ela afirma que o único local onde imagina jamais ser esquecida era na Portela. Com razão. Por isso, ao receber a reportagem do CARNAVALESCO no barracão, Rosa Magalhães afirma sem pestanejar que o enredo veio de fora para dentro da escola.
“O enredo foi um pedido do portelense, a nação que admira a Portela. A Clara que virou uma rua em Madureira, onde está a quadra da escola. Eu li bastante sobre ela, ouvi algumas histórias divergentes. Precisei seguir uma linha para não falhar em alguns aspectos. Dessa forma saiu o enredo. O livro do Vagner Fernandes foi onde mais me baseei para desenvolver esse enredo”, pontua Rosa Magalhães.
Do alto de seus sete campeonatos para colocar na mesa, Rosa Magalhães não faz rodeios e usa a sinceridade. Não era grande conhecedora da trajetória de Clara Nunes e imergiu em livros, documentários e registros sobre a vida da cantora.
“Eu não sabia muita coisa sobre a Clara. Comecei lendo o livro do Vagner e depois me debrucei sobre outros. Li um sobre a Tarsila do Amaral. Vi que tinha essa relação dela com o bairro de Madureira. A religiosidade dela, ligada ao Candomblé, se manifesta no bairro. Juntei todas essas informações e deu no enredo da Portela”, confessa.
Rosa Magalhães ganhou pela última vez em 2013, na Unidos de Vila Isabel. A consagrada carnavalesca, chamada de professora, admite o frio na barriga e o tamanho do desafio que é produzir esse enredo na Portela.
“Fazer esse enredo na Portela é um grande desafio. Eu acho até temerário. Depois de muito vem lá, vem cá, que é natural, chegamos a um ponto de convergência. Eu já desenvolvi muitos carnavais, em outras escolas, acredito que a responsabilidade todo ano seja alta. Mas fazer esse enredo aqui sem dúvida não é algo comum”, assegura.
Guardada como um segredo de sete chaves todo ano na Portela, a águia é sempre um ponto de muita curiosidade. Nos carnavais da azul e branca ela é uma das últimas esculturas a ser feita para não correr o risco de qualquer vazamento. Rosa Magalhães acalenta o vaidoso coração portelense. A águia virá clássica.
“A águia é sempre o ponto de maior identificação com o portelense, é uma adoração mesmo, um símbolo que sempre vai ser eterno. Independente do enredo que eu faça, ela será o grande momento para qualquer torcedor da escola. É difícil superar aquela do Louzada em 2015, a mais impressionante que já foi feita, mas a minha para 2019 não será moderna não, será bem tradicional”, promete.
Rosa não se furta a falar dos momentos de dificuldade financeira enfrentados pela Portela. O burburinho de que a escola vem enfrentando barreiras econômicas para concluir seu carnaval é confirmado pela carnavalesca que confirma ser um dos momentos de maior dificuldade de sua carreira.
“Faz parte de um dos piores momentos de toda minha carreira. Está tudo muito caro, os materiais. E ainda você tem de se preocupar com a mão de obra, você não pode ignorar as pessoas. É um trabalho, que rende um produto conhecido e famoso”.
Entenda o desfile
Distribuído em cinco carros e 30 alas, ‘Na Madureira moderníssima, ei sempre de ouvir cantar um sabiá’, vai narrar a trajetória de Clara Nunes através de cinco momentos distintos, divididos em cada setor do carnaval portelense.
Setor 1: A relação de Clara Nunes com o bairro de Madureira. Ela virou nome de rua e sua religiosidade voltada ao Candomblé aflora nos terreiros no bairro.
Setor 2: Quando vim de Minas. Clara trabalhou em uma tecelaria na cidade de Paraopeba. Existe até hoje inclusive. Perde o pai muito cedo, precisa trabalhar desde muito novinha.
Setor 3: Clara no Rio de Janeiro. Foi na cidade que ela descobre a relação com o samba e se transforma em uma das principais cantoras do gênero.
Setor 4: A religiosidade de Clara. Ela já possuía uma relação muito forte com sua fé, mas foi ao descobrir o Candomblé que ela se encontra espiritualmente.
Setor 5: A Clara na Portela. Até hoje o portelense se arrepia com o clássico ‘Portela na avenida’, eternizado na voz dela. Clara dizia que jamais seria esquecida na Portela. Sua relação com a escola é algo além do tempo e do espaço físico.
Governador costura apoio e Light fecha incentivo de R$ 15 milhões para escolas do Grupo Especial
Em um acordo costurado entre a secretaria estadual de Cultura, o governador Wilson Witzel e a Light ficou acertado que a empresa de energia irá incentivar o Carnaval 2019 do Grupo Especial com R$ 15 milhões, divididos entre todas 14 agremiações. O jornal O Globo confirmou na noite de quarta-feira o acordo.
A verba para o apoio será dada através da Lei do ICMS, de Incentivo à Cultura, e a Light abaterá de seu pagamento de ICMS ao governo estadual.
Verba da Prefeitura saiu no Diário Oficial
Nos próximos dias ou no máximo até segunda-feira será feito também o pagamento da verba de R$ 500 mil para cada agremiação do Grupo Especial pela Prefeitura do Rio. Os contratos já foram publicados no Diário Oficial.
